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Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 1 AULA 11 (PONTOS 1.1 e 1.3 DO PROGRAMA ATRFB 2009) (PONTOS 1.1 e 1.2 DO PROGRAMA AFRFB 2009) Olá. A aula de hoje é um complemento da aula anterior, quando falamos sobre políticas comerciais. Falaremos sobre o impacto dessas políticas no desenvolvimento econômico dos países, assim como comentaremos as diversas formas de se impor barreiras comerciais. COMÉRCIO INTERNACIONAL E CRESCIMENTO ECONÔMICO Em princípio, toda nação procura (ou deveria procurar) melhorar a renda da sua população, por meio de uma economia avançada, moderna, com abundância de capital, tecnologia, mão-de-obra especializada. Para atingir esse objetivo, é necessário o acúmulo de bens de capital, mão-de-obra qualificada e know-how, ou seja, dos fatores produtivos necessários ao crescimento econômico. O comércio internacional, nesse contexto, assume fundamental importância. A política econômica deve ser voltada para a ampliação da produção, expansão dos mercados consumidores e aquisição de bens primários e intermediários necessários aos novos processos produtivos. A política externa precisa estar conectada, então a essa diretriz. Adam Smith, que liderou a Escola Clássica dos economistas, pregava a abertura comercial para que todos os países pudessem se beneficiar dos ganhos trazidos pelas trocas internacionais. Segundo os clássicos, o crescimento econômico seria uma conseqüência natural do aumento do volume de comércio. A idéia de que o comércio foi o motor do crescimento valeu no século XIX, mas não encontrou respaldo no século XX. Mesmo assim, o mundo observou diversas experiências protecionistas, principalmente até a 2ª Guerra Mundial. Alguns países desenvolvidos ou em desenvolvimento, de alguma forma, em algum momento, adotaram modelos de imposição de restrições às importações com o objetivo de desenvolver o seu parque fabril. Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 2 Após a 2ª Guerra, observou-se que a liberdade comercial instituída pelo GATT não trouxe a tiracolo o tão sonhado desenvolvimento econômico para muitos países, pelo contrário, para muitos, gerou problemas como endividamento, inflação e instabilidade econômica, cujo ápice foi atingido nos anos 80, tornando inevitáveis as pressões sociais e exigências de crescimento e modernização. Essa conjuntura desfavorável ao comércio internacional fez proliferar nos quatro cantos do mundo, a partir da década de 90, novas investidas para aumentar o fluxo comercial mundial, baseadas na criação dos blocos econômicos de integração comercial, numa tentativa de reprimir novamente as restrições às transações internacionais. Com a instituição da OMC, ficou mais difícil para os países a introdução de barreiras ao comércio sob a simples alegação de proteção à indústria nacional. Com isso, alguns países, principalmente os desenvolvidos, procuraram outros meios de proteger suas indústrias. Buscaram, assim, as regras de exceção do GATT para imposição de barreiras, como as barreiras técnicas, porém utilizadas de forma distorcida. Os clássicos sempre atribuíram o crescimento econômico, de forma atrelada ao comércio internacional, aos ganhos de escala que os países obtêm, graças à especialização internacional do trabalho, a partir das vantagens comparativas que cada nação possui na produção de determinado item. Esse contexto de especialização da produção em função de vantagens comparativas fez com que os países que produziam bens mais elaborados (industriais) obtivessem um crescimento maior do que os países subdesenvolvidos, que se especializaram em produtos primários. Essa distorção ou desvantagem foi estudada e deu origem à Tese da Deterioração dos Termos Internacionais de Troca dos países subdesenvolvidos. Com isso, outras teorias surgiram, desmistificando a tese de que o comércio, por si só, levaria ao crescimento econômico. Passou-se a acreditar que o fundamental para o crescimento seria encontrar novos mercados para negociar produtos a preços competitivos. Isso só seria possível com o uso da tecnologia, da inovação e dos investimentos, Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 3 proporcionando, dessa forma, por meio da elevação das exportações, um aumento na renda do país. O vínculo do desenvolvimento econômico com o comércio internacional está associado à maneira como o país estrutura e direciona seu parque industrial. Ao longo do século XX, visando o crescimento econômico, de forma integrada ao comércio internacional, os países adotaram basicamente dois modelos de industrialização: a) o modelo de substituição das importações (industrialização voltada para dentro); b) o modelo exportador (industrialização voltada para fora). O MODELO DE SUBSTITUIÇÃO DAS IMPORTAÇÕES (INDUSTRIALIZAÇÃO VOLTADA PARA DENTRO) Segundo os estudos de Raul Prebisch, os países subdesenvolvidos, que possuíam baixa elasticidade-renda dos seus produtos exportados, não estavam obtendo os benefícios do comércio internacional na mesma proporção que os países industrializados. Além disso, a especialização na produção de bens agrícolas estava gerando redução de preço no produto final e de salários, considerando a mão-de-obra abundante e o fato de que os sindicatos de trabalhadores rurais nunca foram muito fortes nesses países. Esses debates ganharam força na CEPAL (Comissão Econômica da ONU para a América Latina e Caribe). Havia outro problema para os países subdesenvolvidos. Com o avanço tecnológico, as nações desenvolvidas se tornavam cada vez menos dependentes dos produtos primários oferecidos pelas nações em desenvolvimento. Produtos sintéticos eram descobertos, ganhando espaço das matérias-primas naturais vendidas pelos países subdesenvolvidos. Vejam. A demanda por produtos primários não cresce na mesma proporção do aumento da renda. Se uma pessoa ganha mais, ela vai querer comprar outros tipos de bens, e não arroz ou feijão. Isso quer dizer que a demanda por produtos primários é inelástica em relação ao aumento da renda. Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 4 Se o preço de um produto sofre uma redução e com isso todo mundo sai correndo às ruas pra comprar bastante, diz-se que ele possui demanda elástica de preço. Podemos dizer que isso ocorreu com os veículos recentemente. Por outro lado, se aumenta muito o preço, as pessoas vão segurar o consumo, não é mesmo? E o inelástico? Imagine um diabético que dependa de insulina para viver. Ele tem de comprar o produto de qualquer jeito. Se o preço subir muito, ele vai fazer de tudo para continuar comprando a mesma quantidade. Se o preço cair, por outro lado, não haverá procura além do necessário, só porque o preço da insulina está barato. Então, diz-se que a demanda por esse tipo de produto é inelástica em relação ao preço. Vejamos agora o conceito de elasticidade-renda. Esta se manifesta em função da variação da renda do cara. Quanto mais se ganha, mais ele procura outros tipos de bens, e não os bens básicos (arroz, feijão, macarrão). Estes possuem baixa elasticidade renda. Já outros itens, mais supérfluos, como veículos, possuem alta elasticidade renda. Se um sujeito começar a ganhar um salário bem maior, vai logo querer comprar um carro melhor, do ano etc. Estes bens (mais supérfluos) possuem alta elasticidade renda de demanda. ....... O que aconteceu na virada do século XIX para o século XX? No século XIX, a Inglaterra, como líder da economia mundial, possuía alta propensão marginala importar. Isso quer dizer que ela importava grande quantidade de produtos básicos para servir de insumos às suas indústrias. Esse volume de importações difundia a expansão econômica para as economias periféricas da época (EUA, Austrália, Nova Zelândia, Canadá, Argentina). Já no século XX, os EUA, novos líderes da economia mundial, eram praticamente auto-suficientes em produtos primários, não repassando seu crescimento para os países exportadores de produtos agrícolas, pelo contrário, gerando grandes perdas para estes com o comércio internacional, já que praticamente não importavam produtos primários. Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 5 Bom, a essa altura já era consolidado que a teoria do comércio como motor do crescimento não procedia. Então, muitos países subdesenvolvidos implantaram políticas agressivas de industrialização, por meio do fechamento de seus mercados à competição das nações industrializadas. É o modelo de substituição de importações (industrialização voltada para dentro). A idéia era produzir internamente aquilo que se comprava antes no exterior. Para isso, necessitava-se proteger a indústria doméstica nascente. O objetivo era abastecer o mercado interno, e não necessariamente exportar. Por isso ficou conhecido como modelo de substituição das importações ou industrialização voltada para dentro. Não havia a intenção em conquistar o mercado externo, pelo menos em uma primeira fase de instalação das indústrias. Era um sistema de forte intervenção estatal na economia, com imposição de barreiras às importações para evitar a concorrência pesada dos fornecedores estrangeiros com as indústrias nacionais incipientes. Nos anos 50, 60 e 70, na América Latina, observou-se um relativo crescimento, pois o mercado para os produtos já existia e seria cativo para as empresas nacionais. Era um mecanismo mais simples do que tentar conquistar o mercado externo, onde as nações mais ricas também impunham barreiras às importações de produtos industrializados oriundos dos países subdesenvolvidos. A idéia parecia boa, já que, para superar as barreiras comerciais, os importadores de produtos das indústrias estrangeiras necessitariam desembolsar mais (custos mais elevados para as importações), ou as indústrias estrangeiras teriam que baixar seus preços, o que facilitou a vida das indústrias domésticas nascentes, pois houve uma queda nas importações. Essa redução do volume de importações levava ainda a uma melhoria do saldo da balança comercial. Vejamos um exemplo: um distribuidor de um equipamento de mergulho no Brasil está procurando preços no fornecedor nacional e no estrangeiro para comprar seu produto. No exterior, a importação sairia por US$ 100, a uma taxa de câmbio de R$ 2,00, sem alíquota de Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 6 importação. Essa importação tem um custo de R$ 200,00 ao importador brasileiro (o distribuidor). Se o produto similar nacional (brasileiro) custasse R$ 205,00 na fábrica, o importado estaria saindo mais barato, desconsiderando-se outros custos como frete, seguro, armazenagem etc. Caso o Brasil impusesse uma tarifa de importação de 10%, a mesma importação passaria a custar R$ 220,00 ao importador nacional, tornando-a mais onerosa em 10%. Aí o distribuidor passaria a preferir o produto nacional, considerando que a qualidade dos mesmos é equivalente (o que nem sempre acontece). Se o exportador quisesse continuar fornecendo ao distribuidor brasileiro, teria que baixar seu preço de exportação para, digamos, US$ 90. Nesse caso, o importador teria um custo de R$ 198,00 (US$ 90 x R$ 2,00 x 1,1), já considerando a tarifa de importação. Bom, quais seriam as desvantagens desse modelo? Ao interferir no fluxo natural dos fatores de produção, o governo distorcia sua distribuição, pois os bens que se queria produzir eram de tecnologia avançada, e o sistema não previa o investimento em pesquisa e desenvolvimento, tal como ocorria nos países desenvolvidos. Isso tornava a substituição dos produtos importados um tanto onerosa, e quem acabava financiando esses setores improdutivos era a sociedade, com os tributos e os altos preços dos produtos. Na prática, o consumidor acabava pagando mais caro pelo produto nacional. Outra desvantagem seria a dimensão reduzida do mercado doméstico, não possibilitando grandes ganhos de escala, já que o objetivo do sistema era fabricar para vender internamente, substituindo as importações. Além do mais, sem concorrência, em virtude das barreiras impostas, as indústrias locais acabaram se estagnando, tornando-se ineficientes. E foi o que se observou em países como o Brasil nos anos 80. O sistema naturalmente conduzia a uma ineficiência das indústrias locais. Os preços, conforme visto, ficavam demasiadamente altos para o consumidor final. O sistema também não era tão eficiente na geração de superávits na balança comercial, uma vez que, para a implantação e manutenção das indústrias, era necessária a importação de unidades fabris (máquinas), Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 7 equipamentos e combustíveis. Assim, muito do que se gastava com importações de produtos finais industrializados passou a ser gasto na importação de bens de capital e intermediários. Durante o período em que muito se utilizou o modelo de substituição de importações (1950-1980), houve um grande afluxo de empresas multinacionais para os países subdesenvolvidos, que se instalaram com o objetivo de remeter lucros para o exterior. A balança de serviços (lucros, juros e aluguéis) começava a pender negativamente para os paises menos desenvolvidos. Veio assim a crise do modelo anos 80, quando os países que o adotaram começaram a sentir necessidade de conquistar o mercado externo como alternativa para o crescimento econômico. Chile, Argentina e Uruguai, já a partir dos anos 70, com a crise do sistema Bretton Woods1, e com o apoio dos EUA, passaram a adotar políticas neoliberais, com fortalecimento do setor privado. O Brasil, que adotou regime híbrido, com investimentos no setor exportador, apostou que os juros ficariam eternamente baixos e que a crise internacional do petróleo (anos 70) seria passageira. Com isso, se industrializou com base em endividamento externo e subsídios às exportações. O MODELO EXPORTADOR (INDUSTRIALIZAÇÃO VOLTADA PARA FORA) Dentre os modelos adotados pelos países para atingir o desenvolvimento econômico, o modelo exportador era o de cunho liberal, ou seja, promovia o incentivo às exportações para que as indústrias locais, que teriam de enfrentar uma concorrência saudável, não permanecessem estagnadas. Com a produção voltada para as exportações, o crescimento do mercado consumidor torna-se ilimitado, pois não está restrito ao 1 Sistema financeiro internacional criado após a 2ª Guerra Mundial, que instituiu a conversibilidade das demais moedas em dólar, sendo esta moeda somente conversível em ouro. Foi instituído em 1944 e extinto em 1971, quando os EUA decretaram o fim da conversibilidade do dólar em ouro. Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 8 consumo interno. Com esse mercado ilimitado, é possível aos fabricantes atingir os ganhos de escala, em função da grande quantidade produzida, o que também abriria caminho para a realização de investimentos em pesquisa e desenvolvimento, que não foram possíveis no modelo de substituição de importações. Dessa forma, com a concorrência instaurada,a tendência era de que as mercadorias produzidas fossem de melhor qualidade. Os países subdesenvolvidos que utilizaram o modelo de substituição de importações, em sua maioria, viraram importadores de máquinas, e não conseguiram a tecnologia para fabricar suas próprias. Deveriam ter investido mais em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento). Perceba que o objetivo principal da produção nesse modelo é abastecer o mercado externo, e não o interno. Esta última seria secundária. O desenvolvimento viria como conseqüência do estímulo que as indústrias tinham para competir com a concorrência externa. E quando se vende para o exterior, aumentam entradas de divisas (dólares, euros). Assim, ao atender o mercado externo, naturalmente aumentavam as divisas, importantes para garantir as reservas internacionais, tão importantes para enfrentar as crises internacionais financeiras, comuns no mundo contemporâneo (crises do petróleo, crises cambiais do México-94, da Ásia-97, da Rússia-98, do Brasil-99, da Argentina-2001 etc.). Mas, a conquista do mercado externo não era uma tarefa fácil. É muito mais cômodo para um empresário instalar indústrias sob um mercado cativo, protegido da concorrência externa, como era o caso do modelo de substituição de importações. Ademais, para produzir bens mais sofisticados, os países necessitavam de know-how (tecnologia mais avançada). Quem detinha esse know-how? Os países desenvolvidos (EUA, Inglaterra, França). Certamente que eles não difundiam facilmente esse conhecimento, essa tecnologia, para as demais nações. O modelo exportador foi bastante utilizado por países como Coréia, Hong Kong e Cingapura, que, em função do nível de crescimento alcançado, passaram a ser conhecidos como Tigres Asiáticos. Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 9 A falta de proteção imposta neste modelo (barreiras às importações) não colocava nas mãos do governo a decisão de escolher que setor seria beneficiado, ou seja, receberia a tarifa, assim como também não distorcia a produção. Uma grande diferença do modelo coreano (exportador) para o brasileiro (híbrido) foi que os asiáticos sempre mantiveram uma estrutura sócio-econômica relativamente equalitária naquele país, com altos índices de investimento em recursos humanos, gerando uma mão- de-obra mais qualificada. Isso explica porque na América Latina o crescimento industrial ampliou a heterogeneidade estrutural, enquanto na Coréia a industrialização reduziu as disparidades regionais e sociais. BARREIRAS TARIFÁRIAS E NÃO TARIFÁRIAS Conforme já visto, as barreiras comerciais são utilizadas pelos países por diversos motivos, tais como proteção às indústrias nascentes, segurança nacional, proteção contra práticas desleais de comércio etc. Veremos aqui as modalidades existentes de barreiras. Estas são divididas em tarifárias e não-tarifárias. As barreiras tarifárias se materializam por meio da imposição de uma tarifa, ou seja, um direito aduaneiro, um tributo, que incide quando as mercadorias chegam ou saem do país. São os chamados tributos externos (imposto de importação ou de exportação). Os tributos externos tem o objetivo de aplicar a política comercial externa do país (protecionista ou liberal), não sendo, portanto, de cunho arrecadatório. Isso quer dizer que, quando um país institui um imposto de importação ou de exportação seu objetivo não é arrecadar mais receitas, mas sim regular (incentivar ou restringir) a entrada ou a saída de determinado produto no país. As barreiras não-tarifárias também restringem o comércio, mas não possuem qualquer relação com direitos aduaneiros. Podem se consubstanciar por meio de cotas (restrições quantitativas), controles administrativos, cambiais, imposições técnicas, regulamentos etc. Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 10 BARREIRAS TARIFÁRIAS É o tipo de restrição mais importante e mais antigo aplicado ao comércio. Materializa-se sob a forma de tarifa ou imposto (direitos ou gravames aduaneiros), cobrado quando a mercadoria atravessa a fronteira nacional (fato gerador). As tarifas podem ser aplicadas sobre as importações (na entrada do produto no país) ou sobre as exportações (na saída do produto do país). A imposição de tarifas é considerada como uma política flexível, sendo também uma das mais eficientes, tradicionalmente utilizada na proteção da indústria doméstica, possuindo forte cunho econômico e, geralmente, pouca relevância na arrecadação por parte dos países instituidores das tarifas. O objetivo principal desses tributos, considerados tributos externos, é regular (controlar) o fluxo do comércio exterior no país. É como se o governo ficasse com a mão na torneira que libera o comércio com outros países, abrindo-a ou fechando-a conforme lhe convenha. A arrecadação é apenas um efeito secundário da tarifa aduaneira. E o imposto de exportação? Em princípio, parece loucura um país restringir (inibir) suas exportações, não é mesmo? De fato, a tarifa de exportação é raramente utilizada pelas nações, pelo seu efeito negativo sobre as vendas ao exterior, o que não interessa ao país, pois ela torna seus produtos menos competitivos (mais caros) no mercado internacional, reduzindo, assim, a entrada de divisas. Vejamos um exemplo. O café brasileiro já foi objeto de aplicação de imposto de exportação. Por quê? Porque o preço da commodity no mercado internacional estava muitíssimo barato. Então o governo resolveu “segurar” as exportações de café. Como fez isso? Por meio da imposição de imposto de exportação. Uma "commodity" é uma mercadoria de base (produto primário) cujo preço é estabelecido com base em bolsa de mercadorias. Ex: petróleo, café, soja etc. Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 11 Outro caso de utilização do imposto de exportação é a restrição da saída de determinado produto, por ser considerado escasso e essencial ao país. Já a tarifa de importação foi instrumento muito utilizado pelos países adeptos do modelo de substituição das importações. Esses países visualizavam o mercado doméstico para suas indústrias, dada a demanda por manufaturados importados, além de estarem se protegendo da competitividade externa. A partir da assinatura do GATT (1947), e posteriormente com a criação da OMC (1994), a tendência mundial foi de queda das tarifas impostas à importação de mercadorias pelos países. Apesar de o GATT instituir a tarifa como o meio adequado para se impor proteção às indústrias locais, seus Acordos previam a sua redução significativa e crescente, e assim, essa forma de proteção (a tarifa) passou a não ser mais de livre utilização pelos países como era até a 2ª Guerra Mundial. A imposição de tarifas possui dois objetivos muito claros: um econômico e outro fiscal. O objetivo econômico é o principal, qual seja, o de dificultar a entrada de produtos com similar nacional (tarifa protecionista). O objetivo fiscal, normalmente secundário, visa arrecadar mais, fortalecendo os cofres públicos (tarifa fiscal). Dificilmente um país utiliza o imposto de importação com o objetivo puramente arrecadatório. Vejamos. Suponha que um determinado produto importado custe US$ 100 para o consumidor, enquanto que o nacional custa US$ 110. Se o governo tributar a importação do produto estrangeiro em 15%, este passará a custar US$ 115, ou seja, ficou mais caro em relação ao similar nacional. De uma maneira simplificada, uma tarifa sobre a importação desse bem gerará aumento no preço do produto importado. Conseqüentemente, os importadores terão que desembolsar mais pelo mesmo produto, oque resultará em redução da quantidade importada. Com isso, o preço do importado para o consumidor acabará se tornando igual (tarifa “científica”), ou até mesmo superior ao preço do nacional, dependendo do montante da tarifa. A produção nacional, por outro lado, aumentará, para atender os consumidores (suprimento de demanda). Importante lembrar que haverá queda na quantidade do produto Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 12 importado caso a sua demanda seja elástica, ou seja, sofra influência do preço. De forma sintética, há demanda elástica de um produto quando uma redução no seu preço leva a um aumento significativo da sua procura. Um exemplo disso são os supérfluos. Vejam esse exemplo de “tarifa científica”: se um produto nacional custa R$ 120 e um importado semelhante custa o equivalente a R$ 100 (mais barato), a aplicação de um imposto de importação à alíquota de 20% igualaria o preço do importado ao preço do nacional. A esse tipo de política de tributação deu-se o nome de "tarifa científica". Modalidades de Tarifas Há dois tipos de tarifas, a específica e a advalorem. A tarifa específica é aquela aplicada por unidade de mercadoria. É um valor fixo em moeda nacional ou estrangeira. Por exemplo, cobra-se R$ 1,05 por garrafa de vinho importada. No Brasil é muito utilizada para o cálculo do IPI de bebidas e cigarros. Observe que esse tipo de tarifa é aplicado sobre a unidade de mercadoria, sendo irrelevante o preço praticado para esta mercadoria. Assim, se são importadas 1.000 garrafas de vinho a US$ 2,50 cada, então: Tarifa específica = 1.000 x R$ 1,05 = R$ 1.050,00 Já a tarifa advalorem é calculada como uma percentagem sobre o valor da mercadoria importada. É a modalidade mais comum. Supondo o exemplo anterior e dólar fiscal a US$ 1,00 = R$ 2,00, e tarifa = 20%, então teremos o valor da tarifa calculado da seguinte forma: Base de cálculo = 1.000 garrafas x US$ 2,50 = US$ 2.500,00 (valor da mercadoria importada em US$) A tarifa é (US$ 2.500,00 x 2 R$/US$) x 20% = R$ 5.000,00 x 20% = R$ 1.000,00. Argumentos favoráveis às tarifas Os argumentos utilizados pelos defensores das tarifas são basicamente os argumentos protecionistas. Eles alegam que estas são eficientes, pois proporcionam: Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 13 1) Proteção de níveis de salário e de emprego, evitando a concorrência com mercadorias produzidas com mão-de-obra barata, além de possibilitar a produção de bens que antes das tarifas eram importados; 2) Equiparação do preço do produto importado ao do produto nacional (“tarifa científica”), possibilitando e favorecendo a participação da produção doméstica na concorrência; 3) Proteção das indústrias nascentes e das indústrias de produtos estratégicos (defesa nacional), apesar de prejudicar as indústrias do setor exportador; 4) Garantia em atender à demanda em caso de corte de fornecimento externo; 5) Fontes adicionais de receita, elevando a arrecadação; 6) Melhorias no Balanço de Pagamentos, em função da redução das importações. BARREIRAS NÃO-TARIFÁRIAS (BNT) As barreiras não tarifárias são aquelas impostas pelos governos onde não se utiliza instrumento aduaneiro (imposto de importação ou de exportação). A OMC possui como regra condenar formalmente a utilização indiscriminada de barreiras ao comércio exterior que não sejam de cunho tarifário, por considerar a tarifa como instrumento de proteção mais transparente. Mesmo assim, este tipo de restrição vem sendo bastante utilizado pelos países, principalmente pelas nações desenvolvidas, em que pese o protesto das nações prejudicadas, já que o instrumento tarifário encontra muitas limitações, em função dos diversos compromissos e acordos multilaterais assinados pelos países. Vejamos o que isso quer dizer. O GATT estabeleceu que a proteção às indústrias nacionais, regra geral, só pode ser efetuada por meio de tarifas. E estas são controladas por critérios objetivos do Acordo. O GATT estabeleceu as alíquotas máximas que os países podem instituir como imposto de importação. As barreiras não-tarifárias, como regra, não são permitidas, exceto em casos justificados, como é o caso de exigências Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 14 técnicas do país importador, como veremos a seguir. Ora, os países acabaram se agarrando a essa “brecha” do sistema para impor determinadas barreiras não-tarifárias, o que por vezes gera conflitos comerciais na OMC. Uma coisa é o país utilizar critérios justos, técnicos e internacionalmente reconhecidos para exigir, por exemplo, certificação de brinquedos importados. Outra coisa é o país “inventar” ou “forçar” regras intransponíveis que os produtos importados não possam cumprir, visando não uma proteção legítima ao consumidor, mas sim uma restrição à competição dos importados com os similares nacionais. O acordo sobre barreiras técnicas cuida exatamente para que isso não aconteça. Os tipos de barreiras não-tarifárias são relacionados a seguir. Cotas de importação (restrições quantitativas) Trata-se da barreira não-tarifária mais importante, onde se impõe uma restrição quantitativa direta a uma determinada mercadoria ou país, cuja importação ou exportação seja permitida. Funciona assim: o governo estabelece uma quantidade que pode ser importada para determinada mercadoria, por um período de tempo (ex: 01 ano). As importações excedentes a essa cota simplesmente não são autorizadas. As cotas podem ser globais (aplicadas a todos os países conjuntamente) ou nacionais (fixada para cada país separadamente), sempre fixadas para períodos (prazos) determinados. É um tipo de restrição mais dura que as tarifas, pois os parceiros comerciais (exportadores) não podem influenciar a quantidade importada nem com utilização da baixa dos preços dos seus produtos, ou seja, não há como importar após atingida a cota. Já no caso das tarifas, os exportadores estrangeiros poderiam compensar o seu efeito aumentando sua eficiência produtiva e obtendo redução no preço final de seu produto. Isto não ocorre no caso de imposição de cotas de importações, uma vez que estas determinam a quantidade máxima a ser importada, independentemente do preço. Atingida a cota de importação de determinado produto, fica proibida a sua importação a partir deste instante até que se reinicie o prazo, Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 15 normalmente anual. Se a cota estourar, o exportador pode reduzir seu preço a quase zero que o produto não poderá entrar no país que instituiu a cota de importação. As cotas resultam em preços domésticos mais elevados, redução do consumo e da quantidade importada. A produção doméstica será aumentada. Nesse sentido, considera-se que as cotas resultam em um efeito protetor maior que o das tarifas. Tudo isso possui demonstrações matemáticas e econômicas, mas não creio que sejam objeto de questão de prova o domínio de tais equações e gráficos, por isso não inclui no curso. A vantagem da tarifa em relação à cota é que a sua imposição pode manter o consumo e ainda gerar receita. A cota, por sua vez, não gera receita alguma e restringe o consumo. No Brasil, utiliza-se o sistema de licenciamento, administrado pela SECEX, para controlar as quotas, que podem ser distribuídas por leilões públicos. Esta concessão de licenças por parte do governo há que ser bastante justa, sob pena de transformar o mercado em monopólio. Um exemplo de imposição de cotas no Brasil é o casodos tecidos. Se o Brasil impõe uma cota às importações de tecidos (ex: 1.000.000 de quilos de tecido é o máximo que o país poderá importar no ano de 2009), como serão distribuídas essas cotas? Que importadores as utilizarão? Quem importar primeiro??? O governo, para oferecer oportunidades iguais a todos os importadores, pode instituir um sistema de leilão para distribuir essas cotas de maneira justa. Normalmente as cotas são não tarifárias, ou seja, é estabelecida uma certa quantidade de mercadorias que se permitem importar ou exportar em determinado período. Existe um outro caso, não muito comum, que é a cota tarifária, quando é permitida a importação de determinada quantidade de mercadoria a uma certa alíquota do imposto de importação. Exemplo hipotético: no ano de 2009, somente será permitida a importação de 200.000 pares de sapato de couro a uma alíquota de 10% do imposto de importação. As importações de sapatos que ultrapassarem essa cota serão tributadas em 12%. Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 16 Controle Cambial Atualmente, a grande maioria dos países utiliza o sistema de câmbio flutuante, onde o preço da moeda estrangeira (taxa de câmbio) é deixado para o mercado decidir, por meio do confronto entre as forças de demanda (procura) e oferta. Controle cambial ocorre quando o governo atua no mercado de divisas afetando a taxa de câmbio, seja por meio da fixação da taxa, da compra ou da venda de divisas. Se um país quer restringir as importações através da utilização deste mecanismo, basta elevar a taxa de câmbio. Sob estas circunstâncias, no caso brasileiro, os importadores teriam que pagar mais reais pela mesma importação em moeda estrangeira. Outro tipo de controle cambial, que já foi até adotado pelo Brasil, é a utilização das taxas múltiplas de câmbio. Por meio desta técnica, aplicam-se taxas mais elevadas para a importação de artigos de luxo e supérfluos, e taxas mais reduzidas na importação de produtos essenciais, ou ainda, uma taxa para importações e outra para exportações. É um sistema cambial hoje proibido pelo FMI (Fundo Monetário Internacional). Imaginem que o Brasil resolva que, com fim de proteger a indústria automobilística nacional, para as importações de automóveis será aplicada a taxa de câmbio de US$ 1 = R$ 5,00, enquanto que, para as demais importações valerá a taxa de câmbio de US$ 1 = R$ 2,00. Isso não é permitido mais hoje em dia. Mas imaginem que fosse. O que aconteceria? As importações de automóveis se tornariam extremamente custosas, sem prejuízo das importações dos demais produtos. Isso é um exemplo de taxas múltiplas de câmbio. Barreiras Técnicas É a barreira não-tarifária (BNT) mais comum nos dias atuais, e também a que gera mais controvérsias entre os países. Normalmente, quando a literatura e a imprensa se referem ao termo BNT (Barreiras Não-Tarifárias), o enfoque é exatamente sobre as barreiras técnicas, Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 17 embora as barreiras técnicas sejam apenas uma das modalidades de barreiras não tarifárias. Também conhecida como protecionismo administrativo, consiste na aplicação de certas exigências formuladas na entrada de alguns produtos no país, com o objetivo de restringi-la. Este tipo de barreira não-tarifária tem sido muito utilizado pelos países desenvolvidos como alternativa às alíquotas do imposto de importação (direitos aduaneiros). Os países passaram a exigir, nas importações, o cumprimento de normas de segurança, sistemas de licença de importação, medidas fitossanitárias, exigências sobre modo de embalagem, certificados de adequação, normas de rotulagem, atestados e outras imposições. Na realidade, muitas destas exigências atendem a objetivos legítimos, tais como a segurança da população e a proteção ao meio ambiente. Por esse motivo a OMC prevê a sua imposição. Porém, o que se tem observado é que, em muitos casos, trata-se apenas de uma forma de disfarçar a verdadeira intenção, qual seja a de impor restrições às importações com o objetivo de proteção ao fabricante nacional. A OMC procura garantir a liberdade dos países de determinarem seus padrões de exigência sobre o consumo de alguns produtos. Estas exigências têm de ser baseadas em padrões internacionalmente aceitos e transparentes. Porém, muitas vezes a exigência esconde uma barreira comercial praticamente intransponível aos exportadores, cujo objetivo real é a proteção às indústrias domésticas. Com a crescente redução das tarifas de importação, essas barreiras técnicas ganham cada vez maior importância no comércio internacional. Para a OMC, são barreiras técnicas aquelas impostas sem base em normas internacionalmente aceitas, ou com a utilização de regulamentos técnicos não transparentes, ou ainda, aquelas que derivem de uma avaliação de conformidade não-transparente e/ou demasiadamente onerosa ou excessivamente rigorosa. Os países-membros da OMC assinaram o Acordo sobre Barreiras Técnicas (TBT), que determina que os países devem manter centro de informações a respeito de seus regulamentos e normas técnicas, assim como de seus procedimentos de avaliação de conformidade. Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 18 Operações Governamentais (monopólio) É quando o governo assume o monopólio nas operações de comércio internacional para determinados produtos, instituindo que somente agentes públicos podem praticar atividades de importação ou de exportação de algum produto. Este procedimento foi utilizado no passado pelo Brasil na importação de trigo e petróleo e na exportação de açúcar. Não é muito comum nos países com economias de mercado. Acordos de Restrição Voluntária às Exportações (RVE) Esta prática ou restrição, também conhecida como Acordo Voluntário de Exportação, ocorre quando um país importador induz uma outra nação a reduzir as suas exportações de um determinado produto “voluntariamente”, sob a ameaça de aplicação de restrições comerciais abrangentes mais elevadas, quando estas exportações comprometem a indústria doméstica do país importador. Este procedimento foi muito utilizado pelos EUA e pela União Européia, visando reduzir as importações de têxteis, aço, eletrônicos e automóveis oriundas de Japão, Coréia e de outras nações. Estas medidas beneficiavam as indústrias maduras, que enfrentavam queda no emprego nos países industrializados, em conseqüência da crise dos anos 80. A Rodada Uruguai (1994) veio a exigir a eliminação das RVE em um período de dez anos. Hoje eles já não existem mais, ou, pelo menos, não deveriam mais existir. Vejamos um exemplo. Imagine que uma empresa brasileira esteja vendendo muito suco de laranja para os EUA, mas muito mesmo, a ponto de ameaçar a existência dos produtores de suco americanos. Aí o governo americano chega para o brasileiro e diz: "olha só, ou vocês impõem alguma restrição às exportações de suco "voluntariamente", ou nós iremos impor uma barreira (tarifa, cota etc.) para limitar a entrada desse suco de laranja de vocês aqui no nosso país! Pode ser ou tá difícil?" O que vocês acham que o governo brasileiro iria fazer? Bom, se aceitasse, estaria fechado um AVE (ou RVE). Nesse caso, o governo brasileiro teria que se virar para reduzir a exportação de suco de laranja para os EUA, por meio da instituição de tarifa de exportação, cota ou outro mecanismo. Ainda bem que a OMC resolveu acabar com isso. Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 19 Compras Governamentais Uma outra formade protecionismo administrativo consiste na concessão, pelo governo, de vantagem aos fornecedores domésticos nas concorrências públicas (as chamadas compras governamentais). A Rodada de Tóquio do GATT foi a primeira a procurar regular esta prática, de forma a proporcionar oportunidade justa aos fornecedores estrangeiros. Esse assunto é de grande interesse dos EUA, já que os americanos anseiam pela igualdade de condições com as empresas domésticas dos demais países nas licitações internacionais dos outros países. É certo que eles querem uma fatia nesse grande consumidor que é o governo. As Compras Governamentais se referem às aquisições realizadas pelo Governo (licitações internacionais). Imaginem o Governo brasileiro abrindo uma licitação internacional para fornecimento de material para reforma do Palácio do Planalto, em Brasília. Países como EUA querem que nessas licitações sejam oferecidas oportunidades iguais aos concorrentes estrangeiros (leia-se americanos), para que suas empresas também possam participar dessa "boquinha". As restrições impostas à participação de empresas estrangeiras são consideradas barreiras às importações. A idéia de um Acordo de Compras Governamentais é estabelecer critérios justos de participação para empresas estrangeiras em licitações internacionais. As empresas americanas querem igualdade total de condições com as empresas brasileiras para vender bens ou serviços ao nosso governo, valendo o mesmo para os demais países do acordo. É isso. Quando o governo favorece a empresa nacional nesse tipo de negócio, diz-se que é uma barreira ao comércio, pois, ao invés de comprar de estrangeiro, o governo irá comprar de empresa nacional mesmo. MEDIDAS COMPENSATÓRIAS, ANTIDUMPING DE SALVAGUARDA As medidas anti-dumping, compensatórias e de salvaguarda são as chamadas medidas de defesa comercial, ou seja, proteção contra a Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 20 prática desleal de comércio. Tal a importância do tema, foi separado em tópico próprio, quando serão estudadas por completo. Apenas chamamos a atenção ao fato de que as medidas adotadas contra as práticas desleais são efetivadas por meio de alíquotas adicionais, sendo objeto de acordos específicos na OMC. São também consideradas barreiras não-tarifárias ao comércio internacional, pois não se referem à tarifa aduaneira (imposto de importação). Uma coisa é o imposto de importação; outra são as alíquotas anti-dumping, compensatórias e de salvaguarda. Apenas as medidas de salvaguarda é que podem ser implementadas como elevação (temporária) do imposto de importação. Então, para um país aplicar uma medida como essas, há de obedecer a uma série de regras estabelecidas no âmbito da OMC, para ser considerada uma medida de defesa legítima, e não uma barreira às importações de determinado produto com o fim de proteção à indústria nacional. Então, para o escopo dessa aula, basta saber que as medidas antidumping (para combater o dumping), compensatórias (para combater os subsídios) e as medidas de salvaguarda (para se resguardar contra os efeitos do aumento repentino e significante das importações de um produto) também são barreiras não-tarifárias às importações. ------------------------- x ------------------------ Veja perguntas e respostas de curso anterior: Pergunta: “A imposição de tarifas sobre as importações proporciona proteção às indústrias nascentes e às indústrias de produtos estratégicos, apesar de prejudicar as indústrias do setor exportador. Eu não consigo visualizar esse ultimo caso: ´como essas tarifas prejudicam as indústrias do setor exportador?´" Resposta: “É porque o setor exportador necessita de concorrência para se modernizar. Com a tarifa, o mercado interno se torna cativo, mas o mercado externo fica difícil de conquistar. Até porque, se um país impõe tarifas na importação, os outros países também não "deixarão barato", e colocarão suas barreiras aos nossos produtos, como Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 21 retaliação. Pra ter comércio, os países têm que se abrir. Não há como só exportar. Alguém tem que importar.” ............ Pergunta: “1) Devo entender que a princípio as COTAS serão sempre BNT, pois no penúltimo parágrafo do tópico "Cotas de Importação" o Senhor falou da existência de Cotas tarifárias. 2) No tópico "Barreiras Técnicas", no penúltimo parágrafo, 2º período você está se referindo as barreiras técnicas ILEGITIMAS? Afinal, as barreiras técnicas são admitas quando amparadas por evidências científicas.” Resposta: 1) A cota é uma BNT. Mas existe a "cota tarifária". É quando o governo permite, por exemplo, uma determinada quantidade de importações a uma alíquota de 5%. Ultrapassado o limite, a alíquota passa a ser de 10%. Mesmo assim, a cota se refere a quantidade, portanto é uma barreira não-tarifária. A cota tarifária é a aplicação de uma cota conjugada com patamares de tarifa. 2) Isso mesmo. ............ RESUMO 1. O desenvolvimento econômico de um país está normalmente associado ao grau de industrialização em que o mesmo se encontra. 2. As teorias clássicas, encabeçadas por Adam Smith, pregavam a idéia de que o comércio internacional livre certamente levaria ao crescimento econômico. 3. Quase todos os países utilizaram algum grau de proteção às suas indústrias nascentes para se desenvolverem, como foi o caso dos Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 22 EUA, do Japão, da Rússia, da Alemanha e dos países da América Latina. 4. Os países exportadores de produtos industrializados sempre obtiveram maiores ganhos com o comércio do que os exportadores de produtos básicos, que viram seus termos de troca internacionais serem deteriorados. 5. Um dos motivos para essa deterioração é que o aumento da renda nos países desenvolvidos não fez com que a procura pelos bens primários exportados pelos países subdesenvolvidos aumentasse na mesma proporção. 6. No século XX não valia mais a idéia de que o comércio era o motor do crescimento. O desenvolvimento dependeria então de o país possuir indústria diversificada, mão-de-obra qualificada e tecnologia. 7. Para atingir o desenvolvimento industrial, foram adotados dois modelos: a industrialização voltada para dentro (modelo de substituição de importações) e a industrialização voltada para fora (modelo exportador). 8. O modelo de substituição de importações foi adotado por muitos países da América Latina (dos anos 50 até o final dos anos 80), impulsionado pelos estudos de Prebisch. 9. Presbisch afirmava que os países da América Latina deveriam se industrializar para poder exportar produtos manufaturados, e aí sim obter ganhos com o comércio. 10. As idéias de Prebisch foram complementadas, no sentido de que os EUA não importavam muitos produtos primários, por serem auto-suficientes na agricultura. A descoberta e fabricação de sintéticos, que aos poucos substituíam alguns produtos básicos, exportados pelos países em desenvolvimento, contribuía ainda mais para prejudicar a situação dos países em desenvolvimento. 11. O modelo de substituição de importações era protecionista, ou seja, consistia em instituir barreiras às importações de similares aos produtos nacionais, reservando o mercado local para o Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 23 produtor doméstico, permitindo a criação de indústrias nos países que o adotassem. 12. O modelo de substituição de importações fezcom que as indústrias desses países se tornassem pouco competitivas e atrasadas, além de provocar elevação dos preços internos, devido à falta de concorrência. 13. O modelo exportador (liberal) consistia em adotar o comércio livre, sem restrição às importações ou exportações. A produção era voltada para abastecer o mercado externo. 14. O modelo exportador foi adotado com sucesso pelos Tigres Asiáticos, pois o mercado consumidor era ilimitado, permitindo alcançar ganhos de escala na produção. 15. As modalidades de barreiras ao comércio são: tarifárias e não tarifárias. 16. Barreira Tarifária é a imposição de um gravame (ou direito) aduaneiro às importações ou às exportações. São os tributos externos (imposto de importação e imposto de exportação), também chamados de tarifas aduaneiras. É o tipo de barreira mais transparente e, segundo as regras da OMC, é a única modalidade permitida para proteção às indústrias nascentes. 17. Barreiras Não-Tarifárias (BNT) são as que não utilizam o instrumento aduaneiro (tarifa) para impor uma restrição ao comércio. Podem ser de vários tipos, tais como: controles cambiais, cotas de importação ou de exportação, medidas de defesa comercial (antidumping, compensatórias e de salvaguarda), ou baseada em regulamentos de proteção à saúde, segurança e meio ambiente. 18. Essa última modalidade, conhecida como barreira técnica, tem sido muito utilizada pelos países desenvolvidos que, quando querem proteger determinado setor produtivo, impõem uma série de restrições técnicas às importações de similares concorrentes. São certificações ou qualificações muitas vezes impossíveis de ser alcançadas, que acobertam o real interesse de impedir ou reduzir a entrada do produto concorrente no país. Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 24 EXERCÍCIOS COMENTADOS 1. (AFTN/96) O crescimento econômico é um fenômeno complexo que tem sido tradicionalmente associado ao comércio internacional a ponto de muitos analistas terem caracterizado o comércio como o motor do crescimento (engine of growth). Isto porque, ao longo do século XIX, o comércio mundial cresceu muito mais do que o produto mundial. a) Por essa razão, os países industrializados têm índices mais elevados de participação no comércio internacional; b) Por essa razão, os países industrializados e mais ricos apresentam relações mais elevadas entre o volume de seu comércio exterior e o seu produto interno bruto (PIB); c) Este fato não é suficiente para explicar nem os índices de participação de um país no conjunto do comércio internacional, nem a relação entre o volume do comércio exterior e o produto interno bruto de um país; d) Este fato explica porque os países vão se tornando cada vez mais protecionistas, na medida em que promovem o crescimento e a consolidação de sua economia; e) Este fato explica porque as principais teorias ou modelos de análise do desenvolvimento econômico consideram o comércio o fator determinante das demais variáveis econômicas. RESOLUÇÃO: A questão pede a conseqüência da afirmação de que o comércio é o motor do crescimento, visto que o volume das trocas internacionais aumentou muito mais do que o produto nacional. O fato de os países industrializados terem uma participação maior no comércio mundial não é conseqüência do fato de o comércio ser, por muito tempo, considerado como o motor do crescimento. Sua maior participação deve-se à grande demanda pelos produtos que fabricam, com alto valor agregado. Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 25 O crescimento econômico, conforme verificamos nas doutrinas mais modernas, não está associado somente e diretamente ao comércio internacional, mas sim ao volume de investimentos realizados no país em infra-estrutura, educação, saúde, turismo etc. Resposta: Letra C 2. (AFRF/2000) Os fundadores da teoria do desenvolvimento, que provinham principalmente da economia dos anos cinqüenta, como Nurkse, Myrdall, Rosenstein-Rodan, Singer, Hirschmann, Lewis e, certamente, Prebisch, não só centraram sua análise nas diferenças estruturais existentes entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento, mas também postularam, a partir de ângulos distintos, que a forma de funcionar dos países desenvolvidos constitui a causa principal do subdesenvolvimento destes últimos. As estratégias de desenvolvimento recomendadas e seguidas nos países subdesenvolvidos – e especialmente na América Latina – tenderam a ser diametralmente opostas às políticas dos países industriais. Com efeito, devido à tendência secular de deterioração dos termos de intercâmbio dos produtos industriais que os países desenvolvidos exportavam e os bens primários que exportavam os países atrasados, a única solução a médio e longo prazos para estes últimos seria modificar sua inserção na economia mundial, produzindo localmente aqueles bens industriais que antes importavam, através de políticas que procurassem substituir essas importações, criando uma indústria nacional protegida pelo Estado. a) Por essa razão, a transferência de população do setor primário para o setor industrial contribui, em muitos casos, para a degeneração do nível de vida dessa população. b) Por essa razão, os países subdesenvolvidos, pesadamente dependentes da produção e exportação de produtos primários, acabam rejeitando a teoria das vantagens comparativas e procuram industrializar-se a qualquer custo. c) Por essa razão, os governantes dos países subdesenvolvidos procedem unicamente do ponto de vista político, evitando introduzir Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 26 indústrias em seu país, pois politicamente, não aumentarão seu prestígio junto à população. d) Por essa razão, países como o Brasil, procuraram dedicar-se somente à produção de um único artigo (soja, por exemplo). Dessa forma, ele poderá utilizar parte dos fatores na produção da soja, mas o restante poderá aplicar na produção de outros artigos, mesmo sofisticados, como automóveis, computadores e aviões. e) Por essa razão, os países subdesenvolvidos e em desenvolvimento procuram manter a capacidade de produzir um único artigo, considerado estratégico, tal como combustível, café, armamento bélico etc., mesmo que tal atitude seja desinte¬ressante em termos puramente econômicos. RESOLUÇÃO: Os países subdesenvolvidos, dependentes de exportações de produtos primários, onde possuíam vantagens comparativas, viam suas condições de troca no cenário internacional cada vez piores, devido à baixa demanda por seus produtos. Daí a adoção do modelo de substituição das importações, diversificando seu setor produtivo, com o objetivo de se industrializar a qualquer custo, ao invés de ficar na dependência de importação desses produtos, como determinava a teoria das vantagens comparativas. Resposta: Letra B 3. (AFRF/2000) As Barreiras Não-Tarifárias (BNT) são freqüentemente apontadas como grandes obstáculos ao comércio internacional. Podem vir a se constituir Barreiras Não-Tarifárias (BNT) todas as modalidades abaixo, exceto: a) Direitos Aduaneiros; b) Normas de segurança; c) Quotas; d) Sistemas de Licença de Importação; e) Medidas fitossanitárias. Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 27 RESOLUÇÃO: Direitos (ou gravames) aduaneiros (letra a) são os impostos sobre a importação ou sobre a exportação. São as barreiras tarifárias. Todas as demais alternativas (letras b, c, d, e)apresentam modalidades de barreiras não-tarifárias. Resposta: Letra A 4. (AFRF/2000) Entre as razões abaixo, indique aquela que não leva à adoção de tarifas alfandegárias. a) Aumento de arrecadação governamental; b) Proteção à indústria nascente; c) Estímulo à competitividade de uma empresa; d) Segurança nacional (defesa); e) Equilíbrio do Balanço de Pagamentos. RESOLUÇÃO: O aumento da arrecadação normalmente não é o objetivo principal da imposição de tarifas (letra a). Mas não podemos dizer que isso não leva a adoção das mesmas, já que essa elevação da arrecadação em função da tarifa pode vir a ser significativa para o país. Além disso, a letra C apresenta uma condição que é o oposto do protecionismo. A imposição de tarifas jamais vai estimular a competitividade de uma empresa, pois tornará difícil a participação no mercado nacional de empresas estrangeiras. As alternativas b, d, e e são objetivos típicos da imposição de tarifas (protecionismo). Resposta: Letra C Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 28 5. (AFRF/2000) Não constitui prática restritiva adotada pelos governos: a) Acordos de preços predatórios para os produtos exportados e para os produtos de venda doméstica. b) Manutenção de barreiras à entrada no mercado de produto estrangeiro para proteger o produtor doméstico. c) Estabelecimento de relações privilegiadas fornecedor-cliente, impedindo acesso ao mercado de fornecedores externos. d) Negociação de acordos voluntários de exportação. e) Formação e operação de cartéis de crise, cujo objetivo é a recuperação de indústrias em dificuldade. RESOLUÇÃO: Acordo de preços predatórios não é medida restritiva, mas sim prática desleal de comércio, conhecida como dumping. Resposta: Letra A 6. (ACOMEX/98) Alguns países alegam que seu comércio externo é afetado pela ação de governos de outros países, como os Acordos Voluntários de Exportações (VERs). Esses acordos têm como objetivo principal: a) estimular as exportações; b) canalizar as exportações para um determinado produto; c) aumentar a qualidade das importações, com a imposição de normas de segurança e de higiene (aspectos fitossanitários); d) levar o país a equilibrar suas exportações, como em um sistema de compensações; e) limitar as importações de um dado produto. Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 29 RESOLUÇÃO: Os Acordos voluntários de exportação, ou Restrições Voluntárias às Exportações (RVE) são acordos onde um país (A), que se sente prejudicado pelas importações oriundas de outro país (B), ameaça aplicar restrições às importações de B caso este não reduza voluntariamente suas exportações para A. Com o acordo, o país A conseguirá a redução das importações originárias de B. Resposta: Letra E Veja pergunta de curso anterior: Pergunta: “Professores, a questão 6, o enunciado fala que ´Alguns países alegam que seu comércio externo é afetado pela ação de governos de outros países...´. Isso me levou a entender que esses países reclamantes são aqueles que devem limitar as exportações para evitar um aumento de alíquota de II nos países importadores. Nesse caso, imaginei a letra D como correta. Não poderia ser? OBRIGADO!” Resposta: “Pelo início do enunciado, até poderíamos pensar nisso que você falou, mas eu creio que o objetivo do examinador foi outro. Ademais, o enunciado fala em objetivo principal dos acordos voluntários, e aí podemos responder limitação das importações (letra E). Outro problema da letra D é que ela fala em sistema de compensações, que é outra coisa (compensação de pagamentos internacionais no âmbito de um bloco comercial).”