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19 UM ESTUDO PRELIMINAR DA ERODIBILIDADE DE ALGUNS SOLOS DA CIDADE DE SALVADOR - BA P. C. Burgos Escola Politécnica, Universidade Federal da Bahia O. M. Vilar Universidade de São Paulo M. A. T. de Alcântara Universidade de São Paulo RESUMO: Este trabalho apresenta resultados de um estudo preliminar da erodibilidade de alguns solos da região metropolitana da cidade de Salvador - BA. Com este objetivo, utilizaram-se os ensaios de sorção e perda de massa por imersão, do Método MCT e um ensaio de penetração de cone, especialmente desenvolvido para esta finalidade, bem como avaliações das características litológicas, pedológicas, físicas e mineralógica dos solos. Constatou-se que os métodos de avaliação da erodibilidade foram eficazes, pois conseguiram separar, com razoável margem de acerto, os solos com distintos comportamento frente à erosão. 1 INTRODUÇÃO A ocupação desordenada nos grandes e médios centros urbanos tornou-se um fato comum, evidenciando cada vez mais a necessidade de implantar-se uma política efetiva de gerenciamento urbano de uso e ocupação do solo que considere os aspectos geotécnicos distintos e peculiares de cada área. É de fundamental importância considerar o meio físico com suas limitações e aptidões, de modo a evitar sérios problemas como: erosões, assoreamentos, escorregamentos, inundações, contaminação do subsolo, dentre outros, os quais, normalmente, se manifestam com conseqüências graves de ordem social, econômica, ambiental, ecológica, etc. Entende-se por erosão do solo, de um modo geral, a ação natural dos fatores físicos, químicos e biológicos, que em conjunto modificam o relevo terrestre. Esse processo pode ser acelerado em função da ação antrópica, que se manifesta, comumente, através de atividades de desmatamento, seguida de cultivo de terras, implantação de obras civis e diversas outras alterações no meio físico, sobretudo quando realizadas de forma inadequada. A erosão hídrica, fenômeno de estudo no presente trabalho, é o destacamento do solo conseqüente da atuação das gotas das chuvas e do escoamento superficial resultante. Burgos (1997) comenta que sendo a erosão um fenômeno comum em muitos de nossos solos, torna-se de fundamental importância estudos que visem caracterizar e quantificar esse processo de desagregação e transporte de materiais da crosta terrestre, de modo a obter- se correlações satisfatórias entre os ensaios de laboratórios e a condição in situ. Apresentam-se, neste trabalho, resultados preliminares de um estudo sobre a erodibilidade de alguns solos da cidade de Salvador, utilizando-se dos ensaios de sorção e perda de massa por imersão do método MCT e um procedimento alternativo de penetração de cone, além de dados litológicos, pedológicos, físicos e mineralógicos dos solos em questão. 20 2. ASPECTOS FISIOGRÁFICOS DA ÁREA EM ESTUDO 2.1 Geologia Em termos Geológico-Geográficos, a cidade de Salvador é dividida em duas partes distintas pela escarpa de linhas da Falha de Salvador, originando o que se acostumou chamar de cidade baixa e cidade alta (Ribeiro, 1991). O citado autor comenta que a cidade baixa é a expressão morfológica da Falha, limite sul oriental da parte emersa da Bacia Sedimentar do Recôncavo. Nos bairros da cidade baixa, afloram sedimentos da Formação Ilhas, membro superior, constituído de conglomerados, siltitos a folhelhos e, na cidade alta, rochas de elevado grau de metamorfismo de facies granulito (básicos, ácidos, intermediários, diabásicos, metabásicos e pegmatitos), que constituem o embasamento oriental da Bacia, além da presença da Formação Barreiras, sedimentos dunares, alúvios e colúvios. 