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Livro Texto Unidade II

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SuperviSão de eStágio AcAdêmico
Unidade II
5 A QUESTÃO SOCIAL
Netto (2005, p. 17), baseado em Cerqueira Filho (1982), sustenta que a questão social significa “[...] 
o conjunto de problemas políticos, sociais e econômicos que o surgimento da classe operária impôs no 
curso da constituição da sociedade capitalista”.
O autor, ancorado na perspectiva marxista de compreensão da realidade, compreende que a questão 
social é inerente ao capitalismo, ou seja, é uma condição para que o capitalismo possa se sustentar 
como modo de produção.
De acordo com Netto (2005), supõe-se que o termo “questão social” surgiu há mais ou menos 150 
anos como explicação do fenômeno do pauperismo relacionado ao primeiro ciclo de industrialização. 
O empobrecimento massivo da população levou os críticos da nova ordem a produzir extensa literatura 
sobre o tema. A esse propósito, Netto (2005, p. 153) afirma que
[...] para os mais lúcidos observadores da época, independentemente da sua 
posição ideológico-política, tornou-se claro que se tratava de um fenômeno 
novo sem precedentes na história anterior conhecida. Com efeito, se não era 
inédita a desigualdade entre as várias camadas sociais, se vinha de muito 
longe a polarização entre ricos e pobres, se era antiquíssima a diferente 
apropriação e fruição dos bens sociais, era radicalmente nova a dinâmica da 
pobreza que então se generalizava.
Um fato inédito começa a se registrar na história. Netto (idem) nos informa que “[...] pela primeira 
vez na história registrada, a pobreza crescia na medida em que aumentava a capacidade social de 
produzir riqueza”. Antigamente, a pobreza estava relacionada com a escassez de alimentos, causada por 
colheitas reduzidas em função de intempéries, guerras, mas, com o advento do capitalismo, não é isso 
que tem ocorrido. A produção da penúria estava relacionada ao aumento da produção.
O fenômeno do pauperismo foi explicado pelos críticos da nova ordem e também pelos defensores; 
esses naturalizavam o empobrecimento, compreendendo-o como obra do destino e vontade de Deus, 
justificando a pobreza em razão das dificuldades dos indivíduos.
Por outro lado, a luta dos trabalhadores em um processo revolucionário na França, a partir de 1848, 
começa a questionar a expressão “questão social”, pois era vista como uma expressão conservadora. A 
classe trabalhadora avança na consciência política e compreende a questão social como um elemento 
estrutural.
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Como afirma Netto (ibidem, p. 156): “[...] as vanguardas trabalhadoras acederam no seu processo de 
luta à consciência política de que a ‘questão social’ está necessariamente colada à sociedade burguesa: 
somente a supressão desta conduz a supressão daquela [...]”.
É por isso que, em nossa literatura, vamos encontrar a expressão “questão social” sempre com a 
utilização de aspas. Quando isso ocorre, o autor quer indicar que identifica a utilização da expressão 
com um subterfúgio conservador.
Mas não foi somente a consciência política dos trabalhadores que permitiu essa compreensão crítica 
sobre a questão social. Netto (idem) ensina que
[...] a consciência política não é o mesmo que compreensão teórica – e o 
movimento dos trabalhadores tardaria ainda alguns anos até encontrar 
os instrumentos teóricos e metodológicos para apreender a gênese, a 
constituição e os processos de reprodução da ‘questão social’.
É com o empreendimento teórico de Karl Marx que houve um avanço nessa compreensão, 
especialmente com a publicação do primeiro volume de O capital, em 1867. Ao verificar como o capital 
se produz, Marx nos esclarece a dinâmica da questão social (NETTO, 2005).
Ainda de acordo com Netto (ibidem, p. 157), a partir de Marx compreendemos que “[...] a ‘questão 
social’ está claramente determinada pelo traço próprio e peculiar da relação capital/trabalho – a 
exploração”.
Mas como é que o Capitalismo vem enfrentando seus efeitos ao longo da história?
O estado de bem-estar social que existiu nos países desenvolvidos, principalmente na Europa, mas 
que não existiu no Brasil e na América Latina durante o período em que vigorou, suscitava a ilusão de 
que a questão social havia sido dominada. Entendia-se que apenas os países periféricos sofriam com 
isso por causa do subdesenvolvimento. Netto (2005, p. 159) diz que
[...] apenas os marxistas insistiam em assinalar que as melhorias no conjunto 
das condições de vida das massas trabalhadoras não alteravam a essência 
exploradora do capitalismo, continuando a revelar-se por intensos processos 
de pauperização relativa [...]
A crise estrutural do capital também afeta a discussão acerca da questão social. Alguns autores 
começam a falar em “nova” questão social e, em nosso entendimento, cabem as aspas, pois não 
entendemos que haja uma “nova” questão social.
Como você já teve oportunidade de estudar, a crise estrutural do capital afeta diretamente a classe 
trabalhadora, e o desemprego estrutural causa um grande impacto na realidade social. Netto (2005, p. 
160) destaca que
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[...] a tese aqui sustentada – e, evidentemente, oferecida como hipótese 
de trabalho – é a de que inexiste qualquer ‘nova questão social’. O que 
devemos investigar é para além da permanência de manifestações 
‘tradicionais’ da ‘questão social’, a emergência de novas expressões da 
“questão social” que é indivisível sem a ordem do capital. A dinâmica 
societária específica dessa ordem não só põe e repõe os corolários da 
exploração que a constitui medularmente a cada novo estágio de seu 
desenvolvimento, como instaura expressões sócio-humanas diferenciadas 
e mais complexas correspondentes à intensificação da exploração, que é 
a sua razão de ser.
Assim, de acordo com o nosso meio acadêmico, não há uma “nova” questão social, mas sim a velha 
questão social com suas novas expressões.
5.1 Questão social como objeto de trabalho do Serviço Social
O objeto/matéria-prima do serviço social é a questão social. Mas o que é a questão social? Nas 
primeiras aulas desse caderno, você viu bases teóricas e conceituais sobre isso.
Antes de tudo, por que a questão social é vista como objeto do serviço social? O processo de seu 
conhecimento se constrói com a questão social, objeto genérico dado ao serviço social pela ABEPSS e 
referendado pela categoria dos assistentes sociais.
O serviço social, profissão inserida na divisão sociotécnica do trabalho, desenvolve uma tarefa que 
tem como objeto específico as múltiplas expressões da questão social. É sobre esse foco que incide 
sua ação/intervenção, a qual implica a apropriação de meios e instrumentos de trabalho para efetivar 
sua ação profissional e tem como fim o produto desse trabalho. Com um trabalho especializado, o 
serviço social apresenta-se por meio de trabalhos que geram produtos, isto é, interferem na produção e 
reprodução da vida material, social, política e cultural.
Os autores clássicos de serviço social conceituam a questão social como expressão
[...] do processo deformação e desenvolvimento da classe operária e de 
seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento 
como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no 
cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, 
a qual passa a exigir outros tipos de intervenção, mais além da caridade e 
repressão (IAMAMOTO; CARVALHO, 2003, p. 77).
Netto (2005, p. 17), diz que a “[...] questão social é o conjunto de problemas políticos, sociais e 
econômicos que o surgimento da classe operaria impôs no curso da constituição da sociedade capitalista”. 
Resumindo: questão social são as múltiplas expressões, o conjunto de problemas políticos, sociais e 
econômicos decorrentes das desigualdades produzidas pelo sistema capitalista.
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Assim, o serviço social tem, na questão social, a base de sua fundação como especialização do 
trabalho. Então, podemos dizer que o cenário em que se insere a profissão é a questão social, e cabe ao 
assistente social nela intervir.
5.2 A questão social e o Serviço Social nas décadas de 1960 e 1970
A década de 1960 é de extrema importância para o serviço social, pois ocorreu o Movimento de 
Reconceituação, e este questiona as influências externas na profissão. Seu objetivo consistia em construir 
um serviço social adequado à realidade latino-americana.
Havia, naquele contexto, um questionamento, como afirma Netto (2005, p. 6)
[...] a prática empirista, reiterativa, paliativa e burocratizada, orientada 
por uma ética liberal-burguesa, que, de um ponto de vista claramente 
funcionalista, visava a enfrentar as incidências psicossociais da ‘questão 
social’ [...].
O movimento teve algumas conquistas e a principal foi a “[...] recusa do profissional de Serviço Social 
de se situar como um agente técnico puramente executivo [...]” (NETTO, ibidem, p. 12).
Esse movimento ocorreu em pleno regime militar, em abril de 1964, e ele foi sufocado e não se 
concluiu, isto é, não pôde avançar (NETTO, 2005).
