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OS DIREITOS DO IDOSO: O CONFLITO ENTRE O LIMITE DE IDADE PROPOSTO PELO ESTATUTO DO IDOSO E PELA LOAS

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OS DIREITOS DO IDOSO: O CONFLITO ENTRE O LIMITE DE IDADE PROPOSTO PELO ESTATUTO DO IDOSO E PELA LOAS
JORGE MOISÉS DE OLIVEIRA[2: Concluinte do curso de Bacharelado em Direito]
RESUMO: Este artigo faz um estudo onde o problema principal é a contradição presente entre o Estatuto do idoso e a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), pois para receber o benefício de prestação continuada proposta pela LOAS a pessoa deve ter 65 ou mais anos. Porém, o Estatuto do idoso considera uma pessoa idosa a partir do 60 anos. Então ela precisa esperar pelo menos cinco anos para receber o benefício, prejudicando de forma clara o seu sustento, a sua vida. O trabalho em curso comenta esta contradição, faz uma revisão histórica dos direitos sociais no Brasil e propõe uma reflexão importante que possa ajudar a superar este problema de nossa legislação sobre o idoso. 
PALAVRAS-CHAVE: Estatuto do Idoso; LOAS; Benefício; Direitos Sociais. 
1. INTRODUÇÃO
A legislação sobre o idoso representa um avanço positivo na legislação brasileira visto que vivemos num país com muitas injustiças e desigualdades. Todos nós sabemos que o Brasil é uma nação onde as diferenças sociais estão presentes. As classes sociais vivem no dia-a-dia uma situação de grandes diferenças: econômicas, sociais, políticas, culturais, etc. O direito serve para fazer com que a justiça seja correta com todos, diminuindo as distâncias ocasionadas pelas injustiças sociais. O idoso sempre foi tratado com descaso pelos poderes públicos. Por isso a lei precisa ajudar a garantir seus benefícios, pois é alguém que trabalhou durante a vida inteira e que precisa de uma assistência adequada, pois alcançou a terceira idade. O Estatuto garantiu vários direitos ao idoso. Vamos falar deles ao logo do artigo. O Estatuto colocou sobre a sociedade, a família e os poderes públicos o dever de cuidar e garantir todos os direitos à pessoa idosa possibilitando que o mesmo seja tratado com toda a dignidade que um ser humano precisa.
A LOAS – Lei orgânica de assistência social foi criada em 1993, dez anos antes do Estatuto do Idoso e previa o atendimento às necessidades básicas do idoso numa iniciativa do governo com a sociedade. As duas leis são então um aspecto importante para a consolidação do respeito e ao tratamento diferenciado ao idoso pois o mesmo é um ser frágil, desamparado e que precisa da ajuda de todos para continuar sua vida e ter uma qualidade de vida melhor neste momento de fragilidade que a vida lhe coloca. A lei estabelece várias garantias referentes à assistência à pessoa idosa. Também falaremos delas durante este trabalho. Mas queremos chamar a atenção para a questão da definição por idade que é dada pelas duas leis. Quando se referem ao idoso elas divergem num ponto que considero essencial: o estabelecimento da idade mínima para considerar alguém idoso. A LOAS estabelece a idade de sessenta e cinco anos ou mais para receber o benefício de prestação continuada. Porém o Estatuto do idoso diz que a pessoa é considerada idosa a partir dos sessenta anos, ou seja, cinco anos a menos do que é previsto na LOAS para o recebimento do benefício. Isto gera um problema jurídico e social, prejudicando a nobre figura do idoso já tão maltratada pelo governo, pela família e pela sociedade em geral. Por isto é necessário rever não apenas os artigos que estão colocados nas duas leis como também analisar os impactos destas diferenças na vida prática da pessoa idosa, pois o nosso país é muito desigual e trata os indivíduos da terceira idade com muito descaso. É preciso estuda os impactos negativos destes dispositivos, assim como garantir que a lei saia do papel e entre na vida prática do idoso senão ele continuará sendo ratado como cidadão de segunda classe. É estudar e compreender também quais os avanços que estas duas leis trouxeram para a sociedade em relação ao respeito aos direitos da pessoa idosa, pois todos são iguais perante a lei, como fala a nossa constituição. Neste artigo vamos então fazer um estudo das duas leis, destacando os benefícios e conquistas que trouxeram para a terceira idade. Vamos ver quais são os pontos em comum destas duas leis, quais os dispositivos que representam um avanço na garantia de uma vida melhor a estes cidadãos esquecido pela sociedade. Também vamos mostrar como esta divergência em relação à idade acaba dificultando a aplicação dos benefícios propostos pela LOAS. Fazer este estudo é importante, pois ajuda a compreender as dificuldades por que passam nossos idosos.
2. A IMPORTÂNCIA HISTÓRICA DOS DIREITOS SOCIAIS
Os direitos do idoso aparecem na constituição de 1988 de forma abrangente no artigo seis, que trata justamente dos direitos sociais. Neste artigo já estão colocados alguns aspectos fundamentais que a constituição tratou de colocar. De forma muito clara o artigo em questão afirma:
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (EC  nº 26/2000, EC  nº  64/2010 e EC nº  90/2015)
Os idosos são protegidos pela constituição quando ela fala do direito à previdência social e da proteção e assistência aos desamparados. Também quando no artigo sétimo ela fala do direito a uma aposentadoria digna. É por isto que a defesa dos direitos sociais acaba colaborando para o engrandecimento desta nobre figura de nossa sociedade, que é a pessoa idosa. 
Mas é preciso destacar que os direitos sociais não surgiram automaticamente. Eles não apareceram de repente e passaram a fazer parte da nossa constituição como num passe de mágica. Eles têm uma história por trás. Foram surgindo à medida que as condições econômicas, sociais, políticas, culturais, foram modificando a sociedade e exigindo novas formas de relações entre as pessoas.
