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ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais PROPRIEDADES ELÉTRICAS e MAGNÉTICAS DOS MATERIAIS PMT 3110 - Introdução à Ciência dos Materiais para Engenharia 2 ROTEIRO DA AULA • Condutividade elétrica • Bandas de energia nos sólidos • Condutividade elétrica dos metais • Condutividade elétrica dos semicondutores intrínsecos • Condutividade elétrica dos semicondutores extrínsecos tipo n e tipo p • Campo Magnético H • Indução Magnética B • Magnetização M • Dipolos e Momentos Magnéticos • O Magnetismo dos Materiais • Ferromagnetismo • Domínios Magnéticos e paredes de Domínio • Curva de Magnetização Inicial • Curva de histerese • Materiais magnéticos moles e duros PROPRIEDADES ELÉTRICAS 3 4 CONDUTIVIDADE ELÉTRICA Condutividade em (.m)-1 de uma variedade de materiais à temperatura ambiente. ISOLANTES CONDUTORES 10-14 10-18 10-10 10-16 10-6 10-12 10-2 10-8 102 10-4 106 100 104 108 SEMICONDUTORES • Os materiais sólidos podem ser classificados, de acordo com a magnitude de sua condutividade elétrica, em três grupos principais: CONDUTORES, SEMICONDUTORES e ISOLANTES. Ag Cu NaCl quartzo madeira seca grafite borracha SiO2 porcelana mica GaAs Si Ge Si dopado Mn Fe polietileno concreto (seco) poliestireno vidro 5 CONDUTIVIDADE ELÉTRICA • Para uma compreensão aprofundada das propriedades elétricas dos materiais necessitamos considerar o caráter ondulatório dos elétrons e fazer uso de conceitos da mecânica quântica, mas isto está além do escopo desta disciplina. • Na aula de hoje, explicaremos a condutividade elétrica dos materiais utilizando, de forma simplificada, alguns conceitos provindos da mecânica quântica. Em particular, consideraremos o MODELO DE BANDAS DE ENERGIA ELETRÔNICA NOS SÓLIDOS. • O MODELO DOS ELÉTRONS LIVRES dos metais supõe que o material é composto por um gás de elétrons que se movem num retículo cristalino formado por íons pesados. Esse modelo prevê corretamente a forma funcional da lei de Ohm. No entanto, ele prevê incorretamente os valores observados experimentalmente para a condutividade elétrica. Por exemplo, para o cobre temos: calculado = 5,3 x 106 (.m)-1 e experimental = 59 x 106 (.m)-1. 6 • Considere um conjunto de N átomos. A distâncias de separação relativamente grandes, cada átomo é independente de todos os demais, e tem os níveis de energia atômica e a configuração eletrônica que teria se estivesse isolado. Contudo, à medida que esses átomos se aproximam uns dos outros, os elétrons sentem a ação dos elétrons e núcleos dos átomos adjacentes ou são perturbados por eles. Essa influência é tal que cada estado atômico distinto pode se dividir em uma série de estados eletrônicos proximamente espaçados no sólido, para formar o que é conhecido por BANDA DE ENERGIA ELETRÔNICA. • A extensão da divisão depende da separação interatômica e começa com as camadas eletrônicas mais externas, uma vez que elas são as primeiras a serem perturbadas quando os átomos coalescem. • Dentro de cada banda, os estados de energia são discretos, embora a diferença de energia entre os estados adjacentes seja excessivamente pequena. BANDAS DE ENERGIA NOS SÓLIDOS 7 BANDAS DE ENERGIA NOS SÓLIDOS • Gráfico esquemático da energia eletrônica em função da separação interatômica para um agregado de 12 átomos (N = 12). Com a aproximação cada um dos estados atômicos 1s e 2s se divide para formar uma banda de energia eletrônica que consiste em 12 estados. Cada estado de energia é capaz de acomodar dois elétrons que devem possuir spins com sentidos opostos. Separação interatômica E n e rg ia Estados energéticos individuais permitidos Banda de energia eletrônica 2s (12 estados) Banda de energia eletrônica 1s (12 estados) Estado eletrônico 2s Estado eletrônico 1s 8 Representação convencional da estrutura da banda de energia eletrônica para um material sólido na separação interatômica de equilíbrio. Gap de energia Banda de energia Banda de energia E n e rg ia Separação interatômica E n e rg ia Separação Interatômica de equilíbrio 1s (N estados) 2p (3N estados) 2s (N estados) BANDAS DE ENERGIA NOS SÓLIDOS • Bandas de energia eletrônica para um material sólido formado por N átomos. Representação convencional da estrutura da banda de energia eletrônica para um material sólido na separação interatômica de equilíbrio. Energia eletrônica em função da se- paração interatômica para um agrega- do de N átomos, ilustrando como a estrutura da banda de energia na separação interatômica de equilíbrio é gerada. 