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GALANTINO dizer homem hoje p 22 a 27

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DIZER HOMEM HOJE ANTROPOLOGIA, ANTROPOLOGIAS E ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA... 23
Não compartilhamos nem mesmo a concepção redutora que
ürgen Habermas tem da antropologia filosófica. Este lhe designa a
:arefa de interpretar filosoficamente os resultados obtidos pelas ciên
:ias do homem, da antropologia biológica à psicologia e à sociolo
~ia18. Para o filósofo de Frankfurt, a antropologia filosófica é a “rea
~ão da filosofia ao advento daquelas ciências que lhe disputam o objeto
u, por certo, o justo direito de se ocupar dele”9.
1.4. A antropologia filosófica: à procura de urna definição
Antes de nos colocarmos à procura de uma definição de “antro
pologia filosófica” que nos sirva de orientação e de ponto de referên
cia no prosseguimento da nossa indagação, parece oportuno atuali
zar-nos sobre as principais acepções de “antropologia filosófica”
presentes na história desta disciplina.
Helmut Fehrenbach20, aplicando-se sobre a história do modo
como o termo “homem” se desenvolveu e se definiu, apresenta um ma
pa das possibilidades de entender o título “antropologia filosófica”.
1) Numa primeira acepção de “antropologia filosófica”, confluem
todas as observações sobre o homem contidas no complexo de uma
filosofia, ou as asserções que dizem respeito ao homem em determina
dos contextos ou autores (por exemplo, a antropologia de Aristóteles,
de Agostinho etc.). Nestes casos, a “antropologia filosófica” é apenas
um dos capítulos que compõem uma proposta filosófica global.
2) Uma segunda acepção de “antropologia filosófica” é a que vê
nesta pesquisa uma disciplina fundamental, ou seja, não como um
‘8U. FADINI. “Antropologia filosofica.” In P. ROSSI (cd.), La filosofia. 1. Le filosofie
speciali, Torino: UTET, 1995, 496s.
‘9. HABERMAS. “Antropologia.” Em O. PRETI (ed.). Filosofia. Milano: Fekrinelli —
Fischer, 1966, p. 20.
20H. FEHRENBACH. “Uomo.” Em H. KRINOS — H. M. BAUMGARTNER— CH.
WILD (ed.). Concettifond.amentali di filosofia. 3.~ cd. it. org. porO. Penso. Brescia: Quiriniana,
1982, p. 2.269s.
problema entre outros, mas como temática sistematicamente central
e fundamental da filosofia em geral.
3) Muito próxima desta acepção é aquela de todos os que retêm
que a expressão “antropologia filosófica” e os seus conteúdos possam
funcionar como título ou como recipiente ao qual é reconduzida toda
reflexão filosófica.
4) Há, enfim, quem considere a “antropologia filosófica” como
uma disciplina particular, desenvolvendo-se no interior da filosofia,
em que a reflexão sobre o homem é definida e desenvolvida de ma
neira conceitualmente estruturada, com o objetivo de colher e de
descrever sistematicamente as formas de pensamento (“categorias”)
e as constantes filosóficas do universo pessoal.
Enquanto a primeira das acepções apresentadas vê na “antro
pologia filosófica”, como se diz, um dos tantos capítulos dos quais se
compõem um sistema filosófico, a segunda e a terceira podem ser re
conduzidas, feitas as devidas precisões, à posição expressa por L.
Feuerbach (1804-1872). O filósofo alemão, no interior de um proje
to tendente a resgatar a centralidade do ser humano em relação ao
objeto da teologia (=Deus), afirma que a “filosofia do devir” deverá
contrastar a ênfase especulativa da subjetividade abstrata, fazendo
do homem “o objeto único, universal e supremo da filosofia”, confi
gurando a antropologia como a “ciência universal”. A conseqüência
necessariamente implicada na aceitação de tal perspectiva é que o
princípio fundamental da práxis humana a sua lei primeira e su
prema não poderá ser senão “o amor do homem pelo homem”21.
A referência ao “amor”, neste caso, tem pouco a ver com o Evan
gelho ou, de qualquer modo, com apelos de natureza filantrópica; o
sentido e o apelo ao “amor” têm, aqui, outras motivações. Partindo
do axioma feuerbachiano, “só aquilo que é sensível é verdadeiro, é
21L. FEUERBACH. L’essenza dcl cristianesimo. Milano: Feltrinelli, 1971, p. 286.
24 DIZER HOMEM HOJE ANTROPOLOGIA, ANTROPOLOGIAS E ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA... 25
real”, o homem, não o homem abstrato ou fechado em si mesmo,
mas o homem que vive em relação com os seus semelhantes, é um
ente verdadeiro e real só porque colhe a realidade e a si mesmo com
os sentidos. Chama-se “amor” a certeza de que existe um outro ho
mem além de mim; o “amor” não é outra coisa que a constatação
sensível de que existo, não estou só, sou visto por outro e vejo outros.
