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INFLUENCIA DA MATERIA ORGANICA NA ESTABILIÇÃO DE SOLOS TRATADOS COM CIMENTO

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Influência da Matéria Orgânica na Estabilização de Solos Tratados 
com Cimento 
 
Cesar Alberto Ruver 
Universidade Federal do Rio Grande – FURG, Rio Grande/RS, Brasil, cesar.ruver@gmail.com 
 
Alan Bristot 
Universidade Federal do Rio Grande – FURG, Rio Grande/RS, Brasil, alanbristot@hotmail.com 
 
Cíntia Rodales Machado 
Universidade Federal do Rio Grande – FURG, Rio Grande/RS, Brasil, cintiarodales@hotmail.com 
 
RESUMO: Solos que não apresentam características geotécnicas adequadas podem ser tratados com 
cimento, que visa a melhora das propriedades mecânicas dos solos. Sabe-se que o tratamento de 
solos contendo matéria orgânica requer maiores teores de cimento, ou, dependendo do teor de 
matéria orgânica e o tipo, a estabilização torna-se ineficiente. Visto que todo e qualquer solo a ser 
estabilizado pode conter fração de matéria orgânica, a pesquisa foi desenvolvida a fim de determinar 
a interferência da matéria orgânica no método de estabilização com solo-cimento. Os materiais 
utilizados nas misturas foram: (a) areia de duna (A-3: areias finas - classificação HRB), encontrada 
em abundância no litoral do estado do Rio Grande do Sul, (b) cimento Portland CP IV 32, como 
agente cimentante e (c) erva-mate (ilex paraguariensis), caracterizando a contaminação por matéria 
orgânica. Foram realizadas previamente misturas com a fração passante na # 60, da erva-mate, nas 
proporções de 2,0%; 1,0%; 0,5% e 0;25% com 10% de água, visando uma pré-hidratação. 
Posteriormente com as dosagens de solo, cimento (9%) e matéria orgânica (proporções entre 0,25% 
a 2,0%), se confeccionou corpos-de-prova (CPs) com diâmetro de 5 cm e altura de 10 cm, 
devidamente compactados. Após as idades de cura de 7, 28, 90 e 180 dias em câmara úmida, os CPs 
foram submetidos ao ensaio de resistência à compressão simples (RCS). Os resultados dos ensaios 
de RCS, quando comparados com o solo isento de matéria orgânica, indicam que a resistência tende 
a cair consideravelmente com o aumento crescente dos teores de matéria orgânica. Ao analisar a 
umidade da mistura no momento da moldagem e após a ruptura, verificou-se que a água, ao final do 
processo de cura, não estava sendo incorporada nas reações com o cimento, mostrando a não 
ocorrência das reações pozolânicos, responsáveis pela resistência do cimento. A matéria orgânica 
influencia significativamente na resistência à compressão simples quando se utiliza o método de 
estabilização solo-cimento, por interferir nas reações químicas fundamentais para que a mistura 
adquira melhores propriedades mecânicas. 
 
PALAVRAS-CHAVE: Matéria Orgânica; Estabilização Química; Solo-Cimento. 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
A estabilização química de solos com agentes 
cimentantes, como o cimento Portland, tem sido 
empregada com sucesso em vários ramos da 
engenharia, por exemplo: camadas de 
pavimentos (base e sub-base), reforço de 
fundações à tração e à compressão, 
revestimento de taludes e faces internas de 
barragens, confecção de tijolos e blocos, entre 
outras aplicações (ACI, 2009; Consoli et al, 
2013; Machado e Ruver, 2013). Inclusive o 
tratamento de solos locais tem se mostrado uma 
alternativa mais econômica em relação ao uso de 
materiais mais nobres, como o caso de pedra 
britada (Clare e Sherwood, 1954; Ruver et al, 
2013). 
 O emprego da técnica de estabilização de 
solos com cimento Portland já está consolidado 
no meio técnico internacional e nacional, 
havendo inclusive normativas brasileiras 
formuladas pela Associação Brasileira de 
 