9 ESTRUTURAS DE BANDAS DE ENERGIA NOS SÓLIDOS Estruturas de bandas de energia possíveis para sólidos a 0 K. (a) Bandas de energia de METAIS tais como o cobre (Z = 29, … 3d10 4s1) nos quais se encontram disponíveis, na mesma banda de energia, estados eletrônicos não preenchidos acima e adjacentes a estados eletrônicos preenchidos. (b) Bandas de energia de METAIS tais como o magnésio (Z = 12, 1s2 2s2 2p6 3s2) nos quais ocorre a superposição das bandas de energia mais externas, a preenchida e a não-preenchida. (c) Bandas de energia típicas de ISOLANTES: a BANDA DE VALÊNCIA (banda de energia preenchida) é separada da BANDA DE CONDUÇÃO ( banda de energia não-preenchida) por um GAP DE ENERGIA (banda de energia proibida, ou seja, barreira de energia) de largura relativamente grande (>2 eV). (d) Bandas de energia de SEMICONDUTORES: a estrutura de bandas de energia é semelhante à dos isolantes, mas com gaps de energia de larguras menores (<2 eV). Banda de valência preenchida Gap de energia Banda de condução vazia Banda de valência preenchida Gap de energia Banda de condução vazia Banda preenchida Banda vazia Ef Estados preenchidos Estados vazios Gap de energia Banda vazia Ef (a) (b) (c) (d) 10 • A ENERGIA DE FERMI, Ef, é uma conseqüência do caráter estatístico do comportamento dos elétrons e do Princípio de Exclusão de Pauli. Para metais a T = 0 K, Ef é definida como a energia máxima dos estados eletrônicos ocupados. Para semicondutores e isolantes Ef tem um valor situado na faixa de energias do poço de potencial. • Nos metais, somente elétrons com energia maior que Ef podem ser acelerados na presença de um campo elétrico. Esses elétrons são os que participam do processo de condução e são chamados de ELÉTRONS LIVRES. • Em semicondutores e isolantes, os BURACOS ELETRÔNICOS têm energia menor que Ef e também participam do processo de condução. • O processo de condução se origina na mobilidade dos PORTADORES DE CARGA. CONDUTIVIDADE ELÉTRICA 11 • Em metais, um elétron torna-se livre quando passa para um estado de energia disponível e não preenchido acima de Ef; é pequena a energia necessária para tal mudança. CONDUTIVIDADE ELÉTRICA - METAIS • A condutividade elétrica dos metais pode ser representada pela equação OCUPAÇÃO DOS ESTADOS ELETRÔNICOS Antes da excitação eletrônica Após a excitação eletrônica E n e rg ia Ef Excitação do elétron Ef Estados preenchidos Estados vazios = n |e| e n = número de portado- res de carga (elétrons) por unidade de volume |e| = magnitude da car- ga dos portadores (1,602x10-19 C) e = mobilidade dos portadores de carga • A condutividade elétricados metais condutores diminui à medida que a sua temperatura aumenta. No link http://www.tf.uni-kiel.de/matwis/amat/elmat_en/kap_2/backbone/r2.html (do site da “Technische Fakultät der Christian- Albrechts-Universität zu Kiel”) há diversos tópicos sobre condutores. Veja em particular o item 2.1.1 que explica o conceito de condutividade elétrica. 12 • No caso de isolantes e semicondutores, um elétron torna-se livre quando salta da banda de valência para a banda de condução, atravessando o gap de energia. A energia de excitação necessária para tal mudança é aproximadamente igual à largura da barreira. CONDUTIVIDADE ELÉTRICA - SEMICONDUTORES E ISOLANTES Excitação do elétron B a n d a d e v a lê n c ia B a n d a d e c o n d u ç ã o G a p d e e n e rg ia Buraco na banda de valência Elétron livre E n e rg ia EG OCUPAÇÃO DOS ESTADOS ELETRÔNICOS Antes da excitação eletrônica Após a excitação eletrônica • Quando o elétron sal- ta da banda de valên- cia para a banda de condução são gera- dos tanto um elétron livre quanto um bura- co eletrônico. • A diferença entre semicondutores e iso- lantes está na largura do gap de energia. Comparada com a largura do gap de energia dos isolantes, a dos semicondutores é bastante pequena. 