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Conceitos-‐chave em Biocel 1 Aula 1 -‐ Microscopia óptica Robert Hooke: pioneiro no desenvolvimento de microscópios, criou o primeiro microscópio composto, e em suas observações, cunhou o termo “célula” ao observar inúmeros espaços ocos ampliados de fina lâmina de cortiça. Limite de resolução: é o limite da ampliação dos microscópios aonde dois objetos ainda podem ser vistos como duas coisas distintas. O simples aumento de imagem não traz informações adicionais, pois isso depende apenas da resolução. A resolução por sua vez depende da lente e da qualidade da luz. Os microscópios de maior resolução atualmente são os microscópios eletrônicos, que conseguem visualizar objetos de até 0,2nm. Unidades de medida: 1 micrômetro (μm) é o milésimo de 1 milímetro (mm). E 1 nanômetro (nm) é o milésimo de um micrômetro. Bactérias costumam ter 1μm, enquanto células costumam ter entre 10 e 100μm. Preparo de amostras Além de pequena, células são difíceis de serem observadas por serem transparentes, serem muito hidratadas e frágeis e quando dentro de orgãos ou tecidos, precisam ser cortadas em lâminas finas pelas quais a luz consiga passar. Por isso, há todo um processo de preparação de amostras, visando maior resistência e contraste das mesmas, e para que possam ser preservadas por mais tempo: 1. Fixação: é o tratamento que preserva as células da decomposição, e elimina qualquer reação bioquímica em andamento. Visa preservar a amostra o mais próximo possível do seu estado natural. 2. Desidratação: é a substituição, em etapas, da água presente no interior da célula por um solvente orgânico, como etanol ou metanol. O mesmo pode ser removido deixando a lâmina secar como pode ser substituído por parafina ou outra resina que o torne rígido, permitindo que seja fatiado. 3. Microtomia: é o corte preciso de fatias finíssimas que permitam a passagem da luz. 4. Coloração: como a maioria das células e seus componentes são transparentes, são usados diversos corantes com afinidade química por determinados componentes celulares, ajudando na identificação dos mesmos. Tipos de microscópios Microscópio simples (ou de campo claro): é o microscópio mais comum. Em geral requer que a amostra seja fixada e corada antes da observação, mas com o ajuste certo da luz na lente condensadora é possível observar células vivas ou a fresco, sem coloração. Microscópio de contraste de fase: dispensa o uso de corantes, permitindo a observação de células vivas. Vários filtros (anéis de fase) interferem no caminho da luz, criando um contraste claro/escuro forte nas estruturas celulares. No entanto, com muitas células juntas, a imagem pode ficar um pouco confusa. Microscópio de contraste interferencial: também cria contraste usando filtros para alterar o caminho da luz. A imagem final é mais agradável, mas o equipamento é mais caro que o contraste de fase. Quando as células estão em camadas, é possível focar num plano específico, obtendo-‐se assim cortes ópticos sem que o tecido seja cortado. Microscópio de fluorescência: utiliza luz ultravioleta e requer o uso de corantes fluorescentes. Esses corantes absorvem a luz ultavioleta e a emitem num comprimento onda do espectro visível. Permitem ver estruturas normalmente muito finas para serem vistas na luz visível. Microscópio confocal de varredura a laser: além da luz visível, possui uma fonte de luz ultravioleta e outra de raio laser. O laser incide sobre a amostra, e um sistema de filtros e aberturas capturam sucessivamente a fluorescência emitida de diversos planos focais. Esse conjunto de imagens é processado digitalmente por um software, e imagens 3D são geradas em computador. Aula 2 – Princípios do Funcionamento dos Microscópios Eletrônicos Principais diferenças entre o microscópio óptico e o eletrônico de transmissão A fonte: luz vísivel no microscópio óptico e feixes de elétrons no microscópio eletrônico de transmissão. O feixe de elétrons é gerado por um filamento de tungstênio aquecido. O comprimento de onda dos elétrons é muito menor do que o da luz visível, por isso a resolução dos microscópios eletrônicos é bem maior. O vácuo no coluna do microscópio eletrônico de transmissão. Serve pra impedir a combustão do filamento e para impedir a colisão dos elétrons com outros átomos no ar. Por outro lado, impossibilita a observação de células vivas. As lentes: vidro no microscópio óptico e eletromagnetos no microscópio eletrônico de transmissão. As lentes magnéticas desviam e orientam os elétrons da mesma forma que as lentes de vidro desviam e orientam o feixe de luz. A espessura da amostra: da ordem de micrometros (μm) no microscópio óptico, e nanometros (nm) no microscópio eletrônico de transmissão. Pra seratravessada por elétrons, a fatia da amostra precisa ser muito fina. Preparo de amostras para o microscópio eletrônico de transmissão Devido ao vácuo no interior da coluna do microscópio eletrônico de transmissão – que destrói facilmente toda a estrutura celular -‐, as amostras precisam ser especialmente preparadas para observação: 1. Fixação: mergulha-‐se a célula em solucões que estabilizam as estruturas celulares, em geral o formol e o glutaraldeído (mais forte). Essas substâncias são diluídas em “tampões”, que ajudam a manter o pH e a osmolaridade da solução fixadora o mais próximas possível das condições vitais. Assim evita-‐se a defromação/rompimento das estruturas celulares. 2. Pós-‐fixação e contrastação: como os seres vivos são basicamente compostos de átomos leves que pouco impedem a passagem de elétrons, para se ter o contraste são utilizadas soluções de sais de metais pesados, que ainda ajudam a preservar a célula. Esses sais se acumulam nas membranas (ósmio e chumbo), no DNA (urânio) e em outras estruturas, facilitando sua visualização. 