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Prescrição e decadência

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Prescrição e decadência.
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Publicado por Giovanna Tartuce
há 2 anos
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1. INTRODUÇÃO
O título IV do livro III da Parte Geral do Código Civil, que engloba do artigo 189 até o 206, trata sobre prescrição e decadência. O termo prescrição provém do vocábulo latino praescriptio, derivado do verbo praescribere, que significa a rigor um escrito posto antes. Por sua vez, o instituto da caducidade tem origem vocabular latina, oriundo do verbo cadere, que é a ação ou estado de cair.
Afirma-se que esses institutos tiveram origem no Direito Romano, no qual as causas eram perpétuas. O interessado podia, portanto, apelar a elas a qualquer tempo. Entretanto, os recursos tardios incertos geravam instabilidade e desarmonia. Percebeu-se então a necessidade de se ter segurança e estabilidade nas transações jurídicas. Deste modo, no Direito Pretoriano, o pretor, ao criar uma ação, passou a prever um prazo dentro do qual ela deveria ser exercida, sob pena de prescrição. Passado um ano de prazo (annus utilis), o réu poderia refutar o efeito do litígio.
Transpondo o tema para a órbita do ordenamento jurídico brasileiro, compreende-se que Código Civil de 1916 não fazia distinção alguma em relação a esses dois institutos. Atualmente a doutrina, orientada pelo Código Civil de 2002, traz uma distinção explícita entre prescrição e decadência.
Nas relações jurídicas dos referidos institutos, o tempo exerce papel essencial. Segundo Silvio Rodrigues, “existe um interesse da sociedade em atribuir juridicidade àquelas situações que se prolongam no tempo”. (2011, 323).
Washington de Barros Monteiro (2012) observa que os não-versados em direito entendem a prescrição como manobra política que contraria a justiça e a moral. Ele explicita, entretanto, a real importância desses institutos para o contexto jurídico. Seja para evitar a necessidade de arquivar eternamente todos os papeis, recibos, contratos, seja para punir um sujeito que negligencia um direito - o individuo que longamente deixou de exercer uma ação que resguardava um direito subjetivo perde a prerrogativa de utilizá-la - ou até mesmo para assegurar o direito fundamental à segurança jurídica, elencada no Artigo 5º da Constituição Federal.
O direito tem um prazo a ser exercitado, não podendo este ser eterno, sujeitando-se, pois, a prescrição ou a decadência. É no intuito de preservar a paz social, a tranquilidade da ordem, a estabilidade das relações sociais que devemos buscar o fundamento dos institutos supracitados.
2. PRESCRIÇÃO
O instituto da prescrição tratado no Código Civil de 1916, deliberado por Clóvis Beviláqua, é o ponto de partida para as definições doutrinárias posteriores. Segundo o mesmo, ocorre prescrição quando o titular do direito não o exercita pelo tempo previsto em lei, deixando que se constitua situação contrária à pretensão do credor¹.
São duas as maneiras pelas quais relações jurídicas serão interferidas pelo tempo. Há a prescrição aquisitiva, em que à pessoa que desfruta de um direito por um determinado lapso temporal será atribuída à prerrogativa de incorporá-lo ao seu patrimônio, e também a prescrição extintiva, que se dá pela perda de um indivíduo da prerrogativa de fazer uso de uma ação que protegia certo direito subjetivo devido a demora em fazê-lo. Parte da doutrina entende o usucapião como sendo sinônimo de prescrição aquisitiva.
Embora o elemento tempo aja de igual maneira nestes dois institutos, são eles de natureza diferente, tanto é que o Código Civil de 2002 trata do primeiro na Parte Especial, dentro do Direito das Coisas, enquanto que o segundo é feito na Parte Geral. Desta feita, a abordagem a ser feita no presente artigo tratará essencialmente da prescrição extintiva.
