Buscar

trabalho de antropologia

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES – CAMPUS I
CURSO LICENCIATURA EM CIÊNCIAS SOCIAIS
 ANTROPOLOGIA NO BRASIL
 
 IDENTIDADE NACIONAL
 A luta do negro para expressar sua cultura como parte de uma identidade nacional.
JOÃO PESSOA
2016
 
DISCIPLINA: ANTROPOLOGIA NO BRASIL
 DOCENTE: NIVALDO A. LÉO NETO
 DISCENTE: JANAINA CORREIA LUCAS
 IDENTIDADE NACIONAL
 A luta do negro para expressar sua cultura como parte de uma identidade nacional.
Nos dias atuais tem sido comum e, até virado moda a presença dos negros em eventos de repercussão mundial como por exemplo aberturas e encerramentos de Olimpíadas e Copas do mundo e, até as empresas de marketing tem inserido mais negros em propagandas de vários tipos de produtos. Nas novelas também é mais natural vermos alguns protagonistas negros e não apenas as atrizes negras fazendo papéis de empregadas domésticas e os negros de chofer.
Nos espaços midiáticos essa inserção do negro também faz com que as grandes empresas de produtos e emissoras de tv faturem mais,pois, mostram que estão de olhos abertos à diversidade e ganham aceitação da sociedade e claro retorno financeiro. Porém na realidade os negros ainda precisam lutar muito por um espaço na sociedade brasileira, onde o discurso da diversidade e valorização da cultura negra, apesar de ter alcançados alguns avanços significativos, não tem passado na maioria das vezes de um “discurso e nada mais”.
Se faz necessário então uma breve análise sobre como o negro ao passar dos anos tem ainda trazido com ele esse estigma social de criminalidade, seja através e principalmente da cor, como também através de suas expressões culturais como por exemplo a capoeira ou sua própria religiosidade. É importante ressaltarmos alguns intelectuais que contribuíram para que esse “status” de criminoso fosse agregado ao negro, dentre eles o médico precursor da medicina legal Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906). Apesar disso, Nina Rodrigues foi o responsável por um clássico da literatura afro-brasileira, Os Africanos no Brasil (1890-1905), uma obra rica de informações e dados sobre o universo cultural das comunidades negras no Brasil, um extenso trabalho etnográfico sobre a cultura negra.
NINA RODRIGUES E A CIÊNCIA COMO DETERMINANTE PRINCIPAL NA CRIMINALIZAÇÃO DO NEGRO
Raimundo Nina Rodrigues é considerado por grande parte da comunidade científica e intelectual como o responsável por elevar a medicina legal à condição de disciplina científica, principalmente na Faculdade de Medicina da Bahia onde, a medicina legal se tornou disciplina em 1895.
Com forte influência do evolucionismo da época bem como da Antropologia Criminal, ele escreve As Raças Humanas e a Responsabilidade Penal no Brasil (1894), dedicando a obra à médicos e juristas consagrados da época dentre eles Cesare Lombroso que tinha uma teoria evolucionista baseada em dados antropométricos para justificar a criminalidade, onde a anatomia revelaria o criminoso, bem como suas características herdadas. Esses cientistas tinham a ciências como respaldo para suas conclusões teóricas, e desse modo a ciência era utilizada para perpetuar a desigualdade social e, a criminalização dos negros.
O discurso biológico determinista condicionava o negro a criminalidade, pois, as medidas utilizadas para determinar quem estaria determinado ao crime eram sempre as medidas que combinavam com a anatomia negra, como o crânio, nariz, boca, etc. Segundo os médicos e juristas da época levados por esse determinismo biológico, os “criminosos” deveriam ser localizados e punidos. Para Nina Rodrigues a consciência de direitos e deveres que os negros tinham não era a mesma que tinham os povos civilizados ou superiores e, além dessa predisposição ao crime, os negros possuíam também as características biológicas dos que eram propensos à criminalidade (RODRIGUES, 2011).