É fato que a Revolução Industrial, ocorrida nos séculos XVII, XVIII e XIX, modificou muito a sociedade europeia, que estava ainda envolvia pelo mundo feudal, com uma economia baseada na posse da terra e no domínio da família, com o pai a frente dos negócios. A revolução fez om que a humanidade tivesse um desenvolvimento muito grande, trazendo novos inventos, a fábrica, a linha de produção e o aumento da produtividade. Estas novas formas de trabalho e de relações também fizeram surgir problemas novos, principalmente relacionados às precárias situações dos trabalhadores, que faziam longas jornadas de trabalho e não tinham condições dignas para seu trabalho e para usufruir de sua renda. Desta forma, os direitos sociais surgem inicialmente para atender as demandas dos trabalhadores, explorados pelos capitalistas, que desejavam aumentar cada vez mais seus lucros. Em seu artigo sobre a evolução histórica dos direitos sociais Adriano dos Santos Iurconvite (2010) diz o seguinte:
Em seu início, os direitos sociais se limitavam a proteger os trabalhadores. Os direitos sociais surgiram em função da desumana situação em que vivia a população pobre das cidades industrializadas da Europa Ocidental, em resposta ao tratamento oferecido pelo capitalismo industrial e diante da inércia própria do Estado liberal, em meados do século XIX 
Como podemos ver foram as modificações trazidas pela revolução industrial que fizera com que as pessoas exigissem direitos que pudessem favorecer e atender suas demandas, e os trabalhadores foram os primeiros a serem beneficiados por estes direitos sociais. Esses direitos sociais vieram para completar os direitos civis. Pois os direitos formais que o liberalismo prometia aos trabalhadores não conseguiam dar conta de todas as necessidades das pessoas. Como diz Herkenhoff (apud Iurconvite, 2010):
A afirmação dos “direitos sociais” derivou da constatação da fragilidade dos “direitos liberais”, quando o homem, a favor do qual se proclamam liberdades, não satisfez ainda necessidades primárias: alimentar-se, vestir-se, morar, ter condições de saúde, ter segurança diante da doença, da velhice, do desemprego
e dos outros percalços da vida.
Não bastava apenas garantir o direito de ir e vir, a liberdade de expressão, o direito de escolher, era preciso garantir condições dignas de trabalho, moradia, saúde, assistência social. É por isto que as novas situações criadas pela revolução industrial levou a sociedade a pedir novos direitos, a exigir um tratamento digno aos seus membros. Várias declarações vieram acrescentar os outros direitos sociais considerados importantes. Mas queremos destacar neste artigo a importância da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que foi promulgada logo após a segunda grande guerra mundial. Foi ela que ampliou os direitos, acrescentando muitos elementos importantes e que acabaram sendo incorporados em quase todas as constituições surgidas após a segunda guerra. Vale destacar aqui os pontos principais lembrados por Fabio Konder Comparato (apud Iurconvite, 2010):
A Declaração Universal dos Direitos Humanos estabelece que a base dos direitos sociais, além do princípio da dignidade da pessoa humana, é o princípio da solidariedade. Isso porque este princípio proclama que o direito a seguridade social (artigos 22 e 25), o direito ao trabalho e a proteção contra o desemprego (art. 23, item 1), os principais direitos ligados ao contrato de trabalho, como a remuneração igual por trabalho igual (artigo 23, item 2), o salário mínimo (artigo 23, item 3), a livre sindicalização dos trabalhadores (artigo 23, item 4), o repouso e o lazer, a limitação horária da jornada de trabalho, as férias remuneradas (artigo 24) e o direito a educação: ensino elementar obrigatório e gratuito, a generalização da instrução técnico-profissional, a igualdade de acesso ao ensino superior (artigo 26), são os itens elementares, indispensáveis para a proteção das classes ou grupos sociais mais fracos ou necessitados
Podemos observar que a declaração dos direitos humanos e seus artigos têm por finalidade principal proteger os grupos sociais mais fracos e desamparados. Entre eles podemos destacar, é claro, os idosos. No Brasil, assim como na Europa da revolução industrial estes direitos sociais também não caíram do céu, mas foram surgindo após intensas lutas que fizeram com que estes direitos sejam muito importantes para a construção de uma sociedade que respeita e trata com dignidade seus idosos. 
Os direitos sociais no Brasil
Conforme nos informa Iurconvite, os direitos sociais estiveram presentes em todas as nossas constituições. A diferença é que, ao longo do tempo, conforme o momento histórico, esses direitos foram mais ou menos respeitados por estas constituições. Vamos fazer um breve resumo destas conquistas. 
A constituição do império, outorgada em 1824, foi a nossa primeira constituição e também a primeira a conceder direitos importantes, tanto individuais, quanto coletivos. Ela assegurou a liberdade de expressão e de pensamento, a liberdade de imprensa e a liberdade religiosa para o culto privado, pois a religião católica passou a ser a religião oficial do Estado. Na questão social ela garantia a igualdade de todos perante a lei, a liberdade de trabalho e a instrução primária gratuita. Iurconvite (2010) ainda diz uma coisa que merece ser destacada: 
Importante citar que a Constituição do Império estabelecia o acesso de todos os cidadãos aos cargos públicos (artigo 179, VIX); a proibição de foro privilegiado (artigo 179, XVI). No mesmo artigo, estabelecia que o direito a saúde a todos os cidadãos (artigo 179, XXXI). Interligado a saúde, assegurava que as cadeias deveriam ser limpas e bem arejadas, havendo diversas casas para a separação dos réus, conforme suas circunstâncias e natureza de seus crimes (artigo 179, XXI).
