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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS APOSTILA DE CONTABILIDADE GOVERNAMENTAL (3ª Edição) Prof. Dr. MAURÍCIO CORRÊA DA SILVA FORMAÇÃO ACADÊMICA Bacharel em Ciências Contábeis, pela Sociedade Civil Colégio Moderno – Faculdades Integradas – FICOM - Belém – PA, em 22 Fev 1985. Pós-graduado em Contabilidade e Controladoria Governamental – 2002, pela UFPE, no período de Ago 2001 a Jun 2002. Mestre em Ciências Contábeis – 2004/2005 – Programa Multi-institucional de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da UnB/UFPB/UFPE/UFRN (Núcleo Nordeste). Doutor em Ciências Contábeis – 2014/2016 - Programa Multi-institucional de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da UnB/UFPB/UFRN. DISCIPLINA: CONTABILIDADE GOVERNAMENTAL (CON4603) EMENTA: Conceito, objetivos e campo de atuação da contabilidade pública. Usuários da informação contábil governamental. Princípios fundamentais de contabilidade aplicados ao setor público. Plano de contas para entidades da administração pública, eventos e tabela de eventos. Sistemas de contabilidade pública. Escrituração na administração pública: procedimentos contábeis patrimoniais e específicos. Elaboração, análise e interpretação das demonstrações contábeis. Normas brasileiras de contabilidade do setor público (NBCT) e principais normas internacionais de contabilidade do setor público (IPSAS). CARGA HORÁRIA: Teoria: 60 h OBJETIVOS: Proporcionar ao aluno conhecimento necessário ao desempenho das atividades técnicas e acadêmicas do ramo da contabilidade aplicada ao setor público, dimensionando a importância da Contabilidade Pública como instrumento de avaliação e controle da ação governamental. COMPETÊNCIAS E HABILIDADES Ao término da disciplina o aluno será capaz de contabilizar os principais fatos decorrentes da ação dos gestores públicos, bem como evidenciar por meio das demonstrações contábeis básicas os resultados da administração orçamentária, financeira e patrimonial segundo as exigências das normas de contabilidade em vigor. METODOLOGIA: Aulas expositivas e dialogadas. Debates em sala de aula. Resolução de exercícios. Produção de resumos e resenhas. Trabalhos individuais e em grupo. AVALIAÇÃO: A aferição do aprendizado se processará após cada unidade, sendo constituída de prova escrita e trabalho individual e/ou de grupo. 2 CONTEÚDO PROGRAMÁTICO Unidade I – NOÇÕES PRELIMINARES DA CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO 4 1 CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO .................................................................. 4 1.1 Conceito, objetivos e campo de atuação da contabilidade pública ........................................... 4 1.2 Legislação contábil .................................................................................................................... 5 1.3 Usuários da informação contábil governamental (sociedade, gestores, órgãos de controle e fiscalização etc.) ................................................................................................................................. 8 1.4 Princípios fundamentais de contabilidade aplicados às operações governamentais ................. 8 1.5 Regimes Contábeis Aplicados ao Setor Público........................................................................ 8 2 PATRIMÔNIO PÚBLICO ................................................................................................................. 9 2.1 Composição do patrimônio público: ativo, passivo, VPA e VPD; variações quantitativas e qualitativas .......................................................................................................................................... 9 3 RECEITAS ORÇAMENTÁRIAS ...................................................................................................... 12 3.1 Definição, classificação, estágios, regime de contabilização, aspectos legais da receita, dívida ativa, reflexos contábeis da receita sobre o patrimônio público ............................................... 12 4 DESPESAS ORÇAMENTÁRIAS..................................................................................................... 20 4.1 Definição, classificação, estágios, regime de contabilização no enfoque patrimonial, aspectos legais da despesa, despesas especiais, dívida pública, reflexos contábeis sobre o patrimônio, princípios, licitações ............................................................................................................................ 20 5 EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA E FINANCEIRA............................................................................. 33 5.1 Créditos Orçamentários e Créditos Adicionais .......................................................................... 33 5.2 Execução Orçamentária ............................................................................................................ 34 5.3 Quadros de Detalhamento da Despesa e da Receita ............................................................... 35 5.4 Execução Financeira ................................................................................................................. 36 5.5 Fontes e Destinação de Recursos ............................................................................................. 38 6 EXECUÇÃO PATRIMONIAL INDEPENDENTE DA EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA ............... 39 6.1 Principais execuções patrimoniais independentes da execução orçamentária ..................... 39 Unidade II – CONTAS CONTÁBEIS PÚBLICAS ............................................................................... 40 7 PLANO DE CONTAS APLICADO AO SETOR PÚBLICO ............................................................... 40 7.1 Plano de contas, aspectos gerais, estrutura, relação e atributos das contas ............................. 40 7.2 Natureza da Informação Contábil ............................................................................................... 41 7.3 Elenco de Contas do Plano de Contas Aplicado ao Setor Público (3º nível) ............................. 42 7.4 Definições das Contas Públicas Patrimoniais ............................................................................ 44 7.5 Sistemas de Contabilidade Pública (Sistema Contábil) ............................................................. 45 7.6 Sistemas de contabilidade pública (antigo): sistema orçamentário, sistema financeiro, sistema patrimonial, sistema de custos e sistema de controle de atos e fatos.................................................. 45 8 CRITÉRIOS DE MENSURAÇÃO DE ATIVOS E PASSIVOS ......................................................... 46 8.1. Critérios de mensuração e avaliação de ativos e passivos na administração pública segundo as normas nacionais de contabilidade (NBCT 16.1 a 16.11) e normas internacionais de contabilidade (IPSAS): disponibilidades, créditos e obrigações, estoques, investimentos permanentes, imobilizado, intangível, exigíveis, provisões, reavaliação e ajuste ao valor recuperável (impairment), depreciação, amortização e exaustão etc. ............................................... 46 Unidade III – ESCRITURAÇÃO NA CONTABILIDADE GOVERNAMENTAL .................................. 49 9 REGISTROS CONTÁBEIS NO SETOR PÚBLICO ......................................................................... 49 9.1 Registros de atos e fatos administrativos (eventos) .................................................................. 49 10 PROCEDIMENTOS CONTÁBEIS ORÇAMENTÁRIOS ................................................................ 52 3 10.1 Contabilizaçãodas operações de execução orçamentária: previsão orçamentária inicial da receita, previsão adicional da receita, arrecadação da receita, anulação da receita prevista, dotação inicial, crédito suplementar, crédito anulado, crédito indisponível, provisão concedida, anulação de provisão concedida, empenho da despesa, reforço de empenho, anulação de empenho, repasses concedidos, anulação de repasses concedidos ................................................. 