Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DE PARÂMETROS-CHAVE SOBRE A RESISTÊNCIA E A RIGIDEZ DE MISTURAS SOLO-CAL Amanda Dalla Rosa Johann Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, amandadallarosa@yahoo.com.br Nilo Cesar Consoli Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, consoli@ufrgs.br António Joaquim Pereira Viana da Fonseca Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Porto, Portugal, viana@fe.up.pt RESUMO: A cal é utilizada na estabilização de solos desde a antiguidade, com o objetivo de melhorar as características deste material complexo e muito variável na engenharia geotécnica. Na pavimentação, por exemplo, alguns solos necessitam de bases granulares para o pavimento ser realizado, o que gera um alto custo quando a jazida está localizada distante da obra, além de causar degradação ambiental pela exploração da jazida e pelo próprio transporte do material. Outro exemplo são os solos que necessitam fundações profundas, cujo custo se torna inviável dependendo do porte da obra. Assim, na busca de novas tecnologias que proporcionem redução de custos e tornem a obra economicamente viável, uma alternativa é o melhoramento destes solos através de técnicas de estabilização com a utilização de cal ou cimento. Neste contexto, as últimas pesquisas em solos tratados com cal mostram o desenvolvimento de metodologias de dosagem baseadas em critérios racionais (como a relação água/cimento para o concreto), onde a relação volume de vazios/volume de cal desempenha papel fundamental na obtenção da resistência desejada. Assim, esta pesquisa tem como objetivo verificar a influência da quantidade de cal (Ca), da umidade () e da porosidade () sobre a resistência à compressão simples (qu) e sobre a rigidez inicial (Go) de um solo siltoso estabilizado com cal, verificando a adequação do uso da relação vazios/cal na estimativa de qu e Go. Para atingir os objetivos da pesquisa foram realizados ensaios de resistência à compressão simples e ensaios para a medida de Go. As amostras foram ensaiadas aos 90 dias de cura. Os resultados dos ensaios de resistência à compressão simples e de rigidez inicial demonstram que o aumento da quantidade de Ca e a diminuição da provoca o aumento de qu e Go. Sendo que, qu e Go crescem linearmente com o aumento da quantidade de cal e exponencialmente com a redução da sua porosidade. Assim, verifica-se que, a relação vazios/cal (/Cav), definida pela razão entre a porosidade da mistura compactada e o teor volumétrico de cal, demonstra ser um parâmetro adequado na estimativa de qu e Go. Além disso, a partir desses mesmos resultados, observa-se que a também desempenha um papel fundamental na previsão de qu e Go. PALAVRAS-CHAVE: relação vazios/cal, resistência, rigidez. 1 INTRODUÇÃO A técnica de tratamento de solos com cal vem sendo empregada com sucesso na engenharia geotécnica, melhorando as características do solo, que por ser um material complexo e muito variável nem sempre satisfaz as necessidades da obra a ser realizada. A cal é utilizada na estabilização de solos desde a antiguidade, com aplicação principalmente em pavimentações e aterros. Muitas pesquisas (NÚÑEZ, 1991; THOMÉ, 1994; CARRARO, 1997; CONSOLI, 2001; LOVATO, 2004, DALLA ROSA, 2009, LOPES JUNIOR, 2011, CONSOLI et al, 2011) sobre solos tratados com cal têm sido realizadas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, visando seu emprego como base para rodovias e como camada de suporte para fundações superficiais, sendo que os resultados demostram melhoras significativas nos parâmetros geotécnicos estudados (aumento da capacidade de suporte e redução dos recalques). Contudo, as últimas pesquisas em solos tratados com cal mostram o desenvolvimento de metodologias de dosagem baseadas em critérios racionais (como a relação água/cimento para o concreto), onde a relação volume de vazios/volume de cal desempenha papel fundamental na obtenção da resistência mecânica desejada. Assim, esta pesquisa busca fornecer subsídios para que, através de relações de dosagem, desenvolvidas a