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EROTISMO EM DEFICIENTES VISUAIS Adones Luan da Cruz1 Maria Lúcia Badalotti Tavares2 RESUMO: Abordando o tema o erotismo em deficientes visuais, a presente pesquisa teve como objetivo compreender de que modo o deficiente visual vivencia a sua sexualidade. Destaca, também, os preconceitos sociais que rodeiam a pessoa com deficiência visual, procurando perceber como esta reage diante de sua construção erótica, uma vez que estamos na era do exibicionismo. Este estudo constitui-se no método fenomenológico, apresentando uma pesquisa descritiva e qualitativa, sobre a perspectiva da fenomenologia. Contou, ainda, com um estudo de campo, tendo como ferramenta uma entrevista semiestruturada. A amostra é formada por quatro deficientes visuais (dois do sexo feminino e dois do sexo masculino), ambos com deficiência visual de grau severo (cegos). As entrevistas foram realizadas individualmente, nas cidades de Xanxerê e São Carlos, municípios pertencentes ao Oeste do Estado de Santa Catarina. Para análise e discussão dos dados, fez-se uso do método fenomenológico proposto por Martins (1993). Sendo assim, as informações colhidas constituíram duas unidades de sentidos: A beleza que os olhos não veem. Os quatros sentidos; Dentro destas, os resultados obtidos apontam um erotismo construído por nuances subjetivas, sentidos apurados, concepções estéticas complexas, todas em função de um Eros ativo e peculiar. Verificou-se, contudo, que, apesar dos preconceitos e estigmas, o modo como o deficiente visual vivência sua sexualidade e erotismo não se difere ao da pessoa não deficiente, e ainda tornasse mais profunda sobre os olhares inconscientes da sexualidade. Palavras Chaves: Deficiência Visual. Sexualidade. Erotismo. 1 Estudante do curso de Psicologia da Celer Faculdades, atualmente estagiário na clínica escola, junto a instituição FACISA- Celer faculdades Xaxim – SC. E-mail: adonesdacruz@gmal.com 2 Psicóloga. Especialista em Sexualidade Humana. Coordenadora e professora na Faculdade Celer de Xaxim-SC no Curso de Psicologia. Psicóloga clínica. 1 INTRODUÇÃO Com a acessibilidade em massa de informações visuais, a população passou a restringir o erotismo muitas vezes à tela de televisores e computadores. O mundo contemporâneo é extremamente visual nas questões sexuais. O conhecimento erótico se baseia na importância do enxergar, no entendimento do “belo” de se ver. Caminham lado a lado um voyeurismo generalizado e um exibicionismo narcisístico e sem freios, sem qualquer menção a possível perversidade. A expressão a sexualidade é assunto recorrente em qualquer área da ciência humana, o erotismo e suas construções culturais também fazem parte dela. Tendo em mente as concepções do erotismo na sociedade contemporânea, um leque de indagações nos acomete. O deficiente visual demonstra seu comportamento sexual e erótico de que maneira? Já que a influência da mídia e cultura tornou essa questão extremamente visual. A sexualidade e erotização estão relacionados de que forma na deficiência visual? Pois bem a pertinência dessas questões não podia deixar de fora o conhecimento psicanalista, já que são nos estudos de Freud, que percebemos a presença de Eros na construção de uma sexualidade pré - genital. O erotismo visual juntamente com uma sexualidade reprimida, vinculados a preconceitos históricos sobre as pessoas com deficiência, levantam uma série de questões e subjetividades, coletivas e singulares, além de datar o comportamento sexual do deficiente visual. Porém, mesmo envolto num cenário opressor, a pessoa oprimida não deixa de existir enquanto Eros, pulsão de vida, para psicanalise. Deste modo, se cegamos o amor, e reprimimos a sexualidade, nada mais belo que fazermos as pazes, desvendando assim O Erotismo em Deficientes Visuais. O presente trabalho, busca em sua essência, perceber como se dá à sexualidade nas pessoas com deficiência visual de grau severo (cegos). Além de entender a construção do universo erótico desse sujeito. Seus anseios, suas emoções, seus desejos e suas particularidades nos relacionamentos afetivos sexuais. Elucidando assim, alguns mitos em torno da sexualidade dos cegos. Tendo em vista estas questões, este estudo apresenta alguns aspectos sobre a deficiência visual, sexualidade, erotismo e função dos sentidos. 