Os negros no período pós Lei Áurea não foram beneficiados pelo Estado com políticas públicas que lhes integrassem na sociedade da época, pelo contrário, sem direitos civis e sociais, passaram a ser um “incômodo” em uma sociedade que não estava preparada a tê-los como livres. Muitos sem perspectivas viraram mendigos e foram considerados criminosos pela ociosidade pela qual se entregaram, pelo fato de não ter espaço para eles trabalharem. Logo toda a manifestação cultural do negro eram criminalizada também, e cientistas e intelectuais da época tinha o aval da ciência para através dessa, criar mecanismos que pudessem “curar” um Brasil que tinha como impedimento de seu desenvolvimento as principais doenças de “degenerescência do mestiço e inferioridade do negro”. Nina Rodrigues pesquisou inicialmente os condicionantes biológicos dos comportamentos sociais considerados propensos aos crimes, esses condicionantes foram encontrados por ele entre a população negra e mestiça.
Em, As Raças Humanas e a Responsabilidade Penal no Brasil os estudos de medicina legal de Nina Rodrigues em suas análises feitas em autópsias, irá relacionar a degenerescência do mestiço e do negro a partir de idéias evolucionistas e afirmar que, as leis penais deveriam ser diferenciadas nas formas de aplicação entre brancos e, mestiços e negros, pois, negros e mestiços eram inferiores e não tinham capacidade de serem responsabilizados por seus atos (RODRIGUES, 2011). 
Com a libertação dos negros os senhores não tinham mais a responsabilidade pela manutenção e segurança destes, nem o Estado, a Igreja ou qualquer outra instituição assumiram esta responsabilidade com o objetivo de prepará-los para o novo regime de organização da vida e do trabalho assalariado, ou seja, esse negro liberto não encontrou espaço na sociedade para sua nova condição. 
Sem condições de moradias adequadas, a comunidade negra e pobre foi expulsa para os morros a partir de uma reforma urbana no Rio de Janeiro em 1904 (MARIGONI, 2011).
Além de C. Lombroso Nina Rodrigues também cita em sua obra dentre tantos autores Herbert Spencer e José Veríssimo. Para ele “certos cruzamentos dão origem a “produtos” morais e sociais inviáveis” onde, a teoria de Spencer sobre o mal que fazia a mistura dessas raças testificou seus estudos (RODRIGUES, 2011, p. 54). Para ele o mestiçamento no Brasil confirmava essas teorias racistas que, colaborou sim para a criminalização dos negros e mestiços com reflexos e consequências negativas até os dias de hoje.
Para Nina Rodrigues José Veríssimo também tinha razão ao falar sobre os índios como “raça selvagem e inferior, inconstantes e despreocupados dos sérios cuidados da vida” (RODRIGUES, 2011). A mestiçagem seria um dos fatores de maior preocupação desses intelectuais do século XIX no que diz respeito ao desenvolvimento nacional, pois, segundo eles o país corria sérios riscos de ter seu desenvolvimento ameaçado, ficando atrás de outras nações em termos de riqueza se, continuasse a crescer a população mestiça que por ser inferior não tinha como competir com sociedades brancas superiores.
Com a ciência legitimando a degenerescência da mestiçagem, negros e pobres seriam considerados criminosos de acordo com o artigo 399 do código penal de 1890. Esses mestiços deveriam ser menos responsabilizados e penalizados devido a sua inferioridade sendo considerados apáticos, tristes e sem iniciativas. Tendo em vista a qualidade de vida que essa comunidade tinha, pois, vivia na pobreza, em áreas precárias afastadas dos centros urbanos sem saneamento, onde por falta de higiene proliferavam todo tipo de doenças entre elas a sífilis, sem dúvida tinham razão esses teóricos, ao dizer que os membros desta comunidade seriam, tristes, apáticos e sem iniciativa.
Os cafeicultores ganharam uma compensação com a abolição, que foi a importação de força de trabalho europeia que, além de baixocusto, foi bancada pelo poder público. Parte da arrecadação fiscal de todo o país foi desviada para o financiamento da imigração, sendo destinada especialmente para Sul e Sudeste. Os negros se tornaram uma força de trabalho descartável, jogados à própria sorte e, o aumento do número de desocupados, mendigos e crianças abandonadas nas ruas resultou também no aumento da violência. Uma fase vergonhosa para um país com ideais democráticos que buscavam novos rumos, vindo logo depois a proclamação da república. 
Neste contexto histórico e tumultuado, a busca por uma identidade nacional, e a construção de um Brasil como Nação, perpassa por conflitos e relações de poder. O interesse das elites científicas e políticas em responsabilizar a mestiçagem como causa principal do impedimento ao desenvolvimento do país, mostra justamente o objetivo de que as relações de poder da época pudessem se perpetuar e assim as elites continuassem no poder e, os negros, mestiços e pobres continuassem como comunidades subalternas e sem chances de mudanças socioeconômicas.