13 MATERIAIS SEMICONDUTORES • SEMICONDUTORES INTRÍNSECOS são aqueles cujo comportamento elétrico depende basicamente da estrutura eletrônica do material puro. Sua condutividade elétrica geralmente é pequena e varia muito com a temperatura. • SEMICONDUTORES EXTRÍNSECOS são aqueles cujo comportamento elétrico depende fortemente do tipo e da concentração dos átomos de impurezas. A adição de impurezas para a moldagem do comportamento elétrico dos semicon- dutores é chamada de DOPAGEM. • A maioria dos semicondutores comerciais elementais são extrínsecos; o mais importante exemplo é o Si, mas também estão nesta categoria o Ge e o Sn. É a possibilidade de adicionar impurezas diversas ao material puro que permite a fabricação de uma variedade de dispositivos eletrônicos a partir do mesmo material semicondutor. • Os semicondutores extrínsecos têm condutividade que varia pouco com a temperatura e cujo valor é controlado pela concentração de impurezas. As concentrações utilizadas variam de 1014 cm-3 (1 parte em 108, considerando 1022 átomos por cm3) a 1020 cm-3 (1 parte em 102, que é muito alta). • Semicondutores intrínsecos de compostos dos grupos III-V e II-VI vêm adquirindo crescente importância para a indústria eletrônica nos últimos anos. 14 SEMICONDUTORES INTRÍNSECOS Modelo de ligação eletrônica para a condução elétrica no Silício intrínseco (a) Si Si Si Si Si Si Si Si Si Si Si Si (b) Si Si Si Si Si Si Si Si Si Si Si Si Campo E (c) Si Si Si Si Si Si Si Si Si Si Si Si Campo E elétron livre buraco elétron de valência (a) Antes da excitação eletrônica. (b) e (c) Após a excitação eletrônica (os movimentos subseqüentes do elétron livre e do buraco em resposta a um campo elétrico externo). 15 • A condutividade elétrica dos materiais semicondutores pode ser representada pela equação SEMICONDUTORES INTRÍNSECOS = n |e| e + p |e| b , • Note que e > b. • A condutividade elétrica dos semicondutores intrínsecos aumenta à medida que a temperatura aumenta. • Para semicondutores intrínsecos, n = p. Portanto, onde: n = número de elétrons livres por unidade de volume; p = número de buracos eletrônicos por unidade de volume; |e| = magnitude da carga dos portadores (1,6x10-19 C); e = mobilidade dos elétrons livres; b = mobilidade dos buracos eletrônicos. = n |e| (e + b) . 16 n |e| e . • Modelo de ligação eletrônica para a semicondução extrínseca do tipo n. Por exemplo, a dopagem do Si (valência 4) com P (valência 5) gera elétrons livres; uma impureza desse tipo é chamada de doadora. SEMICONDUTORES EXTRÍNSECOS DO TIPO n Si Si Si Si Si Si P Si Si Si Si Si (a) Campo E Si Si Si Si Si Si P Si Si Si Si Si (c) Si Si Si Si Si Si P Si Si Si Si Si Campo E (b) (a) O átomo de impureza (P) substitui um átomo hospedeiro de Si, resultando em um elétron extra ligado ao átomo de impureza. (b) Excitação do elétron extra como conseqüência da aplicação de um campo elétrico externo, formando-se um elétron livre. (c) Movimento do elétron livre em resposta ao campo elétrico externo. • Para semicondutores do tipo n, os elétrons livres são os principais portadores de corrente, isto é, n >> p. Portanto, 17 • Esquema da banda de energia eletrônica para um nível de impu- reza doadora localizado dentro do gap de energia, imediatamente abaixo da parte inferior da banda de condução. SEMICONDUTORES EXTRÍNSECOS DO TIPO n Estado doador B a n d a d e v a lê n c ia B a n d a d e c o n d u ç ã o G a p d e e n e rg ia E n e rg ia • Excitação de um estado doador em que um elétron livre é gerado na banda de condução. Elétron livre na banda de condução B a n d a d e v a lê n c ia B a n d a d e c o n d u ç ã o G a p d e e n e rg ia E n e rg ia 18 SEMICONDUTORES EXTRÍNSECOS DO TIPO p • Modelo de ligação eletrônica para a semicondução extrínseca do tipo p. Por exemplo, a dopagem do Si (valência 4) com B (valência 3) gera buracos eletrônicos; uma impureza desse tipo é chamada de receptora. (a) Si Si Si Si Si Si Si Si B Si Si Si (b) Campo E Si Si Si Si Si Si Si Si B Si Si Si (a) O átomo de impureza (B) substitui um átomo hospedeiro de Si, resultando na deficiência de um elétron de valência ou, de forma equivalente, num buraco eletrônico associado ao átomo de impureza. (b) Movimento do buraco eletrônico em resposta a um campo elétrico externo. • Para semicondutores tipo p, os buracos eletrônicos são os principais portadores de corrente, isto é, p >> n. Portanto, p |e| b . 