É por isso que “a propósito de Feuerbach — segundo alguns
críticos— parece necessário falar, de modo definitivo, mais que de
antropologia filosófica, de uma “filosofia antropológica” ou de uma
filosofia convertida em antropologia”22.
A quarta acepção de “antropologia filosófica” é a que, evitando
o limite da primeira e a pretensão absolutizante (a antropologia como
ciência universal) das outras duas, afirma ser possível a existência de
uma disciplina que, com método próprio e mediante a utilização dos
instrumentos filosóficos, está em condições de colher e de descrever
sistematicamente a essência do homem.
Para identificar as coordenadas epistemológicas da antropolo
gia filosófica e o seu objeto específico já se tomou clássico recorrer às
páginas com as quais Kant introduz a sua Logik (25 A).
O filósofo alemão afirma que uma “filosofia com intenção cos
mopolita” deve se organizar em torno de quatro interrogações, deve
poder dar resposta a estas quatro perguntas: “Que coisa posso pensar?
Que coisa devo fazer? Que coisa é-me consentido esperar? Que coisa
é o homem?”23. A última destas perguntas encontra resposta na an
22M. IVALDO. “Antropologia, umanesimo, uorno.” Em op.cit., p. 9s e p. 20s.
23São também as perguntas da Critica delia ragion pura (tr. it. de O. Gentile e O. Lombardo.
Radice dei 1909-1910. 7.~ ed. Revista por V. Mathieu, Laterza, Roma-Bari, 1979 onde, na p.
612, se lê: “Todo o interesse da minha razão (tanto o especulativo como o prático) se concen
tra nas três perguntas seguintes: 1) que coisa posso saber?; 2) que coisa devo fazer?; 3) que coisa
posso esperar?” De particular utilidade resulta também a leitura de M. HEIDEOGER. Kant e ii
problema dei la metafisica (org. por V. Verra). Laterza, Roma-Bari, 1985. De modo particular, a
seção quarta: “A fundação da metafísica”, na sua repartição A. Fundação da rnetaffsica na antro
pologia, p. 178-188.
tropologia, a que, disse Kant, é possível reconduzir também as outras
perguntas. Fica assim estatuída a centralidade24 da reflexão filosófica
sobre o homem: é dentro desta perspectiva que são enfrentados os
temas referentes à metafísica, à ética e à religião.
Se, portanto, objeto da antropologia, como para tantas outras
disciplinas, é o homem, o nosso é um interesse voltado para uma di
mensão específica dele: queremos nos ocupar de antropologia filosó
fica, com a tarefa precípua de mostrar como “de uma estrutura fun
damental do ser homem deriva tudo aquilo que é monopólio
específico, efeito e obra do homem” M. Scheler,{sic]). Desta, que é
uma das tantas definições possíveis da antropologia filosófica, se de
duz tanto o específico desta disciplina, quanto a possibilidade de va
lorizar-lhe ulteriormente as aquisições.
Para Scheler, de fato, e para grande parte dos antropólogos
modernos, a resposta à pergunta: “Quem é o homem?” não nasce
independentemente da existência concreta do homem e não é, de
outra parte, fim para si mesma. Assim que, com já se disse, embora
sendo necessário distinguir entre as diversas abordagens do homem,
não é possível decretar a absoluta independência e estranheza dos
resultados conseguidos caso por caso.
A definição de Scheler e as que nela se inspiram não parecem,
porém, particularmente atentas para enfrentar e resolver um dos nós
referentes ao estatuto epistemológico da antropologia filosófica que,
geralmente, está ligado ao problema da possibilidade mesmo da
metafísica. Um problema levantadopor Heidegger a respeito do pen
samento de Kant, mas que depois se tomou um tema fundamental
também por aquilo que atinge sua reflexão sobre o homem25.
24Q Parenti fala de “centralidade metódica” em Sapere antropologico e linguaggio. Introduziorie
critica aU’onto-reologia. Brescia: Morceiliana, 1990, p. 53ss. (Fenomenologia, tr. it. de A. Fabris,
Genova: II Melangolo, 1988.)
25Com estas referências concorda M. Scheler, que escreve: “Em certo sentido, todos os
problemas fundamentais da filosofia podem-se reconduzir à pergunta que coisa seja o homem e
DIZER HOMEM HOJE
Para aqueles, como E. Coreth, que mantêm praticável o discur
;o metafísico, a antropologia filosófica é a “disciplina que procura
:onhecer o homem na sua dimensão metafísica essencial, na sua re
Ferência ao ser, na sua abertura ao ser”26. Para quem, ao invés, recusa
a metafísica, a antropologia filosófica se identifica com a tentativa
de integrar, numa síntese, os resultados que são oferecidos pelas as
sim chamadas ciências empíricas como a biologia, a anatomia, a psi
cologia, a sociologia, as ciências da linguagem e da história, da cul
tura e da religião27.
