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CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS E SUA ESTRUTURA

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CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS E SUA ESTRUTURA: BREVE ANÁLISE DO CASO XIMENES
Jaime Lisandro Martini[1: Acadêmico do Curso de Direito da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUI. ]
Lisiane Loureiro de Paula Klein[2: Acadêmica do Curso de Direito da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUI. lisianeloureiro@gmail.com]
INTRODUÇÃO
	O presente estudo tem como escopo a análise da Corte Interamericana de Direitos Humanos, a qual tem grande relevância jurídica na proteção dos direitos humanos no âmbito do Direito Internacional. Ademais será feita uma breve análise do caso Ximenes Lopes versus Brasil o qual, decidido em 2006, foi a primeira condenação do Brasil por violações de direitos humanos pela Corte Interamericana de Direitos. A problemática trazida pelo estudo é a eficácia das decisões da corte e o total cumprimento do Estado condenado perante a decisão.
	O objetivo é trazer a conhecimento o funcionamento da corte, bem como sua composição e modo de atuação, e o poder de eficiência das decisões proferidas. Tal estudo é justificado pela relevância perante ao Direito Internacional e as instituições do sistema de proteção dos direito humanos as quais recorre-se para salvaguardar os direitos humanos violados pelos Estados.
1 METODOLOGIA
	A metodologia aplicada no estudo é teórica com base em artigos publicados sobre o tema bem como as leis e jurisprudências, a qual terá como delimitação o Caso Ximenes Lopes versus Brasil decidido no ano de 2006. A análise é de natureza qualitativa com fins explicativos, trazendo o exame dos principais aspectos de funcionamento da corte, bem como a atuação desta na esfera internacional.
	Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, tendo como base artigos científicos e doutrinas relacionadas ao tema, assim como a apreciação do Estatuto da Corte. O método de abordagem utilizado é o hipotético-dedutivo, utilizando como critério procedimentos históricos e comparativos a fim de realizar a análise e interpretação dos dados, justificando-os.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
	A Corte Interamericana de Direitos Humanos faz parte de um complexo regional, Sistema Americano de Direitos Humanos, que visa a promoção e proteção dos direitos humanos a nível da Organização dos Estados Americanos, cuja estrutura começou formalmente em 1948, com a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem. Dentro desta organização foram criados a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a Corte Interamericana de Direitos Humanos, órgãos com competência para conhecer de assuntos e compromissos contraídos pelos Estados partes da convenção, além de regularem seu funcionamento.
A Comissão Interamericana, cabe promover a defesa dos direitos humanos sendo órgão consultivo da OEA, sendo criada pela Resolução III da Quinta Reunião de consulta de Ministros das Relações Exteriores, em Santiago do Chile, em 1959. Sua competência consultiva, política, é de visitação e preparação de relatórios sobre a situação dos direitos humanos no âmbito dos Estados membros. Na dimensão judicial exerce competência de receber denúncias de particulares e de organizações, no que se refere a violações de direitos humanos, examinando as petições que recebe, verificando sua admissibilidade.
