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Aula 14 Comercio Internacional

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Oi, pessoal. 
 
Na aula de hoje, vemos os seguintes tópicos relativos a acordos da OMC: 
- Do edital de AFRFB: 
2.2. O Acordo Geral sobre o Comércio de Serviços (GATS). 
- Do edital de Comércio Internacional (CI) para ATRFB: 
2.2. O sistema de solução de controvérsias da OMC. 
11. Regras de origem. 11.1. O Acordo sobre Regras de Origem do 
GATT-1994. 
- Do edital de Direito Internacional Público (DIP) para ATRFB: 
8. Acordo sobre Medidas Sanitárias e Fitossanitárias (SPS). Acordo 
sobre Barreiras Técnicas ao Comércio (TBT). Acordo sobre Medidas de 
Investimento Relacionadas ao Comércio (TRIMS). 
 
Apesar de este curso ser de Comércio Internacional e alguns acordos da 
OMC terem sido pedidos na matéria de DIP, acho importante tratar de todos nesta 
aula. Em primeiro lugar, por causa da ligação estreita entre eles. Em segundo 
lugar, porque os acordos SPS, TBT e TRIMS foram pedidos no edital de AFRFB até o 
penúltimo concurso. Saíram em 2009, para serem cobrados apenas para ATRFB. 
 
Acordo Geral sobre o Comércio de Serviços (GATS) 
 
Nas negociações travadas de 1986 a 1994 dentro da Rodada Uruguai, os países 
concluíram que faltava um acordo para o comércio de serviços, já que o GATT era 
um acordo que buscava o livre comércio para mercadorias. 
O comércio de serviços havia crescido de forma substancial e decidiram criar um 
“GATT para serviços”. Deram ao acordo o nome de GATS – General Agreement on 
Trade in Services – Acordo Geral sobre o Comércio de Serviços. 
Esta motivação aparece no preâmbulo do Acordo: 
“Os Membros, 
Reconhecendo a importância crescente do comércio de serviços para o 
crescimento e desenvolvimento da economia mundial; 
...” 
Ainda no preâmbulo, aparecem os principais objetivos do Acordo: 
“Desejando estabelecer um quadro de princípios e regras para o 
comércio de serviços com vistas à expansão do mesmo sob condições de 
transparência e liberalização progressiva e como forma de promover o 
crescimento de todos os parceiros comerciais e o desenvolvimento dos 
países em desenvolvimento; 
... 
Desejando facilitar a participação crescente dos países em 
desenvolvimento no comércio de serviços e a expansão de suas 
exportações de serviços, inclusive, inter alia, mediante o fortalecimento 
da capacidade nacional de seus serviços e sua eficiência e competitividade; 
...” 
(inter alia significa “entre outras coisas”) 
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Dentre os objetivos, podemos então destacar: 
1) o estabelecimento de princípios e regras para o comércio de serviços; 
2) expansão do comércio mundial de serviços de forma transparente; 
3) liberalização progressiva do comércio de serviços, por meio de rodadas de 
negociações; 
4) promoção do crescimento dos países-membros no comércio de serviços; e 
5) promoção do desenvolvimento para os países em desenvolvimento, 
aumentando sua participação no comércio mundial e aumentando suas 
exportações de serviços. 
 
Algumas informações relevantes sobre o GATS, que podemos encontrar no texto do 
acordo: 
1) Para se aplicar o GATS, é necessário que o prestador e o consumidor do 
serviço sejam residentes em países diferentes; 
2) O local de prestação do serviço é irrelevante para a abrangência do GATS: 
o acordo se aplica aos serviços internacionais onde quer que eles sejam 
prestados, seja no país onde reside o importador, seja onde reside o 
exportador; 
3) O GATS não se aplica aos serviços prestados no exercício próprio da 
autoridade governamental (serviços públicos) nem aos direitos de tráfego 
aéreo e os serviços a ele diretamente relacionados. Por exemplo, o serviço 
público de emissão de passaportes não tem que ser liberalizado. É um 
serviço estratégico para qualquer país. No caso dos serviços de tráfego 
aéreo, o GATS não se aplica, pois existem acordos anteriores tratando 
especificamente disso; 
4) No GATS, há as seguintes disposições: 
a. Cláusula da Nação Mais Favorecida, ou seja, todo benefício dado 
aos serviços de um país deve ser estendido incondicionalmente aos 
serviços dos demais países-membros da OMC. Por exemplo, caso o 
Brasil desonere de IOF os seguros prestados por companhias norte-
americanas, ele deve fazer o mesmo em relação às companhias 
seguradoras do mundo inteiro. 
Veja a NMF no GATS, artigo II: 
“1. Com respeito a qualquer medida coberta por este Acordo, 
cada Membro deve conceder imediatamente e 
incondicionalmente aos serviços e prestadores de serviços de 
qualquer outro Membro, tratamento não menos favorável do 
aquele concedido a serviços e prestadores de serviços 
similares de qualquer outro país. 
2. Um Membro poderá manter uma medida incompatível com 
o parágrafo 1 desde que a mesma esteja Listada e satisfaça as 
condições do Anexo II sobre Isenções ao Artigo II. 
...” 
 
Note que a NMF admite exceções, pois o membro pode, de acordo 
com o artigo II, § 2o, manter uma lista de exceções à cláusula. Em 
tese, o país pode, por exemplo, colocar o serviço de seguro na lista 
citada e então não aplicar a NMF. Desta forma, caso o país reduza 
alíquota do IOF do seguro para aqueles contratados na França, 
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poderá discriminar e não reduzir a alíquota para os seguros 
contratados nos demais países; 
b. Princípio da Transparência, pelo qual um Membro deve informar 
aos demais Membros, com razoável antecedência, a criação de 
qualquer norma relativa ao comércio de serviços. As normas não 
podem ser ocultas nem deveriam ser criadas da noite para o dia. 
Eis o artigo III: 
“1. Cada Membro deve publicar prontamente e, salvo em 
circunstâncias emergenciais, pelo menos até a data de entrada 
em vigor, todas as medidas relevantes de aplicação geral 
pertinentes ao presente Acordo ou que afetem sua operação. 
Acordos internacionais dos quais um Membro seja Parte 
relativos ao comércio de serviços ou que afetem tal comércio 
também devem ser publicados. 
...”; 
c. Cláusulas de Salvaguarda, previstas no artigo X, simbolizando o 
direito de uma concessão em matéria de serviço ser revista caso 
traga problemas para o mercado interno; 
d. Tratamento Nacional, que, analogamente à cláusula do GATT, 
significa que o serviço importado deve receber um tratamento não-
discriminatório em relação aos serviços nacionais. Se o IOF cobrado 
sobre os seguros contratados junto a seguradoras nacionais for de 
y%, então a alíquota sobre os seguros contratados no exterior não 
pode ser superior a y%. 
No entanto, o princípio do tratamento nacional no GATS difere um 
pouco do tratamento nacional no GATT. Enquanto no GATT o princípio 
do tratamento nacional se aplica a todos os bens, no GATS somente 
se aplicará para alguns serviços, aqueles expressamente indicados 
pelo país. 
Por exemplo, o país Z indica numa lista os serviços de seguros, de 
transportes e de telecomunicações. Então, tais serviços importados 
não receberão internamente tratamento discriminatório em relação 
aos serviços similares nacionais. Já os demais serviços e prestadores 
de serviço (aqueles que não tiverem sido colocados na lista) poderão 
ser discriminados. É o que dispõe o artigo XVII do GATS: 
“ARTIGO XVII - Tratamento Nacional 
1. Nos setores inscritos em sua lista, e salvo condições e 
qualificações ali indicadas, cada Membro outorgará aos 
serviços e prestadores de serviços de qualquer outro Membro, 
com respeito a todas as medidas que afetem a prestação de 
serviços, um tratamento não menos favorável do que aquele 
que dispensa a seus próprios serviços similares e prestadores 
de serviços similares. 
...” 
Por exemplo, a forma de tributação deIRPJ sobre empresas 
brasileiras de arquitetura poderia, em tese, ser mais favorável que a 
forma de tributação das empresas estrangeiras de arquitetura que 
aqui prestassem um serviço (não nos interessa neste curso saber 
quais são os serviços colocados na lista brasileira, mas se alguém 
tiver curiosidade, vai encontrar isso no site www.mdic.gov.br) 
 