2 DEFICIÊNCIA VISUAL E REPRESSÃO SEXUAL O preconceito sobre as pessoas com deficiência vai além da sua compreensão social. Conforme Maria Aparecida Viera Solto, orientadora sexual. “As pessoas com deficiência são tratadas como uma população invisível de segunda categoria, para quem a gente nega o direito de ter desejo sexual. Quem dirá ter atividade sexual”. Costa (2015, p. 22). Segundo a orientadora, a pessoa com deficiência tem de buscar a sexualidade como um direito de expressão. Pois bem, não seria diferente com a deficiência visual, que além desses estigmas, conta com um cenário midiático opressor no que se refere a expressão da sua sexualidade. Para Bruns: A sexualidade nunca antes foi tão explicitada pela mídia que a utiliza, muitas vezes, como embalagem para vender, com um marketing sempre atualizado a imagem de um ser humano bem-sucedido, realizado e sedutor, associando êxito pessoal ao profissional. Tal imagem tornasse, pois, uma espécie de mercadoria ao alcance de quase todos. ” (BRUNS, 2008, p. 30) Em termos de sexualidade, a segregação do deficiente visual toma um aspecto ainda mais taxativo. Foreman (1989) aponta que essa segregação acontece desde superproteção familiar sobre esse sujeito até a adolescência, fazendo com que sua sexualidade sofra atraso no seu desenvolvimento em relação aos videntes (BRUNS, 2008, p. 38). Ainda sobre a pertinência da sexualidade e erotismo é relevante compreender em que cenário social o deficiente visual se encontra. Para mais Giddnes descreve o comportamento erótico dessa sociedade. A posição central da sexualidade nas sociedades modernas está indicada pelas qualidades compulsivas do comportamento sexual atual. Pode-se dizer de tal compulsão é evidente no vicio de pornografia, em revistas, filmes e outros meios obscenos, e na busca continua a experiência sexual que muitos se dedicam. (GIDDNES, 1993, p.195). Os recursos de erotização organizados pelo autor são os mesmos que dispomos hoje em dia. Bruns (2009, p. 3) “Afinal, a pessoa cega não reflete o modelo "daquelas embalagens” veiculadas pela mídia, ou seja, ela não corresponde aos padrões socialmente estabelecidos de beleza, sedução, virilidade e feminilidade: enfim, padrões do erotismo descartável”. Esse erotismo descartável, destacado pela autora coloca o deficiente visual sob um contexto de sexualidade limitada, já que o padrão erótico estabelecido pela sociedade não corresponde à realidade da deficiência. Toda essa construção social no que se refere a expressão sexual, reprime as pessoas com deficiência, que acabam muitas vezes achando que são incapazes de amar ou estabelecer relação afetivo sexual. Maria Aparecida3, comenta que a falta de conhecimento faz com que eles não desvendem o próprio corpo, o que ocasiona numa constatação erronia sobre sua sexualidade, para ela esse preconceito começa no seio familiar, os pais não estão preparados para lidar com essas questões, o problema é que a falta de informação prossegue no seu desenvolvimento, a adolescência, por exemplo, é cheia de descobertas até mesmo por conta da puberdade, porém o adolescente com deficiência se refreia quando é vítima de preconceito. (COSTA, 2015, p. 22). Nesse discurso o que fica evidente é falta de conhecimento, e preconceitosobre a sexualidade e o erotismo nas pessoas com deficiência. 2.1 EROTISMO, BELEZA E SENTIDOS Compreendendo o erotismo conforme Durigan (1985, p. 30). “Etimologicamente, erótica provem de erotikos relativo ao amor e deriva de Eros, o deus do amor dos gregos. Cupido entre os romanos. Mais tarde, a psicanalise transformou-o em símbolo da vida, do desejo, cuja energia e a libido, principiam da ação. ” Nesse âmbito pode-se entender que amor e erotismo são palavras que em sua origem são semelhantes. O erotismo seria o entendimento da sexualidade além do seu objetivo principal, que é a reprodução. Afinal o sexo é encontrado em qualquer espécie animal usado como fim de sobrevivência da raça pelo prolongamento da espécie, essa busca não deixa de ser a mesma ao ser humano. O fato é que durante a escolha e o encontro desse parceiro sexual diferentemente do animal nós temos a consciência de que esse trajeto pode ameaçar a nossa vida interior, portanto a sexualidade humana não busca apenas o existir enquanto espécie, mas como ser, dar significância a essa caça sexual é tornar-se erótico. (BATAILLE, 1987, p. 27). 3 Orientadora sexual para pessoas com deficiência, Assistente Social e Coordenadora, do 1° Ciclo Internacional de Direitos Sexuais e Saúde Sexual, realizado em 2015 na cidade de Porto Alegre/RS Sobre a consciência humana e a diferença de nossa constância sexual e amorosa com a dos outros animais comenta Fromm (1999, p. 15). “Se encontramos amor, ou antes, o equivalente do amor nos animais, seus afetos são principalmente parte do seu equipamento instintivo; só remanescentes desse equipamento instintivo podem ser vistos em ação no homem. ” A o tratar de Eros no ser humano Carlos Drummond de Andrade poetiza: Quantas vezes morremos um no outro, no úmido subterrâneo da vagina, nessa morte mais suave do que o sono: a pausa dos sentidos, satisfeita. Então a paz se instaura. A paz dos deuses, estendidos na cama, qual estátuas vestidas de suor, agradecendo o que a um deus acrescenta o amor terrestre. (ANDRADE, 2006, p. 15). Para o homem o erotismo é o que dá vislumbre a sexualidade. Numa analogia conforme Octavio Paz (1994, p. 13). “A relação da poesia com a linguagem é semelhante à do erotismo com a sexualidade. Também no poema – cristalização verbal - a linguagem se desvia de seu fim natural, a comunicação. ” Pois bem entendendo o pensamento de ser erótico relata Alberoni (1986, p. 83). “O verdadeiro erotismo somente é possível