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521 UTILIZAÇÃO DO EFEITO FOTOACÚSTICO NA DETERMINAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO PROCESSO DE DESSORÇÃO TÉRMICA J. T. Araruna Jr. UENF / PUC - Rio C. G. Jorge UENF M. G. Silva UENF M. S. Sthel UENF H. Vargas UENF RESUMO: O presente trabalho apresenta uma nova metodologia para determinação da eficiência do processo de desorção térmica na remoção de compostos orgânicos em solos argilosos. O método fotoacústico foi utilizado na determinação da difusividade térmica de uma material puro e contaminado visando a determinar a eficácia da remoção de contaminantes orgânicos. O programa experimental, que consistiu no emprego da desorção térmica em uma argila gorda contaminada com ascarel, revelou que 1) o ascarel pode ser removido com grande eficiência sem que hajam alterações significativas na estrutura do material e 2) a eficácia da desorção térmica pode ser avaliada através do método fotoacústico que envolve uma montagem experimental relativamente simples. 1. INTRODUÇÃO Inúmeros sítios contaminados apresentam uma grande concentração de substâncias orgânicas na zona de aeração e na zona saturada. Em uma matriz permeável, os processos de extração por vapor (soil vapor extraction - SVE) na zona de aeração, e o espargimento de ar (air sparging) na zona saturada, têm obtido relativo sucesso na remoção de parte da fase volátil do contaminante. Entretanto, em países de clima temperado a taxa de transformação de fase entre a fase sólida e a fase gasosa restringe a aplicação desses processos, tornando-os muitas vezes caros e demorados. No intuito de superar essa dificuldade, tem- se aquecido a matriz visando a provocar um aceleramento da taxa de volatização (USEPA, 1995). O avanço da frente de vapor, desloca o solo, a água e o próprio contaminante. As substâncias orgânicas são transportadas pelo vapor para uma zona de condensação onde são extraídas por bombeamento. A injeção de uma água moderamente aquecida (500 C) na zona contaminada pode aumentar a solubilidade de muitos orgânicos que, por sua vez, melhorará a sua remoção através de bombeamento. Por outro lado, a redução da viscosidade permite que a água aquecida os transporte. A vantagem do emprego da água aquecida é que esta não provoca um ambiente agressivo, ao contrário de outros métodos de aquecimento. Ademais, o seu emprego proporciona condições propícias para o crescimento de biomassa que, por sua vez, poderá auxiliar na degradação dos compostos orgânicos. No entanto, esses processos se mostraram bastante ineficazes quando aplicados em solos de baixa permeabilidade, onde o aquecimento induzido por ondas de rádio ou resistência elétrica apresentaram melhores resultados (Orth et al., 1997). O aquecimento da matriz argilosa a temperaturas superiores a 1000 C, provoca a liberação e o transporte de orgânicos por: (1) acréscimo da pressão de vapor e 522 difusividade; (2) aumento na permeabilidade efetiva da argila decorrente da liberação de vapor d'água e do próprio contaminante; (3) aumento da volatilidade do contaminante; e (4) redução da viscosidade que facilita a mobilidade do contaminante (USEPA, 1995). Este processo, conhecido como desorção térmica, separa fisicamente, mas não aniquila, contaminantes voláteis e alguns semi-voláteis de solos, sedimentos e lodos. A avaliação do processo de desorção térmica é efetuada por intermédio de métodos instrumentais em amostras coletadas na zona de tratamento. Entre os métodos instrumentais disponíveis está a cromatografia. A cromatografia a gás tornou-se o procedimento padrão para a detecção e quantificação de uma variedade de compostos orgânicos voláteis (Sawyer et al., 1994). Ela é utilizada na medição dos poluentes designados prioritários pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (USEPA), dos compostos orgânicos que produzem odor e gosto, além dos compostos designados como orgânicos voláteis. Já na detecção e quantificação dos compostos não-voláteis emprega-se a cromatografia