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Moral e ética (J.Russ)

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II. Ética e moral: definições 
	
	Por que, aliás, ética e não moral? Impõem-se aqui algumas definições , suficientemente abertas e flexíveis, para não congelar, desde o princípio, a análise.
	A etimologia não poderia nos guiar em nada nesta tarefa: ta êthé (em grego, os costumes) e mores ( em latim, hábitos) possuem, com efeito, acepções muito próximas uma da outra; se o termo “ética” é de origem grega e o moral, de origem latina, ambos remetem a conteúdos vizinhos, à idéia de costumes, de hábitos, de modos de agir determinados pelo uso. Contudo, apesar deste paradoxo que a análise etimológica nos assinala, há que operar uma distinção entre a ética e a moral. A primeira é mais teórica que a segunda, pretende-se mais voltada a uma reflexão sobre os fundamentos que a última. A ética se esforça por desconstruir as regras de conduta que formam a moral, os juízos de bem e de mal que se reúnem no seio desta última. O que designa a ética? Não uma moral, a saber, um conjunto de regras próprias de uma cultura, mas uma “metamoral”, uma doutrina que se situa além da moral, uma teoria raciocinada sobre o bem e o mal, os valores e os juízos morais. Em suma, a ética desconstrói as regras de conduta, desfaz suas estruturas e desmonta sua edificação, para se esforçar em descer até os fundamentos ocultos da obrigação. Diversamente da moral, ela se pretende pois desconstrutora e fundadora, enunciadora de princípios ou de fundamentos últimos. Por sua dimensão mais teórica, por sua vontade de retornar à fonte, a ética se distingue da moral e detém uma primazia em relação a esta última. Concerne à teoria e à fundamentação, às bases mesmas das prescrições ou juízos morais.
	Mas, dir-se-á, fala-se hoje de uma “ética dos negócios” ou de uma “ética da mídia”, éticas cuja significação parece bem pouco teórica, éticas práticas, éticas, às vezes, próximas da deontologia. Na verdade, essas novas semânticas_ a ética se confundindo então com um conjunto de regras_ não poderiam nos fazer esquecer o sentido primeiro e fundamental da ética, como metamoral e doutrina fundadora enunciando os princípios. Se o uso contemporâneo é, às vezes, ambíguo, não repelimos o significado original da ética. Os efeitos da moda não poderiam justificar o abandono de toda uma tradição filosófica. Se a moral, com efeito, pode designar um impulso criador, ela se solidifica em prescrições que a ética interroga, das quais suspeita e põe eventualmente a distância. Este livro focalizará, aliás, a ética em seu duplo significado: como teoria raciocinada do bem e do mal, mas também como imperativo hipotético, como “ética aplicada”, como “bioética”, por exemplo, cuja coerência conceitual deve ser examinada.
	Essas metamorfoses do termo ética remetem, vê-se, às do campo da modernidade. Nossa obra tomará precisamente como objeto de estudo essas transformações da teoria raciocinada do bem e do mal, da doutrina normativa, sob o efeito das mutações consideráveis que se manifestam no campo contemporâneo. Tentamos, primeiro, compreender melhor os diversos fatores que presidem ao nascimento e ao desenvolvimento do pensamento contemporâneo.�
� RUSS, Jacqueline. Pensamento ético contemporâneo.São Paulo:Paulus,p.7-9, 1999

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