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Apostila-Introdução-à-Filosofia-Completa-2

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GUARULHOS - SP 
 
 
 
SUMÁRIO 
1 O ESTUDO DA FILOSOFIA ................................................................................................................... 3 
2 A FILOSOFIA............................................................................................................................................ 4 
2.1 O que é Filosofia ............................................................................................................................ 5 
2.2 Surgimento da Filosofia .................................................................................................................. 7 
2.3 A Filosofia para alguns filósofos .................................................................................................. 10 
3 HISTÓRIA DA FILOSOFIA ................................................................................................................... 19 
3.1 A Filosofia Antiga ......................................................................................................................... 25 
3.2 As principais características da Filosofia ..................................................................................... 27 
3.3 A importância de ensinar Filosofia ............................................................................................... 29 
3.4 Questões de estudo da Filosofia .................................................................................................. 34 
3.5 Empirismo..................................................................................................................................... 37 
3.6 Ceticismo ...................................................................................................................................... 39 
3.7 Liberalismo ................................................................................................................................... 41 
3.8 Dialética ........................................................................................................................................ 43 
3.9 Modernidade: Descartes e Hume ................................................................................................ 49 
3.10 Transcendental: Kant ................................................................................................................... 52 
3.11 Fase Contemporânea: Quine, Popper, Kuhn, Feyerabend ......................................................... 55 
3.12 Contexto Histórico ........................................................................................................................ 61 
3.13 Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino ................................................................................ 62 
3.14 Nietzsche ...................................................................................................................................... 64 
4 PRÉ-SOCRÁTICOS ............................................................................................................................. 65 
4.1 Filosofia pré-socráticas ................................................................................................................ 67 
4.2 Aristóteles ..................................................................................................................................... 69 
4.3 Jean Jacques Rousseau .............................................................................................................. 71 
4.4 Sofistas ......................................................................................................................................... 73 
5 FILOSOFIA NO CÍRCULO DE VIENA ................................................................................................. 75 
 
 
 
5.1 Início da Filosofia Contemporânea .............................................................................................. 78 
6 FILOSOFIA NO BRASIL ...................................................................................................................... 79 
6.1 História da Filosofia no Brasil ....................................................................................................... 82 
7 FILOSOFIA POLÍTICA ......................................................................................................................... 83 
8 NÃO SE ENSINA FILOSIFA, MAS A FILOSOFAR.............................................................................. 86 
8.1 O pensamento crítico ................................................................................................................... 89 
9 BIBLIOGRAFIA BÁSICA ...................................................................................................................... 92 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
1 O ESTUDO DA FILOSOFIA 
 
Fonte: slideplayer.com.br 
"A Filosofia contribui para o estudo da Ética e Moral, demanda social negligenciada 
na formação do cidadão brasileiro" - Arthur Meucci. 
Desde 2006, Filosofia é disciplina obrigatória no Ensino Médio brasileiro. Para 
muitos, perda de tempo, pois exige maturidade intelectual que a maioria dos alunos não 
tem. Mas há defensores fervorosos de sua inclusão no currículo, caso do filósofo e 
psicanalista Arthur Meucci. "É a única disciplina da grade escolar que faz a ponte entre o 
português, a sociologia, a história e a matemática, além de contribuir para o estudo da 
Ética e Moral, demanda social negligenciada na formação do cidadão brasileiro", destaca. 
 
 
 
4 
 
2 A FILOSOFIA 
A filosofia não é um conjunto de conhecimentos prontos, um sistema acabado, 
fechado em si mesmo. A filosofia é uma maneira de pensar e é também uma postura 
diante do mundo. Antes de mais nada, ela é uma forma de observar a realidade que 
procura pensar os acontecimentos além da sua aparência imediata. Ela pode se voltar 
para qualquer objeto: pode pensar sobre a ciência, seus valores e seus métodos; pode 
pensar sobre a religião, a arte; o seu cotidiano, o próprio homem em sua cultura e 
imagem. 
A filosofia em síntese não é tão somente uma interpretação do já vivido, daquilo 
que você possa estar objetivando, mais também a interpretação das aspirações e 
desejos do que ainda está por vir e do que está para chegar. Para iniciar o exercício de 
filosofa, a primeira coisa a fazer é admitir que vivemos e vivenciamos valores e que é 
preciso saber quais são eles. Filosofia é inventariar os valores que explicam e orientam 
nossa vida e a vida da sociedade, e que dimensionam as finalidades da prática humana. 
O segundo momento é o momento da crítica que é um modo de penetrar dentro desses 
valores, descobrindo -lhe a sua existência. A filosofia e educação estão vinculadas no 
tempo e no espaço. A pedagogia inclui mais elementos do que o pressuposto filosófico 
da educação, tais como os processos socioculturais, a concepção psicológica do 
educando e a forma do processo educacional. 
Para que possamos compreender ainda mais essa filosofia e como ela é parte de 
uma educação inteiramente possuída pela realidade e construção cultural, segundo o 
filósofo e educador Demerval Saviani, a reflexão filosófica deve possuir as seguintes 
características: 
 
 
 
5 
 
 
2.1 O que é Filosofia 
 
 
Fonte: www.i.ytimg.com 
 
 
 
6 
 
A pergunta pelo que é a Filosofia é, em si, uma investigação filosófica cujas 
tentativas de resposta ocorrem desde Pitágoras, que cunhou o termo. O que é isto: a 
Filosofia? Se essa pergunta continua a ser feita é porque é um desafio a tentativa de 
respondê-la. Não há uma definição simples que consiga resolver a questão, pela própria 
extensão do conteúdo produzido que se convencionou chamar de “filosofia” e pelas 
diferentes respostas que os filósofos deram a elano decorrer da história, muitas vezes 
refutando as interpretações de outros. Ou seja, a própria questão “O que é Filosofia” é 
aquilo que chamamos de “problema filosófico”: problemas que só podem ser resolvidos 
por meio da investigação racional, pois não podem ser constatados por meio de uma 
experimentação, como faz a Matemática, através de cálculos, ou de análise de 
documentos, como faz a História, por exemplo. 
Vamos tomar a palavra “Justiça” como exemplo, pelo método histórico, nós 
podemos fazer uma investigação de quando essa noção aparece, em qual contexto, 
quais foram seus antecedentes, qual o sentido essa palavra teve em determinada época. 
Se dois sócios querem dividir os lucros da empresa de forma justa, ou seja, dividindo 
igualmente o lucro e os custos, a Matemática pode nos ajudar a partir de cálculos. No 
entanto, se tentarmos responder “O que é a justiça?” ou: “Faz parte da condição humana 
a noção de justiça?”, o único recurso que teremos será a nossa razão, a nossa 
capacidade de pensar. 
Desde a invenção da palavra “filosofia”, por Pitágoras, temos diversos problemas 
filosóficos e diversas respostas a cada um deles. Para os pré-socráticos: a physis; para 
a Filosofia Antiga: a atividade política, técnicas e ética do homem; para a Filosofia 
Medieval, o conflito entre fé e razão, os Universais, a existência de Deus, a conciliação 
entre Presciência divina e Livre-arbítrio; para a Filosofia Moderna, o empirismo e o 
racionalismo, para a Filosofia Contemporânea,diversos problemas a respeito da 
existência, da linguagem, da arte, da ciência, entre outros. 
Temos também uma diversidade de formas literárias da filosofia: 
Parmênides escreveu em forma de poema; Platão escreveu diálogos; Epicuro escreveu 
cartas; Tomás de Aquinodesenvolveu o método “questio disputatio” em suas aulas que 
foram transcritas por seus alunos;Nietzsche escreveu em forma de aforismos. Por esses 
exemplos, que não esgotam a pluralidade da escrita e da atividade filosófica, podemos 
 
7 
 
compreender que as formas de se fazer filosofia vão muito além dos tratados e das 
dissertações. 
A compreensão que temos por vezes da Filosofia como uma atividade reservada 
a gênios e que, portanto, não precisa se preocupar em se fazer entendida aos demais 
humanos é baseada em uma compreensão da atividade do pensamento sendo superior 
à atividade da linguagem, como se elas estivessem dissociadas. Ora, não podemos 
ainda, por mais desenvolvidas que estejam as nossas tecnologias, expressar o 
pensamento sem linguagem e nem exercitar a linguagem sem que ela seja, antes, 
elaborada pelo pensamento. 
 
2.2 Surgimento da Filosofia 
: 
Fonte: image.slidesharecdn.com 
 
 
 
8 
 
Como qualquer outra proposta educativa, a EAD tem diferentes perspectivas de 
opção filosófica, onde princípios e valores estão postos. Entre a individualização 
extremada e a massificação determinada pela padronização dos comportamentos, 
coloca-se uma terceira possibilidade, que se estabelece pela individualização voltada 
para a integração e cooperação social (KRAMER, 1999, p.34). 
A Filosofia, como conhecemos hoje, ou seja, no sentido de um conhecimento 
racional e sistemático, foi uma atividade que, segundo se defende na história da filosofia, 
iniciou na Grécia Antiga formada por um conjunto de cidades-Estado 
(pólis) independentes. Isso significa que a sociedade grega reunia características 
favoráveis a essa forma de expressão pautada por uma investigação racional. Essas 
características eram: poesia, religião e condições sociopolíticas. 
A partir do século VII a.C., os homens e as mulheres não se satisfazem mais com 
uma explicação mítica da realidade. O pensamento mítico explica a realidade a partir de 
uma realidade exterior, de ordem sobrenatural, que governa a natureza. O mito não 
necessita de explicação racional e, por isso, está associado à aceitação dos indivíduos e 
não há espaço para questionamentos ou críticas. 
É em Mileto, situado na Jônia (atual Turquia), no século VI a.C. que 
nasce Tales que, para a Aristóteles é o iniciador do pensamento filosófico que se 
distingue do mito. No entanto, o pensamento mítico, embora sem a função de explicar a 
realidade, ainda ecoa em obras filosóficas, como as de Platão, dos neoplatônicos e dos 
pitagóricos. 
A autoria da palavra “filosofia” foi atribuída pela tradição a Pitágoras. As duas 
principais fontes sobre isso são Cícero e Diógenes Laércio. Vejamos o que escreve 
Cícero: 
“O doutíssimo discípulo de Platão, Heráclides Pontico, narra que levaram a 
Fliunte alguém que discorreu douta e extensamente com Leonte, príncipe dos fliúncios. 
Como seu engenho e eloquência tivessem sido apreciados por Leonte, este lhe 
perguntou que arte professasse, ao que ele respondeu que não conhecia nenhuma arte 
especial, mas que era filósofo. 
Admirado Leonte diante da novidade daquele termo, perguntou que tipo de 
pessoas eram os filósofos e o que os distinguia dos outros homens. 
 