2.2 Clima O clima é tropical quente e úmido, com precipitação média anual de 1.950 mm, não apresentando estação seca e tendo os maiores índices pluviométricos nos meses de março a julho. É constatado que ocasionalmente podem ocorrer médias pluviométricas superiores a 3.000 mm/ano, como nos anos de 1964 e 1989. As temperaturas médias oscilam entre 25 e 30o C, enquanto, a umidade relativa do ar varia entre 75 e 90% (Ribeiro, 1991). 2.3 Relevo Segundo Ribeiro (1991) Salvador apresenta dois tipos de paisagens topográficas: a faixa litorânea, compreendendo uma planície com largura variável e uma faixa continental representada por um platô dissecado do interior para o litoral, com altitude em torno de 70 metros. 2.4 Vegetação A cidade é caracterizada pela presença da Floresta Ombrófila Densa (Mata Submontana Atlântica), ocupando os relevos dissecados e os planaltos com solos profundos; a Vegetação Pioneira é encontrada ao longo dos rios, praias, dunas, lagoas, etc. e as inclusões de Cerrado (Ribeiro, 1991). Observa-se que vasta área dessas coberturas já foram destruídas e é contínuo o processo degradativo por falta de uma política de gerenciamento urbano de uso e ocupação do solo, principalmente, devido às pressões da expansão imobiliária, predominantemente desenvolvendo-se em locais inapropriados e gerando desorganização do meio físico. 3. CARACTERIZAÇÃO DOS SOLOS ESTUDADOS Trabalhos de campo e de laboratório permitiram obter a caracterização geotécnica dos materiais em estudo. A etapa de campo se constituiu de um levantamento das características geológicas, pedológicas e de observações quantitativas da ocorrência ou não de feições erosivas nos taludes de corte e aterros compactados conforme a Tabela 1. Tabela 1. Dados de campo Amostra Litologia Horizonte Nível de erodibilidade 1 granulito compactado B/N 2 granulito compactado B/N 3 granulito compactado B/N 4 granulito B podzólico B/N 5 granulito B podzólico B/N 6 granulito C saprolito B/N 7 granulito B jovem B/N 8 granulito C saprolito B/N 9 granulito C saprolito B/N 10 granulito C saprolito M/A 11 granulito C saprolito M/A 12 granulito C saprolito M/A 13 granulito C saprolito B/N 14 argilito estrato argilosoB/N 16 arenito estrato arenosoM/A 17 arenito estrato arenosoB/N 18 granulito C saprolito M/A 19 granulito C saprolito M/A 20 granulito C saprolito M/A 22 arenito B latossólico B/N 23 arenito B latossólico B/N 24 arenito estrato arenosoM/A 25 siltito estrato siltoso M/A 26 granulito compactado M/A 27 granulito C saprolito B/N 30 granulito C saprolito B/N 31 granulito C saprolito B/N Nível de erodibilidade: baixa a nenhuma = B/N 21 Nível de erodibilidade: média a alta = M/A Por se tratar de uma análise preliminar, resolveu-se separar os níveis de erosão em apenas duas categorias, a saber: baixa a nenhuma erodibilidade (quando a superfície apresenta-se com nenhuma ou pequena erosão: pequenos sulcos intermitentes, pouco solo depositado no pé, etc.) e média a alta erodibilidade (média a intensa remoção de solo, sulcos extensos maiores que 1m de comprimento e profundidades superiores a 10 cm, buracos, ravinas e boçorocas). 3.1 Método Tradicional Afim de se obter a caracterização e classificação dos materiais, foram realizados ensaios de granulometria conjunta, peso específico dos sólidos e Limites de Atterberg. Encontram-se na Tabela 2 um resumo desses resultados compreendendo o limite de liquidez (LL), limite de plasticidade (LP), índice de plasticidade (IP), peso específico dos sólidos (gs) e a classificação pelo sistema unificado de solos (USCS). Tabela 2. Resumo dos ensaios de caracterização e classificação unificada Amostra LL (%) LP (%) IP (%) gs (kN/m 3) Grupo USCS 1 52 33 19 27,4 MH 2 53 32 21 27,6 MH 3 50 31 19 27,1 ML 4 35 20 15 26,7 CL 5 87 41 46 25,2 MH 6 48 34 14 26,6 ML 7 51 34 17 27,2 MH 8 67 51 16 27,9 MH 9 46 37 9 26,1 ML 10 46 33 13 26,5 ML 11 60 38 22 26,9 MH 12 47 36 11 26,7 ML 13 59 39 20 27,0 MH 14 96 48 48 26,1 MH 16 42 30 12 26,1 ML 17 27 17 10 26,3 SC 18 38 26 12 26,1 SM 19 51 32 19 26,3 MH 20 61 38 23 