O processo de renovação do serviço social deflagrado pela Reconceituação se faz em meio à autocracia 
burguesa, ou seja, o governo da burguesia brasileira representado pelos militares.
De acordo com Netto (1998, p. 154-155), esse processo de renovação se desenvolveu em três direções: 
a perspectiva modernizadora, que consiste em
[...] um esforço no sentido de adequar o Serviço Social enquanto instrumento 
de intervenção, o qual é inserido no arsenal de técnicas sociais. O Serviço 
Social é operacionalizado no marco de estratégias de desenvolvimento 
capitalista perante às exigências dos processos sociopolíticos emergentes no 
pós-64. Trata-se de uma linha de desenvolvimento profissional que atinge o 
auge de sua formulação exatamente na segunda metade dos anos 60 e seus 
grandes monumentos sem dúvida são os textos dos seminários de Araxá e 
Teresópolis. [...] Registram-se avanços inequívocos, com aportes extraídos do 
background pertinente ao estrutural funcionalismo [...]
Outra perspectiva é a reatualização do conservadorismo, que, de acordo com Netto (ibidem, p. 157), 
se trata
[...] de uma vertente que recupera os componentes mais estratificados 
da herança histórica e conservadora da profissão nos domínios da 
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(auto)representação e da prática e os repõe sobre uma base teórico-metodológica 
que se reclama nova, repudiando, simultaneamente, os padrões mais 
nitidamente vinculados à tradição positivista e às referências conectadas 
ao pensamento crítico-dialético de raiz marxiana. [...] a reatualização do 
conservadorismo reclama expressamente uma inspiração fenomenológica.
A terceira perspectiva, afirma Netto (ibidem, p. 159), “[...] é a perspectiva que se propõe como intenção 
de ruptura com o Serviço Social ‘tradicional’”. O autor ainda assinala que
Ao contrário das anteriores, esta possui como substrato nuclear 
uma crítica sistemática ao desempenho ‘tradicional’ e aos suportes 
teóricos, metodológicos e ideológicos. Com efeito, ela manifesta a 
pretensão de romper quer com herança teórico-metodológica do 
pensamento conservador (a tradição positivista), quer com os seus 
paradigmas de intervenção social (o reformismo conservador). Em sua 
constituição, é visível o resgate crítico de tendências que, no pré-64, 
supunham rupturas político-sociais de porte para adequar as respostas 
profissionais às demandas estruturais do desenvolvimento brasileiro 
(NETTO, idem).
As direções indicadas por Netto (1998) representam as tendências teórico-metodológicas que 
compuseram o serviço social até 1996, período da aprovação das novas diretrizes curriculares, as quais 
são: o funcionalismo (modernização conservadora), a fenomenologia (reatualização do conservadorismo) 
e a dialética (intenção de ruptura).
Essas três tendências se consolidaram ao longo dos encontros de: Araxá, ocorrido em 1967; de 
Teresópolis, em 1970; e o de Sumaré, em 1978, como se verifica no CBCISS — Centro Brasileiro de 
Cooperação e Intercâmbios de Serviços Sociais (1984).
Com a Reconceituação, o serviço social estabelece uma aproximação com os referenciais marxistas, 
e isso lhe permitirá fazer uma apreensão crítica da questão social.
Mas como se desenvolveram os efeitos da questão social nas décadas de 1960 e 1970? De 
acordo com o que estudamos no item anterior, podemos chegar a essa resposta analisando a classe 
trabalhadora. No período ditatorial, o que preponderou foi a repressão da luta dos trabalhadores por 
direitos sociais.
Por outro lado, o país vivia as consequências de sua entrada no capitalismo monopolista. Netto 
(ibidem, p. 26-27) afirma que
O Estado erguido no pós-64 tem por funcionalidade assegurar a 
reprodução do desenvolvimento dependente e associado, assumindo, 
quando intervém diretamente na economia, o papel de repassador 
de renda para os monopólios e, politicamente, mediando os conflitos 
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setoriais e intersetoriais em benefício estratégico das corporações 
transnacionais na medida em que o capital nativo ou está coordenado 
com elas ou com elas não pode competir [...].
Nesse cenário, a classe trabalhadora brasileira teve muitos prejuízos, mas, a partir do final 
da década de 1970, com o deflagrado processo de abertura política em função das pressões da 
sociedade, ela começa a ter possibilidade de se manifestar. Estudemos, agora, o contexto da década 
de 1980.
 Saiba mais
Com a reestruturação produtiva, a classe trabalhadora sofreu reveses. 
Para saber mais sobre o histórico sobre a luta de classe trabalhadora do 
final da década de 1970 para a de 1980, acesse o site: <http://www2.fpa.
org.br/portal/modules/news/article.php?storyid=1449>.
5.3 A questão social e o Serviço Social na década de 1980
Inicialmente, é importante que analisemos o cenário político e econômico da década de 1980. O 
aumento do endividamento externo a partir de 1979 trouxe sérias consequências para o país. O problema 
que não diz respeito somente ao Brasil, mas a toda a AméricaLatina, traz, de acordo com Behring (2003, 
p. 131), “[...] um aprofundamento das dificuldades de formulação das políticas econômicas de impacto 
nos investimentos e na redistribuição de renda”. Autores como Mandel (1982), denominam essa década 
como a “década perdida”, em razão da grande estagnação da economia.
Mas, Behring (2003, p. 142) assinala que a força dos trabalhadores é “[...] oriunda de um movimento 
operário e popular que era um ingrediente político decisivo da história recente do país e que ultrapassou 
o controle das elites”.
Behring (idem) nos informa, ainda, que
A transição democrática brasileira diferencia-se de outras na América 
Latina exatamente a partir de alguns elementos fundamentais, como: as 
mudanças estruturais engendradas pela industrialização e a urbanização, 
as quais criaram as condições para surgir um movimento operário popular 
novo e decisivo para a refundação da esquerda brasileira, inclusive com 
uma, mas não única, obviamente, expressão partidária expressiva – o 
Partido dos Trabalhadores.
Assim, a classe trabalhadora alcança projeção na década de 1980. Porém, a eleição de Tancredo 
Neves pelo Colégio Eleitoral em 1985 representou uma derrota para os trabalhadores.
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O cenário político brasileiro é marcado por uma intensa movimentação. Tivemos, também, nessa 
década, o movimento pelas Diretas Já, em 1984, que, embora não tenha sido vitorioso, foi de grande 
importância para a redemocratização do país.
Nessa década, Behring (idem) afirma que houve “[...] uma redefinição das regras políticas do jogo no 
sentido da retomada do Estado democrático de direito”. A reivindicação dos trabalhadores era de que 
essa tarefa fosse cumprida por uma Assembleia Nacional Livre e Soberana, mas acabou sendo feita por 
um Congresso Constituinte.
Nesse movimento de disputa, de acordo com Behring (2003, p. 143), a Constituinte significou
[...] um processo duro de mobilizações e contramobilizações de projetos e 
interesses mais específicos, configurando campos definidos de forças. O texto 
constitucional refletiu a disputa dos direitos sociais, humanos e políticos e 
por isso mereceu a caracterização de Constituição Cidadã [...].
Apresentamos o cenário e as conquistas da sociedade civil na década de 1980 e as vitórias que 
trouxeram grande impacto ao serviço social. Mas como está o serviço social nessa década? Como está 
sua análise da realidade social?
Apesar de a Reconceituação ter aproximado o serviço social da teoria social de Marx, a apropriação 
desse referencial não se faz de forma imediata. Netto (2005, p. 17) nos indica que
É somente a partir da segunda metade dos anos setenta, quando a ditadura 
começa a experimentar a sua erosão, que se fazem sentir no Brasil as 
ressonâncias das tendências que, na Reconceituação, apontavam para uma 
crítica radical do tradicionalismo – e essas ressonâncias reverberam tanto 
mais quanto avançam as forças democráticas na cena política nacional, com 
claríssimas implicações no interior da categoria profissional. A passagem 
dos anos 1970 aos 1980, com a reativação do movimento operário sindical 
e o protagonismo dos chamados novos sujeitos sociais, abriu novas 
perspectivas para os assistentes sociais que pretendiam a ruptura com o 
tradicionalismo.
No projeto de formação profissional de 1982, a direção social da profissão já está relacionada com 
os interesses da classe trabalhadora. Nesse contexto, houve a necessidade da elaboração de um novo 
Código de Ética, o de 1986, como você já teve oportunidade de estudar. Nesse projeto, é dada uma 
centralidade à profissão nos seguintes termos: a profissão é analisada em sua historicidade e sua relação 
com o Capitalismo. Conforme a ABEPSS (1996, p. 147-148),
[...] foi a partir da análise histórica do significado da profissão, no 
processo de reprodução das relações sociais capitalistas, que se 
desvelaram as implicações sociais da prática profissional em suas 
contradições fundantes”.