9 
 
(...) 
[Pitágoras respondeu] Outrossim, os homens (…) comparam-se com os que vão 
da cidade a uma festa popular: alguns vão em busca de glória enquanto outros de ganho, 
restando, todavia, alguns poucos que desconsiderando completamente as outras 
atividades, investigam com afinco a natureza das coisas: estes se dizem investigadores 
da sabedoria - quer dizer filósofos - e como é bem mais nobre ser espectador 
desinteressado, também na vida a investigação e o conhecimento da natureza das coisas 
estão acima de qualquer outra atividade”. 
 
Percebe-se que por meio desse fragmento de Cícero que: 
 
1) A fonte na qual ele se baseia para escrever sobre Pitágoras é Heráclides 
Pontico, discípulo de Platão, mas que era também influenciado pelos pitagóricos. No 
entanto, não se sabe da veracidade a respeito dessa informação, como nota Ferrater 
Mora que também observa que não é possível saber se “filósofo” para Pitágoras significa 
o mesmo que significaria para Platão ou Aristóteles. 
2) Pitágoras em vez de se denominar como “sábio”, prefere se denominar 
“filósofo”, ou seja, aquele que tem amor pela sabedoria. Também percebemos que 
aparece nome “filósofo” e não “Filosofia” que, como atividade, tem origem posterior. 
Como se pode ver no fragmento, não havia na época uma “arte especial”. 
 
 
10 
 
2.3 A Filosofia para alguns filósofos 
 
Fonte: 1.bp.blogspot.co 
Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.): “A admiração sempre foi, antes como agora, a 
causa pela qual os homens começaram a filosofar: a princípio, surpreendiam-se com as 
dificuldades mais comuns; depois, avançando passo a passo, tentavam explicar 
fenômenos maiores, como, por exemplo, as fases da lua, o curso do sol e dos astros e, 
finalmente, a formação do universo. Procurar uma explicação e admirar-se é reconhecer-
se ignorante." 
Epicuro (341 a . C. - 270 a . C.): "Nunca se protele o filosofar quando se é jovem, 
nem o canse fazê-lo quando se é velho, pois que ninguém é jamais pouco maduro nem 
demasiado maduro para conquistar a saúde da alma. E quem diz que a hora de filosofar 
ainda não chegou ou já passou assemelha-se ao que diz que ainda não chegou ou já 
passou a hora de ser feliz." 
Edmund Husserl (1859-1938): "O que pretendo sob o título de filosofia, como fim 
e campo de minhas elaborações, sei-o naturalmente. E contudo não o sei... Qual o 
pensador para quem, na sua vida de filósofo, a filosofia deixou de ser um enigma?" 
Friedrich Nietzsche (1844-1900): “Um filósofo: é um homem que experimenta, vê, 
ouve, suspeita, espera e sonha constantemente coisas extraordinárias; que é atingido 
pelos próprios pensamentos como se eles viessem de fora, de cima e de baixo, como por 
uma espécie de acontecimentos e de faíscas de que só ele pode ser alvo; que é talvez, 
ele próprio, uma trovoada prenhe de relâmpagos novos; um homem fatal, em torno do 
 
11 
 
qual sempre tomba e rola e rebenta e se passam coisas inquietantes”. (Para alémdo bem 
e do mal, p. 207) 
Kant (1724-1804): “Não se ensina filosofia, ensina-se a filosofar”. 
Ludwig Wittgenstein (1889-1951): "Qual o seu objetivo em filosofia? - Mostrar à 
mosca a saída do vidro." 
Maurice Merleau-Ponty (1908-1961): "A verdadeira filosofia é reaprender a ver o 
mundo." 
Gilles Deleuze (1925-1996) e Félix Guattari (1930-1993): "A filosofia é a arte de 
formar, de inventar, de fabricar conceitos... O filósofo é o amigo do conceito, ele é 
conceito em potência... Criar conceitos sempre novos é o objeto da filosofia." 
Karl Jaspers (1883-1969): “As perguntas em filosofia são mais essenciais que as 
respostas e cada resposta transforma-se numa nova pergunta” (Introdução ao 
pensamento filosófico, p. 140). 
García Morente (1886-1942): “Para abordar a filosofia, para entrar no território da 
filosofia, é absolutamente indispensável uma primeira disposição de ânimo. É 
absolutamente indispensável que o aspirante a filósofo sinta a necessidade de levar seu 
estudo com uma disposição infantil. (…) Aquele para quem tudo resulta muito natural, 
para quem tudo resulta muito fácil de entender, para quem tudo resulta muito óbvio, 
nunca poderá ser filósofo”. (Fundamentos de filosofia, p. 33-34). 
 
 
NASCIMENTO DA FILOSOFIA 
 
 
Fonte: alunosonline.uol.com.br 
 
12 
 
 
Os historiadores da Filosofia situam o seu nascimento no final do século VII e início 
do século VI antes de Cristo, nas colônias gregas da Ásia Menor, na cidade de Mileto. E 
aquele a quem primeiro atribuiu-se esse título foi Tales de Mileto. Em seu nascimento a 
filosofia caracteriza-se como uma cosmologia. A palavra cosmologia é composta de duas 
outras: cosmos, que significa mundo ordenado e organizado, e logia, que vem da 
palavra logos, que significa pensamento racional, discurso racional, conhecimento. 
Assim, a Filosofia nasce como conhecimento racional da ordem do mundo ou da 
Natureza, de onde: cosmologia. Ainda dentro deste contexto podemos dizer que a 
Filosofia nasceu realizando uma transformação gradual sobre os mitos gregos, embora 
alguns autores defendam uma ruptura radical com os mitos. 
[...] o advento da filosofia, na Grécia, marca o declínio do pensamento mítico e o 
começo de um saber de tipo racional [...] homens como Tales, Anaximandro, Anaxímenes 
inauguram um novo modelo de reflexão concernente à natureza [...] da origem do mundo, 
de sua composição, de sua ordem, dos fenômenos metereológicos, propõem explicações 
livres de toda a imaginária dramática das teogonias e cosmogonias antigas (VERNANT, 
2006, p. 109). 
O que é um mito? Um mito é uma narrativa sobre a origem de algo, como a origem 
dos deuses, dos astros, da Terra, dos homens, da água, do bem e do mal etc. e se opõe 
ao logos que é um tipo de raciocínio que “[...] procura convencer, acarretando no ouvinte 
a necessidade de julgar” (BRANDÃO, 1986, p. 13). A palavra mito vem do grego, mythos, 
e deriva de dois verbos: do verbo mytheyo (contar, narrar, falar alguma coisa para outros) 
e do verbo mytheo (conversar, contar, anunciar, nomear, designar). Para os gregos, mito 
é um discurso diferente do logos pois é pronunciado ou proferido para ouvintes que 
recebem como verdadeira a narrativa, porque confiam naquele que narra: “Acredita-se 
nele ou não, à vontade, por um ato de fé, se o mesmo parece "belo" ou verossímil, ou 
simplesmente porque se deseja dar-lhe crédito” (BRANDÃO, 1986, p. 14). As narrativas 
míticas gregas nos foram relatadas sobretudo por Homero e Hesíodo, o primeiro, 
segundo a tradição, é autor de a Ilíada e a Odisséia, enquanto que o segundo é autor 
de Teogonia e Os trabalhos e os dias. 
 
13 
 
Quem narra o mito? O poeta-rapsodo. Quem é ele? Por que tem autoridade? 
Acredita-se que o poeta é um escolhido dos deuses, que lhes mostram os 
acontecimentos passados e permitem que ele veja a origem de todos os seres e de todas 
as coisas para que possa transmiti-la aos ouvintes. Sua palavra - o mito - é sagrada 
porque vem de uma revelação divina. O mito é, pois, incontestável e inquestionável. 
Como exemplo dessas narrativas temos o titã Prometeu, que roubou uma centelha de 
fogo e a trouxe de presente para os humanos. Prometeu foi castigado (amarrado num 
rochedo para que as aves de rapina, eternamente, devorassem seu fígado) e os homens 
também. Qual foi o castigo dos homens? Os deuses fizeram uma mulher encantadora, 
Pandora, a quem foi entregue uma caixa que conteria coisas maravilhosas, mas nunca 
deveria ser aberta. Pandora foi enviada aos humanos e, cheia de curiosidade e querendo 
dar a eles as maravilhas, abriu a caixa. Dela saíram todas as desgraças, doenças, pestes, 
guerras e, sobretudo, a morte. Explica-se, assim, a origem dos males no mundo. 
 