26,9 MH 22 20 16 4 26,0 SM 23 20 16 4 25,9 SM 24 NL NP NP 26,0 SM 25 38 20 18 25,5SC 26 97 48 49 26,2 MH 27 67 44 23 26,5 MH 30 68 50 18 26,4 MH 31 43 34 9 26,2 ML 3.2 Método MCT O sistema de classificação para solos tropicais MCT (Miniatura, Compactado, Tropical), proposto por Nogami e Villibor (1981), utiliza para fins classificatório o ensaio de compactação do procedimento de Mini- MCV e o ensaio de perda de massa por imersão, que em conjunto permitem distinguir os solos de comportamento laterítico dos solos de comportamento não laterítico, independentemente, das considerações geológicas, geoquímicas e pedológicas. Utilizou-se desse método, com o objetivo de obter informações para os materiais em estudo, quando no estado compactado. A classificação MCT, através de sua tabela de propriedades e utilização, permite prever o comportamento e a adequação dos solos para obras compactadas, principalmente às rodoviárias. A Tabela 3 apresenta os resultados dos parâmetros de compactação para a curva de 12 golpes do procedimento de Mini-MCV que possui energia equivalente à energia do Proctor Normal, o índice de perda de massa por imersão (Pi) e o grupo da classificação geotécnica MCT. O índice Pi é calculado através da equação a seguir: Pi = 100* MSSI MSD (1) onde: Pi = perda de massa por imersão (%); MSD = massa seca despreendida (g); MSSI = massa seca saliente inicial (g). *obs.: Fator de correção: quando a massa de solo despreendida mantiver a forma cilíndrica (bolacha) deve-se multiplicar o valor de MSD por 0,5. 3.3 Ensaio de Adsorção de Azul de Metileno O azul de metileno é um corante orgânico que apresenta a composição química C16H18N3SCl.3H2O, ele é denominado quimicamente de cloridrato de metiltiamina (Merck e Co., 1952). 22 Caracteriza-se como um corante catiônico, ou seja, em solução aquosa apresenta-se dissociado em ânions cloreto e cátions azul de metileno. O ensaio de adsorção de azul de metileno permite determinar a atividade mineralógica, a capacidade de troca de cátions e a superfície específica dos solos, de forma eficiente, rápida e econômica. Tabela 3. Parâmetros de compactação, índice Pi e grupo MCT Amostra gd (kN/m 3) wot (%) Pi (%) Grupo MCT 1 17,10 21,60 215 NG’ 2 17,25 20,50 235 NS’ 3 17,30 20,70 144 NG’ 4 14,50 31,00 52 LG’ 5 14,90 30,50 60 LG’ 6 15,50 25,40 130 NG’ 7 15,10 27,50 90 NG’ 8 13,57 35,00 119 NS’ 9 14,10 30,50 108 NS’ 10 16,48 21,30 270 NS’ 11 15,20 27,00 125 NG’ 12 14,85 26,20 295 NG’ 13 15,45 25,40 250 NG’ 14 13,17 36,00 143 NG’ 16 16,30 22,00 172 NG’ 17 19,77 11,60 140 NA’ 18 16,75 19,50 97 NA’ 19 15,92 22,00 275 NS’ 20 14,83 27,60 200 NS’ 22 19,79 11,00 115 LA 23 20,20 10,60 107 LA 24 17,68 12,30 90 LA 25 19,02 14,90 184 NG’ 26 15,40 26,20 122 NG’ 27 14,48 29,00 100 NG’ 30 13,85 31,00 352 NS’ 31 15,15 26,70 120 NA’ NA’= areias siltosas e areias argilosas não lateríticas; NS’= siltes caolíniticos e micáceos, siltes arenosos e siltes argilosos não lateríticos; NG’= argilas, argilas siltosas e argilas arenosas não lateríticas; LA = areias com pouca argila laterítica; LG’= argilas lateríticas e argilas lateríticas arenosas. Fabbri (1994) comenta que na década de 30 começou-se a utilizar corantes para a determinação da superfície específica e capacidade de troca de cátions. Para avaliar os aspectos mineralógicos (atividade e capacidade de troca de cátions) da fração fina desses materiais, fez-se uso dessa técnica de ensaio através do procedimento de Fabbri (1994), que consiste na determinação por titulação do máximo consumo de corante pelo solo através do método da mancha. O citado autor definiu três graus de atividade, a saber: CA<11 (pouco ativo), abrangendo desde materiais inertes até argilo-minerais laterizados; 11<CA<80 (ativos), abrangendo os argilo-minerais dos grupos das caulinitas e/ou ilitas e CA>80 (muito ativos), envolvendo os argilo-minerais dos grupos