3. Desidratação, inclusão e microtomia: a hidratação das células é um fator que dificulta a passagem dos elétrons. Para resolver isso, toda a água é substituída por um solvente orgânico (como etanol, metanol ou acetona) diluído em concentrações cada vez maiores. Depois, é aplicada uma resina líquida (polimerização), que endurece ao ser aquecida, permitindo que a amostra seja cortada em fatias finas (ultramicrotomia) o suficiente para que os elétrons possam atravessar as áreas livres do acúmulo dos metais pesados. O Microscópio Eletrônico de Varredura No microscópio eletrônico de varredura, o tungstênio aquecido gera um feixe de elétrons que incide sobre a amostra, mas ao invés de atravessá-‐la, eles “varrem” a amostra extraindo deste outros elétrons (chamados elétrons secundários) que são convertidos em imagem por um software de computador, gerando uma sensação de relevo e profundidade. Preparo de amostras para o microscópio eletrônico de varredura Como em geral o microscópio eletrônico de varredura é utilizado para gerar imagens da superfície externa das amostras, estas não são fatiadas. O processo de preparo envolve, depois da fixação, a secagem da amostra (para remover toda água, devido ao vácuo) e seu revestimento com um elemento condutor, para geração do sinal. Aula 3 – Criofratura Técnica usada principalmente para a visualização da estrutura das membranas celulares. Uma das limitações do microscópio eletrônico de transmissão sempre foi o fato de que as imagens observadas eram cortes ultrafinos das amostras, isto é, imagens bidimensionais de estruturas (células) tridimensionais. Isto pôde ser contornado com a observação de cortes seriados, uma técnica bastante trabalhosa, e também com a microscopia de varredura. Entretanto, a resolução do microscópio eletrônico de varredura é menor que a do microscópio de transmissão, não permitindo a visualização de vários detalhes, principalmente do interior da célula. Em cortes ultrafinos, a membrana plasmática aparece sempre como uma faixa clara entre duas mais escuras. Há muito tempo sabe-‐se que a membrana celular é composta por proteínas e lipideos, entretanto essa observação ao microscópio levou à conclusão errada que que a membrana celular seria um “sanduíche” de proteínas, com os “pães” sendo os lipídeos. Uma membrana assim seria muito rígida, e além disso, as substâncias hidrofílicas seriam barradas pela camada de lipídeos, da mesma forma que as hidrofóbicas seriam barradas pela camada de proteínas, e portanto, essa idéia não aparentava estar correta. Com o passar do tempo, o desenvolvimento da criofratura trouxe um novo entendimento sobre a dinâmica e o funcionamento das membranas celulares. Essa técnica (criofratura) surgiu na década de 60, e consiste em parar instanteneamente a atividade celular congelando-‐a em nitrogênio líquido (o que ajudava a reduzir os resíduos decorrentes das fixações químicas por aldeídos, e impedia o processo de decomposição celular) e então fraturá-‐las para separar a bicamada lipídica, expondo a face interior da membrana celular. O processo consiste em quatro etapas: 1. Congelamento das células em nitrogênio líquido 2. Fratura das células 3. Evaporação da superfície fraturada com platina e aplicação de carbono, formando um “molde” 4. Destruição dos restos celulares, de modo que apenas a réplica metálica é obervada no MET. A fratura tem grande chance de ocorrer entre as duas camadas lipídicas da membrana (chamadas face E, em contato com o meio extracelular, e P, em contato com o protoplasma) expondo uma superfície homogênea (os lipídeos) com particulas de diversos tamanhos nela inseridas. Essas partículas que atravessam as camadas lipídicas (as vezes uma delas, as vezes as duas,uma ou inúmeras vezes) são as proteinas. Essa metodologia foi importante para a sustentação do modelo de mosaico fluído, proposto de Singer e Nicholson. Aula 4 – Cultura de Células A cultura de células consiste em manter vivas células retiradas de um organismo, em pequenos recipientes. Elas podem ser preparadas diretamente de tecidos retirados do animal: nesse caso, são chamadas culturas primárias. Grupos de células descendentes das culturas primárias, tranferidos para novos meios de cultura, são chamados culturas secundárias. Para que as células sobrevivam in vitro (fora de um organismo), devem ser reproduzidos diversas condições presentes no organismo do qual elas se originaram, tais como temperatura, umidade, osmoralidade e pH. Além disso, é preciso garantir que a cultura não seja contaminada por bactérias ou outros organismos invasores, como fungos. Não menos importante, é preciso que o meio de cultura contenha todos os nutrientes necessários para o metabolismo das células cultivadas, e que as substâncias excretadas (que podem modificar a acidez do meio e intoxicar ou matar as próprias células) sejam removidas, seja pela substituição periódica do meio de cultura ou pela transferência das células para recipientes com novos meios. O meio de cultura é um espécie de “sopa” onde se encontram disponíveis todos os nutrientes necessários para o desenvolvimento das células em questão, como aminoácidos, açucares, vitaminas e sais minerais. Podem entrar na mistura também proteínas do soro de animais, antibióticos e fungicidas. Osmoralidade e pH também devem estar adequados. Num organismo, cada tipo celular tem suas funções e fisiologia distinta, sendo programado para um determinado número de divisões e tempo de vida. As células da pele, por exemplo, se renovam constantemente, enquanto as células nervosas demoram muito mais. A cultura de cada tipo celular mantém in vitro as mesmas características que possuiam nos seus organismos de origem; assim, os fibroplastos (células do tecido conjuntivo) secretam colágeno, células cardíacas se contraem, e as células epiteliais aderem entre si formando uma camada sobre a placa de cultivo. Poder contar com uma população celular homogênea é ideal para testar os efeitos de diversas condições experimentais, pois elas possuem as mesmas condições de seus tecidos de origem. Geralmente, as culturas celulares só podem ser mantidas por um numero limitado de gerações. Mas eventualmente, alguns tipos celulares sofrem mutações que tornam ilimitada sua capacidade de proliferação. Ao contrário das células de câncer que também se multiplicam sem parar, essas células mantém diversas características de suas células de origem. Além das mutações