Os fundamentos jurídicos da prescrição enumerados por Câmara Leal (1939) são: o da ação destruidora do tempo, o do castigo à negligência, o da presunção de abandono ou renúncia, o da presunção de extinção do direito, o da proteção ao devedor, o da diminuição das demandas e o do interesse social pela estabilidade das relações jurídicas.
Em âmbito geral, é abordada a dicotomia acerca do fundamento da prescrição. Se por um lado alguns teóricos atribuem a ela a ideia de castigo devido à inércia do titular do direito, outros a fundamentam no anseio da sociedade em não permitir que demandas fiquem indefinidamente pendentes. (Rodrigues, 2011: 327)
Nas palavras de Maria Helena Diniz,
¹ Artigo 263 do Projeto de Código de Obrigações, revisto no ano de 1965.
Esse instituto foi criado como medida de ordem pública para proporcionar segurança às relações jurídicas, que seriam comprometidas diante da instabilidade oriunda do fato de se possibilitar o exercício da ação por prazo indeterminado. (Diniz, 2003: 337)
A prescrição relata todos os direitos indistintamente, tendo um alcance geral e pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição pela parte que a quem aproveita. Podendo também ser contestada em primeira ou segunda instância, na ação e na execução. Inadmissível, porém, será a arguição em recurso extraordinário se a parte não o fez na justiça comum; é dito, assim, que, os Superiores Tribunais não reconhecem questões que não tenham sido ajuizadas na justiça local.
Os efeitos da prescrição em relação às pessoas se dividem em ativos e passivos. Os primeiros são os que produzem efeitos em relação à pessoa beneficiada pela prescrição; e os passivos produzem seus efeitos em relação à pessoa por ela prejudicada. A prescrição também pode produzir efeitos para um terceiro.
Alguns direitos, como salienta Washington de Barros Monteiro (2012), não se acham sujeitos a limite de tempo e por isso, não se extinguem pela prescrição. Podem ser mencionados: os direitos personalíssimos (vida, honra, nome, liberdade, privacidade, autoria, à imagem, nacionalidade); ações referentes ao estado de família (separação judicial, divórcio, anulação de casamento, reconhecimento de filiação); os bens públicos, independentes da natureza; direitos facultativos; a exceção de nulidade.
Ainda para que ocorra a prescrição, deve haver ausência de algum fato ou ato a que a lei atribua eficácia impeditiva, suspensiva ou interruptiva. Ou seja, não podem existir circunstâncias que previstas em lei que impeçam o curso da prescrição – as chamadas causas perclusivas. No nosso direito, são exemplos de causas impeditivas a constância do matrimônio, o pátrio poder, a tutela ou curatela e a incapacidade civil. Como exemplos de causas suspensivas, temos a ausência do titular, fora do Brasil, e o serviço militar do titular em tempo de guerra.
A prescrição depois de consumada pode ser renunciada, explicita ou tacitamente, somente pelo prescribente nos termos do art. 191. Todavia, a renúncia deste instituto quando ele não estiver em curso é terminantemente proibida, pois contraria a natureza de ordem pública inerente à prescrição. Cessa, todavia, o direito de alegar a prescrição por decisão com trânsito em julgado.
A renúncia somente valerá se for feita sem prejuízo a terceiros e depois que a prescrição se consumar. De acordo com Câmara Leal (1939), a prescrição não pode ser renunciada pelo titular antes do seu início, uma vez que isso iria torná-la ilusória e ela desapareceria, já que foi criada para estabilizar o direito que está incerto por ter ocorrido sua violação, além do que, o caráter de ordem pública atribuído à prescrição respalda que não seja possível renunciá-la antes de seu decorrer.
Com relação aos seus efeitos, a prescrição estabelece uma relação jurídica entre duas pessoas: o titular da ação, que está perdendo o direito de exercer a mesma, e o sujeito passivo da ação, que está adquirindo o direito de não ser acionado. Todas as pessoas, naturais ou jurídicas, podem sofrer os efeitos da prescrição. No entanto existem exceções, sendo essas estabelecidas pelo Código Civil Brasileiro.