Normas Técnicas (ABNT), a exemplo das 
normas NBR 8.491, NBR 8.492, NBR 10.833, 
NBR 10.834, NBR 10.836, NBR 12.023, NBR 
12.024, NBR 12.025, NBR 12.253 e NBR 
12.254; e pelo Departamento Nacional de Infra-
Estrutura de Transportes (DNIT), a exemplo 
das normas DNER-ME 201, DNER-ME 202, 
DNIT-140/ES, DNIT-142/ES e DNIT-143/ES. 
 A dosagem do solo-cimento é realizada em 
laboratório por meio de experimentação, através 
do ensaio de compressão simples. No caso de 
camadas de pavimentação, o teor mínimo de 
cimento deve ser aquele que forneça uma 
resistência à compressão simples de no mínimo 
2,1 MPa (ANBT, 1992 e DNIT, 2010 ). No 
caso de tijolos solo-cimento, a resistência média 
deve ser de 2,0 MPa, sendo que nenhum tijolo 
da amostra deve ter resistência inferior a 1,7 
MPa (ABNT, 2013). De uma forma geral, 
qualquer solo pode ser estabilizado por cimento, 
no entanto, quanto maior o teor de finos, maior 
a quantidade de cimento necessária para se 
atingir a resistência mínima requerida. Bernucci 
et al (2008) salientam que um solo para ser 
estabilizado deve ter certa proporção de areia, 
pois uma quantidade muita alta de argila, pode 
requerer mais cimento, tornando a solução 
muito onerosa. Para a produção de tijolos e 
blocos a NBR 10.833 (ABNT, 2013), 
recomenda que os solos se enquadrem em uma 
faixa granulométrica (100% passante na peneira 
de malha 4,75 mm e 10% a 50% passante na 
peneira de malha 75 m), além de um limite de 
liquidez inferior a 45% e um índice de 
plasticidade inferior a 18%. 
 Outro aspecto a ser observado nas misturas 
de solo-cimento, diz respeito à contaminação 
por matéria orgânica. A norma NBR 10.833 
(ABNT, 2013), recomenda que o solo não deva 
ter quantidade significativa de matéria orgânica 
que prejudique a hidratação do cimento. Já 
Clare e Sherwood (1954) citam que certos solos 
podem conter matéria orgânica que impede o 
endurecimento do cimento. Os autores 
realizaram um estudo experimental para verificar 
a influência de diferentes substâncias orgânicas 
em diferentes concentrações, na resistência à 
compressão simples, aos sete dias de cura, de 
uma areia estabilizada com 10% de cimento. A 
partir dos resultados, Clare e Sherwood (1954), 
classificaram a matéria orgânica em 3 grupos, 
em função da perda de resistência à compressão 
simples: (a) inativo ou ligeiramente ativo – 
celulose, amido de trigo, ácido algínico, 
madeira, lignina de palha e grama, gelatina 
(perda de resistência entre 10 e 25%, para um 
teor de 1%); (b) ativo – celulose 
carboximetilica, pectina, caseína (perda de 
resistência entre 80 e 90%, para um teor de 
0,5%); e (c) muito ativa – glicose e ácido 
nucléico (resistência zero para teores de 0,1 a 
0,25%). Os autores citam que a redução na 
resistência pode ter sido causada pelo fato da 
matéria orgânica afetar a hidratação do cimento, 
bem como pode ter havido alterações na 
estrutura de cristalização do cimento ou, ainda, 
a matéria orgânica envolveu as partículas de 
areia impedindo a cimentação entre os grãos. 
 Knop (2003) realizou um programa 
experimental com o objetivo de verificar a 
influência na resistência à compressão simples 
de um solo residual de arenito Botucatu 
estabilizado com cimento Portland CP-V, com a 
contaminação com óleo diesel. O autor utilizou 
teores de 0% a 100% (variando de 10% em 
10%) de óleo diesel em substituição a água. Os 
resultados apresentados pelo autor mostram 
uma redução na resistência com relação 
quadrática, sendo verificada resistência zero 
para 100% de óleo diesel. Knop (2003) cita que 
para 100% de óleo diesel (sem água) não 
ocorria enrijecimento da mistura, havendo 
quebra dos corpos-de-prova durante a 
desmoldagem, que era feita ao final dos tempos 
de cura (3 e 7 dias). 
 Ruver et al (2013) realizaram ensaios de 
estabilização de duas areias finas variando o teor 
de cimento entre 3% e 12%. As areias foram 
caracterizadas como “limpa” - com teor de 0,7% 
de finos, isenta de matéria orgânica e de 
coloração amarela – e “contaminada” – com 
teor de finos de9,1%, com 0,78% de matéria 
orgânica e coloração acinzentada. Os autores 
citam que as areias são, na verdade, o mesmo 
material, sendo a primeira obtida do alto de uma 
duna e a outra obtida de uma zona de várzea. Os 
ensaios mostram que para um teor de 3% de 
cimento, a areia “limpa” apresenta uma 
resistência maior que a areia “contaminada”, já 
para maiores teores de cimento (6%, 9% e 
 
