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Trabalho de introdução ao teatro

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FACULDADE DE FILOSOFIA LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Departamento de Letras Modernas
Área de Estudos Linguísticos e Literários em Inglês
Introdução ao Teatro
Docente: Maria Sílvia Betti
Discente: Gabriela da Silva Santana NºUSP 8572365 Período: Matutino
In his famous work Theory of the Modern Drama (1956), Peter Szondi (1929-1971) formulated this hypothesis: “The one-act play is not a drama in miniature, but a part of the drama standing as [a] totality”.
Quando o drama passa a apresentar apenas um ato, transforma-se junto a esse princípio formal algo acerca do conteúdo da peça. Não significa, simplesmente, que o drama tenha encolhido e passado a caber numa estrutura mais enxuta. Szondi explica que a peça de um só ato “não é um drama em miniatura, mas uma parte do drama que se erige em totalidade”. O drama se quebra e uma das partes que antes compunham o todo agora ganha autonomia, mas sem tornar-se uma nova totalidade de três termos, e sim mantendo seu aspecto fragmentário – o que remete à categoria alegórica.
Se essa parte, agora fragmentada e isolada, partilha com a forma dramática tradicional o seu ponto de partida, isto é, a apresentação da situação, ela não conta mais com a engrenagem dialética capaz de modificar essa situação de origem nos momentos seguintes. Já que a peça de um único ato não tem o segundo ato ao qual se dirigir, ela deixa de comportar a luta e a intriga, não sendo também conduzida a uma solução, o que corresponderia ao terceiro ato. Em resumo, tal peça não partilha com o drama tradicional o sentido progressivo de uma ação.
No final do séc XIX, com a “crise do drama”, o modelo tradicional de obras dramáticas sofre alterações em alguns de seus aspectos essenciais. As novas formas de texto que se desenvolveram a seguir apresentavam variedades de uma “epicização”, fazendo com que o teatro épico originasse novas tendências.
Algumas características centrais da obra de Bertolt Brecht são descritas por Anatol Rosenfeld em seu livro “O teatro épico”, como a exposição do homem em processo transformador de si e do mundo, a importância da situação histórica, o combate à concepção fatalista da tragédia e a “desmistificação”. 
Como exemplo dessas características pode-se citar a peça “A vida de Galileu” escrita por Brecht em 1966. A começar pela exposição do homem como um ser transformador temos o próprio personagem Galileu, que pelos recortes através do tempo, percebemos a sua mudança no pensar e no agir, além de o percebemos como ser transformador do mundo. Também é possível notar essa ação transformadora em Andrea que no inicio o vemos menino e depois já adulto, seguindo os ensinamentos de Galileu e buscando suas próprias descobertas.
A situação histórica era muito importante para Brecht e foi fortemente retradada na obra de Galileu. Vemos isso através das datas antes das cenas e dos recortes e saltos através do tempo, que focalizam a narração e não a ação, assim as cenas são isoladas. Essa construção da peça, com seleção de algumas cenas ao longo da vida de Galileu permite a Brecht o distanciamento e o enfoque na situação histórica, podendo assim problematizá-la e despertar no público a reflexão e a tomada de ação para transformar a sociedade presente, criando assim o “palco científico”. Com isto ele quer mostrar ao público que as desgraças do homem são históricas e que podem ser superadas, como o fato da Igreja na época impedir a repercussão das descobertas científicas que fossem contra o que ela ensinava, sendo elas verdadeiras ou não. 
Galileu não tem um fim trágico fatal por pré-destinação mística. Ele é regido pela situação histórica em que se insere. A sua vida não é retradada como um herói com seu destino já definido, onde as circunstâncias pelas quais ele passa são devido a sua situação metafísica. Ou seja, Brecht busca “desmistificar” esse conceito do homem como simples “natureza humana” e a tragédia devido a situações metafísicas.
No teatro épico de Brecht, o drama social do naturalismo vem à tona a partir da contradição entre temática social e forma dramática. O drama épico se opõe ao drama Aristotélico. No gênero épico, a narração irá se desdobrar em sujeito (narrador) e objeto (mundo narrado). As relações não são mais inter-humanas individuais, pois o ser humano passa a ser concebido como um conjunto de todas as relações sociais.
Além disso, o espectador se torna um observador que deve tomar decisões. O teatro de Brecht torna o palco científico capaz de esclarecer o público sobre a sociedade e a necessidade de transformá-la. Pretende suscitar no público a ação transformadora. Não combate a emoção, o que pretende é elevá-la ao raciocínio. Visa ao prazer do público e defende que, mesmo sendo didático, o teatro deve ser divertido. Brecht cria a técnica de “Distanciamento”, com o objetivo de fazer o espectador estranhar as coisas familiares e se convencer da necessidade de intervenção transformadora. Assim, a teoria do distanciamento é, em si mesma, dialética, pois tornar estranho é tornar conhecido. Além disso, o ator épico deverá narrar o seu papel com o “gestus” de quem mostra um personagem, mantendo certa distância dele. Desta forma, o ator-narrador ao distanciar-se deve revelar a sua opinião sobre o personagem. Este processo interrompe a ilusão, e com isso também a catarse.