Washington de Barros Monteiro (2012) disserta sobre a aplicação do instituto para as pessoas jurídicas; o referido se estende tanto no âmbito público quanto no privado e nenhum
privilégio é outorgado a elas. Cabe ressaltar, no entanto, que algumas pessoas de direito interno como a União, estados, munícipios e autarquias recebem tratamento especial, pois qualquer dívida ou ação contra eles prescrevem em cinco anos quando nos mesmos casos, os prazos seriam mais extensos.
Tanto as pessoas jurídicas quanto os relativamente incapazes são assegurados pelo Código Civil que, por sua vez, garante a essas pessoas o direito de ação regressiva contra seus assistentes ou representantes legais em casos em que esses não alegaram a prescrição no devido tempo ou se lhe derem causa. Essa, nas palavras de Washington de Barros Monteiro (2012), é uma das proteções que o Código ofereceu aos incapazes.
No que tange a questão do herdeiro, o Código de 1916 dispunha que somente contra ele poderia continuar a correr a prescrição e não contra o cessionário e legatário, por exemplo. É claro, todavia, que a prescrição iniciada ocorre também contra o sucessor do credor que irá apenas dispor do tempo restante para eximir a dívida. O Código de 2002 corrigiu tal falha. Outra mudança que deve ser considerada ocorreu devido a revogação do art. 194 e agora, a prescrição, em regra, pode ser reconhecida de ofício pelo juiz em qualquer caso tento as partes requisitado ou não. Ratifica-se, assim, que o juiz pode identificar a prescrição de ofício, não cabendo discussão se se trata de direitos patrimoniais ou não.
O Código de 1916 também se diferencia do atual quanto à antiga premissa de que com o principal os direitos acessórios prescreveriam. E outro ponto a ser ressaltado é que a prescrição em curso não cria direito adquirido e possibilita a redução ou ampliação do prazo através de lei superveniente ou transformado em caso de caducidade. Vale ressaltar que todos os preceitos da lei civil em matéria de prescrição são assistidos pela legislação mercantil.
A principal diferença estabelecida por Washington de Barros Monteiro (2012) entre as causas que suspendem ou impedem a prescrição das que interrompem concernem na temporária cessação do curso do instituto, ou seja, vale o lapso temporal transcorrido antes do fato impediente; as segundas, todavia, quando se verifica alguma causa interruptiva, perde-se totalmente o tempo transcorrido precedentemente. Sobre este assunto, Silvio Rodrigues disserta
Outra diferença fundamental entre a suspenção e a interrupção da prescrição está em que naquela o prazo transcorrido antes de suspensa a prescrição aproveita ao devedor, pois, reiniciado seu curso, aquele se adiciona ao novo; enquanto na interrupção da prescrição o prazo que flui até a data da interrupção é como se não tivesse existido, começando a correr novamente. (Rodrigues, 2011: 336)
Washington de Barros Monteiro (2012) procura salientar as situações nas quais não ocorre a prescrição. As principais estão previstas no art. 199. Outras, entretanto, são mencionadas como: contra menores de dezoito anos no que tange matéria trabalhista; durante processo de recuperação judicial ou falência; durante a liquidação extrajudicial das sociedades seguradoras; nem contra qualquer dos interessados na apuração e nas consequências dos acidentes e fatos da navegação por água enquanto não houver decisão definitiva no Tribunal Marítimo.
Maria Helena Diniz (2003) destaca as causas que interrompem a prescrição, que são: as que inutilizam a prescrição iniciada, de modo que o seu prazo recomeça a correr da data do ato que a interrompeu ou do último ato do processo que a interromper. O artigo 202 do Código Civil dispõe seis atos que interrompem a prescrição. No primeiro caso, somos apresentados a interrupção da prescrição através do despacho do juiz, mesmo sendo incompetente, que ordenar a citação, caso o interessado a promover no prazo e na forma da lei.