12%), ocorreu uma inversão, a areia 
“contaminada” apresentou uma resistência 
superior a areia “limpa”, da ordem de 8,5%. Os 
autores explicam que o aumento na resistência 
da areia “contaminada” é função de uma melhor 
distribuição granulométrica proporcionada pela 
presença de finos, uma vez que a resistência em 
mistura de solo-cimento é comandada pela 
cimentação nos pontos de contato. 
 Verifica-se que a influência da presença de 
matéria orgânica manifesta-se de diferentes 
formas, em termos de resistência à compressão 
simples, na estabilização de solos com cimento. 
Neste sentido, o presente estudo visa verificar a 
ação da matéria orgânica em diferentes 
concentrações e ao longo do tempo de cura, 
para uma areia estabilizada com cimento 
Portland. 
 
 
2 MATERIAIS 
 
Para a realização dos ensaios utilizou-se areia 
fina de origem eólica e erva-mate como matéria 
orgânica, os quais serão caracterizados a seguir. 
Como agente aglomerante empregou-se cimento 
Portland CP-IV 32 e água destilada. 
 
2.1 Matéria Orgânica 
 
Como matéria orgânica escolheu-se um produto 
que fosse de fácil aquisição e com composição 
conhecida e homogênea. Para tanto escolheu se 
a erva-mate, Ilex paraguariensis, que é um 
produto alimentício utilizado para o preparo de 
chimarrão e chá (figura 1). A erva-mate utilizada 
é comercializada em embalagens plásticas 
(opacas e espelhadas internamente), com peso 
de 500 g. Utilizou-se erva-mate de um mesmo 
lote, safra de produção e marca, para reduzir a 
variabilidade nos resultados. Conforme 
Esmelindro et al (2002), os ramos com folhas de 
erva-mate são processados industrialmente por 
três etapas, desde a colheita até o 
empacotamento: (a) sapeco – secagem rápida (8 
min) com chama em um cilindro rotativo 
(retirada da umidade superficial e inibição das 
enzimas oxidantes), (b) secagem - mais lenta 
(30 min a 3 h) que utiliza calor com ou sem 
contato direto com fumaça, e (c) concheamento 
– consiste na trituração e peneiramento. 
 O trabalho de Esmelindro et al (2002), 
apresenta a composição química média da erva-
mate da mesma marca utilizada neste trabalho. 
A erva-mate apresenta os seguintes compostos: 
cinzas (resíduo mineral) – 6,08%; fibras – 
22,28%; gorduras – 6,06%; proteínas – 13,43%; 
glicose – 1,62%; sacarose – 1,48%. As análises 
realizadas neste trabalho mostram que a erva-
mate apresentou um teor de umidade de 4,87% 
(segundo a NBR 6457 da ANBT, 1986) e teor 
de cinza (resíduo mineral após a queima) (figura 
2) de 7,5% (segundo a NBR 13.600 da ABNT, 
1996). A diferença no teor de cinza pode ser 
devido aos processos distintos adotados neste 
trabalho e por Esmelindro et al (2002). Para a 
realização dos ensaios deste trabalho utilizava-se 
somente a erva-mate passante na peneira de 
malha #60 (abertura de 250 m) (fração mais 
fina), que correspondia cerca da metade da 
quantidade total. Nessa condição no estado 
solto, a massa específica aparente seca era de 
0,441 g/cm
3
. 
 
