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1 Análise da Conjuntura Econômica no Governo Lula Apesar do compromisso firmado de Lula por meio da Carta aos Brasileiros com o mercado, o ano de 2003 começou com grandes incertezas criadas a partir da troca de governo de um partido de situação por um de oposição. As previsões eram as mais pessimistas possíveis, refletidas nas altas taxas de câmbio (nos meses de janeiro a março deste ano, no comercial tinham um valor médio de R$ 3,50 e no paralelo de R$ 3,60) e nos elevados níveis de inflação acumulados no ano, de janeiro a março, captados pelo IPCA-IBGE (5,13%), pelo IPC-FIPE (4,53%) e pelo IGP-DI (5,52%). O crescimento do PIB (1,9%) foi puxado pelo aumento das exportações (18,4%), apesar da queda do consumo das famílias (- 3,0%), do consumo do governo (- 0,1%) e da formação bruta de capital fixo (- 1,7%) no primeiro trimestre de 2003. Paralelo a isso, no primeiro trimestre de 2003, a taxa de desemprego aberto estimada pelo IBGE ficou em média em 11,63% e a estimada pelo DIEESE em 11,93%. Com as medidas econômicas arrojadas, o governo sinalizou ao mercado os seus objetivos, ou seja, apoio ao Banco Central em manter as metas de inflação, onde o BC, para controlar o salto inflacionário no início do ano de 2003, elevou a taxa de juros, gerando uma política monetária restritiva visualizada pela taxa SELIC mantida em 26,5% ao ano de janeiro a maio desse ano; utilizou uma política fiscal também restritiva através do aumento das receitas e cortes significativos nos gastos públicos e cumpriu a Lei de Responsabilidade Fiscal, com o objetivo de gerar superávits fiscais conforme acordo feito com o FMI desde o governo passado. Ao longo do ano de 2003, visualiza-se uma queda da inflação, abrindo caminho para a redução gradual da taxa SELIC que terminou o ano em 16,5% ao ano. Mas, apesar da diminuição dessa taxa em termos nominais, em termos de juros reais ela ajudou a elevar os gastos com pagamentos de encargos e aumentar a dívida líquida do setor público. A política econômica adotada pôs fim ao pavor dos investidores que, em janeiro e fevereiro demandavam dólares, com medo de um calote na dívida pública e do descontrole inflacionário, e fez, então, com que o dólar comercial, que abriu o ano cotado a R$ 3,50 na média do primeiro trimestre, fechasse o ano em aproximadamente R$ 2,90. 2 A balança comercial apresentou em 2003 um excelente desempenho, devido, principalmente, ao excepcional comportamento das exportações, diante de um “modesto” crescimento das importações; cabendo destacar, também, o fechamento positivo da conta transações correntes em dezembro desse ano de US$ 4.063,00 milhões( )1 . Logo, observa-se que os temores exagerados por parte dos investidores não se refletiram na realidade ao longo do ano de 2003. Apesar das previsões feitas a partir do ano de 2002 por determinados analistas de que haveria saldo negativo em conta corrente, a inflação tenderia a se elevar e poderia ter calote da dívida pública, os indicadores econômicos de 2003 demonstraram o contrário dessas previsões. O bom perfil desses indicadores e também a manutenção do Ministro da Fazenda e do Presidente do Banco Central geraram confiança dos investidores internos e estrangeiros na nova política brasileira e fez com que o Risco Brasil tivesse uma queda de 1.439 para menos de 500 pontos no final de dezembro. A reforma fiscal e tributária aprovada no Congresso Nacional, além do controle da inflação, gerou também muito mais crédito para a política de crescimento do país, apesar do PIB fechar o ano em –0,20% por causa da política econômica implementada nesse ano pelo governo. Índices de Preços – IGP-DI (FGV), IPCA (IBGE) e IPC (FIPE) Jan/03 a Dez/03 Período/2003 IGP-DI/Mês IGP-DI/Ano IPCA/Mês IPCA/Ano IPC/Mês IPC/Ano JAN 2,17 2,17 2,25 2,25 2,19 2,19 FEV 1,59 3,80 1,57 3,86 1,61 3,84 MAR 1,66 5,52 1,23 5,13 0,67 4,53 ABR 0,41 5,96 0,97 6,15 0,57 5,13 MAI - 0,67 5,25 0,61 6,80 0,31 5,45 JUN - 0,70 4,51 - 0,15 6,64 - 0,16 5,28 JUL - 0,20 4,31 0,20 6,85 - 0,08 5,20 AGO 0,62 4,96 0,34 7,22 0,63 5,86 SET 1,05 6,05 0,78 8,05 0,84 6,75 OUT 0,44 6,52 0,29 8,37 0,63 7,42 NOV 0,48 7,03 0,34 8,74 0,27 7,71 DEZ 0,60 7,67 0,52 9,30 0,42 8,17 Fonte: Fundação Getúlio Vargas (Conjuntura Econômica) 1 Que somados ao saldo positivo da conta capital e financeira no valor de US$ 5.083,00, geraram um saldo positivo no balanço de pagamentos. 3 Evolução Trimestral do PIB a Preços de Mercado no Ano 2003 (em %) Variáveis I II III IV PIB a preços demercados 1,9 - 1,1 - 1,5 - 0,1 Consumo das Famílias - 3,0 - 6,0 - 3,7 - 0,6 Consumo do Governo - 0,1 1,1 0,9 0,7 Formação Bruta de Capital Fixo - 1,7 - 10,5 - 9,1 - 5,0 Exportações 18,4 29,9 3,7 10,1 Importações - 5,8 - 6,0 - 5,5 10,0 Fonte: IBGE Setor Externo – Dados Acumulados de Jan/03 a Dez/03 – em US$ milhões Período Transações Correntes Conta Capital e Financeira Saldo do Balanço de Pagamentos JAN 153 580 580 FEV - 55 656 656 MAR 124 4.156 4.156 ABR - 831 4.109 4.109 MAI 43 4.597 4.597 JUN 535 9.926 9.926 JUL 1.280 9.195 9.195 AGO 2.500 8.488 8.488 SET 3.856 11.006 11.006 OUT 3.938 12.531 12.531 NOV 3.802 12.393 12.393 DEZ 4.063 5.083 5.083 Fonte: Fundação Getúlio Vargas (Conjuntura Econômica) Evolução da Taxa Média Trimestral de Desemprego Aberto no ano 2003 (em %) Período IBGE/Brasil DIEESE/S.P. I 11,63 11,93 II 12,73 13,40 III 12,90 12,93 IV 12,00 12,60 Fonte: Fundação Getúlio Vargas (Conjuntura Econômica) Evolução da Taxa Trimestral de Câmbio no ano 2003 (em %) Período Comercial Paralelo I 3,50 3,60 II 3,00 3,11 III 2,93 3,01 IV 2,90 3,00 Fonte: Fundação Getúlio Vargas (Conjuntura Econômica) 4 Evolução da Taxa SELIC ao longo de 2003 (% a.a.) Período JAN-MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ SELIC 26,5 26,0 24,5 22,0 20,0 19,0 17,5 16,5 Fonte: Banco Central Finanças Públicas – Períodos Quadrimestrais do ano de 2003 Período Receita Fiscal do Tesouro Nacional (R$ bilhões) Dívida Líquida do Setor Público (R$ bilhões) NFSP – Primário (% PIB) I 57,35 880,30 - 4,42 II 145,02 871,00 - 4,47 III 235,63 899,89 - 4,27 Fonte: Fundação Getúlio Vargas (ConjunturaEconômica)
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