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KENEDY, E 2013 Linguagem sociedade e cognição[30p]

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KENEDY, E. Linguagem, sociedade e cognição. In: PAES, R,. (Org.). Língua, uso e discurso: 
entremeios e fronteiras. 1ªed. Rio de Janeiro: Editora da UESA, 2013, v. 1, p. 5-34. 
Linguagem, sociedade e cognição 
Capítulo 1 
 
 
Eduardo Kenedy 
Universidade Federal Fluminense 
 
A linguagem humana 
 
Caro aluno, a linguagem humana é um fenômeno impressionante. Ela se 
faz presente em quase todos os momentos da vida de uma pessoa, desde o seu 
nascimento, quando recebe um nome e é inserido numa comunidade de fala, 
até a maturidade, quando transita diariamente pelos complexos sistemas de 
comunicação e interação social modernos. Concretizada numa das milhares de 
línguas hoje existentes no mundo, a linguagem humana nos impressiona 
porque ela é capaz de fazer muito a partir de pouco. É com base em apenas 
três ou quatro dúzias de sons que nós, falantes de uma língua natural 
qualquer, como, por exemplo, o português, conseguimos dominar dezenas de 
milhares de palavras, as quais, quando combinadas entre si de maneira 
ordenada, nos permitem a produção e a compreensão de um número 
potencialmente infinito de frases e textos. A posse da linguagem, com seu 
ilimitado poder expressivo, faculta aos humanos a organização e a veiculação 
de pensamentos, ideias, conceitos, valores e, dessa forma, insere cada 
indivíduo que domina (pelo menos) uma língua no dinâmico e intenso fluxo 
comunicativo das sociedades contemporâneas. Com efeito, os poucos sons da 
linguagem oral podem ser substituídos por algumas letras num sistema de 
escrita ou por centenas de sinais numa língua de surdos sem que, com isso, o 
poder mobilizador da linguagem seja significativamente alterado. Seja na 
fala, na escrita ou na sinalização, a experiência humana se faz rica e ilimitada 
com a linguagem e pela linguagem. 
Para que você tome consciência da complexidade social e cognitiva 
subjacente a um simples ato da linguagem humana, pense no seguinte 
exemplo. Imagine um homem que caminha distraído pela cidade, 
aproveitando os momentos que ainda lhe sobram de seu horário de almoço. 
Subitamente, ele se dá conta de que pode estar atrasado para o retorno ao 
 
KENEDY, E. Linguagem, sociedade e cognição. In: PAES, R,. (Org.). Língua, uso e discurso: 
entremeios e fronteiras. 1ªed. Rio de Janeiro: Editora da UESA, 2013, v. 1, p. 5-34. 
trabalho e diz para si mesmo, com aquela voz interna e silenciosa que muitas 
vezes ordena os nossos pensamentos: “Devo estar atrasado!”. Com essa 
impressão, o homem se dirige a um transeunte e pergunta: “Com licença. O 
senhor pode me informar as horas?”. O transeunte, por sua vez, compreende o 
estado mental de seu interlocutor – sua intenção de ser informado a respeito 
do horário – e busca o comportamento adequado para a situação: olha para o 
relógio de pulso e dele retira a informação necessária, que é codificada na 
frase-resposta “São doze e trinta”. A aparente banalidade de um evento como 
esse esconde sob si um fenômeno extraordinário: a interação entre a mente 
humana e a realidade sociocultural na tarefa de produzir e compreender 
estruturas e significados linguísticos. Podemos não nos dar conta, mas, na 
comunicação humana, o indivíduo que fala executa um trabalho 
sociocognitivo muito complexo. Ele deve codificar os seus pensamentos e 
ideias em palavras, que, por sua vez, devem ser combinadas entre si em 
frases, as quais, por fim, são pronunciadas para um interlocutor num dado 
contexto discursivo. Da mesma forma, a tarefa do indivíduo que compreende 
é também engenhosa: ele deve decodificar os sons da fala que lhe são 
dirigidos no ato do discurso, de modo a identificar palavras e frases para, 
assim, conseguir interpretar os pensamentos e as ideias de seu colocutor. Ora, 
podemos perguntar: como os humanos fazem isso? De que maneira essa 
sequência de codificação e decodificação de formas e significados linguísticos 
ocorre? 
Pense bem, pois as respostas para essas perguntas não são nada fáceis 
ou simples. Lembre-se de que as estruturas das frases e dos textos nas línguas 
naturais são geralmente muito complexas. Mesmo se analisássemos uma frase 
simples como “O senhor pode me informar as horas?”, encontraríamos nela 
regras de ordenação de palavras, concordância, regência, seleção de 
pronomes... enfim, verificaríamos a existência de uma suntuosa maquinaria 
gramatical a serviço da comunicação e da interação social. Entretanto, a 
despeito de toda essa complexidade, nós humanos somos capazes de produzir 
e compreender frases e textos com extrema facilidade. Numa conversa 
qualquer, produzimos e compreendemos dezenas, centenas, milhares de 
enunciados, um após o outro, numa velocidade incrivelmente rápida, muitas 
 
KENEDY, E. Linguagem, sociedade e cognição. In: PAES, R,. (Org.). Língua, uso e discurso: 
entremeios e fronteiras. 1ªed. Rio de Janeiro: Editora da UESA, 2013, v. 1, p. 5-34. 
vezes medida em milésimos de segundo. Em circunstâncias normais, fazemos 
isso de maneira inconsciente e sem esforço cognitivo aparente. Ora, como 
somos capazes disso? De que maneira nossas mentes se tornam aptas a 
estruturar nossos pensamentos em frases e textos codificados em sons 
socialmente compartilhados? 
 Ao formularmos essas perguntas, acreditamos ter despertado em você a 
consciência do complexo mundo sociocognitivo que se esconde sob cada uso 
cotidiano que fazemos da linguagem. De fato, esperamos ter também aguçado 
o seu interesse pelos estudos linguísticos. Você deve saber que encontrar 
respostas para tais perguntas é tarefa das ciências da linguagem. Essas 
ciências vêm alcançando um extraordinário desenvolvimento ao longo das 
últimas décadas e, assim, muitos segredos a respeito da estrutura e do 
funcionamento das línguas naturais estão sendo rapidamente revelados. 
Algumas dessas descobertas serão apresentadas a você neste livro. Nas 
próximas páginas, gostaríamos de ter você como nosso convidado durante uma 
breve incursão pelo fantástico universo sociocognitivo que pertence a mim e a 
você: a linguagem humana. 
Neste capítulo inicial, vamos aprender alguns conceitos fundamentais e 
indispensáveis ao estudo da linguagem. Começaremos pelas noções de 
linguagem e língua. Os termos parecem se referir a conceitos aproximados, 
mas teremos uma seção inteira para entendermos que se trata, na verdade, 
de duas realidades diferentes. Com base no que estudaremos sobre a noção 
de língua, seguiremos para a seção em que diferenciaremos a dimensão 
cognitiva da dimensão sociocultural da linguagem. Aprenderemos que uma 
língua sempre existe simultaneamente no interior do indivíduo que a fala e no 
seio da sociedade em que esse indivíduo se encontra inserido, sendo, por isso, 
um fenômeno sociocognitivo (ou cognitivossocial). Logo em seguida, 
trataremos do fantástico fenômeno da aquisição da linguagem. Vamos analisar 
alguns aspectos da árdua tarefa das crianças, que, de maneira inconsciente e 
compulsória, devem criar em suas mentes uma versão do sistema linguístico 
que a elas se revela indiretamente na fala das pessoas que a circundam. 
Também teremos, neste capítulo, uma seção dedicada às diferenças entre as 
formas e as funções linguísticas. Estudaremos para que serve a linguagem 
 
KENEDY, E. Linguagem, sociedade e cognição. In: PAES, R,. (Org.). Língua, uso e discurso: 
entremeios e fronteiras. 1ªed. Rio de Janeiro: Editora da UESA, 2013, v. 1, p. 5-34. 
humana e como ela dá conta de seus diversos ofícios. Por fim, apresentaremos 
os principais fatos imbricados no uso da linguagem pelos indivíduos adultos, 
que em tempo real precisam produzir e compreender frases e textos, 
codificando e decodificando mentalmente informações nas diversas formas de 
comunicaçãoe expressão que se tornam possíveis pela língua. Esperamos que 
você tenha apreciado esse roteiro, pois nossa viagem pelo mundo da 
linguagem está apenas começando! 
 