 
 
 Fonte: conscienciapolitica.webnode.pt 
Já foi há muito tempo observado que o antecedente da cosmologia filosófica é 
constituído pelas teogonias e cosmogonias mítico-poéticas, das quais é muito rica a 
literatura grega, e cujo protótipo paradigmático é a Teogonia de Hesíodo, a qual, 
explorando o patrimônio da precedente tradição mitológica, traça uma imponente síntese 
 
14 
 
de todo o material, reelaborando-o e sistematizando-o organicamente. A Teogonia de 
Hesíodo narra o nascimento de todos os deuses; e, dado que alguns deuses coincidem 
com partes do universo e com fenômenos do cosmo, além de teogonia ela se torna 
também cosmogonia, ou seja, explicação da gênese do universo e dos fenômenos 
cósmicos. 
Hesíodo imagina ter tido, aos pés do Hélicon, na Beócia, uma visão das Musas, e 
ter recebido delas a revelação da verdade. Em primeiro lugar, diz ele, gerou-se o Caos, 
em seguida gerou-se Gaia (a Terra), em cujo seio amplo estão todas as coisas, e das 
profundidades da Terra gerou-se o Tártaro escuro, e, por fim, Eros (o Amor) que, depois, 
deu origem a todas as outras coisas. Do Caos nasceram Erebo e Noite, dos quais se 
geraram o Eter (o Céu superior) e Emera (o Dia). E da Terra sozinha se geraram Urano 
(o Céu estrelado), assim como o mar e os montes; depois, juntando-se com o Céu, a 
Terra gerou Oceano e os rios (cf. REALE, G. História da Filosofia, vol. I.) 
 
 
Fonte: conscienciapolitica.webnode.pt 
O mito narra, assim, a origem das coisas por meio de lutas, alianças e relações 
entre forças sobrenaturais que governam o mundo e o destino dos homens. Como os 
mitos sobre a origem do mundo são genealogias, diz-se que 
são cosmogonias e teogonias. 
 
15 
 
Considera-se, portanto, que a Filosofia, percebendo as contradições e limitações 
dos mitos, foi reformulando e racionalizando as narrativas míticas, transformando-as 
numa outra coisa, numa explicação inteiramente nova e diferente. O pensamento 
filosófico em seu nascimento tinha como traços principais: 
 
tendência à racionalidade: a razão é o critério de explicação da realidade; 
a Natureza opera obedecendo leis e princípios racionais e, portanto, pode ser 
conhecida pelo nosso pensamento e pela nossa razão; 
o Cosmo, entendido como ordem, é uma ordem racional; é a racionalidade deste 
mundo que o torna compreensível ao entendimento humano; daí, Cosmologia. 
 
A Filosofia, entendida como aspiração ao conhecimento racional, lógico e 
sistemático da realidade natural e humana, da origem e causas do mundo e de suas 
transformações, da origem e causas das ações humanas e do próprio pensamento, é um 
fato tipicamente grego. Evidentemente, isso não quer dizer, de modo algum, que outros 
povos, tão antigos quanto os gregos, como os chineses, os hindus, os japoneses, os 
árabes, os persas, os hebreus, os africanos ou os índios da América não possuam 
sabedoria, pois possuíam e possuem. Também não quer dizer que todos esses povos 
não tivessem desenvolvido o pensamento e formas de conhecimento da Natureza e dos 
seres humanos, pois desenvolveram e desenvolvem. 
 
 
Fonte: conscienciapolitica.webnode.pt 
 
16 
 
Quando se diz que a Filosofia é um fato grego, o que se quer dizeré que ela possui 
certas características, apresenta certas formas de pensar e de exprimir o pensamento, 
estabelece certas concepções sobre o que sejam a realidade, o pensamento, a ação, as 
técnicas, que são completamente diferentes das características desenvolvidas por outros 
povos e outras culturas. 
 Em outras palavras, Filosofia é um modo de pensar e exprimir o pensamento que 
surgiu especificamente com os gregos e que, por razões históricas e políticas, tornou-se, 
depois, o modo de pensar e de se exprimir predominante da chamada cultura europeia 
ocidental da qual, em decorrência da colonização portuguesa do Brasil, nós também 
participamos. Através da Filosofia, os gregos instituíram para o Ocidente europeu as 
bases e os princípios fundamentais do que chamamos razão, racionalidade, ciência, 
ética, política, técnica, arte. 
Portanto, a Filosofia surge quando alguns pensadores gregos, admirados e 
espantados com a realidade, insatisfeitos com as explicações que a tradição lhes dera, 
começaram a fazer perguntas e buscar respostas para elas, demonstrando que o mundo 
e os seres humanos, os acontecimentos e as coisas da Natureza, os acontecimentos e 
as ações humanas podem ser conhecidos pela razão humana, e que a própria razão é 
capaz de conhecer-se a si mesma. A filosofia, enfim: 
 
[...] vai encontrar-se, pois, ao nascer, numa posição ambígua: em seus métodos, 
em sua inspiração, aparentar-se-á ao mesmo tempo às iniciações dos mistérios 
e às controvérsias da ágora; flutuará entre o espírito de segredo próprio das sei-
tas e a publicidade do debate contraditório que caracterizava a atividade política 
[...] O filósofo não deixará de oscilar entre duas atitudes, de hesitar entre duas 
tentações contrárias. Ora afirmará ser o único qualificado para dirigir o Estado, e, 
tomando orgulhosamente a posição do rei-divino, pretenderá, em nome desse 
‘saber’ que o eleva acima dos homens, reformar toda a vida social e ordenar 
soberanamente a cidade. Ora ele se retirará do mundo para recolher-se numa 
sabedoria puramente privada; agrupando em torno de si alguns discípulos, dese-
jará com eles instaurar, na cidade, uma cidade diferente, à margem da primeira 
e, renunciando à vida pública, buscará sua salvação no conhecimento e na con-
templação” (VERNANT, 2006, p. 64) 
 
Mas a cosmologia não é a única característica principal da filosofia grega. Se num 
primeiro momento a filosofia surge como compreensão racional do cosmos, não é menos 
exato dizer que com a emergência da polis grega (as cidades-Estado), a filosofia irá 
 
17 
 
mudar a sua ênfase de pesquisa, no sentido de que a problemática agora será o próprio 
homem, enquanto ser individual, ético e cidadão da polis. 
Nesse momento, diz Jean Pierre Vernant, a Grécia está centralizada na ágora, 
espaço comum, espaço público, onde são debatidos os problemas de interesse geral. 
“Esse quadro urbano define efetivamente um espaço mental; descobre um novo 
horizonte espiritual. Desde que se centraliza na praça pública, a cidade já é, no sentido 
pleno do termo, uma polis” (2006, p. 51) E mais adiante: 
O aparecimento da polis constitui, na história do pensamento grego, um 
acontecimento decisivo. Certamente, no plano intelectual como no domínio das 
instituições, só no fim alcançará todas as suas consequências; a polis conhecerá etapas 
múltiplas e formas variadas. Entretanto, desde seu advento, que se pode situar entre os 
séculos VIII e VII, marca um começo, uma verdadeira invenção; por ela, a vida social e 
as relações entre os homens tomam uma forma nova, cuja originalidade será plenamente 
sentida pelos gregos (id., ibidem, p. 53). 
 Nesse novo contexto, Sócrates e os Sofistas inauguram um novo momento na 
filosofia grega. O pensamento de Sócrates é um marco na constituição da tradição 
filosófica ocidental. E pode-se dizer que inaugura a filosofia clássica dando maior ênfase 
a problemática ético-política e existencial, ao invés de uma maior preocupação centrada 
sobre a realidade natural, tal como encontramos nos filósofos pré-socráticos do período 
cosmológico. Essa mesma denominação, “pré-socráticos”, já reflete a importância da 
filosofia de Sócrates como um divisor de águas. Neste período da filosofia grega (séc. V 
e IV a.C.), o interesse dos filósofos gira não tanto em torno da natureza, como nos pré-
socráticos, mas em torno do homem e do espírito; da cosmologia passa-se para 
a antropologia, a política e a moral. Daí ser dado a esse segundo período do pensamento 
grego também o nome de antropológico, pela importância e o lugar central destinado ao 
homem e ao espírito no sistema do mundo, até então limitado à natureza exterior. Por 
outro lado, os Sofistas, contemporâneos de Sócrates, embora com visões diferentes, 
compartilham o interesse pela problemática ético-política, pela questão do homem 
enquanto cidadão da polis, que passa a se organizar politicamente no sistema que 
conhecemos como democracia. 
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18 
 
 Os Sofistas surgem no contexto da democracia grega e do apogeu das 
cidades-estados, onde as deliberações serão tomadas em reunião de cidadãos: as 
assembleias. Tais decisões devem ser tomadas por consenso, o que significa explicar, 
justificar, discutir, convencer, persuadir, além disso, o uso da linguagem, o modo de falar, 
do discurso, deve ser racional. Na medida em que a palavra passa a ser livre, ela se torna 
instrumento através do qual os indivíduos podem defender seus interesses, seus direitos 
e suas propostas. “O filósofo é alguém que usa a palavra. Então, o indivíduo que não se 
interessa pela palavra, que a utiliza de um modo apenas pragmático, do tipo ‘me passe 
o sal’, que se pode fazer com ele?” (CHÂTELET, 1994, p. 29). Surge a arte do discurso, 
a retórica e a oratória, e os Sofistas são, precisamente, os mestres de retórica e oratória. 
“O que implica o sistema da polis é primeiramente uma extraordinária preeminência da 
palavra sobre todos os outros instrumentos de poder. Torna-se o instrumento político por 
excelência, a chave de toda autoridade no Estado, o meio de comento e de domínio sobre 
outrem” (VERNANT, 2006, p. 53). E mais adiante: “Doravante, a discussão, a 
argumentação, a polêmica tornam-se as regras do jogo intelectual, assim como do jogo 
político” (id., ibidem, p. 56). Na democracia ateniense, a função pública dos oradores 
torna-se fundamental e a palavra um instrumento utilizado não mais apenas por 
pensadores, mas também por políticos. É necessário preparar os indivíduos para a vida 
pública, torná-los capacitados para a virtude (aretê) política e para tal, é preciso adestrá-
los na arte da persuasão através da palavra. “Na democracia, a palavra vai impor-se, e 
quem dominar a palavra dominará a cidade” (CHÂTELET, 1994, p. 16). 
 Nesse período o pensamento filosófico terá como traços principais: 
 
 As práticas humanas, a moral, a política, dependem da vontade livre e da escolha 
racional segundo valores estabelecidos pelos próprios seres humanos e não por 
imposição divina ou sobrenatural; 
 A ideia de lei como expressão da vontade humana ordenada pela razão; “A lei da 
polis [...] já não se impõe pela força de um prestígio pessoal ou religioso; devem 
mostrar sua retidão por processos de ordem dialética [do diálogo, em sentido am-
plo]” (VERNANT, 2006, p. 56), e, mesmo que ainda concebida como sagrada, a 
lei se torna uma ordem racional, sujeita à discussão e modificável por decreto 
 
19 
 
 O discurso político – a vida política grega –, ao valorizar o pensamento racional, 
cria condições para valorizar o discurso filosófico, enquantoarte retórica, oratória 
e objeto de debate público – um combate de argumentos cuja arena é a ágora, 
praça pública, lugar de reunião entre os cidadãos. 
 