19 • Esquema da banda de energia para um nível de impureza receptora localizado dentro do gap de energia, imediatamente acima da parte superior da banda de valência. SEMICONDUTORES EXTRÍNSECOS DO TIPO p • Excitação de um elétron para o nível receptor, deixando para trás um buraco na banda de valência. Estado receptor B a n d a d e v a lê n c ia B a n d a d e c o n d u ç ã o G a p d e e n e rg ia E n e rg ia Buraco na banda de valência B a n d a d e v a lê n c ia B a n d a d e c o n d u ç ã o G a p d e e n e rg ia E n e rg ia PROPRIEDADES MAGNÉTICAS 20 21 CAMPO MAGNÉTICO H • CAMPOS MAGNÉTICOS são produzidos por cargas elétricas em movimento. Assim, uma corrente elétrica em um condutor gera um campo magnético. Campos magnéticos também podem ser produzidos por magnetos permanentes (ímãs). Neste caso, o movimento dos elétrons (spin e orbital) dos átomos que compõem o magneto é o responsável pelo campo magnético.• LINHAS DE FORÇA são utilizadas para representar o campo magnético. Para cada ponto do espaço, a reta tangente à linha de força fornece a direção do campo naquele ponto. A intensidade do campo se correlaciona com o número de linhas de força que atravessam uma área unitária na direção perpendicular à definida pelas linhas de força. Configurações das linhas de força dos campos magnéticos obtidas com limalha de ferro para três geometrias diferentes de fios que conduzem corrente elétrica e para um magneto permanente (segundo D. Jiles, pág. 5). Fio retilíneo Magneto Permanente Espira circular Bobina onde r é a distância radial em relação ao eixo definido pelo fio. I I L H N voltas CAMPO MAGNÉTICO H H = N I / L H = I / 2 p r (A / m) (A / m) r • A intensidade do campo magnético H criado por um FIO RETILÍNEO longo e que conduz uma corrente elétrica I vale • Quando uma corrente elétrica constante I flui em uma BOBINA formada por N espiras proximamente espaçadas ao longo de um comprimento L, um campo magnético H, aproximada-mente constante, é gerado na região central da bobina. A intensidade de H é 22 INDUÇÃO MAGNÉTICA B • A INDUÇÃO MAGNÉTICA ou DENSIDADE DO FLUXO MAGNÉ- TICO B representa a intensidade do campo no interior de um material sujeito a um campo magnético externo. • A indução magnética B0 no vácuo é • A indução magnética B no interior de um material sólido vale (T ou Wb / m2= V / s-m2) •Definimos a PERMEABILIDADE RELATIVA DO MATERIAL como B0 = 0 H B = H r = / 0 (1) (2) onde 0 é a PERMEABILIDADE MAGNÉTICA DO VÁCUO e vale 0 = 4 p x 10 -7 H / m (ou Wb / A.m). sendo a PERMEABILIDADE MAGNÉTICA DO MATERIAL. L voltas 23 24 ALGUNS COMENTÁRIOS • A expressão B = H representa um análogo magnético da lei de Ohm da eletricidade J = E. Indução magnética (B) Densidade de corrente (J) Campo magnético (H) Campo elétrico (E) Permeabilidade magnética () Condutividade elétrica () • O campo magnético (Ampère/metro) representa um gradiente de energia. • A indução magnética (Tesla=Weber.metro2) representa o número de linhas de campo por unidade de área. • A permeabilidade magnética é uma medida da facilidade com a qual B pode ser induzido num material na presença de H. • Uma diferença importante é que, enquanto a condutividade é uma constante, a permeabilidade varia com H. 25 MAGNETIZAÇÃO • A MAGNETIZAÇÃO M de um material indica como o material responde a um campo magnético externo. Por definição, a magnetização é • A magnetização se correlaciona com o campo magnético por meio da relação B = 0 H + 0 M = µ0H + polarização magnética M = m H (4) (3) • Combinando as equações (1) a (4) obtemos m = r - 1 Assim, M é o campo magnético que leva em conta desvios no valor da indução magnética em relação ao seu valor no vácuo, originados pela presença de um meio material. onde m é a SUSCEPTIBILIDADE MAGNÉTICA do material. 