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CONCEPÇÃO DE OBRAS DE FUNDAÇÕES ELEMENTOS NECESSÁRIOS E CRITÉRIOS DE PROJETO ELEMENTOS NECESSÁRIOS PARA O PROJETO Os elementos necessários para o desenvolvimento de um projeto de fundações são: 1 - TOPOGRAFIA DA ÁREA - Levantamento topográfico (planialtimétrico) - Dados sobre taludes e encostas no terreno (ou que possam, no caso de acidente, atingir o terreno). - Dados sobre erosões (ou evoluções preocupantes na geomorfologia) 2 - DADOS GEOLÓGICOS-GEOTÉCNICOS - Investigação do subsolo (preferencialmente em 2 etapas: preliminar e complementar) - Outros dados geológicos e geotécnicos (mapas, fotos aéreas e levantamentos aerofotogramétricos, artigos sobre experiências anteriores na área etc.). 3 - DADOS DA ESTRUTURA A CONSTRUIR - Tipo e uso que terá a nova obra - Sistema estrutural - Cargas (ações nas fundações) 4 - DADOS SOBRE CONSTRUÇÕES VIZINHAS - Tipo de estrutura e fundações - Número de pavimentos, carga média por pavimento. - Desempenho das fundações - Existência de subsolo - Possíveis consequências de escavações e vibrações provocadas pela nova obra Os conjuntos de dados 1, 2 e 4 devem ser cuidadosamente avaliados pelo projetista em uma visita ao local de construção. No caso de fundações de pontes, dados sobre o regime do rio são importantes para avaliação de possíveis erosões e escolha do método executivo. Nas zonas urbanas, as condições dos vizinhos constituem, frequentemente, o fator decisivo na definição da solução de fundação. E quando fundações profundas ou escoramentos de subsolos são previstos, o projetista deve ter uma ideia da disponibilidade de equipamentos na região da obra. AÇÕES NAS FUNDAÇÕES As solicitações a que uma estrutura está sujeita podem ser classificadas de diferentes maneiras. No exterior é comum separá-las Em 2 grandes grupos: Cargas vivas, separadas em: - cargas operacionais (ocupação, armazenamento, passagem de veículos, frenagens etc.). - cargas ambientais (ventos, correntes etc.). - cargas acidentais (colisão, explosão, fogo etc.). Cargas mortas ou permanentes - peso próprio, empuxo de terras e água, etc. Já no Brasil, a norma NBR 8681/84 ("Ações e Segurança nas Estruturas") classifica as ações nas estruturas em: Ações permanentes: as que ocorrem com valores constantes durante praticamente toda a vida da obra (peso próprio da construção e de equipamentos fixos, empuxos, esforços devidos a recalques de apoios); Ações variáveis: as que ocorrem com valores que apresentam variações significativas em torno da média (ações devidas ao uso da obra, tipicamente); Ações excepcionais: as que têm duração extremamente curta e muito baixa probabilidade de ocorrência durante a vida da obra, mas que precisam ser consideradas no projeto de determinadas estruturas (explosões, colisões, incêndios, enchentes, sismos). A norma NBR 8681/84 estabelece critérios para combinações destas ações na verificação dos estados-limites de uma estrutura (assim chamados os estados a partir dos quais a estrutura apresenta desempenho inadequado às finalidades da obra): Estados-limites últimos (associados a colapsos parciais ou total da obra); Estados-limites de utilização (quando ocorrem deformações, fissuras, etc. que comprometem o uso da obra). REQUISITOS DE UM PROJETO DE FUNDAÇÃO Os requisitos básicos a que um projeto de fundações deverá atender são: - Deformações aceitáveis sob as condições de trabalho; - Segurança adequada ao colapso do solo de fundação (estabilidade "externa”), - Segurança adequada ao colapso dos elementos estruturais (estabilidade "interna"). Consequências do não atendimento a estes requisitos estão mostradas na Figura a seguir: Figura – (a) Deformações excessivas, (b) colapso do solo e (c) colapsos dos elementos estruturais, resultantes de projetos deficientes. O atendimento ao requisito (1) corresponde à verificação de um estado limite de utilização de que trata a norma NBR 