Linguagem e língua 
 
Ferdinand de Saussure (1857/1913) foi um importante linguista franco-
suíço que ainda hoje é considerado o pai das modernas ciências da linguagem. 
Foi Saussure quem formulou, explicitamente e com grande clareza, uma 
importante distinção entre aquilo que compreendemos por linguagem e por 
língua. Vamos entender do que se trata. 
De acordo com Saussure, “a língua não se confunde com a linguagem, 
pois é somente uma parte determinada e essencial dela” (1916: p. 17). O que 
o mestre genebrino nos ensina nesta passagem é que a linguagem é um 
fenômeno muito mais geral e abrangente do que uma língua. Comparada com 
a linguagem, diz-nos Saussure, uma língua possui um caráter muito mais 
específico. Para entender melhor isso, pensemos no seguinte. Você acha que 
animais não humanos, como cachorros, gatos, macacos, pássaros etc., 
possuem algum tipo de linguagem? A resposta é um tanto óbvia: é claro que 
sim. A maior parte dos animais possui algum sistema de comunicação que 
permite a expressão de seus estados internos e a interação com o seu 
ambiente. Por exemplo, se você possui um cão ou gatinho, certamente é 
capaz de perceber o tipo de latido (ou miado) que ele produz quando está 
com fome, com dor, quando se sente em perigo ou alegre. Embora as 
mensagens que cães e gatos possam transmitir com seus ruídos 
característicos, com a posição do corpo, do rabo e com a emissão de certos 
odores sejam um tanto limitadas, não há dúvidas de que se trata de um tipo 
de linguagem que permite a comunicação tanto entre os membros daquelas 
espécies animais, quanto entre eles e os seres humanos. Na verdade, alguns 
 
KENEDY, E. Linguagem, sociedade e cognição. In: PAES, R,. (Org.). Língua, uso e discurso: 
entremeios e fronteiras. 1ªed. Rio de Janeiro: Editora da UESA, 2013, v. 1, p. 5-34. 
animais chegam a possuir sistemas de linguagem impressionantemente 
complexos, como é o caso das abelhas. As abelhas possuem um complicado 
sistema de dança em ziguezagueado que permite a indicação da direção e da 
distância em que se encontra uma fonte de néctar que tenha sido descoberta 
por alguma delas. As abelhas que, durante alguns minutos, observam a 
abelhinha que localizou o néctar dançar para lá e para cá, chacoalhando o seu 
corpo de maneira frenética, são capazes de “entender” a informação que está 
sendo transmita e, logo ao fim da dança, rumam para a fonte do néctar com 
bastante precisão. Ora, esse exemplo ilustra claramente a existência de uma 
“linguagem dos animais”, ou, mais precisamente, a linguagem específica de 
cada espécie animal em particular. 
 Você já deve ter entendido que a linguagem é um conceito bastante 
abrangente, que se refere a todo e qualquer sistema de comunicação e 
expressão. É por isso que podemos falar em “linguagem dos animais”, 
“linguagem das cores”, “linguagem dos cheiros”, “linguagem corporal”, 
“linguagem da arte” incluindo a “linguagem da dança”, “linguagem da moda” 
etc. Pois bem, se linguagem é qualquer sistema de comunicação e expressão, 
então o que é uma língua? Com efeito, língua é um tipo específico de 
linguagem, como o próprio Saussure já havida dito. Afinal, uma língua 
também é um sistema de comunicação e expressão e, assim, é uma forma de 
linguagem. Acontece que a língua é uma forma singular de linguagem, com 
características próprias que a distinguem de todas as demais linguagens 
animais ou humanas não-verbais. Que características são essas, você deve 
estar se perguntando? Trata-se de dois fatores sociocognitivos muito 
importantes. Vejamos cada um deles a seguir. 
 O primeiro fator que distingue uma língua humana qualquer, como o 
português, o inglês ou o xavante, dos demais sistemas de linguagem é a 
existência de um léxico. O léxico pode ser compreendido como o conjunto de 
palavras e expressões que são socialmente compartilhadas pelos falantes de 
uma dada língua. No léxico, encontramos uma coleção de formas 
(significantes) que são associadas sistematicamente a certos conteúdos 
(significados). Assim, por exemplo, em português possuímos o significante 
[kaza] (representado na escrita pela grafia “casa”) que será sempre associado 
 
KENEDY, E. Linguagem, sociedade e cognição. In: PAES, R,. (Org.). Língua, uso e discurso: 
entremeios e fronteiras. 1ªed. Rio de Janeiro: Editora da UESA, 2013, v. 1, p. 5-34. 
ao significado [tipo de moradia] todas as vezes que usarmos essa palavra. 
Também temos no léxico de nossa língua o significante [a], sufixo presente ao 
fim da forma [menina], ao qual está associado o significado [pessoa do sexo 
feminino]. Da mesma maneira, temos o significante da expressão [dar uma 
mãozinha] que se associa, em língua portuguesa, ao significado [oferecer 
ajuda]. O número total de palavras e expressões existentes num léxico é 
bastante variável de língua para língua. A título de ilustração, saiba que um 
falante escolarizado do português do Brasil domina pelo menos 50.000 itens, 
sem contar as formas flexionadas das palavras (como as diversas expressões 
do verbo “estudar”: estudo, estuda, estudamos, estudava, estudarei, 
estudaria etc.), mas os dicionários da língua portuguesa chegam a registrar de 
200.000 a 400.000 palavras. Trata-se de números bem impressionantes, não? 
Pois bem, nos sistemas gerais de linguagem não existe nada parecido com o 
léxico das línguas humanas. Afinal, quantos tipos de latido, miado ou cantar 
podem ser discriminados pelos cães, pelos gatos ou pelos pássaros? Quantas 
“palavras” poderíamos transmitir com a linguagem corporal, com a linguagem 
dos cheiros ou pela dança? Ainda que consigamos catalogar um grande número 
delas, não encontraríamos algo tão organizado, sistemático e vasto como o 
léxico de uma língua. 
 O segundo fator que distingue uma língua dos demais tipos de 
linguagem é o mais importante: as línguas humanas possuem um sistema 
combinatório, que chamamos de gramática. Esse sistema é capaz de combinar 
entre si, de maneira ordenada e controlada por regras, as unidades do léxico, 
de modo a construir expressões compostas como as frases e os textos. Por 
exemplo, o léxico do português possui unidades como “casa”, “bonita”, 
“comprar”, “você”, “mais”, porém é a gramática dessa língua que permitirá a 
criação de expressões complexas como “que casa mais bonita você 
comprou!”. O interessante é que, se o número de itens existentes num léxico 
qualquer já é consideravelmente grande, ele não é quase nada quando 
pensamos no número de expressões que o sistema combinatório de uma língua 
pode gerar utilizando suas regras computacionais. De fato, o número de frases 
e textos que podemos construir numa língua ao combinarmos léxico e 
 
KENEDY, E. Linguagem, sociedade e cognição. In: PAES, R,. (Org.). Língua, uso e discurso: 
entremeios e fronteiras. 1ªed. Rio de Janeiro: Editora da UESA, 2013, v. 1, p. 5-34. 
gramática é ilimitado. Quando falamos uma língua, somos capazes de produzir 
e compreender um número infinito de frases e textos. 
 Se compararmos as línguas humanas com os sistemas mais gerais de 
linguagem (humanos ou animais), poderemos deduzir que a principal 
diferença entre eles é a recursividade – também denominada infinitude, 
criatividade ou produtividade –, que existe somente nas línguas. A 
recursividade é justamente a capacidade de criar um número infinito de 
frases e textos com base no número finito de palavras existentes no léxico. A 
recursividade emerge, portanto, da combinação entre os dois componentes 
fundamentais de uma língua: o léxico e o sistema combinatório(gramática). 
Neste momento, você talvez tenha curiosidade de saber se existe algum tipo 
animal não humano que possua língua (e não apenas linguagem). Muito bem, 
os cientistas ainda não conseguiram registrar nenhuma espécie de vida, além 
dos humanos, que use algum sistema de comunicação remotamente parecido 
com uma língua natural. Por tudo o que até hoje sabemos, somente nós 
humanos conseguimos usar um sistema de linguagem com recursividade. É por 
isso que as línguas parecem ser um verdadeiro patrimônio da humanidade, 
algo que nos distingue claramente de todas as formas de vida conhecidas pela 
ciência. A posse da linguagem, na forma de uma língua, é de fato uma das 
características mais distintivas e mais importantes do homo sapiens. Não 
obstante, existem muitos cientistas que vêm tentando ensinar uma língua 
humana a animais inteligentes, como os chimpanzés e algumas espécies de 
papagaios e de golfinhos. Nos links a seguir, você poderá encontrar alguns 
documentários que registram essas tentativas de ensino de línguas entre 
espécies. 
 