26 UNIDADES MAGNÉTICAS Grandeza Símbolo Unidade (SI) CGS Conversão derivada primária Indução magnética B tesla (Wb/m2) kg / s-C gauss 1 Wb/m2 = 104 gauss Campo magnético H amp-volta/m C/ m-s oersted 1 amp-volta/m = 4p x 10-3 oersted Magnetização M amp-volta/m C/m-s maxwell/cm2 1 amp-volta/m = 4p x 10-3 maxwell/cm2 Permeabilidade magnética henry/m Wb / amp m kg m / C2 sem unidade 4p x 10-7 henry/m = 1 emu Permeabilidade relativa r sem unidade sem unidade sem unidade Susceptibilidade magnética sem unidade sem unidade sem unidade 27 Exemplos: A magnitude do momento magnético m de uma espira de área A que transporta uma corrente I é m = I A. A magnitude do momento magnético mi correspondente a um imã composto por dois polos magnéticos de intensidade p e separados por uma distância d é mi = p d. DIPOLOS E MOMENTOS MAGNÉTICOS • Uma espira de corrente pode ser representada por um DIPOLO MAGNÉ- TICO. Um dipolo magnético, por sua vez, pode ser descrito pelo vetor MOMENTO MAGNÉTICO. N S momento magnético • É possível mostrar que campos magnéticos idênti- cos podem ser produzidos por uma espira de corrente e por um imã. Assim, um dipolo magnético pode ser considerado como sendo um imã. • O TORQUE num dipolo magnético de momento m sob a ação de um campo magnético H é = m ^ µoH • Quando imerso em um campo magnético, um dipolo tende a se orientar na direção do campo devido à ação do torque . 28 O MAGNETISMO DOS MATERIAIS • O momento angular (orbital e de spin) dos elétrons, dos átomos que formam a matéria, dá origem a dipolos magnéticos microscópicos. Esses dipolos magnéticos permitem associar momentos magnéticos aos átomos. Assim, cada átomo pode ser pensado como se fosse um pequeno imã. • A magnetização de um material é definida como o momento magnético dos dipolos por unidade de volume (M=m/V, [Am2/m3=A/m]). • Dependendo da origem dos dipolos magnéticos e da natureza da interação entre eles, os materiais podem ser classificados em uma das seguintes categorias: DIAMAGNÉTICOS – magnetismo fraco (em direção oposta) que existe apenas em presença de H PARAMAGNÉTICOS – momento magnético nos átomos, que apresentam orientação aleatória para H = 0 e orientam-se fracamente (na direção de H) por rotação em presença de H. Permeabilidade relativa menor que 2. FERROMAGNÉTICOS – momento magnético atômico alinha-se paralelamente dentro de domínios mesmo quando H = 0 (permeabilidade relativa maior que 100) ANTIFERROMAGNÉTICOS – acoplamento de spins em direções exatamente opostas (MnO) FERRIMAGNÉTICOS – ocorre acoplamento de spins em direções opostas com cancelamento incompleto (Ferritas – compostos de Fe3O4) 29 O MAGNETISMO DOS MATERIAIS • Consideraremos nesta aula apenas o caso dos materiais Ferromagnéticos. DIAMAGNÉTICOS PARAMAGNÉTICOS FERROMAGNÉTICOS (a) diamagnético, indução de dipolos em direção oposta a H χ < 0 (b) paramagnético, dipolos permanentes dos momentos magnéticos do spin eletrônico μr > 1 χ = 10-5 – 10-2 (c) ferromagnético, momento magnético na ausência de campo H. Valores elevados de χ (106). (c) m = r - 1 B = H r = / 0 30 • Fe, Co, Ni e algumas terras raras são materiais ferromagnéticos na forma elementar. Ferromagne- tismo também é observado em diversos compostos (óxidos, carbonetos, nitretos etc.). • Como a susceptibilidade dos materiais ferromagnéticos é muito elevada, permitindo uma magnetização grande e permanente com a aplicação de H. • Certos materiais metálicos possuem um momento magnético permanente mesmo na ausência de um campo externo e manifestam magnetizações muito grandes que podem ser permanentes. Esses materiais são denominados FERRO-MAGNÉTICOS e essas características representam o FERROMAGNETISMO. FERROMAGNETISMO • Sendo: Para materiais ferromagnéticos m 10 6 H << M B 0 M B = 0 H + 0 M M = m H 31 • Os momentos magnéticos permanentes dos átomos resultam do momento angular de spin. A magnitude do momento magnético associado ao spin de um elétron é conhecida como MAGNETON DE BOHR b. FERROMAGNETISMO • Os momentos magnéticos permanentes são devidos aos momentos de spin não cancelados, ou seja, somente elétrons desemparelhados contribuem para o momento magnético líquido permenente dos átomos. • São ferromagnéticos na forma elementar alguns metais de transição (orbital 3d não preenchido) e algumas terras raras (orbital 4f nãopreenchido). • Nos materiais ferromagnéticos, alinhamentos cooperativos de momentos de spin ocorrem em volumes grandes (em relação ao volume atômico) dando origem aos domínios magnéticos. b = 9,27x10-24 A / m2 32 Parede de domínio Um domínio Outro domínio Parede de domínio DOMÍNIOS MAGNÉTICOS e PAREDES DE DOMÍNIO • A magnitude do campo M para um