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e. Acesso a Mercados, que é a definição de um conjunto de vantagens 
dentro de um setor econômico. O país relaciona as vantagens em 
uma lista (similar à do artigo II do GATT, visto há duas aulas atrás) 
relativa a um setor econômico e se compromete em outorgar aos 
demais países um tratamento não menos favorável que aquele 
colocado na lista; 
f. Restrições para Proteger o Balanço de Pagamentos: quando 
tratamos do GATT, vimos que os países têm o direito de impor 
barreiras protecionistas se estiverem com dificuldades financeiras 
externas. Aqui no GATS, há previsão semelhante no artigo XII: 
“ARTIGO XII - Restrições para Proteger o Balanço de 
Pagamentos 
1. Em caso de existência ou ameaça de sérias 
dificuldades financeiras externas ou de balanço de 
pagamentos, um Membro poderá adotar ou manter 
restrições sobre o comércio de serviços em relação ao qual 
tenha assumido compromissos específicos, inclusive sobre 
pagamentos ou transferências para transações relacionadas 
com tais compromissos. É reconhecido que determinadas 
pressões sobre o balanço de pagamentos de um Membro em 
processo de desenvolvimento econômico ou de transição 
econômica podem tornar necessária a utilização de restrições 
para lograr, entre outras coisas, a manutenção de um nível de 
reservas financeiras suficiente para a implementação de seu 
programa de desenvolvimento econômico ou de transição 
econômica. 
...” 
g. Compras Governamentais: os países têm o direito de discriminar 
os serviços estrangeiros quando a compra for governamental “para 
fins de uso oficial” e não para comércio posterior. Nesse caso, poderá 
haver nas licitações governamentais um favorecimento para os 
fornecedores nacionais de serviços. É o que dispõe o artigo XIII do 
GATS: 
Artigo XIII - Compras Governamentais 
1. Os Artigos II, XVI e XVII não se aplicarão às leis, 
regulamentos e prescrições que rejam as contratações de 
serviços por órgãos governamentais para fins de uso oficial 
que não sejam destinados à revenda comercial ou que possam 
ser utilizados para a prestação de serviços destinados à venda 
comercial. 
h. Acordos de Comércio: No GATT, vimos que os benefícios dados ao 
comércio de bens entre países de um bloco comercial não precisam 
ser estendidos para países que estejam fora do acordo. Da mesma 
forma, o GATS permite que os benefícios dados aos serviços 
negociados dentro de blocos comerciais não sejam estendidos para 
países que estejam fora do bloco; e 
i. Exceções Gerais: No GATT, vimos o artigo XX que permite a 
imposição de medidas protecionistas em alguns casos especiais 
como, por exemplo, para proteção da saúde ou da moral pública. No 
GATS, o artigo XIV é muito semelhante a ele: 
1. ... nenhuma disposição do presente Acordo será 
interpretada no sentido de impedir que um Membro adote ou 
aplique medidas: 
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a) necessárias para proteger a moral ou manter a ordem 
pública; 
b) necessárias para proteger a vida e a saúde das pessoas e 
dos animais ou para a preservação dos vegetais; 
c) necessárias para assegurar a observância das leis e 
regulamentos que não sejam incompatíveis com as disposições 
do presente Acordo, inclusive aquelas com relação à: 
i) prevenção de práticas dolosas ou fraudulentas ou aos 
meios de lidar com efeitos do não cumprimento dos 
contratos de serviços; 
ii) proteção da privacidade dos indivíduos em relação 
ao processamento e à disseminação de dados pessoais 
e a proteção da confidencialidade dos registros e contas 
individuais; 
iii) segurança; 
d) incompatíveis com o Artigo XVII (Tratamento Nacional), 
sempre que a diferença de tratamento tenha por objetivo 
assegurar a imposição ou coleta eqüitativa ou efetiva de 
impostos diretos em relação a serviços ou prestadores de 
serviços de outros Membros; 
e) incompatíveis com a Artigo II (Nação Mais Favorecida), 
sempre que a diferença de tratamento resulte de um acordo 
destinado a evitar a dupla tributação ou de disposições 
destinadas a evitar a dupla tributação contidas em qualquer 
outro acordo ou convênio internacional pelo qual o Membro 
esteja vinculado. 
Cabe apenas registrar que a diferença entre o GATT e o GATS é que 
este inclui ainda as alíneas d e e, ou seja, os países podem 
discriminar para promover equidade ou efetividade na arrecadação 
tributária (alínea d) e para viabilizar os tratados internacionais para 
evitar dupla tributação (alínea e). Por exemplo, se o Brasil e os EUA 
fecham um acordo para afastar a bitributação, as disposições deste 
acordo não precisarão ser estendidas para os demais países. Para 
estes, se for o caso, deverão ser celebrados equivalentes tratados 
internacionais. 
5) O artigo IV do GATS prevê que deve ser facilitada a participação 
crescente dos países em desenvolvimento no comércio mundial de 
serviços, mediante compromissos específicos. 
 
O conteúdo do GATS até hoje não foi cobrado em prova de forma direta, seja da 
ESAF, seja de outra banca. Mas o conhecimento acerca da existência do acordo 
podia ter ajudado a resolver a questão cobrada em 2008, na prova de Analista de 
Comércio Exterior: 
(ACE/2008) O sistema multilateral de comércio, fundamentado nos 
princípios do GATT e subseqüentemente da OMC, rege o comércio entre 
países. Acerca desse sistema, julgue os itens a seguir. 
169 A exemplo da OMC, as normas e os acordos no âmbito do GATT 
aplicam-se ao comércio de mercadorias, de serviços e de direitos de 
propriedade intelectual referentes ao intercâmbio externo, sendo, pois, 
subscritos por todos os países. 
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Resp.: item INCORRETO, pois o GATT é um acordo que se aplica APENAS ao 
comércio de BENS. Para o comércio de serviços, o acordo é o GATS. Para os 
direitos de propriedade intelectual, o TRIPS. 
 
Acordo sobre Medidas Sanitárias e Fitossanitárias (SPS) 
 
Este acordo surgiu em 1994, juntamente com a OMC. 
O SPS surgiu como resposta à criação de várias medidas sanitárias e fitossanitárias 
sobre a importação de bens, as quais não possuíam nenhum embasamento 
científico. 
Observação 
“Revisão” de português: o radical fito refere-se a vegetal. Logo, remédio 
fitoterápico é remédio à base de plantas. E medidas fitossanitárias são 
medidas para assegurar a sanidade vegetal, ou seja, a saúde vegetal. 
 
Barreiras sanitárias e fitossanitárias eram criadas pelos países alegando-se dano à 
saúde de pessoas, animais e vegetais, mas, muitas vezes, eram medidas com o 
objetivo único de restringir importações que concorriam com bens similares 
nacionais. Como assim? 
Ora, esse negócio de invocar problema de saúde para deixar de fazer alguma coisa 
é do tempo em que se criou o primeiro emprego no mundo. O primeiro empregado 
(deve ter sido de Adão, não sei) algum dia deve ter falado pro chefe: “Estou muito 
gripado. Não posso ir hoje.” 
Às vezes, aliás, muitíssimas vezes, os países impõem barreiras do tipo: “Estamos 
muito gripados. Está proibida a importação de carne de porco, pois não queremos 
importar mais gripe suína.” 
Como se a carne trouxesse vírus.... 
Você está achando que é brincadeira? Não é não. Depois que surgiu o surto de 
gripe suína no ano de 2009, vários países simplesmente proibiram, de verdade, a 
importação de carne suína. Ésó olhar os jornais de maio e junho daquele ano 
(olhar na Internet, é claro). 
É exatamente para evitar esses absurdos que surgiu em 1994 o acordo SPS. É para 
evitar que os países, espertamente, usem a gripe, ou melhor, a saúde como 
justificativa para impor barreiras arbitrárias. Mas já deu para ver que o SPS não 
evitou os abusos no caso da gripe suína... 
O SPS permite que os países criem barreiras sanitárias e fitossanitárias, mas desde 
que sejam barreiras baseadas na ciência. Nenhum país está proibido de defender a 
saúde humana, animal e vegetal, mas as medidas de proteção só podem ser 
aplicadas na medida necessária. 
 
Antes de passarmos para análise do acordo SPS, cabe uma pergunta: Quem cria no 
Brasil as medidas para defesa da saúde humana, animal e vegetal? 
1) Em relação às medidas para defesa da saúde humana, é o Ministério da Saúde. 
Óbvio. 
2) Em relação à saúde animal? Ministério da Agricultura, Pecuária e 
Abastecimento (MAPA). Claro. 
3) Em relação à saúde vegetal? Ministério da Agricultura, Pecuária e 
Abastecimento (MAPA). Evidente. 
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E, portanto, quem tem que conhecer as regras do acordo SPS para as seguir na 
hora de criar as medidas sanitárias e fitossanitárias? No Brasil, o Ministério da 
Saúde e o MAPA. É óbvio, claro e evidente. 
 
Em síntese, o acordo SPS vem afirmar duas coisas: 
1) medidas para proteção à saúde e à vida são válidas; e 
2) tais medidas não podem ser abusivas ou arbitrárias. 
Podemos encontrar estas motivações no preâmbulo do acordo e no artigo 2o: 
“Os Membros, 
Reafirmando que nenhum Membro deve ser impedido de adotar ou 
aplicar medidas necessárias à proteção da vida ou da saúde humana, 
animal ou vegetal, desde que tais medidas não sejam aplicadas de modo a 
constituir discriminação arbitrária ou injustificável entre Membros em 
situações em que prevaleçam as mesmas condições, ou uma restrição 
velada ao comércio internacional; 
Desejando melhorar a saúde humana, a saúde animal e a situação sanitária 
no território de todos os Membros; 
Desejando o estabelecimento de um arcabouço multilateral de regras e 
disciplinas para orientar a elaboração, adoção e aplicação de medidas 
sanitárias e fitossanitárias com vistas a reduzir ao mínimo seus efeitos 
negativos sobre o comércio; 
Desejando estimular o uso de medidas sanitárias e fitossanitárias entre os 
Membros, com base em normas, guias e recomendações internacionais 
elaboradas pelas organizações internacionais competentes, ..., sem que com 
isso se exija dos Membros que modifiquem seu nível adequado de proteção 
da vida e saúde humana, animal ou vegetal; ...” 
 
O artigo 2o dispõe ainda: 
§ 1o Os Membros têm o direito de adotar medidas sanitárias e 
fitossanitárias para a proteção da vida ou saúde humana, animal ou 
vegetal, desde que tais medidas não sejam incompatíveis com as 
disposições do presente Acordo. 
§ 2o Os Membros assegurarão que qualquer medida sanitária e fitossanitária 
seja aplicada apenas na medida do necessário para proteger a vida ou a 
saúde humana, animal ou vegetal; seja baseada em princípios científicos 
e não seja mantida sem evidência científica suficiente, à exceção do 
determinado pelo parágrafo 7 do Artigo 5. 
 