Washoe - chimpanzé fêmea que aprendeu a dominar diversas formas da língua 
norte-americana de sinais. 
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=UAJAV0PJmsw 
 
Alex – papagaio cinza africano que conseguia comunicar-se usando várias 
palavras do inglês. 
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=VZ2j1jOwAYU 
 
 
KENEDY, E. Linguagem, sociedade e cognição. In: PAES, R,. (Org.). Língua, uso e discurso: 
entremeios e fronteiras. 1ªed. Rio de Janeiro: Editora da UESA, 2013, v. 1, p. 5-34. 
 Você provavelmente ficará encantado com as proezas linguísticas 
desses animais raríssimos e geniais. Mas acreditamos que não ficará 
convencido de que eles de fato “aprenderam” a usar uma língua e 
demonstram domínio de um léxico e de um sistema combinatório. O máximo 
que podemos dizer é que esses adoráveis bichinhos são capazes de aprender, 
após intensos anos de treinamento, um sistema de linguagem bastante 
complexo e avançado, inspirado no léxico das línguas humanas – algo 
fantástico que, por si só, já é merecedor de destaque científico. No entanto, 
usar essas pesquisas para alegar que macacos ou papagaios são realmente 
capazes de aprender e usar uma língua humana é um flagrante e descomunal 
exagero, o qual se motiva muito mais por questões ideológicas (por exemplo, 
conferir maior importância ao aprendizado sociocultural em oposição à 
natureza biológica humana na aquisição de conhecimento) do que linguísticas. 
Até o momento, com efeito, a linguagem, na forma de um sistema 
combinatório que opera recursivamente sobre um léxico, é um fenômeno 
identificado somente na espécie humana e ainda irreproduzível nos sistemas 
de inteligência artificial desta segunda década do século XXI. 
Muito bem, agora que você já sabe distinguir linguagem e língua, fique 
atento às expressões “linguagem” ou “linguagem humana”. Muitas vezes, 
essas expressões querem dizer “língua” (léxico e gramática) e não apenas 
“linguagem” (qualquer sistema de comunicação). É bem verdade que podemos 
usar esses termos de maneira um tanto livre e mais ou menos metafórica, no 
dia a dia ou mesmo ao longo de um livro mais especializado – como, de fato, 
já o fizemos e tornaremos a fazer aqui -, mas, sempre que necessário, 
devemos distinguir tais conceitos. 
 
Língua = fenômeno cognitivo e sociocultural 
 
As línguas humanas são uma autêntica maravilha do mundo natural e 
sociocultural. Talvez você já se tenha dado conta de que, desde que estejam 
inseridos num ambiente de interação social, todos os indivíduos saudáveis, de 
todos os tempos da história e de todas as culturas humanas, desenvolvem, de 
maneira natural e espontânea, a habilidade de produzir e compreender 
 
KENEDY, E. Linguagem, sociedade e cognição. In: PAES, R,. (Org.). Língua, uso e discurso: 
entremeios e fronteiras. 1ªed. Rio de Janeiro: Editora da UESA, 2013, v. 1, p. 5-34. 
oralmente palavras, frases e textos na língua de seu ambiente. Por exemplo, 
uma criança que nasça no Brasil desenvolverá, já nos primeiros anos de vida, 
a capacidade linguística de produção e compreensão de enunciados em 
português, numa de suas modalidades socioculturais – se não o português, 
então uma das línguas minoritárias do país (por exemplo, uma língua 
indígena), que será assim a língua ambiente dessa criança. Essa capacidade 
permanecerá na mente da criança no curso de sua vida saudável e será 
modificada, na adolescência e na vida adulta, de acordo com suas 
experiências particulares. Como maravilha do mundo natural e sociocultural, 
o fenômeno das línguas humanas comporta necessariamente duas dimensões: 
uma dimensão individual e mental e uma dimensão coletiva e sociocultural. 
Sempre que temos o fenômeno linguagem humana, temos, de um lado, o 
indivíduo particular que possui a capacidade mental de produzir e 
compreender expressões linguísticas e, do outro lado, temos a sociedade em 
que esse indivíduo se insere, a qual lhe forneceu não só os contextos de uso 
da linguagem em interação com outros humanos, mas também os sons e as 
palavras necessários à expressão verbal. 
O influente linguista norte-americano Noam Chomsky (nascido em 1928 
e ativo até o presente) formulou dois importantes conceitos para dar conta da 
diferença entre a dimensão individual e psicológica das línguas e a sua 
dimensão social e cultural. Chomsky, em seu clássico livro de 1986, propôs 
que a dimensão mental e cognitiva do fenômeno da linguagem seja 
sintetizada pelo conceito de Língua-i, em que “i” significa interna, individual. 
Já a dimensão sociocultural das línguas é denominada por Chomsky como 
Língua-e, em que “e” quer dizer externa, extensional. Vejamos melhor esses 
conceitos. 
A noção de Língua-e corresponde grosso modo ao que comumente se 
interpreta como língua ou idioma no senso comum. Por exemplo, o português 
é uma Língua-e no sentido de que é esse fenômeno sociocultural, histórico e 
político que compreende um conjunto sons, palavras, regras gramaticais e um 
sistema de escrita que, em conjunto, permitem a comunicação e a interação 
entre os seus falantes. Trata-se de um fenômeno supra-individual, na verdade 
exterior ao indivíduo. Quando dizemos que o russo é a língua da Rússia ou que 
 
KENEDY, E. Linguagem, sociedade e cognição. In: PAES, R,. (Org.). Língua, uso e discurso: 
entremeios e fronteiras. 1ªed. Rio de Janeiro: Editora da UESA, 2013, v. 1, p. 5-34. 
o chinês é a língua da China, entendemos língua como esse fenômeno 
desincorporado dos falantes, a Língua-e. Da mesma forma, quando dizemos 
que uma criança nascida no Paraguai provavelmente aprenderá a falar 
espanhol e guarani, mais uma vez nos referimos a um fenômeno cuja 
existência é externa às pessoas e, nesse caso, do qual elas devem se 
apropriar: as línguas do ambiente, as Línguas-e. 
A noção de Língua-i, por sua vez, corresponde ao conjunto de 
habilidades mentais que permitem ao indivíduo a produção e a compreensão 
de um número potencialmente infinito de expressões na sua língua ambiente. 
Uma Língua-i diz respeito, portanto, àquilo existente no interior da mente das 
pessoas, que lhes faculta a aquisição e o uso cotidiano de uma língua natural. 
Nesse sentido, se entende que uma língua seja parte do sistema cognitivo 
humano. Uma Língua-i é uma faculdade psicológica ou, por assim dizer, um 
órgão mental. Todo indivíduo humano sem deficiências neuropsicológicas 
graves é capaz de manipular, em sua língua, diversos recursos gramaticais e 
textuais que veiculam significados do indivíduo para o mundo exterior e desse 
para a consciência do indivíduo. Essa competência cognitiva para a 
manipulação das estruturas e dossignificados da linguagem é individual e 
inconsciente. É a ela que nos referimos com o conceito de Língua-i. 
É muito importante que você compreenda que uma língua é ao mesmo 
tempo um fenômeno cognitivo e individual (uma Língua-i) e um fenômeno 
coletivo e sociocultural (uma Língua-e). Embora nem sempre usemos os 
termos chomskianos, essa dualidade está lá inevitavelmente todas as vezes 
em que falamos sobre as línguas. Às vezes, quando pensamos sobre a 
linguagem humana, precisamos ter clareza se estamos discutindo aspectos 
cognitivos ou aspectos socioculturais da língua – ou mesmo se estamos 
considerando ambos os aspectos em interação. Fique, portanto, sempre 
atento a esse particular. 
 
Aquisição da linguagem 
 
Para que você compreenda a dramática situação sociocognitiva em que 
se encontra um bebê na fase de aquisição da linguagem, vamos liberar a 
 
KENEDY, E. Linguagem, sociedade e cognição. In: PAES, R,. (Org.). Língua, uso e discurso: 
entremeios e fronteiras. 1ªed. Rio de Janeiro: Editora da UESA, 2013, v. 1, p. 5-34. 
imaginação com a seguinte história fantástica. Suponha que você seja 
abduzido por alienígenas. Você acordaria numa galáxia distante, cercado de 
criaturas diferentes, cujos comportamentos você não compreende. Apesar de 
toda a estranheza inicial, não lhe seria difícil notar que tais criaturas possuem 
uma espécie de orifício em sua extremidade superior (algo como uma boca), 
de onde certos sons são regularmente emitidos. Com um pouco de 
observação, você consegue perceber que esses estranhos seres parecem se 
comportar de alguma maneira relacionada aos sons que trocam entre si. Por 
exemplo, você vê um ser alto emitindo sequências de sons enquanto um 
baixinho o observa. Ao final da produção de sons, o baixinho se desloca no 
espaço, toma um objeto para si e o leva até o altão, como se tivesse 
cumprido um pedido ou uma ordem. Para você, parecerá coerente concluir 
que os sons compartilhados entre esses alienígenas sejam uma espécie de 
sistema de comunicação e você, para conseguir descobrir o que aconteceu 
consigo, onde você está, quem são essas criaturas etc., terá de aprender a 
usar esse sistema. Tal tarefa não será nada fácil, pois você não contará com 
nenhum professor de “alienígena para terráqueos”, nenhum livro ou curso 
preparatório e, além disso, o aparente sistema de comunicação usado por 
aquelas criaturas não é semelhante a nenhum outro que você já tenha visto 
antes... 
Se você conseguiu compreender o quão dramática seria essa situação, 
está apto a entender que a aquisição da linguagem pelos bebês e pelas 
crianças é um autêntico milagre do mundo biocultural. Note bem, os bebês 
chegam a um mundo completamente desconhecido, retirados que foram do 
aconchegante útero materno. Esse mundo é povoado por seres estranhos ao 
bebê (os seres humanos) cujo comportamento parece estar estreitamente 
relacionado aos sons que todos trocam entre si. Tais sons mais parecem ao 
bebê uma grande confusão, um continuum de ruídos quase indecifráveis. 
Afinal, como um bebê poderia identificar, no fluxo da fala humana, onde um 
som termina e o outro começa? No entanto, já ao nascer, os bebês parecem 
ser muito espertos e, para eles, não é difícil deduzir que os sons emitidos 
pelas criaturas que o circundam constituem, na verdade, um sistema de 
comunicação. Talvez em razão do que famoso psicólogo de Harvard, o 
 
