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ANALISE DA INFLUENCIA DE PARAMETROS CHAVE SOBRE A RESISTENCIA E A RIGIDEZ DE MISTURAS SOLO CAL

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ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DE PARÂMETROS-CHAVE 
SOBRE A RESISTÊNCIA E A RIGIDEZ DE MISTURAS 
SOLO-CAL 
 
Amanda Dalla Rosa Johann 
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, amandadallarosa@yahoo.com.br 
 
Nilo Cesar Consoli 
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, consoli@ufrgs.br 
 
António Joaquim Pereira Viana da Fonseca 
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Porto, Portugal, viana@fe.up.pt 
 
RESUMO: A cal é utilizada na estabilização de solos desde a antiguidade, com o objetivo de 
melhorar as características deste material complexo e muito variável na engenharia geotécnica. Na 
pavimentação, por exemplo, alguns solos necessitam de bases granulares para o pavimento ser 
realizado, o que gera um alto custo quando a jazida está localizada distante da obra, além de causar 
degradação ambiental pela exploração da jazida e pelo próprio transporte do material. Outro 
exemplo são os solos que necessitam fundações profundas, cujo custo se torna inviável dependendo 
do porte da obra. Assim, na busca de novas tecnologias que proporcionem redução de custos e 
tornem a obra economicamente viável, uma alternativa é o melhoramento destes solos através de 
técnicas de estabilização com a utilização de cal ou cimento. Neste contexto, as últimas pesquisas 
em solos tratados com cal mostram o desenvolvimento de metodologias de dosagem baseadas em 
critérios racionais (como a relação água/cimento para o concreto), onde a relação volume de 
vazios/volume de cal desempenha papel fundamental na obtenção da resistência desejada. Assim, 
esta pesquisa tem como objetivo verificar a influência da quantidade de cal (Ca), da umidade () e 
da porosidade () sobre a resistência à compressão simples (qu) e sobre a rigidez inicial (Go) de um 
solo siltoso estabilizado com cal, verificando a adequação do uso da relação vazios/cal na estimativa 
de qu e Go. Para atingir os objetivos da pesquisa foram realizados ensaios de resistência à 
compressão simples e ensaios para a medida de Go. As amostras foram ensaiadas aos 90 dias de 
cura. Os resultados dos ensaios de resistência à compressão simples e de rigidez inicial demonstram 
que o aumento da quantidade de Ca e a diminuição da  provoca o aumento de qu e Go. Sendo que, 
qu e Go crescem linearmente com o aumento da quantidade de cal e exponencialmente com a 
redução da sua porosidade. Assim, verifica-se que, a relação vazios/cal (/Cav), definida pela razão 
entre a porosidade da mistura compactada e o teor volumétrico de cal, demonstra ser um parâmetro 
adequado na estimativa de qu e Go. Além disso, a partir desses mesmos resultados, observa-se que a 
também desempenha um papel fundamental na previsão de qu e Go. 
 
PALAVRAS-CHAVE: relação vazios/cal, resistência, rigidez. 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
A técnica de tratamento de solos com cal vem 
sendo empregada com sucesso na engenharia 
geotécnica, melhorando as características do 
solo, que por ser um material complexo e muito 
variável nem sempre satisfaz as necessidades da 
obra a ser realizada. 
A cal é utilizada na estabilização de solos desde 
a antiguidade, com aplicação principalmente em 
pavimentações e aterros. Muitas pesquisas 
(NÚÑEZ, 1991; THOMÉ, 1994; CARRARO, 
1997; CONSOLI, 2001; LOVATO, 2004, 
DALLA ROSA, 2009, LOPES JUNIOR, 2011, 
 
CONSOLI et al, 2011) sobre solos tratados com 
cal têm sido realizadas na Universidade Federal 
do Rio Grande do Sul, visando seu emprego 
como base para rodovias e como camada de 
suporte para fundações superficiais, sendo que 
os resultados demostram melhoras 
significativas nos parâmetros geotécnicos 
estudados (aumento da capacidade de suporte e 
redução dos recalques). 
Contudo, as últimas pesquisas em solos tratados 
com cal mostram o desenvolvimento de 
metodologias de dosagem baseadas em critérios 
racionais (como a relação água/cimento para o 
concreto), onde a relação volume de 
vazios/volume de cal desempenha papel 
fundamental na obtenção da resistência 
mecânica desejada. 
Assim, esta pesquisa busca fornecer subsídios 
para que, através de relações de dosagem, 
desenvolvidas a partir da identificação e 
quantificação das variáveis mais importantes no 
controle da resistência à compressão simples e 
da rigidez inicial de um solo estabilizado com 
cal, se possa atingir de forma objetiva e com 
maior confiabilidade as propriedades requeridas 
nas misturas caulim-cal. 
 