Apesar de suas limitações e da própria forma como foi feita, a constituição de 1824 ajudou bastante para se pensar a questão dos direitos sociais no Brasil. A primeira constituição da república foi a de 1891. Ela propôs a separação entre igreja e Estado, a livre associação e proibiu a pena de morte. Apesar de sua importância, esta constituição não avançou muito na questão dos direitos sociais no Brasil. Isso só voltou a ocorrer a partir de 1930, quando Getúlio Vargas subiu ao poder. A constituição de 1934 elaborou muitos direitos sociais. Um dos direitos sociais que mais foi enfatizado nesta constituição foi os direitos trabalhistas. Vejamos o que diz Iurconvite (2010):
Dentre as principais normas referentes aos direitos trabalhistas, citamos a proibição de diferença de salário para um mesmo trabalho, por motivo de idade, sexo, nacionalidade ou estado civil (art. 121, § 1º, a); salário mínimo capaz de satisfazer as necessidades normais do trabalhador (art. 121, § 1º, b); limitação do trabalho a oito horas diárias, só prorrogáveis nos casos previstos pela lei (art. 121, § 1º, c); proibição de trabalho a menores de 14 anos, de trabalho noturno a menores de 16 anos e em indústrias insalubres a menores de 18 anos e a mulheres (art. 121, § 1º, d); repouso semanal, de preferência aos domingos (art. 121, § 1º, e); férias anuais remuneradas (art. 121, § 1º, f); indenização ao trabalhador dispensado sem justa causa (art. 121, § 1º, g); assistência médica sanitária ao trabalhador (art. 121, § 1º, h, primeira parte); assistência médica à gestante, assegurada a ela descanso antes e depois do parto, sem prejuízo do salário e do emprego (art. 121, § 1º, h, segunda parte); instituição de previdência, mediante contribuição igual da União, do empregador e do empregado, a favor da velhice, da invalidez, da maternidade e nos casos de acidentes de trabalho ou de morte (art. 121, § 1º, h, in fine); regulamentação do exercício de todas as profissões (art. 121, § 1º, i); reconhecimento das convenções coletivas de trabalho (art. 121, § 1º, j); a criação da Justiça do Trabalho, vinculada ao Poder Executivo (art. 122); e, obrigatoriedade de ministrarem as empresas, localizadas fora dos centros escolares, ensino primário gratuito, desde que nelas trabalhassem mais de 50 pessoas, havendo, pelo menos, 10 analfabetos (art. 139).
Como podemos ver, a constituição de 1934 ampliou bastante os direitos e garantias dos trabalhadores. É por isto que a pessoa do presidente Getúlio Vargas é lembrada até hoje como o grande promotor dos direitos do trabalhador. Ela também instituiu a obrigatoriedade e gratuidade da educação primária, contribuindo para um maior acesso à educação. A constituição do Estado Novo de 1937 acabou deixando de lado a questão dos direitos sociais. Eles vão aparecer novamente na constituição de 1946. Ela restituiu os direitos individuais e sociais, como a garantia de um salário mínimo digno ao trabalhador, a participação nos lucros, a proibição de trabalho noturno aos menores de 18 anos, a instituição de assistência educacional aos alunos mais desfavorecidos, o direito de greve e de associação patronal ou sindical e outras conquistas importantes. A Constituição de 1967 surgiu a partir da ascensão dos militares ao poder, com a derrubada de Jânio Goulart da presidência. Esta constituição também prejudicou muito os direitos sociais. Estes voltaram com força com a constituição de 1988. Esta é uma das mais importantes, pois ampliou bastante a lista dos direitos sociais, incluindo nesta lista o idoso. Iurconvite (2010) enfatiza alguns pontos importantes:
Nos artigos 7º a 11, a Constituição Federal estabelece garantias ao trabalho e aos trabalhadores, como o seguro-desemprego (artigo 7º, inciso II), fundo de garantia por tempo de serviço seguro-desemprego (artigo 7º, inciso III), o salário mínimo (artigo 7º, inciso IV), piso salarial (artigo 7º, inciso V), a participação nos lucros (artigo 7º, inciso XI), o salário-família (artigo 7º, inciso XII), descanso semanal remunerado (artigo 7º, inciso XV), licença paternidade (artigo 7º, inciso XIX), proteção do mercado de trabalho da mulher (artigo 7º, inciso XX), aposentadoria (artigo 7º, inciso XXIV), reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho (artigo 7º, inciso XXVI), a livre associação profissional ou sindical (artigo 8º, caput),
o direito de greve (artigo 9º), dentre outros.
Outras questões que apareceram dizem respeito ao respeito ao idoso e á questão da assistência social aos mais necessitados e que culminou com a promulgação da LOAS e do Estatuto do idoso. São estes os pontos que vamos abordar agora.
3. A LEI ORGÂNICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (LOAS)
Como já foi dito anteriormente, a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) foi criada em 1993, na época em que o presidente da República era Itamar Franco. Na sua definição, a lei dizia o seguinte:
Art. 1º A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas. (LOAS)
Por ser direito do cidadão a assistência social deveria ser um dever do Estado em parceira com a sociedade, ajudando aos mais frágeis cidadãos na assistência às suas necessidades básicas. Estas pessoas não precisariam contribuir para ter direito ao benefício. Precisavam apenas estar na condição de pessoa idosa. Os objetivos da lei foram colocados como sendo os seguintes: 
1. A proteção social, que visa à garantia da vida, à redução de danos e à prevenção da incidência de riscos (art 2º, Inciso I). Dentre os cidadãos amparado por esta proteção social, a LOAS destaca a família, a maternidade, a infância, a adolescência e a velhice. Vejamos que a lei tem por finalidade garantir a estas pessoas a proteção social do Estado. Algo muito difícil no Brasil desde o nosso descobrimento, pois ainda somos uma nação que não respeita seus filhos, seus cidadãos e protege bandidos, corruptos, verdadeiros ladrões do dinheiro público. Por isto somos um povo revoltado com tantos desmandos realizados pelos nossos políticos, empreiteiros, empresários e todas aquelas pessoas que destroem a nossa nação.
2. A vigilância socioassistencial, que visa a analisar territorialmente a capacidade protetiva das famílias e nela a ocorrência de vulnerabilidades, de ameaças, de vitimizações e danos (art 2º, Inciso II). Vigiar e proteger aquelas pessoas vulneráveis e que são vítimas de nossa desigualdade social é uma medida de urgência, que não deve ser esquecida pelos governantes e por todos aqueles que tem a obrigação de cuidar dos mais necessitados. É por isto que a lei reforça este dever por parte dos agentes do Estado e daqueles que deveriam ser responsáveis pela execução destas medidas.
3. A defesa de direitos, que visa a garantir o pleno acesso aos direitos no conjunto das provisões socioassistenciais. É muito importante garantir o pleno acesso à assistência social. A lei em questão pretende garantir este acesso. Mas não apenas isso. Ele pretende cumprir sua função, ou seja, fazer com que estes direitos saiam do papel e atinjam aquelas pessoas que pretende ajudar.