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Mas, mesmo com esse novo significado, a profissão ainda conviveu com uma proposta de formação 
profissional fragmentada do ponto de vista teórico-metodológico expressa em: funcionalismo, 
fenomenologia e dialética, o que não lhe permitia apreender criticamente a realidade social.
O documento da ABEPSS (ibidem, p. 151) assinala que
A rigor, a profissão se afastou da dinâmica da sociedade civil privilegiando 
o Estado e as políticas sociais, razão pela qual os processos sociais vividos 
atualmente [contexto da década de 1990] pela sociedade, produto das 
determinações históricas muito precisas, são por vezes pensados como “novas 
questões” ou “novas demandas” que não encontram suporte profissional 
para o seu enfrentamento.
No processo de discussão que culmina com a elaboração das atuais diretrizes curriculares, de acordo 
com a ABEPSS (ibidem, p. 154),
[...] a formação profissional tem na questão social sua base de fundação 
sócio-histórica, o que lhe confere um estatuto de elemento central e 
constitutivo da relação entre a profissão e a realidade social [...] [pois 
o] Serviço Social está inscrito no conjunto de práticas sociais que são 
acionadas pelas classes e mediadas pelo Estado em face das sequelas da 
“questão social”.
Embora a profissão, em sua produção teórica, aproxime-se da questão social no início da década de 
1980, é somente na década de 1990, com o projeto profissional de 1996, que o serviço social trouxe a 
questão social para o centro de suas discussões.
Na década de 1980, o serviço social se alia às lutas da classe trabalhadora. Como nos indica Netto 
(2004, p. 22),
[...] não é por acaso que no ‘congresso da virada’ (o III CBAS, São Paulo, 1979) 
tenha estado presente um jovem e carismático dirigente sindical do ABC 
paulista, Lula, até então apenas Luiz Inácio da Silva.
Finalmente, cabe destacar que a aproximação do serviço social com o Partido dos Trabalhadores tem 
sido analisada criticamente após a conquista do governo pelos petistas em 2002. Mas há um grande 
significado histórico para a profissão, pois indica a sua vinculação com as lutas da classe trabalhadora, 
redefine o projeto profissional, consolida o processo de construção de uma nova identidade e estabelece 
o rompimento com a identidade atribuída.
Exemplo de aplicação
De toda a Legislação Social que sustenta a ação profissional do Serviço Social e que foi aprovada 
durante a década de 1990, destacamos: a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), o Estatuto da Criança 
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e do Adolescente (ECA), a Lei Orgânica da Saúde (LOS), que constituem o conjunto de leis resultantes do 
capítulo da Ordem Social da Constituição Federal.
Faça uma pesquisa na Constituição, analise essas leis e reflita sobre as possibilidades de 
enfrentamento da questão social. Organizem-se em grupo para essa discussão. Bons estudos!
5.4 A década de 1990
Nessa década, de acordo com Gohn (1998), houve uma diminuição das organizações de massas. 
Gohn(1998, p. 9) expõe que,
[...] nos anos 90, o tema da organização passou a ser interpretado por vários 
analistas como algo já ultrapassado, pertencente à década passada ou 
como uma concepção que não daria conta de explicar os problemas atuais 
porque seria um conceito ordenador/organizador das relações buscando a 
diferenciação e não identidade.
A esse respeito, Gohn (ibidem, p. 10) posiciona-se afirmando que
Discordamos dessas interpretações e consideramos os movimentos como 
atores fundamentais no atual [final da década de 1990] momento político 
brasileiro. Basta que se abra um dos jornais nacionais em qualquer dia da 
semana, que vemos suas presenças registradas, principalmente no meio 
rural, na luta do MST ou na cidade, nas lutas contra a fome [...].
Na análise da pesquisadora, na qual fundamentamos esse estudo, na década de 1990,
[...] estruturam-se ações a partir de redes associativas compostas por atores 
coletivos remanescentes de alguns movimentos sociais dos anos 80, ONGs 
(Organizações não Governamentais) de variados tipos [...] (GOHN, idem).
A própria Constituição estabeleceu a criação de órgãos colegiados, e havia participações no orçamento 
e elas eram utilizadas como instrumentos de gestão em vários governos.
No contexto histórico que estamos estudando, verificamos a chegada de novas formas de 
representação popular, embora as formas antigas não tenham desaparecido. Na análise de Gohn (1998), 
o Brasil teve um período curto de vivência da prática democrática, e esse período se inicia com a 
queda do regime militar. Os anos de 1990 trazem mudanças na estrutura da produção (reestruturação 
produtiva), e elas trouxeram impacto na subjetividade da classe trabalhadora.
Os confrontos entre movimentos e Estado, que ocorreram nos primeiros anos da década de 1980, 
imperaram até a promulgação da Constituição, mas faltava o aprendizado para atuar “[...] diante da 
nova conjuntura de políticas sociais estatais de parcerias entre Estado e entidades da sociedade civil 
organizada” (GOHN, ibidem, p. 11).
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Assim, ainda de acordo com Gohn (idem),
O despreparo dos movimentos possibilitou que novas ONGs e outras entidades 
associativas do chamado Terceiro Setor ocupassem aqueles espaços. E esse 
processo ocorreu tanto em administrações ‘situacionais’, sintonizadas com 
as diretrizes do governo federal, como em administrações advindas da 
oposição, a exemplo de certos programas do Orçamento Participativo.
Esse contexto traz uma semiparalisação dos movimentos populares urbanos na década que estamos 
estudando, pois a atuação dos movimentos se restringia à resistência contra as medidas que extinguem 
ou alteram as conquistas obtidas com a Constituição. De acordo com Gohn (idem), “eles [os trabalhadores] 
não tiveram tempo, fôlego e nitidez para se reestruturar e assumir o novo papel que lhe é cobrado, de 
serem agente propositivo”.
As ONGs que surgem não têm as mesmas características das da década de 1980, que eram 
politizadas. As organizações da década de 1990 se constituem como empresas e são as chamadas ONGs 
cidadãs devido às mudanças políticas e econômicas. A ação militante fica em segundo plano, pois essas 
organizações precisam cuidar de sua sobrevivência e qualificar seu quadro funcional. Para elas, chega 
também o imperativo da produtividade, da competência e da eficácia e da efetividade dos projetos 
sociais. Essas entidades, em vez de ficar contra o Estado, buscam parcerias.
A participação, nesse cenário, passa a ser regida pela ideia da solidariedade. O pensamento de 
identidade de classe social se enfraquece, já que as identificações passam a se constituir por outros fios 
mais complexos (etnia, gênero, idade, sexo etc.).
Outro aspecto que destacamos é que os movimentos da década de 1990 se caracterizam por 
mobilizações pontuais e não mobilizações de massa. Uma ressalva se faz, entretanto, para o Movimento 
dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra — MST, que naquele período se colocava como o maior movimento 
da América Latina. Sua posição não se alterou nos dias atuais (GOHN, 1998).
A luta desses trabalhadores é uma das expressões da questão social. Esse movimento tem mantido 
a sua organização.
5.5 A questão social e o Serviço Social na década de 1990
No tópico anterior, vimos que, na década de 1990, o movimento sindical se enfraquece em função 
das mudanças ocasionadas pela reestruturação produtiva que afetam a classe trabalhadora em sua 
subjetividade (ANTUNES, 2005).
O serviço social entra nessa década com grandes expectativas e tarefas. Após a promulgação da 
Constituição, faz-se necessária a regulamentação de direitos por meio de legislação específica.
No quadro a seguir, apresentamos um resumo da legislação consolidada durante a década de 
1990.
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Quadro 3
Nº da Lei Federal 
ou decreto Data Tema
Lei n. 8.069 13/07/1990 Estatuto da Criança e do Adolescente
Lei n. 8.080 19/09/1990 Lei Orgânica da Saúde
Lei n. 8.142 28/12/1990 SUS — Sistema Único de Saúde
Lei n. 8.212 24/07/1991 Organização da Seguridade Social
Lei n. 8.213 24/07/1991 Planos de Benefícios da Previdência Social 
Lei n. 8.742 07/12/1993 Lei Orgânica da Assistência Social
Lei n. 8.842 04/01/1994 Política Nacional do Idoso
Lei n. 9.394 20/12/1996 Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Lei n. 9.790 23/03/1999 Organizações da sociedade civil deinteresse público.
Decreto n. 3.298 20/12/1999 Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência
Fonte: BRASIL, 2011.