líquida de alto desempenho (HPLC). Em ambos os métodos, os compostos orgânicos podem ser determinados com uma boa precisão e com uma resolução na faixa de mg/L. Não obstante as vantagens mencionadas, a realização de análises quantitativas através da cromatografia é ainda bastante restrita no Brasil, sendo efetuada principalmente em Universidades e Centros de Pesquisas. Segundo Rudiger (1999), algumas empresas que atuam no ramo de remediação & contenção de áreas degradadas preferem conduzir as análises no exterior, pois aquelas aqui realizadas demandam um longo tempo e apresentam um alto custo. Neste sentido, o presente trabalho apresenta uma técnica alternativa para a avaliação da eficácia da desorção térmica. O método proposto baseia-se no efeito fotoacústico e apresenta como vantagens: a praticidade, a rapidez e o baixo custo. A validade do método fotoacústico foi acessada por intermédio de um programa experimental, o qual empregou um solo argiloso de origem sedimentar da Região Norte Fluminense impregnado com ascarel. 2. O EFEITO FOTOACÚSTICO O efeito fotoacústico foi descoberto por Alexander Graham Bell (circa 1880). Enquanto trabalhava em seu fotofone, Bell percebeu, acidentalmente, que um som audível poderia ser produzido, quando um feixe de luz solar rapidamente interrompido incidia em uma substância sólida, na forma de diafragma, conectada a um tubo acústico. Em uma série de experimentos posteriores, Bell demonstrou que o efeito fotoacústico era dependente da absorção de luz pelo material na célula. O efeito fotoacústico consiste na geração de um sinal acústico em um gás dentro de uma célula fechada, a partir da absorção de uma radiação modulada pela amostra situada na célula (Rosencwaig, 1976). Ao absorver radiação, a amostra sofre excitação dos seus níveis de energia, os quais após um decaimento não radiativo causam um aquecimento no local. Devido à excitação e desexcitação serem fenômenos periódicos, o aquecimento promovido difunde-se pelo material como uma onda térmica atingindo a interface amostra-gás. O processo de difusão de calor através da amostra promove a geração de um sinal acústico no interior da célula, por três processos principais: difusão térmica, flexão termoelástica e expansão térmica. Estes são dependentes não somente das condições experimentais bem como das propriedades do material a ser estudado. No mecanismo de difusão, a onda térmica gerada pelo aquecimento periódico atinge a interface amostra-gás, transferindo o calor da amostra para uma fina camada do gás. Esta camada, ao ser aquecida, expande-se, gerando uma onda acústica no interior da célula. O mecanismo de geração do sinal, baseado na expansão térmica, ocorre quando a amostra varia sua temperatura média em decorrência do aquecimento pela absorção. A variação cíclica da temperatura, provoca sua expansão periódica, tornando-a semelhante a um pistão vibratório que dá origem à onda acústica no gás. Na flexão termoelástica, há a formação de um gradiente de temperatura ao longo da espessura da amostra, produzindo assim uma expansão diferenciada ao longo dos planos perpendiculares à direção de difusão da onda 523 térmica. Este mecanismo induz a um processo de flexão da amostra (semelhante à vibração da membrana de um tambor), desde que a mesma esteja com as bordas presas. Sendo este um processo periódico, há a geração de ondas acústicas no gás. Devido aos sólidos apresentarem, de uma maneira geral, pequenos coeficientes de dilatação térmica, a contribuição dos mecanismos de expansão térmica e flexão termoelástica na geração do sinal fotoacústico para fins práticos é considerada desprezível. 