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Categória do Corpo Próprio


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VAZ, Henrique. Antropologia Filosófica. In: Categoria do corpo próprio. São Paulo: Loyola, 2004. p. 157-166
Lucas Cerqueira[1: Licenciando em Filosofia pela Faculdade Católica de Feira de Santana. lucascerqueira1298@gmail.com ]
Faz-se necessário compreender que o homem está presente no mundo graças a seu corpo humano, ou seja, a estrutura fundamental do ser, ou para alguns de acordo a concepção bíblica a tricotomia paulina: corpo, alma e espírito que é a expressão do ser homem, porém na filosofia contemporânea é designado como corpo próprio. Estamos diante de uma problemática que perpassa as civilizações, as religiões e desemboca de forma dominante na Filosofia e ciências humanas da contemporaneidade. 
Neste contexto, para que se possa fazer uma análise mais detida do tema, é de suma importância entender a sua história, como o corpo veio sendo compreendido no decorrer da história. Essa compreensão de dualismo platônico no ocidente como uma separação psyché-sôma parte de uma obscura reflexão das obras de Platão que dá uma formulação teórica no campo propriamente metafísico. Desta forma, é necessário compreender que este pensamento platônico teve grande influência tanto na formação quando no desenvolvimento da filosofia, da cultura, da civilização e do ser em grande parte do ocidente.
 O Platão que chega até o ocidente e que possui essa imagem de dualista foi por Fílon de Alexandria: Judeu de origem ficou famoso pelos seus comentários filosóficos a respeito das escrituras. De origem sacerdotal, muito influente na cidade de Alexandria.
	É perceptível que para Fílon de Alexandria o homem estaria dividido entre esses dois extremos por um lado a matéria, ou seja, o mundo das coisas e o lado divino a sua alma. Essa divisão por Fílon e que depois foi adotada por Plotino e posteriormente em parte por Santo Agostinho. Desta forma, houve uma grande influência deste dualismo irracional no pensamento ocidental fundamentado no cristianismo que teve também como base a cultura helênica. Em contrapartida esse modo de pensar até certo tempo parecia verdadeiro para os cristãos primitivos até que o influxo da filosofia grega sobre a base de pensamento construída por Fílon foi tão forte que posteriormente o conceito de alma não corresponderia com o que de fato seria a alma sendo que ela não é um objeto. 
	Por conseguinte, o problema da corporalidade é não apenas um problema para a Antropologia Filosófica, mas é seu ponto de partida, pois a autocompreensão do homem encontra seu núcleo a partir da compreensão de sua condição corporal. E esse ponto de partida começa na distinção entre corpo como totalidade física de totalidade biológica e de uma outra parte a totalidade intencional ou corpo próprio. Neste último o corpo é a auto-expressão do sujeito e que não acontecerá no corpo físico ou biológico. Já na língua alemã tanto a totalidade física como totalidade biológica são chamados de Körper e o corpo próprio de Leib. O primeiro é simplesmente seu corpo. Já no segundo o homem é também o seu corpo, mas não enquanto identidade, mas sendo capaz de dar uma intencionalidade que transcende o nível físico quanto biológico. E assim, é a distinção entre o ser e o ter, pois o corpo para o homem é um corpo que passa por experiências. 
	Desta forma, é pelo corpo que o homem está presente no mundo que caracteriza uma presença natural (estar-aí) por causa do corpo como totalidade físico-orgânica e, por causa do corpo próprio, o homem tem uma presença intencional (ser aí). Ao se falar em estar-no-mundo é um estar no aqui e agora espácio-temporal, sujeito às leis físicas. Com a presença intencional começa a estruturar-se o espaço-tempo e a se situa na história. É de suam importância compreender que não existe uma dicotomia entre o Körper e Leib, como por muito tempo havia essa compreensão obscurecida entre a alma e o corpo. Nesse sentido, é por meio da pré-compreensão do corpo próprio que o homem organiza seu estar-no-mundo retomando a perspectiva da objetividade do corpo físico-biológico e dando significado aos níveis articulados entre si, que são os do espaço-tempo sendo denominados humano e são quatro: 
	O primeiro nível e onde se forma a imagem do corpo próprio e em que o espaço-tempo humano se estrutura e ganha postura do corpo (espaço) e como ritmo do corpo (tempo). Nesse nível ocorre a transportação da sexualidade de sua esfera biológica para o domínio do corpo próprio. O ritmo e a postura que marcam esse nível é essencialmente sexuados. No segundo nível ocorre a presença do corpo próprio na ordem da afetividade, segundo a qual o espaço-tempo humano é significado por meio do sentimento, da emoção, e da imagem. Nesse nível também ocorre a transportação da sexualidade através do corpo próprio, que estava no espaço-tempo biológico para o espaço-tempo psíquico, modelando profundamente o nosso espácio-temporal no mundo por meio da afetividade. 
