Buscar

FICHAMENTO HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

HISTÓRIA DO PENSAMENTO FILOSÓFICO
... estudar filosofia não se trata simplesmente de entender os princípios básicos de mais uma disciplina; mas, sim, por intermédio dessas diversas interpretações do homem em sua perspectiva, tomar consciência das infinitas possibilidades de reconhecer a si mesmo e aos demais a partir de um mergulho no contexto pleno de um pensamento profundo sobre a complexidade da condição humana.
DO MITO À RAZÃO
Para tentar entender seu papel, primeiramente surgiu a Teogonia, que vem do grego theos, deus, + genea, origem, considerada como um grupo de deuses que constituíram a mitologia desses povos. Nesse sentido, os primeiros pensadores foram os pré-socráticos da Escola Jônica, dividida em Escola Jônica Antiga (Tales, Anaximandro e Anaxímenes) e Escola Jônica Nova (Heráclito, Empédocles, Anaxágoras).
Anaxágoras de Colófon foi o último dos grandes jônios e partiu para Atenas, onde foi o filósofo do século de Péricles. Ele não admitiu o dualismo dos contrários, estabelecendo uma multiplicidade de partículas semelhantes que seriam movimentadas e ordenadas por uma delas, considerada inteligente, e por isso chamada de Nous ou Logos. A partir dessa premissa, ele desenvolveu a ideia de um Deus exterior ao mundo humano. O Logos, portanto, é algo entre as outras coisas e não exatamente um Deus. Trata-se, ainda assim, de uma preocupação inteligente e atuante com a causa. A partir desse momento, encaminhava-se o assunto para a discussão da existência de um Deus concebido pela filosofia. Apesar de renegar a mitologia, Anaxágoras deu início à discussão metafísica sobre a divindade, inserida no contexto de causa.
Esse período foi chamado de Revolução Verde, pois os primeiros questionamentos surgiram como resultado da vontade de conhecer os mistérios da condição humana, bem como encontrar um meio de explicar os fenômenos naturais.
Mesmo sendo impossível responder às perguntas sobre o conhecimento de seus antepassados, o homem criou a mitologia para tentar compreender sua existência de forma racional, embora dentro da limitação, das questões primordiais. Nesse sentido, o mito apresenta características inerentes, como a religiosidade e a fantasia, sem jamais deixar de ser racional, pois se trata de uma grande atividade intelectual humana.
O NASCIMENTO DA FILOSOFIA
A primeira delas considera a filosofia oriunda da Grécia como o resultado da influência cultural dessas outras civilizações. Já a segunda, concebe a filosofia grega como um pensamento original e independente de qualquer cultura estrangeira. Atualmente, a resposta mais adequada seria a combinação de ambas as correntes, uma vez que a filosofia grega não pode ser compreendida apenas como o resultado das interferências de outros povos; mas também não ficou alheia ao contato com elas.
Foi assim que se deu a passagem da racionalidade mítica para um modo de pensar o mundo mais racional, pois o desprendimento intelectual fez com que o homem desses locais meditasse sobre a razão que está contida no mito, criando assim a filosofia baseada nessas reflexões existenciais.
Estes são os principais aspectos dos primeiros filósofos, denominados de físicos ou pré-socráticos: • resposta à pergunta: o que existe? Para a qual a resposta é: as coisas existem. • de que são feitas as coisas? 
Cada filósofo pré-socrático encontrou uma resposta diferente, na busca do elemento fundamental constitutivo de todas as coisas.
Nesse cenário histórico e cultural, nasceu Tales, na cidade de Mileto. Ele ficou conhecido como o primeiro filósofo grego, pois deixou o legado do seu pensamento, que deu início à filosofia ocidental. Aristóteles deu a Tales o mérito de ter sido o fundador da filosofia e lembrou sua doutrina de que “a água é o elemento primordial de todas as coisas e que a terra flutua sobre a água”.
Seu discípulo e sucessor, Anaximandro de Muleto, desenvolveu as doutrinas de seu mestre. Para ele, o princípio de tudo é o ilimitado (apeiron), o que dá origem a uma unidade primordial, da qual nascem todas as coisas do universo e a qual elas retornam. Portanto, deve haver um princípio anterior que possibilita compreender tudo que é limitado por meio do ilimitado, de onde surgem vários mundos, o que estabelece a multiplicidade.
Já Pitágoras nasceu no ano 570 a.C., na Ilha de Samos, próximo da cidade de Mileto. Por ser curioso e habilidoso, foi o primeiro filósofo grego a sugerir que a origem de todas as coisas, quer dizer, o ser em si, não é coisa alguma. Portanto, trata-se de algo inacessível aos sentidos humanos: os números. Para esse filósofo, a essência, em última instância, de tudo aquilo que percebemos pelos sentidos está no número, pois as coisas são números e escondem números em si, além de se distinguirem umas das outras por diferenças quantitativas e numéricas.
A difusão da cultura grega
O povo grego originou-se de outros povos que migraram para a Península Balcânica em várias fases, começando no terceiro milênio a.C. Entre eles, merecem destaque os aqueus, os jônicos, os dóricos e os eólios, todos indo-arianos provenientes da Europa Oriental.
Divisão dos períodos: 
• Pré-Homérico (1900-1100 a.C.) – anterior à formação do homem grego e da chegada cretense e fenícia. Nesse período, estavam se desenvolvendo as civilizações cretense ou minoica (Ilha de Creta) e micênica (continental). 
• Homérico (1100-700 a.C.) – tem início com a chegada de Homero, considerado um marco na história por suas obras, Odisseia e Ilíada. Essa fase deu início à ruralização e à formação de comunidades gentílicas (nas quais um ajuda o outro na produção e na colheita). Só plantavam o que seria consumido e, quando a terra não estava mais fértil, saíam em busca de novos locais. 
• Obscuro (1150-800 a.C.) – começa com chegada dos aqueus, dos dóricos, dos eólios e dos jônicos. Caracteriza-se pela formação dos génos e pela ausência da escrita. 
• Arcaico (800-500 a.C.) – destaque para a formação da pólis, para a colonização grega, para o aparecimento do alfabeto fonético, da arte e da literatura, incluindo o progresso econômico com a expansão da divisão do trabalho, do comércio, da indústria e do processo de urbanização, definindo a estrutura interna de cada cidade-estado. 
• Clássico (500-338 a.C.) – foi o período de maior esplendor da civilização grega. As duas cidades consideradas mais importantes foram Esparta e Atenas, além de Tebas, Corinto e Siracusa. Nessa fase, a história da Grécia é marcada por uma série de conflitos externos (Guerras Médicas) e interno (Guerra do Peloponeso).
• Helenístico (338-146 a.C.) – período de crise da pólis grega. Com a invasão macedônica, a expansão militar e cultural helenística, a civilização grega se difunde pelo Mediterrâneo e se mescla com outras culturas.
O helenismo é um termo usado para demarcar o período histórico e cultural durante o qual a civilização grega se difundiu no mundo mediterrânico, no euro-asiático e no Oriente, misturando-se com a cultura local. Da união da cultura grega com as culturas da Ásia Menor, da Eurásia, da Ásia Central, da Síria, da África do Norte, da Fenícia, da Mesopotâmia, da Índia e do Irã, surgiu a civilização helenística, que obteve grande destaque do ponto de vista artístico, filosófico, religioso, econômico e científico. O helenismo se difundiu do Atlântico até o Rio Indo. Cronologicamente, desenvolveu-se da morte de Alexandre, o Grande, da Macedônia (323 a.C.) até 147 a.C., com a anexação da península grega e de ilhas por Roma.
É interessante observar que boa parte do que os gregos criaram não era original, uma vez que herdaram muitos elementos das culturas dos cretenses e do Oriente Médio. Mesmo assim, conseguiram expressar na arte uma preocupação ímpar com a condição humana acima de todas as outras criações da natureza. Devemos aos gregos a criação de quase todos os gêneros literários, de diferentes formas de expressão por meio da escrita. Já o teatro surgiu nas festas que se realizavam anualmente para homenagear Dionísio, o deus do vinho. 
No que se refere à comédia, podemos afirmar
que ela colaborou para a educação popular, porque satirizava os defeitos dos representantes do poder público. Os gregos foram também os primeiros a se preocupar com a história, e Heródoto, o primeiro historiador, foi chamado de “pai da história”. Graças a ele, temos relatos de como era a vida grega durante o século V a.C. Os gregos se dedicaram ainda ao estudo das causas da saúde e das doenças, impulsionando o estudo da medicina. Hipócrates foi considerado o “pai da medicina”. Mas o grande legado dessa civilização foi ter dado origem à filosofia.
Portanto, a civilização helenística foi a difusão da cultura grega no Oriente em conjunto com a assimilação de costumes orientais no Mediterrâneo. Ao se misturar com as culturas do Oriente, a arte grega passou a ser universal e se transformou no berço do Ocidente. 
OS PRIMEIROS FILÓSOFOS
O nascimento do pensamento filosófico se deu na cidade de Mileto, com o primeiro filósofo, Tales de Mileto, concebido como uma cosmologia, ou seja, buscava o conhecimento racional da ordem do mundo entendido como natureza.
Até mesmo sua teoria sobre a ordem do mundo, coordenada por opostos, encontra parâmetros com os princípios atuais da dialética. Também o equilíbrio pela relação entre os opostos possui uma equivalente no pensamento oriental nos princípios do Tao, que ainda hoje fundamenta a medicina tradicional oriental. Entre as principais características da cosmologia, está uma explicação racional e sistemática sobre a origem, a ordem e a transformação da natureza, da qual o homem faz parte, pois humanos e natureza, pela sua identidade, são explicados filosoficamente. Essa natureza é eterna e tudo se transforma em outra coisa sem jamais desaparecer. No entanto, não é possível afirmar que o mundo tenha vindo de algo, uma vez que se apresenta eternamente. Esse fundo de eternidade passa então a ser o elemento primordial da natureza e chama-se physis, sendo visível apenas ao pensamento e não aos nossos sentidos. Mesmo que physis seja imortal, é dele que vêm todos os seres mais variados e diferentes do mundo, que, ao contrário do seu princípio gerador, são mortais.