naturais, estas podem ser induzidas por métodos químicos ou infecções virais. Algumas dessas linhagens transformadas, se introduzidas em animais, podem originar tumores, assim como algumas linhagens transformadas tiveram origem em tumores malignos. Através das linhagens celulares é possível se obter uma grande quantidade de células homogêneas para experimentos. Estas podem inclusive ser congeladas em nitrogênio líquido e armazenadas para uso posterior. As células de uma linhagem não são clones das células extraídas de um organismo, pois embora sejam muito semelhantes, não são idênticas. No entanto, uma cultura proveniente de uma única célula é um clone, portanto, vários clones podem ser obtidos de linhagens celulares já estabelecidas. É possível combinar duas células de origens diferentes, levando a uma única célula que carrega o DNA das duas. Quando as células resultantes contém dois núcleos, são chamadas heterocárions (hetero=diferente, cárion=núcleo), e quando os dois núcleos se fundem num só, temos uma célula híbrida (ou hibridoma). Essas última são úteis em casos como, por exemplo, quando uma célula híbrida reúne a capacidade de se multiplicar rapidamente (de uma célula cancerosa) aliada à capacidade de secretar linfócitos, sendo utilizada para produzir grandes quantidades de anticorpos. Células-‐tronco. São aquelas capazes de se multiplicar e dar origem a qualquer tipo celular. O que induz essa diferenciação é a própria programação genética da célula, assim como os fatores químicos do meio extra-‐celular. É chamada de pluripotente quando pode dar origem à qualquer tipo celular, e de multipotente quando se diferencia mais ainda assim, pode dar origem a diversos tipos celulares numa mesma categoria. Através das técnicas de cultivo celular, os pesquisadores tentam obter células-‐tronco e induzir sua diferenciação, in vitro. Com o sucesso dessas pesquisas é possível alcançar a cura para diversos tipos de leucemia (pois as células cancerosas são de um tipo mais diferenciado), fabricar sangue a partir das células-‐tronco do próprio paciente para utilização em tranfusões e cirurgias.Num futuro ainda mais promissor, existe a possibilidade de regenerar órgãos inteiros, e até mesmo recompor nervos lesados recuperando pessoas paraplégicas ou tetraplégicas. Aula 5 – Métodos Bioquímicos para o Estudo da Célula Fracionamento Celular Para obter amostras de organelas, é preciso primeiro romper as células. Mas para evitar confusão quanto à de qual tipo celular veio determinada organela, é preciso que a amostra seja homogênea, ou seja, contendo apenas um tipo celular. Essa tarefa será diferente para cada tipo de material. Alguns exemplos: 1. 2. 3. Rompimento Celular No fracionamento celular, o objetivo é romper a membrana plasmática sem romper a membrana das organelas. É difícil fazer isso, mas para cada tipo celular existem técnicas específicas. Dentro os métodos mais usados estão: Choque osmótico: as células são colocadas em meio hiposmótico (com maior concentração de solutos no exterior do que no interior da célula) até arrebentar. É muito utilizados para romper hemácias. É preciso restaurar a osmolaridade rapidamente para que as membrana das organelas não se rompam também. Choque térmico: as células são congeladas e descongeladas rapidamente, alternando-‐se, por exemplo, nitrogênio líquido e água quente. O congelamento da água dentro das células as fazem inchar, e ao serem sbmersas em água quente voltam ao tamanho normal – o repetimento desse processo que rompe as células. Maceração: pode ser feita com homogeneizadores parecidos com um liquidificador, de modo mais delicado com homogeneizadores de vidro, através do atrito. Pode-‐se utilizar pequenas pérolas de vidro misturadas à preparação, que ao se chocarem, rompem as células. Sonificação: todas as estruturas, biológicas ou não, possuem uma frequência de ressonância característica. Uma vibração nessa frequência, com grande intensidade, pode romper a estrutura. Teoricamente é possível usar o ultra-‐som com uma frequência de vibração e intensidade adequadas ao rompimento da membrana celular, deixando as organelas intactas. Na prática, os aparelhos de ultra-‐som não possuem controle de intensidade e frequência que permita esses ajustes. Tratamento com detergente não-‐iônico: como suas moléculas são anfipáticas (parte hidrofílicas, parte hidrofóbicas), elas conseguem substituir as moléculas de fosfolipídeo na membrana plasmática, causando o rompimento. Os detergentes são usados em baixa concentração e por pouco tempo. Depois do rompimento, os fragmentos de membrana logo se fecham em si mesmos novamente, escondendo da água a porção hidrofóbica da bicamada lipídica, formando pequenas vesículas. Com o rompimento adequado, o resultado é uma solução em que a maioria das células está rompida e as organelas estão livres, e o conteúdo solúvel do citoplasma está misturado no líquido onde as células foram rompidas. Centrifugação diferencial Uma maneira de separar o conteúdo celular em várias frações é usando a força centrífuga, que utiliza-‐se das diferenças de densidade para separar os componentes celulares. Centrifugando o homogeneizado a baixa velocidade é possível precipitar os componentes mais densos, como as células não rompidas e os núcleos. A uma velocidade maior, conseguiremos precipitar mitocôndrias, lisossomos e cloroplastos, por exemplo. A uma velocida ainda maior, podemos precipitar a chamada fração mitocossomal, formada por vesículas variadas, como a membrana plasmática, o retículo endoplasmático, o complexo de Golgi e os endossomos. Para ter acesso a macromoléculas como o DNA, ribossomos, partículas virais e complexos enzimáticos, são necessárias altíssimas velocidades durante muitas horas. Depois disso, o que resta são os componentes solúveis do citoplasma. Com esse técnica de centrifugação diferencial, não podemos obter organelas totalmente separadas das demais, devido à algumas delas terem densidades muito parecidas. Além disso, organelas do mesmo tipo também podem ter densidades diferentes. Para resolver isso, há um tipo de centrifugação que além da