sólido como um todo é a soma vetorial das magnetizações de todos os domínios, onde a contribuição de cada domínio é ponderada de acordo com a sua fração volumétrica. No caso de uma amostra não magnetizada, a soma vetorial apropriadamente ponderada das magnetizações de todos os domínios é igual a zero. • Os materiais ferromagnéticos são constituídos de regiões volumétricas microscópicas onde os momentos de dipolo magnético se encontram alinhados, tendo a mesma direção e sentido. Tais regiões são chamadas de DOMÍNIOS. Cada domínio está magnetizado até a sua magnetização de saturação. • Geralmente, o tamanho dos domínios está na escala micrométrica e, para um material policristalino, cada grão pode conter mais de um domínio. • Os domínios adjacentes estão separados por CONTORNOS DE DOMÍNIO (ou PAREDES DE DOMÍNIO), através dos quais a direção da magnetização varia gradualmente. A parede de domínio tem uma densidade de energia (J/m2). 33 CURVA DE MAGNETIZAÇÃO INICIAL • B e H não são linearmente pro- porcionais para os materiais ferro- magnéticos. • Uma vez que a permeabilidade, é a inclinação da curva B em função de H (isto é, dB/dH), pode-se observar que varia e é dependente do valor de H. • Ocasionalmente, a permeabilidade inicial i (dB/dH para H = 0) é especificada como uma proprie- dade do material. • A magnetização atinge um valor máximo, chamado MAGNETIZAÇÃO DE SATURAÇÃO (Ms). Curva obtida para B (ou M) em função do campo externo H, para uma amostra ini- cialmente desmagnetizada, à medida que a intensidade de H aumenta. 34 • Inicialmente, os momentos dos domí- nios constituintes estão orientados aleatoriamente de tal modo que não existe qualquer indução magnética B (ou M) líquido. • À medida que um campo H crescente é aplicado, os domínios que estão fa- voravelmente orientados em relação à direção de H crescem às custas dos domínios com orientações desfa- voráveis. • Esse processo continua com o au- mento de H, até que a amostra ma- croscópica se torne um único domínio (ou um mono-domínio), o qual se encontra praticamente alinhado com H. • A saturação é atingida quando esse domínio, por meio de rotação, fica orientado na direção de H. À medida que um campo externo H de magnitude crescente é aplicado, os domínios mudam de forma e de tamanho mediante o movimento das paredes de domínio. MAGNETIZAÇÃO INICIAL e DOMÍNIOS MAGNÉTICOS 35 ESTRUTURA DOS DOMÍNIOS MAGNÉTICOS • Fotomicrografias de um monocris- tal de ferro, mostrando os domí- nios magnéticos e suas altera- ções de forma, à medida que um campo magnético H é aplicado. • A direção da magnetização de ca- da domínio está indicada por uma seta. • Aqueles domínios que estão orientados favoravelmente em re- lação a H crescem à custa dos domínios que estão orientados desfavoravelmente. 36 HISTERESE • Se a partir da saturação inicial (ponto S) o campo H passa a ser reduzido, a curva de magnetização não retorna se- guindo seu trajeto original. Produz-se um efeito de HISTERESE. • O efeito de histerese é gerado pela resistência à movimentação de pare- des de domínio. • A REMANÊNCIA (Br) corresponde a indução magnética B residual na amostra após a retirada do campo H (ou seja, quando H = 0). • A COERCIVIDADE (Hc) corresponde ao campo magnético H necessário para reduzir a indução magnética B no interior da amostra a zero. Indução magnética (B) em função do campo magnético externo (H) para um material ferromagnético saturado ciclicamente em um campo H positivo e negativo (pontos S e S’). O CICLO DE HISTERESE é representado pela linha sólida; a linha tracejada indica a curva de magnetização inicial. 