 O negro foi essencial para a formação da sociedade brasileira, seja com a exploração de sua força de trabalho como também pela apropriação de seus costumes culturais por parte da sociedade branca hegemônica da época e, nessa questão Nina Rodrigues deixou uma obra etnográfica riquíssima sobre a vida do negro no Brasil, especialmente na Bahia, ressaltando sua religiosidade que foi fruto de grandes conflitos até esta ser assimilada aos poucos pelos brancos, não que tivesse 
sido reconhecida como parte de uma nacionalidade, e esta sempre foi uma das lutas da comunidade negra, mas, a assimilação de religiões afro brasileiras por parte da sociedade branca da época se faz mais a partir de interesses, ou seja, como essa sociedade poderia “lucrar” com essa manifestação cultural. Nina Rodrigues teve participação importante inicialmente na luta por proteger essa manifestação religiosa das comunidade até então criminalizada socialmente. 
Em sua obra O Animismo Fetichista dos Negros Baianos Nina Rodrigues apresenta suas experiências nos terreiros de Candomblé, ao observar as giras nos terreiros seu olhar é na perspectiva médica, pois, associa as manifestações que acontecem no terreiro como casos de histeria, apesar de respeitar esses espaços e até defendê-los em momentos de ameaças de invasão feitas pela polícia. A importância do trabalho etnográfico de Nina Rodrigues apesar de suas convicções racistas não pode ser ignorado pois, foi um dos primeiros trabalhos a mostrar as representações dos negros e como o país havia assimilado também certos costumes como alimentação e até a religião afro brasileira.
RELIGIÃO E RAÇA, EXPRESSÕES DE NACIONALIDADE
No início do século XIX, as manifestações e costumes africanos eram proibidos, pois não faziam parte da cultura européia e, não havia uma identificação com a sociedade brasileira da época. Eram vistas como retrato de uma cultura atrasada e inferior. Mesmo assim Nina Rodrigues teve seus olhos voltados para o misticismo africano e, de acordo com Vagner Gonçalves da Silva (2008) ele abriu um campo discursivo inédito, interpretando os cultos africanos levando em consideração o cotidiano desses cultos bem como as frequências dos fiéis as festas e rituais.
Mesmo com fortes influências teóricas e metodológicas do darwinismo social e da antropologia criminal, Nina Rodrigues faz um trabalho etnográfico minucioso, tendo em vista a sociedade racista na qual ele se encontrava inserido, as teorias vigentes da época e o contexto histórico brasileiro. Ele não fez um trabalho para a grande população, pois, a grande maioria da população brasileira era analfabeta, ele escreveu para seus pares e utilizou termos científicos para descrever o “problema do negro” no Brasil.
Logo depois da morte de Nina Rodrigues, seu mais dedicado discípulo Artur Ramos continuou as pesquisas sobre religiosidade, publicou então vários livros sobre o tema: O negro brasileiro (1934 ampliado em 1940), O folclore negro do Brasil (1935), As culturas negras no novo mundo (1935) e a Aculturação negra no Brasil (1942). “A religiosidade afro-brasileira deixou de ser entendida como manifestação da inferioridade dos negros, e por meio dela se criticou o próprio conceito de raça substituindo-o pelo de cultura” (SILVA, 2008, p. 289). A cultura substitui a raça nos estudos principalmente sobre a religiosidade dos negros, minimizando,porém, não combatendo a questão da inferioridade do negro na sociedade de classes no Brasil. Mesmo de modo lento já era possível perceber a cultura negra integrando-se a cultura branca e tomando uma identidade que antes não tinha, que é a identidade nacional, o branco toma para si essa cultura e assimila transformando essa cultura em modelos aceitáveis para uma sociedade branca e racista.
Um exemplo disso são as próprias manifestações religiosas afro brasileiras que, com o tempo foram absorvidas e reconhecidas como elementos da cultura nacional, fazendo parte da identidade nacional brasileira (FRY, 1987). Esses terreiros ganharam mídia e se tornaram espaços públicos mas, de frequentadores da classe média a elites brasileiras. Apesar do preconceito que ainda existe em relação aos cultos por parte de uma grande parte da sociedade atual, segundo Peter Fry o que pertencia originalmente aos negros de classe baixa foi transformado, em parte, pelos membros brancos das classes médias e superiores. Os produtores originais, os negros foram desapropriados de seu papel de liderança. (FRY, 1987).