	No terceiro nível, conhecido como o nível da reestruturação do espaço-tempo psíquico de nosso estar-no-mundo através do corpo próprio, ou seja, o corpo próprio entra na ordem da comunicação e a sexualidade passa a encontrar sua forma social de tradução em símbolos e comportamentos. Por fim, o nível da reestruturação do espaço tempo cultural de nosso estar-no-mundo, tem em vista o modelo corporal que é o regulador da Gestalt do corpo em determinada culturas ou tradição, ou seja, compreende o homem em seu todo para poder entender as partes. 
	As diversas ciências da vida buscaram dar a sua explicação referente a corporalidade. Não obstante essas ciências se constituíram segundo normas metodológicas do conhecimento científico reconhecido como tal, e obedeceram às regras epistemológicas de construção desse tipo de saber, elas assumem, ao tomar como objeto o corpo humano, características peculiares. E seu objeto não é corpo próprio, mas como é dado na natureza. Sendo assim, do ponto de vista científico manifesta-se a impossibilidade de uma descrição estritamente objetiva do corpo humano enquanto tal. O homem adquire um conhecimento científico do corpo objetivado segundo conceitos e leis de um saber empírico formal. 
	É notório que ao atingir esse nível da compreensão do corpo impõe-se em primeiro lugar; a tarefa de caracterizá-lo como objeto da compreensão filosófico. O problema do corpo é um dos fios contínuo que orienta o enigma para o homem que se volta para a compreensão de si mesmo. Esse problema do corpo é dominada pelo esquema ideal da oposição alma-corpo, que podemos identificar em quatro grandes versões: a versão religiosa é a expressão na cultura ocidental é o dualismo órfico-pitagórico; a versão filosófica, que conhece formas diversas como o dualismo platônico; a versão bíblico-cristã, que implica uma desontologização da oposição alma-corpo e por último a versão científica moderna, na qual a dualidade alma-corpo é explicada segundo esquemas reducionistas e a antropologia buscar ser o remédio para o reducionismo do ser humano em sua estrutura fundamental.
	Na aporética crítica, percebe-se a tensão que é estabelecida entre o sujeito que pergunta a partir de sua identidade ou egoidade como sujeito interrogante, e o corpo enquanto corpo-objeto, ou seja, compreendido na objetividade do mundo. Essa tensão se estabelece pelo estar-no-mundo pelo corpo que se direciona para o mundo dos objetos e a direção que aponta para a interioridade do sujeito, o corpo próprio. Através dessa oposição surge a possibilidade da coisificação do corpo e, de outro, a possibilidade de sua espiritualização. A aporética crítica caracteriza-se em dois momentos: o momento eidético, no que diz respeito do eidos do corpo, ou seja, sobre a corporalidade ou como uma essência independente ou como uma estrutura integrante da totalidade essencial do homem. E no momento tético, considera-se o corpo, como pólo imediato da presença do homem no mundo, atingido pela pergunta radical e propriamente filosófica: o que é o homem? Não é simplesmente o interrogar, mas ao enunciar essa pergunta sobre o ser no movimento
da autocompreensão, o sujeito se questiona sobre a corporalidade como estrutura essencial constitutiva desse seu ser. 
	Nesse sentido, ao situar a corporalidade no interior do movimento dialético de constituição do sujeito, atribuímos ao corpo o estatuo de estrutura fundamental do ser do homem. Desta forma a autocompreensão filosófica do homem enuncia, em seu ponto de partida, duas proposições fundamentais: O corpo é o próprio sujeito, estruturando-se em formas expressivas e o corpo é o sujeito dando a essas formas expressivas à natureza do sinal na relação intersubjetiva com o outro. 
	Por conseguinte, a categoria da corporalidade torna o primeiro momento do movimento dialético que leva adiante o discurso da Antropologia filosófica. A realidade do corpo enquanto humano é afirmada como constitutiva da essência do homem, ou seja, é afirmável do seu ser, afim de estabelecer uma correspondência conceptual entre ser-homem e ser-corpo. Por fim, pode-se enunciar as seguintes proposições relativas à corporalidade humana: O homem é o seu corpo em virtude do princípio da limitação eidética; o homem não é o seu corpo em virtude do princípio da ilimitação tética; o princípio da totalização impele esse discurso para além dos limites da presença imediata do homem no mundo pelo corpo. Essa presença não é presença total do homem a si mesmo. É preciso, avançar para além das fronteiras do corpo almejando essa identidade.

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