3 HISTÓRIA DA FILOSOFIA 
 
Fonte: encrypted-tbn0.gstatic.com 
Sob vários aspectos pode a história da filosofia suscitar interesse. Quem quiser 
descortinar o ponto central, deve buscá-lo no nexo essencial que liga os tempos 
aparentemente passados com o grau atualmente alcançado pela filosofia. Tal nexo não 
é um fato exterior suscetível de ser descurado na história desta ciência; exprime, pelo 
contrário, o caráter íntimo da filosofia; e as vicissitudes desta história, perpetuando-se 
nos seus efeitos, como qualquer outro acontecimento, são produtivas de maneira que 
lhes é peculiar: outra coisa não pretendemos senão ilustrar isto mesmo o mais claramente 
que nos seja possível. 
 
20 
 
A história da filosofia representa a série dos espíritos nobres, a galeria dos heróis 
da razão pensante, os quais, graças a essa razão, lograram penetrar na essência das 
coisas, da natureza e do espírito, na essência de Deus, conquistando assim com o próprio 
trabalho o mais precioso tesouro: o do conhecimento racional. 
Na história política, o indivíduo, na singularidade da sua índole, do seu gênio, das 
suas paixões, da energia ou da fraqueza de caráter, em suma, em tudo o que caracteriza 
a sua individualidade, é o sujeito das ações e dos acontecimentos. Na história da filosofia, 
estas ações e acontecimentos, ao que parece, não têm o cunho da personalidade nem 
do caráter individual; deste modo, as obras são tanto mais insignes quanto menos a 
responsabilidade e o mérito recaem no indivíduo singular, quanto mais este pensamento 
liberto de peculiaridade individual é, ele próprio, o sujeito criador. Primeiramente, estes 
atos do pensamento, enquanto pertencentes à história, surgem como fatos do passado 
e para além da nossa existência real. Na realidade, porém, tudo o que somos, somo-lo 
por obra da história; ou, para falar com maior exatidão, do mesmo modo que na história 
do pensamento o passado é apenas uma parte, assim no presente, o que possuímos de 
modo permanente está inseparavelmente ligado com o fato da nossa existência histórica. 
O patrimônio da razão autoconsciente que nos pertence não surgiu sem preparação, nem 
cresceu só do solo atual, mas é característica de tal patrimônio o ser herança e, mais 
propriamente, resultado do trabalho de todas as gerações precedentes do gênero 
humano. 
Como as artes da vida externa, o complexo de meios, de habilidades, de insti-
tuições e de hábitos no convívio social e na vida política são o resultado da meditação e 
da invenção, das privações, ou de acidentes da sorte, da necessidade e da perícia, do 
querer e do poder da história na sua evolução até o presente atual. Se alguma coisa 
somos no domínio da ciência e da filosofia, devemo-lo à tradição, a qual, através do que 
é caduco, e por isso mesmo passado, forma, segundo a expressão de Herder, uma 
corrente sagrada que conserva e transmite tudo quanto o mundo produziu antes de nós. 
Mas esta tradição não é apenas uma ama que conserva fielmente o patrimônio 
recebido para o manter e transmitir invariável aos vindouros, como o curso da natureza 
que, através de infinitas variações e atividades de formas e funções, sempre se conserva 
fiel às suas leis originais sem progredir; não é estátua de pedra, mas é viva, e 
 
21 
 
continuamente se vai enriquecendo com novas contribuições, à maneira de rio que 
engrossa o caudal à medida que se afasta da nascente. O conteúdo desta tradição é 
formado por tudo quanto o mundo espiritual produziu, e o espírito universal nunca 
permanece estacionário. Ora, é do espírito universal que nos devemos ocupar aqui. É 
possível que em determinada nação se dê uma pausa na cultura, na arte, na ciência, nas 
capacidades intelectuaisem geral. Pareceter sido o que sucedeu com os chineses que, 
vai para dois mil anos, teriam estacionado no atual grau de desenvolvimento. Mas o 
espírito do mundo não pode cair neste repouso indiferente, como se deduz do simples 
conceito essencial do espírito, pois que o seu viver é o seu agir. Ora, a ação pressupõe 
uma matéria preexistente sobre a qual se exerça, não só a fim de a aumentar com o 
acréscimo de novos materiais, senão principalmente para a elevar e transformar. Deste 
modo, aquilo que todas as gerações produziram como ciência, como patrimônio 
espiritual, constitui uma herança acumulada pelo trabalho de todos os homens que nos 
precederam, um templo onde todas as gerações humanas, gratas e alegres, depuseram 
o que as ajudou a viver e o que elas conseguiram extrair da profundidade da natureza e 
do espírito. 
A recepção desta herança equivale ao exercício da posse dela. Ela forma a alma 
das sucessivas gerações, a sua substância espiritual e como que um hábito transmitido, 
os seus princípios, prejuízos e riquezas; e, ao mesmo tempo, tal herança degradou-se 
ao ponto de servir de matéria para ser transformada e elaborada pelo espírito. Desta 
maneira se vai modificando o patrimônio herdado, e simultaneamente se enriquece e 
conserva o material elaborado. 
É esta, precisamente, a posição e a função da nossa idade, como aliás de todas 
as idades: compreender a ciência existente, modelar por ela a nossa inteligência, e desse 
modo desenvolvê-la, elevá-la a um grau superior; no ato de a convertermos em 
propriedade nossa e individual, juntamos-lhe algo de que até então carecera. Desta 
característica da produção espiritual, que supõe um mundo espiritual preexistente e o 
transforma no ato de se apossar dele, segue-se que a nossa filosofia só pode existir 
enquanto ligada à precedente, da qual é necessário produto; e o curso da história mostra, 
não o devir de coisas a nós estranhas, mas sim o nosso devir, o devir do nosso saber. 
 
22 
 
Da natureza da relação que expusemos dependem as ideias e os problemas que 
podemos propor, relativos ao âmbito da história da filosofia. Compreender devidamente 
esta relação permite alcançar como pelo estudo da história desta ciência somos iniciados 
no conhecimento da própria ciência. As indicações que demos acerca do processo de 
tratar esta história são tomadas de tal relação, e a elucidação delas constitui uma das 
finalidades desta Introdução. Nesta altura, intervém o conceito do fim da filosofia, que 
deveria ser estabelecido como fundamento. Mas, visto não podermos fazer aqui uma 
exposição científica deste conceito, em vez de provar e fazer compreender a natureza do 
devir da filosofia, contentamo-nos com dar dele uma ideia preliminar. Este devir não é 
simplesmente um movimento passivo como imaginamos que seja o nascer do sol e da 
lua, movimento que se efetua sem contrariedade no espaço e no tempo. O que devemos 
representar ao espírito é a atividade do pensamento livre; devemos representar a história 
do mundo no pensamento, o processo do seu nascimento e produção. Segundo uma 
antiga opinião, a faculdade de pensar é o que separa os homens dos brutos. Aceitamo-
la como verdadeira. O que o homem possui de mais nobre do que o animal, possui-o 
graças ao pensamento: tudo quanto é humano, de qualquer forma que se manifeste, é-o 
na medida em que o pensamento age ou agiu. Mas sendo o pensamento o essencial, o 
substancial, o efeitual, dirige-se a objetos muito variados; pelo que importa considerar 
como mais perfeito o pensamento voltado sobre si mesmo, ou seja, sobre o objeto mais 
nobre que pode buscar e encontrar. 
 
23 
 
 
Fonte: resumoescolar.com.br 
A história que nos propomos fazer é a história do pensamento que a si próprio se 
encontra; e por meio do pensamento acontece que ele se encontra na medida em que se 
produz; por isso só existe e é real na medida em que se encontra. As manifestações 
deste processo são as filosofias, e as séries das descobertas, de que o pensamento se 
vale para se descobrir, constituem o trabalhode dois mil e quinhentos anos. 
Se o pensamento, enquanto essencialmente pensamento, é em si e por si estante 
e eterno, e se o vero está contido só no pensamento — como é que este mundo 
intelectual consegue ter uma história? Na história apresenta-se o que é mutável, o que 
mergulha na noite do passado, o que já não existe; pelo contrário, o pensamento vero e 
necessário — e, aqui, só deste nos ocuparemos — não é suscetível de mudança. A 
questão, que surge aqui, é uma das primeiras sobre que deve incidir a nossa atenção. 
Em segundo lugar, apresentam-se à mente, além da filosofia, muitos outros objetos de 
importância, os quais, sejam embora produto do pensamento, ficam excluídos da nossa 
investigação, tais como a religião, a história política, as constituições dos Estados, as 
artes e as ciências. Ocorre perguntar: como distinguir estes produtos daqueles que 
formam o objeto do nosso estudo? Mais. Que relação medeia entre eles e a história? 
 
