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Desenvolvimento microbiano: Fatores intrínsecos e extrínsecos Caruaru 2018 Profa. Adriana Negromonte NUTRIÇÃO MICROBIANA Dentro de uma célula bacteriana ocorrem reações químicas catalisadas por enzimas. Metabolismo - conjunto de todas as reações químicas Anabolismo Catabolismo (Adaptado de Tortora, G.J., et al., Microbiology,2003) Fissão binária bacteriana. Alongamento da célula Replicação do DNA cromossomal Invaginação da membrana plasmática entre os dois novos cromossomas Encontro das duas paredes celulares crescentes As células se separam formando duas novas células individuais CRESCIMENTO BACTERIANO CRESCIMENTO BACTERIANO CRESCIMENTO MICROBIANO Aumento do NÚMERO de células COLÔNIAS => grupos de células => visualização sem utilização de microscópio. CRESCIMENTO BACTERIANO Taxa de crescimento: variação de número de células ou da massa celular por unidade de tempo; Geração: intervalo em que uma célula origina duas novas; Tempo de geração: tempo necessário para que uma população dobre de número (Tempo de duplicação); CONCEITOS CRESCIMENTO BACTERIANO Curva de crescimento: Fases de desenvolvimento de uma cultura bacteriana. 1. Fase de lag 2. Fase logarítmica (log) 3. Fase estacionária 4. Fase de declínio CONCEITOS CRESCIMENTO BACTERIANO CURVA DE CRESCIMENTO Período de adaptação Pouca ou ausência de divisão celular; Síntese enzimática e de moléculas variadas; Pode ser curta ou longa, dependendo das condições fisiológicas do MO Aumento na quantidade de proteínas, no peso seco e no tamanho celular. CRESCIMENTO BACTERIANO Fase lag Crescimento exponencial das células; Tempo de Geração constante – linha reta no gráfico; Fase que as células estão mais “saudáveis” – utilizadas para estudos enzimáticos e de outros componentes celulares Taxa de crescimento exponencial (progressão geométrica de razão 2). CRESCIMENTO BACTERIANO Fase log Não há crescimento líquido da população; Síntese de vários metabólitos secundários (antibióticos e algumas enzimas); Escassez de nutrientes essenciais, acúmulo de produtos de excreção em concentrações inibitórias, alterações no pH. CRESCIMENTO BACTERIANO Fase estacionária Número de células mortas excede o de células vivas. Declínio = morte CRESCIMENTO BACTERIANO Fase de morte ou declínio CAPACIDADE DE SOBREVIVÊNCIA OU DE MULTIPLICAÇÃO DOS MICRORGANISMOS FATORES INTRÍNSECOS EXTRÍNSECOS Relacionados com as características próprias do alimento Relacionados com o ambiente que o alimento se encontra Fatores intrínsecos Atividade de água (Aa); Acidez (pH); Potencial de oxi-redução (Eh); Composição química; Presença de fatores antimicrobianos naturais; Interações entre microrganismos presentes nos alimentos. Umidade relativa do ambiente; Temperatura ambiental; Composição química da atmosfera. Fatores extrínsecos Água -Necessária para sobrevivência do MO. -Presença na forma disponível (água livre). -Água ligada a macromoléculas não podem ser aproveitada pelos MO. -Parâmetro que mede a disponibilidade de água em um alimento: Aa. Fatores intrínsecos – Atividade de água Atividade de Água - Definição Aa é a quantidade de água livre presente nos alimentos que pode favorecer o metabolismo dos microrganismos. Relação entre a pressão parcial de vapor da água contida no alimento (P) e a pressão parcial de vapor da água pura (Po), a uma dada temperatura. Fatores intrínsecos – Atividade de água Aa = P = umidade relativa Po 100 Adição de sais, açúcares e outras substâncias Redução no valor de P Fatores intrínsecos – Atividade de água Variável em função da natureza da substância adicionada, da quantidade adicionada e da temperatura. Remoção de água – desidratação Congelamento Redução Aa Fatores intrínsecos – Atividade de água Exemplos de alimentos conservados por Redução de Aa Fatores intrínsecos – Atividade de água Aa = 1 - Significa água pura, não há crescimento microbiano. Aa = 0.99 – Existência de ambiente favorável para multiplicação microbiana. Aa = 0.6 - Desfavorece o desenvolvimento de