. 7. (ACOMEX/2002) A respeito dos processos de industrialização por substituição de importações é correto afirmar o seguinte: a) historicamente, tais processos favoreceram o desenvolvimento tecnológico em escala global, já que as economias mais atrasadas alcançam condições para desenvolver indústrias que passarão a competir com as das economias desenvolvidas. Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 30 b) no que concerne às políticas públicas implementadas pelos governos, assemelham-se aos processos de industrialização baseados em atividades orientadas para exportações. Diferenciam-se apenas pela ênfase na diversificação da pauta de importações. c) mostraram-se eficientes ao longo do século XX, como ilustra o desempenho dos chamados “Tigres Asiáticos”. d) aceitando-se que podem ser bem sucedidos, implicam a necessidade da opção, pela sociedade que os implementam, de financiar um setor econômico específico, uma vez que requerem a imposição de políticas que distorcem, a um tempo, os fluxos comerciais e a alocação eficiente dos fatores de produção internos. e) para que sejam implementados inteiramente, requerem a efetiva realização de uma reforma agrária. RESOLUÇÃO: (a) (ERRADA) O sistema de substituição de importações não favoreceu o desenvolvimento tecnológico em escala global, visto que o tamanho do mercado doméstico, onde atuariam as indústrias, é limitado. (b) (ERRADA) O modelo orientado para as exportações é totalmente diferente do modelo de substituição das importações, a começar pela liberdade comercial que prega. (c) (ERRADA) O modelo que se mostrou eficiente com os “Tigres Asiáticos” foi o modelo exportador. (d) (CORRETA) A imposição de tarifa em um setor é uma escolha governamental. Porém, trata-se de um setor ineficiente que o governo tenta incentivar, propiciando a migração artificial de mão-de-obra e outros fatores de produção, o que gerará uma má alocação de tais recursos produtivos. (e) (ERRADA) Não há correlação entre o modelo de substituição de importações e a reforma agrária. Aliás, o objetivo do modelo é propiciar Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 31 a industrialização do país, transferindo recursos produtivos do campo para a cidade. Resposta: Letra D 8. (AFRF/2003) Sobre o protecionismo, em suas expressões contemporâneas, é correto afirmar-se que: a) tem aumentado em razão da proliferação de acordos de alcance regional que mitigam o impulso liberalizante da normativa multilateral. b) possui expressão eminentemente tarifária desde que os membros da OMC acordaram a tarifação das barreiras não-tarifárias. c) assume feições preponderantemente não-tarifárias, associando-se, entre outros, a procedimentos administrativos e à adoção de padrões e de controles relativos às características sanitárias e técnicas dos bens transacionados. d) vem diminuindo progressivamente à medida que as tarifas também são reduzidas a patamares historicamente menores. e) associa-se a estratégias defensivas dos países em desenvolvimento frente às pressões liberalizantes dos países desenvolvidos. RESOLUÇÃO: Falamos sobre isso no curso. Com a imposição de limites pela OMC para as tarifas de importação a serem aplicadas sobre as importações, um critério objetivo e fácil de se aferir, restou aos países a aplicação de procedimentos administrativos (barreiras não-tarifárias), sob o título de “controles rígidos de qualidade”, ou “certificados técnicos de controle”, como tentativa de aplicar uma barreira à importação disfarçada, para proteger determinado setor produtivo doméstico. É o “protecionismo moderno”. A letra E está errada porque o enunciado fala em protecionismo contemporâneo. E então, nesse caso, como as barreirastarifárias encontram-se bastante reduzidas, os países desenvolvidos agora é que procuram proteger seus setores produtivos da concorrência de exportadores eficientes dos países emergentes. Para isso utilizam Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 32 barreiras não-tarifárias. A coisa se inverteu um pouco. A assertiva não é absurda, mas pelo enunciado, a letra C contemplava o que o examinador queria. Resposta: Letra C 9. (AFRF/2002-2) A literatura econômica afirma, com base em argumentos teóricos e empíricos, que o comércio internacional confere importantes estímulos ao crescimento econômico. Entre os fatores que explicam o efeito positivo do comércio sobre o crescimento destacam-se: a) a crescente importância dos setores exportadores na formação do Produto Interno dos países; as pressões em favor da estabilidade cambial e monetária que provêm do comércio; e o aumento da demanda agregada sobre a renda. b) a melhor eficiência alocativa propiciada pelas trocas internacionais; a substituição de importações; e a conseqüente geração de superávits comerciais. c) a crescente importância das exportações para o Produto Interno dos países; a importância das importações para o aumento da competitividade; e o melhor aproveitamento de economias de escala. d) os efeitos sobre o emprego e sobre a renda decorrentes do aumento da demanda agregada; e o estímulo à obtenção de saldos comerciais positivos. e) a ampliação de mercados; os deslocamentos produtivos; e o equilíbrio das taxas de juros e dos preços que o comércio induz. RESOLUÇÃO: (a) (ERRADA) A estabilidade cambial não explica o efeito positivo do comércio sobre o crescimento, mas é uma condição necessária para que as trocas internacionais possam crescer cada vez mais. Demanda Agregada é uma variável econômica que consiste no somatório do Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 33 consumo das famílias (C), dos Investimentos (I), do Governo (G) e da demanda líquida do setor externo (exportações menos importações). Maiores detalhes sobre isso na aula de economia. (b) (ERRADA) O modelo de substituição das importações é restritivo ao comércio. (c) (CORRETA) O comércio livre possibilita a concorrência saudável com os produtos estrangeiros importados, além de permitir que o país possa exportar cada vez mais, aproveitando os ganhos de escala. (d) (ERRADA) Não necessariamente haverá aumento da demanda agregada, que depende de outros fatores como investimentos, consumo e gastos do governo. (e) (ERRADA) O comércio não necessariamente traz o equilíbrio das taxas de juros. Resposta: Letra C 10. (APEX/2009 - adaptada) Assinale a alternativa incorreta em relação às barreiras tarifárias e não tarifárias: a) Subsídios são benefícios concedidos pelos governos a determinados setores. b) Salvaguarda significa aumentar permanentemente a tarifa sobre produtos estrangeiros. c) Dumping é o uso de certas medidas para tornar o produto importado mais barato no país de destino do que no de origem. d) Cotas são restrições quantitativas na importação de determinados produtos. e) Regras de origem são normas aplicadas para verificar a verdadeira origem de um produto. Resolução Conforme visto as salvaguardas são restrições temporárias impostas às importações de determinado produto, devido ao súbito aumento na Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 34 quantidade apurada de importações. A medida só deve ser aplicada pelo tempo necessário que país importador precise para se preparar para a concorrência. Resposta: Letra B 11. (CESPE/ICMS-ES/2008) Os acordos da OMC, que englobam o GATT 1947 e os resultados da Rodada Uruguai, fixam as regras que devem ser observadas no comércio internacional, em que tais normas são pautadas pelos próprios objetivos da OMC, que repetem os princípios do referido GATT. Acerca desses princípios, julgue os itens seguintes (Certo ou Errado). - O princípio da proibição das restrições quantitativas tem como objetivo evitar as restrições não-alfandegárias ao comércio, uma vez que tais restrições são menos perceptíveis e mais difíceis de controlar. Resolução A OMC instituiu a tarifa (direito aduaneiro) como a proteção mais transparente e justa. Assim, como regra, caso haja necessidade de utilização de uma proteção comercial, deve-se utilizar a tarifa, e não a cota. Resposta: Certa (C) Veja pergunta de curso anterior: Pergunta: “Professor, sobre a questão 11 (considerada correta): - podemos afirmar que restrições quantitativas são "menos" perceptíveis? Grato pela atenção”. Resposta: “Entendo que as características de "menos perceptíveis" e "mais difíceis de controlar" se referem às restrições não-alfandegárias Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 35 em geral, citadas na assertiva. É o caso, por exemplo, dos subsídios. Quanto às restrições quantitativas, que são espécies de restrições não- alfandegárias, de fato não são "menos perceptíveis". Isso tornou a questão um pouco confusa, concordo com você. Se o examinador tivesse utilizado subsídio danoso ao invés de restrições quantitativas ficaria melhor. Outro aspecto interessante é que as cotas são distribuídas pelo governo. Se o critério não for claro, contraria o princípio da transparência. Talvez seja isso que ele quis dizer com ´menos perceptíveis´”. (CESPE/ACE-MDIC/2008) A internacionalização crescente do espaço econômico faz que o estudo da teoria do comércio internacional, incluindo os aspectos macro e microeconômicos das economias abertas, seja fundamental para uma inserção adequada no cenário mundial. Acerca desse assunto, julgue os itens a seguir. 