velocidade e do tempo, pode variar também a densidade do meio em que as organelas são centrifugadas. Depois da centrifugação diferencial, e depois recolocamos o produto resultante em soluções gradientes de densidade conhecida, como sacarose para separar organelas, sem exercer efeito osmótico. Nesse último tipo de centrifugação, a medida que a velocidade aumenta o material que está a caminho do fundo encontra densidades cada vez maiores do líquido, tendo mais dificuldade de prosseguir. Quando uma organela encontrar uma região onde a densidade seja igual à sua, entrará em equilíbrio, se estabelecendo ali, podendo ser então recolhida por uma pipeta ou seringa, e dessa forma temos uma porção homogênea de uma determinada organela. O sucesso de todo o processo de fracionamento celular pode ser avaliado de duas maneiras: Por microscopia eletrônica, observando em vários momentos quais compentes da célula estão presentes naquela fração, e se eles estão em bom estado ou danificados;Pela dosagem de enzimas marcadoras em todas as frações. Para uma enzima ser marcadora de uma organela, é preciso que ela esteja presente apenas nesta e em nenhum outro lugar da célula, e que essa organela seja encontrada em todos os tipos celulares. A partir dessas frações menores das células contendo organelas purificadas, ou até mesmo de células inteiras, podemos purificar as macromoléculas que desejamos estudar. Existem técnicas adaptadas para proteínas, lipídeos, acidos nucleicos e açucares. Para exemplificar, a seguir estão os princípios das metodologias bioquímicas mais utilizadas em biologia celular: cromatografias e eletroforese. Cromatografia Cromatografia de partição: é adequada para separação de moléculas pequenas, como lipídeos e aminoácidos. Pode ser feita em papel, com a aplicação da amostra perto de uma das pontas. Mergulhamos essa ponta (mas não a parte em que a amostra está) em um solvente orgânico. Esse solvente vai sendo absorvido pelo papel, e a medida que sobe, dependendo da polaridade (afinidade ou não por água) as moléculas são separadas, de acordo com a facilidade em se diluir no solvente (ou mais de um) utilizado. Quando ao invés do papel se utiliza uma placa coberta por uma fina camada de sílica, chamamos de cromatografia em camada simples, cujo processo é praticamente o mesmo. Cromatografia em coluna: preenche-‐se uma coluna (geralmente de vidro) com resina, e aplica-‐se a amostra sobre a mesma. A medida que a resina é recolhida no final da coluna e adicionada sobre a amostra, e a medida que esta é obrigada a percorrer toda a coluna, algumas moléculas vão ficando presas na resina. Esse processo é chamado eluição, e pode levar de minutos à dias, dependendo do tamanho da coluna. Diferentes tipos de separação dependem do tipo da resina, que podem ser três: 1. Filtração em gel: a resina é formada por microesferas, perfuradas por poros de tamanho definido (dependendo da molécula que se pretende separar). Conforme a amostra vai descendo pelo tubo, as moléculas maiores que esses poros passam direto e logo saem da coluna, enquanto as menores se encaixam nos poros e demoram mais a sair. Assim, separa-‐se as moléculas pelo tamanho, como por exemplo proteínas de diferentes pesos moleculares. 2. Troca iônica: a amostra percorrem uma resina formada por microesferas eletricamente carregadas, e as moléculas com carga oposta à dessas microesferas ficam presas nas mesmas. 3. Afinidade: as microesferas da resina são cobertas por moléculas específicas, que se encaixam com as moléculas que se deseja separar na amostra. Em geral, essas microesferas são revestidas com anticorpos, que se encaixam com moléculas específicas. Eletrofosere É uma técnica importante para o estudo de macromoléculas como proteínas e ácidos nucleicos, e se baseia no estudo do comportamento das mesmas num campo elétrico. Serve para medir moléculas pela seu tamanho (massa molecular) e é comumente usado para testar a pureza de uma amostra. Geralmente as macromoléculas são eletricamente carregadas: os ácidos nucleicos são negativos e as proteínas podem ser positivas ou negativas (dependendo do pH onde estão). Portanto, quando colocados num campo elétrico, os ácidos nucleicos sempre vão pro lado positivo, enquanto as proteínas podem ir para qualquer um dos dois, dependendo do pH. Na eletroforese é usado um suporte sólido, geralmente uma gelatina, ou apenas o gel, que contém poros com o tamanho definido de acordo com as moléculas que passarão em direção ao pólo com a carga oposta à sua. Além disso, as moléculas mais mesadas demoram mais pra passar pela malha do gel. Portanto, ácidos nucleicos ou proteínas são separados pelo seu peso molecular. Dependendo da macromolécula, proteínas ou ácidos nucleicos, a composição do gel é diferente. Para separar o DNA usamos gel de agarose (derivado de amido), para separar proteínas usamos poliacrilamida. No caso dos ácidos nucleicos, como eles são muito grandes, o gel de agarose possui poros grandes o suficientes para permitir a passagem dos mesmos. No caso das proteínas, é adicionado ainda o detergente SDS: ele faz com que a proteína fique quase linear (o que ajuda na passagem pelos poros, e permite considerar apenas sua carga elétrica e massa), e ainda dá a ela carga negativa (nas ligações peptídicas), o que faz com que seja atraída para o pólo positivo durante a eletroforese. O processo ocorre da seguinte maneira: 1. Entre duas placas de vidro, é colocado o gel ainda líquido, que endurece com o tempo à temperatura ambiente. Enquanto ainda está líquido, é encaixada no topo entre as duas placas uma peça chamada “pente”, que ao ser retirada depois do gel se solidificar, deixa no mesmo os espaços nos quais serão colocadas as amostras. 2. Para que a corrente elétrica possa fluir pelo gel, é colocada uma solução tampão. Em seguida são colocadasas amostras. Um delas é uma amostra padrão, de proteínas de pesos moleculares conhecidos, para servir de comparação. 