quando cada sexo procura compreender o outro, consegue colocar-se em seu lugar, tornar suas as fantasias do outro. ” Deste modo compreender é ter consciência e dar importância erótica e amorosa ao parceiro. Porem no discurso de Paz (1994, p. 18) existe uma ambiguidade no que se concerne ao erotismo, ao mesmo tempo que ele nos tira da classe animal como instinto, ele também nos lança a todo momento a ela. “O erotismo defende a sociedade dos assaltos da sexualidade, mas também nega a função reprodutiva. É o caprichoso servidor da vida e da morte”. Esse contraste de acordo com o autor se construí a partir de uma sociedade punitiva quando o assunto é a sexualidade, então surge o erotismo que mediou nossas necessidades é o para – raios da sexualidade humana, ou seja, para não parecer tão animalesco na satisfação sexual, embelezamos a situação. O erotismo, se apresenta como uma das faces mais dualistas do ser humano, como visto ele nos tira da classe animal, com suas prenuncias românticas, porém supre nosso mais arcaico instinto. (Bataille, 1987, p. 21) “o erotismo é, de forma geral, infração à regra dos interditos: é uma atividade humana. Mas, ainda que ele comece onde termina o animal, a animalidade não deixa de ser o seu fundamento”. Portanto o erotismo é isso comtemplar a sexualidade em seus mais ambíguos aspectos, amar, desejar, ter prazer, isto é o ser erótico, ser o homem e ser o animal. A mitologia grega descreve Eros, o deus do amor, como um ser alado, filho de Afrodite, deusa do amor, que possuía enorme beleza. Porém, também, nos reinos gregos, nasce Psique, uma princesa de grandes atrativos físicos, capaz de desbancar a própria Afrodite, que, enciumada e movida por um sentimento de vingança, encarrega seu filho Eros a fazer com que Psique se apaixone pelo homem mais horrendo que existia. No entanto, ao encontrar Psique, Eros se apaixona pela princesa. Em tradução para língua portuguesa, Psique significa alma. (BRANDÃO, 1987, p. 210). O deus do amor amou a beleza de Psique (Alma). Será que, por esta razão, costumamos dizer que o amor é belo? Em reposta, relata Paz (1994, p. 42). “O amor não é belo, deseja a beleza. Todos os homens desejam”. Assim como Eros desejou Psique. Bataille afirma que o belo é uma criação humana subjetiva, que, por sua vez, está estritamente ligada com o erotismo. A beleza é dada para o objeto de desejo a fim de torná-lo erótico e acessível a sua vontade. Ela envolve nosso querer e satisfaz nosso desejo. Ao contextualizar a beleza no erotismo, abrimos uma dubiedade. “Se a beleza, cujo acabamento rejeita a animalidade, é apaixonadamente desejada, é porque nela a posse conduz à conspurcação animal”. Ao falar em conspurcação o autor se refere ao conceito de sujo que foi dado ao sexo, e de que a beleza ajuda o erotismo a chegar no seu curso derradeiro que é a do ato sexual. (BATAILLE, 1987, p. 95). É relevante entendermos como construímos o conceito de belo. De acordo com Paz, a beleza não é apenas corpórea ou constituída de imagem. Ela nada mais é que a ideia construída a partir de diferentes percepções. “Os olhos do entendimento comungam com a beleza e o homem procria não imagens nem simulacros de beleza, mas sim realidades belas”. (Paz, 1994, p. 45). Desde modo, para o autor a criação do belo advêm da idealização imaginaria de beleza “os olhos do entendimento”, não os olhos físicos da beleza vista. Sobre essa beleza sentida e não vista Leminski (1983, p. 27) nos comtempla com seus versos: “Objeto do meu mais desesperado desejo não seja aquilo por quem ardo e não vejo seja a estrela que me beija oriente que me reja azul amor beleza faça qualquer coisa, mas pelo amor de deus ou de nós dois seja”. No livro Critica do Juízo (1993), Kant traz observações pertinentes sobre o belo e o sublime, demonstrando um mundo de percepções, além das questões estéticas envoltas no conceito de belo: Tanto no belo como no sublime, o objeto representado importa apenas enquanto o simples efeito de uma representação sobre o sujeito e não como a sua existência concreta. O objeto, portanto, não é consumido materialmente, mas contemplado enquanto uma forma que se doa. O julgamento estético belo exprime um acordo das faculdades que apraz. Esta qualidade subjetiva subtrai desse juízo qualquer adesão ao objeto, como define Kant: “aquilo que é puramente subjetivo na representação de um objeto, isto é, o que constitui a sua relação ao sujeito, e não ao objeto, é a sua qualidade, estética”. (KANT 1993, p. 41-43 apud BOURDETTE, p. 02). Corroborando a ideia de estética proposta por Kant, Marcuse aponta que a estética parte da imaginação, não do belo material e físico. “Embora sensual e, portanto, receptiva, a imaginação estética é criadora: numa livre síntese de sua própria criação, ela constitui beleza”. Marcuse (1975, p. 158). Conforme o autor, a beleza enquanto avaliadora de sensualidade, tem sua origem na estética que, por sua vez, provem da imaginação. Sendo assim, as noções de belo, beleza e estética, estabelecem-se na ordem psíquica longe