3. DETERMINAÇÃO DAS PROPRIEDA- DES TÉRMICAS A caracterização térmica de uma amostra pode ser realizada a partir da determinação da difusividade térmica, a. Em termos físicos, a difusividade térmica reflete o tempo de termalização,ou seja, o tempo necessário a um amostra para que esta atinja uma temperatura final de equilíbrio. A difusividade é uma característica inerente a cada material e é altamente sensível a mudanças composicionais e microestruturais. Ela se relaciona à condutividade térmica, ks, de acordo com: a r = k c s (1) onde r é a densidade do material e c o seu calor específico. Ao produto da densidade do material versus o seu calor específico denomina-se capacidade térmica por unidade de volume. A determinação da difusividade térmica envolve uma montagem experimental relativamente simples, conforme ilustra a Figura 1. Ela é composta de um laser como fonte de luz, um modulador light chopper controller, uma célula fotoacústica e um filtro amplificador de sinal Lock-in. As leituras da variação da amplitude e da fase do sinal com a freqüência da luz são enviadas a um computador PC através de uma placa de comunicação. Espelho refletor Amostra Modulador Chopper Microfone (Célula OCP) LASER Argônio Lock-In NICHOP e ORIGIN Figura 1 - Diagrama esquemático da montagem experimental 524 No sistema da UENF, ilustrado na Figura 2, utilizou-se um laser de argônio de 100 mW, um chopper da EG&C modelo 651, um filtro amplificador da EG&C modelo 5210 PAR e uma placa de comunicação da GPIB modelo IEEE-488.1. Figura 2 - Sistema fotoacústico da UENF Utilizando o modelo de Rosencwaig & Gersho (Rosencwaig, 1976) para a difusão térmica em uma célula fotoacústica aberta e considerando que a amostra seja opaca e termicamente grossa (i.e., àquela que apresenta uma espessura superior ao comprimento de difusão térmica), a dependência da amplitude do sinal, S, com a freqüência de modulação pode ser expressa da seguinte forma: S ke L f = - p a (2) onde f é a freqüência de modulação da luz incidente, L é a espessura da amostra, e k é uma constante que inclui fatores como as propriedades térmicas do gás, intensidade da luz incidente, temperatura ambiente, além de fatores geométricos. Aplicando-se o logaritmo neperiano em ambos os lados da Equação 2, obtem-se: ln lnS k L f= - p a (3) o termo ln(k) é o intercepto da curva amplitude do sinal sinal versus freqüência de modulação enquanto o termo L pa é o seu coeficiente angular. Denominado-se de b o coeficiente angular, a difusividade térmica, a, é determinada da seguinte forma: a p= æ è ç ö ø ÷ L b 2 (4) 4. PROGRAMA EXPERIMENTAL O programa experimental consistiu na impregnação de ascarel em um solo argiloso de alta plasticidade. As amostras do solo contaminado foram calcinadas em um sistema de desorção térmica com a temperatura variando de 50 até 6500 C. A partir do solo calcinado, foram moldados corpos de prova em formato de pastilhas para que a concentração de ascarel fosse analisada através do método fotoacústico e comparada com os resultados da análise química elementar por fluorescência de raio-X. 4.1 Materiais 4.1.1. O Sistema de Desorção Térmica O sistema de desorção térmica, ilustrado na Figura 3, foi projetado e desenvolvido no Laboratório de Engenharia Civil da UENF, no âmbito de uma linha de pesquisa para remediação de áreas degradadas. O sistema, que permite submeter amostras de solo à radiação térmica, consiste de um forno, uma unidade de controle de temperatura (UCT) e uma capela para exaustão de gases. O forno foi projetado para calcinar amostras de solos contaminados a temperaturas variando de 50 a 6000 C. Suas características funcionais se assemelham a uma unidade de desorção térmica, que utiliza a eletricidade como fonte de calor para volatizar e remover os contaminantes. O forno, ilustrado na Figura 3, possui um formato cilíndrico vertical, sendo sua estrutura composta de dois tubos cilíndricos de ferro fundido com 500 mm de comprimento, 90 mm de diâmetro interno de 150 mm de diâmetro externo, tendo o primeiro 6 mm de espessura e o segundo 8mm de espessura. Os tubos são 525 Figura 3 - Sistema de desorção térmica instalado na capela para exaustão de gases soldados a uma chapa circular, também de ferro fundido, com 150 mm de diâmetro e 8 mm de espessura. O espaço entre os tubos, é preenchido com mantas compactadas de lã de vidro, visando a um isolamento térmico satisfatório. 