3. O aparelho é ligado, e a corrente elétrica passa pelas amostras separando as moléculas. As moléculas maiores “correm”menos pela trama, enquanto as menores “correm” mais. 4. Após isso, o gel é retirado e é utilizado um corante especial para a molécula em questão. Os resultados são entao analizados. Eletrotransferência Ás vezes é necessário testar se algum proteína presente no gel é reconhecida por um anticorpo específico. Como os anticorpos são moléculas grandes demais para entrar no gel (e não se pode desnaturá-‐las, pois assim não funcionam), precisamos tirar as proteínas do gel sem misturá-‐las novamente e transferí-‐las para um papel chamado nitrocelulose. Colocamos a “membrana” de nitrocelulose sobre a placa de gel, mergulhados numa solução tampão, e uma corrente elétrica passa no sentido perpendicular, tranferindo as proteínas do gel para o papel, estando então expostas para os testes com anticorpos. Esse método se chama eletrotransferência, ou Western blottin. DUVIDA: Western blottin direto e indireto, “banda”visível etc Eletroforese bidimensional Citometria de fluxo (ver ultimo exercicio da aula 5) Aula 6 – O Uso de Anticorpos na Pesquisa Anticorpos (ou imunoglobulinas) são proteínas que marcam substâncias ou partículas estranhas (antígenos), identificando-‐as para os fagócitos, que por sua vez destroem o antígeno, defendendo nosso organismo. Eles são produzidos por um tipo de leucócito, que é célula sanguínea (assim como as hemácias e as plaquetas) mais conhecida como glóbulo branco. Ele se subdivide em vários tipos: os granulócitos (neutrófilos, eosinófilos e basófilos), monócitos e linfócitos, que no momento são os que interessam aqui. Dentre os linfócitos, existem os do tipo T e B; ambos são produzidos na medula óssea, porém o tipo T amadurece num órgão chamado timo (eis o porque da sigla), um órgão linfático envolvido na defesa do organismo (sistema imunológico). Já o tipo B amadurecem na própria medula óssea (em inglês “bone marrow”, eis o porque da sigla). São eles, os linfócitos B, que quando se tornam ativos (e então chamados plasmócitos), produzem os anticorpos em resposta à presença de um antígeno. Depois de produzidos, os anticorpos são lançados na corrente sanguínea ou ficam aderidos à superfície do plasmócito. Os anticorpos possuem a forma de Y, com os “braços” ligando-‐se aos antígenos em questão e marcando-‐os para serem destruídos, através da “cauda” que é reconhecida por células encarregadas de fagocitar o organismo ou molécula invasora. Na sua estrutura há duas cadeias leves e duas cadeias pesadas idênticas. Nas extremidades dos braços estão as regiões variáveis, que são específicas para cada antígeno. A região constante o distingue em uma das cinco classes de anticorpos. Imunoglobulina G, M, A, etc. Ponte dissulfeto etc O uso de anticorpos é uma maneira bastante prática de localizar moléculas específicas dentro das células. Quando uma molécula estranha é introduzida num animal (por exemplo, uma proteína que ele não produz), os linfócitos B (plasmócitos) produzirão grande quantidade de anticorpos para se ligar à molécula invasora. O soro desse animal, agora rico nesses anticorpos específicos, pode então ser usado para detectar essa molécula específica em outras células ou animais. O soro é geralmente extraído do baço do animal, órgão onde os linfócitos são produzidos. Dúvida: os anticorpos dentro do corpo não olham para os novos anticorpos introduzidos como “invasores”? No caso das vacinas, são injetados anticorpos ou linfócitos B produtores desses anticorpos? Nesse ponto, surgem duas questões: primeira; na extração do soro, muitas vezes o animal é sacrificado, e naqueles que sobrevivem, a concentração daquele anticorpo diminui bastante depois de algum tempo, não sendo úteis para uma nova extração. E segunda; um antígeno será reconhecido, através de partes diferentes de si mesmo, por vários linfócitos B (plasmócitos) que a partir daí, vão se dividir e secretar anticorpos capazes de reconhecer determinadas regiões (chamadas epítopos) daquele antígeno. Cada um desses linfócitos estimulados a se dividir estarão gerando clones de si mesmos, mas como todos os anticorpos produzidos serão capazes de reconhecer o mesmo antígeno (mesmo que através de epítopos diferentes), são chamados de policlonais (conjunto de diferentes tipos de clones, voltados para o mesmo antígeno). Já a produção de anticorpos de um único tipo, específicos para determinada região do antígeno, é possível a partir do cultivo de hibridomas, que são culturas celulares resultantes de células híbridas que possuem características interessantes de duas espécies originais. Como esses anticorpos são clones produzidos a partir de um tipo de linfócito apenas, são chamados monoclonais. Além de serem muito específicos, outra vantagem dos anticorpos monoclonais é que,como provém de culturas celulares, sua produção pode ser contantemente mantida (se nada der errado e compormeter o cultivo). Duvida: pode-‐se gerar anticorpos policlonais a partir de cultura de células? Já a desvantagem é que nem todos os hibridomas secretam anticorpos interessantes, e a seleção dos que interessam é muito trabalhosa. Como já vimos, para a produção de anticorpos são aplicados antígenos em animais, que depois possuem seu soro extraído rico nos linfócitos B específicos. No entanto, para conseguir linhagens monoclonais, é preciso separar linfócito por linfócito, cada uma isolada num poço diferente de uma placa. Células de mielomas (com rápida e constante capacidade de multiplicação) são misturadas junto com polietilenoglicol (PEG, que promove a fusão de membranas), e são formadas hibridomas, que produzem os anticorpos indefinidamente. Apenas algumas fusões serão bem sucedidas, porém, ao serem cultivadas em meio HAT, só as células híbridas conseguirão prosperar, pois as mielomas não sobrevivem nesse meio, e os linfócitos morrem naturalmente em poucas semanas. Após analisados e descobertos os poços onde os anticorpos estão sendo produzidos, um único linfócito é isolado e a partir dele clones são gerados. Como já se sabe, os anticorpos são umas ferramentas muito útil e prática na identificação de moléculas. Além de também identificar sua função celular, eles mostram a distribuição das moléculas fora e dentro da célula, servindo