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Erotismo em Deficientes Visuais

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EROTISMO EM DEFICIENTES VISUAIS 
 
Adones Luan da Cruz1 
Maria Lúcia Badalotti Tavares2 
 
RESUMO: Abordando o tema o erotismo em deficientes visuais, a presente pesquisa 
teve como objetivo compreender de que modo o deficiente visual vivencia a sua 
sexualidade. Destaca, também, os preconceitos sociais que rodeiam a pessoa com 
deficiência visual, procurando perceber como esta reage diante de sua construção 
erótica, uma vez que estamos na era do exibicionismo. Este estudo constitui-se no 
método fenomenológico, apresentando uma pesquisa descritiva e qualitativa, sobre a 
perspectiva da fenomenologia. Contou, ainda, com um estudo de campo, tendo como 
ferramenta uma entrevista semiestruturada. A amostra é formada por quatro 
deficientes visuais (dois do sexo feminino e dois do sexo masculino), ambos com 
deficiência visual de grau severo (cegos). As entrevistas foram realizadas 
individualmente, nas cidades de Xanxerê e São Carlos, municípios pertencentes ao 
Oeste do Estado de Santa Catarina. Para análise e discussão dos dados, fez-se uso 
do método fenomenológico proposto por Martins (1993). Sendo assim, as informações 
colhidas constituíram duas unidades de sentidos: A beleza que os olhos não veem. 
Os quatros sentidos; Dentro destas, os resultados obtidos apontam um erotismo 
construído por nuances subjetivas, sentidos apurados, concepções estéticas 
complexas, todas em função de um Eros ativo e peculiar. Verificou-se, contudo, que, 
apesar dos preconceitos e estigmas, o modo como o deficiente visual vivência sua 
sexualidade e erotismo não se difere ao da pessoa não deficiente, e ainda tornasse 
mais profunda sobre os olhares inconscientes da sexualidade. 
Palavras Chaves: Deficiência Visual. Sexualidade. Erotismo. 
 
 
 
1 Estudante do curso de Psicologia da Celer Faculdades, atualmente estagiário na clínica 
escola, junto a instituição FACISA- Celer faculdades Xaxim – SC. E-mail: adonesdacruz@gmal.com 
2 Psicóloga. Especialista em Sexualidade Humana. Coordenadora e professora na Faculdade 
Celer de Xaxim-SC no Curso de Psicologia. Psicóloga clínica. 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Com a acessibilidade em massa de informações visuais, a população passou 
a restringir o erotismo muitas vezes à tela de televisores e computadores. O mundo 
contemporâneo é extremamente visual nas questões sexuais. O conhecimento erótico 
se baseia na importância do enxergar, no entendimento do “belo” de se ver. 
Caminham lado a lado um voyeurismo generalizado e um exibicionismo narcisístico e 
sem freios, sem qualquer menção a possível perversidade. A expressão a sexualidade 
é assunto recorrente em qualquer área da ciência humana, o erotismo e suas 
construções culturais também fazem parte dela. 
Tendo em mente as concepções do erotismo na sociedade contemporânea, um 
leque de indagações nos acomete. O deficiente visual demonstra seu comportamento 
sexual e erótico de que maneira? Já que a influência da mídia e cultura tornou essa 
questão extremamente visual. A sexualidade e erotização estão relacionados de que 
forma na deficiência visual? Pois bem a pertinência dessas questões não podia deixar 
de fora o conhecimento psicanalista, já que são nos estudos de Freud, que 
percebemos a presença de Eros na construção de uma sexualidade pré - genital. 
O erotismo visual juntamente com uma sexualidade reprimida, vinculados a 
preconceitos históricos sobre as pessoas com deficiência, levantam uma série de 
questões e subjetividades, coletivas e singulares, além de datar o comportamento 
sexual do deficiente visual. Porém, mesmo envolto num cenário opressor, a pessoa 
oprimida não deixa de existir enquanto Eros, pulsão de vida, para psicanalise. Deste 
modo, se cegamos o amor, e reprimimos a sexualidade, nada mais belo que fazermos 
as pazes, desvendando assim O Erotismo em Deficientes Visuais. 
O presente trabalho, busca em sua essência, perceber como se dá à 
sexualidade nas pessoas com deficiência visual de grau severo (cegos). Além de 
entender a construção do universo erótico desse sujeito. Seus anseios, suas 
emoções, seus desejos e suas particularidades nos relacionamentos afetivos sexuais. 
Elucidando assim, alguns mitos em torno da sexualidade dos cegos. Tendo em vista 
estas questões, este estudo apresenta alguns aspectos sobre a deficiência visual, 
sexualidade, erotismo e função dos sentidos. 
 