Portanto, os países ficaram com o direito de criar as medidas sanitárias e 
fitossanitárias, mas somente o poderão fazer se provarem cientificamente sua 
necessidade. 
Depois que ficou provado que carne de porco não transmite gripe suína, os 
membros da OMC que tinham criado a proibição de importação tiveram que voltar 
atrás em sua decisão, sob pena de serem acionados na OMC. 
Só uma observação no caso da gripe suína: será que os países, antes de criarem a 
proibição de importação, já não sabiam que a carne não transmite vírus de gripe? É 
claro que sabiam, mas, no comércio internacional, quando surge uma oportunidade 
dessas de embarreirar importações, você acha que algum país vai deixar passar? É 
uma possibilidade de se incentivar o consumo das carnes produzidas internamente 
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(carne bovina, de frango ou até mesmo de porco). Foi uma oportunidade para os 
países ajudarem os produtores internos. 
Ah! E ainda há outra coisa: infelizmente, a arbitrariedade que prejudica muita 
gente (por exemplo, os produtores estrangeiros de suínos) talvez venha a ser 
atacada e derrubada nos organismos ou em tribunais internacionais, mas, quando e 
se isso ocorrer, duas coisas ficarão: terá havido proteção efetiva durante um tempo 
e a indenização é só para aqueles que reclamarem (não é erga omnes, ou seja, não 
é para todos). Então ainda que muitos reclamem e peçam indenização, outros não 
irão reclamar e o país infrator sairá no lucro. É, mais ou menos, o que acontece 
quando o governo brasileiro cria normas “ilegais”. Como nem todos os cidadãos 
irão reclamar, pois muitos pensam “dá trabalho reclamar por tão pouco”, o governo 
só vai precisar voltar atrás para aqueles que reclamarem e ganharem 
judicialmente. 
 
Já que eu falei de normas sanitárias ilegítimas, quais os exemplos de normas 
sanitárias/fitossanitárias legítimas, referendadas pelo SPS? 
Posso citar as normas: 
1) que imponham que o produto venha de uma região livre de doenças. Por 
exemplo, o Brasil pode criar uma norma impondo que só podem ser 
importados bois de países onde não haja focos de febre aftosa; 
2) relativas à inspeção de produtos. Por exemplo, o Brasil pode impor uma 
norma que dispõe que os animais somente serão liberados nos portos, 
aeroportos e fronteiras de entrada SE passarem pela análise da vigilância 
sanitária; 
3) sobre tratamento e processamento de produtos. Por exemplo, o país pode 
criar uma regra dispondo que o leite não pode ser importado in natura, mas 
apenas depois do processo de pasteurização; 
4) sobre níveis máximos de pesticida. O governo, neste caso, poderia impor 
que o pesticida XYZ não pode ter concentração superior a x% na pele do 
tomate; e 
5) sobre níveis máximos de aditivos nos alimentos. O país poderia definir 
limites para os “estabilizantes”, “corantes” e outros “antes” que a gente 
encontra nos rótulos dos alimentos. 
Todos os casos acima são, em última análise, formas de o país defender a saúde e 
a vida de todos aqui de dentro, incluindo os animais e os vegetais. 
 
Principais disposições do SPS: 
1) Princípio da Transparência, pelo qual um Membro deve informar aos demais 
Membros, com razoável antecedência, a criação de qualquer medida sanitária 
ou fitossanitária. Isso é importantíssimo, pois imagine você se o Brasil muda 
as regras de um dia para o outro. Digamos que o Brasil definia que o nível de 
concentração do pesticida XYZ na pele do tomate não podia passar de 2%. E a 
norma hoje publicada mudasse o percentual para 1%. Ora, o que aconteceria 
com aqueles tomates que já estão no avião viajando para o Brasil e que 
cumpriam o limite de 2%, mas não cumprem o limite de 1%? Se o tomate 
tiver índice de concentração de 1,5%, ele teria entrado ontem, mas não entra 
a partir de hoje. 
Ora, é uma penalidade muito grande ter que devolver os tomates para o 
exterior... Por isso, o princípio da Transparência (também chamado princípio 
da Publicidade) impõe que os países devem deixar um lapso de tempo 
razoável entre a publicação da norma e sua entrada em vigor. Mas o tempo 
“razoável” é decidido por cada país... 
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Consta no Anexo B do SPS: 
Anexo B – Transparência dos Regulamentos Sanitários e Fitossanitários 
Publicação de Regulamentos 
1. Os membros assegurarão que todos os regulamentos sanitários e 
fitossanitários adotados sejam prontamente publicadosde modo a permitir 
aos membros que por eles se interessem familiarizarem-se com os mesmos. 
2. Exceto em circunstâncias de caráter urgente, os membros deixarão um 
intervalo de tempo razoável entre a publicação do regulamento sanitário 
e fitossanitário e sua entrada em vigor de modo que os produtores em 
membros exportadores, particularmente dos países em desenvolvimento 
membros, disponham de tempo para adaptar seus produtos e métodos de 
produção às exigências do membro importador. 
2) Princípio da Harmonização, pelo qual se busca atingir a harmonização das 
normas sanitárias por parte de todos os Membros partindo-se de “normas, 
guias e recomendações internacionais elaboradas pelas organizações 
internacionais competentes”, como consta no preâmbulo do acordo; e 
3) Princípio da Equivalência, que consta no artigo 4o. Por este princípio, os 
países aceitarão as medidas sanitárias e fitossanitárias dos demais países 
como sendo equivalentes. 
Por exemplo, se o Brasil estiver importando uma mercadoria da França e se o 
Ministério da Agricultura francês tiver emitido um atestado com base nas suas 
normas sanitárias, o Ministério da Agricultura brasileiro poderá aceitar este 
atestado. Em um exemplo mais prático, digamos que o Brasil tenha uma regra 
dispondo que nenhum produto comercializado no Brasil pode ter o produto 
químico XYZ: 
 “Portaria (hipotética) do Ministério da Saúde no 01/2015 
Considerando que ficou comprovado cientificamente que o produto químico 
XYZ causa danos irreversíveis à pele humana, DECIDE: 
Art. 1o – Fica vedada a produção e a comercialização interna de bens 
compostos pelo produto químico XYZ. 
Art. 2o – Esta norma entra em vigor no dia da publicação.” 
 
Consideremos também que a Portaria do Ministério da Saúde francês 
disponha o seguinte (não vou gastar o meu francês aqui, até porque não sei 
nada de francês. rs): 
“Portaria (hipotética) do Ministério da Saúde FRANCÊS no nn/2015 
Considerando que ficou comprovado cientificamente que o produto químico 
XYZ causa danos irreversíveis à pele humana, DECIDE: 
Art. 1o – Somente é autorizada a produção de bens com o produto XYZ se o 
produto ABC, que anula os efeitos tóxicos daquele, integrar o processo 
produtivo na mesma proporção do primeiro. 
Art. 2º - Somente é autorizada a comercialização interna de bens com o 
produto químico XYZ caso a produção tenha sido conforme o artigo 1º. 
Art. 3o – Esta norma entra em vigor no dia da publicação.” 
 
Digamos que a fabricação de um bem francês seja com os produtos XYZ e 
ABC, cumprindo o disposto na portaria francesa. Neste caso, em tese, o 
produto não poderia ser importado pelo Brasil, pois a norma brasileira veda 
radicalmente a utilização do XYZ. Portanto, se o produto estiver sendo 
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importado pelo Brasil, o que vai acontecer? A entrada será autorizada ou 
proibida? 
Bem, é para isso que serve o princípio da Equivalência: como o objetivo final 
da norma brasileira (a proteção da saúde humana) foi atingido, apesar de ela 
não ter sido cumprida à risca, então a norma francesa será considerada 
equivalente à brasileira, substituindo-a neste caso concreto. 
Já que a norma francesa foi cumprida (deve ser apresentado o certificado 
francês para o fiscal sanitário no Brasil), então a entrada do produto francês 
será permitida. 
É o que dispõe o artigo 4o: 
Artigo 4 - Equivalência 
§ 1o Os Membros aceitarão as medidas sanitárias e fitossanitárias de 
outros Membros como equivalentes, mesmo se tais medidas diferirem 
de suas próprias medidas ou de medidas usadas por outros Membros 
que comercializem o mesmo produto, se o Membro exportador 
demonstrar objetivamente ao Membro importador que suas medidas 
alcançam o nível adequado de proteção sanitária e fitossanitária 
do Membro importador. Para tal fim, acesso razoável deve ser 
concedido, quando se solicite, ao Membro importador, com vistas a 
inspeção, teste e outros procedimentos relevantes... 
 
Harmonização das medidas sanitárias e fitossanitárias 
 
Tanto este acordo (SPS) quanto o próximo (TBT) definem que as normas sanitárias, 
fitossanitárias e técnicas usadas pelos países devem ser, na medida do possível, as 
normas criadas por organismos internacionais, tais como a Organização Mundial de 
Saúde (OMS) e a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação 
(FAO). Busca-se a harmonização das medidas em nível mundial. Isto garante que 
não haverá parcialidade ou favorecimento a quem quer que seja, afinal os 
organismos internacionais não são (ou não deveriam ser) parciais nem “puxa-
sacos” de ninguém. Isto consta, por exemplo, no SPS, no artigo 3o, § 1o: 
§ 1o Com vistas a harmonizar as medidas sanitárias e fitossanitárias da 
forma mais ampla possível, os membros basearão suas medidas sanitárias 
e fitossanitárias em normas, guias e recomendações internacionais, nos 
casos em que existirem, exceto se diferentemente previsto por este acordo 
e, em especial, no parágrafo 3o. 
 
Sobre o Acordo sobre Medidas Sanitárias e Fitossanitárias (SPS), caiu a seguinte 
questão na prova de ACE/2008: 
(ACE/2008) O sistema multilateral de comércio, fundamentado nos 
princípios do GATT e subseqüentemente da OMC, rege o comércio entre 
países. Acerca desse sistema, julgue os itens a seguir. 
172 Desde que não se configurem como restrições ao comércio agrícola, 
políticas de proteção ambiental, como aquelas destinadas a proteger a vida 
humana contra doenças provocadas por animais e plantas e a preservar a 
fauna e a flora, são contempladas pelo Acordo sobre a Aplicação de 
Medidas Sanitárias e Fitossanitárias. 
 