52 11 PROCEDIMENTOS CONTÁBEIS PATRIMONIAIS ...................................................................... 64 11.1 Contabilização de procedimentos patrimoniais típicos: reconhecimento de receitas e despesas sob o enfoque patrimonial; cancelamento de restos a pagar; apropriação de despesas; liquidação de obrigações; concessão e prestação de contas de suprimento de fundos; folha e pagamento de pessoal; movimentação de bens de almoxarifado; aquisição, incorporação e alienação de bens móveis e imóveis; depreciação, amortização e exaustão; créditos tributários, obrigações exigíveis etc. ..................................................................................................................... 64 12 PROCEDIMENTOS CONTÁBEIS ESPECÍFICOS ........................................................................ 70 12.1 Contabilização de procedimentos patrimoniais específicos: FUNDEB, contratos de PPP, dívida ativa, operações de crédito, ajuste ao valor recuperável e regime próprio de previdência social. ................................................................................................................................................. 70 12.2. Contabilização das relações entre o passivo exigível e as etapas da execução orçamentária. ....................................................................................................................................... 72 12.3 Contabilização das operações extraorçamentárias. ............................................................... 72 12.4 Registro integrado das transações básicas e específicas do setor público, inclusive registros de encerramento do exercício, objetivando a elaboração das demonstrações contábeis básicas: balanço patrimonial, demonstração das variações patrimoniais, balanço orçamentário, balanço financeiro e demonstração do fluxo de caixa. ....................................................................... 72 Unidade IV - NORMAS DO CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE (CFC) PARA O SETOR PÚBLICO .............................................................................................................................. 72 13.1 Principais NBC TSP ..................................................................................................................... 73 13.2 Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Informação Contábil de Propósito Geral pelas Entidades do Setor Público ............................................................................................. 73 Unidade V – DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS PÚBLICAS ............................................................. 74 14 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS ................................................................................................. 74 14.1 Lei 4.320/64 - Balanço Orçamentário, Balanço Patrimonial, Demonstração das Variações Patrimoniais, Balanço financeiro.......................................................................................................... 74 14.2 DCASP - Balanço Orçamentário, Balanço Patrimonial, Demonstração das Variações Patrimoniais, Balanço financeiro, Demonstração de Fluxo de Caixa, Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido........................................................................................................................... 81 14.3 Análise de conformidade das demonstrações contábeis. ...................................................... 85 Unidade VI – DEMONSTRATIVOS E RELATÓRIOS DA LRF .......................................................... 85 15 DEMONSTRATIVOS E RELATÓRIOS .......................................................................................... 85 15.1 Relatório Resumido da Execução Orçamentária (RREO) ..................................................... 85 15.2 Relatório de Gestão Fiscal (RGF). ......................................................................................... 102 Unidade VII - COMPLEMENTAR: SIAFI/SIAFEM E SIASG ............................................................. 107 16 SIAFI/SIAFEM ................................................................................................................................. 107 17 SIASG ............................................................................................................................................. 115 Unidade VIII – Exercícios ................................................................................................................... 118 GLOSSÁRIO ........................................................................................................................................ 118 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 121 4 Unidade I – NOÇÕES PRELIMINARES DA CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO 1 CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO 1.1 Conceito, objetivos e campo de atuação da contabilidade pública A contabilidade é uma ciência social com objeto de estudo próprio – o patrimônio das entidades, que o estuda nos seus aspectos quantitativos e qualitativos. Não existem diversas contabilidades, e sim ramos ou especializações da ciência contábil no intuito de facilitar o entendimento do estudo do patrimônio. A contabilidade governamental baseia-se na crença de que a cidadania tem o direito de receber abertamente fatos que podem levar ao debate público pelos cidadãos e os seus representantes eleitos. Os relatórios financeiros desempenham um papel importante no cumprimento do dever do governo para ser publicamente responsável em uma sociedade democrática (WILSON; RECK; KATTELUS, 2010). A contabilidade governamental é uma área especializada que sofreu mudanças significativas ao longo das últimas décadas. As normas de contabilidade têm desenvolvido e as complexidades de preparação das demonstrações financeiras de entidades governamentais têm aumentado. A preparação de informações financeiras significativas para uma ampla gama de usuários não é uma tarefa fácil (ISTVÁNFYOVÁ; MEJZLÍK, 2010). A contabilidade governamental é o ramo da ciência contábil que trata de prestar informações econômicas, financeiras, orçamentárias que afetam o patrimônio das entidades públicas que são regidas pelo Direito Público. Os termos contabilidade pública, contabilidade governamental, contabilidade aplicada ao setor público, contabilidade do setor público, contabilidade das instituições públicas têm o mesmo significado: - mostrar a responsabilidade do Estado perante os cidadãos e contribuir com a melhor informação para as decisões democráticas sobre as finanças públicas (TAO, 2012); - subsidiar a administração pública na avaliação de resultados obtidos na execução dos programas de trabalho com relação à economicidade, à eficiência, à eficácia e à efetividade (SILVA, 2009). A contabilidade governamental têm como objetivos fornecer aos usuários da Administração Pública informações sobre: o acompanhamento da execução do orçamento (realização de receitas e despesas); o montante dos créditos orçamentários vigentes, a despesa empenhada, as dotações disponíveis, as operações de crédito, a dívida ativae passiva, as obrigações constituídas, a composição patrimonial (bens, direitos, valores e obrigações), a determinação dos custos dos serviços industriais, o levantamento dos balanços gerais, a análise e interpretação dos resultados econômicos e financeiros, a situação de todos quantos, de qualquer modo, arrecadem receitas, efetuem despesas, administrem ou guardem bens pertencentes à Fazenda Pública e os processos de tomada e prestações de contas. No Brasil, a contabilidade aplicada à Administração Pública, consubstanciada na Lei nº. 4.320, de 17 de março de 1964 (BRASIL, 1964), seja na área Federal, Estadual, Municipal e no Distrito Federal, aplica-se aos seguintes órgãos e entidades integrantes da Administração Direta e Indireta (Direito Público): 5 ADMINISTRAÇÃO DIRETA ADMINISTRAÇÃO INDIRETA - Poder Executivo: União, Estados, Distrito