24 
 
Sobre estas duas questões precisamos dizer alguma coisa, o bastante para elucidar a 
maneira como entendemos tratar a história da filosofia. 
Além disso, em terceiro lugar, é oportuno, antes de baixar aos pormenores, 
abarcar num relance o conjunto, sob risco de deixar o todo pelos pormenores, a floresta 
pelas árvores, a filosofia pelas filosofias. O espírito exige a posse de uma representação 
geral do escopo e da finalidade do conjunto para saber a que deva consagrar-se. Do 
mesmo modo que se abarca num relance uma paisagem que se vai estreitando à medida 
que demoramos o olhar em cada uma das partes que a constituem, assim também o 
espírito deseja compreender a relação entre as filosofias particulares e a filosofia geral, 
porque o valor das partes singulares deriva principalmente da relação entre elas e o todo. 
Isto obtém-se, acima de tudo, por meio da filosofia e da história da filosofia. A 
necessidade desta visão de conjunto pode, com rigor, parecer menor para a história do 
que para uma ciência própria e verdadeira. De fato, à primeira vista, a história parece ser 
uma sucessão de fenômenos contingentes, isolados, e que só do tempo recebem o nexo 
que os prende. Todavia, já na história política não nos contentamos com esta maneira de 
ver: compreendemos, ou pelo menos pressentimos, uma conexão necessária que marca, 
a cada um dos fatos, a sua posição especial e a relação com uma finalidade, e com isso 
lhes marca também um significado. Tudo, na história, tem significado só pela sua relação 
com algum fato geral e em virtude da sua ligação com ele; descobrir este fato geral 
chama-se compreender o seu significado. 
Restam ainda os seguintes pontos que me proponho esclarecer nesta Introdução. 
Primeiramente, a que se destina a história da filosofia? Qual o seu significado, o seu 
conceito, o seu escopo? Da resposta a estas perguntas se deduzirá o modo de tratar o 
assunto. Resultará daí, como particularidade mais interessante, a relação entre a história 
da filosofia e a própria ciência da filosofia; ver-se-á que a história da filosofia não se limita 
a expor os fatos externos, os acontecimentos acidentais que formam o seu conteúdo, 
mas procura demonstrar como este mesmo conteúdo, embora pareça desenvolver-se 
historicamente, na realidade pertence à ciência da filosofia: a história da filosofia é, 
também ela, científica, e converte-se, pelo que lhe é essencial, em ciência da filosofia. 
Em segundo lugar, precisamos fixar com maior exatidão o conceito da filosofia, a 
fim de determinar, sobre a base de tal conceito, tudo quanto do infinito material e dos 
 
25 
 
múltiplos aspectos oferecidos pela cultura espiritual dos povos se deva excluir da história 
da filosofia. A religião e as ideias nela e acerca dela expressas, especialmente sob forma 
de mitologia, apresentam-se, pelo seu conteúdo, tão aparentadas com a filosofia, que os 
confins de uma e de outra se confundem. Outro tanto se pode afirmar das demais 
ciências: as ideias de cada uma delas sobre o Estado, sobre os deveres e sobre as leis, 
são tão parentes da filosofia pela forma, como a religião o é pela substância. Poder-se-
ia supor que se deveriam tomar em consideração todas estas ideias na história da 
filosofia. Que coisa há que se não tenha chamado filosofia e filosofar? Por um lado, 
convirá considerar atentamente a íntima ligação da filosofia com as disciplinas afins, 
religião, arte, com as demais ciências, como também com a história política. Por outro 
lado, depois de bem delimitado o campo da filosofia, mediante a determinação do que é 
a filosofia e do que lhe pertence, teremos obtido um princípio para a sua história muito 
distinto dos inícios de ideias religiosas e de conjecturas mais ou menos ricas em ideias. 
Do conceito do âmbito e da finalidade, como resulta destes primeiros pontos de 
vista, importará passar à consideração de um terceiro ponto, isto é, ao exame geral e à 
divisão do curso da história da filosofia em momentos necessários. Esta divisão permitirá 
mostrar essa história como um todo orgânico em via de progresso, como um nexo 
racional. Só deste modo alcançará a dignidade de ciência. 
Não me demorarei noutras reflexões sobre a utilidade da história da filosofia e dos 
vários modos de a tratar: a utilidade é por si evidente. Por último, para me não afastar do 
costume tradicional, tratarei também das fontes da história da filosofia. 
3.1 A Filosofia Antiga 
A Grécia (Hélade) nada mais foi do que um conjunto de cidades-Estados (Pólis) 
que se desenvolveram na Península Balcânica no sul da Europa. Por ser seu relevo 
montanhoso, permitiu que grupos de pessoas (Demos) fossem formados isoladamente 
no interior do qual cada Pólis desenvolveu sua autonomia. 
Constituída de uma porção de terras continental e outra de várias ilhas, bem como 
também em virtude da pouca fertilidade dos seus solos, a Grécia teve de desenvolver 
o comércio como principal atividade econômica. Assim, e aproveitando-se do seu litoral 
 
26 
 
bastante recortado e com portos naturais, desenvolveu também a navegação para 
expandir os negócios, bem como mais tarde sua influência política nas chamadas 
colônias. 
A sociedade grega era organizada segundo o modelo tradicional aristocrático, 
baseado nos mitos(narrativas fabulosas sobre a origem e ordem do universo), em que a 
filiação à terra natal (proprietários) determinava o poder (rei). 
Esse modo de estruturar a sociedade e pensar o mundo é comumente classificado 
como período Homérico (devido a Homero, poeta que narra o surgimento da Grécia a 
partir da guerra de Troia). Mas com o tempo, algumas contradições foram sendo 
percebidas e exigiram novas explicações. Surge, então, a Filosofia. Eis os principais 
fatores que contribuíram para o seu aparecimento: 
 
 As viagens marítimas, pois o impulso expansionista obrigou os comerciantes a 
enfrentarem as lendas e daí constatarem a fantasia do discurso mítico, proporci-
onando a desmitificação do mundo (como exemplo, os monstros que os poetas 
contavam existir em determinados lugares onde, visitados pelos navegadores, 
nada ali encontravam); 
 A construção do calendário que permitiu a medição do tempo segundo as esta-
ções do ano e da alternância entre dia e noite. Isso favoreceu a capacidade dos 
gregos de abstrair o tempo naturalmente e não como potência divina; 
 O uso da moeda para as trocas comerciais que antes eram realizadas entre pro-
dutos. Isso também favoreceu o pensamento abstrato, já que o valor agregado 
aos produtos dependia de uma certa análise sobre a valoração; 
 A invenção do alfabeto e o uso da palavra é também um acontecimento peculiar. 
Numa sociedade acostumada à oralidade dos poetas, aos poucos cai em desuso 
o recurso às imagens para representar o real e surge, como substituto, a escrita 
alfabética/fonética, propiciando, como os itens acima, um maior poder de abstra-
ção. 
 A palavra não mais é usada como nos rituais esotéricos (fechados paraos inicia-
dos nos mistérios sagrados e que desvendavam os oráculos dos deuses), nem 
 
27 
 
pelos poetas inspirados pelos deuses, mas na praça pública (Ágora), no confronto 
cotidiano entre os cidadãos; 
 O crescimento urbano é também registrado em virtude de todo esse movimento, 
assim como o fomento das técnicas artesanais e o comércio interno, as artes e 
outros serviços, características típicas das cidades; 
 A criação da Política que faz uso da palavra para as deliberações do povo (Demo) 
em cada Pólis (por isso, Democracia ou o governo do povo), bem como exige que 
sejam publicadas as leis para o conhecimento de todos, para que reflitam, criti-
quem e a modifiquem segundo os seus interesses. 
 
As discussões em assembleias (que era onde o povo se reunia para votar) 
estimulava o pensamento crítico-reflexivo, a expressão da vontade coletiva e evidencia a 
capacidade do homem em se reconhecer capaz de vislumbrar a ordem e a organização 
do mundo a partir da sua própria racionalidade e não mais nas palavras mágico-religiosas 
baseadas na autoridade dos poeta inspirados. Com isso, foi possível, a partir da 
investigação sistemática, das contradições, da exigência de rigor lógico, surgir a Filosofia. 
3.2 As principais características da Filosofia 
 
Fonte: image.slidesharecdn.com 
 
28 
 
 
A reflexão filosófica surge no século VI a. C., na Grécia, em contraposição à 
narrativa mítica. Um novo conceito de verdade sobre a realidade substitui, assim, o 
modelo baseado na tradição oral dos poetas, autoridades portadoras da vontade dos 
deuses. 
A Filosofia surge como espanto diante da possibilidade de estranhar o mundo e 
concebê-lo de forma racional. Esse espanto impulsiona a busca da compreensão do ser 
enquanto algo natural e capaz de ser apreendido pelo Lógos (razão, discurso, palavra) 
humano. Após esse primeiro passo, a Filosofia também nos aparece como admiração, 
isto é, a contemplação da verdade de modo absoluto e universal, válida para todos, 
independente de raça, nação, cultura, mito, etc. Assim, a Filosofia liberta o homem da 
insegurança e do temor proporcionados pelo Mito de que o destino dos homens era um 
joguete dos deuses. 
Para conhecer essa verdade, os filósofos se esforçaram para conhecer as 
causas e os princípios (arqué) de toda a realidade, descobrindo na multiplicidade de 
coisas e opiniões um princípio único. Vejamos quais são as principais características 
deste processo de compreensão: 
 
 Tendência racional, em que somente a Razão é o critério de explicação sobre o 
mundo, segundo seus próprios princípios; 
 Submissão dos problemas à análise, à crítica, à discussão, à demonstração, pro-
curando oferecer respostas seguras e definitivas; 
 O pensamento é a fonte do conhecimento e deve apresentar as regras de seu 
funcionamento para justificar suas bases lógicas (por exemplo: os princípios de 
Identidade, da Não Contradição e do Terceiro Excluído); 
 Não aceitar as noções pré-concebidas, as opiniões já pré-estabelecidas, os pré-
conceitos imediatos, mas investigar o real com o rigor exigido pelo pensamento 
e suas leis, não sendo passivo, mas sim ativo no processo do conhecer; 
 Descobrir, a partir da análise das semelhanças e dessemelhanças entre as coi-
sas, o princípio que promove a generalização, isto é, o que permite agrupar os 
vários casos particulares em uma classe geral de objetos. 
 