O segundo caso refere-se ao despacho que a ordena e não a citação propriamente dita, que tem o condão de interromper a prescrição. Sua eficácia depende da citação efetuar-se no prazo fixado em lei. Essa, por sua vez, admite que tal efeito se realize mesmo que a citação seja ordenada por juiz incompetente. Tal regra, entretanto, não beneficia alguém que tinha a intenção de se salvar da prescrição que está quase sendo consumada por sua simples negligência.
A citação é outra maneira pela qual se deve interromper a prescrição, que é composta de validade intrínseca. A prescrição, pois, não é interrompida com a citação nula por vício de forma ou por achar perempta a instância ou a ação.
A terceira hipótese listada para interromper a prescrição é por meio do protesto nas condições do artigo 202. Nele é dito que: “nas condições do inciso anterior”, ou seja, Maria Helena Diniz e demais autores entendem que o legislador está se referindo ao protesto judicial e não o protesto comum de título cambial.
O artigo 203 impõe que a prescrição pode ser interrompida por qualquer interessado, sendo que o artigo seguinte delibera que a interrupção da prescrição por um credor não aproveita aos outros; e a interrupção operada contra o codevedor, ou seu herdeiro, não prejudica aos co-obrigados.
No que tange ao prazo, Maria Helena o define como “o espaço de tempo que decorre entre seu termo inicial e final” (2003: 347). É do conhecimento de todos os juristas que os prazos prescricionais estão dispostos nos artigos 205 e 206 do Código Civil de 2002 que, diferentemente do de 1916, estabeleceu de forma diversa os prazos decadenciais e prescricionais. No artigo 205 encontramos a regra geral de estabelecimento de prazos, sendo que, a prescrição
ocorre em dez anos, se a lei não dispuser em contrário. Este, porém, consiste no prazo máximo da prescrição. O artigo 206, por sua vez, versa inúmeras ações e fixa-lhes um prazo diferente de prescrição, que começa de um e vai até cinco anos, atribuído a diversas ações.
No prazo de um ano se prescreve a pretensão dos hospedeiros ou fornecedores de víveres destinados a consumo no próprio estabelecimento, para o pagamento da hospedagem ou dos alimentos.
Prescreve em dois anos a pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que se vencerem. E em três anos a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos. Com quatro anos, segundo o Código, irá prescrever a pretensão relativa à tutela, a contar da data da aprovação das contas. Finalmente, temos o prazo de cinco anos no qual prescreverá a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular.
3. DECADÊNCIA
Antes de conceituar o aludido instituto, faz-se mister ressaltar que o Código Civil de 1916 não discutiu, expressamente, da decadência. A doutrina e a jurisprudência faziam, todavia, uma analogia entre os dois institutos aqui estudados por ambos apresentarem um traço em comum, qual seja a inércia duradoura do titular do direito.
Câmara Leal estabelece o conceito jurídico da decadência, que é
A extinção do direito pela inércia de seu titular, quando sua eficácia foi, de origem, subordinada à condição de seu exercício dentro de um prazo prefixado, e este se esgotou sem que esse exercício se tivesse verificado (Leal, 1939, p.123).
No mundo jurídico, indica a queda ou o término do direito, pela extinção do prazo determinado para o seu exercício.
Esclarecido o objeto da decadência, temos que falar a respeito de seus efeitos. O principal deles é a extinção do direito, fazendo assim com que desapareça a ação que deveria assegurá-lo. Logo, com relação à ação, a decadência pode produzir dois efeitos: a extinção da mesma, ou o impedimento de seu nascimento.
A decadência, em linhas gerais, ocorre quando um direito potestativo não é exercido tanto extrajudicial quanto judicialmente dentro do prazo. É, pois, um direito sem pretensão. Pode ela ser arguida tanto por via de ação como por exceção; bem como em qualquer estado de causa e instância.