2 DEFICIÊNCIA VISUAL E REPRESSÃO SEXUAL 
 
O preconceito sobre as pessoas com deficiência vai além da sua compreensão 
social. Conforme Maria Aparecida Viera Solto, orientadora sexual. “As pessoas com 
deficiência são tratadas como uma população invisível de segunda categoria, para 
quem a gente nega o direito de ter desejo sexual. Quem dirá ter atividade sexual”. 
Costa (2015, p. 22). Segundo a orientadora, a pessoa com deficiência tem de buscar 
a sexualidade como um direito de expressão. Pois bem, não seria diferente com a 
deficiência visual, que além desses estigmas, conta com um cenário midiático 
opressor no que se refere a expressão da sua sexualidade. Para Bruns: 
 
A sexualidade nunca antes foi tão explicitada pela mídia que a utiliza, muitas 
vezes, como embalagem para vender, com um marketing sempre atualizado 
a imagem de um ser humano bem-sucedido, realizado e sedutor, associando 
êxito pessoal ao profissional. Tal imagem tornasse, pois, uma espécie de 
mercadoria ao alcance de quase todos. ” (BRUNS, 2008, p. 30) 
 
Em termos de sexualidade, a segregação do deficiente visual toma um aspecto 
ainda mais taxativo. Foreman (1989) aponta que essa segregação acontece desde 
superproteção familiar sobre esse sujeito até a adolescência, fazendo com que sua 
sexualidade sofra atraso no seu desenvolvimento em relação aos videntes (BRUNS, 
2008, p. 38). Ainda sobre a pertinência da sexualidade e erotismo é relevante 
compreender em que cenário social o deficiente visual se encontra. Para mais 
Giddnes descreve o comportamento erótico dessa sociedade. 
 
A posição central da sexualidade nas sociedades modernas está indicada 
pelas qualidades compulsivas do comportamento sexual atual. Pode-se dizer 
de tal compulsão é evidente no vicio de pornografia, em revistas, filmes e 
outros meios obscenos, e na busca continua a experiência sexual que muitos 
se dedicam. (GIDDNES, 1993, p.195). 
 
Os recursos de erotização organizados pelo autor são os mesmos que 
dispomos hoje em dia. Bruns (2009, p. 3) “Afinal, a pessoa cega não reflete o modelo 
"daquelas embalagens” veiculadas pela mídia, ou seja, ela não corresponde aos 
padrões socialmente estabelecidos de beleza, sedução, virilidade e feminilidade: 
enfim, padrões do erotismo descartável”. Esse erotismo descartável, destacado pela 
autora coloca o deficiente visual sob um contexto de sexualidade limitada, já que o 
padrão erótico estabelecido pela sociedade não corresponde à realidade da 
deficiência. 
Toda essa construção social no que se refere a expressão sexual, reprime as 
pessoas com deficiência, que acabam muitas vezes achando que são incapazes de 
amar ou estabelecer relação afetivo sexual. Maria Aparecida3, comenta que a falta de 
conhecimento faz com que eles não desvendem o próprio corpo, o que ocasiona numa 
constatação erronia sobre sua sexualidade, para ela esse preconceito começa no seio 
familiar, os pais não estão preparados para lidar com essas questões, o problema é 
que a falta de informação prossegue no seu desenvolvimento, a adolescência, por 
exemplo, é cheia de descobertas até mesmo por conta da puberdade, porém o 
adolescente com deficiência se refreia quando é vítima de preconceito. (COSTA, 
2015, p. 22). Nesse discurso o que fica evidente é falta de conhecimento, e 
preconceitosobre a sexualidade e o erotismo nas pessoas com deficiência. 
 
2.1 EROTISMO, BELEZA E SENTIDOS 
 
Compreendendo o erotismo conforme Durigan (1985, p. 30). 
“Etimologicamente, erótica provem de erotikos relativo ao amor e deriva de Eros, o 
deus do amor dos gregos. Cupido entre os romanos. Mais tarde, a psicanalise 
transformou-o em símbolo da vida, do desejo, cuja energia e a libido, principiam da 
ação. ” Nesse âmbito pode-se entender que amor e erotismo são palavras que em 
sua origem são semelhantes. 
O erotismo seria o entendimento da sexualidade além do seu objetivo principal, 
que é a reprodução. Afinal o sexo é encontrado em qualquer espécie animal usado 
como fim de sobrevivência da raça pelo prolongamento da espécie, essa busca não 
deixa de ser a mesma ao ser humano. O fato é que durante a escolha e o encontro 
desse parceiro sexual diferentemente do animal nós temos a consciência de que esse 
trajeto pode ameaçar a nossa vida interior, portanto a sexualidade humana não busca 
apenas o existir enquanto espécie, mas como ser, dar significância a essa caça sexual 
é tornar-se erótico. (BATAILLE, 1987, p. 27). 
 
3 Orientadora sexual para pessoas com deficiência, Assistente Social e Coordenadora, do 1° 
Ciclo Internacional de Direitos Sexuais e Saúde Sexual, realizado em 2015 na cidade de Porto 
Alegre/RS 
Sobre a consciência humana e a diferença de nossa constância sexual e 
amorosa com a dos outros animais comenta Fromm (1999, p. 15). “Se encontramos 
amor, ou antes, o equivalente do amor nos animais, seus afetos são principalmente 
parte do seu equipamento instintivo; só remanescentes desse equipamento instintivo 
podem ser vistos em ação no homem. ” A o tratar de Eros no ser humano Carlos 
Drummond de Andrade poetiza: 
 
Quantas vezes morremos um no outro, no úmido subterrâneo da vagina, 
nessa morte mais suave do que o sono: a pausa dos sentidos, satisfeita. 
Então a paz se instaura. A paz dos deuses, estendidos na cama, qual 
estátuas vestidas de suor, agradecendo o que a um deus acrescenta o amor 
terrestre. (ANDRADE, 2006, p. 15). 
 
