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BALANÇO DO RESULTADO DA RIO+20

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Cientistas fazem balanço dos resultados da RIO+20 
Fonte: Agencia FAPESP, disponível em: http://agencia.fapesp.br/16082 
Por Fábio de Castro 
Agência FAPESP – A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (RIO+20) 
mobilizou a comunidade científica e foi palco de discussões que revelaram avanços sem precedentes no 
conhecimento sobre os limites do planeta – conceito indispensável para determinar uma agenda dedicada à 
sustentabilidade global. 
No entanto, nada disso se refletiu no documento final da conferência, intitulado “O Futuro que queremos”, que 
teve até mesmo o termo “ciência” cortado do único tópico onde aparecia com destaque, de acordo com 
cientistas reunidos no dia 23 de agosto no 2º Workshop Conjunto BIOTA-BIOEN-Mudanças Climáticas: o 
futuro que não queremos – uma reflexão sobre a RIO+20. 
O evento, realizado na sede da FAPESP, reuniu pesquisadores envolvidos com os três grandes 
programas da FAPESP sobre temas relacionados ao meio ambiente – biodiversidade (BIOTA-FAPESP), 
bioenergia (BIOEN) e mudanças climáticas globais (PFPMCG) – com a finalidade de fazer uma avaliação 
crítica dos resultados da RIO+20, especialmente no que diz respeito às perspectivas de participação da 
comunidade científica nas discussões internacionais nos próximos anos. 
De acordo com Carlos Alfredo Joly, coordenador do Programa BIOTA-FAPESP, a comunidade 
científica brasileira e internacional se mobilizou intensamente durante a RIO+20 e chegou à conferência 
preparada para fornecer subsídios capazes de influenciar a agenda de implementação do desenvolvimento 
sustentável. 
“Nada disso se refletiu na declaração final. Chegou-se a um documento genérico, que não determina metas e 
prazos e não estabelece uma agenda de transição para uma economia mais verde ou uma sustentabilidade maior 
da economia”, disse Joly à Agência FAPESP. 
A maior esperança dos cientistas para que a conferência tivesse um resultado concreto, de acordo com 
Joly, era que o texto final reconhecesse, já em sua introdução, o conceito de limites planetários, proposto em 
2009 por Johan Rockström, da Universidade de Estocolmo. A expectativa, porém, foi frustrada. 
“De 1992 até hoje, tivemos um grande avanço no conhecimento em relação aos limites planetários e o trabalho 
de Rockström já se tornou um clássico. Destacar isso no texto final poderia contribuir para uma mudança de 
paradigmas que definiria uma nova trajetória para o planeta. Mas isso não foi feito”, disse. 
Rockström, do Stockholm Resilience Centre Planetary, participou do workshop por meio de videoconferência, 
e apresentou palestra sobre o tema “Planetary boundaries are valuable for policy”. 
O fato do avanço do conhecimento científico não estar refletido no documento, entretanto, não deve ser 
usado como argumento para desestimular a comunidade científica que trabalha nessa área ambiental, segundo 
Joly. 
“Para nós que trabalhamos com a biodiversidade, a prioridade agora volta a ser a discussão sobre o veto às 
mudanças no código florestal, uma questão que ainda está em aberto”, disse. 
O tema da biodiversidade, segundo Joly, recebeu muito pouca atenção no documento final da RIO+20, embora 
seja uma das áreas em que os limites planetários de segurança já foram extrapolados. 
“Praticamente todas as referências a uma agenda para a biodiversidade foram cortadas do texto. O documento 
zero, que foi o ponto de partida para a declaração, tinha seis parágrafos sobre a biodiversidade nos oceanos, 
com metas e agenda, por exemplo. No texto final são 19 parágrafos, mas nenhum deles estabelece metas ou 
agenda”, afirmou Joly. 
 