4.1.1.1. Forno O forno foi projetado para calcinar amostras de solos contaminados a temperaturas variando de 50 a 6000 C. Suas características funcionais se assemelham a uma unidade de desorção térmica, que utiliza a eletricidade como fonte de calor para volatizar e remover os contaminantes. O forno, ilustrado na Figura 3, possui um formato cilíndrico vertical, sendo sua estrutura composta de dois tubos cilíndricos de ferro fundido com 500 mm de comprimento, 90 mm de diâmetro interno de 150 mm de diâmetro externo, tendo o primeiro 6 mm de espessura e o segundo 8mm de espessura. Os tubos são soldados a uma chapa circular, também de ferro fundido, com 150 mm de diâmetro e 8 mm de espessura. O espaço entre os tubos, é preenchido com mantas compactadas de lã de vidro, visando a um isolamento térmico satisfatório. Os dois tubos de ferro fundido possuem 3 orifícios laterais situados na extremidade superior, por onde passam 3 tubos de vidro de 60 mm de comprimento, 6 mm de diâmetro externo e 3 mm de diâmetro interno. Dois destes orifícios são destinados à entrada e saída da resistência elétrica, enquanto que o terceiro destina-se à saída de gases. No tubo externo foi soldado uma flange com 223 mm de diâmetro e 7 mm de espessura para possibilitar o apoio da tampa, bem como o fechamento do forno através de parafusos rosqueáveis. A tampa, confeccionada em ferro fundido, apresenta 223 mm de diâmetro e 10 mm de espessura. A tampa possui um orifício central de 5 mm de diâmetro destinado à entrada do termopar e quatro orifícios para o rosqueamento dos parafusos de fechamento do forno. Soldada à tampa, têm-se duas alças de ferro fundido utilizadas na sua remoção. Um tubo de carbureto de silício, uma cerâmica que possibilita a aplicação de temperaturas de até 12000 C, com 400 mm de comprimento, 50 mm de diâmetro externo e 6 mm de espessura, foi instalado no interior do forno. O tubo de carbureto de silício foi envolvido com uma resistência de cobre cujas características estão descritas na Tabela 1. A amostra de solo é inserida no forno através de um cadinho. O cadinho consiste de 526 um becker PYREXâ com 29,7 cm3 de volume soldado a uma haste de vidro com 270 mm de comprimento. O conjunto, haste e becker, ao ser inserido no forno, fica apoiado na extremidade do tubo de carbureto de silício. Tabela 1 - Características físico-elétricas da resistência empregada Característica Valor resistência máxima 4,08 W Tensão 127 V corrente elétrica máxima31,13 A potência máxima 3953,51 W 4.1.1.2. Unidade de controle de temperatura A temperatura no interior do forno é medida através de um termopar, cujas características estão descritas na Tabela 2. O termopar, fixo através de um suporte metálico, é inserido através do furo central da tampa e posicionado a uma distância de aproximadamente 10 mm da amostra. Esta proximidade visa a aumentar a área de absorção de calor e assim permitir que este possa medir a temperatura com uma maior exatidão. A unidade de controle de temperatura, ilustrada esquematicamente na Figura 4, consiste de 4 sistemas: ·termômetro - exerce a função de transformar a excitação medida pelo termopar em V em 0C e a envia ao comparador; ·seletor de temperatura - responsável pela escolha da temperatura selecionada pelo operador. Para cada temperatura selecionada, há uma tensão enviada ao comparador, que a envia ao controlador, e em seguida para a resistência no forno; ·comparador - responsável pela comparação da leitura do termopar com a temperaturaselecionada pelo operador. Através do comparador, pode-se emitir uma ordem de cancelamento de tensão para a resistência ou uma ordem de injeção de tensão na mesma; ·controlador - recebe as ordens do comparador para injetar tensão na resistência ou mantê-la constante, controlando, assim, a temperatura interna do forno de acordo com o ajuste de temperatura selecionado pelo operador. Tabela 2 - Características do Termopar Característica Valor Tipo Tipo K Modelo Cromel-Alumel comprimento da haste30 cm Temperatura -200 a 12500 C força