Considero importante ter presente as observações e as distin
ções feitas até aqui todas as vezes em que nos aproximamos de um
tratado ou de um ensinamento de antropologia filosófica. Ela é, de
fato, indevidamente reunida com a antropologia cultural por todos
os que julgam insólito o recurso à metafísica e, de qualquer modo,
inútil interrogar-se sobre elementos que concorrem para definir a
identidade do homem28.
qual lugar e posição metafísica ele ocupa entre a totalidade do ser, do mundo, de Deus”. (M.
SCHELER. “Sull’idea dell’uomo.” In Idem. La posizicme dell’uomo nel cosmo, Milano: Fabbri,
1970, p. 93).
Em referência à pergunta “que coisa é o homem?”, oportunamente, Ricardo de São Vitor
(De Trinitare, 4,6) distingue a pergunta “que coisa é o homem?” de “quem é o homem?”, en
quanto a primeira conceme a toda “substância” natural, a segunda é formulada relativamente
ao homem.
26E. CORETH. Was ist philosophische Anthropologie?, reportado porJ.L. MOLINERO.
“Antropologia.” Em Dizionario di filosofia contemporanea, Assisi: Cittadella, 1979, p. 20.
27M. IVALDO. “Antropologia, umanesimo, uomo.” Em A. RIGOBELLO (ed.). Lessico
della persona umana. Roma: Studium, 1986, p. 1-40.
28Para captar de maneira exata e também sem fechamento preconcebido e redutor o
alcance destas afirmações e distinções e daquelas que as seguem, quero dizer que partilho,
em boa parte, a repreensão que Th. LITI (em La science e l’uomo. Roma: Armando, 1972, p.
141) move à tendência presente em algumas “correntes espirituais dos nossos dias que se
podem perceber sob o título de ‘antropologia filosófica’ de quase não tomar conhecimento
dos esforços e dos resultados da física contemporânea, ou de só lhe fazer acenos com o
único fim de mostrar que ela é incapaz de contribuir com alguma coisa de válido para a
solução dos problemas da antropologia, como também a física é acusada de cobrir ou obs
curecer fatos que a reflexão antropológica espera clarear”. Como conclusão do primeiro
capítulo do texto citado, o filósofo alemão escreve: “Em nítida síntese com cada corrente
da antropologia que ostenta uma indiferença pela ciência da natureza, podemos, pois, afir
mar que esta ciência, ainda que exclua do próprio âmbito o homem enquanto homem, antes
justo pelo fato deste seu excluí-lo, deve constituir um objeto essencial para toda reflexão
antropológica” (Ibidem, p. 154).
ANTROPOLOGIA, ANTROPOLOGIAS E ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA... 27
Alguns momentos da indagação semântica conduzida sobre o
termo “antropologia” e as indicações referentes explicitamente à
“antropologia filosófica” permitem afirmar que a antropologia filo
sófica, como pesquisa conceitualmente estruturada pelo universo
pessoal, teve sempre um espaço na reflexão filosófica. Os resultados
desta pesquisa, alcançados com métodos e modos diversos, não po
dem, pois, ser postos todos sob o mesmo plano e avaliados com os
mesmos critérios. Como, de fato, a explicitação das perspectivas de
abordagem do homem reduzem os perigos de generalização e de
reducionismo, assim uma leitura orientada das respostas à pergunta
“quem é o homem?” permite orientar-se com clareza no panorama
antropológico.
Com as páginas seguintes quer-se contribuir para alcançar este
escopo respondendo a perguntas que constituem outros tantos nú
cleos em tomo dos quais pode ser ordenada grande quantidade de
informações direta ou indiretamente reconduzíveis à antropologia
filosófica.
A primeira olha o “de onde” nasce e o “porque” nasce a pergunta
sobre o homem; a segunda pergunta conceme aos instrumentos de
pesquisa dos quais se serviu o homem para responder à pergunta “quem
é o homem?”. Enfim, pergunta-se se, no interior das respostas que têm
sido oferecidas, é possível identificar, além de uma esquematização cr0-
nológica, um divisor de águas metodológico claramente reconhecível.
1.5. “De onde” nasce e “por que” nasce a pergunta antropológica?
É possível identificar os lugares e os motivos que levam o ho
mem a se interrogar sobre si mesmo? Sobre sua natureza? Sobre sua
origem? Sobre o sentido da relação com os outros e com o mundo?
Sobre sua destinação final?
Antes de tomar em consideração as situações pessoais que
impulsionaram cada um a se interrogar sobre si mesmo e, portan

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