Para o homem o erotismo é o que dá vislumbre a sexualidade. Numa analogia 
conforme Octavio Paz (1994, p. 13). “A relação da poesia com a linguagem é 
semelhante à do erotismo com a sexualidade. Também no poema – cristalização 
verbal - a linguagem se desvia de seu fim natural, a comunicação. ” Pois bem 
entendendo o pensamento de ser erótico relata Alberoni (1986, p. 83). “O verdadeiro 
erotismo somente é possível quando cada sexo procura compreender o outro, 
consegue colocar-se em seu lugar, tornar suas as fantasias do outro. ” Deste modo 
compreender é ter consciência e dar importância erótica e amorosa ao parceiro. 
Porem no discurso de Paz (1994, p. 18) existe uma ambiguidade no que se 
concerne ao erotismo, ao mesmo tempo que ele nos tira da classe animal como 
instinto, ele também nos lança a todo momento a ela. “O erotismo defende a 
sociedade dos assaltos da sexualidade, mas também nega a função reprodutiva. É o 
caprichoso servidor da vida e da morte”. Esse contraste de acordo com o autor se 
construí a partir de uma sociedade punitiva quando o assunto é a sexualidade, então 
surge o erotismo que mediou nossas necessidades é o para – raios da sexualidade 
humana, ou seja, para não parecer tão animalesco na satisfação sexual, 
embelezamos a situação. 
O erotismo, se apresenta como uma das faces mais dualistas do ser humano, 
como visto ele nos tira da classe animal, com suas prenuncias românticas, porém 
supre nosso mais arcaico instinto. (Bataille, 1987, p. 21) “o erotismo é, de forma geral, 
infração à regra dos interditos: é uma atividade humana. Mas, ainda que ele comece 
onde termina o animal, a animalidade não deixa de ser o seu fundamento”. Portanto 
o erotismo é isso comtemplar a sexualidade em seus mais ambíguos aspectos, amar, 
desejar, ter prazer, isto é o ser erótico, ser o homem e ser o animal. 
A mitologia grega descreve Eros, o deus do amor, como um ser alado, filho de 
Afrodite, deusa do amor, que possuía enorme beleza. Porém, também, nos reinos 
gregos, nasce Psique, uma princesa de grandes atrativos físicos, capaz de desbancar 
a própria Afrodite, que, enciumada e movida por um sentimento de vingança, 
encarrega seu filho Eros a fazer com que Psique se apaixone pelo homem mais 
horrendo que existia. No entanto, ao encontrar Psique, Eros se apaixona pela 
princesa. Em tradução para língua portuguesa, Psique significa alma. (BRANDÃO, 
1987, p. 210). O deus do amor amou a beleza de Psique (Alma). Será que, por esta 
razão, costumamos dizer que o amor é belo? Em reposta, relata Paz (1994, p. 42). “O 
amor não é belo, deseja a beleza. Todos os homens desejam”. Assim como Eros 
desejou Psique. 
Bataille afirma que o belo é uma criação humana subjetiva, que, por sua vez, 
está estritamente ligada com o erotismo. A beleza é dada para o objeto de desejo a 
fim de torná-lo erótico e acessível a sua vontade. Ela envolve nosso querer e satisfaz 
nosso desejo. Ao contextualizar a beleza no erotismo, abrimos uma dubiedade. “Se a 
beleza, cujo acabamento rejeita a animalidade, é apaixonadamente desejada, é 
porque nela a posse conduz à conspurcação animal”. Ao falar em conspurcação o 
autor se refere ao conceito de sujo que foi dado ao sexo, e de que a beleza ajuda o 
erotismo a chegar no seu curso derradeiro que é a do ato sexual. (BATAILLE, 1987, 
p. 95). 
É relevante entendermos como construímos o conceito de belo. De acordo com 
Paz, a beleza não é apenas corpórea ou constituída de imagem. Ela nada mais é que 
a ideia construída a partir de diferentes percepções. “Os olhos do entendimento 
comungam com a beleza e o homem procria não imagens nem simulacros de beleza, 
mas sim realidades belas”. (Paz, 1994, p. 45). Desde modo, para o autor a criação do 
belo advêm da idealização imaginaria de beleza “os olhos do entendimento”, não os 
olhos físicos da beleza vista. Sobre essa beleza sentida e não vista Leminski (1983, 
p. 27) nos comtempla com seus versos: “Objeto do meu mais desesperado desejo não 
seja aquilo por quem ardo e não vejo seja a estrela que me beija oriente que me reja 
azul amor beleza faça qualquer coisa, mas pelo amor de deus ou de nós dois seja”. 
No livro Critica do Juízo (1993), Kant traz observações pertinentes sobre o belo 
e o sublime, demonstrando um mundo de percepções, além das questões estéticas 
envoltas no conceito de belo: 
 
Tanto no belo como no sublime, o objeto representado importa apenas 
enquanto o simples efeito de uma representação sobre o sujeito e não como 
a sua existência concreta. O objeto, portanto, não é consumido 
materialmente, mas contemplado enquanto uma forma que se doa. O 
julgamento estético belo exprime um acordo das faculdades que apraz. Esta 
qualidade subjetiva subtrai desse juízo qualquer adesão ao objeto, como 
define Kant: “aquilo que é puramente subjetivo na representação de um 
objeto, isto é, o que constitui a sua relação ao sujeito, e não ao objeto, é a 
sua qualidade, estética”. (KANT 1993, p. 41-43 apud BOURDETTE, p. 02). 
 