Federal, Municípios, Ministérios e Secretarias; - Poder Legislativo: União, Estados, Distrito Federal, Municípios, incluindo os Tribunais de Contas; - Poder Judiciário: União, Estados, incluindo o Ministério Público. - Autarquias, incluindo as Agências Reguladoras; - Fundações Públicas; - Empresas Dependentes (somente aquelas que recebem recursos do orçamento público para custeio e investimentos específicos). Fonte: elaboração própria. A contabilidade governamental diferentemente do que ocorre na contabilidade privada (financeira) abrange uma diversidade de áreas de estudo que são consideradas relevantes para que se possa entender a sua finalidade, aplicação, mensuração e até mesmo compreender os tipos de usuários a que se destinam as informações contábeis públicas. No setor público é observado estritamente o que está escrito na lei, ou seja, o sistema jurídico denominado de civil law (romano-cristão) prevalece, onde concebe o direito como regras gerais e abstratas de conduta previamente editadas (normas legais). Na contabilidade do setor privado existe certa flexibilidade nas normas contábeis (NIYAMA, SILVA; 2008), enquanto que na contabilidade pública o grau de discricionariedade é menor. Para compreender a contabilidade governamental é necessário conhecer a legislação aplicável, a composição do Estado, organização da administração, funções do Estado, controles existentes, controladoria pública, gestão das finanças públicas, processos de prestação e tomadas de contas, orçamento público (Plano Plurianual, Lei de Diretrizes Orçamentárias, Lei Orçamentária Anual, Processo Orçamentário, Princípios Orçamentários, etc.), créditos orçamentários, créditos adicionais, dívida pública, programação de recursos públicos, etc. É necessário também elencar as diferenças entre as duas contabilidades (privada e governamental). Convém ressaltar a importância do estudo do orçamento público para compreender a contabilidade governamental, visto que os atos e fatos orçamentários poderão afetar o patrimônio público. 1.2 Legislação Contábil A legislação sobre contabilidade governamental está consubstanciada na própria Constituição Federal de 1988 (Art. 70 – fiscalização contábil, financeira, orçamentária e patrimonial), Lei Complementar (Lei 4.320/64, LC 101/2000), Lei Ordinária, Decretos, Portarias (Portaria 42/1999 do MPOG, a Portaria Interministerial 163/STN-SOF/2001), Instruções Normativas, Resoluções do Conselho Federal de Contabilidade, Manuais de Contabilidade Aplicada ao Setor Público, Plano de Contas Aplicado ao Setor Público. Lei 4320/1964 A referida lei foi editada em 17 de março de 1964 e estatui normas gerais de direito financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. Praticamente toda a lei encontra-se em vigor (parte contábil), salvo alguns ajustes já realizados e outros que deveriam ser feitos, principalmente pelo largo tempo em que se encontra em vigor. As demonstrações contábeis públicas são elaboradas de acordo com a referida lei, mas segundo Mota (2002), atualmente a Secretaria do Tesouro Nacional utiliza metodologia adaptada pela Lei nº. 6.404, de 15 de dezembro de 1976 (Lei das Sociedades Anônimas) para a composição e estrutura das demonstrações. LC 101/2000 A Lei Complementar nº. 101, de 04 de maio de 2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF) representa um conjunto de normas e princípios de: - limites de gastos com pessoal; - limites para o endividamento público; - definição de metas fiscais anuais; - mecanismos de compensação para despesas de caráter continuado; - mecanismos para controle das finanças públicas em ano de eleição. 6 - mecanismo de ajuste das dotações orçamentárias à realidade do fluxo financeiro; e - condições para a renúncia de receitas. Segundo Lino (2001), a LRF estabeleceu um novo tempo de equilíbrio orçamentário pela compreensão de que a crise fiscal do Estado pós-moderno somente será solucionada por um gastar moderado, apenas do que se arrecada. Matias-Pereira (2006) ao comentar os cinco anos decorridos da edição da LRF argumenta que a mesma ainda está em processo de consolidação, visto que diversos Estados e Municípios com problemas sérios de finanças públicas não conseguiram alcançar o patamar mínimo em termos de qualificação na gestão pública e na prestação de contas. De acordo com Santos (2008), as bases de instituição da LRF são: transparência (controle social) e responsabilidade e para Silva (2004) são: planejamento, transparência, controle e a responsabilização. A LRF estabeleceu várias normas, limites e controles de gastos. Os mais relevantes são: - normas relativas à Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), Lei Orçamentária Anual (LOA), execução orçamentária e cumprimento de metas; - concessões de renúncia de receita; - despesa obrigatória de caráter continuado; - despesas com pessoal (50% da receita corrente líquida para a União: Três Poderes, Ministério Público e Tribunal de Contas da União e de 60% para Estados e Municípios); - os benefícios ou serviços relativos à seguridade social (saúde, previdência e assistência social) não poderão ser criados, majorados ou estendidos sem a indicação da fonte de custeio total (art. 24); - condições para transferências voluntárias de recursos correntes e de capital; - a destinação de recursos para o setor privado deverá ser autorizada por lei específica, atender às condições estabelecidas na Lei de Diretrizes Orçamentárias e estar prevista no orçamento ou em seus créditos adicionais; - limites de gastos com serviços de terceiros para o Poder Executivo (art. 72); - limites da dívida e do endividamento do setor público; - condições para a contração de operações de crédito e das operações de crédito por antecipação de receita orçamentária; - condições para inscrição de despesas de restos a pagar por ocasião do último ano de mandato; - criou restrições para inclusão de novos projetos na Lei Orçamentária Anual (LOA) e de créditos adicionais, sem antes atender aqueles projetos que se encontram em andamento (obras inacabadas) e contempladas as despesas de conservação do patrimônio público. A LRF instituiu os instrumentos fundamentais para o controle fiscal: - planejamento de ações: Plano Plurianual, Lei de Diretrizes Orçamentárias e Lei Orçamentária Anual; - acompanhamento e avaliação das ações de forma concomitante: Relatório Resumido da Execução Orçamentária, o Relatório de Gestão Fiscal e a posteriori a Prestação de Contas do Governo e seu respectivo parecer prévio. De acordo com Matias-Pereira (2006), a essência da LRF é propiciar o aumento da transparência na gestão do gasto público, permitindo que os mecanismos de mercado e o processo político sirvam como instrumento de controle e punição dos governantes que não agirem de maneira correta.7 Portaria 42/1999 – MPOG A Portaria nº 42, de 14 de abril de 1999, do Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão, atualiza a discriminação das despesas do governo por funções e conceitua: - Função - deve entender-se o maior nível de agregação das diversas áreas de despesa que competem ao setor público; - Subfunção - representa uma partição da função, visando a agregar determinado subconjunto de despesa do setor público; - Programa - o instrumento de organização da ação governamental visando à concretização dos objetivos pretendidos, sendo mensurado por indicadores estabelecidos no plano plurianual; - Projeto - um instrumento de programação para alcançar o objetivo de um programa, envolvendo um conjunto de operações, limitadas no tempo, das quais resulta um produto que concorre para a expansão ou o aperfeiçoamento da ação de governo; - Atividade - um instrumento de programação para alcançar o objetivo de um programa, envolvendo um conjunto de operações que se realizam de modo contínuo e permanente, das quais resulta um produto necessário à manutenção da ação de governo; - Operações Especiais - as despesas que não contribuem para a manutenção das ações de governo, das quais não resulta um produto, e não geram contraprestação direta sob a forma de bens ou serviços. Abaixo uma tabela com as principais funções e subfunções do Governo: FUNÇÕES SUBFUNÇÕES Legislativa Ação legislativa Controle Externo Judiciária Ação Judiciária Defesa de Interesse público no Processo Judiciário Administração Planejamento e Orçamento Administração Geral Administração Financeira Controle Interno Normatização e Fiscalização Tecnologia da Informação Ordenamento Territorial Formação de Recursos Humanos Administração de Receitas Administração de Concessões Comunicação Social Defesa Nacional Defesa Área Defesa Naval Defesa Terrestre Saúde Atenção Básica Assistência Hospitalar e Ambulatorial Suporte Profilático e Terapêutico Vigilância Sanitária Vigilância Epidemiológica Alimentação e Nutrição Encargos Especiais Refinanciamento da Dívida Interna Refinanciamento da Dívida Externa Serviço da Dívida Interna Serviço da Dívida Externa Transferências Outros Encargos Especiais Fonte: Adaptado da Portaria nº. 42/1999 – MPOG (BRASIL, 1999). 