Outro princípio comum aos filósofos desse período é que todos os seres vivos, além de serem gerados e mortais, encontram-se em transformação constante, mudando em todos os sentidos; mas sem por isso perder sua forma e sua estabilidade. Esse processo todo é percebido como movimento, sendo denominado de devir, ou seja, a passagem contínua de uma coisa ao seu estado contrário não é caótica; mas obedece a leis determinadas pela physis ou pelo princípio fundamental do mundo. Os filósofos escolheram diferentes physis em seus modelos, isto é, cada um encontrou justificativas para alegar qual era o princípio eterno e imutável que está na origem da natureza e de suas transformações. Tales, por exemplo, dizia que o princípio era a água ou o úmido; já Anaximandro tomava o ilimitado sem qualidades definidas. Para Anaxímenes, era o ar ou o frio e Heráclito considerou o fogo. Já Leucipo e Demócrito acreditaram que eram os átomos.
Os primeiros filósofos gregos preocupavam-se apenas com o mundo exterior, em detrimento dos aspectos psicológicos e éticos dos problemas humanos. Até o surgimento de Sócrates, a filosofia grega não possuía um centro comum, sendo desenvolvida em diversas regiões, que dão origem ao termo “as quatro escolas”: Jônica em Mileto, Pitagórica ou Itálica, Eleática na Elea e Abderítica ou Atomística na Abdera.
Ainda nesse contexto, vale destacar que o tema central dos pré-socráticos, herança dos antigos mitos cosmológicos, foi o problema do mundo que os assombrava, em especial o movimento, compreendido a partir de um sentido amplo equivalente à mudança ou à variação.
Divisão da filosofia antiga: 
• Primeiro período: estende-se desde o século VII até o ano de 450 a.C., de Tales até Sócrates. Período de formação ou juventude, já que é nele que se estuda principalmente a natureza, e passa a se chamar Cosmológico. 
• Segundo período: estende-se desde 450 a.C. até o século III d.C., desde Sócrates até o ecletismo. Destaca-se pela perfeição ou pela virilidade da antiga filosofia. Como seu objetivo predominante é o homem, esse período recebe o nome de Antropológico. 
• Terceiro período: estende-se desde o século I até o século VI d.C. e, durante três séculos, coincide com o período antropológico. Traz a decadência da filosofia grega, e seu objetivo principal é Deus ou a união teosófica com Deus. Por isso, denomina-se período Teosófico.
Heráclito de Éfeso (mobilismo) e Parmênides (imobilismo)
Para Heráclito, tudo aquilo que vemos nunca mais será igual ao que era no momento anterior e que, no instante seguinte, já não será mais o que foi antes. Com isso, ele afirmou que as coisas se transformam permanentemente e que, quando se quer fixar algo e revelar sua essência, já não se trata mais da mesma coisa, pois tudo parte da realidade que flui. É de autoria dele a frase: “Nunca nos banhamos duas vezes no mesmo rio”.
Assim, não existe um ser estático, mas sim dinâmico, que pode ser capturado num determinado momento para que se diga como era naquele instante. Sendo assim, a essência dessa reflexão filosófica consiste em determinar que nada existe, já que tudo existe num instante e no momento seguinte deixa de existir, porque já sofreu um processo de transformação. Dessa maneira, a existência define-se como uma eterna mutação e como um estado de mudança perene em que estão incluídas todas as coisas de forma infinita.
O pensamento de Parmênides pode ser melhor compreendido por meio da sua inquietação diante da solução proposta por Heráclito de que todas as coisas são e não são ao mesmo tempo, uma vez que permanecem em constante mutação. Ele acreditava ser isso impossível, porque uma coisa é ou não é. Por isso, raciocinava no sentido de afirmar que as coisas possuem um ser e este ser é. Com essa postura reflexiva, Parmênides chegou ao princípio lógico que os filósofos atuais denominam de “princípio da identidade”. Por meio dele, é possível afirmar que o ser é único, pois não pode haver mais de um para cada coisa. Pode-se afirmar ainda que o ser é eterno, pois se ele tivesse um princípio, antes dele, haveria o não ser, o que não é possível, porque o não ser inexiste. Caso existisse, ele também seria um ser, o que, por si só, seria um erro, já que apenas o ser pode existir. 
O filósofo observou também que o ser é imutável, uma vez que a mutabilidade resulta no não ser, o que é inadmissível para Parmênides. Assim sendo, o ser é infinito, porque a finitude pressupõe o não ser. Por último, ele declarou a imobilidade do ser, pois a mobilidade significaria a aceitação do não ser heraclitiano, o que é insustentável para Parmênides.
CARACTERÍSTICAS DO PENSAR FILOSÓFICO
Afinal, como pode ser definida a filosofia? Considerando o aspecto etimológico, a palavra filosofia vem do grego philia, amizade, amor fraterno, mais sophia, sabedoria, conhecimento. Dessa forma, temse a definição clássica de filosofia como busca amorosa pela sabedoria, amizade ao saber. Segundo a tradição, foi Pitágoras de Samos que cunhou a palavra filosofia. Para ele, a sabedoria era atributo dos deuses e não dos seres humanos, mas estes poderiam desejá-la, buscar amorosamente a sabedoria transformando-se em filósofos (CHAUI, 1997). 
O que mobiliza o ser humano a filosofar? Segundo Platão e Aristóteles, o thaumázein, o admirar-se, o espantar-se em relação a certos fenômenos permite que os seres humanos filosofem, ou seja, passem a buscar explicações racionais para a compreensão dos dados observados ou pensados. Saviani (2000) recoloca a pergunta sobre a origem do filosofar e defende a tese de que a mola propulsora para o filosofar encontra-se nos problemas: “Eis pois, o objeto da filosofia, aquilo de que trata a filosofia, aquilo que leva o homem a filosofar: são os problemas que o homem enfrenta no transcurso da sua existência”.
Segundo ele, a essência do problema encontra-se na necessidade. O ser humano, ao produzir continuamente sua própria
existência, enfrenta o iniludível: problemas configurados como necessidades que não podem ser ignorados, pois a resolução desses problemas é de vital importância para a existência humana.
Aos problemas, segundo Saviani (2000), a Filosofia responde com reflexão. E qual o significado do conceito reflexão? A reflexão “[...] vem do verbo latino ‘reflectere’ que significa ‘voltar atrás’. É, pois, um repensar, ou seja, um pensamento em segundo grau” (SAVIANI, 2000, p. 16). A reflexão é uma análise consciente daquilo que se apresenta como problema. Assim, se pensar é uma atividade colocada em prática espontaneamente, o mesmo não se pode dizer do refletir, porque “[...] se toda reflexão é pensamento, nem todo pensamento é reflexão” (SAVIANI, 2000, p. 16). A reflexão implica em uma atitude consciente de examinar detidamente as questões vitais da existência humana.
... Saviani (2000) argumenta que a reflexão filosófica não é uma reflexão qualquer... Ele resume essas exigências a três âmbitos: [...] “a radicalidade, o rigor e a globalidade.
UNIDADE II – A FILOSOFIA NO PERÍODO CLÁSSICO GREGO
SÓCRATES
Considerado pelos homens do tempo como o mais sábio e inteligente, Sócrates demonstrava em sua forma de pensar a necessidade de levar o conhecimento para os cidadãos gregos da época pelo diálogo como forma de transmissão de sabedoria. (...) Adquiriu sabedoria principalmente por intermédio da reflexão pessoal, na moldura da alta cultura ateniense da época, em contato com o que havia de mais ilustre na época.
Seus pensamentos e suas ideias atravessaram os séculos pelas obras de seus discípulos mais importantes: Platão, Xenofontes e Aristóteles, porque ele mesmo nada deixou por escrito. Por defender ideias contrárias à sociedade instaurada na Grécia, Sócrates não foi bem aceito por grande parte da aristocracia grega, uma vez que a tônica do seu discurso criticava diversos aspectos da cultura grega, ressaltando que muitas tradições, crenças religiosas e costumes não colaboravam para o desenvolvimento intelectual dos cidadãos.
No entanto, por temer mudanças na sociedade, a elite conservadora de Atenas viu em Sócrates um inimigo público, além de um agitador da ordem pública. Por isso, ele foi preso, acusado de subversão, de corromper a juventude e também de provocar mudanças na religião grega. Sua condenação foi o suicídio por envenenamento, dentro da cela, em 399 a.C.
... colocava o belo entre as maiores virtudes, juntamente com a bondade e a justiça.
De acordo com os registros, aprendeu a profissão de oleiro com o pai e aparece na obra de Xenofonte declarando que se dedicava àquilo que ele considerava a arte ou a ocupação mais importante de todas: maiêutica, ou seja, o nascimento das ideias.
Sócrates acreditava na imortalidade da alma e que teria recebido, em um dado momento da sua vida, uma missão especial do deus Apolo, que pode ser traduzida na defesa do logos apolíneo “conhece-te a ti mesmo”. Ele também tinha dúvidas sobre a possibilidade de a arete (virtude) ser ensinada, considerando que a moral é uma questão de inspiração e não de parentesco, uma vez que pais moralmente perfeitos não tinham filhos semelhantes a eles.
O fundador do pensamento ocidental também acreditava que a maneira mais apropriada para as pessoas viverem era se concentrando no próprio desenvolvimento intelectual, ao invés de buscar a riqueza material. Segundo seus discípulos, ele acreditava que as ideias faziam parte de um mundo que somente os sábios conseguiam entender, fazendo com que o filósofo se tornasse o governante ideal para um Estado. Ao se opor declaradamente à democracia aristocrática praticada em Atenas durante a sua época, ele afirmava que a república perfeita deveria ser governada apenas por filósofos.