partir da identificação e quantificação das variáveis mais importantes no controle da resistência à compressão simples e da rigidez inicial de um solo estabilizado com cal, se possa atingir de forma objetiva e com maior confiabilidade as propriedades requeridas nas misturas caulim-cal. 2 PROGRAMA EXPERIMENTAL 2.1 Materiais O material denominado “caulim” utilizado nesta pesquisa é comercialmente conhecido como caulim rosa, originário do município de Pântano Grande-RS. A partir da análise da curva granulométrica percebe-se que 100% do material passa na peneira 200 (0,075 mm), e que essa percentagem passante se distribui entre as frações silte e argila: 22% de argila (< 0,002 mm) e 78% de silte (0,002 a 0,075 mm). O limite de liquidez (38,2%) é baixo, considerando a média apresentada pelas argilas. O índice de plasticidade (3,7%) indica um solo fracamente plástico (1 < IP < 5). Portanto, o caulim rosa, de acordo com o SUCS (Sistema Unificado de Classificação de Solos) (ASTM D 2487, 1993), é classificado como um silte de baixa plasticidade. A cal utilizada no trabalho é uma cal hidratada dolomítica, comercialmente chamada de “Primor Extra”, produzida em Caçapava do Sul – RS, com massa específica real dos grãos igual a 2,49 g/cm3. A água utilizada para a moldagem dos corpos-de-prova é a água potável proveniente da rede de abastecimento pública. Já para os ensaios de caracterização utilizou-se água destilada quando especificada pela respectiva norma. 2.2 Métodos 2.2.1 Moldagem e cura das amostras Para os ensaios de resistência à compressão simples e de medidas de rigidez inicial, foram moldadas amostras cilíndricas de 7mm de diâmetro e 14mm de altura. Após a pesagem dos materiais, o solo e a cal foram misturados até a mistura adquirir uma consistência uniforme. Após esse processo, a água então era adicionada, continuando o processo de mistura até que a homogeneidade fosse obtida. Após o processo de mistura do material suficiente para uma amostra, a mistura foi armazenada em um recipiente fechado para evitar perdas de umidade antes da compactação. Duas pequenas porções da mistura eram retiradas, para determinação da umidade (). A amostra era compactada estaticamente, em cinco camadas, em um molde de ferro fundido, de modo que cada amostra atingisse o seu peso específico aparente seco (d) desejado. Após o processo de moldagem, a amostra foi imediatamente extraída do molde, e seu peso, diâmetro e altura medidos com precisão de cerca de 0,01 g e 0,1 mm. As amostras foram então, colocadas dentro de sacos plásticos, para evitar variações significativas do teor de umidade. Além disso, elas foram curadas por 90 dias em uma câmara úmida com 23º±2º C e umidade relativa do ar acima de 95%. As amostras que foram consideradas aptas para os ensaios respeitaram as seguintes tolerâncias: d: dentro de ± 1% do valor alvo; : dentro de ± 0,5% do valor alvo; Dimensões: diâmetro de ± 0,5 mm e altura de ± 1mm em relação ao valor alvo. 2.2.2 Ensaios de Resistência à Compressão Simples Ao final das leituras para as medidas de Go e após a cura em câmara úmida, as amostras foram submersas em um tanque com água por 24 horas para saturação, e assim minimizar a sucção, antes da realização dos ensaios de qu. A temperaturada água foi mantida a 23±2ºC. As amostras foram rompidas à compressão simples em uma prensa automática. A prensa utilizada foi a do LABGEO da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto/Portugal, que consiste em uma prensa automática com capacidade máxima de 100 kN equipada com células de carga de 5, 10, 20, 25 e 100 kN. A taxa de deslocamento adotado foi de 1,14 mm por minuto. O procedimento dos ensaios de resistência à compressão simples seguiram a norma americana ASTM D 5102/96. 