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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTASUNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS LUIS EDUARDO A.S. SUZUKILUIS EDUARDO A.S. SUZUKI MOVIMENTO DE ÁGUA NO SOLO 9A água se moverá sempre que houver desigualdae em seu potencial total. 9A água se move em resposta a um gradiente de potencial, e não a um gradiente de umidade. 9É lei na natureza que os corpos assumam um estado mínimo de energia, mais estável. Assim, quando há diferença de potencial da água entre dois pontos, ela se moverá do ponto de maior para o menor potencial de energia. Lei de Darcy 9O Engenheiro Hidráulico Henry Darcy foi o primeiro a estabelecer uma equação para quantificar o fluxo de água em um meio poroso, em 1856. 9Numa coluna cilíndrica de areia homogênea, saturada com água e em conexão com reservatórios de água mantidos em níveis constantes, ele mediu o volume de água que passava pela coluna por unidade de tempo. 9Para quantificar esse tipo de movimento permanente de água em meio poroso, Darcy apresentou a seguinte equação: z Kq t∆ ∆−= ψθ )( q = densidade de fluxo (volume de água V que passa através de coluna de solo por unidade de área A e por unidade de tempo t, m3/m2 s); K(θ) = condutividade hidraulica (m/s), fator de proporcionalidade entre a densidade do fluxo e o gradiente de potencial; ψt = potencial total de água no solo; Z = distância entre dois pontos considerados (m); = gradiente hidráulico (m/m), para coordenada vertical. z t ∆ ∆ψ Densidade de fluxo (q) 9A densidade de fluxo é o volume de água (V) que passa através de uma coluna de solo por unidade de área (A) e por unidade de tempo (t). Dessa forma, as suas dimensões são as seguintes: At Vq = 9Embora o fluxo tenha dimensão de velocidade, ele não representa a velocidade real (v) com que a água se movimenta dentro do solo, uma vez que a área de secção transversal considerada inclui área não disponível ao fluxo. 9Essa velocidade real (v) da água no solo é o volume de água (V) que passa por unidade de tempo (t) e pela área disponível ao fluxo (A), isto é, secção transversal de poros ocupados pela água. 9Para solo saturado, essa secção transversal de poros é o produto da área efetiva (A) pela porosidade total (α): αα qvou tA Vv == Densidade de fluxo (q) 9Por exemplo, um volume de água de 10 cm3 atravessa 5 cm2 de solo em 10 minutos, tem-se: min/2,0 min105 10 2 3 cm cm cmq At Vq ==⇒= min/4,0 min105,05 10 332 3 cm cmcmcm cmv tA Vv =××=⇒= −α 9E considerando uma porosidade total de 50%: min/4,0 5,0 2,0 cmqvou === α 9Esse é o caso mais simples para cálculo da velocidade real da água do solo, por tratar-se da condição de saturação constante, em que todos os poros estão contribuindo para o fluxo. 9Quando a situação é de não saturação, a área disponível ao fluxo será aquela ocupada pela água, ou seja, a umidade volumétrica do solo (θ), que varia no tempo e no espaço e faz com que também a velocidade mude: θ qv = 9A equação de Darcy considera que a água atravessa todo comprimento L em linha reta. 9No entanto, em função ao arranjo das partículas do solo, o caminho percorrido pela água (L’) é maior que a distância L entre os dois pontos considerados. 9É o que se chama de tortuosidade, que é a relação L’/L que, via de regra, varia de 1 a 2. 9Por essa razão, a velocidade real da água no solo é maior que seu fluxo: 9A facilidade com que a água se movimenta através do solo saturado é designada por condutividade hidráulica do solo e é expressa quantitativamente pela equação de Darcy: L Kq ψθ ∆−= )( 9O valor da condutividade hidráulica é constante em condição de saturação, considerando que a porosidade do solo não se altera durante um experimento em que se determina a condutividade. 9No entanto, em condição de não saturação, existe dependência de K em relação ao conteúdo de água, visto que os poros livres de água não contribuem para o fluxo. 9O valor de K é máximo sob condições de saturação e decresce à medida que o solo perde água. 9A condutividade hidráulica é dependente de atributos do sólido e do líquido que escoa. 9As características do solo que modificam os valores de K são: - a porosidade total; -distribuição dos poros por tamanho; -tortuosidade. 9Em relação ao líquido, a K é influenciada pela: -densidade do líquido; -viscosidade do líquido. 9A densidade e a viscosidade são afetadas pela temperatura e pressão. Condutividade hidráulica (K) 9A quantificação do movimento da água em solo saturado é a situação de movimento de solução mais simples, uma vez que a condutividade hidráulica é constante e o gradiente de potencial é, numericamente, igual à unidade. 9A aplicação direta da equação de Darcy é suficiente. 