Os ideais libertários contidos nos discursos proferidos por Sócrates, assim como o rigor do seu caráter e da sua postura crítica, acabaram gerando um mal-estar geral, além da rejeição popular, fazendo com que ele contraísse inimigos pessoais.
Apesar de gerar polêmica, Sócrates restabeleceu a possibilidade do saber ao determinar o objeto real da ciência, que não é o sensível e o particular, como pensavam os sofistas. De maneira contrária, ele acreditava no inteligível, um conceito que se expressa pela própria definição, sendo obtido por intermédio de um processo dialético chamado de indução, que pode ser descrito pela comparação de vários seres da mesma espécie, visando eliminar as diferenças individuais, bem como as qualidades mutáveis, para atingir aquilo que existe de comum, estável e permanente na natureza e na essência da coisa em si. Trata-se, portanto, de uma forma de generalização que parte do indivíduo à concepção universal da natureza humana.
A introspecção sempre foi uma característica marcante da filosofia de Sócrates, que se revela no famoso lema “conhece-te a ti mesmo”, ou seja, que nos leva a entrar em contato com a nossa própria ignorância.
O conhecimento perfeito do ser humano coloca-se como objetivo maior de todas as suas reflexões, assim como a moral está posicionada no centro de tudo, para o qual convergem todas as vertentes filosóficas. No campo da psicologia, Sócrates deixou sua contribuição ao pensar sobre a espiritualidade e a imortalidade da alma, destacando a diferença entre as duas ordens de conhecimento, o sensitivo e o intelectual, sem definir a capacidade de escolha, mas relacionando a vontade com a inteligência.
Pela moral socrática, a lei natural pressupõe um ser superior ao homem, um legislador, que a sancionou. Portanto, Deus não só existe, como também é Providência, uma vez que governa o mundo com sabedoria, e o homem pode atingi-lo por meio de sacrifícios e com orações. (...) a moral constitui a parte crucial da filosofia socrática, pois ensina a pensar para viver bem, mostrando que a única forma de alcançar a felicidade ou a semelhança com Deus está na prática da virtude, que pode ser adquirida com a sabedoria ou com a identificação com ela.
Sócrates reconhece ainda, acima de todas as leis criadas, a existência de uma lei natural que não depende do conhecimento humano, uma vez que é universal e se estabelece como fonte primordial de todo direito como expressão da vontade divina ditada pela voz interior da consciência.
A filosofia socrática, portanto, está restrita à gnosiologia e à ética. A gnosiologia de Sócrates, que se concretizava na sua doutrina dialógica, resume-se em seis aspectos fundamentais: a ironia, a maiêutica, a introspecção, a ignorância, a indução e a definição.
Para Sócrates, a forma lógica para chegar ao conhecimento científico de fato consiste na indução, quer dizer, no percurso do que é particular até o universal, do foco opinativo à ciência, do experimento ao conceito, leva à definição, para demonstrar o ideal e a reflexão final do processo gnosiológico socrático sobre a essência da realidade. Ele também é considerado o fundador da ciência, em especial da ciência moral, defendendo a doutrina de que ética é sinônimo de racionalidade.
Mesmo diferentes entre si, todas essas correntes possuem em comum a crença de que o bem maior do ser humano está na sabedoria. A escola socrática mais expressiva é a platônica e seguiu a evolução lógica do objeto central do pensamento socrático, que é o conceito, assim como com o aspecto fundamental do pensamento antecessor, tendo seu auge em Aristóteles, discípulo de Platão, como o grande desfecho da metafísica grega.
PLATÃO – O PENSADOR DAS IDEIAS
Platão nasceu em Atenas em 427 a.C., durante da Guerra do Peloponeso, no tempo da revolução oligárquica e aristocrática que tirou os democratas do poder em Atenas, impondo o Conselho dos 400. Nesse período, a Liga do Peloponeso, liderada por Esparta, derrotou a Liga da Hélade, liderada por Atenas, dando início ao governo dos Trinta Tiranos. No entanto, sua vida transcorreu entre a fase áurea da democracia ateniense e o final do período helênico, o que confere ao seu legado filosófico a tônica da liberdade e da expressão política. Ele fundou a Academia e foi mestre de Aristóteles.
Aos 20 anos de idade, conheceu Sócrates, de quem foi discípulo.
O interesse de Platão pelos assuntos políticos decorreu das condições em que vivia na Grécia Antiga, onde a vida cultural foi se desenvolvendo muito vinculada aos acontecimentos da cidade-estado, a pólis, e em torno da organização política, constituída por várias cidades-estados que mantinham suas tradições e sua religiosidade.
Grosso modo, Platão criou a noção de que o homem está em contato permanente com duas realidades: a inteligível e a sensível, sendo a primeira concreta e imutável. Já a segunda, refere-se a todas as coisas que afetam os sentidos do homem. São, portanto, realidades dependentes, mutáveis e imagens das realidades inteligíveis. Essa concepção platônica de mundo também é conhecida por Teoria das Ideias ou Teoria das Formas, tendo sido elaborada como hipótese no diálogo Fédon, constituindo assim uma forma de assegurar a possibilidade do conhecimento, além de oferecer uma inteligibilidade relativa aos fenômenos. Na visão platônica de mundo, aquilo que é captado pelos sentidos humanos significa apenas uma cópia simplificada do mundo das ideias. Assim, tudo o que existe de forma concreta faz parte, junto com todos os outros objetos semelhantes, de uma ideia perfeita. Por exemplo, uma faca terá características próprias, como cor, forma, tamanho, entre outras. Já outra terá outros atributos, sem deixar de ser faca, tanto quanto a outra. O que faz com que ambas sejam facas consiste na ideia perfeita que se tem desse objeto, sendo capaz de conter todas as possibilidades de ser aquilo que é.
Assim sendo, uma das bases para a investigação sobre as ideias consiste em saber que não estamos completamente ignorantes sobre elas. Isso se torna necessário para que tenhamos em nossa alma um tipo de conhecimento ou de recordação do contato original com o mundo ideal antes do nosso nascimento, para que possamos nos lembrar delas sendo reproduzidas no mundo concreto. Isso faz com que toda a ciência platônica seja uma forma de reminiscência, pois a investigação das ideias supõe que as almas preexistiram em uma região divina onde as contemplavam.
Platão acreditava que o filósofo deveria buscar a verdade plena, que poderia ser encontrada apenas em uma instância superior, uma vez que a verdade é invariável, e, se existe uma verdade essencial para a humanidade, ela deve valer para todos. (...) Em Platão, essa busca racional possui caráter contemplativo, o que significa buscar a verdade no interior do próprio homem como um participante das verdades essenciais do ser.
Nesse aspecto, também o conhecimento tinha fins morais, com o intuito de levar o homem à bondade e à felicidade, o que faz do conhecimento uma forma de reconhecimento capaz de fazer com que haja um reencontro com as verdades que sempre soubemos existir, permitindo com isso diferenciar as aparências de verdades e as verdades. Sendo assim, a obtenção do autoconhecimento apresentava-se como um caminho árduo a ser seguido de maneira meticulosa.
De acordo com ele, existiam três tipos de virtude na alma humana – a sabedoria, que deveria ser o governo, a coragem, que deveria equivaler à força dos soldados, e a temperança, que estaria relacionada ao baixo-ventre do Estado, ou seja, aos trabalhadores, uma vez que a alma desses indivíduos é guiada pelos sentidos. 
Na visão platônica, o homem divide-se entre corpo, matéria e alma – o imaterial e o divino. O corpo vive em processo contínuo de mudança de aparência, mas a alma não muda nunca. A partir do momento em que nascemos, apesar da alma perfeita, estamos aprisionados ao corpo e nos esquecemos das verdades essenciais escritas eternamente na alma. Para Platão, a alma está dividida em três partes: Racional: cabeça – tem que controlar as outras duas partes, e sua virtude está na sabedoria ou na prudência (phrónesis); Irrascível: tórax – parte da impetuosidade, dos sentimentos. A virtude está na coragem (andreía); e Concupiscente: relativa ao baixo-ventre, incluindo o apetite e o desejo carnal ligado à libido.
Vale destacar que, para Platão, depois da morte, a alma reencarnava em outro corpo; mas se ocupava com a filosofia, graças ao desapego material, estando a ela concedido o prazer de passar a eternidade ao lado dos deuses. Assim, somente por meio da relação de sua alma com a Alma do Mundo o ser humano pode acessar o mundo das ideias. A ação do homem pode atingir somente o mundo material, pois, no mundo das ideias, ele não pode transformar nada, uma vez que já existe a perfeição.
Trata-se do filósofo político, capaz de fazer da sua sabedoria um instrumento de libertação de consciências e de justiça social. Sendo assim, o conhecimento no platonismo se constrói como uma articulação entre o intelecto e a emoção, entre razão e vontade, como resultado da inteligência e do sentimento de amor.
ARISTÓTELES – O ORGANIZADOR DO MUNDO
Considerado o pensador mais influente da filosofia ocidental, Aristóteles nasceu em Estagira, na Calcídica, em 384 a.C. Por ser filho de Nicômaco, amigo e médico pessoal do rei macedônio Amintas II, pai de Filipe II da Macedônia, é possível compreender seu interesse pela biologia e pela fisiologia, em decorrência da atuação profissional exercida pelo pai e pelo tio. Ainda na adolescência, Aristóteles foi morar em Atenas, maior reduto de intelectuais e artistas da Grécia, para dar prosseguimento aos estudos. Das duas grandes instituições da preferência dos jovens da época, a escola de Isócrates e a Academia de Platão, optou pela segunda e nela permaneceu por vinte anos, até 347 a.C., ano da morte do seu mestre.