8681/84. O atendimento aos requisitos (2) e (3) corresponde à verificação de estados-limites últimos. Outros requisitos específicos de certos tipos de obra são: - Segurança adequada ao tombamento e deslizamento (também estabilidade "externa"), a ser verificada nos casos em que forças horizontais elevadas atuam em elementos de fundação superficial; - Níveis de vibração compatíveis com o uso da obra, a serem verificados nos casos de cargas dinâmicas. ALTERNATIVAS DE FUNDAÇÃO As fundações são convencionalmente separadas em 2 grandes grupos: - Fundações superficiais (ou "diretas") - Fundações profundas. A distinção entre estes dois tipos é feita segundo o critério (arbitrário) de que uma fundação profunda é aquela cujo mecanismo de ruptura de base não atinge a superfície do terreno. Como os mecanismos de ruptura de base atingem, acima da mesma, até 2 vezes sua menor dimensão, a norma NBR 6122 estabeleceu que fundações profundas são aquelas cujas bases estão implantadas a mais de 2 vezes sua menor dimensão, e a pelo menos 3 m de profundidade. FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS Quanto aos tipos de fundações superficiais há: Bloco - elemento de fundação de concreto simples, dimensionado de maneira que as tensões de tração nele produzidas possam ser resistidas pelo concreto, sem necessidade de armadura; Sapata - elemento de fundação de concreto armado, de altura menor que o bloco, utilizando armadura para resistir aos esforços de tração; Viga de fundação - elemento de fundação que recebe pilares alinhados, geralmente de concreto armado; pode ter seção transversa, tipo bloco (sem armadura transversal), quando são frequentemente chamadas de baldrames, ou tipo sapata, armadas; Grelha - elemento de fundação constituído por um conjunto de vigas que se cruzam nos pilares; Sapata associada - elemento de fundação que recebe parle dos pilares da obra, o que a difere do radier, sendo que estes pilares não são alinhados, o que a difere da viga de fundação; Radier - elemento de fundação que recebe todos os pilares da obra. Figura - Principais tipos de fundação superficial: (a) bloco, (b) sapata, (c) viga e (d) radier. FUNDAÇÕES PROFUNDAS Já as fundações profundas são separadas em três tipos principais: Estaca - elemento de fundação profunda executado com auxílio de ferramentas ou equipamentos, execução esta que pode ser por cravação a percussão, prensagem, vibração ou por escavação, ou, ainda, de forma mista, envolvendo mais de um destes processos; Tubulão - elemento de fundação profunda de forma cilíndrica, em que, pelo menos na sua fase final de execução, há a descida de operário (o tubulão não difere da estaca por suas dimensões, mas pelo processo executivo, que envolve a descida de operário); Caixão - elemento de fundação profunda de forma prismática, concretado na superfície e instalado por escavação interna. Figura - Alguns tipos de fundações profundas: estacas (a) metálicas, (b) pré- moldadas de concreto vibrado, (c) pré-moldada de concreto centrifugado, (d) tipo Franki e tipo Strauss, (e) tipo raiz. (f) escavadas; tubulões (g) a céu aberto, sem revestimento, (h) com revestimento de concreto e (i) com revestimento de aço. FUNDAÇÕES MISTAS São fundações mistas aquelas que associam fundações superficiais e profundas:Sapatas sobre estacas - associação de sapata com uma estaca (chamada de "estaca T" ou "estapata", dependendo se há contato entre a estaca e a sapata ou não); Radiers estaqueados — radiers sobre estacas (ou tubulões), que transfere parte das cargas que recebe por tensões de contato em sua base e parte por atrito lateral e carga de ponta das estacas. Figura - Alguns tipos de fundação mista: (a) estaca ligada a sapata ("estaca T), (b) estaca abaixo de sapata ("estapata"), (c) radier sobre estacas e (d) radier sobre tubulões. ESCOLHA DA ALTERNATIVA DE FUNDAÇÃO - CRITÉRIOS GERAIS Algumas características da obra podem impor certo tipo de