das montmorilonitas, vermiculitas, etc. A Tabela 4 mostra um resumo dos resultados obtidos do ensaio de adsorção de azul de metileno, compreendendo o coeficiente de atividade (CA) e a capacidade de troca de cátions (CTC) da fração argila dos solos em questão. Tabela 4. Resultados de CA e CTC Amostra CA (10-3g/g%) CTC (meq/100g) 1 23,57 12,06 2 19,60 10,03 3 18,00 10,60 4 11,74 4,76 5 19,53 7,91 6 43,80 19,52 7 37,99 14,82 8 98,45 56,88 9 71,46 42,88 10 27,24 16,35 11 29,68 14,70 12 70,93 31,17 13 26,88 12,16 14 25,00 8,76 16 17,81 9,58 17 12,85 14,86 18 33,44 22,20 19 48,60 21,36 20 55,08 25,27 22 6,95 12,04 23 6,96 12,06 24 13,89 25,49 25 16,87 11,44 26 35,92 16,01 27 61,97 27,23 30 57,96 21,27 31 73,28 33,62 4. AVALIAÇÃO DA ERODIBILIDADE Com o propósito de avaliar a erodibilidade de alguns solos da cidade de Salvador – BA, utilizou-se de dois métodos de ensaios: os ensaios de sorção e perda de massa por imersão (Nogami e Villibor, 1979) que pertencem ao Método MCT e um ensaio de penetração de cone, especialmente, 23 desenvolvido para essa finalidade (Alcântara, 1997). Para os procedimentos citados, fez-se uso de amostras indeformadas, de modo a preservar as características naturais das mesmas. 4.1 Método Nogami e Villibor (1979) O presente método se baseia nos ensaios de sorção (que deve medir a capacidade que a superfície do solo tem de absorver água) e de perda de massa por imersão em água (que mede a resistência do solo à ação da água), que utilizam corpos de prova com dimensões de 40 mm de diâmetro e 20 mm de altura em cilindro de PVC rígido com ponta biselada. Para cada amostra realizou-se uma série de três ensaios e, foram tomadas a média desses valores para o índice de sorção (S) e para a perda de massa (P). 4.1.1 Ensaio de Sorção Consiste em determinar o volume de água sorvido por unidade de área da base do corpo de prova (q) em função da raiz quadrada do tempo (Öt), sendo o índice de sorção (S) o coeficiente angular do trecho inicial retilíneo do gráfico Öt versus q. Os corpos de prova, após pesagem inicial, são, secos ao ar, até constância de massa, e em seguida sujeitos ao ensaio de sorção. 4.1.2 Ensaio de Perda de Massa Finalizado o ensaio de sorção, faz-se uso da amostra embebida d'água para avaliar a perda de massa por imersão (P) em água por um período de 24 horas. Determina-se a perda de massa seca desagregada em percentagem em função da massa seca inicial do corpo de prova, utilizando a seguinte equação: P = 100* MSI MSD (2) onde: P = perda de massa por imersão (%); MSD = massa seca despreendida (g); MSI = massa seca inicial (g). 4.2 Ensaio de Penetração de Cone O referido teste utiliza o equipamento de ensaio normalizado pela BS 1377:1975 (Head, 1980), para determinação do limite de liquidez de solos, com algumas modificações, a saber: o conjunto de penetração teve a sua massa alterada para 300 g e se impôs ao sistema uma altura de queda de 10 mm. Para isso, realizaram-se diversos testes variando-se a altura de queda e a massa do conjunto de penetração em amostras de solos compactados com diferentes graus de compactação, de modo a obter-se um procedimento que fosse reprodutível. Maiores informações, consultar Alcântara (1997). Utilizaram-se corpos de prova de 50 mm de diâmetro e altura. Em cada corpo de prova mede-se a altura de penetração alcançada pela ponta do cone padrão em nove (09) pontos distintos da superfície da amostra, tanto na condição de umidade natural de campo, quanto na umidade de saturação, obtida através do procedimento de colocação do corpo de prova sobre uma pedra porosa saturada. Os valores de penetração saturada (Psat) e natural (Pnat) são obtidos pela média em três ensaios, cujos resultados são plotados em gráfico cartesiano. 