8 Portaria Interministerial 163/STN-SOF/2001 A Portaria Interministerial nº 163/STN-SOF, de 04 de maio de 2001 dispõe sobre as normas de consolidação das Contas Públicas no âmbito da União, Estados, Distrito Federal e dos Municípios e a uniformização da classificação orçamentária da receita e da despesa pública. A receita orçamentária é classificada em receitas correntes e receitas de capital e a classificação da despesa orçamentária em despesas correntes e despesas de capital. 1.3 Usuários da informação contábil governamental (sociedade, gestores, órgãos de controle e fiscalização etc.) De acordo com o GASB (1985) apud Silva (2004) os grupos e os tipos de usuários das informações contábeis públicas são: Grupos de usuários Tipos de usuário Cidadãos Contribuintes; eleitores; usuários dos serviços; mídia (rádio, televisão, jornal); associações e grupos de defesa do cidadão; estudiosos de finanças públicas. Membros do Legislativo Federal – Câmara Federal e Senado – TCU; Estadual – Assembleias Legislativas – Tribunais de Contas; Municipal – Câmara dos Vereadores – Tribunais de Contas/Conselhos de Contas. Investidores e credores Investidores institucionais; fornecedores e prestadores de serviços; agências de classificação de riscos e instituições financeiras. Fonte: Adaptado de Silva (2004). De acordo com Silva (2004) o estudo não incluiu os gerentes, executivos e administradores das entidades públicas, visto serem os responsáveis pela elaboração dos relatórios. Ao conjunto de usuários listados acima deve ser acrescentado os responsáveis pela elaboração dos demonstrativos públicos. Deve-se ressaltar a ênfase dada pelo Artigo 49 da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) ao usuário com direito a consultar e apreciar as contas apresentadas pelo Chefe do Poder Executivo: os cidadãos. Os objetivos da elaboração e divulgação da informação contábil estão relacionados ao fornecimento de informações sobre a entidade do setor público que são úteis aos usuários dos Relatórios Contábeis de Propósito Geral das Entidades do Setor Público (RCPGs) para a prestação de contas e responsabilização (accountability) e tomada de decisão (2016/NBCTSPEC). 1.4 Princípios fundamentais de contabilidade aplicados às operações governamentais Os princípios fundamentais de contabilidade foram revogados a partir de 2017 (NORMA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE – NBC TSP ESTRUTURA CONCEITUAL, DE 23 DE SETEMBRO DE 2016). 1.5 Regimes Contábeis Aplicados ao Setor Público Regime contábil é a expressão utilizada para verificar o momento da escrituração contábil dos fatos administrativos. Existem nas práticas contábeis diversos regimes contábeis. No Brasil os três tipos de regimes contábeis conhecidos são: - regime de caixa – reconhece as receitas do período nele arrecadadas (recebidas) e as despesas nele pagas. - regime de competência ou de exercício – reconhece as receitas e despesas do período nele incorridas (fato gerador efetivo dentro do exercício). - regime misto – regime contábil que mescla o regime de caixa e o de competência. 9 Regime financeiro traduz a metodologia relacionada com os procedimentos de controle escritural e contábil, adaptada às peculiaridades da entidade e adotada para a imputação das receitas e despesas oriundas das transações praticadas em um período financeiro, no sentido de se determinar o resultado da gestão patrimonial. Os regimes contábeis e financeiros são termos equivalentes. No setor privado prevalece universalmente o regime de competência. No setor público brasileiro, observa-se com base nos Art. 35 da Lei 4320/64 e Art. 50 da LRF, a aplicação do regime misto (caixa para receitas e competência para despesas com base na emissão da nota de empenho) para a elaboração do orçamento (enfoque orçamentário). No enfoque patrimonial utiliza-se o regime de competência para os registros de todas as operações que resultem débitos e créditos não compreendidos na execução orçamentária conforme preceitua os Art. 83 (princípio da evidenciação) e 93 (princípio da universalidade dos registros). Regimes contábeis aplicados ao setor público brasileiro Enfoque Orçamentário Regime misto: caixa para receitas e competência para despesas com base na emissão da nota de empenho Enfoque Patrimonial Regime de competência A interpretação sobre o regime orçamentário e patrimonial encontra-se regulamentado pela Portaria Conjunta nº. 3 – STN/SOF, de 14 de outubro de 2008 que aprova os Manuais de Receita Nacional e Despesa Nacional. De acordo com o MCASP 7ª edição, a Contabilidade Aplicada ao Setor Público, assim como qualquer outro ramo da ciência contábil, obedece aos princípios de contabilidade. Dessa forma, aplica-se o princípio da competência em sua integralidade, ou seja, os efeitos das transações e outros eventos são reconhecidos quando ocorrem, e não quando os recursos financeiros são recebidos ou pagos. Assim, o art. 35 da Lei nº 4.320/1964 refere-se ao regime orçamentário e não ao regime contábil (patrimonial) aplicável ao setor público para reconhecimento de ativos e passivos. Dessa forma, a Lei nº 4.320/1964, nos arts. 85, 89, 100 e 104, determina que as variações patrimoniais devam ser evidenciadas, sejam elas independentes ou resultantes da execução orçamentária. Regimes da Contabilidade Aplicada ao Setor Público Contas de Natureza de Informação Orçamentária Contas deNatureza de Informação Orçamentária Evento Critério Base Normativa Evento Critério Base Normativa Receita Orçamentária Arrecadação Lei nº 4.320/1964 - art. 35 Variação Patrimonial Aumentativa Competência NBC TSP – Estrutura Conceitual Despesa Orçamentária Empenho Lei nº 4.320/1964 - art. 35 Variação Patrimonial Diminutiva Competência NBC TSP – Estrutura Conceitual Fonte: Adaptado do MCASP 7ª edição (BRASIL, 2016). 2 PATRIMÔNIO PÚBLICO 2.1 Composição do patrimônio público: ativo, passivo, VPA e VPD; variações quantitativas e qualitativas O Patrimônio Público tem um conceito com uma visão um pouco diferente do Patrimônio de uma empresa, definindo-se da forma que segue: o Patrimônio do Estado constitui o conjunto de bens, valores, créditos e 10 obrigações de conteúdo econômico e avaliáveis em moeda que a Fazenda Pública possui e utiliza na consecução dos seus objetivos (BEZERRA FILHO, 2004). Patrimônio público é o conjunto de direitos e bens, tangíveis ou intangíveis, onerados ou não, adquiridos, formados, produzidos, recebidos, mantidos ou utilizados pelas entidades do setor público, que seja portador e represente um fluxo de benefícios, presente ou futuro, inerente à prestação de serviços públicos ou à exploração econômica por entidades do setor público e suas obrigações. O patrimônio público é estruturado em três grupos: (a) Ativos são recursos controlados pela entidade como resultado de eventos passados e do qual se espera que resultem para a entidade benefícios econômicos futuros ou potencial de serviços; (b) Passivos são obrigações presentes da entidade, derivadas de eventos passados, cujos pagamentos se esperam que resultem para a entidade saídas de recursos capazes de gerar benefícios econômicos ou potencial de serviços; (c) Patrimônio Líquido é o valor residual dos ativos da entidade