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Iniciação à História da Filosofia: Dos pré-socráticos a Wittgenstein.

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MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia: Dos pré-socráticos a Wittgenstein. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.
Lucas Cerqueira
“A filosofia de Descartes inaugura de forma mais acabada o pensamento moderno propriamente dito, juntamente com a dos empiristas ingleses. Pensamento antecipado é preparado, é claro, pelo humanismo do séc. XVI, pelas novas concepções científicas da época e pelo ceticismo de Montaigne e de outros, [...]” (p. 164).
“O tempo de Descartes é também um tempo de profunda crise da sociedade e da cultura europeias, um tempo de transição entre uma tradição que ainda sobrevive muito forte e uma nova visão de mundo que se anuncia. O séc. XVI, ao final do qual nasce Descartes (1596), é um período de grandes transformações, de ruptura com o mundo anterior, [...] A Reforma de Lutero vai abalar a autoridade universal da Igreja católica no Ocidente, valorizando a interpretação da Bíblia pelo próprio indivíduo. A decadência do sistema feudal e o surgimento do mercantilismo trazem uma nova ordem econômica baseada no comércio, com a defesa da livre-iniciativa, e no individualismo. ” (p. 164).
 “Estas breves referências históricas bastam para caracterizar as grandes mudanças que ocorrem nesse período. Mas a reação também se faz sentir. A escolástica medieval está longe de ter desaparecido e sua presença ainda é forte sobretudo nas universidades. [...] A contrarreforma representa a reação da Igreja ao protestantismo e terá como uma de suas consequências a Guerra dos Trinta Anos, da qual o próprio Descartes participa. [...]Trata-se de um tempo de conflitos, crises, incertezas, A obra de Descartes pode ser vista assim como uma longa reflexão sobre o seu tempo e como tomada de posição frente à crise de sua época. ” (p. 164--165).
 “A crença no poder crítico da razão humana individual, a metáfora da luz e da clareza que se opõem à escuridão e ao obscurantismo, e a ideia de busca de progresso que orienta a própria tarefa da filosofia são alguns dos traços fundamentais da modernidade de Descartes. ” (p. 165).
“Apresar disso, há muitas divergências quanto à interpretação do pensamento de Descartes. Alguns consideram seu pensamento quase uma extensão da escolástica, da qual sofreu grande influência, [...]Outros chegam a considerar o pensamento de Descarte como a ‘Reforma na filosofia’, [...]. Independentemente de uma consideração mais detalhada [...] podemos considerá-lo um dos iniciadores da modernidade, sobretudo pela maneira como irá influenciar doravante o desenvolvimento do pensamento filosófico” (p. 165).
 “A necessidade de contextualização do pensamento, de situá-lo em relação à experiência de vida do indivíduo pensante, é uma exigência do próprio Descarte. Afinal, em várias de suas obras, principalmente nas Meditações e no Discurso do método, ele apresenta uma justificativa autobiográfica para as ideias que expõe, procurando explicar como e por que chegou elas. [...]O sujeito pensante entra em cena, a autoridade da obra impondo-se não mais pela escola a que pertence ou pela tradição a que se filia, mas pelo testemunho de seu autor. ” (p. 165).
“René Descartes nasceu na França em 1596, de família pertencente à pequena nobreza. Aos dez anos entrou para o célebre colégio de lá Flèche, dos jesuítas, onde foi excelente aluno, [...]. Após sair do colégio, Descartes frequentou a sociedade da época e viajou por diversos países da Europa, então mergulhada na Guerra dos Trinta Anos. Finalmente, em 10 de novembro de 1619, Descartes tem a revelação que nos narra no Discurso (2ª parte), descobrindo assim sua vocação filosófica e científica e decidindo dedicar-se a ‘descobrir os fundamentos desta ciência admirável’. ” (p. 166).
“Homem de sua época, Descartes foi, ao mesmo tempo, viajante contumaz e homem retirado, soldado engajado em exércitos em guerra e homem em busca de tranquilidade, aliado de católicos e de protestante, homem da corte e habitante da província, pensador isolado e correspondente da intelectualidade europeia, autor de um manual prática de esgrima e de uma das mais profundas obras de metafísica, racionalista, homem de ciência e interessado na magia e nos mistérios dos rosa-cruzes, a cuja ordem talvez tenha pertencido.” (p. 166).
“Descartes assume então a missão de fundamentar ou legitimar a ciência, demonstrando de forma conclusiva que o homem pode conhecer o real de modo verdadeiro e definitivo. O método que formula deve, portanto, fundamentar-se em critérios seguros. [...], Descartes propõe-se a encontrar uma certeza básica, imune às dúvidas céticas, que possa servir de base e fundamento para a construção da nova teoria científica. ” (p. 168).
“A autoridade moral e teológica da Igreja foi contestada pela Reforma, pois a Igreja se corrompeu, e os papas, teólogos e concílios cometeram erros no passado, como mostrou a Lutero. A autoridade do saber tradicional foi contestada porque este saber continha teorias falsas e errôneas, como revelaram Copérnico e Galileu. Não se pode, portanto, confiar na tradição, nos ensinamentos, no saber adquirido. Descartes deixa isso bem claro no prefácio aos Príncipes da filosofia e no Discurso do método, [...]” (p. 168).
“Seu ponto de partida é de fato a constatação da crise das ciências e do saber em geral em sua época. [...] Descartes constata assim que a tradição, ao contrário do que pretendia, estava muito longe de ter encontrado a verdade, e de ter constituído um sistema sólido e coerente que lhe desse autoridade. ” (p. 168).
“No Discurso do método essa posição fica bem clara através da linguagem autobiográfica que Descartes usa e que faz dele um pensador que considera a filosofia como uma expressão da experiência de vida do homem, [...]” (p. 168).
“Ora, se a autoridade externa, institucional, da Igreja e do saber científico é incerta, tendo perdido sua credibilidade, o que nos resta? A única alternativa possível parece ser a interioridade, a própria razão humana, a luz natural que o homem possui em si mesmo, sua racionalidade. Esse caminho já havia sido apontado antes por Montaigne (ver III. 1), filósofo que exerceu forte influência sobre Descartes. ” (p. 169).

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