 
2 PROGRAMA EXPERIMENTAL 
 
2.1 Materiais 
 
O material denominado “caulim” utilizado nesta 
pesquisa é comercialmente conhecido como 
caulim rosa, originário do município de Pântano 
Grande-RS. 
A partir da análise da curva granulométrica 
percebe-se que 100% do material passa na 
peneira 200 (0,075 mm), e que essa 
percentagem passante se distribui entre as 
frações silte e argila: 22% de argila (< 0,002 
mm) e 78% de silte (0,002 a 0,075 mm). O 
limite de liquidez (38,2%) é baixo, 
considerando a média apresentada pelas argilas. 
O índice de plasticidade (3,7%) indica um solo 
fracamente plástico (1 < IP < 5). Portanto, o 
caulim rosa, de acordo com o SUCS (Sistema 
Unificado de Classificação de Solos) (ASTM D 
2487, 1993), é classificado como um silte de 
baixa plasticidade. 
A cal utilizada no trabalho é uma cal hidratada 
dolomítica, comercialmente chamada de 
“Primor Extra”, produzida em Caçapava do Sul 
– RS, com massa específica real dos grãos igual 
a 2,49 g/cm3. A água utilizada para a moldagem 
dos corpos-de-prova é a água potável 
proveniente da rede de abastecimento pública. 
Já para os ensaios de caracterização utilizou-se 
água destilada quando especificada pela 
respectiva norma. 
 
2.2 Métodos 
 
2.2.1 Moldagem e cura das amostras 
 
Para os ensaios de resistência à compressão 
simples e de medidas de rigidez inicial, foram 
moldadas amostras cilíndricas de 7mm de 
diâmetro e 14mm de altura. Após a pesagem 
dos materiais, o solo e a cal foram misturados 
até a mistura adquirir uma consistência 
uniforme. Após esse processo, a água então era 
adicionada, continuando o processo de mistura 
até que a homogeneidade fosse obtida. 
Após o processo de mistura do material 
suficiente para uma amostra, a mistura foi 
armazenada em um recipiente fechado para 
evitar perdas de umidade antes da compactação. 
Duas pequenas porções da mistura eram 
retiradas, para determinação da umidade (). 
A amostra era compactada estaticamente, em 
cinco camadas, em um molde de ferro fundido, 
de modo que cada amostra atingisse o seu peso 
específico aparente seco (d) desejado. Após o 
processo de moldagem, a amostra foi 
imediatamente extraída do molde, e seu peso, 
diâmetro e altura medidos com precisão de 
cerca de 0,01 g e 0,1 mm. As amostras foram 
então, colocadas dentro de sacos plásticos, para 
evitar variações significativas do teor de 
umidade. Além disso, elas foram curadas por 90 
dias em uma câmara úmida com 23º±2º C e 
umidade relativa do ar acima de 95%. 
 As amostras que foram consideradas aptas 
para os ensaios respeitaram as seguintes 
tolerâncias: 
 d: dentro de ± 1% do valor alvo; 
 : dentro de ± 0,5% do valor alvo; 
 Dimensões: diâmetro de ± 0,5 mm e 
altura de ± 1mm em relação ao valor 
 
alvo. 
 
2.2.2 Ensaios de Resistência à Compressão 
Simples 
 
Ao final das leituras para as medidas de Go e 
após a cura em câmara úmida, as amostras 
foram submersas em um tanque com água por 
24 horas para saturação, e assim minimizar a 
sucção, antes da realização dos ensaios de qu. A 
temperaturada água foi mantida a 23±2ºC. 
As amostras foram rompidas à compressão 
simples em uma prensa automática. A prensa 
utilizada foi a do LABGEO da Faculdade de 
Engenharia da Universidade do Porto/Portugal, 
que consiste em uma prensa automática com 
capacidade máxima de 100 kN equipada com 
células de carga de 5, 10, 20, 25 e 100 kN. A 
taxa de deslocamento adotado foi de 1,14 mm 
por minuto. O procedimento dos ensaios de 
resistência à compressão simples seguiram a 
norma americana ASTM D 5102/96. 
 