depois de deduzidos todos seus passivos. As variações patrimoniais são transações que promovem alterações nos elementos patrimoniais da entidade do setor público, mesmo em caráter compensatório, afetando ou não o seu resultado. As variações patrimoniais podem ser classificadas em: a) Quantitativas: são aquelas decorrentes de transações no setor público que aumentam ou diminuem o patrimônio líquido. b) Qualitativas: são aquelas decorrentes de transações no setor público que alteram a composição dos elementos patrimoniais sem afetar o patrimônio líquido. As variações patrimoniais quantitativas subdividem-se em: a) Variações Patrimoniais Aumentativas (VPA): quando aumentam o patrimônio líquido (receita sob o enfoque patrimonial); b) Variações Patrimoniais Diminutivas (VPD): quando diminuem o patrimônio líquido (despesa sob o enfoque patrimonial). No aspecto qualitativo o Patrimônio Público é o conjunto dos elementos ou espécies constituídas de: bens, valores, direitos e obrigações. – Bens são coisas capazes de satisfazer as necessidades das pessoas, das empresas, das entidades públicas. Os bens representam o conjunto de meios pelos qual o Estado desenvolve suas atividades de prestação de serviços à comunidade. São divididos em bens de uso comum; bens de uso especial e bens dominiais ou dominicais, conforme tabela abaixo: BENS PÚBLICOS Bens de Uso Comum São os imóveis de domínio público que não são apropriados contabilmente ao Patrimônio Estatal, constituindo assim o Patrimônio Comunitário ou Social. Podem ser: naturais: praias, quedas d ‘águas, rios, lagos, etc.; e construídos pela ação do homem: ruas, estradas, pontes, praças, etc. Os bens de uso comum possuem as seguintes características: - não permanecem contabilizados após a entrega ao domínio público; - não são inventariados ou avaliados; - não podem ser alienados; - são impenhoráveis e imprescritíveis; - o uso pode ser oneroso ou gratuito; - são excluídos do Patrimônio da instituição. 11 Bens de Uso Especial São bens destinados ao uso das repartições públicas, como instrumentos do Estado para a prestação de serviços à comunidade: Hospitais, Museus, Bibliotecas, Instalações Militares, Residências Oficiais, Prédios Escolares, Prédios Administrativos, com seus mobiliários e/ou equipamentos etc.; são bens de uso duradouro e apropriáveis ao patrimônio, dividindo-se em: - Bens Móveis: mobiliários, utensílios, equipamentos, veículos, aeronaves, etc.; - Bens Semoventes: animais destinados a produção, trabalho, reprodução, etc.; - Bens Imóveis: terrenos urbanos, propriedades rurais, prédios, salas, etc. Os bens de uso especial têm as seguintes características: - são contabilizados; - são inventariados e avaliados; - são inalienáveis quando empregados no serviço público; nos demais casos são alienáveis, mas sempre nos casos e na forma que a lei estabelecer; - são incluídos no patrimônio da instituição. Bens Dominiais ou Dominicais São os bens que integram o domínio público com características diferentes, pois podem ser utilizados em qualquer fim, ou mesmo alienados se a administração julgar conveniente. Os bens dominiais possuem as seguintes características: - estão sujeitos à contabilização; - são inventariados e avaliados; - podem ser alienados nos casos e na forma que a lei estabelecer; - estão incluídos no patrimônio da instituição; - dão e podem produzir renda. Fonte: elaboração própria – Valores são os estoques de materiais destinados ao consumo, transformação, venda ou revenda; ações; títulos de créditos; documentos representando valores; apólices, debêntures, joias, etc. – Créditos são valores que o Estado tem a receber de terceiros. Exemplos: Dívida Ativa, que se referem aos tributos, multas e outros valores lançados e que não foram arrecadados dentro do exercício; Empréstimos Concedidos (exemplo: Crédito Educativo) e os Resíduos Financeiros (exemplos: depósitos bancários não creditados, pagamentos efetuados a maior ou indevidamente, saldo de Suprimento de Fundos, etc.). – Obrigações é o conjunto das dívidas do Estado para com terceiros, divididas em: Dívida Pública – Lei 4.320/64 Dívida Pública não Consolidada ou Flutuante - Restos a pagar, excluídos os serviços da dívida; - Serviços da dívida a pagar, - Depósitos - Débitos de tesouraria; Dívida Pública Consolidada ou Fundada (exigibilidade superior a doze meses) - Dívida Interna, - Dívida Externa. Fonte: Adaptado da Lei nº. 4.320/64 (BRASIL, 1964). A Lei de Responsabilidade Fiscal confere ainda as seguintes definições para dívidas públicas especificas (Art. 29, II, III, IV e V): 12 Dívida Pública – LC 101/2000 Dívida pública mobiliária Títulos emitidos pela União, inclusive os do Banco Central do Brasil, Estados e Municípios. Operação de Crédito Compromisso financeiro assumido em razão mútuo, abertura de crédito, emissão e aceite de títulos, aquisição financiada de bens e serviços, arrendamento mercantil e outras operações assemelhadas, inclusive com o uso de derivados financeiros. Concessão de garantia Compromisso de adimplência de obrigação financeira ou contratual assumida por ente da Federação ou entidade a ele vinculada. Refinanciamento da dívida mobiliária Emissão de títulos para pagamento do principal acrescido da atualização monetária. Fonte: Adaptado da Lei Complementar nº. 101/2000 (BRASIL, 2000). No estudo quantitativo, o patrimônio é visto como um fundo de valores, ou seja, o agrupamento de vários componentes do patrimônio nos três elementos básicos da equação patrimonial: Ativo – Passivo = Saldo Patrimonial, avaliados monetariamente. O ativo é composto de ativo real (financeiro e não financeiro) e passivoreal (financeiro e não financeiro) e o patrimônio líquido. No ativo e passivo são também incluídas as compensações ativas e passivas em valores iguais. Denomina-se inventário a relação de todos os elementos ativos e passivos componentes do patrimônio com a indicação do valor. Silva (2004) argumenta que os inventários na administração pública devem ser levantados não apenas por uma questão de rotina ou de disposição legal, mas também como medida de controle, tendo em vista que os bens neles arrolados não pertencem a uma pessoa física, mas ao Estado, e precisam estar resguardados quanto a quaisquer danos. Os inventários dos bens deverão ser realizados por ocasião do Balanço Anual. De acordo com o Artigo 106 da Lei nº. 4.320/64 (BRASIL, 1964) os bens de almoxarifado são avaliados pelo preço médio ponderado das compras, os bens móveis e imóveis pelo valor de aquisição ou pelo custo de produção ou construção. 3 RECEITAS ORÇAMENTÁRIAS 3.1 Definição, classificação, estágios, regime de contabilização, aspectos legais da receita, dívida ativa, reflexos contábeis da receita sobre o patrimônio público. Definição Para fazer face a suas necessidades, o Estado dispõe de recursos ou rendas que lhe são entregues pela contribuição da coletividade. De acordo com Silva (2004), as receitas públicas correspondem ao ingresso de recursos que, integrando-se ao patrimônio público sem quaisquer reservas, condições ou correspondências no passivo, vem acrescentar seu vulto como elemento novo e positivo. Os ingressos de recursos públicos responsáveis pelo financiamento dos gastos do Estado provêm de impostos, atividade produtiva do Estado, do crédito ou de empréstimos realizados. No setor governamental, a receita é auferida independentemente da ocorrência de um gasto. Portanto, enquanto no setor privado é preciso incorrer em gastos para arrecadar, no setor público arrecada-se necessariamente para gastar (ARAÚJO; ARRUDA, 2004). Na teoria contábil (IUDÍCIBUS, 2000) entende-se por receita a entrada de elementos para o ativo, sob forma de dinheiro ou direitos a receber, correspondente, normalmente, à venda de mercadorias, de produtos ou à prestação de serviços. A receita deve ainda ser validada pelo mercado. Mota (2006) destaca como característica das receitas públicas a representação de um elemento novo e positivo que enriquece o patrimônio público. Desse modo, as doações recebidas em dinheiro são classificadas como receitas, mesmo sem serem previsíveis como receitas do orçamento. 