A referida lei está em sintonia com a Constituição de 1988 que em um de seus capítulos reforçou a importância e a necessidade de se estruturar uma seguridade social no Brasil. Isto foi colocado como um direito de todos. Por isto Ulisses Guimarães a chamou de constituição cidadã, visto que a mesma voltou o seu interesse para boa parte dos brasileiros que foram sempre excluídos dos benefícios e das riquezas produzidas em nosso país. Num artigo sobre a LOAS, Heleno Florindo da Silva (2011) nos diz que:
A Constituição de 1988 também trouxe uma grande novidade ao apresentar e solidificar de vez a Seguridade Social em seu artigo 194, assegurando os direitos relativos à saúde, à previdência social e à assistência social, tendo em vista que, até então, havia somente resquícios do instituto da seguridade social no Brasil, basicamente regulamentado por legislação extravagante. Na esteira das novidades apresentadas pela Constituição, a refletir na esfera previdenciária, esteve também a nova concepção de família apresentada pela Carta magna que ampliou a abrangência do conceito possibilitando que os benefícios da Previdência social atingissem maior número de pessoas.
Como diz o autor a constituição promoveu a esfera previdenciária e ampliou a noção de família, para que os benefícios atingissem um maior número de membros familiares. Ao aumentar a abrangência dos que poderiam receber os benefícios do Estado a constituição de 1988 ajudou a tornar mais real e efetivo o cumprimento da lei, de modo a garantir uma maior igualdade de oportunidades. É sempre importante lembrar o que diz a constituição sobre a questão da assistência e dos benefícios sociais. O artigo 203 serviu de inspiração para a redação da LOAS e também para o Estatuto do Idoso: 
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II - o amparo às crianças e adolescentes carentes; III - a promoção da integração ao mercado de trabalho; IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei. (Constituição da República Federativa do Brasil)
Fiz questão de deixar em negrito o inciso V, poiso mesmo fala justamente do tema em questão, pois fala da concessão de um benefício que neste caso é o salário mínimo, À pessoa com deficiência ou à pessoa idosa que comprove não ter condições de prover o seu sustento. A LOAS também propôs tal benefício, concordando desta forma com a própria constituição, par poder dar uma garanta legal mais sólida ao idoso.
3.1 O benefício de prestação continuada
A lei orgânica de assistência social (LOAS) instituiu, com base na constituição, o benefício de prestação continuada. Também definiu a idade mínima para se considerar alguém idoso. As regras aparecem no artigo 20, onde os requisitos são colocados de forma clara, descrevendo os principais pontos acerca do usufruto do benefício:
Art. 20.  O benefício de prestação continuada é a garantia de um salário-mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família (LOAS)
Veja que a lei garante o benefício referente a um salário mínimo mensal ao idoso a partir dos 65 anos. A idade mínima que define uma pessoa como idosa ou não é delimitada a partir dos sessenta e cinco anos. É neste ponto que a LOAS entra em contradição com o Estatuto do idoso (veremos isso mais adiante). Mas a lei também define outras coisas: é incapaz de prover o sustento da pessoa idosa a família cuja renda mensal per capita seja inferior a ¼ (um quarto) do salário mínimo. O benefício não pode ser acumulado com outro do regime de seguridade social, salvo alguns casos que admitem exceção. O benefício deve ser revisto a cada dois anos, para ver se continuam as condições que lhe deram origem. O mesmo será cancelado, caso seja constatado alguma irregularidade por parte do beneficiário. Veja que há muitas exigências para que o benefício seja concedido. Não é apenas comprovar que se é idoso, mas preencher uma série de critérios que farão com que o governo conceda ao idoso o benefício que lhe é de direito.
Ora, a LOAS possui então uma importância muito grande, pois ajuda a colocar na balança e equilibrar as desigualdades que são fonte constante de injustiças de todo o tipo. Heleno Florindo (2011) que já citamos anteriormente, destaca a questão do resgate da dignidade humana como uma consequência mais importante da LOAS e da própria constituição. Ele fala que:
O princípio da Dignidade da Pessoa Humana, trazido pela Constituição da Federal de 1988 como um de seus objetivos, está intrinsecamente ligado a efetivação dos direitos sociais, dentre os quais, mais especificamente,
o segurado pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), tendo em vista que a referida legislação, resguarda um mínimo de dignidade para as pessoas que sobrevivem em estado de miserabilidade e aquelas que não tiveram a possibilidade de se inserir na sociedade, ficando, portanto a sua margem. 
Para que as pessoas não fiquem a margem da sociedade foi criada a lei orgânica de assistência social. Também para efetivar os direitos sociais, consagrados pela constituição de 1988. O idoso não pode continuar num estado de miséria contínua pois foi uma pessoa que passou a vida inteira trabalhando, dando o seu suor para construir a nação, de forma nobre honesta e correta. É mais do que justo que no final de sua vida tenha condições de sustentar a si mesmo e sua família. O nobre idoso precisa garantir o mínimo necessário para que tenha uma vida decente, depois de longos anos de labuta, trabalho intenso, horas e horas dedicadas aos seus familiares, à sociedade, ao país. O autor ainda diz que este princípio da dignidade não tem sido colocado em prática com tanta facilidade. Ainda há muitos pontos que precisam ser melhorados para que a lei seja aplicada concretamente na prática beneficiando aqueles que ela diz representar. É o que diz o Florindo (2011) na citação abaixo: 
Assim, mesmo tendo a LOAS ter suas bases na busca de efetivação do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, dentro de seu contexto ainda existem algumas incongruências, estas que só serão passíveis de solução ao se aplicar, caso a caso, os dogmas e preceitos que norteiam o referido princípio. Desta feita, pode-se perceber que a busca da Seguridade Social em efetivar, para os que necessitam de seus benefícios, as melhores e mais eficazes políticas assistenciais, ainda carece de muito estudo e pesquisa, pois a Dignidade Humana ainda carece, e muito, de concretização no contexto daqueles que necessitam de apoio para se afirmarem realmente como pessoas humanas.
Ainda há uma grande dificuldade para se colocar em prática os benefícios da lei orgânica de assistência social, pois falta ainda sensibilidade por parte dos políticos e dos próprios magistrados para reconhecer a questão social que faz parte das normas da lei. Não é uma questão apenas de conceder um benefício. Não estamos falando apenas da aplicação de uma lei, da interpretação de um artigo, mas da conscientização por parte dos nobres magistrados de que a questão do idoso vai muito além da manutenção de sua sobrevivência pois é algo que afeta toda a sociedade. Vamos agora falar do Estatuto do Idoso e da questão da idade mínima para se considerar uma pessoa idosa.