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De fato, as políticas de proteção ambiental para proteção das vidas humana, animal 
(fauna) e vegetal (flora) podem ser criadas pelos países, sendo autorizadas pelo 
SPS. Em suma, normas sanitárias e fitossanitárias são permitidas. 
O erro da questão foi dizer que tais normas não se configurariam restrições ao 
comércio agrícola. Ora, é claro que as restrições sanitárias e fitossanitárias podem 
ser na forma de restrições ao comércio agrícola, evitando-se, por exemplo, a 
entrada de bens agrícolas que tragam doenças às pessoas, animais e vegetais. 
A proibição de importação de soja com pragas é referendada no acordo de SPS, e é 
uma restrição ao comércio agrícola. 
Resp.: item FALSO. 
 
 
Acordo sobre Barreiras Técnicas ao Comércio (TBT) 
 
Enquanto o Acordo sobre Medidas Sanitárias e Fitossanitárias vincula as normas 
aplicáveis às importações sujeitas à vigilância sanitária, o TBT é um acordo que 
permite as barreiras técnicas ao comércio. As regras dos dois acordos são muito 
semelhantes. Por isso, as explicações dadas ao acordo anterior são aproveitadas 
aqui, fazendo-se as adaptações necessárias. 
A grosso modo, o Acordo sobre Medidas Sanitárias e Fitossanitárias deve ser 
observado pelos Ministérios da Agricultura e da Saúde, ao criarem as normas 
nacionais. Já o Acordo sobre Barreiras Técnicas ao Comércio deve ser observado 
pela ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas, que define normas que 
devem ser observadas para os mais diversos produtos. 
O TBT admite, por exemplo, que sejam criadas normas que só permitam a 
importação de: 
1) carros que tenham cinto de segurança; 
2) botijões de gás que não tenham atingido determinado prazo de vida; 
3) lâmpadas com bocal não muito comprido, o que poderia gerar choques 
elétricos no ato de colocação ou retirada; 
4) brinquedos, com a indicação da idade mínima permitida para a criança; 
5) alimentos com a tabela nutricional na embalagem (quanto de carboidratos, 
de gorduras, de sódio, ...); 
6) cigarros, com aquelas fotos horrendas;7) TVs preparadas para os sistemas PAL-M e/ou NTSC; e 
8) bens com informações na embalagem traduzidas para o português. 
 
Perceba no preâmbulo do TBT os objetivos das barreiras técnicas: 
1) Assegurar a qualidade das exportações 
2) Proteger a vida ou a saúde humana, animal ou vegetal 
3) Proteger o meio ambiente 
4) Prevenir práticas enganosas 
5) Promover segurança 
Eis a primeira diferença importante entre o TBT e o SPS: os objetivos do TBT são 
mais amplos que os objetivos do SPS. Enquanto no SPS tudo gira em torno da 
proteção à saúde e à vida, no TBT existem outros objetivos, como podemos ver na 
lista acima, retirada do preâmbulo: 
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"Os Membros, 
... 
Desejando encorajar o desenvolvimento de normas internacionais e 
sistemas de avaliação de conformidade; 
Desejando, entretanto, assegurar que os regulamentos técnicos e as 
normas, inclusive requisitos para embalagem, marcação e rotulagem, e 
procedimentos para avaliação de conformidade com regulamentos técnicos e 
normas não criem obstáculos desnecessários ao comércio internacional; 
Reconhecendo que não se deve impedir nenhum país de tomar medidas 
necessárias a assegurar a qualidade de suas exportações, ou para a 
proteção da vida ou saúde humana, animal ou vegetal, do meio 
ambiente ou para a prevenção de práticas enganosas, nos níveis que 
considere apropriados, à condição que não sejam aplicadas de maneira que 
constitua discriminação arbitrária ou injustificável entre países onde 
prevaleçam as mesmas condições ou uma restrição disfarçada ao comércio 
internacional, e que estejam no mais de acordo com as disposições deste 
Acordo; 
Reconhecendo que não se deve impedir nenhum país de tomar medidas 
necessárias para a proteção de seus interesses essenciais em matéria de 
segurança; 
Reconhecendo a contribuição que a normalização internacional pode dar à 
transferência de tecnologia dos países desenvolvidos aos países em 
desenvolvimento;...” 
 
São princípios presentes no TBT, já analisados no acordo SPS: 
1) Transparência (artigo 2.9) 
2) Equivalência (artigo 2.7) 
3) Harmonização (artigo 2.6) 
4) Tratamento Nacional (artigo 2.1) 
5) Não-criação de barreiras desnecessárias (preâmbulo) 
 
Os quatro primeiros princípios já foram explicados nos outros acordos. O quinto é 
auto-explicativo: barreiras só podem ser criadas se forem, de fato, necessárias. 
Vimos no acordo anterior (SPS) que as recomendações internacionais devem pautar 
a criação das regras sanitárias e fitossanitárias de cada país. Mas vimos também 
que os países podem definir níveis próprios de proteção, ao considerarem, por 
exemplo, que as recomendações internacionais são insuficientes para garantir a 
proteção desejada. 
Também no TBT consta este tipo de situação, pois, por exemplo, por fatores 
geográficos, climáticos ou tecnológicos, os países poderão definir que a proteção 
somente será atingida com maiores exigências que as recomendadas pelos 
organismos internacionais. 
Por exemplo, imaginemos que haja uma recomendação técnica internacional para a 
produção de elevadores, dispondo sobre os dispositivos de segurança, sobre o freio 
de emergência, tamanhos e cálculo de capacidade de transporte. 
Será que os elevadores, produzidos conforme a recomendação internacional, são 
suficientemente seguros para utilização no Japão, onde os terremotos são bastante 
comuns? Talvez não. Possivelmente a recomendação internacional foi criada para 
atender a maior parte dos países. Mas é razoável aceitar que existem casos 
especiais. Talvez no Japão sejam necessárias regras mais rigorosas sobre a 
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produção e a importação de elevadores, tendo em vista a necessidade de maior 
segurança por suas condições geográficas. 
2.4 Quando forem necessários regulamentos técnicos e existam normas 
internacionais pertinentes ou sua formulação definitiva for iminente, os 
Membros utilizarão estas normas, ou seus elementos pertinentes, como base 
de seus regulamentos técnicos, exceto quando tais normas internacionais ou 
seus elementos pertinentes sejam um meio inadequado ou ineficaz para a 
realização dos objetivos legítimos perseguidos, por exemplo, devido a 
fatores geográficos ou climáticos fundamentais ou problemas tecnológicos 
fundamentais. 
 
Uma segunda diferença entre o SPS e o TBT 
 
No acordo do SPS, está escrito que os países podem criar normas sanitárias e 
fitossanitárias mais rigorosas que as sugeridas pelos organismos internacionais, 
desde que sejam justificáveis cientificamente, excluindo a arbitrariedade. Isto 
consta no artigo 2o, § 2o e no art. 3o, § 3o: 
§ 2o Os membros assegurarão que qualquer medida sanitária ou 
fitossanitária seja aplicada apenas na medida do necessário para proteger a 
vida ou a saúde humana, animal ou vegetal; seja baseada em princípios 
científicos e não seja mantida sem evidência científica suficiente, à 
exceção do determinado pelo § 7o do artigo 5o. 
§ 3o Os membros podem introduzir ou manter medidas sanitárias e 
fitossanitárias que resultem em nível mais elevado de proteção sanitária ou 
fitossanitária do que se alcançaria com medidas baseadas em normas, guias 
ou recomendações internacionais competentes, se houver uma justificação 
científica, ou como conseqüência do nível de proteção sanitária ou 
fitossanitária que um membro determine ser apropriado... 
Observação 1: Veja que cada país pode decidir de forma soberana o 
nível de proteção que ele considera apropriado. Por exemplo, em 
função do clima ou da vegetação, o que é apropriado para um país 
pode não ser para outro. 
Observação 2: O que consta no § 7o do artigo 5o, citado no § 2o, que 
pode levar à criação de medidas sem evidência científica suficiente? 
Este § 7o dispõe sobre aqueles casos em que ainda não está provado 
que há determinado risco na importação de um bem, mas há 
evidências preliminares de que o risco existe. Neste ponto, faço 
sempre analogia com as liminares em mandado de segurança, as 
quais são concedidas liminarmente, tendo em vista que existe o 
fumus boni iuris e o periculum in mora. 
§ 7o Nos casos em que a evidência científica for insuficiente, um 
membro pode provisoriamente adotar medidas sanitárias ou 
fitossanitárias com base em informação pertinente que esteja 
disponível, incluindo-se informação oriunda de organizações 
internacionais relevantes, assim como de medidas sanitárias ou 
fitossanitárias aplicadas por outros membros. Em tais circunstâncias, 
os membros buscarão obter a informação adicional necessária para 
uma avaliação mais objetiva de risco e revisarão, em conseqüência, a 
medida sanitária ou fitossanitária em um prazo razoável. 
 
Enquanto o SPS exige a justificativa científica, o TBT é mais “relaxado” quanto a 
isso. Para a criação de uma barreira técnica podem ser usados estudos científicos, 
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mas eles não são obrigatórios. Esse “relaxamento” decorre do fato de que as 
barreiras técnicas têm objetivos mais amplos que os objetivos das medidas 
sanitárias e fitossanitárias. Enquanto estas visam tão-somente à proteção da saúde 
humana, animal e vegetal, as barreiras técnicas visam, por exemplo, prevenir 
práticas enganosas e assegurar qualidade das exportações. Vejamos um exemplo 
prático. 
Uma barreira técnica existente em relação aos calçados é a exigência de que o 
tamanho do pé seja indicado no solado (para quem quiser me presentear: o 
tamanho do meu pé é 43. rs). Esta regra, a ser observada nos calçados produzidos 
no Brasil, foi criada sem qualquer justificativa científica. De fato, qual seria o 
resultado de um estudo científicosobre a indicação de números nos solados dos 
sapatos? 
Para assegurar a qualidade das nossas exportações, a exigência de colocação do 
número no solado deve ser observada para os sapatos que serão exportados pelo 
Brasil, indicando-se inclusive o número usado nos EUA e na Europa. Imagine se os 
sapatos daqui saíssem sem número. Os compradores lá fora iam ficar, no mínimo, 
chateados com os produtores brasileiros... Foi a constatação de que nossos 
produtos iriam perder mercado externo que levou à criação da norma técnica. Não 
foi um estudo científico que levou à criação da regra brasileira. 
 