Diferentemente da Academia de Platão, o Liceu dava preferência às ciências naturais, que estudavam exemplares da fauna e da flora das regiões conquistadas. Os estudos abrangiam as áreas do conhecimento clássico da época, como a filosofia, procurando estabelecer as bases dessas disciplinas e também a metodologia científica do estudo. Aristóteles foi diretor da escola até 324 a.C., depois da morte de Alexandre. Com temor da postura antimacedônia dos atenienses, que o ameaçaram, ele deixou a cidade, afirmando que os gregos estavam cometendo outro crime contra a filosofia, depois do julgamento e da morte de Sócrates
Como aluno de Platão, Aristóteles discordava de uma parte fundamental da filosofia do seu mestre. Enquanto Platão concebia dois mundos existentes, um apreendido pelos sentidos humanos, em constante mutação, e o outro concebido como sendo das ideias, acessível somente pelo pensamento intelectual, imutável e atemporal, Aristóteles contemplava apenas a existência do mundo em que vivemos, alegando que aquilo que estava além da experiência humana não poderia significar nada para o homem. Na visão aristotélica, a lógica funciona como um elemento introdutório para o conhecimento, tendo como base uma estrutura de raciocínio formal que compreende pressupostos criados previamente, para que se possa chegar a uma conclusão. Como a dedução parte do universal para o particular e a indução, pelo contrário, do particular para o universal, se forem verdadeiras as premissas, a conclusão, logicamente, também deverá ser.
Essa seria a alma, que faz com que a flora cresça e a fauna se reproduza. Para o homem, além de a alma apresentar atributos vegetativos e sensitivos, ela tem também a inteligência, que reúne condições de captar a essência de tudo, independentemente da condição orgânica. O filósofo também acreditava que a mulher era um ser incompleto e passivo, enquanto o homem seria o ser em ação.
Aristóteles foi o verdadeiro fundador da zoologia, dentro do campo de estudo da biologia, ao estabelecer a primeira divisão do reino animal.
Nesse sentido, o conceito de metafísica em Aristóteles apresenta-se de forma extremamente complexa, com quatro definições possíveis, ou seja, a ciência que busca por causas e princípios, que busca o ser enquanto ser, a que apura a substância e aquilo que está além dos sentidos. É importante destacar que a teoria aristotélica sobre as causas abrange toda a natureza. Além disso,
o filósofo distingue a essência do acidente em alguma coisa. A definição de essência seria algo responsável pela identificação de um ser, sem a qual se torna impossível reconhecê-lo como ele mesmo. Já o acidente é algo que pode ser parte estrutural ou não do ser, mas que não o descaracteriza por sua falta.
O seu objetivo último (DA ÉTICA), portanto, consiste na garantia ou na possibilidade de conquista da felicidade. Tomando como princípio as disposições naturais do homem, a função da moral consiste em demonstrar como elas necessitam ser mudadas para se adaptar à razão. Ainda na visão dele, as virtudes se realizam sempre na esfera do homem e perdem sentido quando as relações humanas deixam de existir.
Já a virtude, seja ela especulativa ou intelectual, diferencia-se porque faz parte de um universo filosófico limitado que, excluindo a vida moral, busca o conhecimento pelo conhecimento. Dessa maneira, na filosofia aristotélica, a prática da contemplação volta o homem para Deus, sendo a política uma consequência natural da ética. Para ele, ambas compõem a unidade denominada filosofia prática. Nesse sentido, se a ética está preocupada com a felicidade individual do homem, a política se ocupa em investigar as formas de governo e as instituições capazes de assegurar a felicidade coletiva na constituição do estado.
A FILOSOFIA NA IDADE MÉDIA
A filosofia da Idade Média pode ser considerada como o pensamento filosófico ocidental que preencheu o espaço entre o fim do mundo antigo, determinado pela queda do Império Romano do Ocidente (476), e pelo começo dos tempos modernos, que têm seu início a partir da conquista de Constantinopla (1453) ou do princípio da Reforma Religiosa em 1517. A essa filosofia medieval costuma-se dar o nome de filosofia escolástica, que começou mesmo no século IX. Por isso, vamos dividir a filosofia da Idade Média em dois grandes períodos – a filosofia patrística e a filosofia escolástica.
Se formos traçar um perfil da filosofia medieval pelo seu conteúdo, naquilo que corresponde à sua essência espiritual, podemos conceituá-la como o pensamento filosófico ocidental que vem desde Santo Agostinho e de Anselmo de Cantuária, obedecendo ao mote: “saber para crer, crer para poder saber”. Durante esse período, a filosofia, que tem por objetivo tratar dos grandes problemas do mundo, do homem e de Deus só com as forças da razão, alia-se com a fé religiosa no pressuposto de uma unidade ideológica. Enquanto na era moderna indaga-se a respeito da possibilidade da ordem e da lei, na época medieval a ordem estabelece-se como algo evidente, sendo nossa a tarefa de reconhecê-la.
Surge, porém, a indagação se ainda se trata de pura filosofia, quando o conhecimento não é dominante, sendo guiado pela religião. Claro, pois como tudo já estava pronto e se repetia com frequência, a filosofia não teria que solucionar qualquer tipo de problema, pois eles já estariam resolvidos no campo da fé. Nesse sentido, é com base na fé que o filósofo deve pensar, e o pensamento filosófico deve servir ao patrimônio da crença, aplicando-lhe a análise e a síntese pela ciência. Em resumo, trata-se de uma filosofia comprometida com juízos de valor preconcebidos, o que deixa um rastro de dúvida quanto à existência de uma filosofia de fato na Idade Média.
Possui ainda a Idade Média algum significado do ponto de vista filosófico? Com certeza, pois ela conservou os antigos pressupostos teóricos, incluindo não apenas a ciência e a arte da antiguidade, mas também garantiu nas suas escolas a continuidade do saber filosófico. Nesse aspecto, temas tão fundamentais relativos à causalidade, à realidade, à finalidade, à universalidade, à individualidade, à sensibilidade e ao mundo fenomenal, à compreensão e à razão, à alma e ao espírito, ao mundo e a Deus foram transmitidos aos filósofos modernos pela Idade Média.
A PATRÍSTICA
A filosofia cristã dos primeiros sete séculos foi denominada de patrística, por ter sido elaborada pelos padres da Igreja, considerados como os primeiros teóricos. Ela consiste no conjunto de doutrina das verdades da fé cristã e na sua defesa contra os “pagãos” e os hereges. Esse conjunto foi responsável pela defesa da fé e da criação dos costumes que decidiram os rumos da Igreja no decorrer dos sete primeiros séculos do cristianismo. A patrística também se ocupou da elucidação progressiva dos dogmas cristãos e daquilo que chamamos de Tradição Católica. Quando o ocidentalismo, para defender-se de ataques de outros povos, religiões e culturas, precisou esclarecer seus próprios dogmatismos, a pratística mostrou-se como a expressão acabada da verdade que a filosofia grega havia buscado, enquanto o próprio Deus não havia ainda encarnado.
Costuma-se dizer que os filósofos convertidos ao cristianismo buscaram conferir à doutrina cristã um status filosófico, mas sem o cuidado de salientar as fontes filosóficas. Entre os autores que se ocuparam dessa tarefa, estão Justino, Tertuliano, Clemente de Alexandria, Orígenes, Gregório de Nazianzo, Basílio de Cesareia e Gregório de Nissa.
A FILOSOFIA DE AGOSTINHO
Enquanto Agostinho buscou inspiração na filosofia platônica, Tomás de Aquino preferiu os pensamentos de Aristóteles para elaborar a filosofia metafísica cristã. Por ser muito sensível e compreensivo, Agostinho revelou ter em si a mesma essência da patrística grega, com o caráter pragmático da patrística latina, mesmo que os problemas que o preocupassem fossem sempre de natureza prática e moral, como o mal, a liberdade e o destino. 
Nascido em Tagasta, na Numídia, em 354, Agostinho pertencia a uma família burguesa comandada pelo pai, que era pagão, tendo sido batizado somente antes de morrer. No entanto, a mãe era uma cristã fervorosa que influenciou muito o filho nesse aspecto. Ele foi para Cartago para aperfeiçoar seus estudos e, ao terminá-los, abriu uma escola lá mesmo. Em seguida, partiu para Roma e depois para Milão. Ele deixou de ensinar aos 32 anos, por motivo de saúde e de natureza espiritual.
De acordo com Agostinho, a filosofia poderia resolver o problema da vida, a qual apenas o cristianismo poderia dar uma solução real. Nesse sentido, seu grande interesse estava relacionado aos problemas de Deus e da alma, por serem os mais importantes. No início, ele garantiu a certeza da própria existência espiritual, de onde tirou uma verdade superior e imutável como condição e origem de toda verdade individual. Mesmo ao desvalorizar o conhecimento sensível em relação ao conhecimento intelectual, alegava que os sentidos e o intelecto consistem nas fontes de conhecimento. Como para ver algo com os olhos humanos, é necessária a luz física, da mesma forma, para o conhecimento intelectual, seria preciso uma luz espiritual que vem de Deus, sendo esta a Verdade e o Verbo divino, para onde são levadas as ideias do pensamento platônico.
Com relação à natureza de Deus, Agostinho demonstrou uma noção exata, ortodoxa e cristã, definindo-o como um poder racional infinito, eterno, imutável, simples, espírito, pessoa, consciência. Para ele, Deus é ainda ser, saber e amor, e, no tocante às relações mundanas, Deus é concebido como criador. Vale lembrar que o pensamento clássico grego concebia uma dualidade metafísica. Já no pensamento cristão agostiniano, esse dualismo persiste, mas agora incorporando a moral e os pecados dos espíritos que se erguem contra Deus, preferindo o mundo a Ele. Portanto, no cristianismo, o mal estaria, do ponto de vista metafísico, na negação e na privação.