29 
 
 
 
Fonte: coladaweb.com 
3.3 A importância de ensinar Filosofia 
 
Fonte: mundoeducacao.bol.uol.com.br 
 
Considerada indispensável ao currículo do Ensino Médio, a Filosofia e a Sociologia 
foram aprovadas, em julho de 2006, pela Câmara de Educação Básica do Conselho 
 
30 
 
Nacional de Educação (CNE), como disciplinas obrigatórias no currículo do Ensino 
Médio. 
Tal exigência se deu devido à percepção que educadores tiveram ao constatar os 
benefícios que a disciplina oferece aos alunos que trabalham com ela. 
A Filosofia em especial, leva o aluno à oportunidade de desenvolver um 
pensamento independente e crítico, ou seja, permite a ele experimentar um pensar 
individual. Sabe-se que cada disciplina apresenta suas próprias características, bem 
como auxilia a desenvolver habilidades específicas do pensamento que é abordado. 
No caso da Filosofia, essa permite e dá oportunidade de realizar o pensamento de 
maneira bastante pessoal. 
O Ensino Médio é geralmente considerado pelos educadores como uma fase de 
consolidação do aluno jovem, de sua personalidade e seus desejos, a Filosofia apresenta 
um papel importante e fundamental no sentido de colaboração. 
A Filosofia é bastante questionada enquanto disciplina, é necessário que os 
educadores se conscientizem de que o ensino não deve ser considerado como uma 
disciplina a mais a ser ensinada. O ideal é que o professor que tem a responsabilidade 
de aplicar tal disciplina tenha em mente o quanto é necessário fazer com que seus alunos 
não fiquem dependentes de livros didáticos, não desmerecendo, mas no sentido de não 
tender para os tão famosos “decorebas” de ideias e autores. 
Aos educadores que se preocupam com a melhor forma de aplicar a Filosofia, não 
existe receita pronta. Recomenda-se a priorização de práticas que favoreça a formação 
de jovens capazes de desenvolver seu próprio pensamento e crítica, formando cidadãos 
capacitados para enfrentar as diversas situações que poderão surgir em suas vidas. 
A Filosofia é fundamental na vida de todo ser humano, visto que proporciona a 
prática de análise, reflexão e crítica em benefício do encontro do conhecimento do mundo 
e do homem. 
 
 
 
 
 
 
31 
 
 FILOSOFIA DA CIÊNCIA 
 
 
Fonte: 4.bp.blogspot.com 
Filosofia da ciência é a área da filosofia que pergunta sobre a ciência, de quais 
ideias parte, qual método usa, sobre qual fundamento e acerca de suas implicações. 
Apesar destes problemas gerais, muitos filósofos escreveram sobre algumas ciências 
particulares, como a física e a biologia. Não apenas se utiliza a filosofia para pensar sobre 
a ciência, como se utiliza resultados científicos para pensar a filosofia. 
Não existe determinada ciência que faça parte dos estudos da filosofia da ciência. 
As ciências naturais (ex.: biologia, química e física), formais (ex.: matemática, lógica e 
teoria dos sistemas), sociais (ex.: sociologia, antropologia e economia) e aplicadas 
(agronomia, arquitetura e engenharia) já foram objetos de estudos filosóficos. 
Historicamente, já na Grécia Antiga se pensava sobre a ciência. Aristóteles (384 
a.C.-322 a.C.), por exemplo, escreveu sobre a origem da vida, afirmando a possibilidade 
de existir vida a partir de algo inanimado. A teoria da abiogênese (geração espontânea) 
que ele defendia perdurou por diversos séculos. Além da origem da vida, Aristóteles 
também se preocupou em elaborar um meio de estudar as espécies, sendo ele o primeiro 
a propor uma divisão do reino animal em categorias. 
 
32 
 
No decorrer da história, a figura mais importante para a filosofia da ciência é 
Francis Bacon (1561-1626), filósofo inglês responsável pela base da ciência moderna, o 
método indutivo. A indução, método de a partir de fatos particulares chegar a conclusões 
universais, já existia, mas é Bacon o responsável por seu aprimoramento e divulgação. 
Após Bacon, muito se pensou e escreveu sobre a ciência, especialmente devido 
aos avanços e descobertas dos séculos seguintes. René Descartes desenvolveu seu 
método, houve as contribuições e discussões de Galileu Galilei, Isaac Newton, Gottfried 
Leibniz e outros. Deste aumento considerável de pensadores que detiveram tempo 
acerca do campo da filosofia da ciência pode-se escolher alguns para comentar suas 
importantes ideias. Entre eles, David Hume e Karl Popper. 
David Hume (1711-1776), filósofo escocês, criticou fortemente as bases da ciência 
e da filosofia. A partir do pensamento de John Locke (1632-1704), Hume levou o 
empirismo, isto é, aideia de que todo o nosso conhecimento tem origem na experiência 
(nos cinco sentidos), até as últimas consequências. Para ele, se nosso conhecimento 
ocorre após a experiência significa que não podemos deduzir eventos futuros. Significa 
dizer que não há nada no mundo que garanta que as leis que regem o universo hoje 
serão as mesmas amanhã. Por mais que o homem observe há milênios o sol aparecer 
todos os dias, nada garante o seu aparecimento amanhã, e por isso a ciência não pode 
tomar suas conclusões como verdades absolutas. 
No século XX, o filósofo austríaco, Karl Popper (1902-1994) criticou a forma de 
fazer ciência a partir da indução, o método defendido por Bacon. Para Popper, o método 
indutivo não garante a validade de suas conclusões. Afirmou isso, pois não é possível ter 
acesso a todos os fatos particulares para ser possível chegar a conclusões. Um cientista 
pode observar cisnes durante 20 anos e perceber que todos os cisnes observados são 
brancos, mas ele não pode concluir que “todos” os cisnes são brancos. Se ele concluir 
isto, bastará a existência de apenas um cisne negro para invalidar sua tese. Com isto, 
Popper defenderá que o papel da ciência é falsear as suas conclusões a partir do método 
dedutivo, partindo de conclusões universais para a verificação particular. O papel da 
ciência é verificar se suas conclusões são verdadeiras, tentando falseá-las com a 
experimentação. 
 
33 
 
Aproximando questões de metafísica, epistemologia e ontologia, quando estas 
tratam da relação entre ciência e verdade, a filosofia da ciência é o ramo da filosofia que 
trata das questões relativas a confiabilidade, previsibilidade e métodos da ciência. 
Questões acerca da ciência sempre estiveram presentes em filosofia, por muito 
tempo não houve distinção entre questões da filosofia e da ciência. No entanto, uma área 
da filosofia dedicada exclusivamente a compreensão das ciências só veio a surgir na 
metade do século XX, particularmente sob influência do positivismo lógico, que buscava 
desenvolver critérios para garantir o significado de afirmações filosóficas, mas também 
pela obra de Thomas Kuhn, A Estrutura das Revoluções Científicas, de 1962, na qual o 
autor procurou apresentar uma nova visão de como se dá o progresso científico. 
Atualmente, existem ramos dentro da filosofia da ciência para todas as ciências 
existentes, desde a filosofia da física, que irá analisar, entre outros tópicos, questões 
relativas a natureza do espaço-tempo, até a filosofia da psicologia e ciência cognitiva. A 
filosofia da ciência, como área ampla, neste contexto, analisará ainda questões relativas 
a possibilidade de se reduzir uma ciência a outra (reducionismo), a validade do raciocínio 
científico e mesmo questões próximas a ética, como a morte na filosofia da medicina. 
Os principais tópicos de investigação para a filosofia da ciência são três: 
 
1. O que se qualifica como ciência? 
2. Qual o propósito da ciência? 
3. A confiabilidade das teorias científicas. 
 
O primeiro tópico, que trata do que se qualifica como ciência, é conhecido como 
"problema da demarcação". De acordo com Karl Popper, a qualidade fundamental da 
ciência é a falseabilidade. Sabemos que estamos diante de uma pseudo-ciência quando 
esta não comporta mecanismos para mostrar que suas teses podem ser falsas. Ainda 
segundo Popper, esta seria a questão primordial da filosofia da ciência. Embora muitos 
filósofos concordem com Popper, um consenso ainda não foi estabelecido, chegando 
alguns filósofos a afirmar que devemos usar o padrão Potter Stewart, segundo o qual "eu 
sei o que é quando vejo". 
https://www.infoescola.com/filosofia/reducionismo/
 