das matérias físicas de percepção, podemos incluir aí a visão. Nos braçosda etiologia do erotismo encontramos aspectos relevantes há um discernimento acerca da deficiência visual. O deus do amor grego conquistou sua amada sem ao menos aparecer visualmente a ela, nesse trecho do mito vemos o que seria a possível transa de Eros e Psique: Agora, quando a noite já ia avançada, uma voz suave lhe chegou aos ouvidos. Ela temia por sua virgindade, vendo-se completamente só. Tremia de horror e receava o desconhecido muito mais que qualquer outro perigo que já houvesse imaginado. Por fim chegou seu misterioso consorte; subiu ao leito e fez Psiqué sua mulher, mas, antes do amanhecer, desapareceu apressadamente. Em breve, o que, de início, parecia estranho, por força do hábito tornou-se um deleite e as Vozes alegravam sua solidão e perplexidade. Logo depois, ela dá expansão à sua felicidade: Antes morrer cem vezes que perder tão doce amor. Onde estiveres, eu te amo e adoro apaixonadamente. Amo-te como amo a própria vida. Comparado a ti, o próprio self de Eros seria nada. (BRANDÃO, 1987, p. 225) Na perda de virgindade de Psique, notamos que o sexo e o amor se passam no escuro. Numa elaboração pertinente sobre os sentidos Paz (1994, p. 11) ressalta. “Os sentidos sem perder seus poderes, convertem-se em servidores da imaginação e nos fazem ouvir o inaudito e ver o imperceptível. ” O apaixonar-se de Psique por Eros deixa uma dúvida no ar. A criação erótica no deficiente visual se dá que maneira? Encaixando o deficiente visual nesse vislumbre do ser erótico acompanhamos o pensamento de Bruns que destaca: Como linguagem humana o erotismo cria e estabelece infinitas gradações e matizes de intercomunicação que vão além da visualidade. O encontro dos amantes, a elaboração de um poema, nos momentos de meditação que intensifica a comunicação com o divino; o dialogo uterino entre mãe e filho; o caminhar confiante da pessoa cega com o seu cão-guia. Essas linguagens são paradoxalmente inclusivas-universais-individuais e únicas, pois são sentidas pelas filigranas de afeto que habitam os seres humanos. (BRUNS, 2009, p. 7). Segundo Sá; Campos; Silva (2007, p. 15) “O desenvolvimento aguçado da audição, do tato, do olfato e do paladar é resultante da ativação contínua desses sentidos por força da necessidade”. Para abrir um entendimento é pertinente compreender a relação dos outros sentidos fisiológicos ligados à percepção do mundo e do erótico. Até mesmo por que nos cegos, devido à privação da visão, os outros sentidos ganham um espaço privilegiado. 2.1.1 Amor ao primeiro toque – o tato O toque é uma das características primordiais do ser humano para o conhecimento do outro, não poderia ser diferente no contexto da sexualidade comenta Ellis (1971, p. 34). “O tato é a primeira e mais primitiva forma de contato. O próprio ato sexual é em si um ato de contato, no qual o tato é dominante. Abraçar, beijar são sinais principais da afeição em geral e da afeição sexual em particular. ” Diferentes percepções envolvem esse sentido, causando sensações propicias a percepção e desenvolvimento da sexualidade. Para Sá; Campos; Silva (2007, p. 16) “As retas, as curvas, o volume, a rugosidade, a textura, a densidade, as oscilações térmicas e dolorosas, entre outras, são propriedades que geram sensações...”. O tato no sentido sexual é extremamente pertinente para várias espécies por determinar a conjugação sexual desses indivíduos e um exemplo são aranhas, caranguejos entre outros. No ser humano o tato corresponde às percepções do maior órgão que temos que é a pele, em primeira estância todas as sensações se estabelecem no tocar algo ou alguém. A pele abriga nossa zona erógena, no próprio ato sexual a penetração se dá no roçar de pele. (ELLIS, 1971, p. 37). Sem dúvida damos significado amoroso e sexual ao tato. No que se concerne à pele, Florbela Espanca (2002, p. 96) conta em um dos seus versos4. “Frêmito do meu corpo a procurar-te, febre das minhas mãos na tua pele, que cheira a âmbar, a baunilha e a mel, doído anseio dos meus braços a abraçar-te. ” Sentir o outro revela além de sexualidade os sentimentos demonstrados nesse verso. Pode se organizar a questão afetivo-sexual ao toque? Para Monteiro (1921, p. 45). “Impressões táteis chegadas ao cérebro se transformam em sensações. São impressões tornadas conscientes, adquirem assim um caráter afetivo. E assim, um ser debaixo duma determinada sensação experimentará prazer ou dor. ” Em um ditado popular encontramos a seguinte frase. “Do que vale a beleza dos olhos se quando os lábios se tocam os mesmos se fecham? ”. O beijo seria talvez a maior experimentação tátil ligada à sexualidade. Monteiro vislumbra as ações do beijo: “É o beijo a primeira manifestação carnal do amor. É uma sensação de tacto, a que outras sensações veem colorir e aumentar a tonalidade”. 