bactérias, mas certos alguns fungos podem reproduzir-se. Exemplo: LEITE •Leite líquido: Aa => 0.99-0.98 => Muito perecível •Leite condensado: : Aa => 0.83-0.9 => relativamente perecível •Leite em pó: Aa => 0.6 => pouco perecível Aa > 0,97 Aa >0,97 Aa > 0,95 Aa 0,97 Fatores intrínsecos – Atividade de água Aa 0,10 Aa 0,91 a 0,99 Aa 0,10 a 0,20 Aa 0,95 a 0,96 Fatores intrínsecos – Atividade de água Os valores de Aa variam de 0 a 0,99 (Aa = 1 só da água pura). Fatores intrínsecos – Atividade de água Alimento Aa Frutas frescas e vegetais >0,97 Aves e pescado frescos >0,98 Carnes frescas >0,95 Ovos 0,97 Pão 0,95 a 0,96 Queijo (a maioria) 0,91 a 0,99 Queijo parmesão 0,68 a 0,76 Carnes curadas 0,87 a 0,95 Bolo assado 0,90 a 0,94 Nozes 0,66 a 0,84 Fonte: Bantwart (1989) Fatores intrínsecos – Atividade de água Alimento Aa Geléia 0,75 a 0,80 Gelatina 0,82 a 0,94 Arroz 0,80 a 0,87 Farinha de trigo 0,67 a 0,87 Mel 0,54 a 0,75 Frutas secas 0,51 a 0,89 Caramelos 0,60 a 0,65 Cereais 0,10 a 0,20 Açúcar 0,10 Fonte: Bantwart (1989) Fatores intrínsecos – Atividade de água Limite máximo para crescimento microbiano – ligeiramente menor que 1,00 Organismos Aa Bactérias deteriorantes 0,9 Leveduras deteriorantes 0,88 Bolores deteriorantes 0,80 Bactérias halofílicas 0,75 Bolores xerofílicos 0,65 Leveduras osmofílicas 0,61 Valores de Aa mínima para multiplicação de MO importantes em alimentos Fonte: Jay (1992) Aa = 0,60 Valor de Aa limite para multiplicação de qualquer microrganismo Aa ótima aumento da fase lag da multiplicação microbiana Atividade de água (Aa) Velocidade de multiplicação e do tamanho da população final Fatores intrínsecos – Atividade de água A Aa limitante para o crescimento de determinado MO depende ainda de outros fatores, como: ▫ pH do meio; ▫ Potencial de óxido-redução; ▫ Presença de substâncias antimicrobianas naturais ou intencionalmente adicionadas. Atividade de água Temperatura Disponibilidade de nutrientes Fatores intrínsecos – Atividade de água Interdependentes Fatores intrínsecos – pH É a medida de acidez ou alcalinidade de uma substância (alimento). Os MO apresentam valores de pH para a sua multiplicação: -Mínimo -Ótimo -Máximo Ph entre 6,5 a 7,5 (neutralidade) Multiplicação microbiana favorecida Fatores intrínsecos – Acidez Os bolores e leveduras mostram maior tolerância ao pH baixo, sendo que os bolores podem multiplicar-se em valores de pH mais baixos que as leveduras. As leveduras são mais tolerantes que as bactérias a valores baixos de pH. Entre as bactérias, as patogênicas são mais exigentes quanto ao pH. Fatores intrínsecos – Acidez CLASSIFICAÇÃO DOS MICRORGANISMOS Segundo PH de desenvolvimento Classificação dos microrganismos de acordo com o pH de crescimento: • Acidófilos • Neutralófilos(6,5-7,5) • Alcalófilos Fatores intrínsecos – pH Fatores intrínsecos – pH Alimentos de baixa acidez = pH > 4,5 Mais sujeitos à multiplicação microbiana (patogênicas e deteriorantes) Alimentos ácidos = pH entre 4,0 e 4,5 Predominância do crescimento de leveduras, bolores e de algumas poucas espécies bacterianas (láticas e algumas espécies de Bacillus) Alimentos muito ácidos = pH < 4,0Bolores e leveduras Fatores intrínsecos – Acidez Fatores intrínsecos – pH Fatores intrínsecos – pH pH desfavorável aumento da fase lag da multiplicação microbiana Acidez (pH) Velocidade de multiplicação e do tamanho da população final Está relacionado à presença ou ausência de oxigênio Mede a capacidade com que um substrato é capaz de se oxidar ou se reduzir. Facilidade com que o alimentos ganha ou perde elétrons Fatores intrínsecos – Potencial de oxi-redução (Eh) Eh + Eh - Os processos de oxidação e redução estão relacionados com a troca de elétrons entre compostos químicos. Quanto mais oxidado é o composto, mais positivo é o seu Eh. Quantos mais reduzido é o composto, mais negativo é o seu Eh. • Bolores • Leveduras oxidativas • Muitas bactérias (causadoras de deterioração de alimentos) • Bactérias patogênicas: Bacillus cereus • Bactérias patogênicas: Clostridium botulinum • Bactérias deteriorantes: Disulfotomaculum nigrificans Fatores intrínsecos – Eh → Eh entre +300 e +400mV Fatores intrínsecos – Eh → Eh em torno de -200mV → Eh entre -20 e -200mV ÁGUA FONTE DE ENERGIA FONTE DE NITROGÊNIO VITAMINAS SAIS MINERAIS Fatores intrínsecos – Composição química Nutrientes necessários para multiplicação microbiana Fontes de energia: açúcares, álcoois, aminoácidos e lipídios. Fontes de nitrogênio: aminoácidos, nucleotídeos, peptídeos e proteínas complexas. Vitaminas: são importantes fatores de crescimento dos microrganismos. Vitaminas do complexo B – biotina e o ácido pantotênico. Minerais: são necessários em quantidade bastante reduzidas, mas são imprescindíveis para as reações enzimáticas. Sódio, potássio, cálcio, magnésio, ferro, cobre, manganês, molibdênio, zinco, cobalto, fósforo e enxofre. Fatores intrínsecos – Composição química A estabilidade de alguns alimentos frente ao ataque de MO é devida a presença de algumas substâncias naturalmente presentes nesses alimentos. Retardar ou impedir a multiplicação microbiana. Fatores intrínsecos – Fatores antimicrobianos naturais Óleos essenciais com atividade antimicrobiana Eugenol Aldeído cinâmico Alicina Timol e Isotimol CLARA DO OVO: Lisozima – enzima capaz de destruir a parede celular bacteriana (Gram +) Outros: Avidina, Conalbumina e inibidores enzimáticos pH desfavorável para o crescimento microbiano (pH entre 9 e 10) Imunoglobulinas, Fator complemento, Macrófagos, Linfócitos Sistema lactoperoxidase (SLP) – bactericida (Gram -) e bacteriostático (Gram +) Lactoferrina, Lisozima, Nisina Fatores intrínsecos – Fatores antimicrobianos naturais Frutas e vegetais: derivados do ácido hidroxicinâmico Frutas e sementes: Taninos; Frutas: Ácidos orgânicos + Óleos essenciais. Fatores intrínsecos – Fatores antimicrobianos naturais Estruturas biológicas (barreiras mecânicas): Conservadores adicionados nos alimentos recurso tecnológico para estender a vida útil do produto. Metabólitos produzidos pelos MO Afetar a capacidade de sobrevivência e de multiplicação de outros MO Fatores intrínsecos – Interações entre microrganismos Bactérias láticas Ácido lático pH Bacteriocinas ATIVIDADE BACTERICIDA Conservadores naturais Fatores intrínsecos – Interações entre microrganismos Os produtos de metabolismo de certas bactérias podem ser essenciais para a proliferação de outras. Lactobacillus lactis spp → NISINA → inibem bactérias Gram+ e a germinação dos seus esporos. Ex.: Pseudomonas aeruginosa → tiamina e triptofano → essenciais para Staphylococcus aureus. Bacteriocinas e bactérias produtoras de bacteriocinas Recurso tecnológico na produção de certos tipos de alimentos/produtos Controlar o desenvolvimentos de MO patogênicos e deteriorantes Conservadores naturais Exclusão competitiva dos MO patogênicos em alimentos Fatores intrínsecos – Interações entre microrganismos Adição de microrganismos inofensivos ao produto Ex: Pela adição de misturas de MO destinados ao controle da contaminação de aves por Salmonella e Campylobacter Fator ambiental mais importante que afeta a multiplicação de MO -35ºC 90ºC Fatores Extrínsecos – Temperatura Ambiental Ampla faixa de multiplicação dos MO CLASSIFICAÇÃO DOS MICRORGANISMOS Temperatura: Otimização das reações enzimáticas Segundo a Temperatura de desenvolvimento CLASSIFICAÇÃO DOS MICRORGANISMOS Microrganismos psicrófilos São capazes de se desenvolver entre 0°C e 7°C, com crescimento visível no prazo de 7 a 10 dias, independente de sua temperatura ótima. Alguns psicrotróficos, no entanto, crescem em temperaturas de até 43°C. Microrganismos psicrotróficos Alimentos refrigerados: agentes de deterioração de carnes, pescados, ovos, frangos etc. Gêneros: Pseudomonas, Alcaligenes, Favobacterium, Micrococcus etc. São aqueles que têm temperatura de multiplicação entre 0°C e 20°C, com um ótimo entre 10°C e 15°C. Segundo a Temperatura de desenvolvimento CLASSIFICAÇÃO DOS MICRORGANISMOS Microrganismos termófilos Crescem em altas temperaturas, têm a temperatura ótima de