34 
 
Quanto ao propósito da ciência, existem duas correntes mais proeminentes, 
realistas e instrumentalistas. Realistas irão defender que o mundo descrito pelas ciências 
é o mundo real, que o objetivo último da ciência é a verdade, e defenderão que entidades 
inobserváveis possuem o mesmo status ontológico que as entidades observáveis. Nesta 
corrente encontramos nomes como Ernan McMullin e Richard Boyd. Instrumentalistas, 
por outro lado, defenderão que as teorias científicas são ferramentas para identificar 
relações entre meio e finalidade úteis e confiáveis na experiência, mas sem afirmar a 
revelação de entidades para além da experiência. Entre os instrumentalistas os principais 
nomes são Karl Popper e John Dewey. 
Quanto à questão da confiabilidade das teorias científicas, trata-se de investigar 
como e por qual razão devemos confiar em uma teoria científica. Entre as possíveis 
respostas encontramos a tese do poder de predição de fenômenos, segundo a qual uma 
teoria é confiável quando ela é eficaz em prever fenômenos que se dispõe a prever. Outra 
abordagem, intimamente ligada a primeira, é a de que a teoria confiável oferece uma boa 
explicação para os eventos que ocorrem com regularidade, ou que já ocorreram. O 
critério pelo qual se poderia dizer que uma teoria explicou bem um evento, assim como 
o que significa dizer que uma teoria tem poder explicatório, ainda permanece sob 
discussão. 
Entre as questões importantes para a filosofia da ciência encontramos ainda, o 
reducionismo, que trata não apenas da possibilidade de se reduzir uma ciência a outra, 
mas também da possibilidade de reduzir todos os campos de estudo a explicações 
científicas; e a neutralidade política e social da ciência. 
3.4 Questões de estudo da Filosofia 
Apesar do seu nome simples, o campo é complexo e continua a ser uma área de 
investigação atual. Filósofos da ciência estudam ativamente questões como: 
 
 O que é uma lei da natureza? Há alguma em ciências não-físicas, como a biologia 
e a psicologia? 
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-lei.php
 
35 
 
 Que tipo de dados pode ser usado para distinguir entre as verdadeiras causas e 
regularidades acidentais? 
 Quanta evidência e que tipos de evidência precisamos ter antes de aceitar hipó-
teses? 
 Por que é que os cientistas continuam a confiar em modelos e teorias que sabem 
ser pelo menos parcialmente incorretos (como a física de Newton)? 
 
Embora possam parecer elementares, estas questões são na realidade muito difí-
ceis de responder de forma satisfatória. As opiniões variam muito dentro do campo (e, 
ocasionalmente, vão contra as opiniões dos próprios cientistas — que usam o seu tempo 
mais a fazer ciência do que a analisá-la abstratamente). Apesar dessa diversidade de 
opinião, os filósofos da ciência em grande parte concordam num ponto: não há uma 
maneira única e simples de definir a ciência! 
 
 
Fonte: saberciencia.tecnico.ulisboa.pt 
 
Embora o campo seja altamente especializado, algumas ideias chave generaliza-
ram-se. Aqui temos uma explicação curta de apenas alguns conceitos associados à filo-
sofia da ciência, que você pode (ou não) já ter ouvido. 
 
 Epistemologia — ramo da filosofia que lida com o que é o conhecimento, 
como aceitamos algumas coisas como verdadeiras, e como podemos justificar 
essa aceitação. 
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-dados.php
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-evidencia.php
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-hipotese.php
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-hipotese.php
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-modelo.php
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-teoria.php
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-aceitar.php
 
36 
 
 Empiricismo — conjunto de abordagens filosóficas para a construção do co-
nhecimento que enfatizam a importância da evidência observável provinda 
do mundo natural. 
 Indução — método de raciocínio em que uma generalização é defendida como 
verdadeira com base em exemplos individuais que parecem estar conformes 
à generalização. Por exemplo, depois de observar que as árvores, bactérias,anémonas do mar, moscas, e os seres humanos possuem células, pode-se in-
ferir por indução que todos os organismos possuem células. 
 Dedução — método de raciocínio em que a conclusão é alcançada logica-
mente a partir de dadas premissas. Por exemplo, se conhecemos as posições 
relativas atuais da lua, do sol e da Terra, e se sabemos exatamente como se 
movem uns em relação aos outros, podemos deduzira data e o local do pró-
ximo eclipse solar. 
 Parcimónia/ navalha de Occam — ideia de que, sendo todas as outras condi-
ções iguais, devemos preferir uma explicação mais simples a uma mais com-
plexa. 
 Problema da demarcação — o problema de distinguir com segurança a ciência 
da não ciência. Filósofos modernos da ciência concordam em termos gerais 
que não existe um critério único e simples que possa ser usado para demarcar 
as fronteiras da ciência. 
 Falsificação — o ponto de vista, associado com o filósofo Karl Popper, que a 
evidência só pode ser usada para descartar ideias, e não para as apoiar. Po-
pper propôs que as ideias científicas só podem ser testadas através de falsifi-
cação, nunca através da procura de evidência corroborante. 
 Mudanças de paradigma e revoluções científicas — uma visão da ciência, as-
sociada com o filósofo Thomas Kuhn, que sugere que a história da ciência 
pode ser dividida em períodos de ciência normal (quando os cientistas incre-
mentam, elaboram e trabalham com uma teoria científica central, geralmente 
aceite) e breves períodos de ciência revolucionária. Kuhn afirmou que durante 
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-observar.php
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-mundo-natural.php
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-inferencia.php
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-inferencia.php
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-deduzir.php
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-teste.php
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-falsificar.php
http://saberciencia.tecnico.ulisboa.pt/glossario/glossario-falsificar.php
 
37 
 
os períodos de ciência revolucionária, anomalias refutando a teoria aceite acu-
mularam-se a tal ponto que a teoria anterior é rejeitada e uma nova é constru-
ída para tomar o seu lugar, numa assim chamada "mudança de paradigma". 
3.5 Empirismo 
 
Fonte: pm1.narvii.com 
O empirismo é a posição filosófica que aceita a experiência como base para a aná-
lise da natureza, procurando rejeitar as doutrinas dogmáticas. Usado pela primeira vez 
pela Escola Empírica, uma escola de praticantes da medicina na antiga Grécia, o termo 
empirismo deriva da palavra grega empeiría (ἐμπειρία), que designa conhecimento ou 
habilidade obtida por meio da prática, sendo também a origem da palavra "experiência", 
por intermédio do termo latino "experientia". 
Empiristas defendem que o conhecimento é primariamente obtido pela experiência 
sensorial, alguns empiristas radicais vão além afirmando que o conhecimento só é obtido 
pela experiência sensorial e por nenhuma outra forma. 
A posição empirista é frequentemente contrastada com o racionalismo, que esta-
belece a razão como origem do conhecimento, independente dos sentidos. O conceito e 
a busca de evidências como fonte primária de conhecimento existiram durante toda a 
história da filosofia e ciência, desde a Grécia antiga, mas foi com o surgimento do cha-
https://www.infoescola.com/historia/medicina-na-grecia-antiga/
https://www.infoescola.com/filosofia/racionalismo/
https://www.infoescola.com/historia/grecia-antiga/
 
38 
 
mado Empirismo Britânico, no século XVII, que se consolidou como uma posição filosó-
fica especifica, sendo o filósofo John Locke considerado o fundador do empirismo como 
tal. 
Os principais filósofos do Empirismo Britânico foram John Locke, George Berkeley 
e David Hume. 
Locke é famoso por sua comparação da mente humana com uma folha em branco, 
tabula rasa, na qual as experiências derivadas das impressões dos sentidos são impres-
sas. Desta forma, haveriam duas formas de surgimento de ideias, pela sensação e pela 
reflexão, com ideias podendo ser simples ou complexas. 
As ideias simples não são passíveis de análise, sendo referentes as qualidades 
primárias e secundárias dos objetos. Sendo as primárias aquelas que definem o que o 
objeto é essencialmente, por exemplo, uma mesa tem como qualidade primária o arranjo 
especifico de sua estrutura atômica, qualquer outro arranjo faria outro objeto e não uma 
mesa. As qualidades secundárias tratam das informações sensoriais acerca do objeto, 
definindo seus atributos (cor, sabor, espessura, etc). 
Ideias complexas combinam ideias simples e constituem substancias, modos e re-
lações. Desta forma, segundo Locke, e discordando dos racionalistas, o conhecimento 
humano acerca dos objetos do mundo é a percepção de ideias que estão em concordân-
cia ou discordância umas com as outras. Esta hipótese tornou-se a base da posição 
empirista. 
Preocupado que a posição de Locke levaria ao ateísmo, Berkeley formulou a hipó-
tese de que as coisas só existiriam na medida em que são percebidas. Para além destas, 
existiriam as entidades que percebem, tendo sua existência garantida mesmo sem que 
outro as perceba. Exagerando a alegoriada tabula rasa, Berkeley defendeu que a ordem 
que vemos na natureza é a escrita de Deus. Por isto, sua posição é hoje conhecida como 
idealismo subjetivo. 
Na sequência desta discussão, o filósofo Hume moveu a posição empirista na dire-
ção do ceticismo. Para Hume, a recusa de Berkeley se daria pelo fato de que o empi-
rismo possui implicações que não são aceitas pela maioria dos filósofos, devido a con-
vicções pessoais. 
https://www.infoescola.com/filosofos/john-locke/
https://www.infoescola.com/biografias/david-hume/
https://www.infoescola.com/portugues/alegoria/
https://www.infoescola.com/filosofia/ceticismo/
 
39 
 
No campo conceitual, Hume utiliza a distinção de argumentos, proposta por Locke, 
entre demonstrativos e prováveis e a expande, dividindo os argumentos em demonstra-
ções, provas e probabilidades. Sendo as provas, aqueles argumentos da experiência aos 
quais não se pode oferecer oposição. Hume afirma ainda que a razão por si mesma não 
poderia fazer surgir qualquer ideia original, ao mesmo tempo em que desafia a causali-
dade, ao afirmar que a razão não seria capaz de concluir que a existência de uma causa 
seja um requisito absoluto. 
 