como marcadores moleculares. Devido aos seus dois braços, os anticorpos tendem a aglutinar as moléculas antígenas, concentrando-‐as e facilitando sua identificação pelas células fagocitadoras. Epítopo linear e conformacional Há muitas situações em que anticorpos são úteis em pesquisas e análises clínicas. Eles podem detectar antígenos nas células, se ligando à elas e sendo depois utilizado um corante ou fluocromo para identificá-‐los. Fluocromos são marcadores fluorescentes que se ligam às moléculas que se ligam especificamente a certos compostos celulares, no caso, os anticorpos. Nesse caso dos fluocromos, é utilizado o microscópio de fluorescência. Os anticorpos podem ser utilizados também para purificar amostras, de maneira muito semelhante ao processo de cromatografia por afinidade. Só que a invés de uma coluna, as microesferas cobertas de anticorpos são misturadas à amostra, e a mistura é centrifugada a uma velocidade baixa, apenas para precipitar as microesferas com as proteínas “pescadas” no processo. Por ser muito difícil marcar os anticorpos com uma enzima, ou corante, ou fluocromo, são utilizados anticorpos secundários, que reconhecem outros anticorpos, estes ditos primários. (quando o fluocromo é utilizado no anticorpo primário, o método é chamado de imunofluorescência direta; se estiver ligado ao secundário, método mais comum, chama-‐se imunofluorescência indireta). Por exemplo, se injetarmos anticorpos humanos numa cabra, ela produzirá seus próprios anticorpos contra os anticorpos invasores; os anticorpos da cabra seriam anticorpos secundários, que por sua vez serão acoplados à fluocromos, ou enzimas, ou ouro coloidal, e usados como ferramentas para reconhecer onde estão os anticorpos primários, que por sua vez estarão ligados nos antígenos que eles reconhecem. Dúvida: porque os anticorpos primários não tratam os secundários como antígenos? ELISA (não entendi bulhufas) é uma técnica que se baseia no reconhecimento de um antígeno por um anticorpo. O ELISA direto é utilizado para identificar um antígeno presente na amostra, colocando-‐se um anticorpo primário contra esse antígeno, que irá ou não aderir à este. A identificação é feita com um anticorpo secundário marcado com peroxidase. O ELISA indireto é utilizado para identificar um anticorpo em determinado soro, utilizando-‐se um antígeno. Se houver um anticorpo compatível, ele irá aderir ao antígeno, e a identificação se dá com um anticorpo secundário marcado por peroxidase. Aula 7 – Estrutura da Membrana Plasmática A membrana celular é a base da vida como a conhecemos. Ela delimita o meio intracelular do extracelular, e por ser fluída, é capaz de “controlar” tudo o que entra (nutrientes) e tudo o que sai (excreções e secreções) da célula, tendo o objetivo de criar um ambiente diferenciado do meio exterior. É composta por uma bicamada lipídica, proteínas e carboidratos (também chamados glicídeos). Dentro das células, as organelas também possuem membrana (neste caso, ela é chamada endomembrana). Composição química Lipídios: estão subdivididos em Fosfolipídios: compõem a maior parte da membrana celular. Seu nome significa que possuem um grupo fosfato (hidrofílico, voltado para o exterior) junto a duas cadeias de ácido graxo (hidrofóbicas, voltadas para o interior da bicamada). Uma dessas cadeias é saturada (sem ligações duplas entre os átomos de carbono), e a outra pode ser tanto saturada quanto insaturada. A estrutura da membrana se deve a essa camada dupla de fosfolipídios,que são responsáveis por sua fluidez e permeabilidade. Por serem ao mesmo tempo polares e apolares, são consideradas moléculas anfipáticas, ou seja, enquanto a parte hidrofílica interage bem com a água, a hidrofóbica busca “esconder-‐se” da mesma. Há também outros tipos de lipídios na membrana, e são eles: os esteróis e os glicolipídios. Glicolipídios: quando lipídios em contato com o meio extracelular se ligam à carboidratos, formam-‐se os glicolipídios. Estes resultam da associação entre um glicídio (hidrofílico) e duas cadeias de ácidos graxos (hidrofóbicos). Estão presente apenas no lado da membrana voltado para o meio extracelular. Se comportam de maneira semelhante aos fosfolipídios em meio aquoso, e são um componente fundamental do glicocálix, que por sua vez atua no reconhecimento celular. Esteróis: o colesterol é o esterol mais importante nas membranas celulares dos animais. Suas moléculas além de rígidas são também anfipáticas, e se dispõem entre as moléculas dos fosfolipídios, conferindo maior rigidez à membrana e aumentando sua resistência à deformação. Assim, quanto mais ricas em colesterol, mais rígidas são as membranas. No entanto elas dificultam a cristalização da membrana em baixas temperaturas, por não permitir que os fosfolipídios se aproximem muito, impedindo que se formem os cristais. Isso ajuda muitos organismos sujeitos a grandes variações de temperatura. Membranas de fungos, plantas e alguns protozoários podem conter outros tipos de esterol. Proteínas: são os principais componentes funcionais da membrana; conferem individualidade à célula, e portanto, delas dependem as atividades específicas de cada tipo celular. Podem se ligar à carboidratos no lado extracelular da membrana, dando origem a glicoproteínas. São como “ilhas” à deriva num mar de lipídios, que “navegam” lateralmente, podendo até girar em seu próprio eixo – aliás, esse conceito é chamado de Modelo do mosaico fluído. Mais detalhes sobre as proteínas estão na próxima aula. Carboidratos: também conhecidos como glicídios, sacarídeos ou açucares, estão sempre voltados para o meio extracelular, e formam uma camada chamada glicocálix (juntos com as glicoproteínas). Este é formado pela associação dos carboidratos com as proteínas e os lipídios, formando as glicoproteínas e os glicolipídios, que tem por função o reconhecimento químico da célula em relação ao exterior. Também a lubrifica e aprotege de ácidos e enzimas, evita que alguns tipos de vírus e bactérias ne anexem a membrana, e lhe confere carga negativa. As enzimas que acrescentam os açúcares aos lipídios e às proteínas são produzidas no