No exercício de sua competência consultiva, a Corte Interamericana tem desenvolvido análises elucidativas a respeito do alcance e do impacto dos dispositivos da Convenção Americana, emitindo opiniões que têm facilitado a compreensão de aspectos substanciais da Convenção, contribuindo para a construção e evolução do Direito Internacional dos Direitos Humanos no âmbito da America Latina. No plano contencioso, sua competência para o julgamento de casos, limitada aos Estados Partes da Convenção que tenham expressamente reconhecido sua jurisdição, consiste na apreciação de questões envolvendo denúncia de violação, por qualquer Estado Parte, de direito protegido pela Convenção. Caso reconheça que efetivamente ocorreu a violação à Convenção, determinará a adoção de medidas que se façam necessárias à restauração do direito então violado, podendo condenar o Estado, inclusive, ao pagamento de uma justa compensação à vítima.[3: Disponível em: http://www.agu.gov.br/page/content/detail/id_conteudo/113486)]
O objeto deste estudo é a Corte Interamericana de Direitos humanos, assim sendo, é indispensável a sua conceituação. Trata-se de um organismo jurídico internacional autárquico o qual compõe a estrutura da OEA (Organização dos Estados da América) tendo por origem a Convenção Americana dos Direitos do Homem e tem a atribuição o cunho consultivo e contencioso. Lucas Laitano Valente em seu trabalho de monografia para conclusão do curso de Direito da Universidade do Rio dos Sinos expõe a seguinte referência:
Nas palavras do ex-representante da OEA no Brasil, Miguel A. Vasco (1996, p. 334), o sistema interamericano tem a Convenção como seu corpo normativo e, nos seus dois organismos de proteção – a Corte Interamericana de Direitos Humanos e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) – os competentes para “conhecer dos assuntos relacionados com o cumprimento dos compromissos contraídos pelos Estados-Partes na Convenção”. [4: VALENTE, Lucas Laitano. O SISTEMA INTERAMERICANO DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS: DA DENÚNCIA AO JULGAMENTO. Disponível em: http://www.dhnet.org.br/dados/monografias/dh/mono_lucas_laitano_valente_corte_interamericana.pdf, apud VASCO, Miguel. O Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos. In:TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. A Incorporação das Normas Internacionais de Proteção dos Direitos Humanos no Direito Brasileiro. 2ª ed. Costa Rica. Instituto Interamericano de Direitos Humanos.]
A Corte Interamericana de Direitos Humanos está sediada em São José da Costa Rica e é um dos três Tribunais regionais de proteção dos Direitos Humanos, concomitantemente com a Corte Europeia de Direitos Humanos e a Corte Africana de Direitos Humanos e dos Povos. Seu principal objetivo é a interpretação e aplicação da Convenção Americana.
	De acordo com o artigo 3º do estatuto da Corte Internacional “A corte é sediada em San José, Costa Rica; Entretanto, o Tribunal poderá se reunir em qualquer Estado membro da Organização dos Estados Americanos (OEA) quando a maioria do Tribunal o considerar desejável e com o consentimento prévio do Estado interessado. A alteração do local da sede poderá ser alterado por um voto de dois terços dos Estados Partes da Convenção, na Assembleia Geral da OEA.
	São idiomas oficiais da Corte, os da OEA, português, francês, espanhol, inglês, os quais serão determinados no início de cada caso. A corte poderá autorizar que diante dela venha qualquer parte se expressar em seu próprio idioma, caso não tenha conhecimento do idioma a ser utilizado, sendo, neste caso, acompanhada de um intérprete.
	Atualmente os países que se submetem a Corte Interamericana de Direitos Humanos são: Argentina, Barbados, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Suriname, Uruguai e Venezuela.
2.1 A ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO DA CORTE
O tribunal da corte é constituído por sete juízes nacionais dos Estados-membros da OEA, os quais são designados dentre os juízes de maior autoridade moral, com competência reconhecida no âmbito dos direitos humanos, reunindo as premissas exigidas para o desempenho de elevadas funções jurisdicionais, observando a lei do Estado do qual é oriundo. [5: Art. 52 da Convenção Interamericana de Direitos Humanos: A Corte compor-se-á de sete juízes, nacionais dos Estados membros da Organização, eleitos a título pessoal dentre juristas da mais alta autoridade moral, de reconhecida competência em matéria de direitos humanos, que reúnam as condições requeridas para o exercício das mais elevadas funções judiciais, de acordo com a lei do Estado do qual sejam nacionais, ou do Estado
que os propuser como candidatos.]
Os juízes da Corte Interamericana são eleitos após solicitação aos Estados membros, pelo Secretário Geral da OEA, de uma lista com os nomes de candidatos a juízes da Corte, podendo cada Estado informar o nome de três candidatos, nacionais, ou dos Estados membros. São eleitos os candidatos que obtiverem em votação secreta a maioria absoluta dos votos, durante Assembleia Geral da OEA, antes do término do mandato dos juízes atuais, sendo o mandato de seis anos, podendo ser reeleito por igual período.
