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Estimativa Probabilistica das Capacidades de Carga de uma Fundacao Rasa em Alguns Solos de Salvador Ricardo Pichani Celestino Universidade Federal da Bahia, Escola Politécnica, DCTM. Rua Aristides Novis, 2 – Federação. Salvador, Bahia. 40210-630. <ricardopcelestino@hotmail.com>. Charles Brito Moreira Junior Engenheiro Civil, SESC-BA. Av. Professor Pinto de Aguiar, 161, Ap. 102 – Patamares. Salvador, Bahia. 41740-090. <charlesbmoreirajunior@hotmail.com>. Paulo Gustavo Cavalcante Lins Universidade Federal da Bahia, Escola Politécnica, DCTM. Rua Aristides Novis, 2 – Federação. Salvador, Bahia. 40210-630. (71) 3283-9847. <plins@ufba.br>. RESUMO: A capacidade de carga de fundações superficiais pode ser estimada por métodos teóricos, como o método de Terzaghi, e também por métodos empíricos baseados em ensaios de campo como o SPT. O presente trabalho apresenta uma estimativa probabilística da capacidade de carga para uma fundação rasa para solos de diferentes formações geológicas da cidade de Salvador/BA. Em uma primeira série de simulações as capacidades de carga probabilísticas foram estimadas utilizando o método de Terzaghi, e o método de Monte Carlo, utilizando como parâmetros de entrada parâmetros de resistência médios para diferentes solos de formações geológicas de Salvador e utilizando ainda parâmetros de dispersão da literatura. As capacidades de carga probabilísticas foram ainda estimadas a partir de resultados do SPT, com o método de Monte Carlo, quando também foram utilizados valores médios associados as diferentes formações geológicas de Salvador e parâmetros de dispersão estimados a partir da literatura. Os resultados médios obtidos pelo método de Terzaghi se mostraram numericamente maiores que os resultados médios obtidos a partir do SPT. PALAVRAS-CHAVE: Capacidade de carga, Análise Probabilística, Geologia de Salvador. 1 INTRODUÇÃO A determinação da capacidade de carga ou da tensão admissível é parte fundamental do projeto de uma fundação direta. A definição desta capacidade de carga ou da tensão admissível é tratada usualmente de forma determinística. Trabalhos como o de Cintra et al. (2011) chamam atenção para o fato de existir uma variabilidade da capacidade de carga decorrente da variabilidade do solo e das dimensões dos elementos de fundação. Nos dias correntes busca-se conhecer funções de densidade de probabilidade para a resistência do terreno, especificamente para a capacidade de carga ou a tensão admissível. Uma prática usual é adotar a distribuição normal para representar o problema. Esta distribuição, como se sabe, trabalha em termos de uma média e um desvio padrão. No presente trabalho utilizou-se a distribuição normal para buscar estimar a capacidade de carga a partir de parâmetros geotécnicos médios de laboratório e de campo para alguns solos da cidade de Salvador, Bahia. Os desvios padrões foram estimados a partir da literatura. O Método de Monte Carlo foi utilizado para gerar as distribuições de probabilidade. 2 MÉTODO TEÓRICO A determinação da capacidade de carga de uma fundação rasa pode ser determinada a partir do conhecimento dos parâmetros de resistência do solo e da configuração da fundação. O equacionamento desenvolvido por Terzaghi é a referência básica deste estudo. Para uma sapata quadrada, de lado B, com um embutimento Df, Terzaghi e Peck (1967) apresentam a seguinte equação para a capacidade de carga: γγγ BNND qf 4,01,2cNq c ++= (1) Na equação (1) c é a coesão do solo, γ é o peso específico do solo, e Nc, Nq e Nγ são fatores de capacidade de carga que são função do ângulo de atrito φ do solo. Para a determinação Nq e Nc de Terzaghi e Peck (1967) apresentam as seguintes expressões: += 2 45tan 2tan φφpi oq eN (2) ( )1cot −= qc NN φ (3) Para aproximar os valores de Nγ Cintra et al. (2011) sugerem que seja utilizada a seguinte equação: ( ) φγ tan12 +≅ qNN (4) Uma equação diferente é apresentada por Coduto (2001), a saber: ( ) ( )'4sin4,01 'tan11 φ φ γ + + ≅ qNN (5) Note-se que a expressão de Coduto (2001) está apresentada em termos de tensão efetiva. 