Corroborando a ideia de estética proposta por Kant, Marcuse aponta que a 
estética parte da imaginação, não do belo material e físico. “Embora sensual e, 
portanto, receptiva, a imaginação estética é criadora: numa livre síntese de sua própria 
criação, ela constitui beleza”. Marcuse (1975, p. 158). Conforme o autor, a beleza 
enquanto avaliadora de sensualidade, tem sua origem na estética que, por sua vez, 
provem da imaginação. Sendo assim, as noções de belo, beleza e estética, 
estabelecem-se na ordem psíquica longe das matérias físicas de percepção, podemos 
incluir aí a visão. 
Nos braçosda etiologia do erotismo encontramos aspectos relevantes há um 
discernimento acerca da deficiência visual. O deus do amor grego conquistou sua 
amada sem ao menos aparecer visualmente a ela, nesse trecho do mito vemos o que 
seria a possível transa de Eros e Psique: 
 
Agora, quando a noite já ia avançada, uma voz suave lhe chegou aos ouvidos. 
Ela temia por sua virgindade, vendo-se completamente só. Tremia de horror 
e receava o desconhecido muito mais que qualquer outro perigo que já 
houvesse imaginado. Por fim chegou seu misterioso consorte; subiu ao leito 
e fez Psiqué sua mulher, mas, antes do amanhecer, desapareceu 
apressadamente. Em breve, o que, de início, parecia estranho, por força do 
hábito tornou-se um deleite e as Vozes alegravam sua solidão e perplexidade. 
Logo depois, ela dá expansão à sua felicidade: Antes morrer cem vezes que 
perder tão doce amor. Onde estiveres, eu te amo e adoro apaixonadamente. 
Amo-te como amo a própria vida. Comparado a ti, o próprio self de Eros seria 
nada. (BRANDÃO, 1987, p. 225) 
 
Na perda de virgindade de Psique, notamos que o sexo e o amor se passam 
no escuro. Numa elaboração pertinente sobre os sentidos Paz (1994, p. 11) ressalta. 
“Os sentidos sem perder seus poderes, convertem-se em servidores da imaginação e 
nos fazem ouvir o inaudito e ver o imperceptível. ” O apaixonar-se de Psique por Eros 
deixa uma dúvida no ar. A criação erótica no deficiente visual se dá que maneira? 
Encaixando o deficiente visual nesse vislumbre do ser erótico acompanhamos o 
pensamento de Bruns que destaca: 
 
Como linguagem humana o erotismo cria e estabelece infinitas gradações e 
matizes de intercomunicação que vão além da visualidade. O encontro dos 
amantes, a elaboração de um poema, nos momentos de meditação que 
intensifica a comunicação com o divino; o dialogo uterino entre mãe e filho; o 
caminhar confiante da pessoa cega com o seu cão-guia. Essas linguagens 
são paradoxalmente inclusivas-universais-individuais e únicas, pois são 
sentidas pelas filigranas de afeto que habitam os seres humanos. (BRUNS, 
2009, p. 7). 
 
Segundo Sá; Campos; Silva (2007, p. 15) “O desenvolvimento aguçado da 
audição, do tato, do olfato e do paladar é resultante da ativação contínua desses 
sentidos por força da necessidade”. Para abrir um entendimento é pertinente 
compreender a relação dos outros sentidos fisiológicos ligados à percepção do mundo 
e do erótico. Até mesmo por que nos cegos, devido à privação da visão, os outros 
sentidos ganham um espaço privilegiado. 
 
2.1.1 Amor ao primeiro toque – o tato 
 
O toque é uma das características primordiais do ser humano para o 
conhecimento do outro, não poderia ser diferente no contexto da sexualidade comenta 
Ellis (1971, p. 34). “O tato é a primeira e mais primitiva forma de contato. O próprio ato 
sexual é em si um ato de contato, no qual o tato é dominante. Abraçar, beijar são 
sinais principais da afeição em geral e da afeição sexual em particular. ” Diferentes 
percepções envolvem esse sentido, causando sensações propicias a percepção e 
desenvolvimento da sexualidade. Para Sá; Campos; Silva (2007, p. 16) “As retas, as 
curvas, o volume, a rugosidade, a textura, a densidade, as oscilações térmicas e 
dolorosas, entre outras, são propriedades que geram sensações...”. 
O tato no sentido sexual é extremamente pertinente para várias espécies por 
determinar a conjugação sexual desses indivíduos e um exemplo são aranhas, 
caranguejos entre outros. No ser humano o tato corresponde às percepções do maior 
órgão que temos que é a pele, em primeira estância todas as sensações se 
estabelecem no tocar algo ou alguém. A pele abriga nossa zona erógena, no próprio 
ato sexual a penetração se dá no roçar de pele. (ELLIS, 1971, p. 37). Sem dúvida 
damos significado amoroso e sexual ao tato. No que se concerne à pele, Florbela 
Espanca (2002, p. 96) conta em um dos seus versos4. “Frêmito do meu corpo a 
procurar-te, febre das minhas mãos na tua pele, que cheira a âmbar, a baunilha e a 
mel, doído anseio dos meus braços a abraçar-te. ” Sentir o outro revela além de 
sexualidade os sentimentos demonstrados nesse verso. 
Pode se organizar a questão afetivo-sexual ao toque? Para Monteiro (1921, p. 
45). “Impressões táteis chegadas ao cérebro se transformam em sensações. São 
impressões tornadas conscientes, adquirem assim um caráter afetivo. E assim, um 
ser debaixo duma determinada sensação experimentará prazer ou dor. ” Em um ditado 
popular encontramos a seguinte frase. “Do que vale a beleza dos olhos se quando os 
lábios se tocam os mesmos se fecham? ”. O beijo seria talvez a maior experimentação 
tátil ligada à sexualidade. Monteiro vislumbra as ações do beijo: “É o beijo a primeira 
manifestação carnal do amor. É uma sensação de tacto, a que outras sensações veem 
colorir e aumentar a tonalidade”. 
 