O samba também ocorria nos terreiros e sofria perseguição, logo recebeu o status de símbolo nacional e. se tornou a partir do Carnaval muito lucrativo. Peter Fry ressalta que não são todos os terreiros que recebem os holofotes da publicidade, e que a apropriação desses símbolos mascarava a dominação das elites sobre as comunidades negras e pobres. Os negros como produtores culturais desses elementos sofriam inicialmente por serem criminalizados por expressarem sua cultura, e logo depois eram desapropriados desta como seus produtores originais e se submetiam ao poder da sociedade e das elites que lucravam explorando sua cultura dando a ela status de identidade nacional, como também fazendo com que a comunidade negra tivesse o sentimento de pertencimento de uma nação. 
Os estudos afro brasileiros tiveram mudanças entre as décadas de 1940 a 1960 devido a influência de Artur Ramos e Gilberto Freire (SILVA, 2008). Gilberto Freyre vai assumir uma postura mais sociológica colocando a religião do negro como um dos elementos e não mais como ponto central como faziam Nina Rodrigues e Artur Ramos, na compreensão da cultura nacional formada por negros e brancos. E os pesquisadores procuraram não mais olhar a religiosidade das comunidades negras a partir de termos como animismo, histeria, mas, como práticas nacionais pertencentes a cultura brasileira, e sendo chamadas agora de “cultos ou religiões negras ou afro brasileiras”.
Houve então avanços nos estudos dos intelectuais da época, nos estudos antropológicos e sociológicos sobre a questão do negro no Brasil, bem como sua cultura como pertencente a cultura nacional.
A Antropologia segundo Vagner Gonçalves da Silva focou seus estudos nas questões da herança da religião africana no Brasil, como o estudo sobre o Candomblé. Outros pesquisadores estrangeiros a exemplo de Donald Pierson e Ruth Landes vieram ao Brasil estudar sobre o negro e sua integração na sociedade, Pierson segundo Vagner G. da Silva procurou fornecer uma “interpretação do discurso harmonioso de Gilberto Freyre, mas, não deixa claro que tipo de interpretação seria essa e diz ainda que Pierson, muito mais do que Landes, exemplificou o enquadramento do problema da etnografia religiosa afro-brasileira em termos de conexões mais amplas, porém, mais amplas em que sentido?, afirma que Pierson em seu livro, Negroes in Brazil, A study of race contact at Bahia, ao fornecer essa interpretação do caráter harmonioso de Gilberto Freyre, “seguiu de pertoseus alicerces” (SILVA, 2008, p. 294).
Ruth Landes que pesquisou no Brasil entre 1938 e 1939 pesquisou os aspectos rituais e sociais do candomblé, enfatizando o status feminino na estrutura destes cultos em Salvador. O que se pode observar é que esses pesquisadores internacionais tiveram uma ótima recepção ao trabalho de Gilberto Freyre, a harmoniosa integração do negro na sociedade brasileira bem como a aculturação de suas manifestações religiosas narradas por ele, agradaram bastante esses intelectuais. O Brasil se transformou em um polo para esses intelectuais estrangeiros além de realizarem suas pesquisas, também lecionar nas universidades brasileiras, Donald Pierson por exemplo fez parte como antropólogo da primeira equipe de pesquisadores do Instituto Joaquim Nabuco em Recife.
Não só a Sociologia teve no Brasil influências estrangeiras como também a Antropologia brasileira foi se moldando as teorias americanas e européias, eram os chamados brasilianistas. Era o olhar de fora sobre as transformações que ocorriam aqui dentro do país. A partir de 1960 com os programas de pós-graduação nas principais universidades do país, houve mudanças significativas com os “estudos de religiosidade popular”, a umbanda por exemplo, passou a fazer parte de estudos acadêmicos, tendo em vista uma maior importância aos estudos das religiões afro brasileiras dando a elas caráter de patrimônio cultural brasileiro, ou seja, a classe acadêmica agora legitimava essas manifestações como parte e inseridas na identidade nacional do país.