Acordo sobre Medidas de Investimento Relacionadas ao Comércio (TRIMS) 
 
Perceba no preâmbulo do acordo as motivações para a criação do TRIMS: 
1) Facilitar o investimento e 
2) eliminar as barreiras protecionistas ao investimento. 
 
“Os Membros, 
... 
Desejando promover a expansão e a liberalização progressiva do comércio 
mundial e facilitar o investimento através das fronteiras internacionais, a 
fim de aumentar o crescimento econômico de todos os parceiros comerciais, 
em particular dos países em desenvolvimento, garantindo ao mesmo tempo 
a livre competição; 
Reconhecendo que certas medidas de investimento podem causar 
efeitos restritivos e distorcivos ao comércio; 
... 
Artigo 1º - Alcance – O presente acordo se aplica somente a medidas de 
investimento relacionadas ao comércio de bens (referidas como TRIMs 
– trade related investment measures). 
Artigo 2º - Tratamento Nacional e Restrições Quantitativas – Sem prejuízo 
de outros direitos e obrigações sob o GATT 1994, nenhum Membro aplicará 
qualquer medida de investimento relacionada ao comércio incompatível com 
as disposições do artigo III ou do artigo XI do GATT 1994... 
Uma lista ilustrativa de TRIMs incompatíveis com a obrigação de tratamento 
nacional prevista no parágrafo 4o do Artigo III do GATT 1994 e com a 
obrigação de eliminação geral de restrições quantitativas prevista no 
parágrafo 1o do Artigo XI do GATT 1994 se encontra no Anexo ao presente 
Acordo.” 
 
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O acordo de TRIMS foi criado na Rodada Uruguai com o objetivo de dar um basta 
às medidas protecionistas que vinham sendo aplicadas por meio de restrição aos 
investimentos. 
Os países estavam dificultando os investimentos descumprindo os artigos III e XI 
do GATT, como se pode constatar da leitura do artigo 2º. O que dizem os artigos III 
e XI do GATT, já vistos na aula retrasada? 
O artigo III traz o princípio do Tratamento Nacional que, em síntese, determina que 
não haja discriminação, em matéria de normas e tributos internos, das mercadorias 
originárias dos demais parceiros signatários do GATT. 
O artigo XI tem o título “Eliminação das Restrições Quantitativas”: 
Parágrafo 1o – Nenhuma parte contratante imporá nem manterá – além dos 
direitos aduaneiros, impostos e outras taxas – proibições nem restrições à 
importação de um produto do território de outra parte contratante ou à 
exportação ou à venda para exportação de um produto destinado ao 
território de outra parte contratante que sejam aplicadas mediante 
contingentes, licenças de importação ou de exportação ou por meio de 
outras medidas. 
 
À primeira vista, parece que o acordo de TRIMS veio para dizer que os 
investimentos em dinheiro não devem ser discriminados nem restringidos. No 
entanto, o acordo de TRIMS é um dos acordos inseridos no Anexo 1A do Acordo 
Constitutivo da OMC. Logo, é um acordo para liberalizar o comércio de BENS. 
Ué, mas os investimento são bens? Sim, basta que lembremos que, em Economia, 
“Investimento = Formação Bruta de Capital Fixo + Variação de Estoques.” É neste 
sentido de investimento (= aquisição de bens voltados para a produção) que o 
acordo deve ser lido. 
Portanto, a criação do TRIMS serviu para definir que: 
1) não pode haver discriminação de BENS voltados a investimento em 
função de sua origem. Os bens estrangeiros adquiridos para investimento 
devem receber o mesmo tratamento interno que os bens nacionais 
adquiridos para investimento; e 
2) não pode haver restrições aos BENS voltados a investimentos. Não 
se podem impor limites ou termos para os bens de capital ou estoques 
estrangeiros. 
 
Portanto, quando uma empresa brasileira quer comprar máquinas ou insumos 
estrangeiros, ou seja, realizar um investimento com produtos estrangeiros, o 
governo brasileiro não pode impor limitações ou discriminações. 
Quando pegamos a lista ilustrativa do acordo de TRIMS (citada no artigo 2o), 
podemos confirmar que a não-discriminação e a não-restrição são voltadas para 
BENS. 
(Note que a lista ilustrativa traz, no parágrafo 1o, alguns exemplos de como se 
descumpre o artigo III do GATT. E, no parágrafo 2o, alguns exemplos de como se 
descumpre o artigo XI do GATT.) 
 
“ANEXO do Acordo de TRIMS 
Lista Ilustrativa 
1. As TRIMS incompatíveis com a obrigação de tratamento nacional prevista no 
parágrafo 4o do artigo III do GATT 1994 incluem as mandatórias ou 
aquelas aplicáveis sob a lei nacional ou decisões administrativas, ou cujo 
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cumprimento é necessário para se obter uma vantagem, e que 
determinam: 
a. Que uma empresa adquira ou utilize produtos de origem animal ou de 
qualquer fonte nacional, especificadas em termos de produtos 
individuais, em termos de volume ou valor de produtos ou em termos 
de uma proporção do volume ou valor de sua produção local; 
[Explicação: 
Digamos que o Brasil crie uma lei nos seguintes termos: 
‘Terá direito à anistia da multa Y a empresa que UTILIZAR, 
pelo menos, 80% de insumos nacionais em seu processo 
produtivo.’ 
Esta lei hipotética vai contra o artigo III do GATT, tendo em 
vista que está discriminando, impondo uma regra que força o 
uso de insumos nacionais em prejuízo dos insumos 
estrangeiros. A regra imposta terá que ser observada para que 
a empresa obtenha a anistia indicada. 
Perceba que a lei hipotética não criou uma proibição para se 
usarem insumos estrangeiros, mas uma discriminação que 
fará com que a empresa não obtenha a anistia se descumprir 
a condição.] 
b. Que a aquisição ou utilização de produtos importados por uma 
empresa limite-se a um montante relacionado ao volume ou valor de 
sua produção local. 
[Explicação: 
A lei hipotética, criada no exemplo para a alínea anterior, 
poderia ter sido escrita de outra forma, gerando o mesmo 
efeito: 
‘Terá direito à anistia da multa Y a empresa que UTILIZAR, 
no máximo, 20% de insumos estrangeiros em seu processo 
produtivo.’ 
Também a lei estará indo contra o acordo de TRIMS, 
especificamente condenada nesta alínea ‘b’.] 
2. As TRIMS incompatíveis com a obrigação de eliminação geral das restrições 
quantitativas prevista no parágrafo 1o do artigo XI do GATT 1994 incluem 
as mandatórias, aquelas aplicáveis sob a lei nacional ou mediante decisões 
administrativas ou aquelas cujo cumprimento é necessário para se obter 
uma vantagem, e que restringem: 
a. A importação por uma empresa de produtos utilizados ou relacionados 
com sua produção local em geral ou a um montante relacionado ao 
volume ou valor de sua produção local destinada à exportação; 
[Explicação: 
Usando a mesma linha de exemplos... 
Se o Brasil criasse uma lei nos seguintes termos: 
‘Terá direito à anistia da multa Y a empresa que, anualmente, 
IMPORTAR, no máximo, 20% de insumos utilizados em seu 
processo produtivo anual.’ 
Perceba a diferença entre os §§ 1o e 2o: 
O parágrafo 1o se refere ao artigo III, ou seja, o país não pode 
discriminar internamente o produto estrangeiro, que pode 
até ter sido importado por outrem. 
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Veja que o verbo utilizado no parágrafo 1o é “utilizar”. A 
redação da alínea b do § 1o não é muito boa. Devemos lê-la 
assim: ‘Um país não pode determinar que a aquisição 
INTERNA ou a utilização POR UMA EMPRESA de produtos 
importados POR OUTRA EMPRESA limite-se a um volume ou 
valor.’ 
Já o parágrafo 2o se refere ao artigo XI, ou seja, o país não 
pode restringir IMPORTAÇÕES. Podemos ler o parágrafo 
assim: ‘Um país não pode determinar que a importação por 
uma empresa limite-se a um volume ou valor.’] 
b. A importação por uma empresa de produtos utilizados em sua 
produção local ou relacionados com a mesma, mediante a restrição de 
seu acesso a divisas estrangeiras em um montante equivalente à 
entrada de divisas estrangeiras atribuíveis a essa empresa; 
[Explicação: 
Se o Brasil criasse uma lei nos seguintes termos: 
‘Somente poderão importar mercadorias as empresas que 
exportarem em montante equivalente’, 
esta lei seria condenada pela OMC, pois estaria havendo 
restrição à importação de bens.] 
c. A exportação ou venda para exportação de produtos por uma 
empresa, restrição especificada em termos de produtos individuais, em 
termos de volume ou valor de produtos ou em termos de uma 
proporção do volume ou valor de sua produção local. 
[Explicação: 
Se o Brasil criasse uma lei nos seguintes termos: 
‘As empresas somente poderão exportar bens em montante 
equivalente a 20% de sua produção’, 
esta lei seria condenada pela OMC, pois estaria havendo 
restrição à exportação de bens.] 
 