KENEDY, E. Linguagem, sociedade e cognição. In: PAES, R,. (Org.). Língua, uso e discurso: 
entremeios e fronteiras. 1ªed. Rio de Janeiro: Editora da UESA, 2013, v. 1, p. 5-34. 
canadense Steven Pinker, denominou de instinto para a linguagem, um bebê 
humano rapidamente “compreende” que precisa dominar esse sistema para 
descobrir o que os seres ao seu redor dizem e também para que ele próprio 
possa dizer alguma coisa e comunicar-se com as outras pessoas. Mas bebês e 
crianças estão, em grande parte, quase sozinhos no interior de suas mentes 
durante a odisseia pela descoberta e pelo domínio da língua do seu ambiente. 
Eles não possuem um professor particular de “língua humana para bebês 
recém-nascidos” e, o que é mais grave, o seu cérebro é ainda um 
protocérebro, ou seja, apenas um rascunho do potente processador de 
informações que é o cérebro de um indivíduo maduro. Suas capacidades 
cognitivas são, portanto, enormemente inferiores às do adulto abduzido para 
outra galáxia de nosso exemplo. 
Usamos a palavra “milagre” para descrever a aquisição da linguagem 
pelos bebês e pelas crianças porque, apesar de todas as dificuldades que 
descrevemos, os pequenos humanos conseguem dominar a língua de seu 
ambiente, para a compreensão e a produção da linguagem, com extrema 
eficiência e num intervalo de tempo incrivelmente pequeno, que não 
ultrapassa três ou quatros anos. As crianças pequenas sequer parecem fazer 
esforço cognitivo para adquirir a sua língua materna. De fato, a aquisição da 
linguagem é muito mais algo que simplesmente acontece com os bebês e com 
as crianças – e não algo que elas façam deliberadamente com o seu pequeno 
cérebro em formação. 
A par de ser um fenômeno sociocognitivo extraordinário, a aquisição da 
língua do ambiente (ou das línguas do ambiente, no caso das comunidades 
bilíngues ou multilíngues) é um dos eventos mais importantes na vida de um 
ser humano. Esse fenômeno é ao mesmo tempo a porta de entrada para as 
relações sociais humanas, que são quase sempre mediadas pela linguagem, e a 
janela para o aperfeiçoamento cognitivo individual, uma vez que grande parte 
da cognição humana se utiliza da linguagem como instrumento de 
desenvolvimento e de complexificação. Na verdade, o que chamamos de 
aquisição da linguagem é um fenômeno duplo, que envolve a aquisição de dois 
diferentes tipos de habilidades sociocognitivas. Vejamos isso em mais 
detalhes. 
 
KENEDY, E. Linguagem, sociedade e cognição. In: PAES, R,. (Org.). Língua, uso e discurso: 
entremeios e fronteiras. 1ªed. Rio de Janeiro: Editora da UESA, 2013, v. 1, p. 5-34. 
Um tipo particular de aquisição da linguagem é aquele que 
denominamos de aquisição em sentido amplo, ou aquisição da linguagem lato 
sensu. Em seu sentido amplo, adquirir linguagem significa apropriar-se das 
habilidades de comunicação, expressão e interação social. Esse tipo de 
aquisição demanda dos bebês e das crianças a absorção dos aspectos mais 
gerais da linguagem, tais como a interação sociocomunicativa, a organização 
de conceitos e de pensamentos e envolve, também, o desenvolvimento das 
noções de autoconsciência e de individualidade nas relações humanas. Na 
aquisição da linguagem lato sensu, a criança adquire, na verdade, os 
fundamentos da interação entre os humanos: os valores e as ações imbricados 
nos usos da linguagem, a própria noção de si, a percepção do(s) outro(s), os 
modos de interagir socialmente e assim por diante. 
O outro tipo de aquisição da linguagem é muito mais específico e, por 
isso mesmo, denomina-se aquisição em sentido restrito ou aquisição da 
linguagem stricto sensu. Em seu sentido restrito, adquirir linguagem significa 
apropriar-se do léxico e do sistema combinatório existentes na língua do 
ambiente. Esse tipo de aquisição demanda dos bebês e das crianças a 
habilidade de discriminação perceptual e de articulação intencional de toda a 
maquinaria gramatical necessária ao funcionamento da língua. Na aquisição 
stricto sensu, a criança adquire, de fato, o aparato linguístico formal que 
estará a serviço das interações sociais e da organização cognitiva do indivíduo 
em desenvolvimento. 
Se você já entendeu a diferença entre aquisição da linguagem lato 
sensu e stricto senso, podemos agora falar um pouco mais sobre a aquisiçãoem sentido restrito. Um dos fatos mais intrigantes a respeito do processo de 
aquisição do léxico e do sistema combinatório da língua do ambiente é que 
ele parece ser universal. As fases pelas quais passam os bebês e as crianças 
durante a aquisição stricto sensu são muito semelhantes em todas as culturas 
do mundo, seja qual for a língua do ambiente e seja qual for o nível de 
inteligência geral da criança. O que isso quer dizer é que todas as crianças 
parecem atravessar as mesmas etapas, nos mesmos estágios de 
desenvolvimento biológico, desde o nascimento até o domínio completo da 
 
KENEDY, E. Linguagem, sociedade e cognição. In: PAES, R,. (Org.). Língua, uso e discurso: 
entremeios e fronteiras. 1ªed. Rio de Janeiro: Editora da UESA, 2013, v. 1, p. 5-34. 
língua, estejam onde estiverem, em qualquer classe social e sob qualquer tipo 
de cultura. Vejamos alguns exemplos. 
Já ao nascer, todas as crianças normais balbuciam no ritmo da sua 
língua ambiente. Na verdade, algumas pesquisas recentes descobriram que o 
choro de bebês recém-nascidos transcorre conforme o ritmo e a melodia da 
língua que a circunda (Wermke e al., 2011). Esses fatos parecem indicar que a 
aquisição da linguagem tem início ainda no útero materno, quando aspectos 
sonoros da língua do ambiente (como o ritmo, a entoação e o acento) já 
parecem ser discriminados pelo feto. Você pode conferir um interessante 
vídeo sobre a precocidade na aquisição de sons e ritmos de uma língua no link 
abaixo. 
 
Robert Lent (UFRJ) – Os bebês choram em que língua? 
http://www.youtube.com/watch?v=e1vqLu_qFv4 
 
Não obstante, o grande salto qualitativo na produção linguística dos 
bebês ocorre aos 12 meses, quando eles já são capazes de produzir suas 
primeiras palavras reconhecíveis como tais. Essas são, na verdade, mais do 
que simplesmente “palavras”, pois sempre assumem o valor de uma frase 
completa inserida num contexto discursivo. Independente da língua do 
ambiente, as primeiras palavras produzidas por uma criança são sempre 
monossilábicas e seguem a estrutura [consoante + vogal]. Em pouco tempo, 
essa estrutura vai tornando-se cada vez mais complexa e caminha em direção 
à complexidade existente na fala adulta circundante. Por exemplo, uma 
criança brasileira, pode dizer algo como “bó”, parar significar uma frase 
inteira, como “olhe, a bola”, ou “onde está a bola?”, ou “ele furou a bola”, 
conforme o contexto permita compreender. Pouco meses depois, “bó” 
ganhará complexidade fonológica e tomará a forma convencional de “bola”. O 
mesmo fenômeno pode ser observado com as centenas de outras palavras que 
as crianças adquirem durante essa fase, que os linguistas nomeiam fase 
holofrástica. 
Com pouco menos de 24 meses, as crianças já atingem a fase de duas 
palavras (também chamada de fase sintagmática). Nessa etapa de seu 
desenvolvimento linguístico, frases com estruturas do tipo sujeito e predicado 
 