12. De acordo com a hipótese do crescimento empobrecedor, os efeitos perversos sobre os termos de troca, decorrentes do crescimento econômico baseado nas exportações, serão tanto mais elevados quanto mais inelástica for a curva de oferta e demanda relativa mundial dos produtos transacionados. Resolução: O termo “demanda inelástica” pelos produtos exportados pelos países em desenvolvimento significa que os consumidores irão comprar (importar) esses produtos até uma certa quantidade. A partir de um determinado ponto, a demanda não avança. Ninguém aumentará indefinidamente o consumo de arroz e feijão só porque o preço caiu ou porque a pessoa está ganhando mais. Isso vale até saciar a necessidade básica, que no caso é a alimentação. Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 36 Essa inelasticidade prejudica (e muito) a situação dos países em desenvolvimento, que exportam esse tipo de bem. É a tese de deterioração dos termos de troca. Vimos que a demanda por produtos naturais (primários) não aumenta tanto se aumentar a renda. Por isso diz-se que a demanda por esses produtos é inelástica em relação à renda. Por outro lado, a demanda pelos produtos industrializados aumenta mais se a renda aumenta. Por isso, sua demanda é considerada elástica. Assim, os preços dos produtos básicos aumentam menos proporcionalmente do que os preços dos produtos industrializados. Isso faz com que a OFERTA (pelos produtos primários) não aumente tanto. Por isso a oferta também é considerada inelástica. Esse ciclo amarrado fez surgir a tese de deterioração dos termos de troca, e foi terrível para os países que eram exportadores de produtos primáriose queriam se desenvolver. Daí o surgimento do modelo substituição de importações, para que eles passassem a produzir bens industrializados. A hipótese do "crescimento empobrecedor" está associada a Teoria de Deteioração dos Termos de Troca. Resumindo, um país que se especialize em exportação de produtos primários pode vir a exportar cada vez mais, porém esse "crescimento" não gera renda, uma vez que o preço internacional desse tipo de produto sempre cai em relação aos produtos industrializados. Resposta: Certa (C) (CESPE/ACE-MDIC/2008) Em relação aos modelos de industrialização e suas implicações sobre as políticas comerciais, julgue os itens subseqüentes. 13. Estratégias de desenvolvimento por meio da substituição de importações tendem a incluir um viés em favor do setor urbano industrial porque essas políticas, além de insularem o setor industrial da concorrência internacional, contribuem também para reduzir o desemprego urbano, elevar os preços agrícolas e valorizar as taxas de câmbio. Resolução: Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 37 Como se sabe, a revolução industrial trouxe como grande inovação a utilização de máquinas para produzir, em grande escala, o que muitos trabalhadores outrora produziam em um mesmo intervalo de tempo e a um custo reduzido. Sendo assim, quando se beneficia o setor industrial, teoricamente a tendência é gerar desemprego. Imagine um país eminentemente agrícola, cuja força produtiva se concentre no trabalho manual. De repente, esse país resolve importar diversas máquinas, para fazer o mesmo trabalho que muitas pessoas antes faziam. Em um país produtor de máquinas, os trabalhadores são deslocados para o setor industrial. Em um país que não fabrica máquinas, a tendência é que essas pessoas saiam do campo para a cidade, em busca de emprego, normalmente sem sucesso, já que não se abriram tantas vagas no setor industrial. Resposta: Errada (E) Veja pergunta de curso anterior: Pergunta: “Professor, na questão 13 entendi que com a substituição das importações, cria-se espaço para a implantação industrial (mesmo que ineficiente) absorvendo parte da mão-de-obra urbana e, consequentemente, reduzindo o desemprego (pelo menos em um primeiro momento). Com o êxodo rural e a diminuição da exportação dos agrícolas os preços dos mesmos sobem e com a redução das importações ocorre uma valorização do câmbio... O erro do meu pensamento está só em relação ao desemprego? e quanto aos outros itens?” Resposta: “De fato nada garante a redução do desemprego, pelos motivos expostos na resolução da questão. Além do mais, a redução das exportações dos produtos agrícolas não necessariamente fará com que ocorra elevação do preço, por se tratar de bens com baixa elasticidade.” Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 38 14 . Os ganhos derivados do uso de políticas industriais orientadas para as exportações serão mais elevados quando adotadas por países pequenos, em que os setores potencialmente exportadores apresentam substanciais economias internas de escala. Resolução: Ganho de escala significa que, com o mesmo custo fixo, a produção seja aumentada. Em um país pequeno, a produção, antes de ser voltada para exportações, era pequena. Então o espaço para crescer é enorme. Já em uma grande economia (país grande), a produção anterior já seria teoricamente elevada para atender a demanda interna. Por isso o espaço para crescer seria menor. A produção era pequena em relação ao mercado externo (exportações). Em relação ao mercado interno, se há uma forte produção em escala, isso significa que um aumento na quantidade produzida para atender ao mercado externo não gerará aumento no custo fixo, portanto os ganhos serão significativos. Resposta: Certa (C) Veja pergunta de curso anterior: Pergunta: "Os ganhos derivados do uso de políticas industriais orientadas para as exportações serão mais elevados quando adotadas por países pequenos, em que os setores potencialmente exportadores apresentam substanciais economias internas de escala". Quanto a esta questão tive a interpretação de que em países pequenos as economias internas seriam menores, logo não haveria "economia interna de escala", por isto considerei errada. Gostaria de maiores esclarecimentos. Obrigado”. Resposta: “É porque os países pequenos possuem mercado interno pequeno. Assim, quando se vislumbra a hipótese de vender para o mercado externo (exportar), há grandes possibilidades de atingir os ganhos de escala, tal a diferença entre o mercado consumidor externo e o interno”. Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 39 15 – (AFRFB/2009) A participação no comércio internacional é importante dimensão das estratégias de desenvolvimento econômico dos países, sendo perseguida a partir de ênfases diferenciadas quanto ao grau de exposição dos mercados domésticos à competição internacional. Com base nessa assertiva e considerando as diferentes orientações que podem assumir as políticas comerciais, assinale a opção correta. a) As políticas comerciais inspiradas pelo neo-mercantilismo privilegiam a obtenção de superávits comerciais notadamente pela via da diversificação dos mercados de exportação para produtos de maior valor agregado. b) Países que adotam políticas comerciais de orientação liberal são contrários aos esquemas preferenciais, como o Sistema Geral de Preferências, e aos acordos regionais e sub-regionais de integração comercial celebrados no marco da Organização Mundial do Comércio por conterem, tais esquemas e acordos, componentes protecionistas. c) A política de substituição de importações valeu-se preponderantemente de instrumentos de incentivos à produção e às exportações, tendo o protecionismo tarifário importância secundária em sua implementação. d) A ênfase ao estímulo à produção e à competitividade de bens de alto valor agregado e de maior potencial de irradiação econômica e tecnológica a serem destinados fundamentalmente para os mercados de exportação caracteriza as políticas comerciais estratégicas. e) As economias orientadas para as exportações, como as dos países do Sudeste Asiático, praticam políticas comerciais liberais em que são combatidos os incentivos e quaisquer formas de proteção setorial, privilegiando antes a criação de um ambiente econômico favorável à plena competição comercial. Comentários Letra A: errada. Vamos por partes. Curso On-Line Comércio Internacional 2010 Professor: Luiz Roberto Missagia INICIATIVA: PONTO DOS CONCURSOS 40 1a parte) “As políticas comerciais inspiradas pelo neo-mercantilismo privilegiam a obtenção de superávits comerciais?” SIM. 2a parte) A busca pelo aumento de exportações é característica do protecionismo ou do liberalismo? De ambos. (Note que o aumento de exportações pode se dar em função de diversificação de mercados ou pela exportação de bens de alto valor agregado.) O que diferencia o mercantilismo (ou o neomercantilismo, que é o mercantilismo contemporâneo) do liberalismo (ou do neoliberalismo) é basicamente o tratamento dado às importações. No neomercantilismo, as importações são restringidas, buscando-se assim o superávit comercial. No liberalismo, as importações são liberadas. Voltando à questão: a política protecionista, ou seja, a busca por superávit comercial é “notadamente pela via da diversificação dos mercados de exportação para produtos de maior valor agregado”? Não, pois, se assim o fosse, teríamos que concluir que o liberalismo
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