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AS PARTES E SEUS REPRESENTANTES 1. Limitações a capacidade processual Os juizados foram estruturados para processar causas menos complexas e de pequeno valor e, em razão disto, a legislação optou por impor diversas limitações, por exemplo, quanto a quem poderia ser partes (art. 8). Em regra, admite-se pessoa física, não presa e capaz e pessoas jurídicas de direito privado com capacidade processual, como microempresas, empresas de pequeno porte e organizações sociais de interesse público, bem como as sociedades de crédito ao microempreendedor. Estes impedimentos podem ocorrer, inclusive, no curso do processo e levar a sua extinção sem a resolução do mérito (art. 51, IV), podendo ser reconhecidas de ofício ou por provocação das partes. Obviamente, se alegada, deverá ser provada por aquela parte que pretende impugnar a capacidade judiciária do outro sujeito processual. As restrições devem ser interpretadas em conjunto, por exemplo, o espólio não pode ser autor no juizado, mas poderá ser réu. Contudo, não poderá ser demandado no juizado se envolver interesse de herdeiro incapaz, insolvente ou preso. 1.1. O incapaz: a restrição abrange a incapacidade absoluta e relativa (art. 3 a 5º do CC), incluindo- se os pródigos, os ébrios habituais, viciados em substâncias tóxicas e aqueles que, mesmo transitoriamente, não conseguirem exprimir sua vontade. Se o indivíduo for emancipado (art. 5º, parágrafo único, CC) poderá ser parte no juizado. 1.1.1 O maior de 18 anos: a previsão do art. 8º, §2º se justifica, pois, a lei 9099 foi editada ainda na vigência do Código Civil de 1916, momento em que a capacidade era obtida com 21 anos. Assim, com a alteração pelo Código Civil de 2002, as divergências acabaram, mas vale ressaltar que o dispositivo continua em vigor, pois não conflita com a legislação vigente. 1.2. Preso (art. 13): é aquele que tem sua liberdade de locomoção privada, sendo que ela pode se dar por diferentes razões: criminais, civis e administrativas. A lei dos juizados não faz distinção quanto a origem, mas é essencial que esteja efetivamente encarcerada. Logo, a simples decretação de prisão não impede que seja parte dos juizados ou na hipótese de regime aberto ou livramento condicional. É preciso que ela esteja, realmente, impedida de participar da regular marcha processual. Por isso, defende Rocha (2017, s.p.): “se a sentença já foi proferida e o processo está em fase recursal, não vemos razão para aplicar o art. 51, II, no caso de o autor ter sido preso, uma vez que a sua presença não é mais necessária”. Logo, se a pessoa estava presa e passa a ficar livre, só se justificará a extinção do processo se demonstrado efetivo prejuízo. 1.3. Pessoas Jurídicas de Direito Público: as pessoas de direito público externo e interno, incluindo-se da administração direta e indireta, não poderão estar nos juizados especiais. 1.4. A Massa falida: “representa o conjunto dos bens arrecadados e administrados pelo síndico num processo falimentar judicial” (ROCHA, 2017, s.p.). Essa limitação não inclui a empresa em liquidação extrajudicial e recuperação, contudo, decretada a falência, não poderão mais atuar nos juizados. Enunciado 51 do FONAJE: ENUNCIADO 51 – Os processos de conhecimento contra empresas sob liquidação extrajudicial, concordata ou recuperação judicial devem prosseguir até a sentença de mérito, para constituição do título executivo judicial, possibilitando a parte habilitar o seu crédito, no momento oportuno, pela via própria (nova redação – XXI Encontro – Vitória/ES). 1.5. O insolvente civil (art. 1052 CPC): se declarado insolvente (art. 751, CPC 1973), não haverá possibilidade de demandar e nem ser demandado nos juizados. 2. Legitimidade processual ativa: em conformidade com o art. 8º, §1º, tem legitimidade pessoas físicas e jurídicas. 2.1 Pessoas físicas: observadas as limitações já comentadas, destaca-se a restrição do art. 8º, §1º, I. Art. 8º § 1º Somente serão admitidas a propor ação perante o Juizado Especial: I - as pessoas físicas capazes, excluídos os cessionários de direito de pessoas jurídicas; Logo, se uma pessoa jurídica sem legitimidade ativa cedeu um direito a uma pessoa física, essa não poderá demandar este direito junto aos juizados. A existência da participação desta pessoa jurídica em qualquer momento da cadeia sucessória deste direito impede que seja demandada perante os juizados. 