eletro-motiz -5,97 a 50,63 mV UNIDADE CONTROLADORA DE TEMPERATURA TERMÔMETRO COMPARADOR CONTROLADOR T2 (V) V Tcomp(V) Tcontr(V) °C T1(V) t (°C) TERMOPAR T=127V SELETOR DE TIPO K TEMPERATURA FORNO °C Figura 4 – Diagrama esquemático da unidade de controle de temperatura 527 A temperatura estabelecida pela unidade de controle é exibida digitalmente utilizando-se de um voltímetro ECB modelo MD 450. Quando a amostra estiver absorvendo a energia emitida pela resistência, a transferência de calor dar-se-á com maior intensidade por irradiação, apesar da existência dos efeitos de condução e de convecção. O efeito da transmissão de calor por condução é realizado através do contato entre a amostra e o cadinho, enquanto que o de convecção é efetuado através da circulação das correntes de gases aquecidos presentes no interior do forno. 4.1.2. A Célula Fotoacústica A célula fotoacústica empregada nos experimentos é uma célula fotoacústica aberta. A célula é dita aberta devido a que a amostra é colocada diretamente sobre o microfone, conforme ilustra a Figura 5. amostra graxa de vácuo Câmara PA radiação incidente diafragma de ele- treto metalizado R V ar placa de metal Figura 5 - Diagrama esquemático da célula fotoacústica aberta O microfone de eletreteto consiste de um cilindro com 10 mm de diâmetro e 9 mm de altura, possuindo no centro de sua face superior uma abertura circular de 3 mm de diâmetro. Situado a aproximadamente 1 mm da abertura está o diafragma de eletreto que se encontra separado por 45 mm de uma placa no fundo do microfone, formando assim um capacitor. A camada metálica, com cerca de 500 a 1000 Å, está ligada à mesma placa por intermédio de um resistor. Ao incidir um feixe de luz modulado sobre a amostra, a flutuação da temperatura faz variar a pressão da câmara de ar entre a amostra e o eletreteto, provocando deflexões na membrana que resultam numa variação de capacitância e, por conseguinte, do potencial elétrico ao longo do resistor. O potencial elétrico gerado é armazenado por um amplificador do tipo Lock-in, que registra a amplitude do sinal e a diferença de fase. 4.1.3. O Solo O solo utilizado neste trabalho é proveniente da sedimentação de material transportado pelo rio Paraíba do Sul. A Tabela 3 apresenta as suas características. Tabela 3 - Características do material empregado Característica Valor Distribuição Granulométrica (NBR 7181) areia fina silte argila 8% 12% 80% Índices de Consistência (NBR 6459 e 7180) LL LP IP 75% 25% 50% Classificação (ASTM D 2487)CH – argila gorda Atividade 0,63 4.1.4. O Poluente Os PCB’s são um grupo de compostos químicos organo-sintéticos, consistindo de cloro, carbono e hidrogênio. Eles podem se apresentar na forma de óleos líquidos ou sólidos, e podem ser incolores ou apresentarem uma coloração amarela suave. Não apresentam gosto nem cheiro, e não se decompõe facilmente no meio ambiente (NRC, 1998). Os PCB’s são de difícil degradação e tendem a se acumular no meio, sendo altamente persistentes, aumentando suas concentrações nas cadeias alimentares ao serem absorvidos pelo animais em seu habitat natural e concentrar-se em seus tecidos (Wentz, 1989). Os PCB’s possuem uma excelente estabilidade térmica (i.e., de difícil queima). Eles são insolúveis em água, mas soluvéis em álcool, éter e benzeno. Apresentam baixa mobilidade no solo, mas podem ser lixiviados com solventes orgânicos. Sua queima gera gases venenosos como dioxina e os dibenzofuranos clorados. Algumas de suas características estão ilustradas na Tabela 4. 528 Tabela 4 - Características dos PCB’s (USEPA, 1998) Característica Valor Ponto de ebulição 255,90 C Ponto de fusão 340 a 3750 C Densidade 1,44 Mg/m3 a 300 C Coeficiente de Henry 3,3x10-4 a 5x10-5 atm.m3/mole a 200 C Coeficiente de sorção, Koc > 5000 Potencial de distri- buição Água Ar solo sólidos em supensão sedimentos aquáticos 0-1,8% 0-34% 33-52% 0,05-0,08% 30-50% No Brasil, entre os PCB’s mais utilizados destaca-se o ascarel (3-3’-4-4’-5 penta-cloro- bifenil). 