13 Andrade (2007) define receita pública como todo e qualquer recolhimento aos cofres públicos em dinheiro ou outro bem representativo de valor que o governo tem direito de arrecadar em virtude de leis, contratos etc. O conceito de receita pública não atende ao conceito da teoria contábil sobre a receita, visto que a mesma não corresponde de forma global à venda de mercadorias, de produtos ou à prestação de serviço e também, não é validada pelo mercado. Na receita pública há uma imposição do Estado sobre o seu recolhimento (tributos), embora exista as receitas provenientes da exploração do patrimônio público e a prestação de serviços, mas que também são arbitrados pelo Governo. São consideradas receitas públicas também, os empréstimos e financiamentos (operações de créditos) obtidos pelo Governo para financiar determinados investimentos. Tais receitas também não atendem a teoria contábil da receita. No orçamento a receita pública é estimada para chegar ao nivelamento entre receitas e despesas. Não existe uma limitação para o poder público arrecadar. As receitas públicas são as entradas de recursos financeiros para os cofres públicos, provenientes de imposições legais ou de prestação de serviços e fornecimento de bens em que não haja a necessidade de atender condições ou obrigações de restituição por parte da entidade pública. O conceito de receita extraorçamentária referente à entrada de recursos temporários, tais como salários não reclamados, consignações, depósitos de terceiros, etc., não atende ao conceito da teoria contábil, nem tampouco deveria ser utilizado este conceito no setor público. Deveriam ser classificados apenas como recursos financeiros transitórios. De acordo com o MCASP 7ª Edição, o orçamento é um importante instrumento de planejamento de qualquer entidade, seja pública ou privada, e representa o fluxo previsto de ingressos e de aplicações de recursos em determinado período. A matéria pertinente à receita vem disciplinada no art. 3º, conjugado com o art. 57, e no art. 35 da Lei nº 4.320/1964: Art. 35. Pertencem ao exercício financeiro: I - as receitas nele arrecadadas; II - as despesas nele legalmente empenhadas Em sentido amplo, os ingressos de recursos financeiros nos cofres do Estado denominam-se receitas públicas, registradas como receitas orçamentárias, quando representam disponibilidades de recursos financeiros para o erário, ou ingressos extraorçamentários, quando representam apenas entradas compensatórias. Em sentido estrito, chamam-se públicas apenas as receitas orçamentárias (MCASP 7ª Edição). Em sentido estrito, chamam-se públicas apenas as receitas orçamentárias. Ingressos extraorçamentários são recursos financeiros de caráter temporário, do qual o Estado é mero agente depositário. Sua devolução não se sujeita a autorização legislativa, portanto, não integram a Lei Orçamentária Anual (LOA). Por serem constituídos por ativos e passivos exigíveis, os ingressos extraorçamentários, em geral, não têm reflexos no Patrimônio Líquido da Entidade. Receitas Orçamentárias são disponibilidades de recursos financeiros que ingressam durante o exercício e que aumentam o saldo financeiro da instituição. Instrumento por meio do qual se viabiliza a execução das políticas públicas, as receitas orçamentárias são fontes de recursos utilizadas pelo Estado em programas e ações cuja finalidade precípua é atender às necessidades públicas e demandas da sociedade. Essas receitas pertencem ao Estado, transitam pelo patrimônio do Poder Público e, via de regra, por força do princípio orçamentário da universalidade, estão previstas na Lei Orçamentária Anual – LOA. Classificação doutrinária Os enfoques mais consagrados pela doutrina, segundo Silva (2004) e Jund (2008) são: a) quanto à natureza - receitas orçamentárias: recursos financeiros arrecadados pela lei orçamentária (tributos, contribuições, etc.); 14 - receitas extraorçamentárias: não são receitas e sim ingressos temporários de terceiros (depósitos, consignações, etc.). b) quanto à categoria econômica: - receitas correntes: receitas para manutenção das instituições públicas; - receitas de capital: receitas para cobertura de investimentos. c) quanto ao poder de tributar: - federal, estadual, distrital e municipal. d) quanto à afetação patrimonial: - receitas efetivas: receitas que alteram o patrimônio (fato modificativo – receitas correntes); - receitas por mutações patrimoniais: não alteram o patrimônio (fato permutativo – receitas de capital). e) quanto à regularidade: - ordinárias: provenientes de ingressos permanentes e estáveis (receitas de impostos e taxas, contribuições, etc.); - extraordinárias: ingressos excepcionais (impostos por motivo de guerra, empréstimos compulsórios). f) quanto à coercitividade: - originária ou de economia privada: receita cobrada de preço de bens e serviços prestados (prestação de serviços de luz, água, etc.); - derivada ou de economia pública: receita proveniente do poder de tributar (tributos, contribuições, empréstimos compulsórios, etc.). Mota (2006) classifica as receitas orçamentárias em: Receitas orçamentárias Clássica ou alemã Receitas originárias e receitas derivadas; Institucional Identificar os recursos arrecadadosou colocados a sua disposição; Econômica Quanto à natureza: correntes e de capital; Fontes de recursos Recursos do Tesouro: - 100 – Recursos Ordinários; - 150 – Recursos diretamente arrecadados; - 192 – Saldos de Exercícios Anteriores – Tesouro Nacional Recursos de outras fontes: - 246 – Operações de Crédito. - 292 – Saldos de Exercícios Anteriores; - 296 – Doações de Pessoas ou Instituições Nacionais. Fonte: Adaptado de Mota (2006). Classificação legal A Lei 4.320/64 classifica a receita quanto à categoria econômica em: - receitas correntes: receitas para manutenção das instituições públicas, divididas em: receitas tributárias: impostos, taxas e contribuições de melhorias; receitas de contribuições: COFINS, salário- educação, SESI, SENAI, SENAC, CIDE-combustíveis, etc.; receita patrimonial: receitas imobiliárias, receitas de concessões e permissões, etc.; receita agropecuária: receita de produção vegetal e animal, etc., receita industrial: receitas de indústrias de construção e transformação; receitas de serviços: transporte, saúde, comunicação, portuário, armazenagem, de inspeção e fiscalização, judiciário, processamento de dados, vendas de mercadorias e produtos, etc.; transferências correntes: cotas-parte de Estados, Municípios e do DF e outras receitas correntes: multas e juros. - receitas de capital: receitas para cobertura de investimentos (operações de crédito, alienação de bens, amortização de empréstimos e transferências de capital). 15 Receitas de Operações Intraorçamentárias (MCASP 7ª Edição): Operações intraorçamentárias são aquelas realizadas entre órgãos e demais entidades da Administração Pública integrantes do orçamento fiscal e do orçamento da seguridade social do mesmo ente federativo; por isso, não representam novas entradas de recursos nos cofres públicos do ente, mas apenas movimentação de receitas entre seus órgãos. As receitas intraorçamentárias são a contrapartida das despesas classificadas na Modalidade de Aplicação “91 – Aplicação Direta Decorrente de Operação entre Órgãos, Fundos e Entidades Integrantes do Orçamento Fiscal e do Orçamento da Seguridade Social” que, devidamente identificadas, possibilitam anulação do efeito da dupla contagem na consolidação das contas governamentais. Dessa forma, a fim de se evitar a dupla contagem dos valores financeiros objeto de operações Intraorçamentárias na consolidação das contas públicas, a Portaria Interministerial STN/SOF nº 338/2006, incluiu as “Receitas Correntes Intraorçamentárias” e “Receitas de Capital Intraorçamentárias”, representadas, respectivamente, pelos códigos 7 e 8 em suas categorias econômicas. Essas classificações, segundo disposto pela Portaria que as criou, não constituem novas categorias econômicas de receita, mas apenas especificações das Categorias Econômicas “Receita Corrente” e “Receita de Capital”. Categoria Econômica da Receita 1. Receitas