2.2.3 Ensaios de Medidas de Rigidez Inicial 
 
Para os ensaios de medida de rigidez inicial foi 
utilizado um equipamento ultrassônico 
denominado Pundit Lab, da marca Proceq, 
disponível no LABGEO da Faculdade de 
Engenharia da Universidade do Porto/Portugal. 
O ensaio consiste em posicionar o corpo-de-
prova sobre o transdutor receptor de ondas. O 
transdutor emissor, por sua vez, é posicionado 
sobre o corpo-de-prova. Foi utilizado o gel 
condutor de ultrassom, da marca Mercur, para 
facilitar o envio das ondas ultrassônicas. Os 
transdutores utilizados eram de 82 kHz e 100 
kHz para as ondas “P” (compressão) e para as 
ondas “S” (cisalhamento), respectivamente. 
O corpo-de-prova devidamente posicionado era 
submetido a passagem de ondas sísmicas. O 
tempo entre a transmissão e a recepção da onda 
é o tempo de viajem da mesma, com o qual 
pode-se calcular a velocidade da onda 
cisalhante Vs, e por sua vez, o módulo 
cisalhante elástico através da Equação (1): 
 







2
2
2
0
t
L
VG s 
 (1) 
 
Onde  é o peso específico do solo, L é a 
distância entre os transdutores e t é o tempo de 
viagem da onda. 
 
2.2.3 Programa de Ensaios de resistência à 
compressão simples e de Medidas de rigidez 
inicial 
 
As percentagens de cal (3, 5, 7 e 9%) foram 
definidas a partir de outras pesquisas para 
posteriores comparações, e estão de acordo com 
a experiência brasileira e internacional com 
solo-cal. O programa de ensaios de qu e de 
medidas de Go teve como objetivo avaliar a 
influência das variáveis: quantidade de cal (Ca), 
umidade () e porosidade () sobre a qu e sobre 
a Go das misturas solo-cal. 
Para que seja possível a mensuração da 
influência de uma variável isoladamente é 
necessário que as outras variáveis sejam 
mantidas constantes. Para isto foi elaborado o 
programa de ensaios conforme apresenta a 
Figura 1. Observa-se que os pontos de 
moldagem foram posicionados em três linhas 
verticais (pontos: A1, A2, A3, A4, A5, A6, A7, 
A8 e A9), denominadas linhas “A”, com três 
diferentes teores de umidade (17, 20 e 23%) e 
diferentes pesos específicos aparentes secos. 
 
 
Figura 1. Programa de ensaios de resistência à 
compressão simples e de medidas de rigidez inicial 
 
Cada ponto da linha “A” foi moldado com 4 
diferentes percentagens de cal (3, 5, 7 e 9%) e 
foram curadas durante 90 dias. 
 
 
3 RESULTADOS E ANÁLISES 
 
 
3.1 Ensaios de Resistência à compressão 
simples 
 
3.1.1 Efeito da quantidade de cal 
 
Os resultados dos ensaios de resistênica à 
compressão simples para as misturas com 20% 
e 90 dias de cura são apresentados na Figura 2, 
que apresenta resultados considerando os pesos 
específicos aparentes secos de 1,4 g/cm³, 1,5 
g/cm³ e 1,6 g/cm³, e percentagens de cal de 3%, 
5%, 7% e 9%. As amostram com 17% e 23% 
de apresentam as mesmas tendências. 
Pode-se observar que a quantidade de cal tem 
efeito significativo sobre a resistência à 
compressão simples do material para os corpos-
de-prova ensaiados. Ao se aumentar a 
quantidade de cal de 3% para 9%, a resistência 
à compressão simples, em média, acresceu 
359% em todas as curvas com 17% de , 354% 
com 20% de  e 366% com 23% de . 
 
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
8000
9000
2 3 4 5 6 7 8 9 10
q u
(k
Pa
)
Ca (%)
d = 1,40 g/cm
3 : qu = 350,2Ca - 443,5 (R
2 = 0,95)
d = 1,50 g/cm
3 : qu = 508,8Ca - 402,7 (R
2 = 0,95)
d = 1,60 g/cm
3 : qu = 729,7Ca - 428,4 (R
2 = 0,92)
Figura 2. Variação da resistência à compressão simples 
(qu) com a quantidade de cal para 20% de umidade, 
considerando todos os pesos específicos aparentes secos 
estudados 
 
Verifica-se também que, na faixa de teores 
estudados, a resistência à compressão simples 
aumenta linearmente com o aumento da 
quantidade de cal. Além disso, a taxa de 
aumento de resistência, representada pela 
inclinação das retas de ajuste, aumenta com o 
aumento do peso específico aparente seco. 
 
