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Trabalho de Direitos Humanos

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CENTRO UNIVERSITÁRIO TABOSA DE ALMEIDA – ASCES/UNITA
ALUNA: THALITA GAZZINELLI
DISCIPLINA: DIREITOS HUMANOS
CARUARU
2017
Evolução histórica
O meio pelo qual se faz com que o devedor cumpra com sua obrigação – coercitivamente - tem se modificado com o passar dos anos e difere de acordo com as civilizações.
No Egito admitia-se a escravidão do devedor, mas, na maioria das vezes, a execução fazia-se sobre o patrimônio do devedor. O credor poderia também, se o devedor falecesse inadimplente, coagir moralmente os parentes e amigos do de cujos, tomando o cadáver como penhor – evitando as honras fúnebres, tão comuns na civilização egípcia – até o resgate mediante o pagamento do que lhe era devido.
 Na Grécia, a liberdade do devedor era restringida até que saldasse sua dívida, como explica Bitencourt:
“Deve-se acrescentar que a Grécia também conheceu a prisão como meio de reter os devedores até que pagassem as suas dívidas. Ficava assim o devedor à mercê do credor, como seu escravo, a fim de garantir seu crédito. Essa prática, inicialmente privada, foi posteriormente adotada como pública, mas ainda como medida coercitiva para forçar o devedor a pagar a sua dívida.”
A execução no direito romano primitivo realizava-se por meio de uma ordem judiciária privada. Só era realizada pela ação própria, a actio iudicati, precedente que reconhecia o direito do credor interferir no patrimônio do devedor. Além disso, em Roma assim como na Grécia existia a chamada prisão por dívidas, penalidade civil que se fazia efetiva até que o devedor saldasse, por si ou por outro, a dívida.
No direito romano, não existia uma estrutura estatal responsável pela jurisdição. Uma espécie de governador ou prefeito denominado praetor era o agente estatal com funções de administração e de prestar a justiça. No entanto, o praetor não julgava as causas, recorria a um particular chamado de iudex para resolver os litígios. Theodoro salienta que:
“Mais tarde, já na era cristã, o Império Romano se afastou pouco a pouco da ordem judiciária privada e, sob a denominação de extraordinária cognitio, instituiu uma Justiça Pública, totalmente oficializada, tal como hoje se vê no Poder Judiciário dos povos civilizados.”
O praetor deteve a função jurisdicional plena, proferindo sentenças e realizando o direito fora da arbitrariedade privada já que agora esta função era pública. Neste estágio da história, no entanto, ainda persistiam as duas ações para a tutela executiva, fato este que perdurou até o final do Império Romano.
Com a queda do Império Romano e o domínio dos povos germânicos, o direito passou por uma fase completamente inversa à primeira. A execução era privada e realizada pelo próprio credor, cabendo ao devedor, discordando dos atos do credor, recorrer ao poder público. “A atividade cognitiva, portanto, era posterior à atividade executiva, a qual, por sua vez, não dependia do procedimento judicial para legitimar-se”. 
Na Idade Média extinguiu-se a execução privada e, para o cumprimento de sentença, passou a ser admitida uma única ação em que o juízo, em ato do processo de cognição, determinava a execução. No entanto, no medievo, ainda resistiam os processos de execução de caráter pessoal, já que o corpo do devedor também respondia pela dívida. Além disso, as autoridades eclesiásticas tinham poderes jurisdicionais e aplicavam a chamada excomungnatio.
A era Moderna, todavia, fez ressurgir a actio iudicati romana. Este fato deu-se devido ao desenvolvimento comercial e conseqüente surgimento dos títulos de credito, para os quais se buscava um andamento mais rápido do que o do processo de conhecimento. Assim o documento portado pelo credor propiciava a inauguração de uma relação processual já na fase executiva.
 Com a Revolução Francesa o Direito passou por algumas modificações. Em se tratando de execução, o liberalismo introduziu o princípio da intangibilidade corporal em razão de dívidas. O maior avanço da época neste sentido foi com Código Civil Francês, quando tratava das obrigações de fazer infungíveis e previa que a execução podia resolver-se no equivalente pecuniário, acrescido de indenização, porque intangível a pessoa do executado à força estatal.
No Direito brasileiro, o processo de execução está em constante evolução. Desde 1994 algumas reformas foram realizadas no sentido de diminuir as barreiras do processo de conhecimento e processo de execução, aumentando a tendência do processo unitário.