 
Figura 1. Aspecto da erva-mate (cor verde) após o 
peneiramento na peneira de malha #60 (250 m) 
 
 
Figura 2. Aspecto cinza da erva-mate após a queima em 
mufla à 440º C. 
 
2.2 Areia 
 
A areia empregada é de origem eólica, coletada 
 
no alto de uma duna (depósito natural), no 
interior do Campus Carreiro da FURG, na 
cidade de Rio Grande/RS. 
 A areia utilizada apresenta a seguinte 
distribuição granulométrica (conforme a NBR 
7.181 da ABNT, 1984): 79,3% de areia fina, 
20% de areia média e 0,7% de silte. Em função 
da granulometria, essa apresenta as seguintes 
propriedades: diâmetro efetivo (D10) de 0,12 
mm, coeficiente de uniformidade (cu) de 1,3 
(uniforme) e coeficiente de curvatura (cc) de 1,2. 
A areia é classificada como areia fina (conforme 
a NBR 6.502 da ABNT, 1995), A-3 pela HRB e 
SP pelo Sistema de Classificação Unificada de 
Casagrande. Possui peso específico real dos 
grãos de 25,9 kN/m
3
. Ainda, pode ser 
classificada como não plástica e não possui 
limite de liquidez. 
 
 
3 DOSAGEM E EXECUÇÃO DOS 
ENSAIOS 
 
Para a realização dos ensaios de compressão 
simples adotou-se um teor de cimento Portland 
de 9% em massa, em substituição ao peso seco 
da areia. Também se adotou um teor de água de 
10% em massa para a moldagem dos corpos-de-
prova. Uma vez fixado os teores de areia fina, 
cimento Portland e água, variou-se o teor de 
erva mata (matéria orgânica) em 0,25%; 0,50%, 
1,0% e 2,0% (em massa) em substituição ao 
peso total dos materiais secos. Ainda, moldou-
se copos-de-prova sem erva-mate (0% de 
matéria orgânica) que serviram como referência. 
 Para cada dosagem foram moldados cinco 
corpos de provas. Os ensaios de compressão 
simples foram avaliados em várias idades de 
cura (7, 28, 90 e 180 dias). Considerando as 
dosagens e os diferentes tempos de curas, foram 
moldados um total de 100 corpos-de-prova (5 
CPs x 5 teores de erva-mate x 4 tempos de 
cura). Os corpos-de-prova possuíam um 
diâmetro de 5 cm e altura média de 10 cm. 
 Inicialmente era feita a hidratação da erva-
mate. Misturava-se a totalidade da água da 
dosagem com a erva-mate, deixando a mistura 
descansar por 7 dias. Para evitar a perda de água 
por evaporação, os recipientes eram fechados 
com filme de PVC. O processo de hidratação 
proporcionava o inchamento da erva-mate, a 
ponto de dobrar de volume. Para 0,25% e 
0,50% de erva-mate, verifica-se a presença de 
água livre, para 1% a mistura apresentava uma 
consistência pastosa e para 2% o aspecto era 
mais seco, não se verificando água livre. 
Decorridos os sete dias, verifica-se que a 
mistura apresentava uma coloração escura, com 
forte odor (fétido) e com desenvolvimento de 
colônias de fungos de cor acinzentada. 
 Decorridos os sete dias de pré-hidratação, era 
feita a moldagem dos corpos-de-prova. 
Misturava-se manualmente a areia ao cimento, 
em seguida, adicionava-se a erva-mate 
hidratada, misturando todos os materiais até a 
obtenção de uma mistura homogênea. Para a 
moldagem dos corpos-de-prova utilizava-se um 
molde, composto por um cilindro metálico 
tripartido aparafusado a uma base metálica. A 
moldagem era realizada por compactação 
estática, com golpes do mesmo soquete 
utilizado para a realização de ensaios de 
compactação (diâmetro de 5 cm, massa de 2,5 
kg, altura de queda de 30 cm), em três camadas 
de mesma espessura. Cada camada era 
compactada com cinco golpes do soquete. O 
processo de compactação adotado é 
correspondente a energia normal (5,95 
kg.cm/cm
3
), empregada nos ensaios de 
compactação. Ao final da compactação, era feita 
a desmoldagem, guardava-se os corpos-de-
prova em sacos plásticos, acondicionando-os em 
câmara úmida até atingirem os tempos de cura 
especificados. Atingido o tempo de cura, os 
corpos-de-prova eram rompidos em uma prensa 
automática com velocidade constante de 1 
mm/min. A carga de ruptura era lida através de 
um anel dinamométrico com capacidade máxima 
de 10 kN, com resolução de 5,7 N. 
 Para cada dosagem, determinou-se a umidade 
na moldagem (antes da compactação) e após a 
ruptura dos corpos-de-prova.Também se 
pesava e se media as dimensões dos corpos de 
provas após a moldagem e ao final da cura. 
Essas informações serviam como controle de 
qualidade de execução e controle das reações de 
hidratação. 
 