4.2. Métodos 4.2.1. Impregnação e Contaminação Os materiais utilizados para a impregnação foram: capela p/ exaustão de gases balão volumétrico 100 mL ascarel pêra de borracha solo macerado beckers de 100 mL e 1000 m L hexano bastão de vidro NaOH 5M papel alumínio álcool hidratado pipeta Pasteur Como primeiro passo, lavou-se o material vítreo com álcool no becker de 1000 mL e depois acrescentou-se 10 mL de NaOH no resíduo da lavagem para “neutralizar” qualquer tipo de impureza e para, em seguida, descartá- lo. Em seguida, com a finalidade de fornecer melhor poder de infiltração do ascarel no solo, já que a viscosidade do mesmo dificulta tal execução, preparou-se na capela uma solução de ascarel/hexano 1:1 em um balão volumétrico utilizando a pêra de borracha. Procedeu-se então a homogeneização da solução A solução 1:1 homogeneizada foi posta no becker de 100 mL junto com o solo macerado. Cobriu-se a boca do becker com papel alumínio e perfurou-se com uma ponta cortante pequenos orifícios no papel para a exaustão do hexano da amostra contaminada. Decorrido o tempo necessário para a evaporação do hexano a amostra foi rotulada e armazenada para a calcinação. 4.2.2. Calcinação Foram preparadas 13 amostras do solo puro e 13 amostras do solo contaminado, cada uma com massa de aproximadamente 25 g, para serem calcinadas no sistema de desorção térmica. Separou-se 2 amostras, uma pura e outra contaminada, para serem analisadas à temperatura ambiente (controle). As outras 24 amostras foram submetidas às temperaturas de 50, 100, 150, 200, 250, 300, 350, 400, 450, 500, 550 e 6000 C. 4.2.3. Moldagem das pastilhas As amostras calcinadas e as de controle foram moldadas em formato de uma pastilha com 31 mm de diâmetro, 2,7 mm de espessura e com massa de aproximadamente 4,4 g. Para a moldagem utilizou-se de uma prensa hidráulica de 10 t e de um molde de aço temperado. Ao todo, foram moldadas 6 seqüências de 13 amostras de solo com temperaturas variadas, sendo 3 seqüências de 13 amostras de solo puro e 3 seqüências de 13 amostras de solo contaminado. 4.2.4. Análise química elementar por fluores- cência de raio-X O equipamento utilizado na análise química qualitativa foi o espectômetro de fluorescência de raio-X Seifert modelo VRA 35. Através desse tipo de análise observou-se a redução da intensidade de cloro no solo, já que o cloro constitui-se no principal elemento indicador da presença de ascarel no solo. Para que se possa relacionar a intensidade de cloro no solo com a sua concentração foi necessário realizar uma conversão através de uma curva de calibração. Neste sentido, impregnou-se 5 amostras de solo com uma solução de hexano e ascarel em diferentes concentrações, de acordo com: 529 0% de ascarel - solução de 100 mL de hexano 25% de ascarel - solução de 25 mL de ascarel + 75 mL de hexano 50% de ascarel - solução de 50 mL de ascarel + 50 mL de hexano 75% de ascarel - solução de 75 mL de ascarel + 25 mL de hexano 100% de ascarel- solução de 100 mL de ascarel As amostras de solo foram moldadas em pastilhas e analisadas para a obtenção da intensidade de cloro. Como resultado da análise, obteve-se uma de intensidade de cloro (em cps) versus concentração de ascarel. 4.2.5. Análise mineralógica por difratometria de raio-X As pastilhas de solo puro e contaminado calcinadas a diferentes temperaturas empregadas na análise química elementar por fluorescência de raio-X foram analisadas no difratômetro de raio-X do Departamento de Ciência dos Materiais e Metalurgia da PUC- Rio. Utilizou-se o método do pó para avaliar as modificações mineralógicas decorrentes do processo de calcinação (Klein & Hurlbut Jr., 1993). 