CONTEÚDO VAGO 
Paulo Artaxo, membro da coordenação do PFPMCG, destacou que as menções à questão das mudanças 
climáticas também foram quase nulas. “O texto final da RIO+20 tem 53 páginas, divididas em 283 tópicos. 
Desse total, apenas três tópicos mencionam a questão do clima. Para se ter uma ideia, há seis tópicos sobre 
igualdade de gênero e dez sobre lixo químico – que são temas importantes, mas não envolvem a mesma escala e 
urgência do problema do clima”, disse 
Além da escassez, o conteúdo das menções à questão do clima é muito vago, segundo Artaxo. “O texto 
se limita a afirmar que as mudanças climáticas estão entre os maiores desafios do nosso tempo e que o tema 
gera preocupação, por exemplo”, disse. 
Para o pesquisador, no entanto, seria ingenuidade acreditar que a conferência poderia trazer soluções 
imediatas para a questão da sustentabilidade global. A oportunidade perdida na conferência foi a de contribuir 
para acelerar as decisões necessárias. 
joãovitor
Nota
segundo o paragrafo, na Rio+20 não foi traçado metas como nas conferências anteriores.
joãovitor
Nota
segundo paragrafo, não foi utilizado fundamentos científicos na conferencia. 
“O problema é enorme e envolve todo o sistema de produção que roda a economia e a política de todo o 
nosso planeta. Uma questão desse porte não pode ser resolvida em uma única reunião, ou mesmo em uma 
década. O equacionamento vai demorar pelo menos mais 10 anos – o nosso problema é que não temos todo esse 
tempo”, disse. 
Para Artaxo, a RIO+20 evidenciou que o mundo se ressente da falta de governança para lidar com a questão do 
clima global. “Não temos entidades que possam implementar políticas globais com impacto importante na 
economia do planeta para enfrentar os desafios do clima. Se é difícil reduzir emissões de CO², poderíamos 
tentar reduzir as emissões de metano e ozônio, por exemplo. Mas isso exige um sistema de governança que a 
RIO+20 mostrou claramente não existir”, afirmou. 
Fábio Feldman, do Fórum Paulista de Mudanças Climáticas, apontou que a falta de liderança pode ter 
comprometido os resultados da RIO+20. Segundo ele, a RIO92 (ou ECO-92), por exemplo, obteve mais 
sucesso porque na época o interlocutor brasileiro com os chefes de estado foi o físico José Goldemberg. 
“Se perguntarmos aos diplomatas brasileiros, dirão que RIO+20 foi um grande sucesso, porque para eles 
o importante era chegar a um documento final, mesmo que inócuo. O fato do professor Goldemberg não ser um 
diplomata foi um fator importante para o sucesso da ECO-92”, afirmou. 
Feldman afirmou que, apesar de tudo, fora da reunião de alto nível, a RIO+20 contou com iniciativas 
importantes, como a participação ativa do setor empresarial e a mobilização da comunidade científica para criar 
o programa Future of Earth. 
Alice Abreu, coordenadora da Iniciativa RIO+20 do Conselho Internacional para a Ciência (ICSU, na 
sigla em inglês), fez um balanço das atividades do "Forum on Science, Technology and Innovation for 
Sustainable Development” – o principal evento científico realizado em paralelo à conferência. 
“O evento teve mais de mil participantes, além de outros mil que acompanharam pela internet. Foram 11 
sessões temáticas, onde 110 cientistas de 75 países discutiram temas centrais para o desenvolvimento 
sustentável. Houve ainda 24 eventos paralelos que congregaram cerca de 100 palestrantes. Tivemos duas 
sessões de política científica e a sessão de encerramento foi um diálogo de alto nível entre representantes da 
ciência e da política”, contou. 
O fórum foi o palco do lançamento do Future Earth, uma iniciativa internacional de pesquisa 
interdisciplinar do sistema terrestre para a sustentabilidade global. 
“O objetivo é prover, nos próximos dez anos, o conhecimento necessário para que as sociedades possam 
enfrentar os riscos das mudanças ambientais e desenvolver transições adequadas para uma sustentabilidade 
global”, disse. 
Segundo Abreu, além da iniciativa concreta do programa Future Earth, o fórum contou com debates 
entre os cientistas, que geraram recomendações importantes para a agenda mundial da sustentabilidade global. 
“Duas recomendações foram centrais: uma maior colaboração entre as ciênciasnaturais e as ciências sociais – 
tema debatido em praticamente todas as sessões – e uma política científica mais integrada com outros atores, de 
forma a estabelecer um novo contrato entre ciência e sociedade”, afirmou.

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