interior do retículo endoplasmático e do complexo de Golgi, e quando são inseridos na membrana celular o conteúdo interno das vesículas, contendo os açucares produzidos, a atravessam chegando ao meio extracelular. Os espaços entre as células frequentemente são preenchidos com açúcares especiais, como por exemplo a celulose (formada pela polimerização da glicose), que forma a parede celular dos vegetais. O tecido conjuntivo e o cartilaginoso também são formados em grande parte por carboidratos, formando as proteoglicanas: moléculas muito longas e ramificadas que funcionam como esponjas, ajudando na retenção da água por esses tecidos. A fluidez da bicamada lipídica Nas membranas naturais, é importante que elas não sejam nem muito fluídas nem muito rígidas para desempenharem suas funçoes de maneira eficiente. Os lipídios podem se mover livremente no plano lateral da membrana, assim como rodar em seu próprio eixo, e esses movimentos que dão fluidez à membrana. Além disso, as cadeias carbônicas do ácidos graxo também podem flexionar-‐se. No entanto é muito raro que um lipídio mude de plano na bicamada (da de cima para a de baixo, ou vice-‐versa), movimento chamado flip-‐flop, que requer enzimas específicas e gasto de energia. Existem quatro tipos diferentes de fosfolipídios, cada um com uma temperatura diferente de cristalização. Por isso, mesmo em temperatura variadas, por ser formada de vários lipídios diferentes, a membrana não se cristaliza. Essa mistura de fosfolipídios é essencial principalmente para células expostas a ambientes com temperatura muito variável. A fluidez da membrana varia de acordo com o número de duplas ligações (insaturadas) dos ácidos graxos, pois isso infuencia na distância mínima entre os fosfolipídios. Portanto, quanto maior o número de lipídios com cadeias insaturadas (a “perninha torta”), maior será a fluidez da membrana. Entretanto, quanto mais compridas forem essas cadeias menos fluída é a membrana, pois ao se emaranharem, uma limita o movimento da outra. Animais exotérmicos, incapazes de regular a própria temperatura, possuem um metabolismo capaz de alterar a composição de ácidos graxos de sua membrana de acordo com a variação de temperatura, concentrando mais cadeias insaturadas (instáveis, mais fluídas) em baixa temperatura e mais cadeias saturadas em temperaturas elevadas (estáveis,mais rígidas), aumentando ou diminuindo a fluidez da membrana, compensando as mudanças de temperatura. Nos animais homeotérmicos a fluidez é controlada apenas pelo colesterol presente entre os fosfolipídios, que impede as cadeias de ácidos graxos de se movimentarem livremente em relação a temperatura. Domínios de membrana Uma questão que intrigou os pesquisadores por muito tempo foi o porque de algumas partes da membrana possuírem características diferentes do todo -‐ por exemplo, os neurônios, que recebem estímulos por toda a mebrana celular, mas só os transmitem pela extremidade do axônio. O motivo disso é que algumas regiões da membrana possuem fluidez menor do que o resto da bicamada lipídica. Essa menor fluidez é resultado do acúmulo de fosfolipídios com cadeias longas de ácidos graxos, e a maior concentração de colesterol nessas regiões (o que também aumenta a espessura da bicamada). Essas regiões são denominadas lipid rafts, ou plataformas lipídicas, e ocorrem em todos os tipos celulares, possuindo funções específicas dependendo do tipo celular. Elas reunem perto de si um mesmo conjunto de elementos da membrana, como proteínas de uma mesma reação, e devido a espessura dessas áreas ser maior, apenas algumas proteínas conseguem se encaixar nessas regiões. A importância da assimetria da bicamada lipídica Os dois folhetos lipídicos da bicamadas, ao contrário de suas muitas representações em desenhos didáticos, não são simétricos e uniformes, pois a composição das faces extracelular e intracelular são diferentes em relação às proteínas, carboidratos e lipídios. Além das plataformas lipídicas (domínios de membrana), a presença de diferentes tipos de lipídios, como glicolipídios apenas na parte superior da membrana e um outro tipo específico de lipídio na parte inferior, são responsáveis pela assimetria. Quando essa disposição é perturbada, no caso das hemácias e do leucócitos, o aparecimento na bicamada exterior de um fosfolipídio que deveria estar na camada interior, sinaliza que a célula está morrendo e é um dos fatores reconhecidos pelas células fagocitadoras. Aula 8 – Proteínas de Membrana Apesar de todas as membranas serem bicamadas lipídicas, as proteínas de cada tipo celular são únicas. São elas, junto aos carboidratos, que dão identidade à células. Elas desempenham funções importantes: o transporte de substâncias que não conseguem atravessar a membrana, a adesão e o reconhecimento celular. Nos tecidos, as a interação entre as proteínas de membrana que permitem que as células se unam umas às outras ou a matriz celular. As proteínas da membrana são classificadas em dois grupos: transmembrana (ou integrais), quando atravessam (total ou parcialmente) a bicamada lipídica, e periféricas quando estão totalmente fora da membrana, associadas à outras proteínas integrais ou aos lípidios por ligações fracas (não-‐covalentes). As proteínas transmembrana podem ser classificadas em proteínas unipasso (quando atravessam a bicamada lipídica apenas uma vez) ou multipasso (quando a atravessam repetidas vezes). As proteínas unipasso atuam como receptores, enquanto as multipasso criam dentro de si um ambiente hidrofílico que permite a passagem de água e outras moléculas pela membrana. Algumas proteínas se prendem à bicamada apenas por uma ligação covalente a um dos lipídios da membrana, e são chamada proteínas ancoradas. São consideradas integrais, e não periféricas, por não estarem associadas à outras proteínas, mas sim diretemente “ancoradas” na membrana. Para serem separadas dos lipídios da bicamada, no caso das transmembranas, são utilizados detergentes que solubilizam a bicamada lipídica. Já as proteínas periféricas se soltam facilmente, bastando alterar o pH/força iônica do meio. As ancoradas só podem