2.1.2 Amor é cego não surdo – a audição 
 
Já ouviu uma música e lembrou-se da pessoa amada ou desejada? Pois bem, 
a influência do que ouvimos em nossa libido é pertinente quando se fala em erotismo. 
Além do mais, diferentemente do que pensamos de que lateralidade e equilíbrio se dá 
no que é visto, para a fisiologia, os receptores de som levam o que foi ouvido até o 
sistema nervoso por isso o arrepio ao ouvir um som que nos emocione, isso acontece 
no ouvido interno o mesmo manda as informações para o cerebelo, indo para o 
cérebro em seguida para o sistema nervoso transformando em emoções. 
(SHERWOOD, 2010, p. 18). Ainda falando de emoções sonoras Havelock Ellis comenta: 
 
Tendo isto em mente, podemos atribuir considerável importância à voz e à 
música em geral, como um método de atração sexual. A esse respeito 
podemos concordar com Moll, que “o estímulo sexual através dos ouvidos é 
maior do que o comumente admitido. ” (MOLL apud ELLIS, 1971, p. 46). 
 
O som auxilia no entendimento do espaço, pode-se dizer que existe até sombra 
no som, assim como um objeto interfere na passagem, de luz, ele interfere na 
 
4 ESPANCA, Florbela Bela. Poemas selecionados. Tradução: versão para Adobe Acrobat 
Reader por Rodolfo S. Cassaca. São Paulo, Ciberfil Literatura Digital, 2002. (Trecho retirado do poema: 
É UM NÃO QUERER MAIS QUE BEM QUERER). 
passagem de um som, dando ao cego à chance de mensurar, por exemplo, o corpo 
de seu parceiro em tamanho e proporção (MOTA apud MEC, 2003, p. 58). Com a 
prática essas questões sonoras sirvam talvez como selecionadoras eróticas ao ponto 
que se torne música para os ouvidos. Na visão analítica, Dolto afirma, que existe 
impressões sonoras ainda na vida intrauterina. Mas uma das mais fortes e primeira 
impressão auditiva é o acalanto da voz materna ao amamentar o bebê. As 
associações fixadas na libido oral permanecerão ligadas ao ouvido, aos sons, 
sobretudo da voz humana pelo resto da vida. Sobre a voz materna, ele fala: “Uma voz 
que ressoa até hoje, com seu timbre cativante, e que tinha o poder singular de 
estimular o pensamento”. (DOLTO apud NASIO, 1995, p. 255). 
De acordo com Victorio (2015). “Nossos corpos são bio-osciladores vivos, 
quase iguais aos conjuntos de cristais de recepção que captam os sons de rádio do 
ambiente. O organismo é pleno de vibração”. O autor ainda destaca, que, assim como 
toda matéria do universo é ressonante, ou seja, é plena de vibração, os sons em 
movimento, são e essência de nossa moléculas e átomos. Para ele, esta constatação 
nos leva a concluir, de que o ser humano é um ser em relação por ressonância, com 
o universo e com o outro ser. Desde modo, não nascemos para viver só, por que, viver 
em grupo, trata-se de um efeito da condição vibratória do ser humano, um exemplo, é 
a música, primeiramente é uma dimensãosonora externa, quando ouvida, reverbera 
internamente. (VICTORIO, 2015, p. 60). 
 
2.1.3 Em terra de cego um bom perfume é rei – o olfato e paladar 
 
De acordo com Ellis, o odor se dá na seleção sexual muito mais dos animais 
do que no ser humano, mas de maneira alguma se exime esse sentido da seleção 
erótica do homem, os próprios órgãos sexuais por estarem sempre cobertos deram 
margem maior para o uso do olfato, fazendo com que o cheiro da pele e do cabelo 
seja relevante ao gosto individual na escolha sexual. O perfume não é para cobrir o 
cheiro natural, mas para evidenciá-lo já que na pele o mesmo perfume toma corpo 
olfativo diferenciado. (ELLIS, 1971, p. 43). O beijo é outro contato erótico que não 
dispensa o uso do olfato. Na China, por exemplo, esse sentido tem papel fundamental 
no contexto amoroso do beijo e isso está evidenciado por Monteiro: 
 
Na China, onde o beijo tem restritamente uma significação amorosa, é o 
sentido do olfato que leva esse gesto até à voluptuosidade. Este beijo de 
amor, o único que conhecem, traduz-se poeticamente pela «aspiração dos 
eflúvios irradiados pela carne do ser amado». É uma farejadela, em que o 
enamorado, feliz pela sua amada lhe consentir uma tão grande prova de 
amor, aplica docemente o seu nariz sobre a face dela, aspira longamente, 
cerrando as pálpebras, e tremendo levemente com os seus lábios, mas sem 
os apoiar na face da amada. (MONTEIRO, 1921, p. 49). 
 
Esse sentido é chamado de químico na fisiologia, fazendo par com o paladar, 
na questão da seleção emocional não é desigual aos outros sentidos ainda mais para 
fisiologia relatada por Sherwood (2010, p. 13) “Ambas as vias sensoriais incluem duas 
rotas: uma até o sistema límbico, para processamento emocional e comportamental, 
e outra até o córtex, para percepção consciente e discriminação. Falando sobre o 
sujeito cego e atuação do olfato comenta Sá; Campos; Silva (2007, p. 15.) “A 
experiência tátil não se limita ao uso das mãos. O olfato e o paladar funcionam 
conjuntamente e são coadjuvantes indispensáveis”. ” Desde modo a ligação com as 
fontes emocionais e de comportamento do indivíduo acontece de maneira direta 
usando apenas o olfato. 
 