A situação da prisão civil por dividas no Brasil
A prisão civil, diferente da penal, não tem o caráter apenatório e é um meio de coerção utilizado na jurisdição civil como forma de forçar o devedor a cumprir a obrigação acordada. Segundo a Constituição Federal no art. 5º, LXVII diz que só haverá prisão civil por dívida a responsável por inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e do depositário infiel. 
Porém Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos prevê que ninguém poderá ser preso por não cumprir com uma obrigação contratual, bem como o Pacto de São José da Costa Rica normatiza que ninguém deve ser detido por dívida, exceto alimentar, ou seja, ambos tratados internacionais do qual o Brasil é signatário trazem em seu bojo garantias de proteção aos Direitos Humanos e, desta forma, conforme entendimento pacífico no STF, integram nosso direito positivo no lei ordinária, sendo que a lei posterior sobre o mesmo assunto como os citados tratados, revogam lei anterior, embora não seja o entendimento do STF que sustenta que as normas infra-constitucionais geral não derroga normas infra-constitucionais especiais sobre prisão do depositário infiel ousando, novamente, discordar.
Na execução de alimentos, o juiz mandará citar o devedor para, no prazo de 3 (três) dias, pagar, provar que já pagou ou justificar a impossibilidade de fazê-lo (art. 733 do CPC). No caso de manter-se inerte será decretada a prisão civil, respeitado o critério da Súmula 309 do STJ de que o débito refira-se aos três meses de obrigação que antecedem a propositura da ação e os que se vençam no seu curso.
A prisão civil do devedor de alimentos não é pena, mas sim um meio coercitivo indireto que compele o devedor a realizar a obrigação. Tanto é assim que o cumprimento da pena não exime o devedor do pagamento das prestações vencidas e vincendas, e paga a prestação alimentícia o juiz suspenderá o cumprimento da prisão (§1º e §2º do art. 733 do CPC). Antes de ser utilizada, no entanto, todos os meios coercitivos diretos devem ter se esgotado.
A respeito da constituição Federal de 1988 elenca todas as fontes possíveis de serem utilizadas quando se trata de direitos fundamentais. Destas, os tratados internacionais são as que geram polêmica em torno da sua aplicabilidade quando contrariam dispositivos constitucionais. A Convenção Americana de Direitos Humanos, ou Pacto de San Jose da Costa Rica, é um tratado internacional no qual os membros se comprometem a respeitar os direitos e liberdades nela reconhecidos e a garantir seu livre e pleno exercício a toda pessoa que está sujeita à sua jurisdição, sem qualquer discriminação.
No entanto, a nova posição do STF, revogando a Súmula nº 619, fortifica a prevalência dos tratados - embora não tenha pacificado a discussão – trazendo constrição, inclusive, à prisão civil do depositário judicial. Neste sentido, salienta-se um trecho do voto do Ministro Celso de Melo sobre a prisão civil
Para satisfazer o credor, o processo de execução atua modificando o meio físico, seja por instrumentos coercitivos ou sub-rogatórios, conforme o tipo de obrigação e espécie de execução. Entre aquelas está a prisão civil que a Constituição Federal admite no caso do devedor de alimentos e do depositário infiel, a teor do inciso LXVII do art. 5º.
No caso do devedor de alimentos o juiz o citará para que cumpra a obrigação, e se ele não demonstrar o porquê não adimpliu ou que já o fez, permanecendo inerte, será decretada a prisão nos autos do mesmo processo. O depositário queassume obrigação contratual para guardar determinado bem, quando chamado a restituir a coisa não o faz ou o seu equivalente em dinheiro, poderá ter sua prisão decretada em ação de depósito, nos termos do art. 904 do CPC, enquanto que o depositário judicial, em igual conduta, estará sujeito à prisão civil mediante determinação nos mesmos autos da execução, como prevê o § 3º do art. 666 do CPC, introduziudo pela lei 11.382/06.
A Justiça tem o poder de executar os seus respectivos julgados e fazer a respectiva cobrança dos créditos do exeqüente, inclusive com a decretação da prisão civil do depositário infiel, sendo que a jurisprudência tem tratado de forma sábia cada caso que é declinado ao seu entendimento.Como já mencionado, a medida a ser imposta ao depositário infiel é a prisão civil, mas surge também dentro desta temática, outra questão de relevante importância, qual seja, a figura da impetração do habeas corpus, que é analisado com profundidade pelos julgadores dos Tribunais. Desta forma, o ordenamento jurídico procura proteger os direitos do credor, mas ao mesmo tempo deve tratar a figura do depositário infiel e conseqüentemente a sua prisão com muita cautela, analisando caso a caso, como vem sendo observado na prática forense.

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