fundação. Este é o caso, por exemplo, de uma obra cujo subsolo é constituído por argila mole até uma profundidade considerável, como mostrado na figura (a) a seguir, em que uma fundação em estacas é a solução que se impõe. Quanto ao tipo de estaca, haverá, em geral, algumas opções a examinar. Outras obras podem permitir uma variedade de soluções. Nesse caso é interessante proceder-se a um estudo de alternativas e fazer a escolha com base em: - menor custo - menor prazo de execução Neste estudo de alternativas pode-se incluir mais de um tipo de fundação superficial - ou mais de um nível de implantação - e mais de um tipo de fundação profunda. Na avaliação de custos e prazos é importante considerar escavações e reaterros, como mostrado na figura (b-d) a seguir. Na figura (c) abaixo estão mostradas duas possibilidades de fundação superficial, sendo que aquela implantada a maior profundidade tem menor volume de concreto armado (devido a uma maior tensão de trabalho), mas maior volume de terra a movimentar e, caso ultrapasse o nível d’água, necessidade de rebaixamento do lençol d’água. A alternativa em estacas apresentada na figura (d), por outro lado, pode apresentar menor custo global se considerarmos o menor volume dos blocos de coroamento e o menor movimento de terra. Assim, é válido se estudar mais de uma alternativa e comparar custos e prazos de execução. FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS As sapatas e os blocos são os elementos de fundação mais simples e, quando é possível sua adoção, os mais econômicos. Os blocos são mais econômicos que as sapatas para cargas reduzidas, quando o maior consumo de concreto é pequeno e justifica a eliminação da armação. Não há, porém, qualquer restrição ao seu emprego para cargas elevadas. Uma fundação associada (viga, sapata associada ou radier) é adotada quando: - as áreas das sapatas imaginadas para os pilares se aproximam umas das outras ou mesmo se interpenetram (em consequência de cargas elevadas nos pilares e/ou de tensões de trabalho baixas); - se deseja uniformizar os recalques (por meio de uma fundação associada). Quando uma ou as duas condições acima são satisfeitas em parte da obra, pode-se adotar a sapata associada nesta área e fundações isoladas no restante da obra. Quando são satisfeitas em toda a área da obra (ou por opção do projetista) pode-se adotar o radier. Quando a área total de fundação ultrapassa metade da área da construção, o radier é indicado. Quanto à forma ou sistema estrutural, os radiers são projetados segundo 4 tipos principais: - radiers lisos - radiers com pedestais ou cogumelos - radiers nervurados - radiers em caixão Os tipos estão listados em ordem crescente de rigidez relativa. Há ainda os radiers em abóbadas invertidas, porém pouco comuns no Brasil. Figura - Situações encontradas no estudo de alternativas para fundação Figura - Principais tipos de radier: (a) liso, (b) com pedestais ou cogumelos, (c) com vigamento e (d) em caixão. FUNDAÇÕES PROFUNDAS Existe hoje uma variedade muito grande de estacas para fundações. Com certa frequência um novo tipo de estaca é introduzido no mercado e a técnica de execução de estacas está cm permanente evolução. A execução de estacas é uma atividade especializada da Engenharia, e o projetista precisa conhecer as firmas executoras e seus serviços para projetar fundações dentro das linhas de trabalho destas firmas. A tabela abaixo apresenta uma classificação dos tipos mais comuns de estacas, enfatizando o método executivo, no que diz respeito ao seu efeito no solo. Tabela - Classificação dos principais tipos de estacas pelo método executivo O Apêndice 2 apresenta uma relação dos tipos mais comuns de estacas e suas cargas de trabalho usuais, que pode servir para estudo de alternativas. Na consulta a este apêndice é preciso ter em mente os seguintes pontos: a) as cargas ali indicadas consideram apenas o aspecto estrutural da estaca (estas cargas poderão não ser atingidas em função de características do terreno); b) essas cargas não são específicas de nenhuma firma executora, mas representam uma prática comum; para efeito de projeto executivo, as cargas devem ser verificadas junto às firmas executoras. ESCOLHA DO TIPO DE ESTACA Na escolha do tipo de estaca é preciso levar em conta os seguintes aspectos: Esforços nas fundações, procurando distinguir: - nível das cargas nos pilares; - ocorrência de outros esforços além dos de compressão (tração e flexão). Características do subsolo, em particular quanto à ocorrência de: - argilas muito moles, dificultando a execução de estacas de concreto moldadas in- situ; - solos muito resistentes (compactos ou com pedregulhos) que devem ser atravessados, dificultando ou mesmo impedindo a cravação de estacas de concreto pré-moldadas; - solos com matacões, dificultando ou mesmo impedindo o emprego de estacas cravadas de qualquer tipo; - nível do lençol d'água elevado, dificultando a execução de estacas de concreto moldadas in-situ sem revestimento ou uso de lama; - aterros recentes (em processo de adensamento) sobre camadas moles, indicando a possibilidade de atrito negativo; neste caso, estacas mais lisas ou com tratamento betuminoso são mais indicadas. Características do local da obra, em particular: - terrenos acidentados, dificultando o acesso de equipamentos pesados (bate- estacas, etc.); - local com obstrução na altura, como telhados e lajes, dificultando o acesso de equipamentos altos; - obra muito distante de um grande centro, encarecendo o transporte de equipamento pesado; - ocorrência de lâmina d'água. Características das construções vizinhas, em particular quanto a: - tipo e profundidade das fundações; - existência de subsolos; - sensibilidade a vibrações; - danos já existentes. Esses são alguns aspectos a considerar. Entretanto, não há regras para escolha do tipo de estaca, e vale muito a experiência local. CONCEPÇÃO DE PROJETO E CONDICIONANTES ESPECIAIS Conforme discutido no item anterior, é interessante estudar mais de uma alternativa de fundação e comparar custos e prazos de execução. Entretanto, a obra pode apresentar condicionantes especiais que influenciarão desde o início a concepção do projeto. Estes condicionantes especiais podem ser, por exemplo, a existência de pilares junto às divisas ou de pavimentos de subsolo no prédio. Passamos, nos próximos itens, a discutir a concepção ou escolha de solução de fundação, inicialmente quando não há condicionantes especiais e em seguida quando os há. EDIFÍCIOS SEM SUBSOLO E AFASTADOS DAS DIVISAS No caso de edifícios sem subsolo e afastados das divisas, não há condicionantes especiais e o projetista precisa considerar, apenas, os critérios gerais mencionadosanteriormente. Na figura a seguir estão mostradas alternativas de fundação para um prédio sem subsolo e afastado das divisas. A primeira alternativa é constituída por fundações superficiais isoladas (blocos ou sapatas) indicando-se duas possibilidades de profundidade de implantação. A segunda alternativa é constituída por fundação superficial combinada (radier, por exemplo), também com duas possibilidades de implantação. Na terceira, são adotadas fundações profundas (estacas ou tubulões). No caso de escolha de fundação superficial (sapatas ou radier), as escavações para sua implantação podem ser taludadas, sem necessidade de escoramento. No caso de fundação profunda, tem-se uma maior liberdade de escolha do tipo a ser executado. Figura - Edifícios sem subsolo e afastados das divisas EDIFÍCIOS COM PILARES NA DIVISA No caso de edifícios sem subsolo, mas que se estendem até as divisas, é necessário um tratamento especial dos pilares junto às divisas uma vez que ali o elemento de fundação (sapata ou estaca) não poderá ter seu centro de gravidade coincidente com o do pilar. Nestes pilares há que se prever vigas de equilíbrio que os ligarão