KENEDY, E. Linguagem, sociedade e cognição. In: PAES, R,. (Org.). Língua, uso e discurso: 
entremeios e fronteiras. 1ªed. Rio de Janeiro: Editora da UESA, 2013, v. 1, p. 5-34. 
semelhantes às dos adultos começam a ser produzidas pelos bebês. São frases 
como “qué papá”, “mais colinho”, “meia papai” e “banho não”. O 
interessante é que os enunciados produzidos pelos bebês durante a fase 
sintagmática não são apenas uma combinação entre duas palavras soltas. Pelo 
contrário, tal como ocorre na fase holofrástica, essas palavras também 
assumem o valor de um ato comunicativo completo, cuja interpretação é 
dependente do contexto interacional e comunicativo. 
Por volta dos 30 meses de vida, as crianças já conseguem criar frases 
com extensão ilimitada, compostas por três, quatro, seis, nove, dez 
palavras... Interessantemente, ao longo dessa fase, chamada de fase 
telegráfica, artigos, preposições, conjunções e pronomes estão ainda ausentes 
na fala infantil. Com efeito, até o terceiro ano de vida, as palavras que as 
crianças inserem em frases e textos são sempre itens de conteúdo referencial, 
como substantivos, adjetivos e verbos. As partículas gramaticais, que possuem 
conteúdo puramente formal, só emergem na fala das crianças de modo 
consistente a partir dos 36 meses de vida – embora haja intensas variações 
individuais sem causa aparente registradas pelos cientistas. É possível dizer 
que, ao mais tardar, aos quatro anos de vida, a língua que uma criança 
domina para a produção e para a compreensão da linguagem é indistinguível 
da de um adulto. As únicas diferenças, é claro, dizem respeito aos aspectos 
linguísticos que envolvem letramento, escolarização e certas regras de 
comportamento social que se desenvolvem posteriormente, na adolescência e 
na vida adulta. 
Infelizmente, parece existir um fim para o período da aquisição da 
linguagem. Isto é, os humanos não podem adquirir a língua do ambiente tão 
rapidamente e sem esforço em qualquer momento de sua vida, da infância à 
velhice. O neurocientista alemão Erick Lenneber (1921-1975) denominou de 
período crítico (ou idade crítica) a fase de desenvolvimento físico e cognitivo 
humano no limite da qual a aquisição da linguagem deve acontecer. Há muitas 
discussões sobre qual seria o fim dessa fase, mas, como existem muitas 
variações individuais no desenvolvimento humano, não é possível defini-lo 
com precisão. A maioria dos estudiosos aponta a puberdade, por volta dos 12 
ou 13 anos, como o momento em que “a janela automática” para a aquisição 
 
KENEDY, E. Linguagem, sociedade e cognição. In: PAES, R,. (Org.). Língua, uso e discurso: 
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da linguagem se fecha. A partir de então, a aquisição da linguagem não é mais 
possível e tudo o que podemos fazer para dominar uma (nova) língua é 
aprendê-la por meio de estudos formais, em escolas ou cursos de idioma. O 
conceito de aquisição opõe-se ao de aprendizado porque a aquisição da 
linguagem ocorre na infância de maneira espontânea, natural e mesmo 
involuntária, enquanto o aprendizado de línguas estrangeiras demanda do 
adolescente e do adulto esforço consciente e instrução mais ou menos formal. 
A linha divisora entre aquisição e aprendizado é justamente a idade crítica. 
 
Formas e funções linguísticas 
 
 Muito bem, já sabemos diferenciar linguagem e língua, compreendemos 
as dimensões cognitiva e sociocultural de uma língua natural e temos noção 
da pequena epopeia que cada ser humano atravessa, em tenra infância, ao 
longo da aquisição da(s) língua(s) de seu ambiente. Mas e se perguntassem a 
você para que serve uma língua (como o português), qual seria a sua resposta? 
Muito provavelmente, você diria algo como para permitir a comunicação 
entre as pessoas. Em essência, tal resposta está correta. Contudo, a pergunta 
é mais complexa do que parece, de tal modo que é preciso esmiuçá-la um 
pouco mais. Façamos isso. 
 A questão para que serve uma língua pressupõe dois conceitos 
fundamentais: (1º) as línguas possuem um conjunto de formas e (2º) cada uma 
dessas formas “serve” para algum fim, isto é, cada forma linguística possui 
uma dada função ou um conjunto de funções. As formas existentes numa 
língua podem ser também denominadas como estrutura. Trata-se da 
superfície ou o meio concreto pelo qual uma língua se realiza nos atos de fala 
humanos. Por exemplo, uma palavra e uma estrutura sintática são ilustrações 
de formas que usamos quando produzimos e compreendemos enunciados 
numa língua. Quando estudamos linguística e falamos dos aspectos formais de 
uma língua, estamos fazendo referência exatamente a essa aparato estrutural 
que precisamos utilizar para que a língua tome vida num ato linguístico 
qualquer.Por outro lado, sabemos que as formas de uma língua não existem 
por si mesmas. Com efeito, a razão de ser de cada forma linguística é 
 
KENEDY, E. Linguagem, sociedade e cognição. In: PAES, R,. (Org.). Língua, uso e discurso: 
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desempenhar uma determinada função. O escritor Graciliano Ramos 
compreendeu isso perfeitamente ao afirmar que “A palavra não foi feita para 
enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer”. No caso, “o 
dizer da palavra” é justamente a sua função. Dizendo de outra maneira, uma 
forma linguística não existe senão para provocar algum efeito de significado 
ou de sentido, isto é, uma forma não existe senão pela sua função. 
 Para que você entenda melhor a dualidade entre forma e função, pense 
nos seguintes exemplos. Em português, usamos um determinado som (e não 
outro) em razão de sua função distintiva, e assim conseguimos dizer, por 
exemplo, [sorte] e não [forte] pela oposição entra as formas [s] e [f]. 
Podemos usar uma forma de entonação ascendente para caracterizar a função 
de uma pergunta (ex. “João saiu?”) e uma forma descendente para a função 
assertiva (ex. “João saiu.”). Podemos usar a forma de um sufixo diminutivo, 
como em [casinha], para conferir uma função afetiva ou depreciativa à 
palavra “casa”. Podemos usar uma frase na forma da voz ativa com a função 
de destacar o agente de um determinado processo (ex. “João cometeu 
erros”), ou podemos usar a forma da voz passiva para esconder o agente da 
ação e destacar o objeto do verbo (ex. “Erros foram cometidos”). Em suma, o 
que queremos dizer é que uma forma linguística (um som, uma entonação, um 
sufixo, uma voz verbal etc.) é a maneira pela qual uma dada função se realiza 
materialmente na língua. 
 Se você compreendeu o que são formas e funções linguísticas, talvez 
possa agora repensar a sua resposta à questão para que serve uma língua 
(como o português)?. Na verdade, as formas existentes numa língua se 
prestam a inúmeras funções. Não é possível descrever todas elas neste 
capítulo, mas podemos dizer a você que, em sua grande maioria, as funções a 
que se destinam as formas linguísticas são eminentemente comunicativas. É 
por isso que importantes estudiosos, como o já citado Steven Pinker, 
acreditam que as línguas “servem” para a comunicação humana. Não 
obstante, cientistas não menos ilustres, como o também já mencionado Noam 
Chomsky, um dos linguistas mais influentes de todos os tempos, destacam 
outras funções linguísticas que são tão importantes ou ainda mais vitais do 
que a comunicação, tais como a organização do pensamento e a criação do 
 
KENEDY, E. Linguagem, sociedade e cognição. In: PAES, R,. (Org.). Língua, uso e discurso: 
entremeios e fronteiras. 1ªed. Rio de Janeiro: Editora da UESA, 2013, v. 1, p. 5-34. 
conhecimento individual. De fato, muitas vezes nós humanos usamos a língua 
internamente, em voz alta ou em silêncio, como se falássemos com o nosso 
próprio eu – e isso, é claro, não pode ser considerado literalmente 
comunicação. Isso quer dizer que, ainda que a comunicação possa ser a 
primeira e mais fundamental função das línguas, não podemos desprezar as 
outras funções, tais como a metacognitiva, isto é, a função de organização do 
pensamento, e a instrumental, isto é, a função adquirir e organizar outros 
tipos de cognição, como o conhecimento matemático, o conhecimento sobre a 
História, o conhecimento sobre as relações sociais etc. 
 Atento à natureza comunicativa das línguas, o psicólogo austríaco Karl 
Buhler (1879-1963) foi um dos primeiros a tentar sintetizar, de maneira 
esquemática, as correlações entre linguagem e comunicação. Foi ele quem 
destacou que os usos da linguagem pressupõem (1) um emissor, (2) uma 
mensagem e (3) um destinatário. Esse modelo tripartido de comunicação se 
tornou mais complexo na análise do linguista russo Roman Jakobson (1896-
1982), que introduziu as noções de (4) referente, de (5) canal comunicativo e 
de (6) código linguístico. É desse modelo de Buhler e Jakobson que se derivam 
as famosas funções da linguagem, que são estudadas no ensino médio: (1) a 
“função emotiva”, em que o emissor da mensagem se destaca; (2) a “função 
poética”, em que a própria mensagem transmitida é destacada; (3) a “função 
conativa”, na qual o destinatário da mensagem assume a função central; (4) a 
“função referencial”, em que o referente é o foco da comunicação; (5) a 
“função fática”, em que o canal comunicativo é meramente testado e (6) a 
“função metalinguística”, que se estabelece quando é o próprio código 
linguístico (a língua) o fator de destaque na comunicação. Na realidade, as 
funções linguísticas, entendidas como as funções que determinadas formas 
podem desempenhar nos usos da língua, são muito mais numerosas do que 
essas seis, todavia tal modelo parece ser bom caminho para começarmos a 
entender as funções comunicativas e expressivas que as formas da linguagem 
humana podem desempenhar. 
 Se você for uma pessoa curiosa, talvez tenha pensado: será que existe 
alguma relação natural entre uma determinada forma e sua respectiva 
função? Ou será que formas e funções linguísticas são associadas de uma 
 