Ainda é possível afirmar que a psicologia de Agostinho encontrou ressonância no seu platonismo cristão. Nesse sentido, o corpo não é mau por natureza, uma vez que a matéria não pode ser essencialmente má, por ter sido criada por Deus. No entanto, a união do corpo com a alma é acidental, pois alma e corpo não formam a unidade metafísica, substancial, da doutrina da forma e da matéria. Entretanto, demonstrou indecisão entre o criacionismo e o traducionismo, ou seja, se a alma é criada diretamente por Deus ou provém da alma dos pais. A única
certeza é que ela é imortal pela sua simplicidade. Agostinho a classificou platonicamente em vegetativa, sensitiva e intelectiva; mas destacou que estão todas forjadas na substância humana. Dessa forma, a inteligência é divina em intelecto intuitivo, a razão consiste em fruto da vontade. Enquanto no homem a vontade é amor, no animal funciona como instinto, e nos seres inferiores está representada pelo apetite.
Sem sombra de dúvida, a moral agostiniana é cristã e transcendente. A característica mais importante da sua moral está no voluntarismo, na ação própria do pensamento latino, de forma oposta ao pensamento grego. Dessa forma, a vontade não é determinada pelo intelecto, pois vem antes dele. Para a filosofia agostiniana, como a vontade é livre, pode querer o mal; pois se trata de um ser limitado, capaz de ir ao encontro da vontade de Deus.
No que se refere ao “mal moral”, existe de fato a má vontade que provoca livremente o mal; porém, ela não é causa eficiente, mas deficiente, sendo o mal não ser, que pode vir do homem livre e limitado e não de Deus, que é puro ser e cria apenas o ser. Como o mal moral chegou ao mundo humano pelo pecado original e atual, a humanidade foi castigada com todo tipo de sofrimento, incluindo a perda dos dons divinos.
A ESCOLÁSTICA
Esse modo de pensar essencialmente cristão buscava respostas que justificassem a fé na doutrina ensinada pelo clero, considerado como o guardião das verdades espirituais. Essa escola filosófica prevaleceu do princípio do século IX até o final do século XVI, época que representou o declínio da era medieval, sendo a escolástica o resultado de estudos mais profundos da arte dialética, assim como a radicalização dessa prática. No início, ela foi disseminada nas catedrais e nos monastérios para depois chegar às universidades.
Com isso, a filosofia da antiguidade clássica adquiriu características judaico-cristãs, já esboçadas a partir do século V, com a necessidade urgente de fazer um mergulho profundo em uma cultura espiritual que estava se desenvolvendo rapidamente, para assimilar a esses princípios religiosos uma essência filosófica capaz de introduzir o cristianismo no campo da filosofia. A partir dessas tentativas de racionalização do pensamento cristão, surgiram os dogmas católicos, que se infiltraram na mentalidade clássica dos conceitos gregos, como ‘providência’, ‘revelação divina’, ‘criação proveniente do nada’, entre tantos outros.
No período medieval, enquanto Agostinho buscou sua inspiração na filosofia platônica, Tomás de Aquino preferiu os pensamentos de Aristóteles para elaborar a filosofia metafísica cristã.
Mesmo quando Aristóteles é contemplado no pensamento cristão por Tomás de Aquino, o neoplatonismo adotado pela Igreja ainda é preservado, fazendo com que a escolástica seja permanentemente atravessada por dois universos distintos, o da fé herdada da mentalidade platônica e a razão aristotélica. No caso de Agostinho, havia o clamor pelo predomínio da fé em detrimento da razão, ao passo que, em Tomás de Aquino, se acreditava na independência da esfera racional na busca de respostas mais apropriadas, embora não houvesse rejeição à primazia da fé sobre a razão.
Vale ressaltar que a escolástica foi nitidamente influenciada pela Bíblia Sagrada, pelos filósofos da antiguidade e também pelos padres da Igreja, escritores do primeiro período do cristianismo oficial, que dominavam a fé e a santidade. Ela ainda pode ser considerada como o último período do pensamento cristão, que se estende desde o começo do século IX até o final do século XVI, abrangendo da constituição do Império Romano até o final da Idade Média. Portanto, a escolástica era a filosofia ensinada nas escolas dessa época pelos professores chamados de escolásticos. As disciplinas ensinadas nas escolas medievais dividiam-se entre gramática, retórica, dialética, aritmética, geometria, astronomia e música. A escolástica veio a partir do desenvolvimento da dialética.
O PENSAMENTO DE TOMÁS DE AQUINO
Podemos afirmar que o tomismo ou a doutrina escolástica de Tomás de Aquino, adotada oficialmente pela Igreja Católica, caracteriza-se, principalmente, pela tentativa de conciliar a filosofia de Aristóteles com o cristianismo, desfazendo-se das doutrinas que não estavam enquadradas de acordo com os princípios aristotélicos.
Como a expressão máxima do apogeu do mundo medieval, contemporânea dos castelos e das catedrais, o tomismo consiste em um manancial de ideias, em que a teologia do século XIII encontrou sua forma mais coerente e sólida de formulação. Contudo, o tomismo não foi totalmente aceito pelos escolásticos medievais, e apenas na segunda metade do século XVI foi adotado como arma de defesa e ataque da Contrarreforma da Igreja Católica. 
Coube a Tomás de Aquino a tarefa de mostrar a solução definitiva para o conflito existente nas relações entre a razão e a fé. Estamos falando de duas ciências, a filosofia e a teologia, sendo que a primeira baseia-se no exercício da razão humana, enquanto a segunda, na revelação divina. Apesar de serem independentes, apresentam, por vezes, os objetos de estudo comuns, como a existência de Deus, a essência da alma, entre outros. Por esse motivo, a distinção entre essas ciências tem origem mais do objeto formal, pois a teologia estuda o dogma pelo método da autoridade ou da revelação, e a filosofia o analisa pela demonstração científica ou pela razão. Portanto, teologia e filosofia não são ciências contraditórias, pois ambas procuram a verdade, e esta é uma só. Na hipótese de uma contradição entre a razão e a revelação, o erro não será jamais da teologia, mas sim da filosofia, pois nossas limitações do ponto de vista do conhecimento racional desviaram-se e não conseguiram atingir a verdade.
Para Tomás de Aquino, nada está na inteligência que não tenha estado antes nos sentidos, motivo pelo qual não podemos ter de Deus, de pronto, uma noção imediata. Com o objetivo de provar sua existência, Tomás procede a posteriori, ou seja, não da ideia de Deus, mas sim dos efeitos por Ele proporcionados. 
Dessa forma, ele utiliza o mundo sensível, cuja existência é dada pelos sentidos como ponto de partida, bem como a metafísica de Aristóteles, para demonstrar a existência de Deus de cinco modos, mais conhecidos como as famosas cinco vias: 
1)A do “Movimento” – trata-se do argumento aristotélico do primeiro motor, que afirma “não ser possível admitir uma série infinita de seres que se movem, movendo por sua vez outros seres; logo, é preciso chegar a um motor que mova sem ser movido”. Portanto, o movimento existe e é uma evidência para nossos sentidos. Tudo aquilo que se move é movido por outro motor; e se esse motor, por sua vez, é movido, vai necessitar de um motor que o mova, e assim por diante de forma infinita, o que é impossível, se não houver um primeiro motor imóvel, que move sem ser movido, que é Deus. 
2)A da “Concatenação das Causas” – tudo está sujeito à lei de causa e efeito. Portanto, existe uma série de causas e efeitos ao mesmo tempo. Sendo assim, torna-se impossível remontar indefinidamente na série das causas. Logo, há uma causa primeira, não causada, que é Deus. 
3)A da “Contingência” – todos os seres conhecidos são finitos, pois não possuem em si próprios a razão de sua existência. São e deixam de ser. Se são todos mortais, em um prazo de tempo deixariam de ser e nada mais existiria, o que é absurdo. Portanto, os seres contingentes implicam o ser necessário, ou seja, Deus. 
4)A dos “Graus de Perfeição” – todas as perfeições possuem graus, que se aproximam mais ou menos da perfeição absoluta. Deve, pois, haver um ser supremo perfeito, que é Deus. 
5)A da “Ordem Universal” – todos os seres tendem para uma ordem, não de forma aleatória, mas por uma inteligência que os guia. Isso significa que há um ser inteligente que ordena a natureza e a impulsiona para seu fim. Esse ente é Deus.
A partir desses conceitos, Tomás de Aquino concluiu o quanto podemos conhecer sobre a natureza e as virtudes de Deus. No entanto, observou
que esse conhecimento é imperfeito, pois sabemos que “Deus é”, mas não “O que é”. Mesmo assim, podemos compreender que Deus é eterno, infinito e onipotente em suas relações com o mundo, além de ser Criador e Providência. Nesse sentido, a doutrina tomista acredita que a alma, como princípio espiritual, une-se ao corpo, como princípio material, para constituir uma substância. Dessa forma, possuem alma as plantas, sendo a “alma vegetativa” a responsável pelas funções de alimentação e reprodução. No caso dos animais, é a “alma sensitiva” que responde às funções anteriores, mais à sensação e à mobilidade. Para o homem, juntam-se todas as funções anteriores, acrescentando-se a racional.
Tomás de Aquino considera a inteligência como a faculdade mais perfeita da alma humana.
Considerado o maior representante da escolástica, Tomás de Aquino elaborou um sistema filosófico sintético, coerente e fundamentado em Aristóteles, reformulando, assim, todo o pensamento cristão e adquirindo plena consciência dos poderes racionais, o que permite ao cristianismo ser visto como uma filosofia. Assim, podemos atribuir a Tomás de Aquino o pensamento escolástico, bem como o pensamento patrístico, que teve seu ápice em Agostinho, repleto de elementos helenistas e neoplatônicos, incluindo a herança da revelação judaico-cristã. A ele, deve-se diretamente o pensamento helênico na sistematização do pensamento de Aristóteles, que chega a Tomás de Aquino acrescido pelas influências de outras culturas.