a pilares internos próximos. A fundação associada que resulta tem carregamento centrado em relação aos elementos de fundação. Na figura abaixo estão mostradas alternativas de fundação para um prédio sem subsolo e que se estende às divisas. Na primeira alternativa, constituída por fundações superficiais isoladas (blocos ou sapatas), estão indicadas as vigas de equilíbrio. Quando as duas sapatas que serão ligadas pela viga de equilíbrio se aproximam muito, é preferível adotar uma fundação combinada (sapata associada ou viga de fundação). O caso extremo será a fundação em radier, em que não há necessidade da viga de equilíbrio (trata-se de uma fundação capaz de absorver momentos). Na terceira alternativa, em fundações profundas (estacas ou tubulões), também são necessárias as vigas de equilíbrio. No caso de fundação superficial (sapatas ou radier), as escavações próximas às divisas precisam ser escoradas. No caso de fundação profunda, tem-se que considerar quando da escolha do tipo, as passíveis consequências do processo executivo. Figura - Edifícios com pilares na divisa EDIFÍCIOS EM ZONA URBANA E COM SUBSOLOS No caso de edifícios em zona urbana com pavimentos de subsolo, há que se prever um sistema de escoramento da escavação para execução destes pavimentos. Estes pavimentos geralmente se estendem até as divisas e vamos supor que os vizinhos já estejam construídos. Inicialmente tem-se que escolher (i) o sistema de escoramento e (ii) o método executivo. SISTEMA DE ESCORAMENTO Na figura abaixo estão mostrados, do lado esquerdo, os sistemas de escoramento vertical (paredes) do tipo continuo que são: - paredes-diafragmas; - paredes de estacas-pranchas de concreto (inviável se vizinho já construído). - paredes de estacas-pranchas de aço (pouco utilizadas devido ao custo elevado); - paredes de estacas justapostas (ou tangentes); - paredes de estacas secantes. Do lado direito da figura estão mostrados escoramentos verticais do tipo descontínuo, que são: - parede de perfis e pranchões; - paredes de estacas escavadas ("estacões") com concreto projetado ou colunas jet- grout entre elas. Figura - Sistemas de escoramento vertical (paredes) de subsolos Os sistemas de escoramento horizontal são basicamente três: - tirantes ou ancoragens; - estroncas (em aço ou madeira); - lajes da estrutura. Na figura (a) a seguir estão mostrados os dois primeiros tipos e na figura (b) aparecem lajes da estrutura servindo de apoio para as paredes. Figura - Método convencional de execução de subsolos MÉTODOS EXECUTIVOS Quanto ao método executivo há basicamente dois tipos: - método direto ou convencional; - método invertido. Na figura (a) acima está mostrada a primeira etapa da obra executada por método convencional, em que a escavação avança até a cota final, com o escoramento horizontal promovido por tirantes ou estroncas. Numa segunda etapa (figura b acima), a estrutura do prédio começa a ser executada, de baixo para cima, e os escoramentos provisórios passam a ser substituídos pelas lajes da estrutura. Na figura (a) abaixo está mostrada a primeira etapa da obra executada por método invertido, em que é executada uma laje para permitir a escavação até a cota de outra laje num nível abaixo. Na figura (b) também abaixo está mostrada a fase final de escavação, quando será executada a laje de fundo. Neste tipo de execução não há necessidade de escoramentos horizontais provisórios (estroncas ou tirantes), mas sim de apoios provisórios para as lajes, que são normalmente providos por estacas. As estacas mais comumente utilizadas são as metálicas (perfis de aço), as raízes e as escavadas. Figura - Método invertido de execução de subsolos SITUAÇÕES ESPECIAIS Há algumas situações especiais a considerar quando se tem um subsolo que se estende até as divisas do terreno: i) o prédio tem sua parte acima do terreno afastada das divisas ("lâmina"); ii) os vizinhos têm fundações junto às