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Avanços da ciência em hematologia e imunologia

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Avanços da ciência em hematologia e imunologia
Publicado por admin - Thursday, 23 May 2013
EVENTO
Realizada na Faculdade de Medicina, mais uma edição da série Conferências USP consolida parceria entre a Universidade e a Université Paris-Diderot, da França
IZABEL LEÃO
A Faculdade de Medicina (FM) e a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), ambas da USP, promoveram entre os dias 9 e 10 de maio mais uma edição da série Conferências USP, intitulada Symposium on Hematology and Immunology. O evento foi realizado em parceria com a Université Paris-Diderot, da França.
Mais de 30 pesquisadores do Brasil e do exterior foram reunidos no encontro, para discutir temas ligados às áreas médicas de inflamação, autoimunidade, doenças infecciosas, transplantes de órgãos e células-tronco, vacinas, hemoglobinopatias, insuficiência da medula óssea e leucemia.
Esse evento foi o primeiro passo de um acordo acadêmico e científico entre a USP e Université Paris-Diderot e contou com o apoio da Pró-Reitoria de Pesquisa da USP e da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH).
O tema escolhido foi hematologia e imunologia devido às afinidades em pesquisas nessa área entre as duas instituições, como explica o professor Rodrigo Calado, pesquisador do Centro de Terapia Celular (CTC) da FMRP, um dos coordenadores do evento. “O transplante de medula óssea e de cordão umbilical, a anemia falciforme e a falência medular são alguns exemplos”, cita o professor. “Com essa abordagem, poderemos trocar experiências e, a partir deste simpósio, propor protocolos e estudos científicos em comum entre as duas instituições.”
O encontro na Faculdade de Medicina: afinidades entre a USP e a Université Paris-Diderot
Segundo o médico Edécio Cunha-Neto, também coordenador do evento e responsável pelos temas ligados à imunologia, a fala dos convidados garante uma complementaridade de assuntos em que há pesquisa ativa, potencializando um maior número de cooperações internacionais das instituições envolvidas.
Cunha-Neto lembra ainda que o ponto em comum entre as palestras é a tentativa de identificar mecanismos subjacentes a diversas doenças. Essa identificação pode levar ao que se chama de alvos terapêuticos, que são pontos sensíveis para testes de novos remédios. “Nos casos em que o conhecimento dos mecanismos está mais avançado, serão apresentadas novas propostas de profilaxia (vacinas) e de tratamento”, ressalta.
Medula óssea – As pesquisadoras Belinda Simões, do CTC, e Françoise Bernaudin, do Centre Hospitalier Intercommunal de Créteil, na França, mostraram evidências alcançadas em cada país no transplante de medula óssea em casos de anemia falciforme, doença hereditária com maior número de casos no Brasil. Segundo Belinda, o simpósio marcou a primeira reunião de trabalho do grupo, que será formado por 11 pesquisadores de ambas as universidades para incrementar os estudos nessas doenças.
Atualmente, no Brasil, só é possível submeter ao transplante pacientes com doença falciforme que pertençam a um protocolo de estudo, por ser considerado ainda um procedimento experimental. Belinda e sua equipe de pesquisadores aguardam uma recisão do regulamento técnico do transplante de medula óssea, na expectativa de que seja contemplada a anemia falciforme no rol de procedimentos de rotina da TMO (Translational Medicine Ontology).
Com relação ao transplante de células-tronco de sangue de cordão umbilical, a professora Eliane Gluckman, da Université Paris-Diderot, responsável por realizar o primeiro procedimento desse tipo no mundo, destacou que o sangue do cordão umbilical pode ser utilizado como importante fonte de células-tronco.
Com relação à anemia aplástica, doença em que a medula óssea para de produzir células do sangue – hemácias, glóbulos brancos e plaquetas –, lembrou que há novos protocolos de tratamento baseados em transplante de células metopoiéticas – relacionadas à doença –, transplante de medula óssea e de cordão umbilical.
De acordo com Calado – que possui estudos recentes publicados nesse campo de estudo, sendo o último em 1º de maio, no The Journal of Clinical Investigation –, no que se refere aos mecanismos genéticos que predispõem à anemia aplástica e ao tratamento com medicação imunossupressora, já existe no Brasil uma droga sem registro, mas aprovada nos Estados Unidos e Europa, essencial para o tratamento desse tipo de anemia.
O estudo publicado por Rodrigo Calado mostra que a pesquisa tenta derivar células pluripotentes de células maduras de pacientes que têm anemia aplástica. Uma das razões que levam ao não funcionamento da medula óssea é um defeito genético nos telômeros, localizados nas pontas dos cromossomos, que ficam curtos e a célula não consegue se proliferar adequadamente. “A partir dos estudos já existentes de reprogramação de células da pele de pacientes com essa doença para se tornarem pluripotentes, semelhantes a uma célula embrionária, percebemos que existe um certo alongamento, mas deficiente, dos telômeros durante o processo, e a partir desse entendimento pretendemos produzir sangue dessas células e fazer a medula voltar a funcionar.”
Calado explica que o objetivo é entender como as células-tronco pluripotentes alongam seus telômeros para que seja possível ativar os mecanismos das células-tronco hematopoiéticas, que produzam sangue. Seu artigo contribuiu para descobrir fragilidades e verificar em quais pontos ainda é necessário fazer progredir as pesquisas de reprogramação celular e alongamento telomérico em pacientes com anemia aplástica.
Esclerose – Outro assunto discutido no encontro foram as novas diretrizes para a triagem de pacientes portadores de esclerose sistêmica que tenham indicação a transplante de células-tronco hematopoiéticas (TCTH) como opção terapêutica. Esses resultados foram apresentados em artigo publicado na revista The Lancet, em 28 de janeiro, por pesquisadores da Northwestern University, de Chicago, nos Estados Unidos, sob a coordenação de Richard Burt, e, no Brasil, por Belinda Simões, Maria Carolina Oliveira, Daniela Moraes e Júlio César Voltarelli, do Centro de Terapia Celular do Hemocentro de Ribeirão Preto.
Foram analisados 90 pacientes com esclerose sistêmica difusa ou limitada e doença intersticial pulmonar, sendo 31 acompanhados por meio de protocolo no período de novembro de 2002 a julho de 2011. Concluiu-se que pacientes portadores dessa doença, mas com comprometimento cardíaco grave, apresentam mau desempenho pós-transplante, o que os torna inelegíveis a essa terapêutica. No período observou-se que a sobrevida nos transplantados foi de 78% em cinco anos (depois de oito mortes relacionadas a recaídas) e a sobrevida livre de recidiva, de 70% em cinco anos.
A pesquisa apontou que a realização de uma série de exames, como ecocardiograma, cateterismo cardíaco e ressonância magnética cardíaca, é uma forma de reduzir a toxicidade do transplante, pois comprova a importância da avaliação na prática, por conta do grande número de pacientes envolvidos. Também mostra que a gravidade de uma doença nem sempre justifica a realização de procedimentos de alto risco.

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