Maria Helena Diniz (2003) advoga ser a decadência a supressão do direito pela inatividade de seu titular que deixou escoar o prazo legal ou voluntariamente determinado para seu exercício, sendo esse seu principal efeito.
A autora também salienta que o objeto do instituto está no direito que, por determinação legal ou por vontade do sujeito uni ou bilateral, está submetido à condição de exercício em certo lapso temporal, sob pena de caducidade. Se o titular, portanto, deixar de exercer o seu direito no prazo previamente estabelecido, tem-se a decadência e, assim, o perecimento do direito. Acaso isso ocorra, esse sujeito não poderá exercer o mesmo direito licitamente. Então, conclui-se que o exercício do direito afasta a decadência. Todavia, essa produz seus efeitos extintivos de modo absoluto.
Como já dito anteriormente, se o direito for extinto pela decadência, não poderá produzir os seus efeitos, portanto se for alegada e comprovada a decadência a qualquer tempo durante o litígio, faz-se o juiz impedido de reconhecer tal direito, assegurando a sua eficácia. O juiz, no entanto, pode julgar a decadência independente da exposição da parte interessada também em qualquer instância e estado da causa antes mesmo que esta seja julgada.
Sendo um fenômeno objetivo, a decadência não é estabelecida em relação às pessoas. Devido a isso, as pessoas contra as quais não ocorre a prescrição, não ficam alheias dos efeitos da decadência, ou seja: cônjuges, na constância do matrimônio, ascendentes e descendentes, no pátrio poder, curadores e curatelados, na tutela, os absolutamente incapazes, os ausentes a serviço militar ou a serviço da União, Estados ou Municípios.
Com relação à arguição da decadência, Câmara Leal estabelece que arguição da decadência pode ser feita tanto por meio de ação quanto por meio de exceção, em qualquer estado da causa e em qualquer instância. Quatro serão aqueles que poderão ter legítimo interesse jurídico alegando decadência contra o titular, pois neles o direito decaído produzirá efeitos: sujeito passivo do direito oriundo de relação jurídica obrigacional; sujeito passivo da ação que tem por fundamento o direito decaído; os sucessores do sujeito passivo do direito ou da ação; e qualquer terceiro que se mostre prejudicado com a eficácia do direito decaído.
O prazo de decadência estabelecido por lei torna-se irrenunciável, sendo, pois, impedida a derrogação de mandamento legal; se, no entanto, o prazo foi estabelecido por meio de vontade humana, nada impede a renúncia.
A decadência, todavia, não se limita ao Código Civil de 2002. Para exemplificar tal fato, Washington de Barros Monteiro cita o Código de Defesa do Consumidor que em seu artigo 26, § 2º impõe que se opõe a decadência a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de forma inequívoca.
Na decadência, o direito é outorgado para ser executado dentro de um prazo pré-estabelecido; caso não seja exercido, o direito é extinto. Washington de Barros Monteiro elenca alguns prazos decadenciais: a) o de noventa dias para celebração de casamento (artigo 1.532); b) os de anulação de casamento (artigos 1.555 e 1.560 e subsequentes parágrafos); c) o da ação do filho para reivindicar imóveis de sua propriedade alienados ilegalmente pelo pai; d) o do pacto de retrovenda e o de preferência (artigos 505 e 516, respectivamente); e) o de ano e dia para propositura das ações de força nova (artigos 924 do CPC); f) o do inquilino para ajuizar ação renovatória de contrato de locação comercial; g) o do artigo 1.481 do Código Civil; h) o de cento e vinte dias para impetrar mandato de segurança; i) o dos parágrafos unicos dos artigos 45 e 48do Código Civil.