Correntes 7. Receitas Correntes Intraorçamentárias 2. Receitas de Capital 8. Receitas de Capital Intraorçamentárias Fonte: Adaptado do MCASP 7ª Edição (BRASIL, 2016). A classificação econômica da receita de acordo com Mota (2006) é realizada em categoria econômica, subcategoria, fonte, rubrica, aliena e subalínea. A Portaria Interministerial no 163, de 04 de maio de 2001 determina que o código da natureza da receita é definida pela estrutura “a.b.c.d.dd.d.e”, onde: I - “a” identifica a Categoria Econômica da receita; II - “b” a Origem da receita; III - “c” a Espécie da receita; IV - “d” corresponde a dígitos para desdobramentos que permitam identificar peculiaridades ou necessidades gerenciais de cada natureza de receita; e V - “e” o Tipo da Receita, sendo: a) “0”, quando se tratar de natureza de receita não valorizável ou agregadora; b) “1”, quando se tratar da arrecadação Principal da receita; c) “2”, quando se tratar de Multas e Juros de Mora da respectiva receita; d) “3”, quando se tratar de Dívida Ativa da respectiva receita; e e) “4”, quando se tratar de Multas e Juros de Mora da Dívida Ativa da respectiva receita. f) “5” a “9”, quando se tratar de outros desdobramentos a serem criados, caso a caso, pela Secretaria de Orçamento Federal. 16 Classificação econômica da receita Exemplo de classificação: 1.1.1.3.01.1.0 a.b.c.d1.dd2.d3.e 1 - Categoria econômica: receitas correntes. 1 - Origem: receita tributária. 1 - Espécie: impostos. 3.01.1 - Desdobramentos: imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza 0 - Tipo de Receita: imposto sobre a renda de pessoa física - IRPF Fonte: Adaptado da Portaria Interministerial 163/2001 (BRASIL 2001). O Manual Técnico de Orçamento 2009 (MTO 2009) classifica as receitas púbicas originárias (provenientes do próprio patrimônio do Estado) em: - patrimoniais (rendas geradas do patrimônio do Estado, tais como: rendas de aluguéis, venda de bens, etc.); e - empresariais (provenientes das atividades realizadas pelo Estado como empresário seja no âmbito comercial, industrial ou de prestação de serviços). O Manual Técnico de Orçamento 2009 ainda classifica as receitas por fonte de recursos, por grupos, por identificador de resultado primário e receitas que financiam a seguridade social. A Portaria n°. 338, da STN/SOF, de 26 de abril de 2006 (BRASIL, 2006) acrescenta as classificações de Receitas Correntes Intra-Orçamentárias e Receitas de Capital Intra-Orçamentárias para atender o Parágrafo 1º. do art. 50 da LRF. A definição de operações intraorçamentárias são as que resultem de despesas de órgãos, fundos, autarquias, fundações, empresas estatais dependentes e outras entidades integrantes dos orçamentos fiscal e da seguridade social decorrentes da aquisição de materiais, bens e serviços, pagamento de impostos, taxas e contribuições, quando o recebedor dos recursos também for órgão, fundo, autarquia, fundação, empresa estatal dependente ou outra entidade constante desses orçamentos, no âmbito da mesma esfera de governo. O detalhamento das classificações orçamentárias da receita, no âmbito da União, é normatizado por meio de portaria da Secretaria de Orçamento Federal (SOF), órgão do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) - (MCASP 7ª Edição). As receitas orçamentárias são classificadas segundo os seguintes critérios: a. Natureza; b. Fonte/Destinação de Recursos; e c. Indicador de Resultado Primário. Classificação da Receita Orçamentária por Natureza (MCASP 7ª Edição. - Portaria Conjunta STN/SOF nº 1, de 10 de dezembro de 2014 e a Portaria STN nº 700, de 10 de dezembro de 2014). O § 1º do art. 8º da Lei nº 4.320/1964 define que os itens da discriminação da receita, mencionados no art. 11 dessa lei, serão identificados por números de código decimal. Convencionou-se denominar este código de natureza de receita. Importante destacar que essa classificação é utilizada por todos os entes da Federação e visa identificar a origem do recurso segundo o fato gerador: acontecimento real que ocasionou o ingresso da receita no cofre público. Assim, a natureza de receita é a menor célula de informação no contexto orçamentário para as receitas públicas; por isso, contém todas as informações necessárias para as devidas alocações orçamentárias. A fim de possibilitar identificação detalhada dos recursos que ingressam nos cofres públicos, esta classificação é formada por um código numérico de 8 dígitos que subdivide-se em seis níveis – Categoria Econômica, Origem, Espécie, Rubrica, Alínea e Subalínea: 17 C O E DDDD T Categoria Econômica Origem Espécie Desdobramentos para identificação de peculiaridades da receita Tipo AOrigem é o detalhamento das Categorias Econômicas “Receitas Correntes” e “Receitas de Capital”, com vistas a identificar a natureza da procedência das receitas no momento em que ingressam no Orçamento Público. Os códigos da Origem para as receitas correntes e de capital, de acordo com a Lei nº 4.320/1964, são: Origem da Receita 1 Receitas Correntes 7 Receita Correntes Intraorçamentárias 2 Receitas de Capital 8 Receitas de Capital Intraorçamentárias 1 Receita Tributária 2 Receita de Contribuições 3 Receita Patrimonial 4 Receita Agropecuária 5 Receita Industrial 6 Receita de Serviços 7 Transferências Correntes 9 Outras Receitas Corrente 1 Operações de Crédito 2 Alienação de Bens 3 Amortização de Empréstimos 4 Transferências de Capital 5 Outras Receitas de Capital Fonte: Adaptado do MCASP 7ª Edição (BRASIL, 2016). O detalhamento dos códigos da receita consta no Ementário da Receita – Edição de Setembro de 2017 da STN. Classificação da Receita por Identificador de Resultado Primário Conforme esta classificação, as receitas do Governo Federal podem ser divididas em: a) primárias (P), quando seus valores são incluídos na apuração do resultado primário (diferença entre as receitas primárias e as despesas primárias); e b) não primárias ou financeiras (F), quando não são incluídas nesse cálculo. As receitas primárias referem-se, predominantemente, às receitas correntes que advêm dos tributos, das contribuições sociais, das concessões, dos dividendos recebidos pela União, da cota-parte das compensações financeiras, das decorrentes do próprio esforço de arrecadação das UOs, das provenientes de doações e convênios e outras também consideradas primárias. As receitas não primárias ou financeiras são aquelas que não contribuem para o resultado primário ou não alteram o endividamento líquido do Governo (setor público não financeiro) no exercício financeiro correspondente, uma vez que criam uma obrigação ou extinguem um direito, ambos de natureza financeira, junto ao setor privado interno e/ou externo. São adquiridas junto ao mercado financeiro, decorrentes da emissão de títulos, da contratação de operações de crédito por organismos oficiais, das receitas de aplicações financeiras da União (juros recebidos, por exemplo), das privatizações e outras. Estágios da Receita Os estágios da receita significam as fases em que a mesma passa para ser realizada, ou seja, recebida pelas entidades públicas. De acordo com Mota (2006), o Regulamento de Contabilidade Pública (1922) previa três estágios: fixação, arrecadação e recolhimento, mas atualmente possuem quatro estágios: previsão, lançamento, arrecadação e recolhimento, sendo que existem receitas que não cumprem rigorosamente a sucessão dos estágios, em razão da constante simplificação dos processos de arrecadação da receita orçamentária (implantação do DARF e da GRU para recolhimentos diretos ao Tesouro Nacional). 