No quadro, apresentamos as leis e o decreto que se consolidaram durante a década de 1990. Digitando 
o número da lei e a data em uma página de busca na internet, você poderá acessá-la na íntegra.
Nesse período, houve mudanças no âmbito da profissão e o projeto profissional de 1982 foi 
rediscutido. Dessa discussão, temos algumas mudanças, como:
•	 a	Resolução	CFESS	n.	273,	de	13/3/1993:	estabelece	o	Código	de	Ética	da	profissão;
•	 a	Lei	n.	8.662,	de	7/6/1993:	dispõe	sobre	o	exercício	profissional	que	regulamenta	a	profissão;
•	 as	Diretrizes	Curriculares	de	1996.
A conjuntura da década de 1990 exige que o serviço social sintonize o projeto profissional com 
as novas expressões da questão social. Na análise das diretrizes de 1982 avaliou-se, de acordo com 
a ABEPSS (1996, p. 146), “[...] que houve uma incorporação mecânica do método crítico dialético na 
apreensão da realidade social [...]. Avaliou-se, também, que seria importante atribuir maior importância 
à dimensão técnico-operativa.
Essas diretrizes causaram amplo debate e pesquisas por parte da ABEPSS, pois a questão social 
permeia a discussão dos pressupostos da formação profissional.
A seguir, destacamos dois pressupostos desse documento, conforme a ABEPSS (1996).
•	 O	 serviço	 social	 se	 particulariza	 nas	 relações	 sociais	 de	 produção	 e	 reprodução	da	 vida	 social	
como uma profissão interventiva no âmbito da questão social expressa pelas contradições do 
desenvolvimento do capitalismo monopolista.
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•	 A	 relação	 do	 serviço	 social	 com	 a	 questão	 social	 –	 fundamento	 básico	 de	 sua	 existência	 –	 é	
mediada por um conjunto de processos sócio-históricos e teórico-metodológicos constitutivos de 
seu processo de trabalho.
Esse entendimento da profissão, já presente no projeto profissional de 1982, ganha maior 
densidade nas diretrizes de 1996, a partir do aprofundamento da discussão das relações da profissão 
com a questão social.
Na década de 1990, as discussões acerca da profissão na literatura passam a se compor. Iamamoto 
(2006, p. 27) nos informa que
O serviço social é considerado uma especialização do trabalho e atuação do 
assistente social, é uma manifestação do seu trabalho inscrito no âmbito da 
produção e reprodução da vida social [...]. O serviço social tem na questão 
social a base de sua fundação como especialização do trabalho. A questão 
social é apreendida como o conjunto das expressões das desigualdades da 
sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção social 
é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, 
enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada e monopolizada 
por uma parte da sociedade.
Em razão dos efeitos da reestruturação produtiva, a discussão da vinculação da profissão com a 
categoria trabalho sofre impacto. Fala-se na crise da sociedade do trabalho. Mas analisamos, a partir do 
estudo de Antunes (2005), que a categoria trabalho continua tendo a sua centralidade, pois o mundo 
de produção continua sendo o do Capitalismo; o que se alterou foi a forma de organização e gestão do 
trabalho que transita do taylorismo/fordismo para o toyotismo.
A reestruturação produtiva traz desafios para a ação profissional. A esse respeito, César (1998, p. 
143) assevera que
[...] as mudanças engendradas pelo processo de reestruturação afetam as 
condições objetivas em que o trabalho do assistente social se realiza. Como 
essas mudanças não são alheias à sua prática, provocam inflexões na direção 
social, no conteúdo e nos meios objetivos para materialização dos resultados.
A autora finaliza sua análise sobre a questão refletindo que responder crítica e criativamente às 
exigências colocadas pela reestruturação produtiva, defender suas condições de trabalho e resistir às 
práticas de passividade são, a rigor, os grandes desafios que estão postos para o assistente social e para 
os demais trabalhadores “que vivem do seu trabalho” (CÉSAR, ibidem, p. 145).
O serviço social encerra a década de 1990 e entra no século XXI com o seguinte desafio: construir 
estratégias de enfrentamento das novas expressões da questão social desencadeadas pela reestruturação 
produtiva, que afetam a população e o assistente social como trabalhador assalariado. Lembre-se de 
que, nessa década, ocorre a contrarreforma do Estado. No governo Collor, que inicia seu mandato no 
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ano de 1990, ocorre a entrada das ideias neoliberais, e com Fernando Henrique, que governou de 1995 
a 2003, e com Luiz Inácio Lula da Silva, de 2003 até 2011, não há recuo. Entramos no século XXI sob a 
égide do neoliberalismo.
A partir das preocupações profissionais voltadas para desvelar a presença e o enfrentamento, por 
parte do Estado e da sociedade civil, da questão social no cenário histórico-cultural da sociedade 
brasileira evidenciado principalmente a partir da década de 1990, época em que houve a guinada do 
Estado brasileiro para a “mentalidade privatizante,” que as reformas estruturais de cunho neoliberal se 
promoveram.
5.6 Por que questão social e não políticas sociais como objeto de ação 
profissional?
Essa pergunta nos instiga a reflexões diversas, até porque, no começo do curso, você estuda “Contexto 
Histórico das Políticas Sociais”. Num determinado momento, parece tudo tão igual; é verdade, pois 
questão social e políticas sociais não podem ser tratadas separadamente, têm que ser discutidas em 
conjunto.
O serviço social tem seu espaço ocupacional “privilegiado” para trabalhar com políticas sociais, sejam 
públicas ou privadas, mas nem por isso elas são objetos da profissão e representam uma das respostas de 
enfrentamento à questão social aliada às de cunho privado e de outros segmentos da sociedade, como 
as organizações da sociedade civil.
Iamamoto, (2001, p. 58-59) afirma que:
A questão social explica a necessidade das políticas sociais no âmbito das 
relações entre as classes e o Estado, mas as políticas sociais, por si, não 
explicam a questão social. Aquela é, portanto, determinante, devendo 
traduzir-se como um dos polos chaves da formação e do trabalho profissional.
Ao “exigir” a implantação ou efetivação de políticas sociais com vistas a minimizar os conflitos e 
contradições na sociedade, a questão social é a matéria-prima que os assistentes sociais vão utilizar no 
seu exercício profissional: o nosso “chão” é a questão social e suas múltiplas expressões, e as políticas 
sociais são uma das formas privilegiadas que utilizamos no enfrentamento às questões que se colocam 
em nosso cotidiano profissional. Porém, de quando em quando, as respostas são ações isoladas, 
fragmentadas e imediatistas, a menos que os profissionais, os usuários e a sociedade de um modo 
geral, lutem para que haja a efetivação de uma política pública para atender determinado segmento da 
sociedade ou as necessidades básicas de todos os cidadãos.
5.7 Configurações do objeto: questão social
Observa-se, atualmente, o agravamento da questão social – objeto do serviço social – nas suas 
expressões regionais e locais nos mais diversos espaços de exclusão, como violência, desemprego, 
discriminação, empobrecimento, negação de acesso a direitos sociais, fome etc.
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Há de se destacar a separação clara de regiões (norte, sul, sudeste) e as particularidades econômicas, 
culturais, políticas, educacionais e sociais. A questão social está presente de modo igual ou desigual em 
todas elas; não escolhe lugar, hora, nem dia. O que a diferencia é a forma de acesso e o conhecimento 
dos sujeitos ou as formas históricas de resistência e de luta que algumas regiões apresentam. Os 
protagonistas – segmentos sociais, profissionais, instituições de classe etc. – têm papel fundamental na 
conquista e na luta de direitos.
A questão social se configura de diversas formas, porém, atualmente, as mais evidentes são:
•	 relações	de	trabalho	precárias	e	sem	condições	mínimas	de	proteção;	ruptura	entre	trabalho	e	
proteção;
•	 desemprego;
•	 desestabilização	dos	trabalhadores	estáveis;
•	 uma	sociedade	de	“sobrantes”,	pessoas	que	não	têm	lugar	na	comunidade,	que	não	são	integradas;	
esses indivíduos sequer chegam à condição de excluídos, pois nunca participaram das convenções 
da sociedade civil;
•	 violência	urbana.
Desse modo, a questão social não pode ser pensada isoladamente ou tomada sob um único prisma. 
É preciso reconhecer os diferentes contextos em que ela se apresenta de modo que se possam pensar 
as estratégias de enfrentamento.
As configurações da questão social fazem acirrar a concentração/acumulação de capital/riquezas e a 
produção crescente da miséria, da pauperização e das desigualdades. Ela é propulsora de uma sociedade 
e articula as engrenagens nos diferentes espaçosde produção e reprodução da vida social.