KENEDY, E. Linguagem, sociedade e cognição. In: PAES, R,. (Org.). Língua, uso e discurso: 
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maneira um tanto imprevisível, que precisa ser memorizada pelos falantes de 
uma determinada comunidade? Boa pergunta. Na verdade, esse é um 
questionamento milenar, que remonta à antiga Grécia clássica. Os filósofos 
gregos que se dedicavam ao estudo da linguagem dividiam-se, basicamente, 
entre os analogistas e os anomalistas. Em termos muito simples, os 
analogistas afirmavam que as formas da linguagem eram análogas às suas 
funções e era somente em razão da passagem do tempo que, para as novas 
gerações de falantes, a analogia entre forma e função deixava de ser 
percebida. Por seu turno, os anomalistas sustentavam que as relações entre 
forma e função sempre foram totalmente acidentais e improvisadas, um 
verdadeiro acordo social tacitamente estabelecido entre os falantes de uma 
língua humana. Contemporaneamente, a controvérsia entre analogistas e 
anomalistas é reanalisada na oposição iconicidade versus arbitrariedade. 
Vejamos o que é isso. 
 Comecemos pela arbitrariedade. Dizer que uma forma está 
arbitrariamente associada a uma função significa assumir que não é possível 
deduzir espontaneamente a que função determinada forma se presta. Sendo 
assim, torna-se preciso aprender e memorizar, caso a caso, a correspondência 
entre cada forma e sua respectiva função numa dada língua, tal como 
apregoavam os anomalistas. Um bom exemplo disso é a relação existente 
entre o significante (forma) e o significado (conteúdo) de cada uma das 
palavras do léxico do português. Só sabemos que a forma [kaza] (que 
escrevemos “casa”) deve ser associada ao conteúdo [tipo de moradia] porque 
aprendemos isso durante a aquisição da linguagem. Mas a relação entre forma 
e conteúdo nessa palavra é totalmente arbitrária, isto é, não é natural ou 
motivada por algum princípio lógico. Isso tanto é verdade que, noutras 
línguas, o mesmo significado (conteúdo) pode ser codificado por outro 
significante (forma), tal como o termo “house”, que em inglês é a forma 
correspondente do conteúdo [tipo de moradia]. Noutras palavras, ao 
afirmarmos que uma forma é arbitrária em relação à sua função, estamos 
dizendo que não existem semelhanças entre o feitio de determinada forma e 
o seu respectivo conteúdo. Por exemplo, a aparência física de uma “casa” não 
se assemelha em nada àforma [kaza], em português, ou à forma [hauz], em 
 
KENEDY, E. Linguagem, sociedade e cognição. In: PAES, R,. (Org.). Língua, uso e discurso: 
entremeios e fronteiras. 1ªed. Rio de Janeiro: Editora da UESA, 2013, v. 1, p. 5-34. 
inglês. Com efeito, a língua portuguesa, no curso de sua história, poderia ter 
escolhido arbitrariamente qualquer outra forma para expressar o conceito 
[tipo de moradia]. A escolha por [kaza] foi arbitrária. 
 Vejamos outros exemplos de arbitrariedade entre forma e função. Em 
língua portuguesa, a forma de entonação ascendente ao fim da frase 
desempenha a função de formular perguntas. Dizemos que a relação entre 
essa forma e essa função é arbitrária porque não há nada natural entre uma 
subida melódica e a “expressão de perguntas”. Trata-se de uma associação 
arbitrária que todos os falantes do português precisam aprender e memorizar. 
Também a sequência “sujeito > verbo > objeto” é uma forma arbitrária de 
codificar, numa dada frase, a relação entre um agente, uma ação e um 
paciente. Embora a nós, falantes de português, pareça razoável pensar em 
codificar os participantes de uma ação na ordem “quem fez o que a quem”, 
não existe nada que torne essa ordem “mais natural” do que outra: trata-se, 
novamente, de uma arbitrariedade. De fato, a maioria das línguas do mundo 
apresenta a ordenação “sujeito > objeto > verbo” e, assim, codifica na frase 
os participantes de uma ação na sequência “quem fez a quem o quê”, noutro 
tipo de seleção arbitrária. 
 Pelo que expusemos acima, você talvez já possa deduzir que a 
iconicidade é o justo oposto da arbitrariedade. Sendo assim, uma forma é 
icônica quando reflete com clareza a função a que se destina, conforme 
pensavam os analogistas. Um rápido exemplo pode bem ilustrar o conceito. 
Imagine que uma pessoa lhe tenha apresentado desculpas por um determinado 
incômodo. Essa pessoa teria discursado por um longo tempo, mas, ao fim e ao 
cabo, não teria dito nada que de fato reparasse o problema. Você poderia 
descrever a tediosa conversa com essa pessoa dizendo algo como “Fulano 
falou, falou, falou e não disse nada”. Ora, nessa frase a repetição do verbo 
“falar” é praticamente um ícone, isto é, um representação evidente do fato 
de a pessoa ter falado repetidamente. Trata-se, portanto, de uma forma (um 
verbo repetido) que com clareza reflete a sua função (indicar a repetição de 
um ato). Outro exemplo de iconicidade é o alongamento de vogais, que 
podemos usar numa determinada palavra quando queremos enfatizar o 
tamanho ou a duração de algo. Se você quer dizer que alguma coisa é 
 
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exageradamente grande, pode dizer algo como “Era muito 
graaaaaaaaaaande”. Mais uma vez, a forma (alongamento da vogal) reflete 
claramente sua função. Também no plano do léxico, na relação entre 
significante e significado, existem casos de iconicidade. Trata-se das famosas 
onomatopeias, palavras cuja forma se assemelha ao conteúdo representado. 
Por exemplo, a forma “tique-taque” possui uma expressão fonética parecida 
com o som das batidas de um relógio. Da mesma maneira, “miar” é um verbo 
inspirado na forma acústica do miado dos gatos e “tim-tim” é um substantivo 
que iconicamente representa o som produzido pelo rápido toque entre taças 
quando se faz um brinde. 
 As relações icônicas entre forma e função são bastante regulares, tanto 
que há muitos estudiosos, não por acaso denominados como funcionalistas, 
que defendem a ideia segundo a qual as formas existentes nas línguas em 
grande medida refletem as funções a que se destinam. A motivação funcional 
para a existência de certas formas pode ser, de fato, encontrada em todos os 
domínios de uma língua, tal como vemos nos seguintes exemplos do 
português: 
 
 fonologia - pense na palavra “sussurrar”, que se parece com os sons 
emitidos quando alguém su... ssu... rra; 
 morfologia - pense, por exemplo, nas palavras compostas como “saca-
rolha”, “guarda-roupa”, cujas funções são rapidamente dedutíveis pela 
análise de suas formas constituintes; 
 semântica - lembre-se de expressões como “pé-da-mesa” ou “braço da 
cadeira”, que transferem para objetos a estrutura do corpo humano e, 
assim, iconicamente permitem a codificação formal de suas funções; 
 sintaxe – tal como se vê na famosa sequência atribuída ao romano Júlio 
César: “Vim, vi e venci”, que reflete de forma icônica a sequência 
temporal com que os atos se deram: o general primeiro veio, depois 
viu, para enfim vencer. 
 
 Se você está curioso para saber quem vence a batalha entre analogistas 
e anomalistas, saiba que temos aqui um empate técnico. As línguas humanas 
 
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estão repletas de casos claros de arbitrariedade e casos evidentes de 
iconicidade. Ambos os fenômenos são encontrados em todas as línguas quando 
cotejamos formas e funções. Com efeito, a análise mais interessante que os 
cientistas da linguagem vêm apresentando ao longo dos últimos anos é 
interpretar a relação entre arbitrariedade e iconicidade numa espécie de 
continuum, isto é, como uma sequência gradual de várias etapas que separam 
um extremo de arbitrariedade, de um lado, e um extremo de iconicidade de 
outro – mais ou menos como representamos a seguir: 
 
[+ icônico]  [+/- icônico]  [+/- arbitrário]  [+ arbitrário]. 
 
 Sendo assim, não devemos pensar que as relações entre forma e função 
numa língua sejam sempre uma questão de tudo ou nada, ou temos 
arbitrariedade ou temos iconicidade. A escalaridade parece ser uma boa 
chave para entendermos a dualidade forma e função. Pense, por exemplo, 
que no uso de uma língua como o português podemos deslizar rapidamente da 
forma dos substantivos para a forma dos adjetivos, a depender da função de 
um item no interior de um contexto sintático. Vemos isso acontecer na 
célebre citação de Memórias Póstuma de Brás Cuba, de Machado de Assis: em 
[um autor defunto], “autor” é substantivo e “defunto” é adjetivo, mas em 
[um defunto autor], “defunto” é substantivo e “autor” é adjetivo. Do mesmo 
modo, formas como “furado” podem ser analisadas como adjetivos ou como 
verbos (na forma de particípio) a depender de sua função na frase, tal como 
vemos acontecer em “isso é papo furado” versus “a roupa foi furada pelo 
alfinete”, respectivamente. Na verdade, mesmo certas formas verbais, a 
depender de sua função na frase, podem ser reanalisadas como substantivos, 
tal como acontece na expressão “sala de jantar”. 
 Em suma, você deve ter em mente que a gradiência no mapeamento 
entre formas e funções linguísticas ocorre de maneira generalizada tanto no 
léxico quanto na gramática de uma língua. 
 