 
 
 
 4 RESULTADOS 
 
 Os resultados foram expressos em função da 
resistência à compressão simples (RCS) (média 
dos 5 corpos-de-prova por dosagem) pelo teor 
de matéria orgânica (0,0%; 0,25%; 0,5%, 1% e 
2%) (figura 3) e pelo tempo de cura (7, 28, 90 e 
180 dias) (figura 4 e 5). Também se expressou 
os resultados do peso específico aparente seco 
(figura 6) e razão da umidade dos corpos-de-
prova após a ruptura e da umidade após 
moldagem (figura 7) pelo tempo de cura. A 
figura 8 apresenta o aspecto de um corpo-de-
prova após a ruptura. 
 De uma forma geral, verifica-se que a 
resistência à compressão simples aumenta com o 
tempo de cura e diminui com o aumento do teor 
de erva-mate. 
 
 
Figura 3. Resultado de RCS x teor de matéria orgânica 
(erva-mate) 
 
 
 
Figura 4. Resultado de RCS (escala logarítmica) x 
tempo de cura dos corpos-de-prova 
 
 
Figura 5. Idem figura 4, com a RCS na escala decimal 
 
 
Figura 6. Resultado do peso específico aparente seco (d) 
x teor de matéria orgânica 
 
Figura 7. Gráfico da razão da umidade de moldagem 
pela umidade de ruptura x teor de matéria orgânica 
 
 
 