3.1.2 Efeito da porosidade 
 
A Figura 3 apresenta como a porosidade 
influencia na resistência à compressão simples 
das misturas com 20% e 90 dias de cura. 
Observa-se que, a resistência à compressão 
simples aumenta exponencialmente com a 
redução da porosidade de todas as misturas 
compactadas. As amostram com 17% e 23% de 
umidade apresentam as mesmas tendências. 
Verifica-se que, de maneira similar à quantidade 
de cal, a porosidade da mistura compactada 
exerce influência sobre a resistência à 
compressão simples do solo-cal em estudo. Em 
média a redução de 10 pontos percentuais na 
porosidade do material aumentou, em média, 
2,3 vezes a resistência à compressão simples do 
solo-cal testado com 17% de umidade, 2,5 
vezes com 20% de umidade e 3,1 com 23% de 
umidade, em todas as curvas. 
 
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
8000
9000
10000
35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46
q u
(k
Pa
)
(%)
Ca = 3% : qu = 382871e
-0,15 (R2 = 0,81)
Ca = 5% : qu = 445662e
-0,13 (R2 = 0,96)
Ca = 7% : qu = 565670e
-0,12 (R2 = 0,97)
Ca = 9% : qu = 390457e
-0,11 (R2 = 0,92)
Figura 3: Variação da resistência à compressão simples 
(qu) com a porosidade () para 20% de umidade, 
considerando todos os teores de cal estudados 
 
3.1.3 Aplicação da relação vazios/cal (/Cav) 
 
A Figura 4 apresenta a variação da resistência à 
compressão simples (qu) com a relação 
porosidade/teor volumétrico de cal (/Cav) para 
as amostras com 20% de umidade, definida pela 
Equação (2). 
 
Cal de oVolumétric Teor
Porosidade
Cav

 (2) 
 
Observa-se, na Figura 4, a existência de uma 
relação com forte tendência exponencial entre 
qu e /Cav. As amostram com 17% e 23% de 
umidade apresentam as mesmas tendências. 
Na continuidade da pesquisa, verificou-se que a 
aplicação de uma potência igual a 0,45 sobre 
 
Cav para todas as misturas solo-cal estudadas, 
proporciona um bom ajuste dos dados na 
obtenção da qu a ser atingida, conforme 
apresentado na Figura 5. Assim, a Figura 5 
apresenta a aplicação de uma curva tipo 
potência sobre os resultados adquiridos. As 
mesmas tendências são observadas para as 
amostras com 17% e 23% de umidade. 
 
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
8000
9000
4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32
q u
(k
Pa
)
Vv / Vca
Ca = 3%
Ca = 5%
Ca = 7%
Ca = 9%
Figura 4. Variação da resistência à compressão simples 
(qu) com a relação porosidade/teor volumétrico de cal 
(Cav) para as amostras com 20% de umidade 
 
 
Figura 5. Variação da qu com a relação Cav)0,45 
ajustada por uma curva tipo potência para as amostras 
com 20% de umidade 
 
As Equações (3), (4) e (5) representam as 
relações encontradas para as misturas com 17% 
de umidade (R2=0,93), 20% de umidade 
(R2=0,93) e 23% de umidade (R2=0,92). 
Observa-se também, que quanto maior o teor de 
cal, maior a resistência à compressão simples 
(qu) para qualquerdado de Cav)0,45. 
 
qu = 4,29.107(/(Cav)0,45)-3,10 (3) 
qu = 4,77.107(/(Cav)0,45)-3,10 (4) 
qu = 4,60.107(/(Cav)0,45)-3,10 (5) 
 
3.1.4 Análise do efeito do teor de umidade 
 
Na Figura 6 são apresentados os resultados das 
relações Cav)0,45 pela qu das amostras de 
caulim-cal com 17, 20 e 23% de umidade. 
 
Figura 6. Variação da qu com a relação Cav para as 
amostras com 17, 20 e 23% de umidade. 
 