O indicativo pelo qual a verdade se manifesta à nossa mente está na evidência e, como muitos conhecimentos nossos não são evidentes, mas de natureza intuitiva, tornam-se verdadeiros quando levados à evidência por intermédio da prática demonstrativa. Embora a demonstração seja um processo dedutivo, os conceitos e as ideias não são inatos na mente humana, como defendia o agostinianismo, e nem sequer nas suas relações lógicas. Elas consistem no resultado fundamental da experiência humana mediante a indução, que chega à essência das coisas.
Como o princípio da vida está dentro do ser, sendo denominado de alma, possuem uma alma também as plantas e os animais. Porém, para a psicologia racional, que se ocupa com o homem, interessa somente a alma racional. A alma racional desempenha as funções da alma vegetativa e sensitiva, compreendendo e desejando; pois, na visão de Tomás de Aquino, existe uma forma só e, consequentemente, apenas uma alma para cada indivíduo. No homem, existe uma alma espiritual, unida com o corpo, que o transcende. Portanto, além das atividades já mencionadas, manifestam-se ainda atividades espirituais, como o intelecto e a vontade. A atividade intelectual, por exemplo, está direcionada para entidades imateriais, como os conceitos. No caso da vontade humana, ela é livre e indeterminada, enquanto o mundo material segue regido por leis fundamentais. Assim sendo, a vontade apresenta-se como um princípio imaterial e espiritual da alma racional, que é imortal, por ser imaterial e espiritual.
Diferentemente do dualismo platônico-agostiniano, Tomás de Aquino afirma que a alma, mesmo espiritual, está junto do corpo material, que é a sua forma. Desse modo, como o corpo não pode existir sem a alma, também a alma, mesmo imortal, não pode viver em sua plenitude sem o corpo, que lhe serve como uma ferramenta crucial. Ao contrário da doutrina agostiniana, que pretendia ser Deus conhecido imediatamente por intuição, Tomás de Aquino ressalta que Deus pode ser conhecido apenas pela demonstração sólida e racional, sem que seja necessário recorrer a argumentações a priori, mas unicamente a posteriori, partindo da experiência que, sem Ele, seria contraditória.
RESUMO
A filosofia antiga pode ser dividida em três períodos: 
• Primeiro período: do século VII até o ano de 450 a.C., de Tales até Sócrates. Caracteriza-se pela formação ou juventude, uma vez que é durante ele que se estuda a natureza, passando a ser conhecido e chamado de Período Cosmológico. 
• Segundo período: de 450 a.C. até o século III d.C., de Sócrates até o ecletismo. Seu foco central está no ser humano; por isso, essa fase recebeu o nome de Período Antropológico. 
• Terceiro período: do século I até o século VI d.C. Por três séculos coincide com o período antropológico; mas deixa evidente a decadência da filosofia grega, e seu foco passa a ser Deus ou a união teosófica com Ele. Por essa razão, denomina-se Período Teosófico.
UNIDADE III - A FILOSOFIA MODERNA
O Renascimento, ocorrido nos séculos XIV e XV, é nitidamente demarcado pela redescoberta da arte e da literatura grega, abrangendo o humanismo, com ênfase na colocação do homem no centro da realidade, o repensar da política, o estilo de governo influenciado pelas obras de Maquiavel, o estudo científico e a filosofia moderna, com destaque para o poder racional do homem, sinalizando um retorno às raízes do pensamento racional e à renúncia do controle do conhecimento pelo misticismo e pela Igreja Católica.
Para começar, é importante lembrar que a filosofia da Idade Moderna nasceu por causa dos trabalhos dos grandes mestres do renascimento cultural e científico dos séculos XIV e XV, entre eles Nicolau Copérnico e Leonardo da Vinci, e dos esforços de cientistas e pensadores como Galileu Galilei, Francis Bacon, René Descartes e Emanuel Kant nos séculos seguintes. A filosofia moderna teve início, de fato, com a Teoria do Conhecimento de René Descartes.
A chamada Idade da Razão surgiu para redefinir os padrões científicos e filosóficos já existentes. Descartes, na declaração “penso, logo existo”, descobre o homem como um ser racional por natureza, com a capacidade de alcançar o conhecimento e, mais que do isso, sua existência é definida pelo ato de pensar. As obras de Descartes formaram a base sobre a qual os racionalistas desenvolveram seus trabalhos e formularam suas hipóteses.
De acordo com Danilo Marcondes, uma das características fundamentais da filosofia do Iluminismo em relação ao homem é “o individualismo que se baseia na existência do indivíduo livre e autônomo, consistente e capaz de se autodeterminar” (2007, p. 208). O homem que, de acordo com Rousseau, nasce bom, passa a ser visto como livre, autônomo e senhor do seu próprio destino.
RENÉ DESCARTES – O Racionalismo
Nesse contexto, praticamente tudo foi contestado, desde a unidade política e religiosa da Europa, passando pela autoridade da Bíblia e chegando a abalar o prestígio do Estado e da Igreja. Afinal, com os navegadores cruzando os mares e descobrindo novos povos e culturas, era natural que o questionamento das verdades até então estabelecidas fosse abalado.
Ele acreditava ser um iluminado cuja missão consistia em unificar todos os conhecimentos humanos a partir de bases sólidas atestadas pela ciência para edificar um modo de pensar centrado na verdade e, por isso mesmo, permeado apenas pelas certezas racionais. Como matemático e filósofo francês, ele refutou todos os pressupostos e ideias que vinham da natureza subjetiva dos sentidos, o que o levou a escrever a máxima “penso, logo existo”. Para ele, todo o universo material poderia ser explicado em termos físicos e matemáticos, o que o levou a criar a geometria analítica como forma de definir e manipular as formas geométricas por meio de expressões algébricas. Deu origem ainda às coordenadas cartesianas, a forma por intermédio da qual os pontos são representados nesse sistema, que marcaram para sempre seu nome na história da humanidade.
Como filósofo, identificou a coisa pensante ou mente como sendo a alma ou a consciência humana. Já o corpo, apesar de interagir de alguma forma com a alma, era uma máquina física, secundária, podendo ser separado da alma. Ele defendia que tudo tinha uma causa, destacando que, apesar de toda a matéria estar em movimento, ela não se move por si, pois o impulso inicial vem de Deus. O dualismo cartesiano explicava que existiam duas substâncias totalmente diferentes em sua composição, a substância espacial, ou seja, a matéria, e a substância pensante, da qual a
mente faz parte.
Entre seus trabalhos mais conhecidos, estão O discurso do método (1637), Meditações sobre a primeira filosofia (1641) e Princípios da filosofia (1644), além de várias publicações sobre fisiologia, ótica e geometria.
Além disso, foi um dos pensadores mais importantes na Revolução Científica. Muitas vezes chamado de “fundador da filosofia moderna” e “pai da matemática moderna”, ele passou para a história como um dos pensadores mais influentes do pensamento ocidental, que serviu de modelo e inspiração para várias gerações de filósofos que viriam depois.
Muitos especialistas afirmam que Descartes inaugurou o racionalismo da Idade Moderna, enquanto décadas mais tarde, na Grã-Bretanha, John Locke e David Hume deram início a um movimento filosófico que pode ser considerado oposto ao seu pensamento, que se convencionou chamar de empirismo.
O pensamento de Descartes pode ser considerado revolucionário para uma sociedade feudalista, na qual a influência da Igreja ainda era muito forte e quando ainda não existia uma tradição da produção de conhecimento científico. Ele viajou muito e viu que sociedades diferentes possuíam crenças diferentes e até mesmo contraditórias. Aquilo que numa região era tido como verdadeiro, era considerado ridículo e desprovido de bom senso em outros lugares. Descartes constatou que os costumes, a história de um povo, bem como sua tradição cultural, determinavam a forma como as pessoas pensam naquilo em que acreditam, o que o levou a entender a cultura como inimiga da razão. Por isso, o método cartesiano consiste basicamente no ceticismo metodológico, que duvida de tudo que pode ser duvidado. Esse pensamento vai de encontro ao dos gregos antigos e dos escolásticos, que acreditavam que as coisas existem simplesmente porque precisam existir, ou porque assim deve ser.
O MÉTODO: Ainda nesse contexto, ele também concebeu o método na realização de quatro tarefas básicas: verificar se existem evidências reais e indubitáveis acerca do fenômeno ou da coisa estudada; analisar, ou seja, dividir ao máximo as coisas em suas unidades de composição, fundamentais, e estudar essas coisas mais simples que aparecem; sintetizar, agrupar novamente as unidades estudadas em um todo verdadeiro; e enumerar todas as conclusões e princípios utilizados para manter a ordem do pensamento.
Ele instituiu a dúvida, alegando que seria possível dizer que existe apenas aquilo que pode ser provado.
Na declaração “penso, logo existo”, Descartes descobre o homem como um ser racional por natureza, com a capacidade de alcançar o conhecimento e, mais que do isso, sua existência é definida pelo ato de pensar.
DAVID HUME: O Empirismo
Considerado um dos mais importantes filósofos da Grã-Bretanha do século XVIII, David Hume nasceu em Edimburgo, na Escócia, em maio de 1711. Voltou para a propriedade rural de sua família em 1737, depois de estudar na França, e lá permaneceu até a morte, em 1776. Assim que regressou, providenciou a publicação de sua obra mais famosa, o Tratado, composta por três livros, publicados no anonimato em duas etapas, antes de completar 30 anos. 
O Livro I tem como objetivo fornecer uma explicação do processo de aquisição de conhecimento pelo ser humano, desde o surgimento das ideias, passando pelas noções espaciais e temporais, até a causalidade e o ceticismo atribuído aos sentidos. Já o Livro II, sobre as “paixões” do homem, apresenta um elaborado mecanismo para explicar a ordem afetiva ou emocional no homem, e reserva um papel subordinado para a razão. Essas duas partes foram publicadas em 1739, anonimamente. O Livro III descreve o bem moral em termos de “sentimentos” de aprovação ou desaprovação que o homem sente quando considera o comportamento humano sob a luz do que é de consequência agradável ou desagradável para ele ou para os outros. Essa terceira parte foi publicada em 1740.