2.1.2 Amor é cego não surdo – a audição Já ouviu uma música e lembrou-se da pessoa amada ou desejada? Pois bem, a influência do que ouvimos em nossa libido é pertinente quando se fala em erotismo. Além do mais, diferentemente do que pensamos de que lateralidade e equilíbrio se dá no que é visto, para a fisiologia, os receptores de som levam o que foi ouvido até o sistema nervoso por isso o arrepio ao ouvir um som que nos emocione, isso acontece no ouvido interno o mesmo manda as informações para o cerebelo, indo para o cérebro em seguida para o sistema nervoso transformando em emoções. (SHERWOOD, 2010, p. 18). Ainda falando de emoções sonoras Havelock Ellis comenta: Tendo isto em mente, podemos atribuir considerável importância à voz e à música em geral, como um método de atração sexual. A esse respeito podemos concordar com Moll, que “o estímulo sexual através dos ouvidos é maior do que o comumente admitido. ” (MOLL apud ELLIS, 1971, p. 46). O som auxilia no entendimento do espaço, pode-se dizer que existe até sombra no som, assim como um objeto interfere na passagem, de luz, ele interfere na 4 ESPANCA, Florbela Bela. Poemas selecionados. Tradução: versão para Adobe Acrobat Reader por Rodolfo S. Cassaca. São Paulo, Ciberfil Literatura Digital, 2002. (Trecho retirado do poema: É UM NÃO QUERER MAIS QUE BEM QUERER). passagem de um som, dando ao cego à chance de mensurar, por exemplo, o corpo de seu parceiro em tamanho e proporção (MOTA apud MEC, 2003, p. 58). Com a prática essas questões sonoras sirvam talvez como selecionadoras eróticas ao ponto que se torne música para os ouvidos. Na visão analítica, Dolto afirma, que existe impressões sonoras ainda na vida intrauterina. Mas uma das mais fortes e primeira impressão auditiva é o acalanto da voz materna ao amamentar o bebê. As associações fixadas na libido oral permanecerão ligadas ao ouvido, aos sons, sobretudo da voz humana pelo resto da vida. Sobre a voz materna, ele fala: “Uma voz que ressoa até hoje, com seu timbre cativante, e que tinha o poder singular de estimular o pensamento”. (DOLTO apud NASIO, 1995, p. 255). De acordo com Victorio (2015). “Nossos corpos são bio-osciladores vivos, quase iguais aos conjuntos de cristais de recepção que captam os sons de rádio do ambiente. O organismo é pleno de vibração”. O autor ainda destaca, que, assim como toda matéria do universo é ressonante, ou seja, é plena de vibração, os sons em movimento, são e essência de nossa moléculas e átomos. Para ele, esta constatação nos leva a concluir, de que o ser humano é um ser em relação por ressonância, com o universo e com o outro ser. Desde modo, não nascemos para viver só, por que, viver em grupo, trata-se de um efeito da condição vibratória do ser humano, um exemplo, é a música, primeiramente é uma dimensãosonora externa, quando ouvida, reverbera internamente. (VICTORIO, 2015, p. 60). 2.1.3 Em terra de cego um bom perfume é rei – o olfato e paladar De acordo com Ellis, o odor se dá na seleção sexual muito mais dos animais do que no ser humano, mas de maneira alguma se exime esse sentido da seleção erótica do homem, os próprios órgãos sexuais por estarem sempre cobertos deram margem maior para o uso do olfato, fazendo com que o cheiro da pele e do cabelo seja relevante ao gosto individual na escolha sexual. O perfume não é para cobrir o cheiro natural, mas para evidenciá-lo já que na pele o mesmo perfume toma corpo olfativo diferenciado. (ELLIS, 1971, p. 43). O beijo é outro contato erótico que não dispensa o uso do olfato. Na China, por exemplo, esse sentido tem papel fundamental no contexto amoroso do beijo e isso está evidenciado por Monteiro: Na China, onde o beijo tem restritamente uma significação amorosa, é o sentido do olfato que leva esse gesto até à voluptuosidade. Este beijo de amor, o único que conhecem, traduz-se poeticamente pela «aspiração dos eflúvios irradiados pela carne do ser amado». É uma farejadela, em que o enamorado, feliz pela sua amada lhe consentir uma tão grande prova de amor, aplica docemente o seu nariz sobre a face dela, aspira longamente, cerrando as pálpebras, e tremendo levemente com os seus lábios, mas sem os apoiar na face da amada. (MONTEIRO, 1921, p. 49). Esse sentido é chamado de químico na fisiologia, fazendo par com o paladar, na questão da seleção emocional não é desigual aos outros sentidos ainda mais para fisiologia relatada por Sherwood (2010, p. 13) “Ambas as vias sensoriais incluem duas rotas: uma até o sistema límbico, para processamento emocional e comportamental, e outra até o córtex, para percepção consciente e discriminação. Falando sobre o sujeito cego e atuação do olfato comenta Sá; Campos; Silva (2007, p. 15.) “A experiência tátil não se limita ao uso das mãos. O olfato e o paladar funcionam conjuntamente e são coadjuvantes indispensáveis”. ” Desde modo a ligação com as fontes emocionais e de comportamento do indivíduo acontece de maneira direta usando apenas o olfato. 