 
 
 
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A linguagem humana em ação 
 
 Para finalizarmos este capítulo, passemos a descrever e analisar alguns 
fenômenos sociocognitivos que ganham vida todas as vezes em que colocamos 
a língua em ação nas inúmeras tarefas comunicativas e interacionais de nossa 
vida cotidiana. Antes de mais nada, devemos explicitar que existem duas 
modalidades fundamentais no uso da linguagem humana: a produção e a 
compreensão. Além disso, não podemos nos esquecer de que, em sociedades 
letradas, como é o caso da maior parte das comunidades brasileiras, a línguapode se realizar pelo canal oral ou pelo canal escrito. Sendo assim, as quatro 
habilidades sociocognitivas envolvidas no uso de uma língua natural são a 
produção oral, a compreensão oral, a produção escrita e compreensão escrita. 
 Comecemos pela produção linguística. Essa habilidade demanda do 
falante (ou do escritor) uma séria de tarefas cognitivas que se articulam 
dinamicamente com o contexto social da interação linguística. Por exemplo, 
para produzir a fala (ou a escrita), uma pessoa deve primeiramente selecionar 
de sua memória de longo prazo os itens lexicais que expressarão os conceitos 
que se deseja veicular no ato de linguagem. Essa seleção de palavras na 
mente é o que os psicolinguistas chamam de planejamento de fala ou 
planejamento conceitual. Durante tal planejamento, o sujeito que produz o 
ato linguístico se vê motivado a dizer certas coisas a seus interlocutores e é 
essa intenção de dizer que faz com que certos itens lexicais sejam 
selecionados e colocados em estado de ativação em sua memória de trabalho. 
Uma vez ativados e disponíveis na mente, tais itens são acessados pelo 
sistema combinatório da linguagem humana e, então, são arranjados 
sintaticamente entre si, de maneira ordenada e regida por regras. Dessa 
combinação regrada, resultam as frases que fazem emergir o texto do falante, 
o qual se realiza concretamente por meio da articulação fonética (pronúncia) 
que projeta as ondas sonoras que chegarão ao sistema auditivo dos 
interlocutores. Esquematicamente, podemos representar a produção 
linguística oral pela sequência ilustrada a seguir. 
 
Plano Conceitual  Seleção Lexical  Combinação Sintática  Expressão Fonética 
 
 
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 Você deve ter notado que acabamos de descrever a produção da fala 
fazendo com que ela parecesse semelhante à produção da escrita. Pelo que 
sugerimos, a diferença entre essas duas modalidades residiria no simples fato 
de que, na escrita, usaríamos grafemas para representar a expressão fonética 
do texto. No entanto, essa descrição é, na verdade, uma supersimplificação. 
De fato, a produção oral é muito diferente da produção escrita. De uma 
maneira bem resumida, podemos dizer que as pessoas, quando escrevem, 
estão muito mais conscientes do uso que fazem da linguagem, sendo, por isso 
mesmo, bem mais atentas e vigilantes tanto em relação ao que dizem, como 
em relação a como dizem. Ora, essa tomada de consciência e essa vigilância 
comuns na produção escrita estão em flagrante contraste com a caráter mais 
espontâneo e automático da fala natural. Não é por outra razão que a escrita 
fluente, típica das pessoas bem escolarizadas e treinadas nessa arte, demanda 
muitos anos de aprendizado formal, desde a alfabetização até o letramento 
profundo na vida adulta. Por sua vez, a produção fluente da fala emerge já 
em crianças bem pequenas e se torna visível em qualquer conversa oral entre 
humanos, independente da escolarização ou do letramento dos sujeitos 
falantes. Portanto, atente para essa ressalva: apesar de os mecanismos 
básicos envolvidos na produção oral e escrita serem semelhantes, falar e 
escrever são fenômenos sociocognitivos dramaticamente diferentes. 
 No eixo da compreensão linguística, o ouvinte (ou leitor) deve perceber 
as formas manifestadas no sinal da fala (ou da escrita) de seu interlocutor 
para então acessar, em sua memória de longo prazo, os conteúdos por elas 
evocados. Podemos dizer que a compreensão é o espelho invertido da 
produção. Vejamos por quê. Na produção linguística, começamos com um 
plano conceitual. Esse plano nos leva a dizer certas coisas por meio de dadas 
palavras, as quais são inseridas nas frases que conduzem os textos. Já na 
compreensão da linguagem, tudo começa pela detecção, nos textos, dos 
elementos do ato linguístico, tais como frases e palavras. É com base na 
identificação desses elementos que se torna possível compreender o plano 
conceitual e os valores comunicativos que moveram a produção do 
interlocutor. Vemos a sequência das etapas da compreensão linguística 
representada no esquema seguinte. 
 
KENEDY, E. Linguagem, sociedade e cognição. In: PAES, R,. (Org.). Língua, uso e discurso: 
entremeios e fronteiras. 1ªed. Rio de Janeiro: Editora da UESA, 2013, v. 1, p. 5-34. 
 
Percepção Fonética  Análise Sintática  Identificação Lexical  Representação Conceitual 
 
 Mais uma vez, as semelhanças entre oralidade e escrita estão aqui 
exageradas. No caso, a especificidade da compreensão da escrita diria 
respeito, de maneira muito simplificada, apenas à decodificação ortográfica 
(leitura) que faria as vezes da percepção fonética. Na realidade, porém, a 
compreensão linguística pela leitura é muito mais complexa do que o esquema 
acima sugere. Infelizmente, não podemos tratar de tantos detalhes no espaço 
limitado deste capítulo, mas, se você estiver interessado em compreender as 
minúcias que diferenciam oralidade e escrita, sugerimos a leitura do 
excelente livro “Os neurônios da leitura” (2012), do neurocientista francês 
Stanislas Dehaene.1 
 Para sintetizar o que acabamos de dizer sobre a produção e a 
compreensão linguística, a figura a seguir parece ser um bom recurso 
didático. Nela, vemos representado o que se conhece como circuito da fala. 
Note que as setas que correm da esquerda para a direita indicam que o “plano 
conceitual” presente na mente de A é transformado na informação linguística 
veiculada para B. Por sua vez, B recebe essa informação linguística e 
rapidamente consegue interpretar os conceitos ali representados. A figura é 
interessante também porque nela podemos perceber que a produção e a 
compreensão da linguagem são automaticamente intercambiáveis no fluxo da 
fala normal. Pelas setas que correm da direita para a esquerda, notamos que 
agora é B quem produz a informação linguística que será veiculada para A. 
 
 
Figura 1: o circuito da fala (adaptado de Saussure, 1916: p. 19) 
 
1
 No presente capítulo e também ao longo do livro de Dehaene, são deliberadamente deixadas de lado 
todas as questões socioafetivas, sociointeracionais e político-ideológicas que entram em ação sempre 
que usamos a linguagem, tanto para a produção, quanto para a compreensão linguística. Você terá a 
oportunidade de estudar as questões sociológicas imbricadas nos usos da linguagem noutros capítulos 
deste livro. 
 
KENEDY, E. Linguagem, sociedade e cognição. In: PAES, R,. (Org.). Língua, uso e discurso: 
entremeios e fronteiras. 1ªed. Rio de Janeiro: Editora da UESA, 2013, v. 1, p. 5-34. 
Na dinâmica da produção e da compreensão da linguagem, o 
intercâmbio de posições entre aquele que fala e aquele ouve dá origem ao 
fenômeno conhecido como enunciação. A enunciação deve ser compreendida 
como o ato de criação de um enunciado linguístico. Na enunciação, a pessoa 
que produz a fala (ou a escrita) é o enunciador – a primeira pessoa do 
discurso. Já a pessoa que compreende a fala (ou a escrita) é o enunciatário – a 
segunda pessoa do discurso, a quem a fala (ou a escrita) se destina. 
Chamamos de terceira pessoa, ou de não-pessoa - num termo interessante 
formulado pelo linguista francês Émile Benveniste (1902-1976) -, os objetos e 
as pessoas sobre os quais falamos (ou escrevemos) durante a enunciação. 
Em termos linguísticos e comunicativos, é interessante notar que a 
enunciação explicita, na produção da linguagem, as chamadas pessoas do 
discurso. Os pronomes pessoais, que você certamente conhece das aulas de 
português na escolabásica, são, justamente, categorias linguísticas que 
indicam a figura da primeira pessoa (eu, nós), da segunda pessoa (você, vocês) 
e da terceira pessoa (ele, ela, eles, elas e todas as expressões referenciais, 
como os substantivos). É com base na existência do enunciador, do 
enunciatário e dos referentes do discurso, que diversas expressões linguísticas 
são colocadas sob perspectiva durante a enunciação. Por exemplo, pronomes 
como [meu/minha/nosso/nossa] indicam a posse de algo em relação à 
primeira pessoa do discurso, enquanto pronomes como [seu/seus/sua/suas] 
indicam a posse relativa à segunda pessoa e expressões como 
[dele/deles/dela/delas] denotam a posse da terceira pessoa. Na verdade, 
mesmo o espaço ocupado pelas pessoas do discurso é posto em perspectiva 
durante a enunciação. Assim, termos como [aqui/este] indicam o espaço da 
primeira pessoa, enquanto [aí/esse] denotam o espaço da segunda pessoa e 
[lá/aquele] apontam o espaço do referente, o lugar da terceira pessoa. 
De maneira muito interessante, o próprio tempo que utilizamos quando 
produzimos e compreendemos a linguagem só assume alguma interpretação 
coerente quando é colocado sob perspectiva durante a enunciação. Desse 
modo, sabemos que [ontem] é um termo que denota um momento anterior ao 
tempo da enunciação, ao passo que [hoje] indica o momento que coincide 
com a criação do enunciado, enquanto [amanhã] marca um tempo futuro, que 
 