2.2.3 Ensaios de Medidas de Rigidez Inicial Para os ensaios de medida de rigidez inicial foi utilizado um equipamento ultrassônico denominado Pundit Lab, da marca Proceq, disponível no LABGEO da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto/Portugal. O ensaio consiste em posicionar o corpo-de- prova sobre o transdutor receptor de ondas. O transdutor emissor, por sua vez, é posicionado sobre o corpo-de-prova. Foi utilizado o gel condutor de ultrassom, da marca Mercur, para facilitar o envio das ondas ultrassônicas. Os transdutores utilizados eram de 82 kHz e 100 kHz para as ondas “P” (compressão) e para as ondas “S” (cisalhamento), respectivamente. O corpo-de-prova devidamente posicionado era submetido a passagem de ondas sísmicas. O tempo entre a transmissão e a recepção da onda é o tempo de viajem da mesma, com o qual pode-se calcular a velocidade da onda cisalhante Vs, e por sua vez, o módulo cisalhante elástico através da Equação (1): 2 2 2 0 t L VG s (1) Onde é o peso específico do solo, L é a distância entre os transdutores e t é o tempo de viagem da onda. 2.2.3 Programa de Ensaios de resistência à compressão simples e de Medidas de rigidez inicial As percentagens de cal (3, 5, 7 e 9%) foram definidas a partir de outras pesquisas para posteriores comparações, e estão de acordo com a experiência brasileira e internacional com solo-cal. O programa de ensaios de qu e de medidas de Go teve como objetivo avaliar a influência das variáveis: quantidade de cal (Ca), umidade () e porosidade () sobre a qu e sobre a Go das misturas solo-cal. Para que seja possível a mensuração da influência de uma variável isoladamente é necessário que as outras variáveis sejam mantidas constantes. Para isto foi elaborado o programa de ensaios conforme apresenta a Figura 1. Observa-se que os pontos de moldagem foram posicionados em três linhas verticais (pontos: A1, A2, A3, A4, A5, A6, A7, A8 e A9), denominadas linhas “A”, com três diferentes teores de umidade (17, 20 e 23%) e diferentes pesos específicos aparentes secos. Figura 1. Programa de ensaios de resistência à compressão simples e de medidas de rigidez inicial Cada ponto da linha “A” foi moldado com 4 diferentes percentagens de cal (3, 5, 7 e 9%) e foram curadas durante 90 dias. 3 RESULTADOS E ANÁLISES 3.1 Ensaios de Resistência à compressão simples 3.1.1 Efeito da quantidade de cal Os resultados dos ensaios de resistênica à compressão simples para as misturas com 20% e 90 dias de cura são apresentados na Figura 2, que apresenta resultados considerando os pesos específicos aparentes secos de 1,4 g/cm³, 1,5 g/cm³ e 1,6 g/cm³, e percentagens de cal de 3%, 5%, 7% e 9%. As amostram com 17% e 23% de apresentam as mesmas tendências. Pode-se observar que a quantidade de cal tem efeito significativo sobre a resistência à compressão simples do material para os corpos- de-prova ensaiados. Ao se aumentar a quantidade de cal de 3% para 9%, a resistência à compressão simples, em média, acresceu 359% em todas as curvas com 17% de , 354% com 20% de e 366% com 23% de . 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 9000 2 3 4 5 6 7 8 9 10 q u (k Pa ) Ca (%) d = 1,40 g/cm 3 : qu = 350,2Ca - 443,5 (R 2 = 0,95) d = 1,50 g/cm 3 : qu = 508,8Ca - 402,7 (R 2 = 0,95) d = 1,60 g/cm 3 : qu = 729,7Ca - 428,4 (R 2 = 0,92) Figura 2. Variação da resistência à compressão simples (qu) com a quantidade de cal para 20% de umidade, considerando todos os pesos específicos aparentes secos estudados Verifica-se também que, na faixa de teores estudados, a resistência à compressão simples aumenta linearmente com o aumento da quantidade de cal. Além disso, a taxa de aumento de resistência, representada pela inclinação das retas de ajuste, aumenta com o aumento do peso específico aparente seco. 3.1.2 Efeito da porosidade A Figura 3 apresenta como a porosidade influencia na resistência à compressão simples das misturas com 20% e 90 dias de cura. Observa-se que, a resistência à compressão simples aumenta exponencialmente com a redução da porosidade de todas as misturas compactadas. As amostram com 17% e 23% de umidade apresentam as mesmas tendências. Verifica-se que, de maneira similar à quantidade de cal, a porosidade da mistura compactada exerce influência sobre a resistência à compressão simples do solo-cal em estudo. Em média a redução de 10 pontos percentuais na porosidade do material aumentou, em média, 2,3 vezes a resistência à compressão simples do solo-cal testado com 17% de umidade, 2,5 vezes com 20% de umidade e 3,1 com 23% de umidade, em todas as curvas. 