 
Figura 8. Aspecto de um corpo-de-prova após a ruptura 
na prensa 
 
 Analisando os resultados da figura 3, verifica-
se que um pequeno acréscimo (0,25%) de erva-
mate reduz drasticamente a resistência à 
compressão simples, para um curto prazo de 
cura (7 e 28 dias). Já para um tempo de cura 
maior, para 90 dias, esta redução ocorre para 
0,5% e para 180 dias para um teor de 1%. Para 
um teor de erva-mate de 2%, a resistência é 
praticamente nula (da ordem de 30 kPa), 
independente do tempo de cura. 
 Os resultados das figuras 4 e 5 mostram a 
evolução da resistência à compressão simples 
para cada teor de erva em função do tempo de 
cura. Para os corpos-de-prova de referência, 
sem erva-mate, verifica-se um aumento de 
resistência de forma logarítmica com o tempo, 
com rápido ganho de resistência a curto prazo 
(63% e 93% da resistência à 7 e 28 dias, 
respectivamente, em relação a resistência aos 
180 dias), e diminuição da taxa de aumento de 
resistência com o tempo, o que era esperado em 
função do tipo de cimento utilizado, que 
apresenta o mesmo comportamento, conforme 
pode ser visto em ABCP (2002). Para os 
menores teores de matéria orgânica (0,25% e 
0,5%), verifica-se um aumento exponencial da 
resistência com o tempo de cura, com aumento 
da taxa de ganho de resistência com o tempo, 
chegando a 86% e 58% da resistência dos 
corpos-de-prova sem matéria orgânica, para 180 
dias de cura. Para os maiores teores de erva-
mate (1% e 2%), também se verifica um 
aumento da resistência com o aumento do 
tempo de cura, sendo esta evolução de 
resistência uma relação logarítmica, da mesma 
forma que a dosagem sem matéria orgânica, 
porém a taxa de aumento de resistência é maior. 
 Analisando a figura 6, apesar da dispersão dos 
resultados (R
2
 = 0,4), verifica-se uma tendência 
de redução, com relação quadrática, do peso 
específico aparente seco com o aumento do teor 
de matéria orgânica. Este fato pode ser 
explicado pelo baixo peso específico da erva-
mate, conforme apresentado na subseção 2.1. 
Sabe-se que na estabilização de solos com 
cimento, a resistência é função da cimentação 
dos pontos de contato, logo quanto melhor a 
distribuição granulométrica e mais compacta for 
a matriz, maior será a resistência. Neste sentido, 
verifica-se que a redução no peso específico 
aparente seco pode ter sido um dos fatores 
responsáveis pela redução da resistência à 
compressão simples, verificada neste trabalho. 
 De modo a mostrar a eficiência e ocorrência 
das reações de hidratação (pozolânicas), 
responsáveis pela resistência devido à 
cimentação, determinou-se a razão entre as 
umidades final de cada um dos tempos de cura 
(após a ruptura dos corpos-de-prova) pela 
umidade de início de cura (imediatamente após 
o final de moldagem dos corpos-de-prova). 
Como a umidade é determinada por secagem do 
material em estufa a uma temperatura entre 105º 
C e 110º C, conforme a NBR 6457 (ABNT, 
1986), toda a água livre nos vazios do solo é 
eliminada (evapora) por meio deste processo. 
Como as reações pozolânicas são reações de 
hidratação do cimento, a água incorporada e 
que participa das reações químicas não pode ser 
eliminada pelo processo de secagem. Assim, se 
toda a água adicionada participar das reações 
químicas de hidratação, a razão entre a umidade 
ao final do tempo de cura e a de moldagem deve 
ser próxima de zero; agora se as reações 
químicas não ocorrem, a razão deverá ser 
próxima a cem por cento. Como pode ser visto 
na figura 7, a razão entre as umidades tende a 
aumentar (apesar de dispersão dos resultados, 
R
2
 = 0,48), numa relação quadrática, com o teor 
de matéria orgânica. Para os corpos-de-prova 
sem matéria orgânica, verifica-se que para 7 dias 
 
de cura a razão das umidades é de 84%, 
reduzindo para 66% aos 180 dias de cura, 
mostrando a ocorrência significativa das reações 
de hidratação. Para os corpos-de-prova com 
teor de matéria orgânica de 2%, a razão entre as 
umidades é de aproximadamente 100% 
(indicando a ocorrência de poucas reações 
pozolânicas) para 7 dias de cura, reduzindo para 
aproximadamente 98%, evidenciando a 
ocorrência de poucas reações químicas. 
 Analisando os resultados é possível verificar 
uma relação entre a razão das umidades com a 
resistência à compressão simples, pois ambas 
tem relação direta com as reações de hidratação. 
Essa relação é mostrada na figura 9. Pela figura 
é possível verificar que existe uma tendência 
(apesar da dispersão dos resultados, R
2
 = 0,5) 
da resistência aumentar (relação potencial) com 
a redução da razão das umidades. 
 