2.2 A BELEZA QUE OS OLHOS NÃO VEEM. Paz (1994) conceitua que a beleza serve para o erotismo, como canal na busca do prazer, por consequência ela anda de mão dadas como o desejo e nossa busca desenfreada de obtê-lo, nossa servidora de caprichos e encantamento. No entanto ela não está na imagem, ela brota da imaginação, beleza não é uma realidade física, mas sim realidades belas. O que é ressaltado por S1 (feminino): (...)Beleza não é física é caráter, honestidade, beleza interior”. Ainda sobre a idealização e encantamento apontado por Paz. S1 (feminino) prossegue: “Belo, bonito é meu marido, porque a gente conversa, anda junto, ele me acaricia eu sinto ele (...). Alberoni ao contextualizar a relação dos amantes perante a beleza declara: E é isso que é recordado, que realça na fantasia. A intimidade, a fusão, o alheamento, o momento em que ele viu nela a beleza, a fonte de sua alegria. Não a beleza do vestido em si, mas a beleza do corpo que o veste, o perfume, o gesto convidativo, o abraço, o estremecimento, a mão que busca. (ALBERONI, 1986, p.79) O Conceito do que é belo, longe da visão, pode ser muito mais emblemático do que se supõe. Segundo S4 (masculino) belo: “É viver. É poder ir e vir sem impedimentos sem ser pré-julgado. É voar”. Ora, voar, ser livre, são características da liberdade, então como o belo pode comtemplar essa questão? Kant ao falar do reino das vontades, por vezes acometido pela razão, destaca: “O belo simboliza esse reino, As intenções humanas agradáveis, também são demonstradas como belas pelos entrevistados. S3 (masculino) fala: “As atitudes das pessoas, solidariedade, companheirismo, ajudar quem necessita de ajuda (...)”. Este conceito de belo não físico, solidário e despretensioso é evidenciado por Kant: “Dado que a satisfação provocada pelo belo é isenta de todo interesse, independente de toda inclinação e de todo conceito determinado, ela deve ser sentida igualmente por todos nós”. Kant (1993) apud Bourdete (2008, p. 164). O autor aponta ainda, que essa constatação é subjetiva e provem da imaginação, mas é como se fosse um princípio comum esperado no ser humano, a beleza das intenções não vistas. O belo parece emergir o mais aprofundado dos sentidos inconscientes. Em resposta à pergunta. O que é belo para você? S2 (feminino) reponde: “Vesti uma roupa bonita e colorida, as cores que mais gosto é rosa e azul. Beleza para mim são as cores não as vejo nunca vi, mas, as sinto não sei como. ” As cores, pontuadas pela entrevistada deixa inquieto nossos pensamentos. Porém, sobre essa percepção dada a um objeto estético, nesse caso as cores. Kant (1793) apud Marcuse (1975, p. 159) afirma: “A experiência em que o objeto é assim dado é totalmente diferente tanto da experiência cotidiana como da científica; todos os vínculos entre o objeto e o mundo da razão prática e teórica são cortados ou, melhor, suspensos”. Estar suspenso, resulta em se instalar no âmbito da imaginação. Kant ainda exprime o que seria essa beleza: É esta a manifestação de beleza. A imaginação entra em acordo com as noções cognitivas do entendimento, e esse acordo estabelece uma harmonia das faculdades mentais que é a resposta agradável à livre harmonia do objeto estético. A ordem de beleza resulta da ordem que governa o jogo da imaginação. (KANT, 1793 apud MARCUSE, 1975, p. 160) A beleza citada pelos participantes, segue a linha de imaginação e fantasia, destacada pelos autores. A cegueira nos permitiu apreciar frases vindas do mais belo inconsciente. S1 (feminino): “(...)Beleza não é física é caráter(...). S2 (feminino): “Beleza para mim são as cores não as vejo nunca vi, mas, as sinto não sei como. ”. Estar privado da visão não deixou S4 de perceber a beleza de viver. Ele conclui com sua percepção de belo, S4 (masculino): “É viver (...). É voar”. 2.4 OS QUATROS SENTIDOS Camargos (2012) no desenvolver de seu estudo psicanalítico, sobre os sonhos nos deficientes visuais. Do Ver ao Perder de Vista. Revela que as pessoas com deficiência visual, formulam o seu “enxergar”, na vivencia dos outros sentidos. A autora ressalta: “Com isso, queremos dizer enxergar perceptivo (visão) juntamente com o ouvir (audição), o cheirar (olfato), o sentir (paladar) e o tocar (tato). Por fim, denominaríamos de “olhar inconsciente” o conceito de olhar ampliado, que engloba todos os sentidos”. Camargos (2012, p. 108). Tendo isso em mente é pertinente, por em descrição, na íntegra, a fala de S1 (feminino) quando questionada sobre o desenvolvimento de seus sentidos: “Todos são bem desenvolvidos, desenvolvi bem a audição, gosto de ouvir música eletrônica e romântica, ouço Marrom Five. Geralmente eu gosto do ritmo da música, depois eu presto atenção na letra. A gente tem algumas limitações, mas eu gosto de balada de sair, sou uma pessoa bem extrovertida, gosto de “ver” gente. Sou uma cega que enxerga. ” Portanto S1 (feminino) nos remete as interpretações de Paz: Os sentidos sem perder seus poderes, convertem-se em servidores da imaginação e nos fazem ouvir o inaudito e ver o imperceptível. Não é isso, afinal, o que acontece no sonho e no encontro erótico? Nos sonhos como no encontro sexual abraçamos fantasmas. Nosso parceiro tem corpo, rosto e nome, mas sua realidade, precisamente no momento mais intenso do abraço, dispersa-se