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 9000 10000 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 q u (k Pa ) (%) Ca = 3% : qu = 382871e -0,15 (R2 = 0,81) Ca = 5% : qu = 445662e -0,13 (R2 = 0,96) Ca = 7% : qu = 565670e -0,12 (R2 = 0,97) Ca = 9% : qu = 390457e -0,11 (R2 = 0,92) Figura 3: Variação da resistência à compressão simples (qu) com a porosidade () para 20% de umidade, considerando todos os teores de cal estudados 3.1.3 Aplicação da relação vazios/cal (/Cav) A Figura 4 apresenta a variação da resistência à compressão simples (qu) com a relação porosidade/teor volumétrico de cal (/Cav) para as amostras com 20% de umidade, definida pela Equação (2). Cal de oVolumétric Teor Porosidade Cav (2) Observa-se, na Figura 4, a existência de uma relação com forte tendência exponencial entre qu e /Cav. As amostram com 17% e 23% de umidade apresentam as mesmas tendências. Na continuidade da pesquisa, verificou-se que a aplicação de uma potência igual a 0,45 sobre Cav para todas as misturas solo-cal estudadas, proporciona um bom ajuste dos dados na obtenção da qu a ser atingida, conforme apresentado na Figura 5. Assim, a Figura 5 apresenta a aplicação de uma curva tipo potência sobre os resultados adquiridos. As mesmas tendências são observadas para as amostras com 17% e 23% de umidade. 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 9000 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 q u (k Pa ) Vv / Vca Ca = 3% Ca = 5% Ca = 7% Ca = 9% Figura 4. Variação da resistência à compressão simples (qu) com a relação porosidade/teor volumétrico de cal (Cav) para as amostras com 20% de umidade Figura 5. Variação da qu com a relação Cav)0,45 ajustada por uma curva tipo potência para as amostras com 20% de umidade As Equações (3), (4) e (5) representam as relações encontradas para as misturas com 17% de umidade (R2=0,93), 20% de umidade (R2=0,93) e 23% de umidade (R2=0,92). Observa-se também, que quanto maior o teor de cal, maior a resistência à compressão simples (qu) para qualquerdado de Cav)0,45. qu = 4,29.107(/(Cav)0,45)-3,10 (3) qu = 4,77.107(/(Cav)0,45)-3,10 (4) qu = 4,60.107(/(Cav)0,45)-3,10 (5) 3.1.4 Análise do efeito do teor de umidade Na Figura 6 são apresentados os resultados das relações Cav)0,45 pela qu das amostras de caulim-cal com 17, 20 e 23% de umidade. Figura 6. Variação da qu com a relação Cav para as amostras com 17, 20 e 23% de umidade. A partir das análises realizadas observa-se um aumento da qu com o aumento do teor de até um valor ótimo (20%), a partir do qual a resistência passa a diminuir. A mesma tendência foi relatada por Foppa (2005) em amostras de solo-cimento. 3.2 Ensaios de Medidas de rigidez inicial 3.2.1 Efeito da quantidade de cal Os resultados dos ensaios de medidas de rigidez inicial para as misturas com 20% de umidade e 90 dias de cura são apresentados na Figura 7, que apresenta resultados considerando os pesos específicos aparentes secos de 1,4, 1,5 e 1,6 g/cm³, e percentagens de cal de 3, 5, 7 e 9%. As mesmas tendências são observadas nos resultados das amostras com 17% e 23% de . Pode-se observar que a quantidade de cal tem efeito significativo sobre a Go do material estudado. Ao se aumentar a quantidade de cal de 3% para 9%, a Go, em média, acresceu 90% em todas as curvas com 17% de , 106% com 20% de e 144% com 23% de. 0 400 800 1200 1600 2000 2400 2800 2 3 4 5 6 7 8 9 10 G o (M Pa ) Ca (%) d = 1,40 g/cm 3 : Go = 117,58Ca + 225,66 (R 2 = 0,97) d = 1,50 g/cm 3 : Go = 129,25Ca + 390,89 (R 2 = 0,94) d = 1,60 g/cm 3 : Go = 142,72Ca + 440,33 (R 2 = 0,98) Figura 7. Variação da resistência à compressão simples (Go) com a quantidade de cal (Ca) para 20% de umidade, considerando todos os pesos específicos aparentes secos estudados Verifica-se também que, na faixa de teores estudados, a Go aumenta linearmente com o aumento da quantidade de cal. Além disso, a taxa de aumento de Go, representada