Sobre o Acordo de TRIMS, caiu a seguinte questão na prova de ACE/2008: 
(ACE/2008) O sistema multilateral de comércio, fundamentado nos 
princípios do GATT e subseqüentemente da OMC, rege o comércio entre 
países. Acerca desse sistema, julgue os itens a seguir. 
171 A adoção de incentivos fiscais que beneficiem unicamente empresas 
que utilizem um percentual mínimo de componentes domésticos como 
insumos representa um exemplo típico de restrição comercial tratada no 
âmbito do Acordo sobre Medidas de Investimentos Relacionadas ao 
Comércio (TRIMS). 
Resp.: item CORRETO. É o caso citado na alínea “a” do parágrafo 1o da lista 
ilustrativa transcrita anteriormente. 
 
 
Sistema de solução de controvérsias da OMC 
 
Ao estudarmos a estrutura da OMC, na aula anterior, vimos no artigo IV do Acordo 
Constitutivo da OMC, que o órgão responsável pela solução de controvérsias é o 
Conselho Geral. 
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“Art. IV, § 3o – 
O Conselho Geral se reunirá quando couber para desempenhar as funções 
do Órgão de Solução de Controvérsias (OSC) estabelecido no 
Entendimento sobre Solução de Controvérsias.” 
 
O sistema de solução de controvérsias está previsto no Anexo 2 do Acordo 
Constitutivo da OMC. No seu artigo 4o, está definido que a primeira etapa do 
sistema de solução de controvérsias é a realização de consultas entre os países: 
“Art. 4o Cada Membro se compromete a examinar com compreensão a 
argumentação apresentada por outro Membro e a conceder oportunidade 
adequada para consulta com relação a medidas adotadas dentro de seu 
território que afetem o funcionamento de qualquer acordo abrangido.” 
Dentro dessas consultas, o Diretor-Geral da OMC “...poderá oferecer seus bons 
ofícios, conciliação ou mediação com o objetivo de auxiliar os Membros a resolver 
uma controvérsia.” (artigo 5o, § 6o) 
“Se as consultas não produzirem a solução de uma controvérsia no prazo de 60 
dias contados a partir da data de recebimento da solicitação, a parte reclamante 
poderá requerer o estabelecimento de um grupo especial.” (artigo 4o, § 7o) 
 
O artigo 6o dispõe sobre o estabelecimento do grupo especial: 
“Se a parte reclamante assim o solicitar, um grupo especial será estabelecido, no 
mais tardar, na reunião do OSC seguinte àquela em que a solicitação aparece 
pela primeira vez como item da agenda do OSC, a menos que nessa reunião o OSC 
decida por consenso não estabelecer o grupo especial.” 
Em outras palavras, o país reclamado pode obstruir a constituição do grupo 
especial uma vez, mas não pode voltar a fazê-lo quando o órgão de solução de 
controvérsias se reunir pela segunda vez (a não ser que haja consenso contra a 
constituição do grupo especial). 
 
O grupo especial é um órgão “composto por pessoas qualificadas” (artigo 8o), 
estabelecido pelo OSC. 
Portanto: 
1) A primeira etapa são as consultas, que incluem as negociações diretas 
entre as partes na controvérsia e a possível intervenção do Diretor-Geral da 
OMC; e 
2) A segunda etapa do sistema de solução de controvérsias é o 
estabelecimento do grupo especial. 
 
O grupo especial ajuda o órgão de solução de controvérsias a ditar resoluções ou 
fazer recomendações, mas, como seu relatório pode ser rejeitado somente por 
consenso no órgão de solução de controvérsias, é difícil revogar suas conclusões. 
Tais conclusões devem basear-se nos acordos invocados. 
Caso o relatório não seja derrubado, ele se converte numa resolução. E ambas as 
partes na controvérsia podem apelar. 
Se houver apelação, esta deve se basear em questões de direito, como, por 
exemplo, interpretação jurídica. Não é possível examinar de novo as questões de 
fato nem examinar novas questões. Os fatos já foram suficientemente descritos e 
não há mais o que discutir sobre eles. Cabe apenas ver a questão jurídica. A 
apelação é examinada pelo Órgão Permanente de Apelação, que é composto por 
7 árbitros, sendo estabelecido pelo Órgão de Solução de Controvérsias. 
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A apelação pode gerar a confirmação, modificação ou revogação das constatações e 
conclusões jurídicas do grupo especial. O órgão de solução de controvérsias tem 
que aceitar ou rejeitar o relatório da apelação em um prazo determinado. Este 
somente pode ser rejeitado por consenso. 
 
Medidas após o trânsito em julgado da solução da controvérsia 
 
Depois de decidida a questão, quais as medidas a serem tomadas? 
Caso o demandado tenha perdido a questão, a primeira coisa a ser feita é ajustar 
sua política em conformidade com a resolução ou recomendação. Consta no 
acordo sobre solução de controvérsias: 
"Para assegurar a eficaz solução das controvérsias em benefício de todos 
membros, é essencial o pronto cumprimento das recomendações ou 
resoluções do órgão de solução de controvérsias.” 
 
O país perdedor deve manifestar sua intenção de ajuste na próxima reunião do 
órgão de solução de controvérsias. Caso não seja possível cumprir imediatamente 
as recomendações de resoluções, será dado ao país um prazo razoável para fazê-lo. 
Se as medidas não forem adotadas neste prazo, terá que abrir negociações com o 
país reclamante para estabelecer uma compensação mutuamente aceitável: por 
exemplo, reduções alfandegárias em áreas de interesse para a parte reclamante. 
Se, passado um determinado tempo, não se tenha chegado a uma compensação 
satisfatória, a parte reclamante poderá pedir a autorização do órgão de solução de 
controvérsias para impor sanções comerciais limitadas relativamente à outra 
parte. O órgão de solução de controvérsias deverá outorgar essa autorização, a 
menos que se decida, por consenso, indeferir a petição. 
Portanto: 
 - em primeiro lugar, o perdedor deve ajustar sua política; 
- não o fez em prazo razoável? Então tem que oferecer uma compensação 
satisfatória ao país vencedor; 
- não ofereceu a compensação ou ela foi considerada insatisfatória? Então o 
vencedor pode pedir para a OMC autorização para que ele imponha sanções 
contra o país perdedor. 
 
Em princípio, as sanções devem ser impostas no mesmo setor em que tiver 
surgido a controvérsia,ou seja, se a controvérsia surgiu em virtude do desrespeito 
às patentes, então as sanções devem ser aplicadas também sobre as patentes do 
perdedor: “olho por olho, dente por dente”. 
Se isto é impossível ou ineficaz, poderão ser impostas em um setor diferente 
amparado pelo mesmo acordo. Considerando que as patentes estão dentro do 
acordo de propriedade intelectual (TRIPS) (que não é mais pedido no edital), então 
poderão ser aplicadas sanções contra as marcas, desenhos industriais ou direitos 
autorais, por exemplo. 
Se isto também é impossível ou ineficaz, e as circunstâncias forem suficientemente 
graves, poderão ser adotadas medidas relativas a outro acordo comercial. Pode 
ser descumprido o acordo do GATT, ou do GATS, ou qualquer acordo sobre o 
comércio de bens. 
O objetivo é reduzir ao mínimo a possibilidade de que se adotem medidas que 
gerem efeitos em setores não relacionados com a controvérsia e procurar, ao 
mesmo tempo, que as medidas sejam eficazes. 
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Portanto, se a Venezuela quebrou patentes norte-americanas de remédios, e os 
EUA venceram na OMC: 
1o) A Venezuela tem que voltar atrás e restabelecer a proteção às patentes; 
2o) Se demorar muito, a Venezuela deve oferecer uma compensação, tal 
como a redução de imposto sobre computadores ou carros; 
3o) Não compensando ou não sendo satisfatória a compensação, os EUA 
podem pedir à OMC para eles imporem sanções, que inicialmente serão a 
quebra de patentes venezuelanas (existem?). 
Se for ineficaz a quebra de patentes venezuelanas, os EUA quebram os 
direitos autorais de Hugo Chávez ou outros direitos de propriedade 
intelectual (Quero distância dos escritos deste ditador!, dizem os norte-
americanos). 
Ainda ineficaz, os EUA podem levantar barreiras para os produtos e/ou os 
serviços venezuelanos. 
 
Quando os EUA forem à OMC pedir para aplicarem sanções, eles já têm que levar 
todas as provas daquilo que é ineficaz, pois não é a OMC que escolhe a sanção, 
mas o país. Se comprovar que não deu para aplicar a sanção mais superficial, a 
OMC vai aprovar a sanção pretendida. 
Esse direito de o próprio país vencedor escolher (sob aprovação da OMC) a sanção 
que irá aplicar sobre o país perdedor é uma das coisas que fazem o sistema de 
solução de controvérsias da OMC um dos mais eficazes sistemas de todo o mundo. 
 
Na prova de ATRFB-2009, caíram duas questões envolvendo o sistema de solução 
de contrvoérsias, sendo que a de número 34 foi na prova de DIP: 
(ATRFB/2009) 34 - Sobre a Organização Mundial do Comércio (OMC) e os 
acordos firmados em seu âmbito, pode-se afirmar que: 
a) a OMC foi originada nos Acordos de Bretton Woods, juntamente com o Fundo 
Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial. 
b) o processo decisório da OMC tem sua maior instância nas conferências 
ministeriais, e baseia-se geralmente no consenso entre seus Membros. 
c) o Acordo sobre Barreiras Técnicas ao Comércio (TBT) contém as regras que 
permitem aos países Membros a aplicação de medidas antidumping, desde que 
verificada a existência de subsídios. 
d) o Acordo sobre Medidas de Investimento Relacionado a Comércio (TRIMS) 
regulamenta extensivamente a proteção ao investimento estrangeiro nos países 
Membros da OMC, pela aplicação da Cláusula do Tratamento Nacional. 
e) ao sistema de solução de controvérsias da OMC têm acesso os Membros, os 
investidores sediados em seus territórios e, em situações excepcionais, os países 
em processo de acessão. 
 