4. O ESTATUTO DO IDOSO: ORIGEM E IMPORTÂNCIA
O Estatuto do idoso foi criado no ano de 2003, quando Luís Inácio Lula da Silva era presidente do Brasil. Sua função era a de regular os direitos das pessoas idosas, com a idade igual ou superior a sessenta anos. A ideia principal era a de garantir um tratamento mais humano a estas pessoas, para que possam ter um final de vida mais digno, vivendo em condições melhores, já que estão vivendo o que chamamos de terceira idade. O Estatuto traz muitas normas e garantias para o idoso e pune os órgãos e as pessoas que descumprirem seus preceitos, aplicando penas que vão da reclusão ao pagamento de multa. Vejamos que o principal ponto de divergência que estamos chamando atenção é justamente a questão da idade. O idoso é aquela pessoa com idade igual ou superior a sessenta anos. Dez anos após o surgimento da LOAS há então uma divergência sobre a partir de que idade uma pessoa pode ser considerada como beneficiária dos direitos propostos pela Lei de Assistência Social. Há uma diferença de cinco anos, pois a LOAS propõe como limite inicial de idade a faixa de 65 anos. 
Mas o Estatuto representa mesmo assim um avanço importante. Suas linhas gerais e os artigos que fazem parte da sua formulação ajudam a respeitar os mais velhos e a chamar a atenção para a obrigação que os familiares também tem para com seus entes queridos. Não é função apenas do Estado cuidar das pessoas idosas. Todos tem que contribuir para garantir a estes cidadãos, nobres senhores de nosso país, uma vida digna, respeitosa para que eles se sintam úteis e valorizados na sociedade e não se sintam discriminados, rejeitados por aqueles e aquelas que deveriam enobrecer a sua vida. Falando da importância do Estatuto do Idoso Diégo Edington (2013) diz que:
A presença atuante do Estado na proteção dos direitos dos idosos é de capital importância para a efetividade dos dispositivos legais que versam sobre estes indivíduos. Todavia, o Poder Público não pode agir só. É preciso que Estado, família e sociedade comunguem do princípio da solidariedade para com os idosos, de forma a atuarem sempre articulados para a valorização do idoso enquanto integrante do meio social.  A presença da família como núcleo de convivência do idoso representa forte instituição que deve ter suas ações sempre direcionadas ao amparo dos mais velhos. Uma família de bases sólidas, certamente, proverá boa parte da necessidade do seu idoso, o que o torna mais digno e inserido no contexto social.
Deve haver uma solidariedade entre o poder público e a família do idoso para que isto possa garantir a ele um amparo necessário à sua velhice, no momento em que se sente mais frágil e necessitado de atenção e afeto. Para que isto aconteça, é muito importante que a sociedade conheça o Estatuto. As pessoas precisam saber da sua existência e dos direitos que estão presentes nele. Diégo Edington (2013) diz que:
Apesar desse arcabouço legislativo, é necessário que toda essa realidade normativa seja de conhecimento da sociedade. De nada adianta se produzirem leis, se estas não alcançam o corpo social. Informar e educar os cidadãos acerca dos comandos e princípios que precisam ser experimentados pela sociedade, na direção de efetivar as garantias dos idosos, é, sem dúvida, um dos passos mais importantes para a eficácia de qualquer norma.
Realmente não adianta que a lei simplesmente exista. Ela precisa ser conhecida e praticada pelos cidadãos, senão não será possível fazer com que ela seja eficaz e garanta as pessoas o mínimo necessário para viver em sociedade, com base no respeito mútuo e na garantia dos princípios básicos necessários à uma vida digna. Nosso maior problema não é que temos leis demais, leis em excesso, mas o descumprimento das mesmas tanto pelos políticos, quanto pelos cidadãos. O famoso jeitinho brasileiro acaba com nossa imagem, por isto não somos vistos como um país sério, mas como o país onde as coisas acontecem na base do roubo, da mentira, da embromação. 
4.1 As garantias dadas ao idoso
Como foi dito antes, o Estatuto foi feito para regular os direitos dos idosos. Vamos mostrar aqui alguns artigos que falam destes direitos e destas garantias. Vamos falar depois sobre a divergência de idade que causa um problema de interpretação na hora de conceder ao idoso o benefício de prestação continuada, um dos pontos mais importantes da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS). Os primeiros artigos falam dos direitos do idoso e das obrigações daqueles que estão ao seu redor e fazem parte o seu convívio:
Art. 2º O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.
Art. 3º  É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.
Todos os direitos fundamentais da pessoa humana são aplicados ao idoso. Ele possui todos eles e deve ser protegido integralmente na sua condição física, psicológica,
mental, social, ou seja, em todos os aspectos da vida que um ser humano pode desfrutar. Ele é uma pessoa igual a todas as outras que compõem a sociedade. O Estatuto preserva o idoso de todo e qualquer tratamento desumano e todo descaso por parte das autoridades públicas e dos seus entes mais próximos, para que estes o tratem com o devido respeito à sua condição de ser humano. É por isto que o art. 3º destaca a obrigação da família, juntamente com o Estado, de cuidar, proteger e fazer com que as normas do Estatuto sejam cumpridas, para que o idoso possa gozar do seu direito à vida, à saúde, alimentação, cultura, lazer, trabalho, cidadania, liberdade, direitos que lhes foram concedidos em virtude de sua condição de ser um cidadão frágil, que necessita do empenho de todos para poder ter uma melhor qualidade de vida. Esta não é apenas uma questão jurídica, mas uma questão social e política. 
O Estatuto também garante ao idoso a prioridade nos atendimentos pelos órgãos públicos e privados, na execução de políticas sociais, na destinação de recursos públicos, no atendimento na rede de saúde, na restituição do imposto de renda. O artigo 4° reforça que “nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação, violência, crueldade ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será punido na forma da lei”, ou seja, ele está sob a proteção da lei. Ferir, agredir ou discriminar um idoso é um crime que deve ser punido com todo o rigor pelos órgãos competentes, pois o Estatuto reforça a nobre condição de ser idoso.