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO Neste item são apresentados e discutidos os resultados dos ensaios de previsão da erodibilidade em conjuntocom diversas outras propriedades dos materiais em estudo. Apresentam-se na Tabela 5 os resultados médios obtidos dos ensaios de sorção e perda de massa por imersão em água, do método MCT. Para cada amostra os testes foram repetidos por três vezes. A Figura 1 ilustra os resultados obtidos do método MCT, baseado na relação do índice de sorção (S) e da perda de massa (P). Nogami e Villibor (1979) aplicando o presente procedimento de avaliação da erodibilidade em solos de taludes rodoviários do Estado de São Paulo verificaram que a maioria dos solos com problemas de erosão apresentaram a relação E=52S/P inferior a 1. Empregando o mesmo método em solos da região de Piracicaba-SP, 24 abrangendo diversas Formações Geológicas, Pejon (1992) encontrou a relação E=40S/P. Tabela 5. Índice de sorção (S), perda de massa por imersão (P) Amostra S (cm x t-1/2) P (%) 1 0,217 0,65 2 0,240 1,01 3 0,249 2,53 4 0,262 1,52 5 0,269 0,25 6 0,274 8,09 7 0,277 11,61 8 0,285 3,20 9 0,392 2,62 10 0,254 11,28 11 0,183 3,52 12 0,270 2,24 13 0,480 1,80 14 0,485 14,14 16 0,372 13,19 17 0,637 0,23 19 0,225 16,00 20 0,170 8,38 22 0,487 11,83 23 0,606 13,67 24 0,311 30,14 25 0,317 10,99 27 0,392 2,62 31 0,285 3,20 No caso presente, a relação E=31S/P separou os solos quanto à sua erodibilidade. Pode-se notar, conforme a Figura 1, que a grande maioria dos solos estudados puderam ser separados segundo essa relação, frente ao comportamento de erodibilidade, com exceção das amostras 7, 11, e 12 que posicionaram-se em áreas opostas a situação de campo. A amostra 7 que em campo não apresenta feições erosivas posicionou-se no gráfico em região de materiais erodíveis, sendo esse um solo residual granulítico, pertencente ao horizonte pedológico de transição B-C. Quando da amostragem, o grau de compactação natural (relação entre a massa específica seca natural e a massa específica seca máxima do Proctor Normal) desse material manifestou-se com 87%, correspondendo a um índice de vazios de 1,07, evidenciando uma considerável porosidade. Texturalmente, a amostra é silto-arenosa com pouca argila de média a alta plasticidade (MH). No aspecto mineralógico pertinente a fração fina, obtido pelo ensaio de adsorção de azul de metileno, tem-se predominância de argilo- minerais dos grupos da ilita e caulinita com coeficiente de atividade, CA=38, de material ativo. Uma provável explicação para a discrepância entre as observações de campo e os resultados de laboratório pertinente a amostra 7, é a presença abundante de cobertura vegetal no talude onde se deu a amostragem, podendo desencadear-se o processo erosivo caso o mesmo venha a ficar desprotegido. As amostras 11 e 12, também pertencentes aos solos residuais de rocha metamórfica de facies granulítica, do horizonte C saprolítico pouco intemperizado, com erosão em campo, posicionaram-se no gráfico na área de materiais não erodíveis. A amostra 11, silte de alta plasticidade (MH), em campo possui um grau de compactação natural de 77%, representado por um índice de vazios de 1,29, mostrando-se ser um material bastante poroso. A mineralogia desse solo através do ensaio de adsorção de azul de metileno indica a presença de ilita e caulinita, com coeficiente de atividade CA de solo ativo. Comentando sobre a amostra 12, classificada como um silte de baixa a média plasticidade (ML), possui o mesmo parâmetros bastante semelhantes à aqueles encontrados para a amostra 11 no que se refere ao estado natural de densificação. A mineralogia da parte fina indica a presença de argilo-minerais do grupo da ilita, ou seja, de materiais ativos, possuindo coeficiente de atividade de valor elevado (CA=70,93), valor este próximo do limite de materiais muito ativos (CA>80). A perda de massa dos citados materiais (amostras 11 e 12) manifestou-se com valor muito baixo, característico