divisas, superficiais e extremamente sensíveis. No primeiro caso as paredes de contenção podem servir de fundação para os pilares (ou "montantes") das lajes dos subsolos e do térreo, geralmente sem excentricidades maiores e, portanto, sem vigas de equilíbrio (Figura a - abaixo). No segundo caso, pode-se afastar das divisas as paredes do subsolo, de maneira a executá-lo de forma segura, corrigindo no nível do térreo a excentricidade dos pilares da divisa através de vigas de transição (Figura b - abaixo). Figura - Situações especiais: (a) lâmina afastada das divisas e (b) subsolo com afastamento das divisas SISTEMAS DE ESCORAMENTO COMBINADOS A FUNDAÇÕES O sistema de escoramento pode ser combinado às fundações de pilares de divisa. Exemplos clássicos são: 1. Perfis metálicos de fundação de pilares e que servem para contenção da escavação pelo sistema de perfis e pranchões; 2. Paredes-diafragmas que servem de fundação e de contenção; 3. Paredes de estacas justapostas que servem de fundação e de contenção; Nestes casos, os elementos sob (ou junto) dos pilares poderão ser, eventualmente, mais profundos. LAJE DE FUNDO DE SUBSOLO Uma questão importante nos prédios com subsolos que ultrapassam o nível d'água é a laje de fundo. Normalmente esta laje é dimensionada para a subpressão (figura a abaixo). Há, em casos especiais, entretanto, a alternativa de se manter um sistema permanente de alívio de pressões de água (figura b abaixo). FUNDAÇÕES COMPENSADAS São chamadas fundações compensadas aquelas que tiram proveito do alívio de pressões no solo decorrente da escavação de subsolos. Alguns projetistas utilizam em seus cálculos de recalques uma pressão liquida igual à pressão aplicada pela fundação menos a pressão de terra escavada. É discutível se este alívio pode ser considerado integralmente. No método de cálculo de recalques de fundações em areias de Burland e Barbidge (1985), por exemplo, o alívio a considerar é de 2/3 da pressão de terra escavada. De qualquer forma, a compressibilidade do solo que fica abaixo de uma escavação é bastante reduzida uma vez que se trata de material sobre adensado (além de um eventual sobreadensamento natural).Figura - Soluções para a laje de fundo de subsolos EDIFÍCIOS EM ENCOSTAS O grande problema da fundação de edifícios em encostas, na realidade, é o da estabilidade da encosta onde ele será construído. Se a encosta for estável, as questões que advém de uma superfície de terreno inclinada são simples de se resolver. A figura a seguir mostra duas destas questões: (i) a de que no cálculo da capacidade de carga a superfície inclinada do terreno precisa ser considerada e (ii) a de que sapatas vizinhas não devem ser implantadas em níveis muito diferentes. No primeiro caso, as soluções mais gerais para capacidade de carga de sapatas, como a de Vesic (1975), incluem um fator redutor que é função da inclinação do terreno. No segundo caso, pode-se adotar uma regra simples, como aquela mostrada na figura abaixo. Outra questão, no caso de fundações em encostas, é a da profundidade mínima de implantação. Nos terrenos planos, as fundações precisam ser implantadas a uma profundidade que as coloque a salvo basicamente de variações sazonais de volume do solo, ações de raízes de árvores e erosões. Em geral, uma profundidade de 1,5 m é suficiente. Nas encostas, as fundações precisam ser implantadas a uma profundidade tal que também as proteja de movimentos das camadas superficiais. É comum que as camadas mais superficiais de uma encosta estejam sujeitas a um movimento lento (às vezes chamado de "rastejo" ou creep), geralmente associado a variações de nível d'água. É importante que se estude cuidadosamente o perfil do terreno, seu(s) aquífero(s), para então se escolher a profundidade de implantação das fundações. Em certas circunstâncias, fundações superficiais não são possíveis e tubulões ou estacas precisam ser adotados. No caso de estacas, aquelas de