3 MÉTODO SEMIEMPÍRICO A utilização de um método semiempírico é precedida de um alerta da necessária cautela de analisar origem e validade dos referidos métodos (Cintra et al., 2011). A utilização do índice de resistência a penetração do SPT para obter a tensão admissível em fundações diretas por sapatas é prática corrente no meio técnico brasileiro. Adaptando a notação apresentada por Cintra et al. (2011) a tensão admissível (em MPa) é dada pela relação: f SPT a D N γσ += 50 (6) Na equação (6) o NSPT é o valor médio do número de golpes do SPT no bulbo de tensões. O termo (γDf) é a sobrecarga, que pode ser desconsiderada ou não. Para que exista compatibilidade de unidades γ deve ser dado em MN/m3, e Df deve ser dado em metros. Cintra et al. (2011) relatam que outros autores que partindo de relação do NSPT com a resistência de um solo puramente argiloso e utilizando uma relação teórica para uma sapata retangular, apoiada na superfície do terreno, considerando um fator de segurança de 3, chegaram a uma relação entre o e a tensão admissível dada por: 50 SPT a N =σ (7) Cabe destacar que a capacidade de carga dada pela equação (1) refere-se a carga de ruptura do sistema sapata solo, enquanto que a tensão admissível apresentada nas equações (6) e (7) refere-se a uma carga que envolve a carga de ruptura dividida por um fator de segurança. Para as comparações realizadas neste trabalho será considerado que o fator de segurança é igual a 3, desta forma será considerada uma adaptação na equação (6), para relacionar a capacidade de carga com a tensão admissivel. Para fins deste trabalho a capacidade de carga foi tomada como 3 vezes o termo de NSPT sobre cinquenta somado ao termo do peso específico vezes o embutimento. Desta forma foi considerado que o termo do peso específico vezes o embutimento não contém uma margem de segurança. 4 PARÂMETROS MÉDIOS DOS SOLOS A Prefeitura Municipal de Salvador elabourou um documento denominado Plano Diretor de Encostas (Salvador, 2004). Neste documento foram reunidos dados e realizado um tratamento estatístico destes dados obtidos através de ensaios de laboratório, dos diferentes materiais encontrados nos domínios geológico- geotécnicos de Salvador, realizados no Laboratório de Geotecnia da Escola Politécnica (UFBA). Na sua dissertação de mestrado Silva (2005) sistematizou estes dados. Os dados levantados por Salvador (2004) sistematizados por Silva (2005) consideraram os seguintes domínios geológico-geotécnicos: Formação Barreiras, Formação Salvador, Formação Pojuca e Cristalino/residual. A Tabela 1 apresenta os valores médios do peso específico, coesão e ângulo de atrito para os referidos domínios. Em Silva (2005) podem ser encontrados ainda valores máximos e mínimos para estes parâmetros. Silva (2005) sistematizou ainda dados referentes ao ensaio SPT associados aos domínios geológico-geotécnicos anteriormente citados. A Tabela 2 apresenta parte destes dados. Em Silva (2005) podem ser encontrados também dados relativos a profundidade do impenetrável. Tabela 1. Peso específico médio, coesão média e ângulo de atrito médio para os domínios geológico-geotécnicos de Salvador (Salvador, 2004, sistematizado por Silva, 2005). Domínio γ (kN/m3) c (kPa) φ (°) Fm. Barreiras 16,7 18,0 31,0 Fm. Salvador - 26,9 29,7 Fm. Pojuca - 15,7 22,0 Cristalino/residual 16,3 15,6 29,4 Tabela 2. Resultadosde ensaios NSPT para os diferentes materiais encontrados nos domínios geológico- geotécnicos de Salvado (Salvador, 2004, sistematizado por Silva, 2005). Domínio Profundidade; Índice NSPT Fm. Barreiras 3m; 6 - 19m; 16 Fm. Salvador 4m; 5 8m; 10 - Fm. Pojuca 2m; 6 5m; 13 6m; 20 Cristalino/residual 3m; 6 10m; 11 17m; 15 5 PARÂMETROS DE DISPERSÃO A análise estatistica de problemas geotécnicos é usualmente realizada considerando uma distribuição normal, definida por uma média e por um desvio padrão. Este será o caso do presente trabalho também. O coeficiente de variação (COV) é definido como a razão entre o desvio padrão (DP) e a média. Ribeiro (2008) afirma que é possível estimar os desvios padrão a partir de coeficientes de variação existentes na literatura. Ribeiro (2008) sistematizou coeficientes de variação mínimos e máximos