5.8 Questão social ou questões sociais?
Alguns autores, como Vicente Faleiros e Marilda Iamamoto, diziam que não existem “questões 
sociais”, e sim um conjunto de expressões. Segundo eles, a questão social é única, visto ser fruto da 
relação capital x trabalho. Tal relação é que origina a questão social. Além disso, há apenas expressões 
dessa relação, como as desigualdades e as exclusões.
5.9 Como se apresenta e se inscreve a questão social no contexto das 
instituições, dos sujeitos e dos profissionais?
5.9.1 Nas instituições
A questão social se apresenta por meio de demandas institucionais, ou seja, a própria instituição cria 
condições e serviços sociais específicos para atender determinados segmentos da sociedade. Exemplo: o 
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Estado cria serviços específicos para atender segmentos “x”, “y”. As organizações do terceiro setor criam 
também serviços, de forma mais particular, para atender determinados segmentos da sociedade. E as 
empresas também criam serviços para atender seus funcionários.
Dessa forma, a configuração do objeto ocorre no espaço institucional. Por exemplo, a instituição “X” 
atende crianças em situação de abrigo (problemas intrafamiliares, abandono etc.). Qual será meu objeto 
de intervenção do profissional de Serviço Social? Lembre-se: as pessoas não são objetos de intervenção, 
pois são sujeitos de direitos, o que é objeto é a expressão que dá visibilidade à questão social, vide a 
violência doméstica. Então, a partir dessa identificação, elaboro objetivos e estratégias metodológicas, 
constituindo meu plano de intervenção. Em outras disciplinas aprofundaremos a construção do plano 
de intervenção para o estágio/prática profissional.
Se o objeto é construído no âmbito institucional, como intervir para que não se caia em 
rotinas, haja imediatismos, burocracia, entre tantos outros obstáculos? É importante ressaltar que 
o profissional deve olhar para além das rotinas e dos obstáculos de suas ações. Como aponta 
Iamamoto (2001, p. 22):
Olhar para fora do serviço social é condição para se romper tanto com 
uma visão rotineira, reiterativa e burocrática do serviço social que impede 
vislumbrar possibilidades inovadoras para a ação, quanto com uma visão 
ilusória e desfocada da realidade que conduz a ações inócuas. Ambas têm 
um ponto em comum: estão de costas para a história e para os processos 
sociais contemporâneos.
Assim, a construção do objeto também aporta, não só o viés institucional – demandas, rotinas, 
burocracia –, mas também a postura profissional frente a tais demandas. Ou o profissional fica “tomado” 
pela instituição e pela subalternidade frente a outros profissionais ou impõem-se, ou seja, valoriza sua 
profissão, mostrando sua importância frente às equipes de trabalho e aos usuários, destacando que sua 
atividade é fruto de conhecimentos científicos adquiridos em formação acadêmica.
 Observação
Se as instituições criam serviços sociais para atender segmentos 
vulneráveis, isso já representa uma resposta ao problema? Como vou 
construir meu objeto se já tenho a “resposta” para a expressão que dá 
visibilidade à questão social? Então, qual é o meu objeto?
Sim, as políticas são respostas à questão social (por parte do Estado ou de outros segmentos da 
sociedade civil e empresarial), mas a complexidade das expressões não pode ser resolvida de forma 
pragmática ou por ações imediatistas, burocráticas, ou seja, as ações têm que ser refletidas, discutidas e 
planejadas para que não ocorra uma “nova exclusão”. Por exemplo: a assistente social da instituição “x” 
repassa recursos financeiros – passagens – para todos os cidadãos que vão pedir um auxílio. Será que 
há planejamento ou critérios para isso? Será que os recursos não poderiam ser empregados em outras 
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ações? Quando um cidadão realmente precisa de um recurso? Em casos de doença, de desemprego? 
Esse é um exemplo, entre tantos outros que acontecem em práticas não planejadas, sistematizadas, 
discutidas etc.
Por isso, reiteramos: uma prática profissional não comprometida e sem embasamento crítico, 
reflexivo, propositiva, aliada às instituições burocráticas, acaba reforçando mais as desigualdades sociais 
e as exclusões.
O não comprometimento com a profissão poderá ser mais excludente que o próprio sistema em que 
o indivíduo está inserido. É uma afirmativa forte, mas necessária para que você pense sobre que tipo de 
profissional quer ser. Como assistente social, você deve refletir, discutir, ler e não cair no comodismo.
5.9.2 Os usuários como sujeitos de direitos
São usuários do serviço social todos aqueles que têm seus direitos garantidos pela Carta Constitucional. 
Porém, existem pessoas que não são usuárias de qualquer serviço, estão à margem da sociedade, muitas 
vezes por desconhecerem os seus próprios direitos. Outras conhecem, mas fatores de inacessibilidade, 
de organização e de mobilização os impedem de exercê-los.
Os sujeitos de direitos são protagonistas do cenário da questão social e têm papel fundamental na 
luta por melhores condições de vida. São aqueles que mobilizam forças, travam lutas e fazem resistências 
em prol de direitos.
5.9.3 Os assistentes sociais frente aos desafios da questão social
Esses profissionais atuam como mediadores das relações e são comprometidos com a garantia e a 
defesa de direitos sociais. Sua identidade é construída nesse processo de lutas, resistências, confrontos 
etc. Esta não é alicerçada de modo neutro (positivismo), mas como defensora das garantias sociais, 
articuladores, mediadores, mobilizadores e gestores de políticas públicas.
O assistente social é um profissional inserido nas relações sociais que busca reforçar os sujeitos, 
fortalecendo sua autonomia, seu poder e seus saberes. Trabalha na perspectiva da garantia dos direitos 
e do acesso a melhores condições de vida. Iamamoto (2001, p. 79) compara o trabalho do assistente 
social ao de um educador. Vejamos:
Os assistentes sociais, ao realizar suas ações profissionais, seja no nível 
das secretarias de governo, dos bairros, das instâncias de organização e 
mobilização da população, das organizações não governamentais (ONGs), 
exercem a função de um educador político; um educador comprometido 
com uma política democrática ou um educador envolvido com a política 
dos “donos do poder”. Mas é nesse campo atravessado por feixes de tensões 
que se trabalha e que são abertas inúmeras possibilidades ao exercício 
profissional.
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As possibilidades de ação profissional são diversas, assim como os confrontos, as mediações, as lutas, 
as resistências, ou seja, os desafios profissionais são inúmeros. Cabe aos assistentes sociais ocupar, de 
fato, seus espaços de trabalho, sejam estatais, privados ou organizações da sociedade civil.
Qual o lugar do assistente social nesses processos? É na tensão da produção das desigualdades e 
da produção das lutas e resistências que trabalhamos assistentes sociais. O trabalho está situado em 
cenários distintos que exigem compromisso e competências teórico-metodológicas.
É nesta tensão, entre produção da desigualdade e produção da rebeldia e 
da resistência, que trabalham os assistentes sociais situados nesse terreno 
movidos por interesses sociais distintos, dos quais não é possível abstrair ou 
fugir porque tecem a vida em sociedade (IAMAMOTO, 2001, p. 28).
Cabe ao assistente social decifrar as novas mediações em jogo nos diferentes cenários e apreender 
as novas expressões da questão social, ou seja, conhecer as diferentes formas de expressão das 
desigualdades sociais. Ao lançarmos mão da expressão que dá visibilidade à questão social, estaremos 
construindo nosso objeto, que é um dos primeiros passos para o processo de conhecimento. É preciso 
captar as formas de resistência, de lutas, de oposição, de pressão social, de invenção e reinvenção da 
vida cotidiana para que possamos projetar formas de enfrentamento e de defesa da vida por meio de 
políticas públicas ou de outras estratégias de empoderamento, de autonomia e de liberdade dos sujeitos 
de direitos.
6 COnSTrUçÃO E dESCOnSTrUçÃO dO ObjETO dO SErvIçO SOCIAL
A construção do objeto significa a compreensão das mais variadas expressões cotidianas que os 
sujeitos vivenciam e que os assistentes sociais trabalham direta ou indiretamente. Expressões que 
fazem parte do tecido social de uma sociedade. Todos nós, independentemente de situação econômica, 
política, cultural, de credo, de raça, não conseguimos nos furtar delas, pois estas perpassam o cotidiano 
de cada um e fazem parte da trama de relações sociais do modo de produção e reprodução do sistema 
capitalista. Sobre as expressões cotidianas, Iamamoto (2001, p. 28) afirma que:
Os assistentes sociais trabalham com a questão social nas suas mais variadas 
expressões quotidianas, tais como os indivíduos as experimentam no trabalho, 
na família, na área habitacional, na saúde, na assistência social pública etc. A 
questão social sendo desigualdade é também rebeldia por envolver sujeitos 
que vivenciam as desigualdades e a ela resistem e se opõem.