Houve mudanças sobre as representações sobre o negro no Brasil, desde as teorias racistas e evolucionistas do século XIX, passando para as teorias culturalistas e logo depois ao “status” acadêmico na Antropologia. A luta do negro por sua inserção à uma sociedade de classes ainda continua, no sentido de ter suas expressões culturais ainda marginalizadas por uma grande parcela da sociedade brasileira e buscar o reconhecimento de seus valores e crenças nesta mesma sociedade que ainda não compreende e, tem dificuldade em aceitar o diferente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Com a abolição os negros no Brasil ficaram sem espaço em uma sociedade onde a instituição escravidão já estava bem enraizada e estruturada, e movia a economia brasileira. Porém o que fazer com essa comunidade grande que antes era escrava e agora precisava ser inserida em uma sociedade livre? Não teve outra solução a não ser alocar essa comunidade em morros, longe dos centros urbanos, era como se o inconveniente tivesse que ser retirado do meio de uma sociedade civilizada e evoluída. Com essa mudança o que se viu foram pessoas sem trabalho, com alimentação precária, crianças pedindo esmolas, e o lugar onde moravam sem o mínimo de higiene resultando em várias doenças nesta parcela da população brasileira. 
Os negros sofreram com a escravidão e também com o fim dela. Além de não terem vida digna, foram material e objeto de estudos de intelectuais, médicos e alunos e professores de Direito, que associavam sua anatomia a propensão ao crime, como também utilizavam a ciência para legitimar a inferioridade da raça negra, bem como um problema para o desenvolvimento do país.
De Nina Rodrigues à Gilberto Freyre estudos sobre raça, passando por cultura chegavam sempre ao mesmo denominador comum; a inferioridade de negros e mestiços. Mesmo assim a cultura negra serviu muito a sociedade branca, que assimilou e se apropriou de elementos desta cultura não por lhe dar o valor devido, mas, por interesses em lucrar. E tanto nos cultos e rituais religiosos que sempre foram criminalizados e ainda hoje grande parte permanece, como também o samba e certos elementos da culinária negra foram apropriados por brancos e se tornaram pertencentes a identidade nacional, fazem parte da “cultura popular brasileira”. Até os dias de hoje o Brasil é conhecido mundialmente além do futebol, por seu samba e feijoada. 
Será que seria realmente dessa maneira que o negro gostaria de se ver representado, ter seus valores e costumes vistos dessa maneira? São anos de luta por igualdade de direitos, por uma abolição inconclusa, onde, a juventude negra é a maior vítima da violência urbana, e que não bastam apenas três dias de carnaval com escolas de samba em um desfile realizado por elites apresentar a cultura negra com brilho e paetês, e o resto do ano as comunidades negras e quilombolas sofrerem preconceito, falta de assistência do governo, exclusão social e política. 
As religiões afro brasileiras até hoje, apesar da mídia elevar alguns líderes, ainda sofre com o preconceito, ainda são criminalizadas e tem ainda que serem praticadas em fundo de quintais por pena de terem seus espaços depredados. Será que realmente foi uma identidade nacional e, uma cultura popular que se construiu em torno das expressões culturais do negro no Brasil e aceitas como tal?
A luta ainda continua, ao direito de expressão, em um país “democrático”, mestiço e “laico”. 
Terminamos essa produção com a pergunta que, demanda uma pesquisa mais aprofundada para respostas, uma pergunta que parece ter respostas óbvias, mas, que se faz com o intuito de um debate mais longo, com mais pesquisas teóricas sobre um tema que vem se arrastando desde o século XIX e que parece pouco ter mudado em pleno século XXI.
REFERÊNCIAS:
FRY, Peter. “Feijoada e “Soul Food”: notas sobre a manipulação de símbolos étnicos e nacionais”. In: Para Inglês Ver – identidade e política na cultura brasileira. Rio de Janeiro: Zahar, 1987.
MARIGONI, G. O destino dos negros após a abolição. Desafios do Desenvolvimento. São Paulo, Ano 8 . Edição 70. dez.2011. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/. Acesso em: 08 nov. 2016.
	
NINA RODRIGUES, Raimundo. O Animismo Fetichista dos Negros. Baianos. Rio de Janeiro:Biblioteca Nacional/UFRJ, 2006.
NINA RODRIGUES, Raimundo. As Raças Humanas e a responsabilidade penal no Brasil. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisa Social, 2011, 95p. books.scielo.org.
SILVA, Vagner Gonçalves da. Religião e Etnicidade: Religião e relações raciais na formação da antropologia do Brasil. In: Raça: novas perspectivas antropológicas. EDUFBA, 2008.

Continue navegando