O Estatuto propõe os direitos fundamentais do idoso. A partir do artigo 8°, são listados os principais direitos que não podem faltar na vida desta nobre figura da sociedade: “O envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção um direito social, nos termos desta Lei e da legislação vigente.” (Art. 8°).  O artigo 9° fala da obrigação do Estado de “garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à saúde, mediante efetivação de políticas sociais públicas que permitam um envelhecimento saudável e em condições de dignidade”. O envelhecimento é um direito personalíssimo, ou seja, faz parte da vida humana, é próprio da pessoa, e por isso deve ser respeitado. Também reque o cuidado por parte do Estado, que deve garantir que esta fase seja vivida com dignidade. É importante destacar também outros direitos importantes, como o direito de ir e vir, de frequentar os logradouros públicos, direito de opinião e expressão, crença e culto religioso, prática de esportes e diversões, participação na vida familiar e comunitária. Em relação à participação na vida familiar é bom lembrar que muitos idosos têm esse direito desrespeitado, pois os seus parentes mais próximos muitas vezes o abandonam. Eles são colocados muitas vezes em asilos por aqueles que deveriam cuidar com carinho e cuidado e vivem muitas vezes em condições precárias, além de sofrer com o abandono dos seus. 
Outros direitos importantes são a participação na vida política, o direito de buscar refúgio auxílio e orientação, a inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral, preservação da imagem, identidade, autonomia, valores, ideias, crenças. O idoso deve estar à salvo de todo tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. Estes direitos se estendem à alimentação, à saúde, prática de esportes, cultura, lazer e previdência social. Enfim, são garantias importantes que o Estatuto oferece ao idoso, para que o mesmo viva uma vida que valha a penas, depois de ter passado muito tempo dedicado à família e ao país através do seu trabalho, através do suor de suas mãos. Mas tem a questão do benefício de prestação continuada que foi dada pela LOAS e que estabelece um limite de idade que se choca com o estabelecido pelo Estatuto. Vamos fale sobre isto agora. É a última parte deste artigo. 
5. A LOAS E O ESTATUTO DO IDOSO: A DIVERGÊNCIA EM RELAÇÃO AO IDOSO
Como foi dito algumas vezes neste artigo, tanto a lei orgânica de assistência social, quanto o Estatuto do idoso garante uma série de garantias aos indivíduos que estão na terceira idade e ajudam eles a passar esta fase de sua vida numa condição melhor. Mas temos um problema enorme quando olhamos a questão da concessão do benefício de prestação continuada, que aparecem tanto na Constituição quanto na Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS). Existe uma polêmica em torno do limite de idade que define se uma pessoa é ou não idosa, e isto tem provocado ao longo do tempo uma série de entraves na hora da concessão do benefício, prejudicando justamente aqueles que deveriam ser os beneficiários desta prestação continuada, ou seja, os idosos. Ao limitar a idade a 65 anos, a LOAS entre em choque com a Constituição e com o Estatuto, que estabelece o limite de 60 anos para definir o que é um idoso. 
Ao estudar esta divergência, Hugo Leonardo de Oliveira (2017) afirma que há um limbo jurídico do benefício de prestação continuada, tanto na LOAS como no Estatuto e na Constituição. Ele diz que:
Ao começarmos a análise por nossa Carta Magna, a Constituição Federal, encontramos nos termos de seu artigo 194, que trata da Seguridade Social, que esta “compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes e da Sociedade destinado a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência Social (1)”, na qual se inclui a proteção da dignidade da pessoa humana em todas as fases de usa vida. 
A Constituição, segundo Hugo Leonardo, propôs um conjunto de iniciativas que visam a garantir os direitos relacionados à saúde, previdência e assistência social. Estas ações são um dever do Estado, não um favor. Não foi à toa que ficou conhecida como Constituição cidadão por parte do seu grande idealizador, Ulysses Guimarães. A carta magna de 1988 teve como finalidade principal instituir e desenvolver no Brasil o Estado do bem-estar social, renovando as garantias individuais e coletivas que haviam sido perdidas a partir do regime militar iniciado em 1964. O Estado passa a ser o promotor, o garantidor de uma vida melhor para os cidadãos e não apenas aquele que vigia e pune os subversivos, sendo um instrumento de tortura e expurgo para a sociedade. Este Estado do bem-estar deve proporcionar aos cidadãos brasileiros o mínimo necessário para que tenham uma vida nobre, oferecendo os serviços indispensáveis para um indivíduo. Nesta lista de cidadãos, encontramos aqueles que por sua condição merecem um tratamento especial por parte do Estado, entre eles temos os idosos. A Constituição fala do benefício, mas não estabelece um limite de idade para seu recebimento por parte da pessoa idosa. Vejamos novamente o que diz o artigo 203 da Constituição de 1988:
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II - o amparo às crianças e adolescentes carentes; III - a promoção da integração ao mercado de trabalho; IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei. (Constituição da República Federativa do Brasil)
Como bem notou Hugo Leonardo (2017) em seu artigo, a constituição não define um limite de idade, o que leva a interpretação de que a condição de idoso pode ser constatada por outras formas, sem a necessidade de delimitar a faixa etária da pessoa ou beneficiário em questão:
Observa-se que o benefício assistencial previsto no dispositivo legal acima, não faz menção da idade mínima para a concessão do benefício à pessoa idosa, apenas menciona como beneficiário a pessoa idosa, entendendo-se assim, que bastaria a caracterização da condição de idoso para a obtenção do benefício,
sendo a assistência social um meio de garantir um mínimo de sobrevivência pra aqueles, e dentre estes a pessoa idosa, que não tiveram condições de contribuir para a previdência social defendendo e mantendo assim, sua dignidade enquanto pessoa humana, resguardada e protegida pela Constituição Federal.