No entanto, para além dos seus trabalhos no âmbito da filosofia, Hume ascendeu à fama literária como ensaísta e historiador com seu célebre História da Inglaterra. Viveu a última década da vida em Edimburgo, no novo aldeamento de New Town. O pensamento de Hume possui grande influência na filosofia atual. 
Para ele, percepção em estado puro dá origem às impressões que, posteriormente, conferem ao sujeito a possibilidade de compor a ideia como uma cópia deturpada da percepção bruta. Essa teoria de Hume ficou conhecida como empirismo psicológico, que deu origem ao empirismo lógico. De acordo com essa concepção, as palavras só encontram significação se possuírem um ser ou um objeto correspondente no mundo, ou seja, uma base empírica.
Nesse sentido, Hume foi de encontro aos postulados filosóficos complexos e de conclusões metafísicas que não têm como fundamento a base no real, pois, para ele, a abstração não existe. Nesse caso, toda forma de conhecimento estaria associada às impressões e às relações entre as ideias inatas e originais, como as verdades dos princípios matemáticos, que são irrefutáveis, uma vez que as deduções lógicas podem ser demonstradas.
Hume também critica o conceito de substância, seja ela de ordem material, seja de natureza espiritual, descartando o conceito de alma concebido por Descartes. Para ele, o ser humano consiste em um feixe de sensações da consciência que permanecem em um fluxo constante, sucedendo-se. Portanto, a consciência opera com essa somatória de momentos, e o eu passa a existir quando ocorre uma ação de presença; quando se morre, o eu se anula.
Como o princípio causal tem origem na experiência, nossa mente é formatada pelo costume e pela experiência. Aceitamos algo como natural; mas, se fosse de outra maneira, aceitaríamos da mesma forma. Hume admite a existência objetiva dos efeitos da natureza, uma vez que até mesmo um cético tem de aceitar a existência de um objeto concreto. No entanto, as leis da natureza são apenas as mais prováveis de acontecer e, como a causalidade não é objetiva, uma vez verificadas que nem sempre as mesmas causas surtem os mesmos efeitos, a certeza precisa ser trocada pela probabilidade dos acontecimentos, incluindo a expectativa que um evento ocorra, por ser inerente apenas ao homem.
Ele também refuta os sábios, pois acredita que o caminho deve vir de dentro e não de teorias, e é nessa caminhada que atingimos o prazer e a virtude. Portanto, sua linguagem é jovial, enaltecendo sempre o arrebatamento epicurista pelas paixões como se fosse a doutrina de prazer.
De acordo com ele, a natureza foi generosa com o homem, tornando-o superior aos outros animais; mas ele necessita ser civilizado por meio da educação. Devemos, então, aperfeiçoar o espírito e refletir. Ao encontrarmos as regras para nossa conduta, seremos filósofos; mas, somente quando as aplicarmos do ponto de vista pragmático, seremos sábios.
Para ele, o único princípio filosófico verdadeiro é que as coisas em si não possuem as qualidades que o homem lhe atribui. Hume insiste em afirmar que é a paixão a responsável pela proposição dos valores de tudo o que existe. Ao vivenciar uma sensação de prazer, quando observa os objetos que trazem um sentimento, o ser humano tende a classificá-los pela beleza, seja ela desejável ou abominável.
Hume ainda acredita que o homem é superior à mulher, embora a natureza tenha se encarregado de prover todas as espécies de amor entre os sexos, mesmo que seja por tempo limitado. No ensaio Da eloquência, destaca que sentimentos nascidos da vaidade dão origem às disputas. Em todos os seus ensaios, Hume defende que a natureza humana possui um lado maligno e que o preconceito acaba com a capacidade de raciocinar, fazendo da arrogância um defeito comum entre os homens.
Como Deus é o ser supremo, deseja o bem, que deve ser experimentado por meio das sensações puras, que se encontram pervertidas no processo civilizatório pelos defeitos comuns que afastam de Deus, muito embora haja homens com gosto superior.
IMMANUEL KANT: o apriorismo e o conhecimento.
O crítico da razão e da moral 
Nascido em 1724 no seio de uma família protestante em Königsberg,
atual Kaliningrado, Emmanuel Kant teve educação rígida em uma escola de princípios pietistas, ou seja, reacionária contra o protestantismo dogmático. Na primeira fase da vida adulta, era apenas um metafísico menor numa universidade prussiana; mas foi então que uma crise existencial o atormentou, sendo possível afirmar que isso teve forte influência na suas convicções posteriores como filósofo e pensador.
Foi considerado como o último grande filósofo da era moderna, e também um de seus pensadores mais marcantes. Há estudiosos que avaliam sua concepção filosófica de mundo como uma espécie de síntese entre o racionalismo de René Descartes e Gottfried Leibniz, no qual predomina o raciocínio dedutivo, e a tradição empírica inglesa, de David Hume e John Locke, que prioriza o raciocínio indutivo.
Kant ainda recebeu reconhecimento pela sua teoria conhecida como Transcendentalismo, segundo a qual todos trazem conceitos a priori, ou seja, aqueles que não vêm da experiência para a vivência concreta do mundo. Seguindo essa linha de pensamento, a filosofia da natureza e da natureza humana concebida por Kant é, do ponto de vista histórico, uma das mais influentes do relativismo conceptual que tomou conta da postura intelectual do século XX.
Depois de dez anos, em 1781, publicou o célebre Crítica da razão pura, uma das obras mais significativas da filosofia moderna. Nesse livro, ele elabora sua ideia de uma teoria transcendental para demonstrar que, mesmo sem saber as verdades acerca do universo, somos obrigados a refletir sobre ele, já que podemos ter a certeza de um grande número de coisas sobre o mundo enquanto sua aparência, regido por leis da física e da matemática, por exemplo. 
Nos vinte anos que se seguiram, Kant produziu de forma incessante, completando sua contribuição à filosofia moderna com a Crítica da razão prática, que tratava da moralidade de maneira semelhante ao modo como a crítica inicial abordava o conhecimento. Em Crítica do julgamento, ele destaca os diversos usos dos poderes mentais, que não requerem conhecimento factual nem nos fazem, necessariamente, partir para a ação. Da maneira como Kant os concebeu, os juízos de valor relacionados à estética e à teleologia estabelecem uma conexão entre os nossos julgamentos morais e empíricos, unindo todo o sistema.
De acordo com Kant, para fazer uma crítica sobre aquilo que é belo, precisamos nos orientar pelo poder do julgamento, e a indagação fundamental que move essa investigação crítica consiste em saber se existe um valor universal capaz de conceituar o belo e reivindicar que outros indivíduos, a partir da apreciação de uma forma bela da natureza ou da arte, confirmem esse juízo. Se não for dessa forma, temos que aceitar o fato de que todo objeto que julgamos ser belo seria, portanto, um valor subjetivo. Logo, a capacidade de julgar, que pertence a todos, é universal, entrelaçando o julgamento estético e prático. Assim, a investigação crítica que Kant propõe refere-se ao universo especulativo das faculdades subjetivas do homem que atuam conforme princípios que fazem farte da essência do pensamento humano.
Com isso, o filósofo busca explicar, por intermédio de uma teoria sistemática, que tempo e espaço são formas elementais de a mente humana perceber o mundo; mas só podem ser empregadas na prática, uma vez que a mente não pode produzir essa ideia. Além disso, nada pode ser percebido, exceto por meio dessas formas, sendo os limites da física as fronteitas finais da estrutura mental. 
Na visão kantiana, o conhecimento, a priori, possui a capacidade de compreender as experiências naturais, que são apresentadas à consciência humana. Em seguida, ela retira o mundo real (que ele chamou de numenal) da cena da percepção. Kant denominou seu pensamento filosófico crítico de idealismo transcendental, ou seja, descreveu a forma de procurar as condições da possibilidade do conhecimento do mundo pelo homem.
As investigações filosóficas de Kant ocuparam-se de quatro questões principais: a mecânica do saber, a ética, a religião e a natureza do sentimento estético, bem como a direção da evolução biológica.
HEGEL: O Idealismo alemão.
O pensador das contradições
George Wilhelm Friedrich Hegel, filósofo nascido em 1770, é considerado o expoente máximo do idealismo alemão do século XIX, que acabou provocando um impacto profundo no materialismo histórico de Karl Marx.
Hegel formulou o modelo analítico da realidade que maior influência teve ao longo dos séculos XIX e XX, para pensadores como Schopenhauer, Nietzsche, Marx, Kierkegaard e Jean-Paul Sartre, em razão de uma proposta que recusa a concepção filosófica de Kant. Buscou se defrontar com temas diversos, como a lógica, o direito, a religião, a arte, a moral, a ciência e a história da filosofia. Em todos esses domínios, ele viu a manifestação do espírito absoluto, que se materializa e revela por intermédio da história da humanidade. A filosofia hegeliana parte do princípio de que a negatividade é inerente ao real e que o positivo realiza apenas por meio do negativo. A dialética, portanto, seria o método que permite compreender e esclarecer a racionalidade do real.
A obra inicial e a mais significativa dos estudos de Hegel foi a Fenomenologia do espírito ou Fenomenologia da mente. 
De maneira geral, a dialética pode ser considerada como uma das diversas partes do sistema hegeliano, que nunca foi bem compreendido de fato. Um dos possíveis motivos para isso se deve ao abandono, por parte dele, da ideia de que a contradição gera um objeto desprovido de conteúdo.