2.2 A BELEZA QUE OS OLHOS NÃO VEEM. 
 
Paz (1994) conceitua que a beleza serve para o erotismo, como canal na busca 
do prazer, por consequência ela anda de mão dadas como o desejo e nossa busca 
desenfreada de obtê-lo, nossa servidora de caprichos e encantamento. No entanto ela 
não está na imagem, ela brota da imaginação, beleza não é uma realidade física, mas 
sim realidades belas. O que é ressaltado por S1 (feminino): (...)Beleza não é física é 
caráter, honestidade, beleza interior”. Ainda sobre a idealização e encantamento 
apontado por Paz. S1 (feminino) prossegue: “Belo, bonito é meu marido, porque a 
gente conversa, anda junto, ele me acaricia eu sinto ele (...). Alberoni ao contextualizar 
a relação dos amantes perante a beleza declara: 
 
E é isso que é recordado, que realça na fantasia. A intimidade, a fusão, o 
alheamento, o momento em que ele viu nela a beleza, a fonte de sua alegria. 
Não a beleza do vestido em si, mas a beleza do corpo que o veste, o perfume, 
o gesto convidativo, o abraço, o estremecimento, a mão que busca. 
(ALBERONI, 1986, p.79) 
 
O Conceito do que é belo, longe da visão, pode ser muito mais emblemático do 
que se supõe. Segundo S4 (masculino) belo: “É viver. É poder ir e vir sem 
impedimentos sem ser pré-julgado. É voar”. Ora, voar, ser livre, são características da 
liberdade, então como o belo pode comtemplar essa questão? Kant ao falar do reino 
das vontades, por vezes acometido pela razão, destaca: “O belo simboliza esse reino, 
As intenções humanas agradáveis, também são demonstradas como belas pelos 
entrevistados. S3 (masculino) fala: “As atitudes das pessoas, solidariedade, 
companheirismo, ajudar quem necessita de ajuda (...)”. Este conceito de belo não 
físico, solidário e despretensioso é evidenciado por Kant: “Dado que a satisfação 
provocada pelo belo é isenta de todo interesse, independente de toda inclinação e de 
todo conceito determinado, ela deve ser sentida igualmente por todos nós”. Kant 
(1993) apud Bourdete (2008, p. 164). O autor aponta ainda, que essa constatação é 
subjetiva e provem da imaginação, mas é como se fosse um princípio comum 
esperado no ser humano, a beleza das intenções não vistas. 
O belo parece emergir o mais aprofundado dos sentidos inconscientes. Em 
resposta à pergunta. O que é belo para você? S2 (feminino) reponde: “Vesti uma roupa 
bonita e colorida, as cores que mais gosto é rosa e azul. Beleza para mim são as 
cores não as vejo nunca vi, mas, as sinto não sei como. ” As cores, pontuadas pela 
entrevistada deixa inquieto nossos pensamentos. Porém, sobre essa percepção dada 
a um objeto estético, nesse caso as cores. Kant (1793) apud Marcuse (1975, p. 159) 
afirma: “A experiência em que o objeto é assim dado é totalmente diferente tanto da 
experiência cotidiana como da científica; todos os vínculos entre o objeto e o mundo 
da razão prática e teórica são cortados ou, melhor, suspensos”. Estar suspenso, 
resulta em se instalar no âmbito da imaginação. Kant ainda exprime o que seria essa 
beleza: 
É esta a manifestação de beleza. A imaginação entra em acordo com as noções 
cognitivas do entendimento, e esse acordo estabelece uma harmonia das faculdades 
mentais que é a resposta agradável à livre harmonia do objeto estético. A ordem de 
beleza resulta da ordem que governa o jogo da imaginação. (KANT, 1793 apud 
MARCUSE, 1975, p. 160) 
A beleza citada pelos participantes, segue a linha de imaginação e fantasia, 
destacada pelos autores. A cegueira nos permitiu apreciar frases vindas do mais belo 
inconsciente. S1 (feminino): “(...)Beleza não é física é caráter(...). S2 (feminino): 
“Beleza para mim são as cores não as vejo nunca vi, mas, as sinto não sei como. ”. 
Estar privado da visão não deixou S4 de perceber a beleza de viver. Ele conclui com 
sua percepção de belo, S4 (masculino): “É viver (...). É voar”. 
 