ser removidas com o uso de enzimas específicas da familía das fosfolipases, que cortam as “âncoras”. Atravessando a bicamada As partes da proteínas voltadas para fora da bicamada são naturalmente hidrofílicas. Mas o que acontece com a parte da proteína que atravessa a parte interior hidrofóbica da membrana? Essa parte da proteína é composta principalmente por aminoácidos cujas cadeias laterais são hidrofóbicas, podendo então ficar voltados para a parte interior apolar da membrana. No entanto as ligações peptídicas são hidrofílicas, e estando voltadas pra dentro formam pontes de hidrogênio, o que lhes dá um formato espiralado de alfa-‐hélice. A parte hidrofóbica da proteína é chamada de domínio apolar, enquanto a hidrofílica é chamada de domínio polar. Complexos de proteínas Além das proteínas multipasso, que criam um ambiente hidrofílico, muitas proteínas formam complexos na membrana, podendo ser composto apenas de proteínas iguais ou não. Esses complexos também formam uma área hidrofílica pela qual passam moléculas como íons ou açúcares, que normalmente são barrados pela membrana. A mobilidade das proteínas Já vimos que as proteínas movem-‐se livremente pela membrana (noplano lateral) e que podem girar em seu próprio eixo. Porém existem restrições quanto à esses movimentos, de acordo com regiões chamadas domínios de membrana, os quais podem estar separados por barreiras. Essas restrições existem por vários motivos, como por exemplo no caso do espermatozóide, que possui proteínas específicas na região da cabeça que fará contato com o óvulo, que não estão presentes na cauda e vice-‐versa. Os mecanismos responsáveis por essas restrições são os seguintes: 1. Formação de complexos: várias proteínas se associam formando complexos, que só podem se deslocar como um todo. 2. Associação ao citoesqueleto ou à matriz extracelular: algumas proteínas tem sua mobilidade lateral limitada por estarem associadas a macromoléculas do meio intra ou extracelular, como elementos do citoesqueleto os da matriz extracelular. 3. Ligação entre proteínas: as proteínas de duas células podem ligar-‐se, limitando a mobilidade de ambas. As proteínas de uma célula podem se ligar também à moléculas do meio extracelular. Muitos domínios são consequência da existência de barreiras. Estas são formadas por arranjos de proteínas que impedem a livre movimentação de outras proteínas ou lipídeos entre elas. As proteínas se movimentam livremente dentro de um determinado domínio, mas não conseguem passar para os domínios vizinhos. As proteínas que ligam um conjunto de células também podem constituir barreiras. Aula 9 – Permeabilidade da Membrana Sabemos que a membrana celular funciona como uma barreira, separando o meio extracelular do intracelular. Entretanto a célula interage com o meio exterior de diversas maneiras, seja na respiração (absorvendo oxigênio e liberando gás carbônico) ou na absorção de nutrientes. Para permitir essa interação com o meio extracelular, a membrana é dotada de permeabilidade seletiva, o que não significa que a célula seleciona tudo aquilo que precisa, mas sim que a passagem das moléculas depende apenas de suas características fisico-‐químicas. Essa permeabilidade está diretamente relacionada a natureza lipídica da membrana, e a seleção das moléculas que a atravessam é feita em função de seu tamanho, polaridade e carga. Tamanho: quanto menor a molécula, mais facilmente atravessará a membrana. Polaridade: como a bicamada é apolar, as moléculas apolares tem muito mais faclidade em atravessá-‐la do que as moléculas polares. DUVIDA IMPORTANTE: Não é o lado hidrofílico da membrana que fica voltado pra fora e pra dentro (afinal, as próprias proteínas tem aminoácidos com cadeias laterais hidrofóbicas quando passam no interior hidrofóbico da membrana)? Ou seja, ela é hidrofilica em ambos os lados, e hidrofóbica no meio, certo? Como as moleculas apolares passam pela parte hidrofilica da membrana? Carga: moléculas dotadas de carga, como os íons, mesmo sendo muito pequenas, não atravessam a membrana. Com esses três fatores atuando, as moléculas que passam pela membrana com mais facilidade são aquelas bem pequenas, apolares e sem carga; exemplos de moléculas assim são o O2 e o CO2, no entanto vários solventes orgânicos também se enquadram nesses quesitos e são prejudiciais às células. Os íons Ca, K e Cl, embora sejam moléculas muito pequenas, são hidrofílicos, “prendendo” em volta de si muitas moléculas de água, o que aumenta muito seu tamanho e os impede de atravessar a bicamada. Duvida: mas só de ser hidrofílico não seria o suficiente pra impedi-‐los de passar? Duvida: Os lipídios são moléculas apolares (?). Porém os lipidios da membrana, no lado exterior, são hidrofilicos, sendo hidrofobicos só no espaço entre a bicamada, certo? Difusão simples Além desses três fatores principais, há um quarto fator, a concentração. Assim, as moléculas de oxigênio só passarão ao interior da célula se no meio extracelular houver uma concentração maior do que no meio intracelular. Isso explica porque as plantas liberam oxigênio, afinal, elas o produzem dentro de suas células. Todo esse processo se dá sem o gasto de energia, e é chamado difusão simples (que é um tipo de transporte passivo). Osmose é o nome dado quando o processo de difusão simples acontece com a água, que apesar de ser polar, não possui carga e é pequena o suficiente pra passar pela membrana. A água sempre irá do meio com menor concentração de soluto em direção ao meio com maior concentração de soluto. Mas a difusão simples não dá conta de suprir todas as necessidades da célula. Há muitas moléculas necessárias para o bom funcionamento do funcionamento da mesma, que não passam pela bicamada lipídica. Nesses casos, entram em ação as proteínas transportadoras. Aula 10 – As Proteínas Transportadoras Dentre as proteínas presentes na membrana celular, são de especial importância aquelas que possibilitam a passagem das moléculas que não são capazes de atravessar a bicamada lipídica. Todas as proteínas transportadoras: 1. São proteínas
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