 
Figura 9. Gráfico da resistência à compressão simples 
(escala logarítmica) x razão da umidade de ruptura pela 
umidade de moldagem 
 
 Por fim, a análise dos resultados mostra que a 
redução na resistência à compressão simples 
associado à hidratação do cimento, pode ser 
devido a dois efeitos em relação: (a) a inibição e 
(b) ao retardo das reações químicas de 
hidratação do cimento. Verifica-se que nas 
figuras 5, para os menores teores de erva-mate 
(0,25% e 0,5%) ocorre um efeito mais 
acentuado de retardo; já para os teores maiores 
(1% e 2%), ocorre a inibição da ocorrência das 
reações. 
 
 
5 CONCLUSÕES 
 
 O objetivo do presente trabalho foi mostrar o 
efeito da presença da erva-mate na estabilização 
de areia com cimento, em relação ao teor 
(0,25%, 0,5%, 1% e 2%) e tempo de cura (7, 
28, 90 e 180 dias). Verificou-se que um 
pequeno teor de erva-mate (0,25%) já afeta a 
consideravelmente a resistência. 
 Como pode ser visto ao longo do trabalho, a 
redução da resistência à compressão simples 
pelo efeito da erva-mate pode estar associado a 
três fatores. Dois deles estão associados à 
hidratação do cimento (reações pozolânicas), no 
que diz respeito à inibição e ao retardo. O 
terceiro efeito está associado à redução do peso 
específico com o aumento do teor de erva-mate, 
devido o baixo peso específico da erva-mate. 
 Assim, a presença e o tipo de matéria 
orgânica no solo sempre devem ser levados em 
consideração na estabilização química. 
 
 
AGRADECIMENTOSOs autores gostariam de agradecer à 
Universidade Federal do Rio Grande – FURG, 
pelos recursos financeiros disponibilizados na 
forma de Bolsa Permanência através do 
Programa de Desenvolvimento do Estudante. 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
AMERICAN CONCRETE INSTITUTE (ACI). (2009) 
Report on Soil Cement. ACI 230.1R-09; 
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO 
PORTLAND (ABCP). (2002) Guia Básico de 
Utilização de Cimento Portland. Boletim Técnico: 
BT-106. São Paulo/SP. 7ª Edição. 28p.; 
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS 
TÉCNICAS (ABNT). (1984) Norma ABNT NBR 
7.181: Solo – Análise Granulométrica, Rio de 
Janeiro/RJ, 13p.; 
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS 
TÉCNICAS (ABNT). (1986) Norma ABNT NBR 
6.457: Amostras de Solo – Preparação para Ensaios 
de Compactação e Caracterização, Rio de 
Janeiro/RJ, 9p.; 
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS 
TÉCNICAS (ABNT). (1992) Norma ABNT NBR 
12.253: Solo-cimento – Dosagem para emprego 
como camada de pavimento. Rio de Janeiro/RJ, 4p.; 
 
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS 
TÉCNICAS (ABNT). (1995) Norma ABNT NBR 
6.502: Solo e Rochas, Rio de Janeiro/RJ, 18p.; 
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS 
TÉCNICAS (ABNT). (1996) Norma ABNT NBR 
13.600: Solo – Determinação do Teor de Matéria 
Orgânica por Queima à 440º C , Rio de Janeiro/RJ, 
2p.; 
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS 
TÉCNICAS (ABNT). (2013) Norma ABNT NBR 
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(2010) Norma DNIT 143/2010 – ES: Pavimentação – 
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(Mestrado em Engenharia Civil) - Universidade 
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VII Seminário de Engenharia Geotécnica do Rio 
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ROM); 
 RUVER, C. A.; BASTOS, C.A.B.; MACHADO, C.R.; 
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Avaliação Técnica e de Custos de Execução de 
Misturas Solo-Cimento para Bases de Pavimentação - 
Pavimentação, ABPv, Ano VIII, n. 28, p. 41-52; 
RUVER, C. A.; BASTOS, C.A.B.; MACHADO, C.R.; 
CUSTODIO, C.Z.; CASARINI; M.M. (2013) 
Avaliação Técnica e de Custos de Execução de 
Misturas Solo-Cimento para Bases de Pavimentação 
da Região Sul do Rio Grande do Sul, Revista 
Pavimentação, ABPv, Ano VIII, n. 28, p. 41-52.

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