3.6 Ceticismo 
 
Fonte: i2.wp.com/universocetico.com 
O Ceticismo é a doutrina do constante questionamento. O termo Ceticismo é de 
origem grega e significa exame, seu fundador foi Pirro, no século IV a.C.. Pintor nascido 
no Peloponeso, não deixou nenhum escrito filosófico sobre o assunto, mas desenvolveu 
um grande interesse por filosofia que o levou a fundar uma escola filosófica que garantiu 
sua reputação entre os contemporâneos. Pirro deixou como discípulo Tímon, que, por 
sua vez, produziu uma vasta obra escrita da qual só nos restaram alguns fragmentos. A 
escola cética criada por Pirro passa por um período de escuridão com a morte de seu 
fundador e renasce com Enesidemo, cujo período de vida não é muito bem determinado, 
 
40 
 
porém sua obra é muito conhecida. A partir daí aparecem com destaque os nomes de 
Agripa, Sexto Empírico e Antíoco de Laodicéia. Até que chega ao fim o período do 
chamado Ceticismo Antigo. 
Como corrente doutrinária, o ceticismo argumenta que não é possível afirmar 
sobre a verdade absoluta de nada, é preciso estar em constante questionamento, 
sobretudo, em relação aos fenômenos metafísicos, religiosos e dogmáticos. Com o 
passar do tempo, o Ceticismo se dividiu em duas linhas, o filosófico e o científico. 
O Ceticismo Filosófico é exatamente esse que começa com a escola de Pirro e 
que se expandiu pela chamada “Nova Academia” que ampliou as perspectivas teóricas, 
refutando verdadesabsolutas e mentiras. Seus seguidores alegavam a impossibilidade 
de alcançar o total conhecimento e adotaram métodos empíricos para afirmar seus 
conhecimentos. Assim, o Ceticismo Filosófico se dedicou a examinar criticamente o 
conhecimento e a percepção sobre a verdade. 
O Ceticismo Científico tem, naturalmente, ligação com o Ceticismo Filosófico, que 
é a base de tudo. Porém não são idênticos e muitos dos praticantes do Ceticismo 
Científico não concordam as proposições da corrente filosófica. A corrente científica é a 
contemporânea, as pessoas que se identificam como céticas são aquelas que 
apresentam uma posição crítica geralmente baseando-se no pensamento crítico e nos 
métodos científicos para constatar a validade das coisas. Assim, ganha muita importância 
a evidência empírica, o que não quer dizer que os céticos façam seu uso constantemente. 
A necessidade de evidências científicas é mais recorrente na área da saúde, onde os 
experimentos não podem colocar em risco a vida das pessoas. 
Entre os céticos há os chamados desenganadores que dedicam-se ao combate 
contra o charlatanismo, expondo suas práticas falsas e não-científicas. Os religiosos 
afetados por esses indivíduos, quando chamados a provar suas convicções, preferem 
atingir pessoalmente os céticos e não discutir suas práticas. Por outro lado, há também 
o pseudo-ceticismo, que, invés de manter o perfil de questionamento, partem logo para 
a negação. Assim, o Ceticismo pode levar a um ciclo vicioso e tornar seu praticante em 
um fanático tecnológico. 
 
https://www.infoescola.com/filosofia/pensamento-critico/
 
41 
 
3.7 Liberalismo 
 
Fonte; profigestaoblog.files.wordpress.com 
Liberalismo é uma teoria política e social que enfatiza fundamentalmente os 
valores individuais da liberdade e da igualdade. Para os liberais, todo indivíduo têm 
direitos humanos inatos. O governo tem o dever de respeitar tais direitos e deve atuar 
principalmente para resolver disputas quando os interesses dos indivíduos se chocam. 
De acordo com a filosofia política liberal, a sociedade e o governo devem proteger e 
promover a liberdade individual, em vez de impor constrangimentos; a pluralidade e a 
diversidade devem ser encorajadas e a sociedade deve ser igual e justa na distribuição 
de oportunidades e recursos. O liberalismo é, portanto, uma teoria individualista, pois 
entende que o indivíduo tem prioridade sobre o coletivo. 
As teorias liberais clássicas surgiram influenciadas pelo iluminismo europeu 
e revoluções burguesas, a partir do século XVII, para se oporem às formas de Estado 
absoluto. Elas defendem as instituições representativas e a autonomia da sociedade civil, 
do espaço econômico (mercado) e cultural (opinião pública) frente ao Estado. Nesse 
sentido, a história do liberalismo está intimamente ligada ao próprio desenvolvimento 
da democracia nos países do ocidente. Os sistemas democráticos assumem as 
premissas básicas do Estado liberal, no qual sua principal função seria o de garantir os 
https://www.infoescola.com/historia/iluminismo/
https://www.infoescola.com/historia/revolucoes-burguesas/
https://www.infoescola.com/historia/absolutismo/
https://www.infoescola.com/historia/absolutismo/
https://www.infoescola.com/politica/democracia/
 
42 
 
direitos do indivíduo contra o autoritarismo político e, para atingir esta finalidade, exige 
formas, mais ou menos amplas, de representação política. 
Entre os liberais, porém, não há consenso acerca da amplitude desejável da 
participação política dos cidadãos. Enquanto pensadores liberais 
como Locke, Montesquieu e Constant afirmavam que a participação dos cidadãos 
através das eleições e atuando em cargos representativos seria a melhor forma de 
liberdade política, Tocqueville defendia que a verdadeira ética liberal somente poderia se 
concretizar na atividade política ativa e no associativismo. 
Na história do pensamento ocidental, surgiram vários tipos de liberalismo. Em 
geral, os teóricos se diferenciavam por dar maior ênfase na liberdade ou na igualdade, 
ou divergiam ainda na forma com que propunham reconciliá-los. O liberalismo 
clássico tende a insistir que os direitos civis são fundamentais para os seres humanos, 
enquanto o liberalismo igualitário contemporâneo concentra-se mais na igualdade e 
argumenta que o governo ou a sociedade devem aumentar seu alcance de intervenção 
em áreas como saúde, educação e bem-estar social. 
Historicamente, os pensadores liberais defenderam a liberdade econômica contra 
o Estado: o Estado não deveria se intrometer no livre jogo do mercado, organizado por 
contratos entre particulares. Defendia-se um Estado pouco interventor, que não 
interferisse na resolução dos conflitos entre empregados e empregadores, entre as 
diferentes empresas, deixando a livre concorrência recompensar o melhor ator 
econômico. A liberdade econômica foi sintetizada na frase de “laissez faire, laissez 
passer”, que em francês significa “deixe fazer, deixe passar”. Na segunda metade do 
século XX, o liberalismo econômico clássico inspirou o surgimento de teorias conhecidas 
como neoliberalismo, que defendem uma diminuição drástica do Estado em favor do livre 
mercado. As principais críticas que recebem os liberais estão justamente na sua 
associação com o livre mercado e o capitalismo. 
 
 
 
 
https://www.infoescola.com/filosofos/john-locke/
https://www.infoescola.com/filosofia/montesquieu/
https://www.infoescola.com/sociedade/estado-de-bem-estar-social/
https://www.infoescola.com/economia/liberalismo-economico/
https://www.infoescola.com/historia/neoliberalismo/
https://www.infoescola.com/economia/capitalismo/
 
43 
 
3.8 Dialética 
 
 
Fonte: 4.bp.blogspot.com 
O Método Dialético, frequentemente referido apenas como Dialética, é uma forma 
de discurso entre duas ou mais pessoas que possuem diferentes pontos de vista sobre 
um mesmo assunto, mas que pretendem estabelecer a verdade através de argumentos 
fundamentados e não simplesmente vencer um debate ou persuadir o opositor. Embora 
o ato em si seja fundamental na formação da filosofia, o termo foi popularizado apenas 
com o advento dos diálogos socráticos de Platão. 
Para estabelecer a dialética, Sócrates encontrou na Verdade o maior valor, 
propondo que a verdade poderia ser descoberta através da razão e lógica em uma 
discussão. Desta forma, Sócrates se opôs a retórica como uma forma de arte que visa 
agradar os ouvintes e também a oratória, que convence por vias emocionais, não 
requerendo lógica ou prova. 
O propósito do método dialético é resolver os desacordos através de discussões 
racionais, e, em última análise, a busca pela verdade. A forma herdada de Sócrates para 
proceder tal discussão é mostrar que uma dada hipótese leva a contradições, então, 
forçar a retirada da hipótese como candidato a verdade. Desta forma, teríamos de 
https://www.infoescola.com/filosofos/platao/
https://www.infoescola.com/filosofia/socrates/
 
44 
 
encontrar outro candidato a verdade, para verificar se este também estaria comprometido 
com uma contradição, de tal forma que pudesse ser eliminado. Aquele candidato a 
verdade que por todos os meios não pudesse ser refutado, manter-se-ia como tal. 
Este proceder, herdado de Sócrates, levou Aristóteles a afirmar que a dialética é 
a lógica do provável, daquilo que parece aceitável a todos ou a maioria, mesmo quando 
não se pode demonstrar, já que exige apenas que não seja possível eliminar o candidato 
à verdade. Na mesma linha de análise que Aristóteles, Immanuel Kant, considerado o 
maior filósofo da era moderna, avaliou a dialética como nada mais que uma ilusão, 
tratando-se do que chamou de "lógica das aparências", por basear-se em aspectos 
subjetivos, recusando a explicação causal da realidade. 
A forma mais comum atualmente utilizada é a que foi apresentada por Johann 
Gottlieb Fichte, também adotada por Georg Wilhelm Friedrich Hegel, que consiste em 
abordar

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