O método hegeliano inspirou em grande escala as análises de filósofos contemporâneos sobre as relações do eu com o outro. Na luta de duas consciências, Hegel examinou simultaneamente a relação de dois “eu” e a relação de cada “eu” com sua própria vida. O “senhor”, aquele que é vitorioso no combate, aceitou arriscar a vida. Sendo assim, ele é mais do que ela e, por sua coragem, colocou-se acima dos objetos comuns da necessidade e da existência empírica. O vencido, aquele que se rendeu, tem medo de perder a vida. Como consequência, ele é escravo da vida e de seus objetos empíricos. Hegel quer dizer com isso que o senhor não é senhor “em-si”, mas por meio de uma mediação, isto é, de uma relação. O senhor se define por sua relação com o escravo e por sua relação com os objetos, que depende, ela própria, da relação com o escravo. No ponto de partida, o senhor domina os objetos da necessidade, já que no campo de batalha ele se mostrou corajoso e superior à sua vida e aos objetos das necessidades. Secundariamente, o senhor domina os objetos por mediação do escravo que trabalha, isto é, que transforma os objetos materiais em objetos de consumo e de fruição para o senhor.
Portanto, cada filosofia é “o espírito da época existente como espírito que se pensa”. Ela surge “no devido momento, nenhuma ultrapassou seu tempo”. Por isso, as filosofias sucessivas não se anulam, mas as novas filosofias mostram as anteriores como verdades parciais e passíveis de serem integradas numa síntese mais ampla que se elabora com o tempo. Dessa forma, a história da filosofia oferece momentos privilegiados ou, como diz Hegel, vem reconciliar dialeticamente os contraditórios.
Assim, a unidade consiste no fundamento de tudo. Aquilo que se desenvolve na razão progride na unidade dessa razão e conhecer verdadeiramente um sistema significa tê-lo justificado em si. Limitar-se apenas a refutar uma filosofia é não compreendê-la, sendo necessário ver a verdade que ela contém. Não existe nada mais fácil do que criticar do ponto de vista negativo. No entanto, quem só vê a negação ignora o conteúdo, ele sim afirmativo, e o supera sem se encontrar no interior dele. A dificuldade então consiste em ver o que os sistemas filosóficos contêm de verdadeiro. Somente quando são justificados em si próprios é possível falar das suas limitações e de suas deficiências. O radicalismo dessas oposições levou ao individualismo egoísta de Stirner e à versão marxista do comunismo, da mesma forma que os
teóricos pragmatistas se apropriaram dos aspectos comunitaristas da filosofia hegeliana.
MARX: O Materialismo histórico
O pai do materialismo dialético
Karl Heinrich Marx nasceu no seio de uma família judia de classe média em Tréveris, na Alemanha. Era filho de mãe judia holandesa e de um pai advogado que teve de se converter ao cristianismo, quando Marx tinha 6 anos de idade, em virtude das restrições impostas à presença de membros judeus nas atividades públicas. Aos 17 anos, ingressou na Universidade de Bonn para estudar Direito; mas, logo depois, transferiu-se para a Universidade de Berlim, onde a influência de Hegel ainda era bastante sentida no início da sua obra. Com os interesses voltados para a filosofia, ele participou ativamente do movimento dos jovens hegelianos. Doutorou-se em Jena, em 1841, com a tese sobre as Diferenças da filosofia da natureza em Demócrito e Epicuro. Nesse mesmo ano, concebeu a ideia de um sistema que combinasse o materialismo de Ludwig Feuerbach com a dialética idealista de Hegel.
Durante a maior parte da vida, conseguiu seu sustento escrevendo artigos, que publicava de forma esporádica em jornais alemães e norte-americanos, além do auxílio financeiro que recebia do amigo e principal colaborador de seu pensamento, Friedrich Engels, economista alemão. Juntos, eles sintetizaram a experiência de muitos séculos de lutas de classes oprimidas contra seus opressores, criando a doutrina do socialismo científico como uma transformação revolucionária que inaugurou uma nova época no desenvolvimento do pensamento social.
Seu pensamento, nitidamente engajado com as lutas proletárias, teve como base uma síntese de três correntes distintas: a economia política inglesa, o socialismo francês e a filosofia alemã. Da união dessas ideias, ele construiu um raciocínio inédito que ficou conhecido como “materialismo dialético histórico”.
Para Marx, a realidade material será sempre a grande responsável por todas as condições de vida capazes de expor ao ser humano sua condição existencial, sendo que dela devem partir todas suas formas de ideologia, ou seja, as visões de mundo. Diante dessa formulação, pode-se deduzir que não é a ideia que produz a realidade, mas sim a realidade que produz as ideias, que acabam se correlacionando de forma dialética para modelar as constituições sociais. Inserido no contexto do pensamento alemão que deu origem ao racionalismo (idealismo lógico) e ao romantismo (idealismo sensível), resultando no “materialismo contemplativo”, Marx defendia a prática de um materialismo ativo.
Seu pensamento político criticou todas as correntes socialistas por não ter um caráter decididamente transformador, somente reformador. Ainda que para Marx a evolução e a revolução são dialéticas e cada partido operário, ao realizar suas metas curtas, se torna inútil. Enquanto posição, ele defendia o socialismo científico em oposição a um socialismo romântico, ou o comunismo (revolucionário, para se opor ao mero reformismo). Ele defendia também não apenas a melhoria das condições de vida do proletariado, mas, acima de tudo, a própria emancipação deste, com o fim da condição proletária. Não se tratava de amenizar a exploração, mas sim de exterminá-la. No entanto, as condições dessa emancipação, que só a prática poderia realizar, estava nas condições reais em que estava inserida. Por isso, em Marx, é o desenvolvimento do capitalismo que criou a proletarização, é o exército que vai destronar a burguesia, pois a própria hostilidade que o capitalismo produz sobre a condição proletária gera as condições subjetivas para a explosão revolucionária.
Na obra Ideologia alemã, Marx introduz os pressupostos de seu novo pensamento, enquanto no Manifesto comunista elabora sua tese política mais importante. Na Questão judaica, ele critica a religiosidade, alegando que não se pode tratar dos questionamentos humanos do ponto de vista teológico, mas sim considerar a teologia como uma questão humana. Para ele, o foco deve estar em encarar as religiões como projeções fantasiosas do homem, embora reproduzam a condição humana real a que estamos presos. Na Crítica do Programa de Gotha, Marx produz o mais longo e esquematizado esboço daquilo que seria uma sociedade socialista, apesar tentar evitar qualquer esforço de “futurologia”, para permanecer restrito ao campo da ciência. Já em Guerra civil na França, ele assume de forma definitiva que, apenas com a extinção do Estado, o proletariado pode oferecer a si mesmo as condições necessárias para manter o poder recém-conquistado, defendendo que o fim do Estado significa o fim do monopólio da violência que o Estado representa.
O conceito de mais-valia foi empregado por Marx para explicar a obtenção de lucros contínuos a partir da exploração da mão de obra. Os donos dos meios de produção obtêm parte de seus lucros pela exploração do trabalhador.
Em O Capital, Marx elabora uma análise das leis econômicas que regem a sociedade capitalista, estudando essa sociedade na sua origem, no seu desenvolvimento e na sua decadência.
Marx acusou Feuerbach, afirmando que seu humanismo e sua dialética eram estáticos, já que o homem não possui dimensões fora da sociedade e da história, sendo pura abstração. Para Marx, é fundamental compreender a realidade histórica em suas contradições na tentativa de superá- las. Os princípios da sua dialética podem ser resumidos em tudo aquilo que se relaciona e se transforma, incluindo as mudanças qualitativas como consequências de revoluções quantitativas. Embora a contradição seja interna, os contrários passam a ser unidos em um momento seguinte. Assim sendo, a luta dos opostos impulsiona o pensamento e a realidade. Na teoria marxista, o materialismo histórico pretende explicar a história das sociedades humanas de todas as épocas por meio dos fatos materiais essencialmente econômicos e técnicos. Nesse sentido, a sociedade pode ser comparada a um edifício no qual as fundações, ou seja, a infraestrutura, seriam representadas pelas forças econômicas, enquanto o edifício em si, a superestrutura, representaria as ideias, os costumes e as instituições. A propósito, Marx, na obra A Miséria da filosofia (1847), atestou que as relações sociais permanecem interligadas às forças produtivas. Ao produzir de maneira diferente, os homens podem modificar o modo de produção, a maneira de sobreviver e, com isso, mudar as relações sociais.
O aspecto central da crítica marxista está na questão de como compreender o que é o homem, lembrando que ele defende que não se trata de ter consciência e, muito menos, de ser um animal político que dá ao homem o sentido da sua existência, mas sim o fato de ele ser capaz de produzir suas condições de existência, tanto do ponto de vista material quanto ideal, ou seja, aquilo que o diferencia. Se o homem é historicamente determinado pelas suas condições, é responsável por todos seus atos. Nesse caso, todas as teorias de Marx estão baseadas na existência humana. Com o objetivo de também mostrar uma visão econômica da história, além de propor uma visão histórica da economia, a teoria marxista busca explicar a evolução das relações econômicas nas sociedades humanas no decorrer do processo histórico. De acordo com a concepção marxista, haveria uma dialética contínua das forças entre fortes e fracos, repressores e oprimidos.
Para Marx, a vitória do comunismo era inevitável. Ele afirmava que a história segue certas leis imutáveis conforme avança de um estágio a outro. O comunismo, na visão dele, seria o último e mais alto grau de desenvolvimento, e a grande solução para a compreensão dos estágios do desenvolvimento estaria na relação entre as diferentes classes de indivíduos na atividade produtiva. Para o marxismo, a luta de classes é o meio pelo qual a história humana avança historicamente. Por acreditar que a classe dominante nunca deixaria o poder por livre e espontânea vontade, a luta e a violência eram necessárias e inevitáveis.
O Manifesto comunista fez o homem caminhar, de fato, na busca da solução de problemas como

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Continue navegando