pela inclinação das retas de ajuste, aumenta com o aumento do peso específico aparente seco. 3.2.2 Efeito da porosidade A Figura 8 apresenta como a porosidade influencia na rigidez inicial das misturas com 20% de umidade e 90 dias de cura, respectivamente. Observa-se que, a rigidez inicial aumenta exponencialmente com a redução da porosidade de todas as misturas compactadas. As mesmas tendências são observadas nos resultados das amostras com 17% e 23% de umidade. Verifica-se que, de maneira similar à quantidade de cal, a da mistura compactada exerce influência sobre a Go do solo-cal em estudo. Em média a redução de 10 pontos percentuais na do material aumentou, em média, 1,6 vezes a Go do solo-cal testado com 17% de , 1,4 vezes com 20% de e 1,4 com 23% de , em todas as curvas. Pode-se observar também, que a rigidez inicial aumentou exponencialmente com a redução da porosidade da mistura compactada. 0 400 800 1200 1600 2000 2400 2800 3200 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 G o (M Pa ) (%) Ca = 3% : Go = 11873e -0,07 (R2 = 0,96) Ca = 5% : Go = 5431e -0,04 (R2 = 0,86) Ca = 7% : Go = 9225e -0,05 (R2 = 0,93) Ca = 9% : Go = 8041e -0,04 (R2 = 0,98) Figura 8: Variação da resistência à compressão simples (Go) com a porosidade () para 20% de umidade, considerando todos os teores de cal estudados 3.2.3 Aplicação da relação vazios/cal (/Cav) A Figura 9 apresenta a variação da rigidez inicial (Go) com a relação porosidade/teor volumétrico de cal (/Cav), definida anteriormente pela Equação (2). A Figura 9 apresenta como /Cav afeta qu para o solo estabilizado com cal com 20% de umidade. Para os dois tempos de cura, as amostras têm diferentes quantidades de cal e porosidades. Pode-se observar que nos dois casos existe uma relação com forte tendência exponencial entre qu e /Cav. As mesmas tendências são observadas nos resultados das amostras com 17% e 23% de umidade. 0 400 800 1200 1600 2000 2400 2800 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 G o (M Pa ) Vv / Vca Ca = 3% Ca = 5% Ca = 7% Ca = 9% Figura 9. Variação da resistência à compressão simples (Go) com a relação porosidade/teor volumétrico de cal (Cav) para 20% de umidade A aplicação de uma potência igual a 0,45 sobre Cav para todas as misturas solo-cal estudadas, também proporcionou um bom ajuste dos dados na obtenção da rigidez inicial a ser atingida, conforme apresentado na Figura 10, o que também foi observado nas respostas de resistência à compressão simples apresentadas no item 3.1.3. Assim, a Figura 10 apresenta a aplicação de uma curva tipo potência sobre os resultados adquiridos para 20% de umidade. As amostras com 17% e 23% de umidade apresentam as mesmas tendências. Figura 10. Variação da Go com a relação Cav)0,45 ajustada por uma curva tipo potência para as amostras com 20% de umidade Observa-se que a aplicação da relação vazios/cal (Cav)0,45), ajustada por uma curva tipo potência, proporciona um bom ajuste dos dados na obtenção da rigidez inicial a ser atingida, respectivamente com 17%, 20% e 23% de umidade. As Equações (6), (7) e (8) representam as relações encontradas para as misturas com 17% de umidade (R2=0,97), 20% de umidade (R2=0,96) e 23% de umidade (R2=0,95). Observa-se também, que quanto maior o teor de cal, maior a rigidez inicial (Go) para qualquer dado de Cav)0,45. Go = 1,86.105(/(Cav)0,45)-1,60 (6) Go = 1,96.105(/(Cav)0,45)-1,60 (7) Go = 2,03.105(/(Cav)0,45)-1,60 (8) 3.2.4 Análise do efeito do teor de umidade Na Figura 11 são apresentados os resultados das relações Cav)0,45 pela qu das amostras de caulim-cal com 17, 20 e 23% de umidade. Figura 11. Variação da resistência à compressão simples (Go) com a relação porosidade/teor volumétrico de cal (Cav) com 17, 20 e 23% de umidade. A partir das análises realizadas observa-se um aumento da rigidez inicial com a diminuição do teor de umidade. Esta mesma tendência foi observada por Consoli et al (2001), em amostras de solo-cinza-cal e por Galaa et al (2011), ao estudar dois grupos de amostras de solo-cimento, um submerso em água e outro não submerso em água. Segundo Galaa et al (2011), o fato de amostras com umidades menores obterem valores de rigidez inicial maiores, reflete o efeito da sucção nas medidas de rigidez inicial. 