A matéria-prima do serviço social, portanto, situa-se em espaços contraditórios, conflituosos, de 
interesses antagônicos, de rebeldias, de lutas, de resistências por direitos inscritos na agenda pública ou 
em discussão para a viabilização de garantias por meio de políticas públicas.
Ao ter uma matéria-prima de intervenção profissional, que tem como ingredientes principais a 
luta pela defesa da vida e pela garantia de direitos, o assistente social é um profissional que precisa ter 
postura ética, crítica e propositiva e se imbuir de conhecimentos teórico-metodológicos.
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6.1 Formas de enfrentamentos da questão social
A seguir, relacionaremos os agentes responsáveis pelo desencadeamento das ações de intervenção 
na questão social.
•	 Estado:	nas	políticas	públicas;
•	 Empresariado:	por	meio	de	políticas	sociais	empresariais	para	a	reprodução	e	gestão	da	força	de	
trabalho;
•	 Outros	 segmentos	da	 sociedade	civil:	 por	meio	de	organizações	não	governamentais	que	 têm	
atuado no campo das políticas sociais;
•	 Classes	subalternas:	são	formas	de	organização	e	de	sobrevivência	acionadas	por	estas	classes	
como meio de fazer frente às condições crescentes de exclusão social a que são submetidas.
A partir desses indicadores, é possível explicitar a compreensão dos fundamentos teórico-
metodológicos do serviço social assim como sua dimensão técnico-operativa.
Ao identificar o lugar do assistente social nos diferentes espaços e seu papel frente às expressões que 
dão visibilidade à questão social e aos mecanismos de enfrentamento, partimos para uma exemplificação 
da identificação/construção do objeto/matéria-prima do serviço social.
Quadro 4
Unidade/
área de 
trabalho
Expressão da
questão social
Qual é o meu objeto/
matéria-prima de
trabalho?
Outras fases: estratégias
metodológicas
Saúde Álcool/drogas Dependência química Entrevistas/encaminhamentos 
para grupos de mútua ajuda 
ou tratamento em clínicas 
especializadas.
Ao identificarmos a expressão que dá visibilidade à questão social, neste caso o alcoolismo, partimos 
para o conhecimento teórico-metodológico. Por quê? Antes de qualquer intervenção, precisamos de 
embasamento teórico. Como posso fazer uma intervenção se não tenho conhecimento sobre o assunto? 
Não temos nada pronto – e nem podemos. Nossa área de atuação é ampla, temos que ser dinâmicos, 
propositivos e manter uma rede de contatos e serviços de nossa cidade e região.
Atualmente, os concursos públicos exigem um rol de conhecimentos dos mais diversos para o cargo 
de assistente social. Então, ter conhecimento básico em alcoolismo/dependência química é um dos 
requisitos para o exercício profissional.
Isso não significa que o profissional fique fazendo diversos cursos em todas as áreas, mas sim 
saber diferenciar, por exemplo, alcoolismo de dependência química. Saber identificar se o sujeito é 
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usuário de drogas ou de álcool, o tempo de uso, abuso, consumo, problemas com polícia e possíveis 
encaminhamentos para os serviços sociais de que dispõe a rede.
Em muitas situações, nossa intervenção pode ir além de um simples encaminhamento para serviços 
especializados. Sabemos que as condições de trabalho vão variar de local para local. Em determinada 
instituição, você poderá ter recursos materiais e humanos para planejar, desenvolver e avaliar ações 
interventivas. Em outros locais, você deverá buscar estratégias e meios alternativos para desenvolver 
ações interventivas, apesar das dificuldades institucionais. Em grande parte das organizações, há falta 
de profissionais especializados para determinados tipos de atendimento, falta de salas/espaços, de 
recursos materiais etc. Então, o que fazer? Nós, assistentes sociais, temos uma compromisso com a 
classe trabalhadora explicitado no código de ética. Dessa forma, buscamos a primazia do acesso a bens 
e serviços para as classes subalternas, apesar das dificuldades e dos entraves impostos pelas políticas e 
instituições em que estamos inseridos.
Vamos objetivar/esquematizar:
1° Preciso conhecer a realidade em que vou trabalhar/atuar/intervir.
Perguntas básicas: Como? Quando?
2º Como vou analisar/conhecer?
Você precisa ler e estudar as políticas públicas a que está vinculada a instituição/ organização em 
que vai estagiar/trabalhar. Se você estagiar/trabalhar, por exemplo, num hospital, é importante conhecer 
a qual política pública ele poderá estar vinculado. Parece claro, à política da saúde. Porém, num hospital 
também há assistência.
E agora? Qual é a política de fato? Para essa identificação, você precisará se inteirar de suas 
atribuições – veja o plano de trabalho de cada instituição – para poder delimitar/especificar 
sua atuação. Com certeza, a política da saúde prevalecerá em hospitais, clínicas e ambulatórios 
vinculados ao SUS.
Não pretendemos estudar passo a passo sua rotina de trabalho, até porque, como já observamos, não há 
receitas ou modelos fixos. É mister que você possua fundamentos para poder planejar e organizar seu trabalho.
As ações profissionais são pautadas no que denominamos de plano de intervenção/ação.Essa é uma 
das estratégias metodológicas que vamos operacionalizar no campo de estágio e em nossas futuras ações.
E a desconstrução do objeto profissional? Como e quando desconstruímos nosso objeto de ação 
profissional? Ela se inicia quando você percebe que as estratégias utilizadas até então não dão mais conta 
da realidade e da dinâmica profissional. Ela também ocorre quando o assistente social busca ampliar, 
aprofundar seus conhecimentos e sua forma de intervenção; quando sai dos muros profissionais e 
institucionais; e quando almeja ir além do seu cotidiano profissional. A desconstrução ou reelaboração do 
objeto também pode partir de demandas institucionais percebidas pelos profissionais ou pelos usuários.
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Seu objeto de intervenção profissional estará em constante mudança devido à dinamicidade das 
expressões da questão social.
O quadro a seguir aponta algumas categorias que perpassarão por toda a formação e todo o exercício 
profissional do assistente social. Leia atentamente e procure assimilá-las, pois fazem parte do nosso 
cotidiano profissional.
Quadro 5
Objeto/matéria-prima do 
serviço social
Múltiplas expressões/refrações da questão social.
Questão social Contradição entre capital e trabalho = desigualdades x resistências/lutas; 
exclusões. 
Capital Relações sociais que tomam forma de riqueza/poder monopolizado, 
confrontando-se com o trabalho concreto e impondo a produção de trabalho 
alienado.
Trabalho Toda a expressão e produção humana. 
Desconstrução ou 
reelaboração do objeto
Demanda institucional; identificação pelo profissional; demanda do usuário.
Modos de vida Significados atribuídos pelos sujeitos ao seu modo de viver (valores, crenças e 
práticas sociais).
A construção do objeto profissional não pode ser pensada só de modo teórico e conceitual; é preciso levar 
em conta a história, as discussões, os debates dos projetos de sociedade e de intervenção profissional nos 
diferentes contextos. Nesse processo, também é preciso considerar a dinâmica local, regional, institucional, as 
relações de poder, os saberes, as estratégias e os diferentes atores. Assim, o objeto de trabalho do assistente 
social terá especificidades próprias da conjuntura em que ele está inserido. Portanto, não existem modelos, 
receitas, e sim construções coletivas de um determinado contexto sócio-histórico e ideológico-político.
6.2 As principais demandas do Serviço Social
As demandas para o serviço social podem ser constituídas de forma dirigida ou manifestada, no 
entanto, não podemos caracterizá-las somente dessa forma, uma vez que elas extrapolam tais conceitos.
Estudemos, então, as demandas dirigidas e manifestadas.
No desdobramento do texto, você perceberá que as demandas podem ser caracterizadas de outras 
formas, dado o seu contexto profissional, institucional e do usuário, levando em conta a realidade em 
que estão inseridas.
 Lembrete
Usuário é a terminologia usada pela profissão para identificar as pessoas 
ou grupos que utilizam os serviços sociais.
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As demandas dirigidas ao serviço social são aquelas instituídas dado o caráter do serviço prestado. 
Elas caracterizam-se por rotinas apresentadas pela dinâmica da instituição ou serviço prestado ou pelo 
próprio profissional. Também podem ser comuns para profissionais de determinada área ou de áreas 
específicas, isso depende do setor em que o assistente social está locado. Em uma área, há serviços 
setorizados e outros que são comuns a todos os setores e profissionais.