Comentários 
Letra A: errada. A OMC não foi originada junto com o FMI e com o BIRD. A OMC 
surgiu só em 1994. 
Letra B: correta, como vimos na aula anterior sobre OMC. 
Letra C: errada. O TBT não tem nada a ver com medidas antidumping, mas com 
barreiras técnicas. 
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Letra D: errada. O acordo de TRIMS protege a importação de bens e insumos para 
fins de investimento. Se o investidor no Brasil for uma empresa brasileira, a 
aquisição de bens estrangeiros é investimento brasileiro. 
Letra E: errada. O sistema da OMC só é acessível a países e desde que sejam 
membros da organização. 
 
(ATRFB/2009) 36 - Um dos mais significativos avanços advindos da 
criação da Organização Mundial de Comércio está relacionado ao 
mecanismo de solução de controvérsias comerciais. Sobre o mesmo é 
correto afirmar que: 
a) o sistema de solução de controvérsias é acionado por comum acordo entre as 
partes litigantes que somente podem fazê-lo após terem tentado chegar a acordo 
por negociações diretas. 
b) qualquer das partes tem direito a apelar das conclusões do Relatório Final 
emitido pelo Painel constituído para analisar a controvérsia, sendo a decisão do 
Órgão de Apelação irrecorrível e sua implementação obrigatória para a parte que 
tenha perdido a causa. 
c) o processo se inicia com a consulta, pelo Órgão de Solução de Controvérsias, a 
especialistas sobre a questão que dá origem ao litígio comercial, os quais, na fase 
seguinte, ouvem as alegações das partes e elaboram um parecer, que é 
encaminhado ao Painel, que o acata ou não e comunicam o resultado às partes 
litigantes. 
d) o atual Órgão de Solução de Controvérsias é originado do Acordo Geral de 
Tarifas e Comércio (GATT) de 1947, tendo sido ampliado e aperfeiçoado durante a 
Rodada Uruguai e incorporado, finalmente, à Organização Mundial do Comércio a 
partir de 1995. 
e) à diferença do procedimento de solução de controvérsias existente no marco do 
GATT, o atual mecanismo é mais flexível quanto aos prazos limites a serem 
observados em cada etapa, sendo que o parecer final de um painel prescinde de ter 
a aprovação de todos os membros para ser aplicado, facilitando assim sua efetiva 
aplicação. 
 
Comentários 
Letra A: incorreta. O sistema é acionado pelo país que se sente prejudicado por 
outro. Se o comum acordo fosse necessário, nenhuma (ou quase nenhuma) 
controvérsia seria analisada pela OMC, já que é difícil um país concordar com uma 
ação contra si mesmo. 
Letra B: correta. O direito à apelação é previsto no sistema. A decisão é irrecorrível 
e, portanto, de cumprimento obrigatório, pois não existe instância superior à do 
Órgão de Apelação. 
Letra C: incorreta. O processo se inicia com as negociações feitas diretamente entre 
os países envolvidos na controvérsia. 
Letra D: incorreta. O Órgão de Solução de Controvérsias é o Conselho Geral, que é 
o órgão executivo da OMC, nascido junto com a organização, em 1995. 
Letra E: incorreta. O atual mecanismo é mais rígido quanto aos prazos, sendo estes 
definidos para cada etapa do sistema. O antigo sistema, previsto apenas nos 
artigos XXII e XXIII do GATT/1947, não previa nenhum prazo para as etapas de 
solução de uma controvérsia. Erro presente na letra E. 
Em relação ao parecer final do painel, é correto dizer que prescinde da aprovação 
de todos os membros. Basta que um país o aprove para que o parecer do painel 
seja mantido. 
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Na prova de Analista de Comércio Exterior, aplicada pelo CESPE em 2008, caíram 
também duas questões sobre o tema: 
(ACE/2008) O sistema multilateral de comércio, fundamentado nos 
princípios do GATT e subseqüentemente da OMC, rege o comércio entre 
países. Acerca desse sistema, julgue os itens a seguir. 
168 Ações retaliatórias dos países-membros em resposta a barreiras 
comerciais consideradas injustas são permitidas pela OMC desde que por 
ela sancionadas. 
Resp.: item CORRETO. Uma sanção, para ser aplicada pelo país vencedor, precisa 
da anuência da OMC. 
 
170 As atribuições do órgão de solução de controvérsias, no âmbito da 
OMC, incluem a criação de painéis, a adoçãodo relatório do painel, o 
acompanhamento da implementação das recomendações sugeridas pelo 
relatório do painel, bem como a autorização da imposição de sanções aos 
Estados que não se adequarem ao relatório. 
Resp.: item CORRETO. São tarefas para o órgão que soluciona controvérsias. 
 
Acordo Sobre Regras de Origem 
 
O Acordo sobre Regras de Origem é um acordo internacional, administrado pela 
OMC, com dois objetivos: evitar o uso protecionista das regras de origem e 
harmonizar as regras de origem em nível mundial. Podemos ver estes objetivos no 
preâmbulo do acordo internacional: 
“Os Membros, ... 
Reconhecendo que a existência de regras de origem claras e previsíveis 
e sua aplicação facilitam o fluxo do comércio internacional; 
Desejosos de tomar medidas no sentido de que as regras de origem não 
criem obstáculos desnecessários ao comércio; [ISTO É PARA EVITAR O 
PROTECIONISMO] 
... 
Reconhecendo ser desejável que as leis, regulamentos e práticas relativos às 
regras de origem sejam transparentes; 
Desejosos de tomar medidas no sentido de que as regras de origem sejam 
elaboradas e aplicadas de forma imparcial, transparente, previsível, 
consistente e neutra; 
... 
Desejosos de harmonizar e tornar claras as regras de origem; 
[OBJETIVO DE HARMONIZAÇÃO DE REGRAS DE ORIGEM] 
Acordam o seguinte: 
...” 
 
Sobre o uso protecionista das regras de origem 
De que forma as regras de origem criariam “obstáculos desnecessários ao 
comércio”? 
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Imaginemos que o Brasil tenha proibido as importações de bois do Paraguai por 
causa do surgimento de focos de doença naquele país. Como vimos, medidas 
protecionistas desse tipo são legítimas. 
Digamos que os bois nascidos e criados na Argentina tenham comido ração 
paraguaia. Isto significa que esses bois são também paraguaios? E se esses bois na 
Argentina tiverem pais paraguaios, ele será considerado paraguaio também? E se 
tiver pastado há três anos atrás no Paraguai, será considerado paraguaio? 
Note que a imaginação humana vai longe... Se o Brasil quisesse restringir a 
importação de bois paraguaios, argentinos e do mundo todo, era só criar nas 
normas brasileiras regras de origem arbitrárias, como as previstas no artigo 2º: 
“Lei nº NN. 
Art. 1º - Considerando a existência de focos de febre aftosa, fica proibida a 
importação de bois do Paraguai. 
Art. 2º - Consideram-se paraguaios os bois que: 
- tenham passado de avião por cima do território paraguaio; 
- tenham comido ração paraguaia; 
- tenham pai e/ou mãe paraguaios; 
- tenham sido vacinados com vacina paraguaia; 
- tenham primos paraguaios; 
- tenham sido, alguma vez na vida, atendidos por um veterinário 
paraguaio; 
(...)” 
 
rsrsrsrsrs Quer dizer que se o boi europeu tiver sido atendido por um veterinário 
paraguaio, o boi será considerado paraguaio também? rsrsrsrsrsrs 
Você está rindo? Não é para rir não. Regras de origem absurdas assim são mais 
comuns do que se pensa, apesar de eu reconhecer que os exemplos acima são um 
pouco exagerados (rs). Se o Brasil quiser impor barreiras aos bois paraguaios, tudo 
bem. Mas é um absurdo chamar de paraguaios os bois que cumprirem alguma das 
condições do art. 2º acima. 
Apesar dos exemplos exagerados, a prática mostra que muitos países usavam as 
regras de origem com intuito meramente protecionista. Com a manipulação de 
regras de origem, os países conseguiam restringir bastante as importações, 
aproveitando-se de situações para as quais o protecionismo era tolerado, como no 
nosso exemplo dos focos de doença no Paraguai. 
 
Sobre a harmonização das regras de origem 
O GATT/1947 não dispôs sobre regras de origem. Por conseqüência, cada país foi 
criando suas próprias regras. O problema é que os exportadores acabam tendo que 
conhecer as regras de cada país para o qual exportam. 
Consideremos, por exemplo, um bem produzido pelos países A, B e C. O país A 
industrializa o produto e o vende ao país B por US$ 150,00. O país B recebe o bem, 
industrializa-o e o vende ao país C por US$ 200,00. O país C o industrializa e 
exporta por US$ 250,00. Caso o destino do bem seja a Inglaterra e este país 
identifique a origem como sendo o país que promove a última etapa de 
industrialização, então o bem será considerado originário do país C. Por outro lado, 
se o destino do produto for o Canadá e este considerar o país de origem como 
sendo aquele que tiver a maior participação percentual no bem importado, então o 
país A, com 60% (=150/250) de participação, será considerado o país de origem. 
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A disparidade das regras nacionais de origem prejudicava o comércio mundial, pois 
um produtor alemão, ou de qualquer outro país, sempre se preocupava: “Como 
será que meu produto será tratado pelo governo do país importador? Será que o 
produto que estou vendendo será considerado de origem alemã pela Inglaterra? E 
pelos EUA? E pelo Canadá?” Os exportadores do mundo inteiro, desejando auferir 
benefícios ou se precaver de limitações impostas em função da origem dos bens, 
precisavam conhecer as regras de origem de todos os países para os quais 
exportavam. E esse trabalho exaustivo diminuía, ou podia diminuir, o ânimo de 
potenciais exportadores. 
Quando, na Rodada Uruguai, os países negociadores montaram o Acordo sobre 
Regras de Origem, visaram padronizar as regras em nível mundial, facilitando o 
comércio e acabando com as regras de origem camufladamente protecionistas. 
Se a harmonização estivesse implementada, quase o mundo inteiro seguiria regras 
como: 
- “Os animais são considerados originários dos países onde tenham nascido 
ou vivido nos últimos três anos.” 
- “As máquinas são consideradas originárias dos países onde tenham 
recebido a sua forma final.” 
- “Os automóveis são considerados originários dos países onde tenham sido 
montados, pelo menos, o motor, o chassis e a carroceria.” 
 