	Os juízes eleitos continuam acompanhando os casos que conheceram, até sua sentença. O presidente e o Vice-Presidente são eleitos pelo plenário da Corte, por um período de 2 anos, podendo ser reeleitos pelo mesmo período. Os juízes e o presidente atenderão na sede da corte, mesmo que residam em local diverso deste, devendo ali permanecer pelo tempo necessário. É vedado aos juízes conhecerem casos de suas nacionalidades, permitindo que os Estados envolvidos nomeiem juiz ad hoc, para a solução do impasse.
O quórum para deliberações da corte é de no mínimo 5 juízes, podendo esta reunir-se em qualquer Estado, desde que este concorde. A Corte ou Tribunal realiza quatro períodos de sessões ordinárias e duas extraordinárias, durante o ano. Durante estes períodos a Corte realiza audiências, resoluções sobre casos contenciosos, medidas provisórias e supervisão de cumprimento de sentenças. As partes, são envolvidas durante as sessões da corte.
A denúncia, antes de chegar à Corte Interamericana de Direitos Humanos, deve ser objeto de apreciação dos membros da CIDH, assim como explicita o artigo 44 do Pacto de San José, que também prevê que qualquer pessoa ou grupo de pessoas, entidade não governamental legalmente reconhecida em um ou mais Estados-Membros da Organização pode apresentar à Comissão petições que contenham denúncias ou queixas de violação em direitos humanos por um Estado-Parte. Com o objetivo de salvaguardar o acesso de toda a população do continente, estas comunicações podem ser enviadas em qualquer um dos idiomas oficiais da CIDH: espanhol, português, francês ou inglês, de acordo com o artigo 22 do Regulamento (COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS, 2010b).
A representação dos Estados se fará através de Agentes, que poderão eleger qualquer pessoa para representa-los, ainda podem credenciar agentes assistentes que os representarão temporariamente em caso de falta. Ocorrendo a substituição destes Agentes o Estado deverá comunicar a Corte.
Após a Corte conhecer do caso, as supostas vítimas, poderão apresentar de forma escrita as petições, argumentos, provas, assim atuando durante todo o processo. Existindo pluralidade de vítimas, estas deverão nomear um interveniente, para as representarem. Sendo no máximo de 3 representantes. Assim exposto no site da AGU:
A partir do ano de 1996, todavia, inovação trazida pelo III Regulamento da Corte Interamericana de Direitos Humanos ampliou a possibilidade de participação do indivíduo no processo, autorizando que os representantes ou familiares das vítimas apresentassem, de forma autônoma, suas próprias alegações e provas durante a etapa de discussão sobre as reparações devidas. Além disso, hoje, com as alterações trazidas pelo IV Regulamento, também é possível que as vítimas, seus representantes e familiares não só ofereçam suas próprias peças de argumentação e provas em todas as etapas do procedimento, como também fazer uso da palavra durante as audiências públicas celebradas, ostentando, assim, a condição de verdadeiras partes no processo.[6: Disponível em: http://www.agu.gov.br/page/content/detail/id_conteudo/113486)]
A função contenciosa da Corte determina a responsabilidade, conforme direitos reconhecidos pelas convenções de Direitos Humanos, na qual incorreu um dos Estados membros. Para atuação contenciosa da Corte, é necessário que o Estado membro tenha aceitado tal competência. As sentenças da Corte, Tribunal são definitivas e inapeláveis.
As questões conhecidas pela Corte, ocorre em conformidade com as convenções e tratados estabelecidos entre os Estados membros, bem como a legislação interna destes Estados. As medidas provisórias ocorrem quando existe gravidade e urgência, podendo assim ocorrer a possibilidade de danos irreparáveis a pessoa.
A supervisão do cumprimento de sentença ocorre com a solicitação ao Estado, referente ao acolhimento do caso, a fim de verificar se houve o cumprimento da obrigação. A supervisão do cumprimento de sentença e supervisão, funções da Corte, que ocorre com a solicitação das atividades desenvolvidas em relação a determinação da corte, para que aja a solução do caso, e assim o efetivo cumprimento da decisão, bem como orientar o Estado sobre suas ações, garantindo o efetivo acesso à justiça.