A partir das análises realizadas observa-se um 
aumento da qu com o aumento do teor de  até 
um valor ótimo (20%), a partir do qual a 
resistência passa a diminuir. A mesma 
tendência foi relatada por Foppa (2005) em 
amostras de solo-cimento. 
 
3.2 Ensaios de Medidas de rigidez inicial 
 
3.2.1 Efeito da quantidade de cal 
 
Os resultados dos ensaios de medidas de rigidez 
inicial para as misturas com 20% de umidade e 
90 dias de cura são apresentados na Figura 7, 
que apresenta resultados considerando os pesos 
específicos aparentes secos de 1,4, 1,5 e 1,6 
g/cm³, e percentagens de cal de 3, 5, 7 e 9%. As 
mesmas tendências são observadas nos 
resultados das amostras com 17% e 23% de . 
Pode-se observar que a quantidade de cal tem 
efeito significativo sobre a Go do material 
estudado. Ao se aumentar a quantidade de cal 
de 3% para 9%, a Go, em média, acresceu 90% 
em todas as curvas com 17% de , 106% com 
 
20% de  e 144% com 23% de. 
 
0
400
800
1200
1600
2000
2400
2800
2 3 4 5 6 7 8 9 10
G
o
(M
Pa
)
Ca (%)
d = 1,40 g/cm
3 : Go = 117,58Ca + 225,66 (R
2 = 0,97)
d = 1,50 g/cm
3 : Go = 129,25Ca + 390,89 (R
2 = 0,94)
d = 1,60 g/cm
3 : Go = 142,72Ca + 440,33 (R
2 = 0,98)
Figura 7. Variação da resistência à compressão simples 
(Go) com a quantidade de cal (Ca) para 20% de umidade, 
considerando todos os pesos específicos aparentes secos 
estudados 
 
Verifica-se também que, na faixa de teores 
estudados, a Go aumenta linearmente com o 
aumento da quantidade de cal. Além disso, a 
taxa de aumento de Go, representada pela 
inclinação das retas de ajuste, aumenta com o 
aumento do peso específico aparente seco. 
 
3.2.2 Efeito da porosidade 
 
A Figura 8 apresenta como a porosidade 
influencia na rigidez inicial das misturas com 
20% de umidade e 90 dias de cura, 
respectivamente. Observa-se que, a rigidez 
inicial aumenta exponencialmente com a 
redução da porosidade de todas as misturas 
compactadas. As mesmas tendências são 
observadas nos resultados das amostras com 
17% e 23% de umidade. 
Verifica-se que, de maneira similar à quantidade 
de cal, a  da mistura compactada exerce 
influência sobre a Go do solo-cal em estudo. 
Em média a redução de 10 pontos percentuais 
na  do material aumentou, em média, 1,6 
vezes a Go do solo-cal testado com 17% de , 
1,4 vezes com 20% de  e 1,4 com 23% de , 
em todas as curvas. 
Pode-se observar também, que a rigidez inicial 
aumentou exponencialmente com a redução da 
porosidade da mistura compactada. 
0
400
800
1200
1600
2000
2400
2800
3200
35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46
G
o
(M
Pa
)
(%)
Ca = 3% : Go = 11873e
-0,07 (R2 = 0,96)
Ca = 5% : Go = 5431e
-0,04 (R2 = 0,86)
Ca = 7% : Go = 9225e
-0,05 (R2 = 0,93)
Ca = 9% : Go = 8041e
-0,04 (R2 = 0,98)
Figura 8: Variação da resistência à compressão simples 
(Go) com a porosidade () para 20% de umidade, 
considerando todos os teores de cal estudados 
 
3.2.3 Aplicação da relação vazios/cal (/Cav) 
 
A Figura 9 apresenta a variação da rigidez 
inicial (Go) com a relação porosidade/teor 
volumétrico de cal (/Cav), definida 
anteriormente pela Equação (2). 
A Figura 9 apresenta como /Cav afeta qu para o 
solo estabilizado com cal com 20% de umidade. 
Para os dois tempos de cura, as amostras têm 
diferentes quantidades de cal e porosidades. 
Pode-se observar que nos dois casos existe uma 
relação com forte tendência exponencial entre 
qu e /Cav. As mesmas tendências são 
observadas nos resultados das amostras com 
17% e 23% de umidade. 
 