maior seção devem ser preferidas. Figura - Alguns problemas com a implantação de fundações em encostas Ao se falar em encosta estável para edificação, surge a questão do fator de segurança (ao deslizamento) a ser aceito. Seria razoável exigir-se um fator de segurança da mesma ordem daquele exigido para a perda da capacidade de carga da fundação. Esta exigência, entretanto, frequentemente leva a custos de obras de estabilização elevados, e o projetista pode se ver sob pressão do proprietário ou incorporador. A questão dos estudos de estabilidade de encostas e o projeto de obras de estabilização está fora do escopo deste capítulo. Apenas para ilustrar, apresentamos na figura a seguir as medidas estabilizantes mais adotadas, a saber: 1. Corte para alívio do topo; 2. Bermas no pé do talude (atenção para a drenagem!); 3. Drenagem profunda por meio de drenos sub-horizontais perfurados; 4. Suavização da encosta por meio de uma série de pequenos cortes; Sendo que todas estas medidas - adotadas isoladamente ou combinadas - devem ser complementadas por drenagem superficial. Para fundações em encostas, o engenheiro deve consultar um geólogo de engenharia. Figura - Medidas estabilizantes para encostas EDIFÍCIOS INDUSTRIAIS A figura a seguir ilustra alguns problemas típicos de fundação de edifícios industriais: 1. grandes vãos, o que dificulta a utilização de cintas e vigas de equilíbrio, fazendo com que cada fundação deva ser estável por si; 2. pilares altos, sujeitos a momentos (devidos a pontes rolantes, vento etc.); 3. máquinas que provocam vibrações permanentes (motores, compressores etc.) ou transientes (prensas, forjas etc.). 4. máquinas para trabalho de precisão, sensíveis a deformações (recalques, rotações) e vibrações. Frequentemente se tem numa indústria, a pequena distância, os dois tipos de máquinas descritos acima, fazendo com que se tenha que projetar um sistema de isolamento de vibrações, que pode ser executado na máquina geradora das vibrações (chamado isolamento ativo) ou na máquina sensível às vibrações (isolamento passivo). O projeto de fundações de máquinas é um capitulo especial da engenharia de fundações e para um estudo do assunto o leitor é referido a alguns textos clássicos como Barkan (1962), Major, (1962). Richart et al. (1970) e Srinivasulu e Vaidyanathan (1976). PONTES E VIADUTOS Os viadutos, assim entendidas as obras-de-arte em região urbana que não transpõem rios ou outras massas de água, não apresentam problemas de fundação que diferem de outras obras em terra, a menos talvez dos esforços que chegam às fundações. Já as pontes, que têm pelo menos parte de sua extensão cruzando massas d'água, apresentam problemas especiais de execução de suas fundações. Passar-se-á a discutir apenas as fundações de pontes. Um dos primeiros aspectos a considerar na escolha de uma fundação de uma ponte é a erosão. O projetista deve buscar informações sobre o regime do rio, como níveis d'água máximos e mínimos, velocidades máximas de escoamento etc., além da história de comportamento de fundações de outras pontes nas proximidades. Também aqui o engenheiro deve consultar um geólogo de engenharia. Este aspecto frequentemente impõe uma fundação profunda, uma vez que uma solução em fundação superficial é afastada pelo risco de solapamento de sua base. Outro aspecto a considerar é o tipo de acesso à ponte, como mostrado na figura a seguir. No primeiro tipo a ponte tem extremos em balanço e o aterro de acesso tem saia ou talude. Outro tipo é o que adota encontros, nos quais se apoiam as extremidades da ponte. Na ocorrência de argila mole na região dos acessos, as fundações serão naturalmente em estacas, e estas estacas estarão sujeitas ao chamado efeito Tchebotarioff, que será mais severo no caso de encontros. Figura – Problemas com fundações em estacas próximas dos aterros de acesso de pontes Outro aspecto importante é a questão do método executivo, que poderá