37 • A área compreendida pela CURVA DE HISTERESE corresponde a uma perda de energia por unidade de volume, por ciclo de magnetização-desmagne- tização, liberada na forma de calor perda por histerese. • Materiais MAGNETICAMENTE MOLES perdem pouca energia e são usados em núcleos de transformadores. • Materiais MAGNETICAMENTE MOLES apresentam alta permeabilidade inicial i e baixa coercividade Hc [menor que 1 kA.m-1 (12,5 Oe)]. MATERIAIS MAGNETICAMENTE MOLES m = r - 1 B = H r = / 0 B H Mole Duro 38 • IMÃS PERMANENTES. • Altas remanência, coercividade [maior que 10 kA.m-1 (125 Oe)] e indução de saturação correspondem a altas perdas de energia por histerese. • A energia necessária para desmagne- tizar um imã é dada pelo produto de energia B-H medido no segundo quadrante do ciclo de histerese. Bhmax é a maior área dentro do quadrante, valores maiores de Bhmax correspondem a maiores energias de desmagnetização. • Impedir a movimentação de paredes de domínio, aumenta a coercividade Hc. MATERIAIS MAGNETICAMENTE DUROS PMT 2100 Introdução à Ciência dos Materiais para Engenharia EPUSP - 2008 39 GRAVAÇÃO MAGNÉTICA DIGITAL • Uma das aplicações modernas mais importantes dos materiais magnéticos é no armazenamento de informações nos discos rígidos de computadores onde a gravação magnética digital é utilizada. • Densidades de gravação areal das midias magnéticas perpendiculares: Demostrações de laboratório: entre 420 Gb/pol2 e 600 Gb/pol2 . Limite superior previsto para a tecnologia: 1000 Gb/pol2 (com grãos de áreas ligeiramente superiores a 8 nm2). • Características gerais dos discos rígidos comercias atuais com midia magnética perpendicular: Capacidade de gravação: 320 GB. Massa do dispositivo: um pouco superior a 100g. Densidade de gravação areal : 250 Gb/pol2. Área de um bit de informação: ~ 100nm x 20nm. Nº de grãos por bit de informação: ~ 50 a 100. Diâmetro médio dos grãos: 8 nm. • O limite inferior do volume dos grãos nessa tecnologia é definido pelo limite SUPERPARAMAGNÉTICO. Nesse limite, o a energia associada ao momento magnético dos grãos se torna comparável com a energia térmica (a temperatura ambiente) e o armazenamento de informação não é mais confiável. Polo Principal Polo de Retorno Midia de Gravação Subcamada Mole Referências: Z.Z. Bandic, D. Litvinov e M. Rooks, MRS Bulletin, Vol. 33, 9, Setembro 2008. H.J. Richter e S.D. Harkness IV, MRS Bulletin, Vol. 31, 384, Maio 2006. RESUMO Propriedades elétricas: A corrente elétrica é o resultado da movimentação dentro do material de portadores de carga: elétrons, buracos eletrônicos, cátions e ânions. A condutividade elétrica () do material é uma medida da facilidade de condução de corrente elétrica e depende do número, carga e mobilidade do(s) portador(es): Com relação à condutividade elétrica os materiais podem ser classificados em: condutor, semicondutor e isolante. O modelo de bandas de energia eletrônica dos materiais consegue predizer a condutividade observada nos materiais. Semicondutores extrínsecos são obtidos pela dopagem (expressa em partes por milhão; ppm) formando semicondutores p ou n. Estes semicondutores apresentam maior condutividade e maior estabilidade com a variação da temperatura. = n |carga| RESUMO Propriedades magnéticas: O momento angular (orbital e de spin) dos elétrons dos átomos dá origem a dipolos magnéticos microscópicos. Aos dipolos magnéticos podem ser associados momentos magnéticos. A propriedade magnética do material é resultante das interações entre um campo magnético H e os momentos dipolares magnéticos dos seus átomos constituintes. A magnetização M de um material é definida como o momento magnético dos dipolos por unidade de volume. Ferromagnetismo é a propriedade dos materiais que permite magnetizações grandes e permanentes, observadas em alguns metais. Os spins magnéticos atômicos estão acoplados e alinhados com os momentos de átomos adjacentes. Nos ferromagnéticos a indução magnética B e a magnetização M crescem com o aumento do campo magnético H até a saturação. O ciclo de histerese é obtido pela medida da indução magnética B em função do campo magnético H aplicado até a saturação nos sentidos positivo e negativo (reverso). A área definida pela curva representa a energia de (des)magnetização. A área compreendida no ciclo de histerese define os materiais magneticamente duros ou moles. 42 Capítulos do Callister, 7ª ed (2008) tratados nesta aula Capítulo 18 seções 1 a 7, 9, 10 e 11 Capítulo 20 seções 1, 2, 4, 7 a 10. Outras referências importantes Callister 5ªed - Capítulo 19: seções 1 a 7, 9, 10 e 11. Callister, 5 ª ed, Capítulo 21: seções 1, 2, 4, 7 a 9. J. F. Shackelford Ciência dos materiais, 6ª ed., 2008, Capítulos 15, 17 e 18 D. Jiles em “Introduction to Magnetism and Magnetic Materials”, 1ª edição, Editora Chapman & Hall, reimpressão 1994. B. D. Cullity em “Introduction to Magnetic Materials”, Editora Addison- Wesley Publishing Company, Inc., 1972. R. N. Faria e L. F. C. P Lima em “Introdução ao Magnetismo dos Materiais”, Editora Livraria da Física, 2005. 