2.4 OS QUATROS SENTIDOS 
 
Camargos (2012) no desenvolver de seu estudo psicanalítico, sobre os sonhos 
nos deficientes visuais. Do Ver ao Perder de Vista. Revela que as pessoas com 
deficiência visual, formulam o seu “enxergar”, na vivencia dos outros sentidos. A 
autora ressalta: “Com isso, queremos dizer enxergar perceptivo (visão) juntamente 
com o ouvir (audição), o cheirar (olfato), o sentir (paladar) e o tocar (tato). Por fim, 
denominaríamos de “olhar inconsciente” o conceito de olhar ampliado, que engloba 
todos os sentidos”. Camargos (2012, p. 108). Tendo isso em mente é pertinente, por 
em descrição, na íntegra, a fala de S1 (feminino) quando questionada sobre o 
desenvolvimento de seus sentidos: “Todos são bem desenvolvidos, desenvolvi bem a 
audição, gosto de ouvir música eletrônica e romântica, ouço Marrom Five. Geralmente 
eu gosto do ritmo da música, depois eu presto atenção na letra. A gente tem algumas 
limitações, mas eu gosto de balada de sair, sou uma pessoa bem extrovertida, gosto 
de “ver” gente. Sou uma cega que enxerga. ” Portanto S1 (feminino) nos remete as 
interpretações de Paz: 
Os sentidos sem perder seus poderes, convertem-se em servidores da 
imaginação e nos fazem ouvir o inaudito e ver o imperceptível. Não é isso, afinal, o 
que acontece no sonho e no encontro erótico? Nos sonhos como no encontro sexual 
abraçamos fantasmas. Nosso parceiro tem corpo, rosto e nome, mas sua realidade, 
precisamente no momento mais intenso do abraço, dispersa-se em uma cascata de 
sensações que, por sua vez, dissipam-se. Há uma pergunta que se fazem todos os 
apaixonados e que condensa em si o mistério erótico:"Quem é você?" Pergunta sem 
resposta. Os sentidos são e não são deste mundo. Por meio deles, a poesia ergue 
uma ponte entre o ver e o crer. Por essa ponte a imaginação ganha corpo e os corpos 
se convertem em imagens. (PAZ, 1994, p. 11-12) 
S1 (feminino), afirma ter um de seus sentidos mais apurado: desenvolvi bem a 
audição, gosto de ouvir música eletrônica e romântica, ouço Marrom Five. Geralmente 
eu gosto do ritmo da música, depois eu presto atenção na letra”. Segundo Ellis (1977), 
o sentido da audição é seletor natural, quando o assunto é sexualidade, no reino 
animal, por exemplo, os pássaros, com o canto conquistam seus parceiros, os lobos 
uivam, e vários outros animais tem esse recuso como seletor sexual. Sobre sua 
influência da música ressaltada por S1 (feminino). O autor, comenta o efeito marcante 
sexual, que a música produz nos seres humanos. Ellis (1977, p. 46) ressalta: “A 
música produz realmente este efeito, em parte pela associação com a história, e em 
parte pela concepção mental do esforço do compositor para traduzir o ardor em termos 
estéticos”. 
A audição, como sentido predominante, também é pontada por S2 (feminino): 
“Audição, eu escuto coisas de longe, escuto conversas que nem são comigo”. Quando 
S2 (feminino) afirma: “(...) escuto conversas que nem são comigo”. Ela tem a 
percepção de uma situação paralela a sua. Gil (2000, p. 23) comenta: “A percepção 
auditiva ajuda a pessoa com deficiência visual a compreender que existe uma 
realidade exterior, separada dela”. Ainda para comtemplar o sentido auditivo. S3 
(masculino) comenta: “(...). Quando, você conhece uma pessoa você usa mais a voz, 
a conversa. Como deficiente visual não pode olhar ou ficar flertando, conquista num 
bom papo”. Em relação aos objetivos amorosos e sexuais que são dados a voz. De 
acordo com Assoun (1999, p. 163). “Ora, se as necessidades ditaram os primeiros 
gestos, foram as paixões que arrancaram as primeiras vozes”. Encaixamos aqui a 
necessidade da conquista, seguida de um “bom papo” citado por S3 (masculino). 
No contexto erótico, quando falamos no sentido tátil. Observamos o discurso 
de S3 (masculino), ao falar do uso dos sentidos: “Depende muito da situação horas 
uso mais um, horas uso mais outro, na relação sexual o tato prevalece”. No ser 
humano o tato corresponde às percepções do maior órgão que temos que é a pele, 
em primeira estância todas as sensações se estabelecem no tocar algo ou alguém. A 
pele abriga nossa zona erógena, no próprio ato sexual a penetração se dá no roçar 
de pele. (ELLIS, 1971, p. 37). Ao ser indagado sobre seu sentido mais apurado S4 
(masculino) exclama: “Tato. Por que quando sofri o acidente perdi a audição do lado 
esquerdo, aí pelo tato por menor que seja o contato físico consigo descrever o que 
estou tocando, seja material, objeto ou pessoa. Ainda conforme Sá; Campos; Silva 
(2007, p. 16) “As retas, as curvas, o volume, a rugosidade, a textura, a densidade, as 
oscilações térmicas e dolorosas, entre outras, são propriedades que geram 
sensações”. Comtemplando assim, a fala de percepções de S1 (masculino). 
O toque, apresenta ainda algumas informações sutis, que surgem durante a 
fala de S4 (masculino), que diz: “(...). Pelo tato consigo, por exemplo, descrever o que 
a outra pessoa está sentido”. Embasando este discurso, na teoria psicanalítica. 
Segundo Dolto (1985) apud Nasio (1995, p. 214). “Nos primórdios da vida, o ser está 
referido ao umbigo, à boca, às sensações do tubo digestivo e às sensações táteis. 
Mas o corpo nem por isso deixa de ser, antes de mais nada, um lugar relacional”. A 
autora afirma, que estas sensações táteis, ainda uterinas, estão em larga escala 
associadas as emoções e nossas impressões de sentimentos. Numa conclusão sobre 
os sentidos no deficiente visual. Camargos comenta: 
 