2.2 Pessoas jurídicas: não havia previsão na redação original da lei. Primeiro, houve inclusão das microempresas (art. 38 da Lei 9841/99). A lei dos juizados especiais federais, em 2001, trouxe a possibilidade de empresas de pequeno porte demandarem no âmbito dos juizados. A lei complementar 123 foi a responsável, em seu art. 74, consagrar a possibilidade de microempresas e empresas de pequeno porte demandarem no juizado. Em 2009, a lei 9099 foi alterada admitindo o ajuizamento por sociedade civil de interesse público e das sociedade de crédito de microempreendedor. O art. 980-A do CC admitiu a criação da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada. Estas podem se submeter aos requisitos legais da micro e pequena empresa, ou seja, receita bruta igual ou inferior a R$ 360000,00 e R$ 3.600.000,00, respectivamente. Deverão juntar o ato constitutivo nas demandas, sendo vício sanável. São representados pelos seus diretos, pessoalmente ou por prepostos credenciados (art. 9º, §4º da Lei 9099) e conforme enunciado 141 do FONAJE: ENUNCIADO 141 (Substitui o Enunciado 110) – A microempresa e a empresa de pequeno porte, quando autoras, devem ser representadas, inclusive em audiência, pelo empresário individual ou pelo sócio dirigente (XXVIII Encontro – Salvador/BA). Podem requerer e gozar dos benefícios da gratuidade da justiça, conforme art. 9º§1º e 98 do CPC, bem como enunciado 48 do FONAJE: ENUNCIADO 48 – O disposto no parágrafo 1º do art. 9º da lei 9.099/1995 é aplicável às microempresas e às empresas de pequeno porte (nova redação – XXI Encontro – Vitória/ES). Rocha defende a inconstitucionalidade dos dispositivos que garantem legitimidade ativa a pessoas jurídicas em confronto com o art. 98, I, CF. Afinal, os juizados foram criados precipuamente para o atendimento de pessoas físicas. 2.3 Condomínio: embora seja possível encontrar decisões que admitem a possibilidade do condomínio ser autor nos juizados, a lei (art. 8º, §1º) deixa expresso que não será admitido entes despersonalizados. Embora ainda exista certa divergência, alguns juizados têm adotado esse entendimento. Para Luís Felipe Salomão, seria possível, se regulados pelos art. 1314 e seguintes do Código Civil e representados por pessoas físicas. 2.4 Titular dos direitos de receber honorários fixados nos juizados especiais: os honorários têm natureza alimentar e são direito do advogado (art. 85, §14, CPC). Podem ser postulados nos próprios autos do processo onde foram estabelecidos ou em processo autônomo (art. 85, §18, CPC). Tem entendido que deverão se limitar ao teto de 40 salários na hipótese de ação autônoma. 3. Capacidade postulatória: o legislador optou por conceder capacidade postulatória em causas até 20 salários mínimos, seja no polo ativo ou passivo, independentemente da capacidade técnica. Acima de 20 salários é obrigatória a assistência de um advogado. Conforme dispõe art. 9º: Art. 9º Nas causas de valor até vinte salários mínimos, as partes comparecerão pessoalmente, podendo ser assistidas por advogado; nas de valor superior, a assistência é obrigatória. Há quem alegue que tal disposição fere a constituição, uma vez que a advocacia foi inclusa como função essencial à Justiça (art. 133, CF). Na fase recursal, é obrigatória assistência do advogado,seja para interpor ou apresentar resposta ao recurso inominado, conforme art. 41, §2º da Lei 9099. Na fase de execução, posicionamento minoritário defende a essencialidade do advogado independentemente do valor da execução, porém tem prevalecido o entendimento que divide em demandas até 20 e acima de 20 salários mínimos. O art. 9º traz disposições quanto à advertência em relação a conveniência do patrocínio de um advogado. Dispõe o referido dispositivo: Art. 9º § 1º Sendo facultativa a assistência, se uma das partes comparecer assistida por advogado, ou se o réu for pessoa jurídica ou firma individual, terá a outra parte, se quiser, assistência judiciária prestada por órgão instituído junto ao Juizado Especial, na forma da lei local. § 2º O Juiz alertará as partes da conveniência do patrocínio por advogado, quando a causa o recomendar. Além disto, a representação judicial poderá ser comprovada pela mera manifestação oral, conforme art. 9º, §3º: § 3º O mandato ao advogado poderá ser verbal, salvo quanto aos poderes especiais. Quando se referir a poderes especiais, deverá ser apresentado por escrito, por exemplo, para afirmação da gratuidade da justiça (art. 105, CPC). 4. Preposto: prevalece o entendimento que não é possível acumular as condições de preposto e advogado na mesma pessoa. A lei dos Juizados Federais, por sua vez, traz regra distinta: Art. 10. As partes poderão designar, por escrito, representantes para a causa, advogado ou não. Vale destacar que os poderes conferidos ao preposto deverão ser suficientes ao atingimento dos fins dos Juizados, por exemplo, para a realização de acordo. Preposto precisa ter vinculo empregatício com a pessoa jurídica que representa? Essa questão foi superada pelo art. 9º §4º da lei 12.137/2009: § 4º O réu, sendo pessoa jurídica ou titular de firma individual, poderá ser representado por preposto credenciado, munido de carta de preposição com poderes para transigir, sem haver necessidade de vínculo empregatício.” (NR) 5. Obrigatoriedade da presença pessoal das partes: parte da doutrina entende que sim, enquanto outra parcela defende que será necessária tão somente em causas até 20 salários mínimos. No caso dos juizados federais, a lei 10.259/2001 admitiu sua representação, ainda que seja cumulada na pessoa do advogado (art. 10). Referência: ROCHA, Felippe Borring. Manual dos juizados especiais cíveis estaduais: teoria e prática 9. ed. São Paulo: Atlas, 2017, e-book.
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