“(…) o presente passa e se torna passado, mas enquanto tal já não está mais presente em cena. Ele passa produzindo uma mudança, nascendo um novo presente de sua antítese” (SZONDI, 2001, P.32).
Henrik Ibsen coloca a sociedade no palco, como uma das grandes obras do autor norueguês, An Enemy of the People (Um inimigo do povo - 1882). A peça do século XIX apresenta a história de Dr. Stockmann, um médico cientista que descobre que as águas de um balneário de uma cidade da Noruega estão contaminadas, e se vê na obrigação de revelar esta informação à população da cidade. No entanto, quando Dr. Stockmann se propõe a dizer a verdade aos moradores da região, ele acaba enfrentando os interesses desta população, que dependia da renda advinda do turismo do balneário para sobreviver, e os interesses do poder político local, que lucrava com tal turismo (poder político que inclui, por exemplo, o irmão de Dr. Stockmann e prefeito da cidade, Peter Stockmann). Ao ser fiel às suas concepções do correto e do verdadeiro, o cientista tenta, de todo modo, alertar a população sobre a poluição das águas, mas recebe a rejeição e as represálias deste povo e de sua elite, e se torna, assim, o “inimigo” de seu povo.
O que costuma chamar a atenção no autor é a forte presença do passado em suas peças, num gênero literário (o dramático) que valoriza sobremaneira o presente (já que vemos o palco teatral, em geral, a ação ocorrida aqui e agora). Szondi (2001) comenta sobre o dramaturgo norueguês e aquilo que ele chama de “técnica analítica” presente em Ibsen. Esta consistiria no fato de que o que é desenvolvido no tempo presente do palco torna-se, na verdade, resultado e consequência das ações passadas das personagens – ações passadas estas que não aparecem em cena, a não ser por meio, por exemplo, de narrações que surgem nos diálogos das peças. Tal característica da obra de Ibsen acaba fazendo com que a análise do processo temporal, com sua origem no passado, seja mais importante do que o que acontece no tempo presente do palco. 
“O presente de Ibsen é relativisado pelo passado que ele tem de revelar como seu objeto.” (SZONDI, 2001, p.93)
Vemos essa repercussão do passado após o médico ler a carta das autoridades sanitárias e confirmar suas suspeitas: “O Balneário todo nada mais é do que um sepulcro envenenado. Perigosíssimo para a saúde pública! E esse maldito lixo envenena as águas e vai até a praia...”. Ou seja, a ação dele investigar o balneário, escrever para as autoridades sanitárias já aconteceu. Assim como as eleições, ou a difícil relação entre ele e seu irmão, remetem ao passado e não apenas ao presente. Ou como as decisões do editor do jornal, que no início apoia o médico
“Quando tomei a direção da Voz do Povo foi com a ideia de acabar com esses velhos aproveitadores que dominam o poder!”, mas sendo lembrado pelo doutor de uma situação do passado fica mais cauteloso “Tivemos que nos deixar calar (...). Mas um jornalista com tendências democráticas, como eu, não pode deixar escapar esta grande oportunidade. É preciso acabar com a velha lenda da infalibilidade dos homens que nos dirigem” e por fim acaba mudando de lado.
Podemos classificar a obra como drama, em que há o diálogo intersubjetivo entre as personagens e a busca de um indivíduo (Dr. Stockmann) por um ideal (o de trazer melhorias à sua cidade, por meio do saneamento do balneário), sendo que este indivíduo tem que enfrentar obstáculos para conseguir os seus objetivos (neste caso, enfrentar uma população que é contrária à ideia de reforma no balneário). No entanto, a peça possui uma presença tão forte do aspecto social que esta forma, que se dirige ao indivíduo, acaba se tornando “limitada” para esta análise do âmbito social. Isso é exemplificável quando, no quarto ato, há uma reunião na casa do capitão Horster (um dos poucos a apoiar Dr. Stockmann até o final da peça) para se debater as questões concernentes à cidade – debater se o cientista está certo em suas convicções ou não, em que praticamente todos acabam por condená-lo como o “inimigo do povo”. Nesta passagem, há quase que uma “assembleia pública”, com muitas pessoas presentes, e a esfera do público emergindo diante dos espectadores. A matéria a ser mostrada em palco (discussão de questões de ordem social, relativas ao balneário) fica tão “apertada” no drama (que não focaliza a ordem social, mas o indivíduo como personagem) como aquelas inúmeras pessoas estavam “confinadas” dentro de um pequeno cômodo numa casa particular. Esta tensão entre forma dramática e matéria a ser representada, presente nos textos de muitos autores do século XIX - dentre eles, Ibsen – levarão a novas concepções de teatro no século XX, como o teatro épico de Brecht (Szondi, 2001).

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