Como o sentido da visão é aquele que fornece o maior número de 
informações instantânea e simultaneamente ao indivíduo vidente, e os cegos 
não o possuem, a apreensão dos dados do ambiente por um cego será feita 
de forma fragmentada. Portanto, para que tenha a noção de um todo, deverá 
juntar o mosaico do que recebe por meio de seus sentidos. Construirá a 
significação de um objeto ao tocá-lo, cheirá-lo, ao ouvir seu ruído ou sua 
descrição feita por alguma pessoa e ao experimentá-lo, se possível. 
(CAMARGOS, 2012, p. 24), 
 
Sobre as percepções de mundo da pessoa cega Evgen Bavcar francês, doutor 
em filosofia da estética, cego e fotógrafo explana: "Eu fotografo contra o vento... o ar 
em movimento me possibilita infinitas informações sobre tempo e temperatura, leituras 
outras sobre tipos de cheiros, ruídos, que sinalizam conexões específicas para a 
construção do meu mundo interior". Bavcar (2001, p.22) apud Bruns (2009, p. 5). As 
respostas dos entrevistados, em relação, ao desenvolvimento dos seus sentidos, 
demonstraram a capacidade de percepção singular e subjetiva de cada um. 
 
3 CONCLUSÃO 
 
O desenvolver dessa pesquisa propiciou uma imersão de conhecimento acerca 
do deficiente visual e sua sexualidade, desde o primeiro passo que foi a criação do 
tema. A contemporaneidade e seu mundo digital, sempre se renovando e trazendo 
conceitos estéticos e eróticos, num apanhado de visualidade. Nossos olhos sempre 
atentos e sedentos de consumo visual. Nosso Eros encasulado na retina, sem a 
supressa de um voo cheio de intensão, de gosto, de cheiro, de toques e de sons. 
Afinal, onde anda nosso deus do amor? Se não atrás de um beijo sublime, que, por 
ventura, é feito com os olhos fechados. As facetas do erotismo, além do olhar, 
formularam o ponto inicial deste trabalho. 
Tendo como intenção inicial “enxergar”, não no contexto físico, fizemos ponte 
com o inconsciente de nossos entrevistados, obtendo, assim, falas que 
transpareceram os seus sentimentos em relação a sua vivencia erótica. O impasse 
era se encontraríamos um sujeito bruscamente reprimido em sua sexualidade, que 
não nos endereçasse ao principal conceito do trabalho. Porém, no decorrer das 
entrevistas e do levantamento teórico, notamos que Eros passeava por ali, apesar do 
preconceito duplo que a pessoa com deficiência visual encarra, em relação aos 
conceitos arcaicos de sexualidade e deficiência, ainda hoje presentes. 
A beleza que os olhos não veem, oculta na fantasia e na imaginação, trouxe à 
tona falas que chamam a atenção, como: “sentir as cores”; belo “é voar”. Isso 
demonstra o quão as finalidades de beleza são abstratas e complexas para o 
deficiente visual, mas, sem dúvida, não deixam de ser belas. O relato de suas paixões, 
seus encontros amorosos, eram seguidos de pequenos risos no fim das falas, até 
mesmo com um certo rubor eu diria. Indago-me, agora, de qual maneira, se não viam? 
Eles ouviram cada som e voz, sentiram cada toque, e como um deles explanou: “a 
personalidade o cheiro”. Seus sentidos deram forma aos seus amados e a si mesmos. 
Eles vão para a balada, escutam conversas alheias, “flertam com um bom papo”, o 
bom papo, também se seguiu de riso. Pois bem, de acordo com uma das 
entrevistadas: “Sou uma cega que enxerga. ” 
Sendo assim, de maneira geral, percebeu-se a necessidade de falar em 
sexualidade e deficiência. Por isso, esse estudo não se trata de um estudo fechado e 
impositivo, muito pelo contrário. A amostra dos participantes soma-se a um pequeno 
grupo de quatro pessoas, de uma determinada região. Portanto, novas pesquisas 
nessa área só irão enriquecer o conhecimento acerca do erotismo e suas nuances 
sobre a sexualidade e quem sabe, estreitar cada vez mais nossa relação com as 
pessoas com deficiência visual, desconstruindo preconceitos, bem como concepções 
errôneas da deficiência. Por fim, tornando-nos mais humanos. 
 
EROTICISMIN VISUALLY IMPAIRED 
 
ABSTRACT: Addressing the theme eroticism in visually impaired, this study aimed to 
understand how the visually impaired experiencing their sexuality. It also highlights the 
social prejudices surrounding the visually impaired person, trying to understand how 
this reacts before construction erotic, since we are in exhibitionism era. This study 
constitutes the phenomenological method, presenting a descriptive and qualitative 
research on the perspective of phenomenology. Also counted with a field of study, with 
a tool one semi-structured interview. The sample consists of four visually impaired (two 
female and two male), both with visual impairment, severe (blind). The interviews were 
conducted individually, in the cities of Xanxerê and São Carlos, municipalities 
belonging to the West of the State of Santa Catarina. For analysis and discussion of 
the data was made using the phenomenological method proposed by Martins (1993). 
Therefore, the information gathered were two units of meaning: The beauty that the 
eyes do not see. The four directions; Within these, the results suggest an eroticism 
built by subjective nuances, keen senses, complex aesthetic conceptions, all because 
of an active and peculiar Eros. It was found, however, that despite the prejudices and 
stigmas, the way the visually impaired experience their sexuality and eroticism is not 
unlike that of non-disabled person, and even become deeper into the unconscious 
looks sexuality 
Key Words: Visual Impairment. Sexuality. Eroticism. 
 
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