restringir as opções de fundação. O método executivo está intimamente ligado à disponibilidade de equipamentos. Assim, dada a locação dos pilares da ponte, passa-se a estudar, juntamente com a capacidade dos elementos de fundação de transmitir os esforços da estrutura, a maneira de executar tais elementos de fundação. A figura a seguir mostra algumas destas maneiras. Quando os pilares estão próximos das margens é possível se utilizar bate-estacas convencionais sobre plataformas provisórias de madeira (figura a abaixo) ou bate-estacas (de queda livre ou automáticos) que atuam suspensos por lanças de guindastes (figura b abaixo). Já pilares distantes das margens podem ter suas fundações executadas a partir de flutuantes (figura c abaixo) ou plataformas auto-elevatórias (figura d abaixo). As plataformas provisórias, os flutuantes e as plataformas auto-elevatórias podem servir também para a execução de tubulões. Aliás, os tubulões a ar comprimido continuam a ser uma das soluções mais adotadas na fundação de pontes no Brasil. Isto se explica em parte pelo baixo custo dos equipamentos utilizados nesta solução. Figura - Soluções para execução de fundações de pontes APÊNDICES APÊNDICE 1 PRESSÕES DE TRABALHO PARA PRÉ-DIMENSIONAMENTO DE FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS Tabela - Pressões básicas da norma NBR 6122/96 Nota: Para rochas alteradas ou em decomposição, considerar a natureza da rocha matriz e o grau de decomposição e ainda, a continuidade da rocha, sua inclinação e a influência da atitude da rocha sobre a estabilidade. A norma NBR 6122/96 recomenda cuidados especiais com solos expansivos e solos colapsíveis. Quando se encontram abaixo da cota de fundação, até uma profundidade de duas vezes a largurada construção, apenas solos granulares (classes 4 a 9), a pressão admissível dada na tabela acima (válida para fundações de 2m de largura) pode ser aumentada — no caso de construções não sensíveis a recalques — em função da largura da fundação até um máximo de 2,5σ0. No caso de construções sensíveis a recalques, deve-se fazer uma verificação do efeito desses recalques ou manter o valor da pressão admissível igual ao valor da tabela. Para larguras inferiores a 2 m deve ser feita uma pequena redução indicada na norma. As pressões da tabela acima para os solos granulares são indicadas quando a profundidade da fundação, medida a partir do topo da camada escolhida para assentamento da fundação, for menor ou igual a 1 m; quando a fundação estiver a uma profundidade maior e for totalmente confinada pelo terreno adjacente, os valores básicos podem ser acrescidos de 40% para cada metro de profundidade além de 1 m, limitado ao dobro do valor da tabela. As majorações descritas acima não podem ser consideradas cumulativamente se ultrapassarem 2,5σ0. As pressões da tabela acima para solos argilosos (classes 10 a 15) são aplicáveis a um corpo de fundação não maior do que 10 m². Para áreas carregadas maiores, ou na fixação da pressão média admissível sob um conjunto de corpos de fundação ou a totalidade da construção, deve-se reduzir os valores da tabela de acordo com σadm = σ0 (10 / A) ½ , onde A = área total da parte considerada, ou da construção inteira em m². APÊNDICE 2 TIPOS MAIS USUAIS DE ESTACAS E SUAS CARGAS DE TRABALHO (PARA EFEITO DE ANTEPROJETO; PARA PROJETO, CONSULTAR FIRMAS EXECUTORAS; α = TENSÃO DE TRABALHO). ESTACAS CRAVADAS DE CONCRETO ESTACAS DE AÇO CRAVADAS ESTACAS MOLDADAS IN SITU COM PRÉ ESCAVAÇÃO ESTACAS ESCAVADAS BIBLIOGRAFIA CAPUTO, H. P. Mecânica dos Solos e suas Aplicações. Vol. 1, 2, 3. Editora LTC, Rio de Janeiro, 4ª/6ª ed. 2012/2013/2014. HACHICH, W; FALCONI, F F; SAES, J L. Fundações - Teoria e Prática, 2a Edição, Editora PINI, São Paulo, 2012. VELLOSO, D.; LOPES, F.R. Fundações: Fundações Profundas. Volumes 2, Editora Oficina Texto/COPPE-UFRJ, Rio de Janeiro, 2004.
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