Infelizmente, a criação de regras de origem harmonizadas ainda não aconteceu. O 
prazo para o trabalho de harmonização era de três anos, ou seja, a montagem de 
regras harmonizadas deveria estar concluída em 1998, mas temos que esperar 
sentados... Por isso, atualmente existem apenas as regras nacionais e regionais de 
origem, não as regras universais. 
Ao trabalharem na criação das regras harmonizadas, tinha que ser observado o 
programa definido no artigo 9º do acordo: 
 
“HARMONIZAÇÃO DE REGRAS DE ORIGEM 
Artigo 9 - Objetivos e Princípios 
1. Visando harmonizar regras de origem e, inter alia, criar um ambiente 
mais previsível na condução do comércio mundial, a Conferência Ministerial 
desenvolverá o programa de trabalho descrito adiante juntamente com o 
CCA, com base nos seguintes princípios: 
(a) ... 
(b) as regras de origem deverão prever que o país a ser identificado 
como a origem de uma determinada mercadoria seja o país onde a 
mercadoria em questão tenha sido produzida em sua totalidade ou, 
quando mais de um país estiver envolvido na produção da 
mercadoria, o país onde a última transformação substancial 
tenha sido efetuada; 
[Explicação: 
quando o trabalho de harmonização estiver concluído, deverão 
estar presentes duas regras obrigatórias: 
1ª) “é país de origem aquele que produzir um bem em 
sua totalidade” 
2ª) “é país de origem do produto aquele que promover 
a última etapa de industrialização significativa sobre o 
bem, excluindo-se as meras montagens, pinturas, ...”] 
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(c) as regras de origem deverão ser objetivas, compreensíveis e 
previsíveis; 
(d) independentemente da medida ou instrumento ao qualpossam 
estar vinculadas, as regras de origem não deverão ser utilizadas 
como instrumentos para a consecução direta ou indireta de objetivos 
comerciais. Não deverão, elas mesmas, criar efeitos restritivos, 
distorcivos ou desorganizadores do comércio internacional. 
Elas não implicarão exigências excessivamente rigorosas e não 
exigirão a observância de condições não relacionadas à fabricação ou 
ao processamento como um pré-requisito para a determinação do 
país de origem. No entanto, custos não diretamente relacionados à 
fabricação ou ao processamento poderão ser incluídos para fins de 
aplicação de um critério de percentagem ad valorem; 
[Explicação: 
quando o trabalho de harmonização estiver concluído, 
provavelmente terão sido criadas regras com critério de 
percentagem como: “é país de origem do produto XYZ aquele 
que tiver participação em mais de 60% do valor final do bem.” 
Para fins de cálculo para ver se o percentual foi atingido, 
podem ser considerados, além dos custos de produção, 
valores como as comissões de venda ou as despesas de 
comercialização, valores não diretamente relacionados à 
fabricação do bem.] 
(e) as regras de origem deverão ser administradas de forma 
consistente, uniforme, imparcial e razoável; 
(f) as regras de origem deverão ser coerentes; 
(g) as regras de origem deverão basear-se numa regra positiva. As 
regras negativas poderão ser usadas para fins de esclarecer uma 
regra positiva. 
 [Explicação: 
As regras harmonizadas devem ser escritas de forma positiva, 
como, por exemplo: “É país de origem aquele que ...” 
As regras não devem ser escritas de forma negativa, pois 
faltaria precisão e objetividade. Por exemplo, não deveria ser 
criada uma regra do tipo: “O país que fizer isso com a 
mercadoria NÃO é o país de origem.” 
Regras negativas indicam o país que não é o de origem, e 
regras de origem devem indicar claramente quando um país é 
o de origem da mercadoria. 
Mas as regras de origem têm sua utilidade. Consta no artigo 
que elas podem ser usadas com função auxiliar.]” 
 
Regras de origem Preferenciais vs. Não-preferenciais 
 
A origem de um produto pode ser identificada para uma das três intenções: 
1) A de se reconhecer um tratamento tributário mais benéfico do que o 
dado às mercadorias dos outros países. Por exemplo, no Mercosul, as 
regras de origem foram criadas para que, ao se reconhecer o Mercosul 
como origem do produto, não haja cobrança de imposto de importação. 
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Essas regras que, uma vez atendidas, implicam a concessão de uma 
preferência tarifária são chamadas regras preferenciais; 
2) Para simplesmente identificar a origem, não para dar um tratamento 
mais benéfico, mas apenas para registrar corretamente de onde provêm 
as mercadorias importadas pelo país. Desta forma, o Brasil sabe, por 
exemplo, de onde vêm os automóveis que importamos e consegue ter 
uma visão mais precisa do fluxo comercial com o resto do mundo; OU 
3) Para onerar mais a mercadoria. Por exemplo, se a mercadoria provêm de 
um país já identificado como um que conceda subsídios à exportação, o 
Brasil poderá, depois do processo competente, cobrar uma medida 
compensatória sobre os produtos considerados originários daquele país. 
 
Nos dois últimos casos, a regra de origem é chamada não-preferencial, pois não 
há o intuito de se conceder uma preferência tarifária. 
O Acordo sobre Regras de Origem busca a harmonização apenas das regras de 
origem não preferenciais, pois tais regras poderiam ser usadas com intuito 
protecionista, como vimos no exemplo dos bois paraguaios. 
Já as regras preferenciais, como são voltadas à redução de tributos, não camuflam 
nenhum tipo de protecionismo. As regras preferenciais não precisam ser 
controladas ou limitadas. Veja, por exemplo, aquelas regras de origem sobre os 
bois. Se aquelas regras (“tomar vacina paraguaia”, “ser atendido por um 
veterinário paraguaio”, ...) fossem regras preferenciais, ou seja, para se dar um 
benefício tributário ao boi paraguaio, algum produtor paraguaio iria reclamar? Claro 
que não. Afinal, o atendimento a qualquer daquelas condições levaria à redução de 
tributos. 
Ainda que não se trabalhe pela harmonização das regras de origem preferenciais, 
elas devem obedecer aos mesmos princípios estabelecidos no Acordo, ou seja, têm 
que ser transparentes, imparciais, previsíveis, coerentes, ... 
 
Em 2009, caiu a seguinte questão: 
(ATRFB/2009) 39 - O Acordo sobre Regras de Origem compôs o pacote de 
acordos fechados no marco da Rodada Uruguai e integra, 
conseqüentemente, o marco normativo da Organização Mundial do 
Comércio. Sobre o mesmo, é correto afirmar que: 
a) o Acordo estabelece os princípios e as condições segundo as quais as normas de 
origem possam ser legitimamente empregadas como instrumentos para a 
consecução de objetivos comerciais e estabelece como objetivo tornar uniformes os 
critérios empregados pelos países individualmente para a determinação da 
nacionalidade de um bem importado. 
b) o Acordo, visando a efetiva implementação dos compromissos e obrigações nele 
previstos, estabeleceu um prazo de três anos para que os países membros 
harmonizem entre si as regras de origem que aplicam, instaurando, para coordenar 
essa tarefa, o Comitê de Regras de Origem, vinculado diretamente ao Conselho 
para o Comércio de Bens. 
c) o Acordo abrange primordialmente as regras de origem empregadas em 
instrumentos preferenciais, como acordos de livre comércio e o Sistema Geral de 
Preferências Comerciais, não alcançando instrumentos comerciais não preferenciais 
como salvaguardas, direitos antidumping e acordos de compras governamentais. 
d) a supervisão da aplicação do Acordo pelos países parte é feita diretamente pelo 
Conselho de Comércio de Bens da Organização Mundial do Comércio, no que é 
assistido por um Comitê Técnico constituído especificamente para tal fim. 
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e) são objetivos essenciais do Acordo harmonizar as regras de origem e criar 
condições para que sua aplicação seja feita de forma imparcial, transparente e 
previsível e para que as mesmas não representem obstáculos desnecessários ao 
comércio. 
 
Comentários 
Letra A: incorreta. O objetivo do Acordo sobre Regras de Origem é harmonizar as 
regras de origem usadas pelos membros da OMC. O erro na alternativa está em 
afirmar que as regras de origem poderiam ser utilizadas para a consecução de 
objetivos comerciais. Isto vai contra o disposto no artigo 9o do Acordo: 
“Artigo 9 - Objetivos e Princípios 
... 
(d) independentemente da medida ou instrumento ao qual possam estar 
vinculadas, as regras de origem não deverão ser utilizadas como 
instrumentos para a consecução direta ou indireta de objetivos 
comerciais.. 
... 
Programa de Trabalho 
2. (a) O programa de trabalho será iniciado na maior brevidade possível 
após a entrada em vigor do Acordo Constitutivo da OMC e será concluído 
três anos após o seu início. 
(b) O Comitê e o Comitê Técnico previstos no Artigo 4 serão os órgãos 
adequados para desenvolver esse trabalho. 
...” 
Letra B: incorreta. Conforme disposto no § 2o transcrito, o Acordo sobre Regras de 
Origem previu um prazo de 3 anos para que o Comitê sobre Regras de Origem 
executasse o programa de trabalho para harmonização das regras. Em relação aos 
países, não foi definido nenhum prazo de harmonização de regras de origem. 
Letra C: incorreta. O Acordo sobre Regras de Origem busca a harmonização das 
regras de origem não-preferenciais, as quais poderiam, na prática, ser usadas para 
restringir o comércio: 
“Artigo 1- Regras de Origem 
1. Para os fins das Partes I a IV deste Acordo, as regras de origem

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