As rotinas fazem parte do exercício profissional do assistente social que se efetiva no cotidiano 
da instituição na qual está inserido. A rotina transforma-se continuamente e diferencia-se conforme 
as experiências, em função de particularidades, valores, interesses e época histórica. Ela é a vida dos 
mesmos gestos, atitudes, ritmos de todos os dias, o que implica o imediatismo, o útil e o funcional. Cabe 
ao profissional romper com esses procedimentos. Como? Quando ele gosta do que faz, tem motivação, 
paixão, comprometendo-se com o trabalho e com os usuários e ele tem uma ação proativa em relação 
a isso.
Citamos como exemplo de rotinas dirigidas do serviço social em uma empresa: entrevista domiciliar, 
visita hospitalar, atendimentos individuais para resolução de problemas relacionados a absenteísmo, 
financeiros, relacionamentos interpessoais no setor etc.
As demandas dirigidas são explicitadas com clareza pela instituição e pelos profissionais. Pode ocorrer 
ou não o reconhecimento do serviço como demanda. Essa é uma questão polêmica, o profissional e a 
instituição às vezes não têm meios/instrumentos (sociais e materiais) para realizar os serviços aliados às 
políticas públicas que ainda não conseguiram ser efetivadas na sua totalidade. A efetivação não ocorre 
devido aos problemas burocráticos, políticos, ideológicos, ou por falta de profissionais qualificados 
para assumir a gestão. Se as demandas explícitas às vezes se tornam complexas (pode ser difícil a sua 
identificação ou não são priorizadas, pois não são reconhecidas como serviço pelo profissional ou pela 
instituição), imagine como são tratadas as demandas manifestadas e as implícitas.
Faça uma reflexão de um serviço que você conhece problematizando os aspectos levantados no 
decorrer do texto. Um serviço público fácil de problematizar é a saúde, tão polêmico e preocupante. 
Lembre-se de que as demandas existem e são muitas. Como equacioná-las, levando em conta os meios 
de trabalho para os profissionais e para as instituições e as políticas públicas existentes? E qual é a sua 
real efetivação?
As demandas manifestadas são aquelas que extrapolam a rotina dos serviços, geralmente são 
solicitadas pelos próprios usuários, outras vezes estão implícitas, não sendo identificadas inicialmente 
pelo profissional ou pela instituição. Quando solicitadas pelos usuários, o profissional trata o atendimento 
como demanda individual/particular, negando o caráter coletivo. Contudo, é preciso compreender 
que as demandas “[...] são coletivas não só porque são vivenciadas por todos, mas também porque só 
coletivamente poderão ser enfrentadas” (VASCONCELOS, 2002, p. 171).
A manifestação por parte do usuário ocorre quando ele percebe a necessidade de um serviço 
complementar a que ele já está recebendo. Isso ocorre quando o indivíduo toma ciência da existência 
desse serviço e também por solicitação de um serviço que não existe no bairro ou comunidade do 
usuário.
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A demanda manifestada pode ser explícita ou implícita. Aí complica mais: como pode ser implícita 
dentro da manifestada? Vejamos: ao manifestar sua demanda, o usuário poderá apresentar uma demanda 
implícita (não identificada dentro de um processo maior). Por detrás da manifestada, o profissional 
poderá captar situações implícitas que levaram à primeira, ou seja, o assistente social está tratando a 
consequência, o efeito, e a causa não foi observada. Em outras palavras, estátratando a parte e não o 
todo, ela é uma ação fragmentada e focalizada no problema e não no ser humano como um todo.
A demanda implícita poderá ser muito maior que a manifestada, por isso o profissional precisa 
possuir alguns meios (conhecimentos para decifrar o problema). O implícito é aquilo não dito pelo 
usuário e o não percebido pelo profissional. É o que está nas entrelinhas da fala do usuário.
6.3 demanda profissional: aumento da seletividade no âmbito das políticas 
sociais
Diante das demandas existentes, é notória a procura por serviços sociais. Entretanto, é preciso ressaltar 
o aumento da seletividade no âmbito das políticas sociais, a diminuição de recursos, a redução dos salários 
e a imposição de critérios cada vez mais restritivos à população para ter acesso aos direitos sociais públicos.
Nessa perspectiva de seletividade, o profissional tem de trabalhar pautado nos princípios do Código 
de Ética Profissional, defendendo, intransigentemente, o usuário e os direitos que lhes são garantidos 
por lei e que “algumas” vezes são repassados como forma de favor, clientelismo e paternalismo. Quando 
o indivíduo procura um serviço, geralmente ele é portador de uma necessidade material ou social. Paulo 
Netto e Falcão (2000, p. 54) mencionam que
[...] sabemos que o atendimento dessas necessidades é realizado de 
forma setorizada, fragmentada, como se o indivíduo fosse um somatório 
de necessidades a serem satisfeitas, cada uma delas pela superposição 
de instituições específicas. Sabemos igualmente que, no caso brasileiro, 
o atendimento a estas necessidades é pulverizado e individualizado, 
requerendo sempre uma seleção ou triagem que confirme o mérito ou 
validade do pedido de atendimento.
Essa demanda requer mediação por parte do assistente social entre as necessidades básicas e as 
possibilidades institucionais. É um trabalho de ligação/ponte entre os grupos em situação de exclusão e 
as organizações. É um processo de passagem da situação de excluído para a de inclusão em um serviço 
ou acesso a um bem.
A mediação é um processo que implica o engajamento ou compromisso dos assistentes sociais em 
um conjunto de atividades com o usuário e objetiva o fortalecimento da sua identidade, da autonomia, 
do reconhecimento e do uso de recursos.
Segundo Paulo Netto e Falcão (2000), a mediação é um instrumento de que o assistente social se 
utiliza no seu fazer profissional, categoria que está inserida tanto nas demandas quanto nas práticas 
sociais e ela também é compreendida como um processo de passagem.
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Na operacionalização de suas ações, o profissional é “demandado” pela organização/instituição a 
desenvolver quase sempre práticas imediatistas e focalistas. Cabe a ele, ao dar respostas às demandas, 
superar essa prática de forma crítica e propositiva.
Cabe ao assistente social dar respostas que vão além do imediatismo. O profissional deve estar 
comprometido com sua profissão e com o usuário, ter o cuidado de não cair na subalternidade que 
existe na profissão em algumas instituições, achar que é tudo natural, normal e cumprir apenas 
as normas e rotinas estabelecidas. Sucintamente, podemos definir como “novas demandas” para o 
serviço social:
a) identificar novas oportunidades de trabalho e demandas sociais: cooperativas, assessoria e 
consultoria, terceiro setor, responsabilidade social, turismo social, desenvolvimento sustentável 
etc.;
b) decodificar expressões da questão social, buscar formas de enfrentamento respeitando suas 
especificidades, como: gênero, etnia, raça etc.
Para atender essas demandas e outras questões que surjam nessa profissão, é importante que 
o profissional identifique as oportunidades e as diversidades da realidade social. O social não é 
especificidade de qualquer profissão: o que existe são formas diferentes de cada profissão no trato 
do social.
Diante das novas demandas, apresentaremos, a seguir, os desafios postos para a profissão. As demandas 
e os desafios não se esgotam em um estudo, é preciso buscar o seu entendimento paulatinamente. Por 
isso, a formação é contínua, e o desafio maior é aprender as alterações históricas que os processos 
sociais vêm criando.
Detectar as demandas e exigências de reformulações no modo de ser, do fazer profissional, 
assegurando sua necessidade social, é buscar aprender o significado social da profissão no contexto das 
profundas alterações na divisão internacional do trabalho.
Para tanto, o serviço social, na atual conjuntura, deve estar atento às determinações sócio-históricas 
e ideológico-políticas que requalificam as respostas profissionais incidindo em:
•	 capacitação	teórico-metodológica	que	permita	apreensão	crítica	da	realidade;
•	 capacitação	 investigativa	 articulada	 à	 intervenção	 profissional	 com	 o	 intuito	 de	 instaurar	
habilidades teórico-metodológicas e técnico-políticas, entre outras;
•	 entendimento	de	que	a	instituição	não	é	um	limite,	mas	a	possibilidade	do	exercício	profissional;	
é nesse espaço que se realiza o trabalho profissional;
•	 não	 ter	 a	 ilusão	 que	 outrora	 permeou	 a	 prática	 profissional	 que	 postulava	 como	 objetivo	 a	
transformação radical da sociedade;
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•	 reconhecer	que,	no	sistema	capitalista,	os	direitos	econômicos,	sociais,	políticos	e	culturais	são	
capazes de reduzir desigualdades, mas não de acabar com elas de modo definitivo;
•	 o	reconhecimento	dos	limites	profissionais	não	invalida	a	luta	pela	efetivação	dos	direitos	pelas	
políticas públicas. Os limites sinalizam que existe uma agenda estratégica de luta democrática em 
prol da construção de uma sociedade mais justa e igualitária;
•	 quando	o	assistente	social	repensa	sua	prática,	reconstrói	seu	objeto	de	intervenção	deixando	de	ser	
mero executor, como no passado, para ser um profissional propositivo, criativo, gestor, formulador 
de estratégias de intervenção e controlador dos recursos destinados às políticas públicas.