de solos não erodíveis, em função de tais materiais terem ainda em sua estrutura muitas características herdadas da rocha matriz. As amostra 6 e 14, respectivamente, posicionaram-se no gráfico em região de transição entre o comportamento de solo erodível e não erodível. Em campo esses materiais mostram-se com ausência de problemas erosivos. O solo 6 do horizonte C saprolítico, residual de granulito, em campo apresenta-se sem feições erosivas e com um grau de compactação natural de 80%, tendo sido classificado pelo sistema unificado como um silte de baixa a média plasticidade (ML). A CTC desse material é característica de ilita e o coeficiente de atividade CA=43,80 é de solo ativo conforme Fabbri (1994). Tratando-se do 25 solo 14, residual de rocha sedimentar da Formação Barreiras, do estrato argiloso, que em campo apresenta-se com um elevadíssimo grau de compactação natural de 99%, possui CTC de mineral 1:1 com coeficiente de atividade CA indicando a presença de material ativo com argilo-minerias dos grupos das caulinitas e ilitas. 6 14 9 7 13 17 22 23 24 19 1211 20 1625 10 0 10 20 30 40 50 60 0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 Índice de sorção S (cm x t-1/2 ) P e rd a d e m a ss a ( % ) P = 31 S sem erosão in situ com erosão in situ Figura 1. Índice de sorção (S) versus perda de massa por imersão (P) A Tabela 6 ilustra os resultados do ensaio de penetração de cone para as condições natural e saturada. Tabela 6. Valores da penetração natural (Pnat) e saturada (Psat). Amostra Penetração saturada (mm) Penetração natural (mm) 4 5,92 4,20 5 4,27 3,46 12 8,14 6,26 16 9,92 3,83 17 11,34 3,81 18 9,51 4,72 22 8,17 7,78 24 10,93 6,70 25 9,00 4,64 26 6,68 3,44 27 5,68 4,56 30 7,24 5,36 Alcântara (1997) propôs várias relações a partir das penetrações saturada e natural. Uma das mais simples relaciona Psat e Pnat. Para os solos em estudo, nota-se que Ec=0,67PSat/Pnat>1 indica os solos com problemas de erosão, conforme se pode apreciar da Figura 2. As únicas exceções são as amostras 12 e 17. Igualmente, ao método anterior, a amostra 12 posicionou-se em área de material não erodível contrapondo-se ao seu real comportamento de campo. Por esse material possuir graus distintos de intemperização, apresentando pontos com diferentes resistência ao simples teste de desagregação em água, provavelmente, as penetrações deram-se em pontos onde havia a predominância de material mais resistente, implicando um valor menor de penetração. A amostra 17, areia argilosa (SC), em campo não possui problemas de erosão apesar de sua textura predominante arenosa com poucos finos. Quando dos trabalhos de campo pode-se observar que parte da área de ocorrência desse material apresentava-se protegida por um sistema simples de drenagem superficial e presença de vegetação pouco densa. O grau de compactação natural de 79% indica um índice de vazios de 0,68, tendo esse material coeficiente de atividade (CA) com valor compreendido na faixa limite entre os materiais pouco ativos e ativos, indicando a presença de ilita e caulinita, fato corroborado pela capacidade de troca de cátions. 17 22 5 30 27 4 26 12 24 25 18 16 PNat = 0,67 PSat 0 2 4 6 8 10 12 0 3 6 9 12 15 Penetração saturada (mm) P e n e tr a çã o n a tu ra l (m m ) sem erosão in situ com erosão in situ Figura 2. Penetração saturada versus penetração natural Outras relações envolvem DP=[(Psat- Pnat)/Pnat)].100 e DPA=[(Psat-Pnat)/Psat].100 com o índice de sorção (S) e verificou-se que para os solos em análise as seguintes equações puderam separar com boa fidelidade os solos erodíveis dos não erodíveis: DP=70S+30 e DPA=52S+18, excetuando-se as amostras 12 e 17, conforme as Figuras 3 e 4, respectivamente. A classificação geotécnica MCT possui uma tabela de hierarquização de utilização e adequação para os solosno estado compactado para diversas finalidades e, dentre