43 No applet em “http://lectureonline.cl.msu.edu/~mmp/kap18/RR447app.htm” você pode deslocar no espaço duas cargas elétricas, mudar a magnitude (intensidade e sinal) dessas cargas e observar o efeito que essas alterações causam nas linhas do campo elétrico por elas produzido. Em “http://jas.eng.buffalo.edu” (The Semiconductor Applet Service) você encontrará diversas simulações do comportamento de materiais semicondutores. No site “http://britneyspears.ac/lasers.htm” (Britney Spears guide to Semiconductor Physics) além de dar boas risadas, você poderá aprender muito sobre semicondutores. Leia em particular o item: The basics of semiconductors. O site “http://www.educypedia.be/index.htm” contém dezenas de animações sobre os mais variados tópicos científicos (inclusive sobre as propriedades elétricas dos materiais). 44 RESISTÊNCIA ELÉTRICA • O comportamento dos materiais, em resposta à aplicação de um CAMPO ELÉTRICO externo, define as PROPRIEDADES ELÉTRICAS dos materiais. • As propriedades elétricas dependem de diversas características dos materiais, dentre as quais mencionamos a configuração eletrônica, o tipo de ligação química e os tipos de estrutura e microestrutura. • A CORRENTE ELÉTRICA é o movimento de portadores de carga que ocorre dentro dos materiais, em resposta à ação de um campo elétrico externo. São portadores de carga: elétrons, buracos eletrônicos, cátions e ânions. IN F O R M A Ç Õ E S C O M P L E M E N T A R E S RESISTÊNCIA ELÉTRICA LEI DE OHM U … Volts (V) = J / C I … Ampères (A) = C / s R … Ohms () = V / A Unidades SI: U = R I Representação esquemática de um arranjo experimental que permite medir a resistência elétrica de um corpo. Voltímetro Amostra Bateria Amperímetro Resistor Variável Área da seção Transversal, A • Em 1827 Georg Simon Ohm, baseado em evidências experimentais e utilizando o conceito RESISTÊNCIA ELÉTRICA (R) de um corpo, formulou uma lei que relaciona a VOLTAGEM (U) aplicada sobre o corpo com a CORRENTE ELÉTRICA (I) que o atravessa. No applet “http://www.mste.uiuc.edu/users/Murphy/Resistance/default.html” há uma animação em que você pode variar a resistência de um resistor e a voltagem sobre ele aplicada enquanto observa a corrente que flui pelo resistor. Em “http://www.cvs1.uklinux.net/calculators/” você encontrará uma “calculadora da lei de Ohm”. IN F O R M A Ç Õ E S C O M P L E M E N T A R E S 45 46 RESISTIVIDADE E CONDUTIVIDADE ELÉTRICA • Para um corpo cilíndrico de comprimento L e seção transversal de área A (veja a figura da transparência nº 4), define-se a RESISTIVIDADE ELÉTRICA () do material do qual o corpo é constituído por Note que a resistência é uma PROPRIEDADE DO CORPO enquanto a resisitividade é uma PROPRIEDADE DO MATERIAL do qual o corpo é constituído. … Ohms-metro ( .m) = V.m / A Unidade SI: … (Ohms-metro)-1 ( .m) -1 = A / V.m Unidade SI: • A CONDUTIVIDADE ELÉTRICA () de um material é uma medida da facilidade com que ele é capaz de conduzir uma corrente elétrica. Define-se a condutividade elétrica como sendo o inverso da resistividade, = R (A / L) = 1 / Cuidado com a notação! Observe que, de acordo com a notação do livro texto, estamos utilizando a letra “A” para denotar tanto a área da seção transversal do corpo cilíndrico como a unidade de corrente o Àmpere. IN F O R M A Ç Õ E S C O M P L E M E N T A R E S 47 LEI DE OHM • Utilizando o conceito de CONDUTIVIDADE (), a LEI DE OHM determina que a DENSIDADE DE CORRENTE (J) num dado material é diretamente proporcional ao CAMPO ELÉTRICO (E) aplicado sobre o mesmo. J = E E = U/ L … Volts-metros-1 (V/m) = J / m.C J = I/A … Ampères -metros-2 (A/m 2) = C / m 2.s Unidades SI: Observação: O caráter vetorial das diversas grandezas aqui consideradas será omitido em nosso tratamento matemático, ou seja, trataremos apenas de casos de materiais isotrópicos sujeitos a campos elétricos constantes. Como exercício para casa, mostre que as equações U = R I (veja o slide nº 4) e J = E são equivalentes. IN F O R M A Ç Õ E S C O M P L E M E N T A R E S
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