4 CONCLUSÕES A partir dos dados apresentados neste trabalho, as seguintes conclusões podem ser evidenciadas: Quanto maior a quantidade de cal, maior a qu e maior a Go para um determinado peso específico aparente seco e para uma determinada quantidade de cal. Além disso, relações lineares podem ser observadas nos resultados de qu versus Ca e Go versus Ca para o tempo de cura estudado. Em todas as misturas estudadas a redução da porosidade proporciona o aumento da sua qu e Go. Sendo que, a resistência à compressão simples e a rigidez inicial aumentam exponencialmente com a redução da porosidade. A relação porosidade/teor volumétrico de cal mostra ser um bom parâmetro na avaliação da qu e da Go dessas misturas solo-cal. Além disso, a função de potência ajustada por um expoente se adapta muito bem à relação qu versus /(Cav)0,45 e à relação Go versus /(Cav)0,45. Analisando-se as amostras ensaiadas à resistência à compressão simples, observa-se um aumento da qu com o aumento do teor de umidade até um valor ótimo (20%), a partir do qual a resistência passa a diminuir. Analisando-se os resultados de rigidez inicial, observa-se um aumento da Go com a diminuição do teor de umidade. AGRADECIMENTOS Os autores demonstram agradecimento ao suporte financeiro da CAPES e do CNPq, e aos colegas do LABGEO/FEUP e LEGG/ENVIRONGEO. REFERÊNCIAS ASTM D 2487 (1993). Standard Practice for Classification of Soils for Engineering Purposes (Unified Soil Classification System). American Society for Testing and Materials. Philadelphia. ASTM D 5102 (1996). Standard Test Method for Unconfined Compressive Strength of Compacted Soil- Lime Mixtures. American Society for Testing and Materials. Philadelphia. CARRARO, J. A. H. Utilização de Resíduos Industriais na Estabilização de um Solo Residual de Arenito. 1997. 150p. Dissertação (Mestrado em Engenharia) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. CONSOLI, N. C.; PRIETTO, P. D. M.; CARRARO, J. A. H.; HEINECK, K. S. (2001). Behavior of Compacted Soil-Fly Ash-Carbide Lime Mixtures. Journal of Geotechnical and Geoenvironmental Engineering. New York: ASCE, v.127, n.9, p.774-782. CONSOLI, N. C.; DALLA ROSA, A.; SALDANHA, R.B. (2011). Variables governing strength of compacted soil-fly ash-lime mixtures. Journal of Geotechnical and Geoenvironmental Engineering. New York: ASCE, v.23, p.432-440. DALLA ROSA, A. (2009). Estudo dos Parâmetros- chave no Controle da Resistência de Misturas Solo- Cinza-Cal. Dissertação (Mestrado em Engenharia) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. 198p. FOPPA, D. (2005). Análise de Variáveis-chave no Controle da Resistência Mecânica de Solos Artificialmente Cimentados. Dissertação (Mestrado em Engenharia) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. 143p. GALAA, A. M.; THOMPSON, B. D; GRABINSKY, M. W., BAWDEN, W. F. (2011). Characterizing stiffness development in hydrating mine backfill using ultrasonic wave measurements. Canadian Geotechnical Journal. v.48, n.8, p. 1174-1187. LOVATO, R. S. (2004). Estudo do Comportamento Mecânico de um Solo Laterítico Estabilizado com Cal, Aplicado à Pavimentação. Dissertação (Mestrado em Engenharia) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. 144p. LOPES JUNIOR, L. S. (2011). Metodologia de Previsão do Comportamento Mecânico de Solos Tratados com Cal. Tese (Doutorado em Engenharia) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, UFRGS, Porto Alegre. NÚÑEZ, W. P. (1991). Estabilização Físico-química de um Solo Residual de Arenito Botucatu, Visando seu Emprego na Pavimentação. Dissertação (Mestrado em Engenharia) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. 150p. THOMÉ, A. (1994). Estudo do Comportamento de um Solo Mole Tratado com Cal, Visando seu Uso em Fundações Superficiais. Dissertação (Mestrado em Engenharia) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. 149p.
Compartilhar