em uma cascata de sensações que, por sua vez, dissipam-se. Há uma pergunta que se fazem todos os apaixonados e que condensa em si o mistério erótico:"Quem é você?" Pergunta sem resposta. Os sentidos são e não são deste mundo. Por meio deles, a poesia ergue uma ponte entre o ver e o crer. Por essa ponte a imaginação ganha corpo e os corpos se convertem em imagens. (PAZ, 1994, p. 11-12) S1 (feminino), afirma ter um de seus sentidos mais apurado: desenvolvi bem a audição, gosto de ouvir música eletrônica e romântica, ouço Marrom Five. Geralmente eu gosto do ritmo da música, depois eu presto atenção na letra”. Segundo Ellis (1977), o sentido da audição é seletor natural, quando o assunto é sexualidade, no reino animal, por exemplo, os pássaros, com o canto conquistam seus parceiros, os lobos uivam, e vários outros animais tem esse recuso como seletor sexual. Sobre sua influência da música ressaltada por S1 (feminino). O autor, comenta o efeito marcante sexual, que a música produz nos seres humanos. Ellis (1977, p. 46) ressalta: “A música produz realmente este efeito, em parte pela associação com a história, e em parte pela concepção mental do esforço do compositor para traduzir o ardor em termos estéticos”. A audição, como sentido predominante, também é pontada por S2 (feminino): “Audição, eu escuto coisas de longe, escuto conversas que nem são comigo”. Quando S2 (feminino) afirma: “(...) escuto conversas que nem são comigo”. Ela tem a percepção de uma situação paralela a sua. Gil (2000, p. 23) comenta: “A percepção auditiva ajuda a pessoa com deficiência visual a compreender que existe uma realidade exterior, separada dela”. Ainda para comtemplar o sentido auditivo. S3 (masculino) comenta: “(...). Quando, você conhece uma pessoa você usa mais a voz, a conversa. Como deficiente visual não pode olhar ou ficar flertando, conquista num bom papo”. Em relação aos objetivos amorosos e sexuais que são dados a voz. De acordo com Assoun (1999, p. 163). “Ora, se as necessidades ditaram os primeiros gestos, foram as paixões que arrancaram as primeiras vozes”. Encaixamos aqui a necessidade da conquista, seguida de um “bom papo” citado por S3 (masculino). No contexto erótico, quando falamos no sentido tátil. Observamos o discurso de S3 (masculino), ao falar do uso dos sentidos: “Depende muito da situação horas uso mais um, horas uso mais outro, na relação sexual o tato prevalece”. No ser humano o tato corresponde às percepções do maior órgão que temos que é a pele, em primeira estância todas as sensações se estabelecem no tocar algo ou alguém. A pele abriga nossa zona erógena, no próprio ato sexual a penetração se dá no roçar de pele. (ELLIS, 1971, p. 37). Ao ser indagado sobre seu sentido mais apurado S4 (masculino) exclama: “Tato. Por que quando sofri o acidente perdi a audição do lado esquerdo, aí pelo tato por menor que seja o contato físico consigo descrever o que estou tocando, seja material, objeto ou pessoa. Ainda conforme Sá; Campos; Silva (2007, p. 16) “As retas, as curvas, o volume, a rugosidade, a textura, a densidade, as oscilações térmicas e dolorosas, entre outras, são propriedades que geram sensações”. Comtemplando assim, a fala de percepções de S1 (masculino). O toque, apresenta ainda algumas informações sutis, que surgem durante a fala de S4 (masculino), que diz: “(...). Pelo tato consigo, por exemplo, descrever o que a outra pessoa está sentido”. Embasando este discurso, na teoria psicanalítica. Segundo Dolto (1985) apud Nasio (1995, p. 214). “Nos primórdios da vida, o ser está referido ao umbigo, à boca, às sensações do tubo digestivo e às sensações táteis. Mas o corpo nem por isso deixa de ser, antes de mais nada, um lugar relacional”. A autora afirma, que estas sensações táteis, ainda uterinas, estão em larga escala associadas as emoções e nossas impressões de sentimentos. Numa conclusão sobre os sentidos no deficiente visual. Camargos comenta: Como o sentido da visão é aquele que fornece o maior número de informações instantânea e simultaneamente ao indivíduo vidente, e os cegos não o possuem, a apreensão dos dados do ambiente por um cego será feita de forma fragmentada. Portanto, para que tenha a noção de um todo, deverá juntar o mosaico do que recebe por meio de seus sentidos. Construirá a significação de um objeto ao tocá-lo, cheirá-lo, ao ouvir seu ruído ou sua descrição feita por alguma pessoa e ao experimentá-lo, se possível. (CAMARGOS, 2012, p. 24), Sobre as percepções de mundo da pessoa cega Evgen Bavcar francês, doutor em filosofia da estética, cego e fotógrafo explana: "Eu fotografo contra o vento... o ar em movimento me possibilita infinitas informações sobre tempo e temperatura, leituras outras sobre tipos de cheiros, ruídos, que sinalizam conexões específicas para a construção do meu mundo interior". Bavcar (2001, p.22) apud Bruns (2009, p. 5). As respostas dos entrevistados, em relação, ao desenvolvimento dos seus sentidos, demonstraram a capacidade de percepção singular e subjetiva de cada um. 3 CONCLUSÃO O