Lembrando que a defesa da condição humana aparece na própria constituição, como um de seus princípios. Logo, não é uma questão de dar uma esmola a alguém, mas de resguardar e garantir uma vida digna para os idosos. Os princípios fundamentais aparecem no título I da carta magna. Vajamos o que diz o artigo primeiro:
Art. 1° - A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado democrático de direito e tem como fundamentos:
 I - A soberania; 
II – A cidadania; 
III – A dignidade da pessoa humana; 
IV – Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; 
V – O pluralismo político
Negar este benefício ao idoso por causa do estabelecimento de um limite de idade é ferir um princípio fundamental de nossa lei maior. Não só a questão da dignidade humana que está em questão, mas também os valores sociais do trabalho. É necessário valorizar todo o tempo em que o idoso passou dedicado ao trabalho. Foi graças ao seu esforço que o país pode crescer e aumentar suas riquezas. Por isso não se pode deixar que ele esteja entregue à miséria e à penúria. A Constituição coloca os princípios fundamentais acima da letra da lei, favorecendo o indivíduo, o cidadão e não a própria legislação. É por isto que não faz sentido quando a LOAS estabelece no seu artigo 20 o limite de, no mínimo 65 anos para o idoso, já que a constituição não estabelece limite e o Estatuto define este limite a partir dos 60 anos. Neste sentido há um claro conflito entre os textos em questão. Como nos diz Hugo Leonardo (2017): 
Observa-se que tais conflitos tornam o texto legal incoerente ao tratar do benefício assistencial, uma vez que não houve uma restruturação no texto legal para casos em que houvesse situações de fixação de faixa etária diversas, para situações especiais, que envolvesse o idoso.
O autor reforça a inconsistência entre o que diz o texto da LOAS com a Constituição e o Estatuto do idoso, uma vez que faltou estruturar o texto a partir dos casos concretos que envolvessem a fixação ou não de um limite de idade. Como bem recorda o autor, esta fixação de um limite de idade pela LOAS acaba ferindo a Constituição num de seus capítulos mais importantes. Estamos falando do artigo 5° da constituição, aquele que trata dos direitos e deveres individuais e coletivos. No seu caput o referido artigo fala da igualdade de todos perante a lei, não havendo distinção de qualquer natureza, “garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. 
Ora, se uns recebem o benefício e outros são privados do mesmo como consequência de uma diferença de dois ou três anos de idade, não há mais um tratamento isonômico por parte do Estado aos seus cidadãos. Se todos são iguais perante a lei, todos merecem ter o mesmo tratamento, principalmente em se tratando do cuidado para com os nossos idosos, que precisam de um cuidado especial nesta fase de sua vida, marcada pela fragilidade e, muitas vezes, abandono dos seus familiares e do poder público. 
Ao criar as leis os legisladores não podem ferir a carta magna, ou seja, não podem conceber distinções entre que irá receber ou não irá receber o benefício. Uma pessoa de 65 anos é tão idosa quanto uma pessoa de 60 anos, não havendo porque estabelecer distinções entre estas pessoas, porque a legislação garante a isonomia no tratamento, protegendo a todos do descaso por parte dos agentes públicos. Tudo isto está em consonância com os princípios do bem-estar social propostos pela constituição. A mesma procura em seus diversos artigos contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade justa e igualitária. Este é um dos objetivos da República Federativa do Brasil, como nos diz a própria carta magna. Como nos diz Hugo Leonardo (2017):
a pessoa idosa está inserida no Estado, fazendo parte de seu maior bem que são seus indivíduos, e só pode haver um Estado digno e soberano quando todos seus indivíduos tiverem respeitado seu direito a dignidade, efetivando a democracia através do respeito estatal ao cidadão, que começa pelo cumprimento dos direitos estabelecidos pela Constituição; não há soberania sem que seus integrantes recebam um mínimo de dignidade e respeito aos direitos individuais e sociais expressos na nossa carta Magna.
Um Estado digno e soberano só existe quando existem pessoas que são tratadas com o devido zelo, respeitadas as normas, mas desde que estas normas estejam a serviço dos cidadãos e não sejam objeto para todo e qualquer tipo de acepção de pessoas. É por isto que o ordenamento jurídico deve caminhar na direção da conformidade com a lei superior, que é a constituição.
5.1 A concessão do benefício de prestação continuada pelos tribunais
Como a divisão dos idosos em idades específicas não encontra respaldo no texto constitucional, a saída mais comum para acabar com estas divergências e incoerências tem sido o entendimento dos tribunais. As sentenças favoráveis aos idosos com idade inferior a que foi delimitada pela LOAS tem ajudado a corrigir estas falhas da legislação sobre o benefício de prestação continuada. Muitas pessoas tem recebido o benefício com base no entendimento de alguns juízes e juízas que, interpretando a legislação à luz da lei maior do país, concederam o direito com base no princípio da dignidade humana e na igualdade perante a lei, princípios básicos contidos em nossa constituição. Como afirma Hugo Leonardo (2017):
A divisão dos idosos em categorias etárias distintas, não possui respaldo Constitucional, observamos que trata-se de algo de cunho político no momento da criação da Lei (8.742/93). Pois a Constituição da Republica federativa do Brasil garante o direito a qualquer idoso, sem abrir qualquer exceção. Essa tese já foi objeto de discussões em tribunais de primeira obtendo sucesso em primeira instância.
Por não ter respaldo na constituição o entendimento de muitas varas tem caminhado no sentido de beneficiar muitas pessoas que, pela sua condição etária, podem ser consideradas como idosas. Ao fazer isto estes tribunais corrigem um erro básico que poderia resultar numa série de atos injustos, impedindo muitos idosos de terem o direito ao seu benefício. Isto poderia contribuir de maneira negativa para que estes nobres senhores tivessem uma boa velhice. Sabemos o quanto é difícil envelhecer em nosso país. Imagine se este processo ocorre sem um amparo legal e financeiro por parte daqueles que foram ao longo do tempo beneficiados pelo trabalho do idoso? Seria uma grande injustiça.
Ao longo do artigo, Hugo Leonardo cita alguns casos em que juízes federais concederam o benefício de prestação continuada a idoso com menos de 65 anos. Um deles ocorre em Santa Catarina, onde “uma Juíza Federal Adriana Regina Barni Ritter concedeu o benefício de assistência continuada para pessoa com 62 anos de idade”. A notícia, conforme apareceu na imprensa local é assim relatada por Hugo Leonardo (2017):
A Justiça Federal determinou ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) que pague o benefício assistencial de um salário mínimo a uma pessoa de 62 anos de idade, três a menos que a prevista na legislação sobre o benefício, que é de 65 anos. Segundo a juíza Adriana Regina Barni Ritter, da 2ª Vara do Juizado Especial Federal de Criciúma, são inconstitucionais os artigos da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) e do Estatuto do Idoso que preveem o benefício para pessoas com mais de 65 em situação de carência. A juíza observou ainda que o próprio estatuto, em outro artigo, considera idosas as pessoas que tenham pelo menos 60 anos de idade.