0
400
800
1200
1600
2000
2400
2800
4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32
G
o
(M
Pa
)
Vv / Vca
Ca = 3%
Ca = 5%
Ca = 7%
Ca = 9%
Figura 9. Variação da resistência à compressão simples 
(Go) com a relação porosidade/teor volumétrico de cal 
(Cav) para 20% de umidade 
 
A aplicação de uma potência igual a 0,45 sobre 
Cav para todas as misturas solo-cal estudadas, 
também proporcionou um bom ajuste dos dados 
na obtenção da rigidez inicial a ser atingida, 
 
conforme apresentado na Figura 10, o que 
também foi observado nas respostas de 
resistência à compressão simples apresentadas 
no item 3.1.3. Assim, a Figura 10 apresenta a 
aplicação de uma curva tipo potência sobre os 
resultados adquiridos para 20% de umidade. As 
amostras com 17% e 23% de umidade 
apresentam as mesmas tendências. 
 
 
Figura 10. Variação da Go com a relação Cav)0,45 
ajustada por uma curva tipo potência para as amostras 
com 20% de umidade 
 
Observa-se que a aplicação da relação 
vazios/cal (Cav)0,45), ajustada por uma curva 
tipo potência, proporciona um bom ajuste dos 
dados na obtenção da rigidez inicial a ser 
atingida, respectivamente com 17%, 20% e 23% 
de umidade. As Equações (6), (7) e (8) 
representam as relações encontradas para as 
misturas com 17% de umidade (R2=0,97), 20% 
de umidade (R2=0,96) e 23% de umidade 
(R2=0,95). Observa-se também, que quanto 
maior o teor de cal, maior a rigidez inicial (Go) 
para qualquer dado de Cav)0,45. 
 
Go = 1,86.105(/(Cav)0,45)-1,60 (6) 
Go = 1,96.105(/(Cav)0,45)-1,60 (7) 
Go = 2,03.105(/(Cav)0,45)-1,60 (8) 
 
3.2.4 Análise do efeito do teor de umidade 
 
Na Figura 11 são apresentados os resultados das 
relações Cav)0,45 pela qu das amostras de 
caulim-cal com 17, 20 e 23% de umidade. 
 
Figura 11. Variação da resistência à compressão simples 
(Go) com a relação porosidade/teor volumétrico de cal 
(Cav) com 17, 20 e 23% de umidade. 
 
A partir das análises realizadas observa-se um 
aumento da rigidez inicial com a diminuição do 
teor de umidade. Esta mesma tendência foi 
observada por Consoli et al (2001), em 
amostras de solo-cinza-cal e por Galaa et al 
(2011), ao estudar dois grupos de amostras de 
solo-cimento, um submerso em água e outro 
não submerso em água. Segundo Galaa et al 
(2011), o fato de amostras com umidades 
menores obterem valores de rigidez inicial 
maiores, reflete o efeito da sucção nas medidas 
de rigidez inicial. 
 
 
4 CONCLUSÕES 
 
A partir dos dados apresentados neste trabalho, 
as seguintes conclusões podem ser 
evidenciadas: 
 Quanto maior a quantidade de cal, maior a 
qu e maior a Go para um determinado peso 
específico aparente seco e para uma 
determinada quantidade de cal. Além disso, 
relações lineares podem ser observadas nos 
resultados de qu versus Ca e Go versus Ca 
para o tempo de cura estudado. 
 Em todas as misturas estudadas a redução 
da porosidade proporciona o aumento da sua 
qu e Go. Sendo que, a resistência à 
compressão simples e a rigidez inicial 
aumentam exponencialmente com a redução 
 
da porosidade. 
 A relação porosidade/teor volumétrico de 
cal mostra ser um bom parâmetro na 
avaliação da qu e da Go dessas misturas solo-cal. Além disso, a função de potência 
ajustada por um expoente se adapta muito 
bem à relação qu versus /(Cav)0,45 e à 
relação Go versus /(Cav)0,45. 
 Analisando-se as amostras ensaiadas à 
resistência à compressão simples, observa-se 
um aumento da qu com o aumento do teor de 
umidade até um valor ótimo (20%), a partir 
do qual a resistência passa a diminuir. 
 Analisando-se os resultados de rigidez 
inicial, observa-se um aumento da Go com a 
diminuição do teor de umidade. 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Os autores demonstram agradecimento ao 
suporte financeiro da CAPES e do CNPq, e aos 
colegas do LABGEO/FEUP e 
LEGG/ENVIRONGEO. 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
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