para diversos parâmetros geotécnicos a partir da literatura. A Tabela 3 apresenta alguns dos valores apresentados por Ribeiro (2008). Tabela 3. Coeficientes de variação de parâmetros geotécnicos (adaptado de Ribeiro, 2008). Parâmetro COV (%) Mínimo Máximo Número de golpes do SPT 15 45 Peso específico de solos residuais (γ) 1,5 9,4 Intercepto efetivo de coesão de solo residual gnaissico jovem (c´) 13,4 18,4 Tangente do ângulo de atrito efetivo de solos residuais (tgφ´) 2,4 16,1 Peso específico de argilas sedimentares (γ) 2 7 Tangente do ângulo de atrito efetivo de argilas sedimentares (tgφ´) 3 6 Intercepto efetivo de coesão de argilas sedimentares (c´) 8 14 Os coeficientes de variação utilizados neste trabalho foram estimados a partir dos dados da Tabela 3. 6 MÉTODO DE MONTE CARLO Dentre os métodos probabilisticos utilizados em geotecnia cabe citar o Método das Estimativas Pontuais, o Método do Segundo Momento de Primeira Ordem, o Método de Monte Carlo e o Método do Hipercubo Latino. No presente trabalho foi utilizado o Método de Monte Carlo. O Método de Monte Carlo consiste na geração aleatória de um número grande de dados, atendendo a uma distribuição de probabilidade, para cada variável independente (usualmente 1000, 5000 10000 dados). Com as variáveis geradas deve-se calcular a capacidade de carga para cada dado gerado e realizar um tratamento estatístico dos resultados. No presente trabalho a simulação por Monte Carlo foi realizada em uma planilha eletrônica Excel. No presente trabalho, simulações preliminares mostraram que 1000 gerações aleatórias são suficientes para o problema em tela. 7 MODELO SIMULADO Para este trabalho foi considerada uma sapata quadrada de 1,5m de lado, executada a um metro de profundidade. A sapata foi considerada construída no Cristalino/residual no primeiro conjunto de simulações e construída na Formação Barreiras no segundo conjunto de simulações. 8 RESULTADOS 8.1 Método Teórico para o Cristalino/residual Os parâmetros para simulação pelo método teórico no Cristalino/residual são apresentados na Tabela 4. Os parâmetros médios são os da Tabela 1, os coeficientes de variação adotados são para solo residual gnaissico jovem indicados na Tabela 3. Deve-se destacar que o coeficiente de variação para o ângulo de atrito é dado para sua tangente. Tabela 4. Parâmetros para a simulação pelo método teórico para o Cristalino/residual. Parâmetro Média COV DP Coesão (kPa) 15,6 18,4% 2,87 Ângulo de atrito * 29,4 16,1% 5,18 Peso específico (kN/m3) 16,3 9,4% 1,53 * A média e o DP do ângulo de atrito estão em graus, o COV está relacionada com a tan(φ). O resultado da simulação de Monte Carlo com 1000 gerações aleatórias é representado no histograma da Figura 1. A simulação apresentou uma capacidade de carga média de 1230 kPa, com um desvio padrão de 848 kPa. � �� �� �� �� ��� ��� ��� ��� ��� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � ����� ��� �� ������������ Figura 1. Resultado da simulação com o Método Teórico para o Cristalino/residual. 8.2 Método Semiempírico para o Cristalino/ residual Os parâmetros para simulação pelo método semiempírico estão listados na Tabela 5. Assim como no item 8.1 foram adotados coeficientes de variação para solo residual gnaissico jovem indicados na Tabela 3. Para o SPT foi adotado o valor também indicado na Tabela 3, sem fazer referência ao tipo de solo. O NSPT médio adotado foi retirado da Tabela 2 considerando uma profundidade de 3 metros. O peso específico médio adotado foi o mesmo da análise do item 8.1. Na simulação pelo método semiempírico foi considerada a equação (8). Tabela 5. Parâmetros para a simulação pelo método semiempírico para o Cristalino/residual. Parâmetro Média COV DP NSPT 6 45% 2,70 Peso específico (kN/m3) 16,3 9,4% 1,53 O resultado para a simulação de Monte Carlo com 1000 gerações aleatórias é representado no histograma da Figura 2. A capacidade de carga média encontrada foi de 380 kPa, com um desvio padrão de 156 kPa. 8.3 Método Teórico para a Formação Barreiras Os parâmetros para simulação pelo método teórico na Formação Barreiras são apresentados na Tabela 6. Os parâmetros médios são os da Tabela 1. Os