2.2 CASO XIMENES X BRASIL
O caso Ximenes trata-se das condições desumanas e degradantes do manicômio que resultaram na morte do paciente Damião Ximenes Lopes e a impunidade dos envolvidos. Entretanto, perante a corte houve a condenação e responsabilização do Brasil perante, o que culminou, entre outras implicações, na pauta já anteriormente debatida dobre a manutenção de manicômios brasileiros.
Com a possibilidade de amparo da proteção dos direitos humanos a nível internacional a irmã de Damião apresentou em 22 de novembro de 1999, uma denúncia na Comissão Interamericana de Direitos Humanos contra o Brasil pela violação dos direitos de seu irmão enquanto estava sob a tutela estatal. No final do ano de 1999 a Comissão enviou ao Estado a denúncia e deu-lhe o prazo de 90 dias. Diante da inércia do Estado brasileiro e preenchendo as demais premissas de admissão, a Comissão aceitou a denúncia e aprovou o relatório de admissibilidade da petição, tornado o ocorrido com Damião Ximenes uma questão internacional.
O Centro Justiça Global - uma organização não-governamental brasileira que intervém na esfera dos direitos humanos solicitou sua inclusão no processo, como co-peticionária. As partes encaminharam uma petição à Comissão solicitando o envio do caso à Corte, já que o Brasil descumpriu as recomendações estabelecidas pela Comissão. Em 30 de setembro de 2004, a Comissão, atendendo ao requerimento dos peticionários, decidiu enviar o caso de tortura e morte de Damião Ximenes Lopes à Corte Interamericana de Direitos Humanos, preenchendo um formulário com informações detalhadas sobre o caso: as partes, seus representantes legais, uma descrição dos fatos, os pedidos de reparação e as resoluções que iniciaram e puseram fim ao procedimento perante a Comissão. Este formulário foi, então submetido à Corte.
CONCLUSÃO
A Convenção Americana de Direitos Humanos, ou, Pacto de São José da Costa Rica, prevê direitos e liberdades que devem ser observados pelos estados membros, sendo a Comissão e a Corte, órgãos competentes para observância do cumprimento de acordos, compromissos dos estados membros.
Os estados membros tem obrigação de respeitar os direitos e liberdades conhecidos e acordados, usando de seu direito interno para cumprimento de tais obrigações, bem como, a comissão reconhece os direitos e liberdades: direito ao reconhecimento da personalidade jurídica; direito à vida; direito à integridade pessoal; proibição da escravidão e da servidão; direito à liberdade pessoal; princípio da legalidade e da retroatividade; direito à indenização; proteção da honra e da dignidade; liberdade de consciência e de religião; liberdade de pensamento e de expressão; direito de retificação ou resposta; direito de reunião; liberdade de associação; proteção à família; direito ao nome; direitos da criança; direito à nacionalidade; direito à propriedade privada; direito de circulação e de residência; direitos políticos; igualdade perante a lei; proteção judicial e desenvolvimento progressivo dos direitos econômicos, sociais e culturais.
Quando ocorre o descumprimento de tais acordos pactuados pelos estados que ratificaram os tratados e convenções sobre direitos humanos, deve-se recorrer a jurisdição
internacional em que pese a Corte Interamericana de Direito humanos a qual está posta para salvaguardar esses direitos.
REFERÊNCIAS
ESTATUTO DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Disponível em: <http://www.corteidh.or.cr/ estatuto.cfm> Acesso em: 15 de abril de 2017.
JUSTIÇA GLOBAL. Caso Damião Ximenes Lopes. Em decisão inédita, Corte condena Brasil por violações de direitos humanos. Disponível em: http://www.global.org.br/ portuguese/damiaoximenes.html>. Acesso em: 17 de abril de 2017.
 ADVOCACIA GERAL DA UNIÃO. Corte Interamericana de Direitos Humanos. Disponível em http://www.agu.gov.br/page/content/detail/id_conteudo/113486, acesso em: 20 abr. 2017
VALENTE, Lucas Laitano (2010). Sistema Interamericano de Proteção aos Direitos Humanos: da denúncia ao julgamento (PDF). São Leopoldo: Unisinos

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