multiplicação entre 45°C e 65°C, mínima entre 35°C e 45°C, e máxima entre 60°C e 90°C. Gêneros: Bacillus e Clostridium (espécies deteriorantes + espécies patogênicas) Microrganismos mesófilos São aqueles que têm a temperatura ótima de multiplicação entre 25°C e 40°C, mínima entre 5°C e 25°C, e máxima entre 40°C e 50°C. Correspondem à grande maioria daqueles MO de importância em alimentos, inclusive a maior parte dos patógenos. Segundo a Temperatura de desenvolvimento Fatores Extrínsecos – Temperatura Ambiental Tempo x Temperatura para eliminar microorganismos Os fungos são capazes de crescer em faixa de temperatura mais ampla que as bactérias. As leveduras não toleram bem altas temperaturas, preferindo as faixas mesófila e psicrófila. Fatores Extrínsecos – Temperatura Ambiental Correlação estreita: Atividade de água x Umidade relativa do ambiente Alimentos conservados a temperatura ambiente com UR superior à sua Aa → absorção da umidade do ambiente UR = Aa x 100 Fatores Extrínsecos – Umidade Relativa do Ambiente Umidade ambiental inferior à sua Aa → perda de água Alimento em equilíbrio com a atmosfera MODIFICAÇÕES NA COMPOSIÇÃO GASOSA SÃO CAPAZES DE CAUSAR ALTERAÇÕES NA MICROBIOTA QUE SOBREVIVE OU QUE SE MULTIPLICA EM DETERMINADO ALIMENTO. Fatores Extrínsecos – Composição gasosa do ambiente ATMOSFERAS MODIFICADAS Ambientes nos quais o O2 é totalmente ou parcialmente subtituído por outros gases. São empregados como recurso tecnológico para aumentar a vida útil dos alimentos. Mais utilizados: nitrogênio e co2. Outros: monóxido de carbono, óxido nitroso e dióxido de enxofre. ATMOSFERAS MODIFICADAS EMBALAGEM A VÁCUO CARNES CO2 ATMOSFERAS MODIFICADAS 10% CO2: competição com etileno FRUTAS Tempo de armazenamento Estudo das interações entre os vários fatores intrínsecos e extrínsecos que afetam a sobrevivência e a multiplicação dos microrganismos nos alimentos; A ação conjunta de mais de dois fatores podem potencializar ou limitar, o efeito isolado dos fatores sobre os microrganismos; Teoria dos obstáculos de Leistner Prever sua “vida de prateleira”, sua estabilidade microbiológica, capacidade de crescimento e/o produção de toxinas por MO patogênicos Teoria dos obstáculos de Leistner OBJETIVOS: • Impede a deterioração e veiculação de doenças; • Aumenta a vida útil dos produtos; • Garante a qualidade dos alimentos. Combinam-se 2 ou mais métodosde preservação para produzir alimento estável tecnologicamente. Ex: refrigeração e pH acido, ou desidratação e embalagem a vácuo. Liestner, 1992 Teoria dos obstáculos de Leistner Teoria dos obstáculos de Leistner Exemplos: 1) Cada fator contribui com parcela igual no retardo do crescimento microbiano, até o completo bloqueio. Teoria dos obstáculos de Leistner Exemplos: 2) Os fatores apresentam intensidades diferentes. R e Eh: não são essenciais pH: alguma importância Aa e Co: são os principais fatores responsáveis pela estabilidade do produto Teoria dos obstáculos de Leistner Exemplos: 3) Com contaminação inicial baixa, poucos fatores de obstáculos são necessários. Teoria dos obstáculos de Leistner Exemplos: 4) Com contaminação inicial alta os microrganismos ultrapassam qualquer fator de obstáculo, desencadeando processo de deterioração ou possibilidade de envenenamento alimentar. Teoria dos obstáculos de Leistner Exemplos: 5) Efeito trampolim: altos teores de vitaminas e nutrientes possibilitam o desenvolvimento de microrganismos. Os fatores de obstáculos devem agir intensamente para garantir a estabilidade microbiológica. EXERCÍCIO O que deteriora primeiro, o leite em pó ou o leite em caixa? Por quê? Por que a carne salgada tem menor perecibilidade? Referências • FRANCO, B. D. G. de M.; LANDGRAF, M. Microbiologia dos Alimentos. São Paulo: Atheneu, 2008. • FORSYTHE, S. J. Microbiologia da segurança alimentar. Porto Alegre: Artmed, 2005. • TONDO, Eduardo Cesar; BARTZ, Sabrina. Microbiologia e sistemas de gestão da segurança de alimentos. Porto Alegre: Sulina, 2011.
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