essas a de 26 proteção à erosão. De acordo com a referida tabela os solos aqui classificados como NS’, NG’ e LA não são recomendados como materiais de proteção à erosão por possuírem características geotécnicas desfavoráveis mesmo após o mecanismo de compactação, que é um procedimento de melhoria dos solos. Já os solos pertencentes aos grupos LG’ e NA’, respectivamente, por esta ordem constituem-se em materiais apropriados para utilização de proteção ao fenômeno da erosão através da referida tabela MCT. 4 5 27 22 17 12 24 25 16 DP = 70S + 30 0 50 100 150 200 250 0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 S (cm x t -1/2) D P ( % ) sem erosão com erosão Figura 3. DP versus índice de sorção S 4 5 27 22 17 24 25 16 12 DPA = 52S + 18 0 10 20 30 40 50 60 70 0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 S (cm x t-1/2) D P A ( % ) sem erosão com erosão Figura 4. DPA versus índice de sorção S 6. CONCLUSÕES O presente trabalho, em caráter preliminar, teve por objetivo estudar a susceptibilidade à erosão de alguns solos da Região Metropolitana da cidade de Salvador. Apesar do reduzido número de amostras abrangendo litologias distintas, os resultados se apresentaram bastante satisfatórios. Os métodos de previsão da erodibilidade, MCT e o alternativo de penetração de cone, mostraram-se eficazes na identificação dos solos de comportamento distintos frente à erosão. A utilização do procedimento baseado nas características de infiltrabilidade e perda de massa por imersão do método MCT mostrou- se eficiente para separar os solos erodíveis dos não erodíveis, à exceção de três amostras que apresentaram discrepâncias entre a situação de campo e os resultados de laboratório. O método alternativo de penetração de cone, também foi capaz de identificar os solos de comportamentos distintos quanto a susceptibilidade à erodibilidade, exceto duas amostras, revelando-se como um procedimento promissor. Pode-se notar que os aspectos mineralógicos (coeficiente de atividade e capacidade de troca de cátions), obtidos do ensaio de adsorção de azul de metileno confirmaram as identificações pedológicas, ao tempo que os materiais do horizonte B mostraram-se pouco ativos e com CTC de mineral do tipo 1:1, enquanto, os materiais do horizonte C saprolítico foram classificados como ativos, fato corroborado pela classificação MCT. Entretanto, os materiais erodíveis e não erodíveis apresentaram-se com coeficiente de atividade e capacidade de troca de cátions com valores semelhantes. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Alcântara, M. A. T. (1997) Estudo da Erodibilidade de Alguns Solos do Estado de São Paulo. Dissertação de Mestrado. EESC/USP. Burgos, P. C. (1997) Aplicação da Classificação MCT e da Técnica de Adsorção de Azul de Metileno a Solos da Cidade de Salvador-Ba. Dissertação de Mestrado. EESC/USP. Fabbri, G. T. P. (1994) Caracterização da Fração Fina de Solos Tropicais Através da Adsorção de Azul de Metileno. Tese de Doutorado. EESC/USP. 27 Head, K. H. (1980) Manual of Soil Laboratory Testing, Vol. 1, Soil Classification and Compaction Tests. Ed. London, Pentech. Merck e Co. (1952) The Merck index of chemical and drugs, Rahway, Merck e Co., Inco. Nogami, J. S. e Villibor, D. F. (1979) Soil caracterization of mapping unites for highway purposes in a tropical area. Bull. IAEG, 19, p. 196-199. Nogami, J. S. e Villibor, D. F. (1981) Uma Nova Classificação de Solos para Finalidades Rodoviárias. Simpósio Brasileiro de Solos Tropicais em Engenharia, Vol. 1, p. 30-41. Pejon, O. J. (1992) Mapeamento Geotécnico Regional da Folha de Piracicaba (Esc.: 1:100.000). Tese de Doutorado. EESC/USP. Ribeiro, L. P. (1991) Alguns Aspectos dos Solos da Cidade de Salvador e suas Relações com Processos de Degradação. Sociedade & Natureza, 3 (5 e 6), p. 59-73. 28
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