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES A Figura 6 mostra que o aquecimento induzido da argila gorda contaminada com ascarel, no sistema de desorção térmica, provocou uma redução na leitura da intensidade de cloro, enquanto que a leitura da intensidade de cloro na amostra pura manteve- se praticamente constante. Na verdade, a Figura 7 revela que a concentração da amostra controle que era de cerca de 25000 ppm foi reduzida a cerca de 282 ppm após a sua calcinação a uma temperatura de 6000 C por uma hora. Esta redução corresponde a uma taxa de remoção de 99,89%. A grande vantagem da desorção térmica sobre a incineração reside no fato da primeira separar fisicamente, mas sem destruir, os contaminantes. O solo após o tratamento, pode ser novamente utilizado em atividades agrícolas ou como material de construção. A incineração, por sua vez, promove a completa destruição das propriedades físico-químicas do solo, transformando-o em cinzas. Os resultados apresentados nas Figuras 8 e 9 corroboram com essa afirmação. 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 0 100 200 300 400 500 600 temperatura (0C) in te n si d ad e (c p s) puro contaminado Figura 6 – Efeito da desorção térmica na argila gorda contaminada com ascarel térmica 0 50000 100000 150000 200000 250000 300000 0 100 200 300 400 500 600 700 temperatura (0C) co n ce n tr aç ão ( p p m ) 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 % r em o çã o Cl % Cl removido Figura 7 – Concentração de cloro e percentagem de sua remoção devido à desorção térmica A Figura 8 mostra a intensidade das leituras de cloro, alumínio e silício efetuadas pelo espectômetro de fluorescência de raio-X na argila gorda contaminada quando submetida a desorção térmica. Observa-se uma drástica redução nas leituras de cloro quando comparadas às de alumínio e silício, que se mantiveram praticamente constante. À primeira vista, os resultados apresentados na Figura 8 sugerem que o aquecimento da matriz argilosa provocou somente a liberação do ascarel. De fato, a Figura 6 revela que a intensidade da leitura de cloro no material contaminado calcinado a 6000 C é semelhante à do material puro calcinado à mesma temperatura. 530 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 0 100 200 300 400 500 600 temperatura (0C) in te n si d ad e (c p s) cloro silício alumínio Figura 8 – Variação da intensidade das leituras de cloro, alumínio e silício com a temperatura O aquecimento de uma matriz argilosa provoca gradativamente a perda da água livre e de constituição dos minerais, provocando alterações mineralógicas. Isso está evidente na Figura 9, que mostra as curvas referentes ao solo contaminado e ao solo contaminado calcinado à temperatura de 5500 C. 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 0 5 10 15 20 25 30 2qq in te n si d ad e (c p s) 25 graus 550 graus caulinita gibsita Figura 9 – Difratometria do material contaminado e do material contaminado calcinado a 5500 C As alterações mineralógicas observadas foram típicas de um material natural puro. A caulinita, o constituinte principal, com o aquecimento transformou-se em metacaulinita. Já a gibsita, com o aquecimento perdeu a sua água de hidratação, provavelmente a uma temperatura próxima a 2400 C. Os resultados sugerem que não houve nenhuma reação química que pudesse amorfizar a estrutura do argilomineral. Apesar da desorção térmica não alterar de uma maneira significativa a estrutura de um solo a ser tratado, ela só é empregada quando apresenta uma eficácia semelhante à da incineração. Essa é uma prática corrente, mesmo nos países avançados, pois a incineração ainda se constitui no processo predileto das indústrias e órgãos governamentais. A Figura 10 mostra a variação da difusividade térmica com o aumento da temperatura para o solo puro e para o contaminado. Sendo a difusividade térmica uma propriedade extremamente sensível a mudanças composicionais e microestruturais de um dado material, era de se esperar que a sua magnitude fosse influenciada pela presença de um contaminante neste. De fato, a Figura 10 revela que os valores da difusividade térmica do material puro e do contaminado vão ficando próximos à medida que o cloro vai se volatizando. 