Podemos observar que a juíza considerou inconstitucional os artigos
da LOAS que limitam a idade de 65 anos para que o idoso receba o benefício, uma vez que o Estatuto do idoso estabelece o limite de 60 anos e a constituição não impõe um limite definido para que o mesmo seja concedido ao idoso. Por fim, Hugo Leonardo (2017) diz que:
Diante dos argumentos mencionados notamos que o judiciário tem se movimentado no sentido de demonstrar que disparidade existente entre o a idade para a concessão do benefício da Loas para a pessoa idosa está em descordo com Estatuto do Idoso é injustificável. Decidindo conceder o benefício o idoso menor de 65 anos. O objetivo não é distribuir aleatoriamente benefícios, mas efetivar o Estatuto do Idoso que é a legislação específica para tratar dos assuntos relacionados à defesa do envelhecimento com dignidade que todo ser humano requer.
Como nos diz o autor, a ideia não é fazer com quer o benefício seja distribuído de forma inconsistente e aleatória. Não se trata de criar uma espécie de farra dos benefícios, prejudicando o equilíbrio das contas do Estado, mas tornar efetivo tudo o que o Estatuto do idoso propõe, assim como as garantias propostas pela LOAS. Além do mais, tudo isto ajuda a cumprir a constituição, proporcionando ao idoso a dignidade humana, princípio fundamental de nossa lei maior. Tudo isto é necessário para corrigir as injustiças que ainda são enormes em nosso país.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após esta exposição podemos a perceber que ainda há muita coisa a se fazer para corrigir as distorções causadas pela diferença de idade contida nas duas leis, a LOAS e o Estatuto do Idoso. Também existe muita coisa que precisa ser melhorada e corrigida, para que o nobre idoso tenha uma vida que seja condizente com todo o seu esforço e trabalho. O idoso passou toda a sua vida trabalhando a serviço do país, da nação, dedicou horas a fio a cuidar dos seus familiares e a construir um patrimônio capaz de sustentar a sua vida e contribuir para o desenvolvimento do país. Toda a sua luta deve ser recompensada agora que ele alcançou a terceira idade. A ele não deve ser reservada a esmola, uma vida feita de privações e angústias, descaso e esquecimento por parte de todos aqueles que se beneficiaram do seu esforço ao longo de anos de trabalho, empenho e contínuo labor.
As sentenças favoráveis dos tribunais contribuem para criar uma saudável jurisprudência que venha a garantir o direito do idoso com menos de 65 anos a receber o benefício de prestação continuada. Estas resoluções sugerem um horizonte mais favorável para construirmos uma justiça social efetiva que alcance o idoso em todas as suas necessidades. Ele não pode jamais ficar à margem das políticas públicas. Estamos, sim, diante de uma questão de política pública, da atenção que deve ser dada pelo Estado a estes cidadãos de primeira classe, que não podem ser tratados como indivíduos de segunda ou terceira classe.
As distorções decorrentes da redação do texto da lei podem ser corrigidas com uma nova versão do texto da LOAS, ou mesmo com o respeito ao texto constitucional, que garante o direito ao benefício sem fixar uma faixa etária muito rígida, prejudicando assim aquele que é mais frágil na cadeia produtiva, econômica e social. Cuidar dos idoso é, sobretudo, cuidar do país. Não significa apenas cultivar o passado, mas o presente e o futuro as novas gerações. Estas precisam ver e entender que a terceira idade não deve ser vista como um castigo, uma fase de tormentos e injúrias, mas o momento propício para gozar e usufruir de todo esforço e de tudo o que foi construído durante uma vida inteira. 
A velhice precisa ser encarada em nosso país como um bem precioso, como a época em que nos aproximamos mais da sabedoria. Para isto, é necessário prover esta fase das condições materiais, espirituais, sociais e culturais que garantam o livre desenvolvimento de suas habilidades e potencialidade. O idoso tem muitas potencialidades e não pode ser visto como alguém que está prestes a morrer ou que não mais nenhuma serventia, uma vez que já esgotou todas as suas potencialidades. Confiar nas capacidades do idoso que ainda podem ser desenvolvidas é acreditar que ele ainda pode viver muitas experiências, que a vida ainda lhe reserva muitas alegrias, muitas surpresas. Por isto é que o legislador, o operador do direito deve estar atento às demandas nascidas das lutas diárias destes indivíduos. Não estamos diante do passado, mas diante daqueles que nos ensinaram a viver e que por isso mesmo merecem viver com dignidade. 
REFERÊNCIAS
ARGOLO, Diêgo Edington; FURTADO, Natália Maria Reis Oliveira. Os direitos dos idosos no Brasil: uma investigação dos planos fático E legislativo. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XVI, n. 112, maio 2013. Disponível em: <http://ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=13217>. Acesso em nov 2017.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. 292 p
BRASIL. Lei nº 8.742, de 07 de dezembro de 1993- Lei Orgânica da Assistência social (LOAS)
BRASIL. Lei n° 10.741, de 1° de outubro de 2003. Estatuto do Idoso. Brasília: Câmara dos Deputados, 2003.
IURCONVITE, Adriano dos Santos. A evolução histórica dos direitos sociais: da Constituição do Império à Constituição Cidadã. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIII, n. 74, mar 2010. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=7417>. Acesso em nov 2017.
OLIVEIRA, Hugo. Limbo Jurídico do Bpc Existente Entre O Estatuto do Idoso e a Lei Orgânica de Assistência Social e a Constituição da República Federativa do Brasil. Jus Brasil, 2017. Disponível em: https://drhugooliveira.jusbrasil.com.br/.../limbo-juridico-do-bpc-existente-entre-o-esta. Acesso em nov. 2017
SILVA, Heleno Florindo da. A Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) como ação afirmativa a garantir o direito a diferença. Conteúdo Jurídico, Brasília-DF: 15 fev. 2011. Disponível em: <http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.31232&seo=1>. Acesso em nov. 2017.

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