desenvolver dessa pesquisa propiciou uma imersão de conhecimento acerca do deficiente visual e sua sexualidade, desde o primeiro passo que foi a criação do tema. A contemporaneidade e seu mundo digital, sempre se renovando e trazendo conceitos estéticos e eróticos, num apanhado de visualidade. Nossos olhos sempre atentos e sedentos de consumo visual. Nosso Eros encasulado na retina, sem a supressa de um voo cheio de intensão, de gosto, de cheiro, de toques e de sons. Afinal, onde anda nosso deus do amor? Se não atrás de um beijo sublime, que, por ventura, é feito com os olhos fechados. As facetas do erotismo, além do olhar, formularam o ponto inicial deste trabalho. Tendo como intenção inicial “enxergar”, não no contexto físico, fizemos ponte com o inconsciente de nossos entrevistados, obtendo, assim, falas que transpareceram os seus sentimentos em relação a sua vivencia erótica. O impasse era se encontraríamos um sujeito bruscamente reprimido em sua sexualidade, que não nos endereçasse ao principal conceito do trabalho. Porém, no decorrer das entrevistas e do levantamento teórico, notamos que Eros passeava por ali, apesar do preconceito duplo que a pessoa com deficiência visual encarra, em relação aos conceitos arcaicos de sexualidade e deficiência, ainda hoje presentes. A beleza que os olhos não veem, oculta na fantasia e na imaginação, trouxe à tona falas que chamam a atenção, como: “sentir as cores”; belo “é voar”. Isso demonstra o quão as finalidades de beleza são abstratas e complexas para o deficiente visual, mas, sem dúvida, não deixam de ser belas. O relato de suas paixões, seus encontros amorosos, eram seguidos de pequenos risos no fim das falas, até mesmo com um certo rubor eu diria. Indago-me, agora, de qual maneira, se não viam? Eles ouviram cada som e voz, sentiram cada toque, e como um deles explanou: “a personalidade o cheiro”. Seus sentidos deram forma aos seus amados e a si mesmos. Eles vão para a balada, escutam conversas alheias, “flertam com um bom papo”, o bom papo, também se seguiu de riso. Pois bem, de acordo com uma das entrevistadas: “Sou uma cega que enxerga. ” Sendo assim, de maneira geral, percebeu-se a necessidade de falar em sexualidade e deficiência. Por isso, esse estudo não se trata de um estudo fechado e impositivo, muito pelo contrário. A amostra dos participantes soma-se a um pequeno grupo de quatro pessoas, de uma determinada região. Portanto, novas pesquisas nessa área só irão enriquecer o conhecimento acerca do erotismo e suas nuances sobre a sexualidade e quem sabe, estreitar cada vez mais nossa relação com as pessoas com deficiência visual, desconstruindo preconceitos, bem como concepções errôneas da deficiência. Por fim, tornando-nos mais humanos. EROTICISMIN VISUALLY IMPAIRED ABSTRACT: Addressing the theme eroticism in visually impaired, this study aimed to understand how the visually impaired experiencing their sexuality. It also highlights the social prejudices surrounding the visually impaired person, trying to understand how this reacts before construction erotic, since we are in exhibitionism era. This study constitutes the phenomenological method, presenting a descriptive and qualitative research on the perspective of phenomenology. Also counted with a field of study, with a tool one semi-structured interview. The sample consists of four visually impaired (two female and two male), both with visual impairment, severe (blind). The interviews were conducted individually, in the cities of Xanxerê and São Carlos, municipalities belonging to the West of the State of Santa Catarina. For analysis and discussion of the data was made using the phenomenological method proposed by Martins (1993). Therefore, the information gathered were two units of meaning: The beauty that the eyes do not see. The four directions; Within these, the results suggest an eroticism built by subjective nuances, keen senses, complex aesthetic conceptions, all because of an active and peculiar Eros. It was found, however, that despite the prejudices and stigmas, the way the visually impaired experience their sexuality and eroticism is not unlike that of non-disabled person, and even become deeper into the unconscious looks sexuality Key Words: Visual Impairment. Sexuality. Eroticism. REFERÊNCIAS ALBERONI, Francesco. O Erotismo: fantasias e realidades do amor e da sedução. Tradução: Élia Edel. São Paulo: Círculo do livro S.A, 1986. ANDRADE, Carlos Drummond de. O amor natural. Kinesis de Mark Jamra, Rio de Janeiro, 2006. ASSOUN, Paul Laurent. O olhar e a voz: lições psicanalíticas sobre o olhar e a voz. Tradução: Celso Pereira de Almeida. Rio de Janeiro, Companhia de Freud, 1999. BATAILLE, Georges. O Erotismo. Tradução: Antônio Carlos Viana. Porto Alegre: L&PM Editores, 1987 . BAUER, Martin W., GASKELL, George. Pesquisa Qualitativa Com Texto, Imagem e Som: Um Manual Prático. Tradução: Pedrinho A. Guareschi. Editora Vozes, Petrópolis- Rio de Jneiro,2002. BOURDETTE, Eleine. 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