0,4 0,42 0,44 0,46 0,48 0,5 0,52 0,54 0,56 0 100 200 300 400 500 600 700 temperatura (0C) d if u si vi d ad e té rm ic a puro contaminado Figura 10 – Variação da difusividade térmica com a temperatura para as amostras pura e contaminada Essa mesma figura ainda sugere que o processo de desorção térmica atinge a sua máxima eficácia em torno de 5000 C, quando se estabiliza a diferença dos valores de difusividade térmica entre o material contaminado e o material puro. Este valor é semelhante ao obtido através da análise química por fluorescência de raio-X, conforme ilustra a Figura 7. Através desta figura, contata-se que a percentagem de remoção de cloro a 5000 C é bem próxima a 100%, e que esta pouco varia a partir deste patamar. A comparação dos valores obtidos em ambas as análise sugere que o método fotoacústico pode ser empregado na determinação da eficácia da desorção térmica. O método fotoacústico é mais vantajoso à medida que este envolve uma montagem experimental relativamente simples em contraste com a complexidade de um espectômetro de fluorescência de raio-X. No 531 tocante à interpretação dos resultados, a difusividade térmica é determinada através de uma regressão pelo método dos mínimos quadrados, disponível em grande parte das planilhas eletrônicas, enquanto que a interpretação dos resultados da fluorescência é bastante complexa e requer software dedicado. Em relação às análises por cromatografia, o método fotoacústico apresenta as seguintes vantagens: preparo do corpo de prova – as amostras para análises por cromatografia precisam ser extraídas por pessoal qualificado, em um ambiente adequado. material de consumo – as análises por cromatografia necessitam de diferentes tipos de reagentes e de colunas para cada tipo ou família de contaminantes. interpretação dos resultados - as análises por cromatografia necessitam de pessoal qualificado. 6. CONCLUSÕES O dispêndio de energia gera um alto custo na utilização dos processos físico-térmicos em relação a outros processos físicos, químicos e biológicos de remediação. A desorção térmica surgiu da necessidade de se elaborar um processo de menor custo, mas mantendo uma eficácia semelhante à da incineração. O programa experimental demonstrou que a desorção térmica é bastante eficaz no tratamento de solos finos contaminados com compostos orgânicos que apresentam alta persistência e baixa mobilidade, como o ascarel. Já a eficácia da desorção térmica pode ser avaliada através do método fotoacústico, que envolve uma montagem experimental relativamente simples. De fato, a simplicidade da técnica fotoacústica lhe confere inúmeras vantagens sobre as análises químicaspor fluorescência de raio-X e por cromatografia. 7. AGRADECIMENTOS Os autores manifestam seus agradecimentos a Fundação Estadual Norte Fluminense pelo apoio financeiro recebido. 8. REFERÊNCIAS ASTM D 2487 (1994). Standard Test Method for Classification of Soils for Engineering Purposes. Annual Book of ASTM Standards, Vol. 04.08. American Society for Testing and Materials, Philadelphia. Klein, C. and Hurlbut Jr., C.S. (1993). Manual of Mineralogy (21st. Edition). John Wiley & Sons, New York. NBR 6459 (1998). Solo - Determinação do Limite de Liquidez. Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro. NBR 7180 (1998). Solo - Determinação do Limite de Plasticidade. Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro. NBR 7182 (1998). Solo - Análise Granulométrica. Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro. Orth, R., Dauda, T. and Mckenzie, D.E. (1997). Development of an integrated in situ remediation technology. U.S. Department of Energy Contract Number: DE-AC05- 96OR22459. Rudiger, F. (1999). Comunicação pessoal. Rosencwaig, A. (1976). Photoacoustics and Photoacoustic Spectroscopy, John Wiley & Sons, New York. Sawyer, C.L., McCarty, P.L. and Parkin, G.F. (1994). Chemistry for Environmental Engineering (4th. Edition). McGraw-Hill International Editions, Singapore. USEPA (1995). In situ remediation technology status report: thermal enhancements. Report Number: EPA/542-K-94-009. Wentz, C.A. (1989). Harzardous Waste Management. McGraw-Hill International Editions, Singapore.
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