9São considerados 3 casos: -movimento horizontal; -movimento vertical descendente; -movimento vertical ascendente. Movimento da água em solo saturado Movimento da água em solo saturado (horizontal) ψ(e) = ψp(e) + ψg(e) ψ(s) = ψp(s) + ψg(s) ∆ψ = ψ(e) - ψ(s) ∆ψ = [ψp(e) + ψg(e)] - [ψp(s) + ψg(s)] L Kq ψθ ∆−= )( L se K At Vq pp )()( Ψ−Ψ−== 9Como o potencial gravitacional é o mesmo na entrada e na saída da coluna de solo (movimento horizontal), então: ∆ψ = ψp(e) - ψp(s) Movimento da água em solo saturado (coluna vertical descendente) ψ(e) = ψp(e) + ψg(e) ψ(s) = ψp(s) + ψg(s) 9Como o potencial de referência gravitacional foi colocado na base da coluna de solo, ou seja, no ponto de saída de água, o potencial gravitacional na saída é igual a zero. 9Outro aspecto a ser observado no ponto de saída da água é que nele atua a pressão atmosférica, que é a referência para a definição da energia potencial de pressão. Isto significa que o potencial de pressão na saída também é igual a zero. 9Assim: Movimento da água em solo saturado (coluna vertical descendente) ψ(s) = 0 + 0 ∆ψ = ψ(e) - ψ(s) ∆ψ = [ψp(e) + ψg(e)] - 0 ∆ψ = ψp(e) + ψg(e) L ee K At Vq gp )()( Ψ+Ψ−== 9Como o potencial gravitacional na entrada da coluna de solo, expresso em centímetros de coluna de água, é a altura da coluna L, a equação pode ser reescrita: L Le K At Vq p +Ψ−== )( Movimento da água em solo saturado (coluna vertical ascendente) ψ(e) = ψp(e) + ψg(e) ψ(s) = ψp(s) + ψg(s) ∆ψ = ψ(e) - ψ(s) ∆ψ = [ψp(e) + ψg(e)] - [ψp(s) + ψg(s)] 9Como o sentido é vertical ascendente, a água entra na coluna de solo pela base, na qual foi colocado o plano de referência gravitacional, fazendo com que o potencial gravitacional na entrada da coluna seja zero. 9A saída da água na parte superior da coluna está no mesmo nível da superfície da água no tubo de drenagem, o que faz com que o potencial de pressão na saída da coluna seja a pressão atmosférica, isto é, igual a zero. Movimento da água em solo saturado (coluna vertical ascendente) 9Nesse caso a água flui por efeito de um gradiente de pressão e contra o gradiente gravitacional, isto é, o potencial de pressão precisa superar o potencial gravitacional. [ ] [ ] L se L gpp )(00)( Ψ+−+Ψ=Ψ L se K At Vq gp )()( Ψ−Ψ−== L se L gpp )()( Ψ−Ψ=Ψ Movimento da água em solo saturado (coluna vertical ascendente) 9Como o potencial gravitacional na saída da coluna de solo, expresso em centímetros de coluna de água, é a altura da coluna L. 9Pode-se então reescrever a equação da seguinte forma: L L L e K At Vq p −Ψ−== )( K L e K At Vq p −Ψ−== )( 9O estado de umedecimento mais comum do solo agrícola é o de não saturação. 9A condutividade hidráulica não é constante, depende da umidade do solo ou do potencial mátrico. 9Com diminuição do conteúdo de água no solo há uma diminuição da área útil ao fluxo, e os porosfuncionam como barreiras ao movimento de água, diminuindo o valor da condutividade. 9Os poros preenchidos com ar aumentam a tortuosidade do fluxo. 9A variação da condutividade hidráulica com a variação da umidade é tão acentuada que é conveniente que sejam plotados em gráficos semilogarítmico, com a condutividade na coordenada logaritmizada. Movimento da água em solo não saturado 9Em solo saturado o fluxo é consequência de um gradiente de potencial de pressão (além do gradiente gravitacional, em fluxo vertical). 9Em solo não saturado a força é a de um gradiente de potencial mátrico (com a participação do potencial gravitacional, em fluxo vertical). 9Várias equações empíricas já foram propostas relacionando condutividade hidráulica com umidade ou potencial matricial. 9Estas equações só tem validade para estimar a condutividade para os locais onde elas foram experimentalmente determinadas. Movimento da água em solo não saturado Lei de Darcy-Buckingham 9Com o reconhecimento de que em solo não saturado a condutividade hidráulica não é constante, variando com a quantidade de água no solo, percebeu-se que a lei de Darcy era válida apenas para solo saturado. 9Em 1907, Buckingham apresentou uma equação semelhante à equação de Darcy, em que demonstra a relação funcional entre condutividade e umidade do solo. 9Nesta nova equação a condutividade é função da umidade; “s” é uma coordenada qualquer de posição x, y ou z; o gradiente de potencial é devido à diferença de potencial mátrico em x e y, combinado com o potencial gravitacional z. s Kq ∆ ∆−= ψθ )( Lei de Darcy-Buckingham 9A quantificação da densidade de fluxo q é difícil, visto que para cada valor de ψ haverá um valor correspondente de K. 9Como o potencial matricial é função do conteúdo de água, também o gradiente mudará com a variação na umidade. 9Diante dessas dificuldades, a determinação do fluxo de água em solo não saturado requer uma solução matemática que contemple as funções K(θ), ψm(θ), e, consequentemente, K(ψm). Equação da continuidade 9Para determinar o fluxo de água em solo não saturado, precisa-se conhecer a umidade para qualquer posição (x, z ou y) e para qualquer tempo (t). 9Ou seja, precisa-se estabelecer uma equação diferencial da umidade em função da posição e do tempo, do tipo θ = θ (x, t). 9Equação da conservação da matéria ou equação da continuidade: ⎥⎥⎦ ⎤ ⎢⎢⎣ ⎡ ∂ ∂+∂ ∂+∂ ∂−=∂ ∂ z z y y x x qqq t θ 9Incluindo a densidade de fluxo, para as três direções, na equação da continuidade: ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ ∂ Ψ∂ ∂ ∂+⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ ∂ Ψ∂ ∂ ∂+⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ ∂ Ψ∂ ∂ ∂=∂ ∂ z K y K x K t zx y y x x )()()( θθθθ 9Esta é a equação diferencial mais geral que governa o fluxo de água em solo não saturado. É conhecida como equação de Richards.
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