O artigo 178, bem como seus incisos, do Código Civil de 2002, por exemplo, traz o prazo decadencial de quatro anos referente ao litígio de anulação do negócio jurídico. Washington de Barros Monteiro destaca ainda o artigo 179 que determina o prazo de dois anos, a contar da data de conclusão do ato, para os casos em que a lei estabelecer que certo ato seja anulável, mas não estabelece prazo fixo para pleitear-se a anulação. Esse prazo, cabe salientar, é contado a partir da data de conclusão do ato.
No caso das pessoas jurídicas, cuidam os artigos 45 e 48 do mesmo dispositivo legal. No primeiro, estabelece o legislador o decaimento em três anos do direito de anular a constituição das pessoas jurídicas no âmbito do direito privado por defeito do ato respectivo. Para tanto, conta-se o prazo da publicação da inscrição no registro. Ao segundo, porém, cabe estabelecer mesmo prazo de decadência para anular as decisões da pessoa jurídica que contar com administração coletiva.
O art. 119 também é citado por Washington de Barros Monteiro, pois o legislador por meio dele estipula o prazo decadencial de anulação do negócio jurídico pelo representante se esse entrar em conflito com seu representado.
4. CONCLUSÃO
Após a exposição feita acima, entende-se que a decadência e a prescrição se aproximam em relação ao seu fundamento, qual seja a inércia duradoura do titular do direito. Mister se faz estabelecer diferenças entre os dois institutos, visto que “não são raras as dúvidas sobre se um determinado prazo é de decadência ou de prescrição”. (Rodrigues, 2011: 330)
Câmara Leal (1939) estabelece as diferenças entre esses dois institutos: a decadência extingue diretamente o direito, e com ele a ação que o protege. Tem por objeto o direito, que é causa direta e imediata de sua extinção e começa a correr desde o momento de seu nascimento e supõe um direito que, embora nascido, não se tornou efetivo pela falta de seu exercício. Já a prescrição extingue diretamente a ação e com ela o direito que protege, tendo por função extinguí-la e somente começa a correr depois que o direito é violado, uma vez que é nesse momento que nasce a prerrogativa da ação e supõe a existência de um direito nascido e efetivo, mas que pereceu pela falta de proteção pela ação.
A diferença fundamental entre prescrição e decadência reside no fato do objeto. O objeto da primeira, como já dito, é a ação, e o da segunda, o direito. Diferenciar tais objetos, então, se torna necessário. O direito é uma faculdade de agir que pertencente ao titular, enquanto a ação é um meio judicial de proteção a essa mesma faculdade, quando ela é de alguma maneira ameaçada ou violada.
Outra diferença entre os institutos referidos pode ser extraída do artigo 210. A prescrição só pode ser reconhecida pelo juiz se fomentada pelas partes, executando, porém, o favorecimento do absolutamente incapaz. A decretação da decadência, no entanto, pode ser feita de ofício pelo juiz, independentemente de suscitação das partes e salvo previsão legal.
Outra diferença salientada concerne que a prescrição somente pode ser decorrente em lei; a decadência, ao contrário, provém tanto da lei quanto do contrato e do testamento. Pode ser exposta em qualquer tempo pela parte que assim desejar, mas o juiz não poderá suprir tal alegação.
Ao contrário da prescrição, a decadência não admite a existência de cláusulas perclusivas. Ela se opera automaticamente se a inércia do titular ultrapassar o prazo prescrito. Os prazos, por sua vez, não podem ser alongados por causa de uma suspensão, nem por um ato interruptivo. Apenas o exercício efetivo do direito, dentro do termo que o subordina, impede a decadência.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO. São Paulo, Saraiva: 2010.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. v. 1. Teoria Geral do Direito Civil. São Paulo, Saraiva: 2003.
LEAL, Antônio Luiz da Câmara. Da prescrição e da decadência. Teoria Geral do Direito Civil. São Paulo, Saraiva: 1939.
MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil, v. 1: parte geral. 44ª ed. São Paulo, Saraiva: 2012.
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil.
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