KENEDY, E. Linguagem, sociedade e cognição. In: PAES, R,. (Org.). Língua, uso e discurso: 
entremeios e fronteiras. 1ªed. Rio de Janeiro: Editora da UESA, 2013, v. 1, p. 5-34. 
acontecerá depois de a enunciação ter sido concluída. Se você se lembrou da 
piada do bar “Fiado só amanhã”, já poderá agora explicar por que esse dizer, 
na prática, torna a venda a crédito impossível: sempre que a pessoa lê o 
aviso, a enunciação desloca para o dia seguinte a possível venda. Mas, no dia 
seguinte, uma nova leitura do aviso cria uma nova a enunciação e isso faz com 
que o “amanhã” seja novamente deslocado para o dia posterior – e assim por 
diante, ad infinitum. 
Para que você tenha uma boa noção de como pessoa, espaço e tempo 
são categorias linguísticas cujas referência e interpretação dependem 
crucialmente da enunciação, imagine que você esteja andando pelo centro de 
sua cidade quando, de repente, encontra um bilhete que flutua em sua 
direção. Como pessoa curiosa, você abre o bilhete e encontra a seguinte 
mensagem: “Eu estive aqui hoje.” Ora, você será capaz de compreender o 
significado básico dessas expressões (afinal, é possível depreender do bilhete 
que “alguém esteve em algum lugar, em algum dia”), mas não será possível 
identificar o sentido do enunciado, justamente porque você não participou da 
enunciação – e, portanto, não conseguirá encontrar o referente da primeira 
pessoa (eu), nem poderá deduzir o lugar (aqui) que ela ocupava ao produzir o 
bilhete, tampouco descobrirá qual foi o tempo presente (hoje) naquela 
enunciação. Algo totalmente diferente aconteceria se o bilhete contivesse 
uma frase como “A presidente Dilma esteve na Prefeitura do Rio de Janeiro 
em 04 de maio”. Nesse caso, a identificação referencial da pessoa, do espaço 
e do tempo do enunciado não é totalmente dependente do contexto 
estabelecido na enunciação. Sabemos apenas que a produção dessa frase 
ocorreu depois da visita da Presidente à Prefeitura – e deduzimos isso em 
função do tempo verbal passado expresso em “esteve”. 
Das pessoas do discurso que são acionadas sempre que usamos a 
linguagem para a produção e a compreensão, a mais curiosa em termos 
científicos é a terceira. Como dissemos, a terceira pessoa é, na verdade, a 
não-pessoa, isto é, é a ausência da primeira e da segunda pessoas. Trata-se do 
referente ou dos referentes discursivos de um dado uso da língua. O já citado 
linguista Roman Jackobson havia destacado a existência da não-pessoa ao 
batizar com o termo “referencial” a função da linguagem que privilegia a 
 
KENEDY, E. Linguagem, sociedade e cognição. In: PAES, R,. (Org.). Língua, uso e discurso: 
entremeios e fronteiras. 1ªed. Rio de Janeiro: Editora da UESA, 2013, v. 1, p. 5-34. 
terceira pessoa como o referente do discurso. A função referencial é muitas 
vezes considerada a mais proeminente dentre as funções da linguagem, já que 
os humanos tipicamente usam a língua para falar do mundo, seus objetos, 
ações e pessoas. Todavia, a proeminência da “função referencial” pode nos 
passar a falsa ideia de que a linguagem humana, quando colocada em ação, 
seja essencialmente referencial. É bem verdade que muitos usos linguísticos 
são objetivos, isto é, focam-se no objeto (terceira pessoa) de maneira 
puramente referencial, entretanto, uma grande parte da experiência 
linguística humana é metafórica. Vejamos o que isso quer dizer. 
Nossa tradição escolar se esforça para nos fazer crer que o uso 
cotidiano e comum da linguagem seja referencial, isto é, somos ensinados 
que, quando produzimos e compreendemos a fala e a escrita, fazemos 
referências a coisas e pessoas de maneira mais ou menos objetiva. A 
linguagem metafórica, nos ensinam, seria característica dos usos linguísticos 
mais elaborados e artísticos, como a poesia e os romances. Essa ideia é 
reforçada quando, na escola, estudamos as “figuras de linguagem” e ficamos 
com a impressão de que elas só acontecem nos textos literários. A bem da 
verdade, o uso metafórico da linguagem não é exclusividade da arte. Com 
efeito, todos os seres humanos comuns, no dia a dia, também utilizam 
metáforas ao produzir enunciados linguísticos. Por exemplo, quando dizemos 
alguma coisa como “Decidirei se vou casar ou não só mais à frente ao longo da 
minha vida” estamos fazendo referência a uma realidade temporal (a 
passagem da vida) por meio de uma categoria espacial (a localização no 
espaço, “à frente”). Quando produzimos frases assim, estamos na verdade 
cruzando domínios de sentidos para fazer referência às coisas que queremos 
dizer. No caso do exemplo, estamos transferindo propriedades do espaço para 
fazer referência à noção de tempo. Ora, é precisamente esse o princípio de 
toda a linguagem metafórica: a transferência de domínios de significados. 
A linguagem metafórica é, na verdade, generalizada nos usos 
linguísticos. Podemos dizer que ela é a regra, e não a exceção, quando 
produzimos e compreendemos a linguagem humana. Um uso de linguagem 
estritamente objetivo e referencial é raro. Só o encontramos em abundância 
no discurso científico das áreas da natureza, como a física, a química e a 
 
KENEDY, E. Linguagem, sociedade e cognição. In: PAES, R,. (Org.). Língua, uso e discurso: 
entremeios e fronteiras. 1ªed. Rio de Janeiro: Editora da UESA, 2013, v. 1, p. 5-34. 
biologia. Mesmo noutras áreas da ciência, como a economia, encontramos 
fartos exemplos de linguagem metafórica em frases como “O mercado está 
aquecido”, “Os preços estão nas alturas”, “Esperamos uma queda brusca na 
taxa de juros” etc. Para os cidadãos comuns, em seu cotidiano linguístico, a 
metáfora é muito mais do que uma mera figura de estilo: ela é um produtivo 
recurso natural de pensamento e de linguagem. 
 
 Para concluir 
 
 Neste primeiro capítulo, começamos nossa pequena incursão pelo 
fantástico e complexo mundo da linguagem humana. Aprendemos aqui 
diversos conceitos importantes, como a diferença entre linguagem e língua, a 
distinção entre Língua-i e Língua-e, as noções e as fases da aquisição da 
linguagem, a oposição entre formas e funções linguísticas e os fundamentos 
da linguagem em ação. Nosso objetivo ao longo do capítulo foi apresentar a 
você uma visão panorâmica dos principais temas e figuras do estudo científico 
dalinguagem que tem em conta a interação dinâmica entre sociedade e 
cognição. Você terá boas oportunidades de ampliar seus conhecimentos sobre 
o assunto ao consultar os vídeos e os livros que indicamos ao longo das seções. 
 Nos próximos capítulos deste livro, você entrará em contato com 
muitas outras facetas da linguagem humana. Com efeito, as línguas naturais 
são um dos fenômenos mais complexos do mundo biocultural. Não é por outra 
razão que seus fundamentos serão apresentados a você em diversos capítulos, 
os quais selecionam, para o debate, diferentes dimensões do universo 
linguístico humano. Desejamos a você boas leituras e bons estudos! 
 
Referências bibliográficas 
 
CHOMSKY, N. O conhecimento da língua. Sua natureza, origem e uso. Lisboa: 
Caminho, 1986. 
 
DEHAENE, S. Os neurônios da leitura. PA: Pense, 2012. 
 
PINKER, S. O instinto da linguagem: como a mente cria a linguagem. SP: 
Martins Fontes, 2003. 
 
 
KENEDY, E. Linguagem, sociedade e cognição. In: PAES, R,. (Org.). Língua, uso e discurso: 
entremeios e fronteiras. 1ªed. Rio de Janeiro: Editora da UESA, 2013, v. 1, p. 5-34. 
SAUSSURE, F. Curso de linguística geral. SP: Cultrix, 1916 (ed. 2004). 
 
WERMKE, K. et al. Cry Melody in 2‐Month‐Old Infants With and Without Clefts. 
The Cleft Palate-Craniofacial Journal: Vol. 48, No. 3, 2011. pp. 321-330.

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