coeficientes de variação adotados são para argilas sedimentares indicados na Tabela 3, a adoção destes coeficientes de variação deve ser vista com muita cautela, pois não seriam os mais apropriados para a Formação Barreiras e estão sendo adotados aqui na falta de informações melhores. Deve-se destacar que o coeficiente de variação para o ângulo de atrito é dado para sua tangente. O resultado da simulação de Monte Carlo com 1000 gerações aleatórias é representado no histograma da Figura 3. A simulação apresentou uma capacidade de carga média de 1341 kPa, com um desvio padrão de 298 kPa. Tabela 6. Parâmetros para a simulação pelo método teórico para a Formação Barreiras. Parâmetro Média COV DP Coesão (kPa) 18,0 14,0% 2,52 Ângulo de atrito * 31,0 6,0% 2,06 Peso específico (kN/m3) 16,7 7,0% 1,17 * A média e o DP do ângulo de atrito estão em graus, o COV está relacionada com a tan(φ). � �� ��� ��� ��� ��� ��� � � � � � � � � ����� ��� �� ������������ Figura 2. Resultado da simulação com o Método Semiempírico para o Cristalino/residual. 8.4 Método Semiempírico para a Formação Barreiras Os parâmetros para simulação pelo método semiempírico estão listados na Tabela 6. Assim como no item 8.3 foram adotados coeficientes de variação para argilas sedimentares indicados na Tabela 3. Para o SPT foi adotado o valor também indicado na Tabela 3, sem fazer referência ao tipo de solo. O NSPT médio adotado foi retirado da Tabela 2 considerando uma profundidade de 3 metros. O peso específico médio adotado foi o mesmo da análise do item 8.3. � �� ��� ��� ��� ��� ��� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � ����� ��� �� ������������ Figura 3. Resultado da simulação com o Método Teórico para a Formação Barreiras. � �� ��� ��� ��� ��� ��� � � � � � � � � ����� ��� �� ������������ Figura 4. Resultado da simulação com o Método Semiempírico para a Formação Barreiras. O resultado para a simulação de Monte Carlo com 1000 gerações aleatórias é representadono histograma da Figura 4. A capacidade de carga média encontrada foi de 380 kPa, com um desvio padrão de 156 kPa. Estes resultados são muito semelhantes aos obtidos no item 8.2. Tabela 6. Parâmetros para a simulação pelo método semiempírico para a Formação Barreiras. Parâmetro Média COV DP NSPT 6 45% 2,70 Peso específico (kN/m3) 16,7 7,0% 1,17 9 CONCLUSÕES Estimativa probabilisticas para a capacidade de carga e tensão admissível para o Cristalino/ residual e para a Formação Barreiras foram realizadas por um método teórico e um método semiempírico. Os resultados obtidos pelo método teórico apresentaram um valor médio maior que os obtidos pelo método semiempírico, para as duas formações geológicas consideradas. A dispersão dos resultados foram maiores para o Cristalino/residual que para a formação Barreiras. Este tipo de trabalho, ao contrário da abordagem convencional onde são considerados apenas valores médios ou característicos, permite que a variabilidade dos parâmetros seja incluida no estudo das fundações. Em trabalhos futuros podem ser realizados estudos englobando a probabilidade de ruína de fundações nestas formações geológicas. REFERÊNCIAS Cintra, J.C.A.; Aoki, N. e Albieiro, J.H. (2011) Fundações Diretas: Projeto Geotécnico, Oficina de Textos, São Paulo, 140 p. Coduto, D.P. (2001) Foundation Design: Principles and Practices, 2nd ed., Prentice-Hall, Upper Saddle River, NJ, USA, 883 p. Ribeiro, R.C.H. (2008) Aplicações de Probabilidade e Estatística em Análises Geotécnicas, Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 161 p. Salvador (2004). Plano Diretor de Encostas. Prefeitura Municipal de Salvador. Secretaria Municipal do Saneamento e Infraestrutura Urbana. Coordenadoria de Áreas de Risco Geológico. Salvador, Bahia. Silva, C.N. (2005) Diagnóstico Ambiental de Áreas de Pedreiras Abandonadas na Cidade do Salvador-Ba com Ênfase na Estabilidade de Taludes, Dissertação de Mestrado, Mestrado em Engenharia Ambiental Urbana, Universidade Federal da Bahia, 123 p. Terzaghi, K. e Peck, R.B. (1967) Soil Mechanics in Engineering Practice, 2nd ed., McGraw Hill, New York, NY, USA, 685 p.
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