As respostas apresentadas às demandas nunca são absolutamente novas ou obsoletas. Isso depende 
muito da conjuntura em que o assistente social está inserido. Por exemplo: algumas práticas profissionais 
nos grandes centros já estão ultrapassadas, porque já foram instauradas há muito tempo, já foram 
avaliadas e reavaliadas e estão sendo ampliadas ou substituídas por outras para dar conta da realidade. 
Já em lugares mais remotos, algumas práticas ainda nem chegaram e sequer existem profissionais do 
serviço social.
O que vai caracterizar as demandas profissionais diante da questão social são as determinações 
sócio-históricas e ideológico-políticas da realidade em que você estiver atuando. Portanto, as demandas 
profissionais poderão ser distintas nos diversos cantos do Brasil, mas a gênese das desigualdades e 
exclusões é uma só: a relação conflituosa entre capital e trabalho. As respostas e a forma de enfrentamento 
da questão social serão determinadas pelo profissional na conjuntura em que ele estiver inserido.
Em relação à questão social, Iamamoto (2001, p. 27) nos assevera que
A questão social é apreendida como o conjunto das expressões das 
desigualdades da sociedade capitalista madura que tem uma raiz comum: 
a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais 
amplamente social, enquanto a apropriaçãodos seus frutos mantém-se 
privada e monopolizada por uma parte da sociedade.
É polêmico dizer que a fome, a pobreza, a violência e outras expressões são diferentes no norte e 
no sul do país. Também é controverso dizer que a fome no sul é diferente da fome no nordeste, que a 
violência nas grandes cidades é diferente da violência das cidades pequenas, bem como mencionar que 
as demandas são totalmente diferentes. Existem, sim, especificidades regionais, culturais, econômicas, 
políticas e sociais que devem ser levadas em conta no momento de formular ações de enfrentamento 
à questão social.
É nesse sentido que, para nós, a questão social é única, mas suas expressões são múltiplas. E o 
conhecimento teórico-metodológico que o profissional de Serviço Social possui poderá contribuir para 
respostas eficazes. Dissemos “poderá”, pois depende de cada um buscar se aperfeiçoar e se qualificar. 
Mas lembre-se: antes de tudo, você está trabalhando com pessoas e não com objetos; pessoas com 
diversas carências (recursos, afeto, entre outras necessidades sociais e materiais).
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É importante gostar do que se faz, pois, do contrário, você não estará contribuindo em nada para uma 
sociedade mais justa e igualitária, nem com o trabalho em prol do combate às expressões da questão social.
6.4 reordenamento dos serviços sociais
A categoria profissional vem discutindo um reordenamento de sua prática, tanto na defesa de 
direitos como na prestação de serviços que antes eram executados predominantemente pelo Estado 
e que agora são transferidos em etapas por meio de parcerias, convênios etc. para outros setores da 
sociedade civil (principalmente para organizações não governamentais).
Os serviços têm caráter voluntário ou não. Caracterizam-se por ações fragmentadas, isoladas, 
paliativas e de cunho individualista.
Como nos assevera Iamamoto (ibidem, p. 159)
Cortam-se gastos sociais e transferem-se serviços para o setor empresarial 
condizente com a política mais ampla de privatização que é levada a efeito 
pelo Estado. O enxugamento e sucateamento dos serviços públicos têm 
redundado não apenas na perda de qualidade dos atendimentos, como têm 
reforçado a seletividade, o que entra em colisão como uma das principais 
conquistas obtidas na Carta Constitucional de 1988, relativa à universalização 
dos direitos sociais e dos serviços que lhes atribuem materialidade.
O Estado não tem poder de controle sobre esses serviços e isso os desqualifica, pois seus agentes 
fazem o que querem. Muitos desses trabalhos têm “donos”, ou seja, quem os criou não socializa e nem 
possibilita a abertura para o ingresso de outros participantes. Algumas ações bem-sucedidas promovem 
a cidadania e a emancipação, mas sabemos que a maioria são apenas obras caritativas e assistencialistas 
que reforçam a subalternidade dos sujeitos; outras servem de fachada para receber recursos do governo 
e de agências internacionais.
6.5 Terceirização da gestão da questão social
O desrespeito à institucionalização da questão social ocorre quando o Estado deixa de atender 
serviços básicos e a garantia dos direitos fica à mercê de organizações não governamentais com critérios 
próprios, e isso muitas vezes acaba reforçando exclusões.
Os critérios de acesso aos serviços são excludentes, uma vez que não são universais, e os sujeitos que 
os solicitam precisam se “enquadrar” em determinados perfis. Essa é uma questão muito discutida, visto 
que muitas vezes somos nós (assistentes sociais) que reforçarmos a exclusão ao criar critérios de seleção, 
ingresso em programas, projetos e benefícios. Por isso, nossa prática é contraditória e conflituosa. Assim, 
surge a questão: como incluir se também estou excluindo?
O Estado, ao terceirizar a gestão da questão social, promove a distribuição de verbas públicas para 
entidades privadas exercer ações de caráter público. Esse orçamento se efetiva por meio de convênios, 
contratos, parcerias, prestação de serviços, subvenções temporárias ou periódicas etc.
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Mesmo diante desses impasses de terceirização ou desrespeito à institucionalização, o serviço 
social vem trabalhando na gestão de ações para inclusão ou integração dos cidadãos no terceiro setor 
de modo que não sejam tão desiguais ou excludentes, embora os critérios de seleção/ingresso sejam 
preponderantes nesse processo.
A intervenção do serviço social no terceiro setor tende a se ampliar, tendo em vista os cortes com 
gastos sociais e os recursos distribuídos de forma focalizada e fragmentada por parte do Estado.
Ao transferir responsabilidades, o Estado inclina-se a prestar serviços com menos custos e menos 
garantias. E o terceiro setor, por sua vez, tende a ações mais individualistas, isto é, a ações cujo público 
alvo possui determinados segmentos (idosos, crianças, abrigos, clínicas, casas de apoio) com critérios de 
acesso estabelecidos em regimentos ou estatutos.
Como nos afirma Faleiros, (1996, p. 24)
Essa terceirização é uma nova forma de gestão da questão social que, 
na linha da “desinstitucionalização”, agora se volta para o empenho da 
própria população na participação dos serviços prestados pelo Estado. 
Esse cenário se realiza sob múltiplas formas, como pelo fechamento de 
hospitais, implicando nos familiares o cuidado aos doentes. O mesmo se 
passa com o atendimento a crianças e pessoas idosas, ficando cada região 
e cada localidade responsável pela gestão de um fundo para projetos que 
envolvam, por um lado, os serviços e, por outro, admitam para trabalhar 
pessoas envolvidas em programas de bem-estar social com o dinheiro desse 
mesmo fundo.
Faleiros (1996) adverte que é nesse processo que o serviço social precisa encontrar as categorias 
adequadas para repensar o social e sua gestão. Logo, o assistente social precisa desenvolver sua condição 
criativa e reflexiva, bem como contribuir para que os sujeitos desenvolvam mais sua capacidade crítica 
frente às instituições e aos serviços prestados.
6.6 Matrizes do processo de trabalho do assistente social
O processo de trabalho do serviço social constitui-se no espaço em que os conhecimentos são 
processados e ele se reconstrói a partir da análise da questão social e do conhecimento produzido pelo 
Serviço Social.
Depois que identificamos nosso objeto de trabalho, partimos para o processo de trabalho propriamente 
dito. Ele tem seu início com o processo de conhecimento e prossegue no processo de intervenção. Na 
verdade, não há como dizer o que vem primeiro, mas é necessário identificarmos, inicialmente, o objeto 
de intervenção, para depois contextualizar o processo de estratégias e atividades de trabalho.
A prática profissional do assistente social é considerada trabalho, pois é orientada para uma finalidade 
e possui teleologia. O assistente social, na condição de trabalhador assalariado, “[...] também sofre todas 
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SuperviSão de eStágio AcAdêmico
as injunções decorrentes da divisão social do trabalho, da reestruturação produtiva e

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