18 De acordo com Pires (2006), ocorrem os quatro estágios, mas não na sequência, como por exemplo, o imposto de renda de pessoa física em que o lançamento é feito no segundo ano quando é feita a entrega da Declaração do Imposto de Renda. Conceitualmente os estágios da receita orçamentária são: ESTÁGIOS DA RECEITA PÚBLICA Previsão Estimativa incorporada à lei orçamentária de quanto se espera arrecadar durante o ano (receita prevista no orçamento); Lançamento Procedimento administrativo de verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária e identificar a pessoa do contribuinte. O lançamento pode ocorrer de três modos: - de ofício ou direto - realizado pela autoridade administrativa (IPTU, IPVA); - por declaração ou misto – realizado pela autoridade administrativa com a colaboração do contribuinte (IRRF); - por homologação ou autolançamento – informado pelo contribuinte e homologado pela autoridade administrativa (ISS, ICMS, IPI). Arrecadação Recebimento de tributos promovidos pelos agentes da arrecadação e à rede bancária autorizada; Recolhimento Entrega dos recursos arrecadados pelos agentes da arrecadação e pela rede bancária ao Banco do Brasil para crédito na Conta Única da União (receitas federais) e aos bancos oficiais dos Estados e Municípios. Fonte: elaboração própria. De acordo com o MCASP 7ª Edição, as etapas da Receita Orçamentária podem ser resumidas conforme o quadro abaixo: Etapas da Receita Orçamentária Previsão Lançamento Arrecadação Recolhimento Fonte: Adaptado do MCASP 7ª Edição (BRASIL, 2016). Regime de contabilização no enfoque patrimonial De acordo com a Portaria Conjunta STN/SOF nº. 3, de 14 de outubro de 2008 (Diário Oficial de 16 de outubro de 2008), que aprova o Manual de Receita Nacional as receitas deverão ser contabilizadas pelo regime de competência no enfoque patrimonial. Desse modo, as previsões de receitas deverão ser contabilizadas como Direitos no Ativo (IPVA a Receber, IPTU a Receber). Contudo, observa-se que a Lei 4.320/64 ainda continua em vigor. Assim, pelo regime orçamentário as receitas são contabilizadas quando recebidas. Desse modo, pela Natureza da Informação Contábil foi encontrado um modo de fazer os registros de forma a atender tanto o enfoque orçamentário como patrimonial, ou seja, os registros são realizados pela Natureza da Informação Contábil Orçamentária, Patrimonial e de Controle. Relacionamento do Regime Orçamentário com o Regime Contábil (MCASP 7ª Edição) A contabilidade aplicada ao setor público mantém um processo de registro apto para sustentar o dispositivo legal do regime da receita orçamentária, de forma que atenda a todas as demandas de informações da execução orçamentária, conforme dispõe o art. 35 da Lei nº 4.320/1964: No entanto, há de se destacar que o art. 35 se refere ao regime orçamentário e não ao regime contábil (patrimonial) e a citada Lei, ao abordar o tema “Da Contabilidade”, determina que as variações patrimoniais devam ser evidenciadas, sejam elas independentes ou resultantes da execução orçamentária. 19 Aspectos legais da receita - Lei 4.320/64: - classifica as receitas em correntes (tributárias, de contribuições, patrimonial, agropecuária, industrial, de serviços e outras destinadas a atender as Despesas Correntes) e as receitas de capital (operações de crédito, alienação de bens, transferências de capital e outras destinadas a atender as Despesas de Capital). - não pode haver cobrança de tributo sem autorização legislativa; - o lançamento da receita é ato da repartição competente, que verifica o crédito fiscal e a pessoa devedora; - os agentes da arrecadação fornecem recibos em uma única via; - o recolhimento das receitas é feito em observância ao princípio da unidade de tesouraria. - Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/2000): - estabelece que constituem requisitos essenciais da responsabilidade na gestão fiscal a instituição, a previsão e a efetiva arrecadação de tributos; - as previsões de receitas deverão levar em conta os efeitos da alteração na legislação, a variação de índices de preços, o crescimento econômico e os demonstrativos de evolução de receita nos últimos três exercícios, projeções para os dois exercícios e a metodologia de cálculo; - até 30 dias após a publicação dos orçamentos, as receitas previstas são desdobradas em metas bimestrais de arrecadação; - a renúncia de receita compreende: anistia, remissão, subsídios, crédito presumido, concessão de isenção de caráter não geral, alteração de alíquota e outros benefícios. - Manual de Receitas Públicas (Portaria STN nº. 340/2006): Conceitua as receitas públicas como sendo todos os ingressos de caráter não devolutivo auferidos pelo Poder Público,em qualquer esfera governamental, para alocação e cobertura de despesa pública. - Portaria Interministerial n° 163/STN-SOF, de 04 de maio de 2001: Classifica a receita quanto a sua natureza em receitas correntes e receitas de capital. - Constituição de 1988: Prevê a competência tributária da União, Estados, do Distrito Federal e dos municípios nos seus artigos 153 a 156. Dívida Ativa A receita da dívida ativa corresponde a um direito a receber do contribuinte decorrente do transcurso do prazo de pagamento pelo contribuinte. A dívida ativa pode ser dividida em: - tributária – proveniente da obrigação legal relativa ao não pagamento de tributos; - não tributária – decorrente de empréstimos compulsórios, contribuições e multas não recolhidas. As receitas não arrecadadas pelo setor público são inscritas na dívida ativa e são evidenciadas pelo Balanço Patrimonial (Dívida Ativa Tributária Inscrita). Reflexos contábeis da receita sobre o patrimônio público As receitas no setor privado aumentam o ativo (entrada de dinheiro no caixa/bancos ou aumento de duplicatas a receber – clientes) e aumentam o patrimônio líquido (lucro). No setor público a análise dos reflexos contábeis da receita sobre o patrimônio público é realizada da seguinte maneira: 20 - receitas efetivas – são receitas que alteram o patrimônio (fato modificativo), ou seja, são as receitas correntes: tributos, contribuições, etc. As receitas efetivas refletem contabilmente no patrimônio público do mesmo modo que as receitas do setor privado, ou seja, aumentam o ativo (entrada de dinheiro para os cofres públicos) e aumentam o patrimônio público (o saldo patrimonial da entidade pública é aumentado – superávit patrimonial); - receitas não-efetivas (mutativas) - são receitas que não alteram o patrimônio (fato permutativo), ou seja, são as receitas de capital: empréstimos tomados, operações de créditos, etc. As receitas não-efetivas não alteram o patrimônio líquido da entidade pública, pois haverá uma compensação de valores, ou seja, aumenta o ativo (caixa/bancos) e o passivo (obrigações a pagar). Este conceito de receita não tem no setor privado. As receitas não orçamentárias (extraorçamentária) aumentam o ativo (entrada de recursos) e aumentam o passivo (obrigações a pagar: cauções, depósitos de terceiros). São fatos permutativos. 4 DESPESAS ORÇAMENTÁRIAS 4.1 Definição, classificação, estágios, regime de contabilização no enfoque patrimonial, aspectos legais da despesa, despesas especiais, dívida pública, reflexos contábeis sobre o patrimônio, princípios, licitações. Definição Para Bezerra Filho (2004), a despesa na Administração Pública é constituída pela obrigação de desembolso financeiro por parte dos cofres do Estado, objetivando financiar as ações do governo, bem como cumprir outras determinações impostas por leis e contratos. Silva (2004) esclarece que constituem despesa pública todos os desembolsos efetuados pelo Estado no atendimento dos serviços e encargos assumidos no interesse geral da comunidade, nos termos da Constituição, das leis, ou em decorrência de contratos ou outros instrumentos. De acordo com Pires (2006), define-se como despesa pública o conjunto de dispêndios do Estado ou de outra pessoa de direito público para funcionamento dos serviços públicos, sendo a mesma parte do orçamento onde se encontram classificadas todas as autorizações para gastos com várias atribuições e funções governamentais. Na teoria contábil a despesa representa a utilização ou o consumo de bens e serviços no processo de produzir receitas. O grande fato gerador da despesa é o esforço continuado para produzir receita (IUDÍCIBUS, 2000). O conceito da despesa pública não atende a teoria contábil. No setor público arrecada-se necessariamente para gastar nas funções constitucionais do Estado. O Estado para cumprir suas funções (legislativa, judiciária, defesa nacional, segurança pública, saúde, educação, cultura, saneamento, etc.) necessita realizar os desembolsos financeiros (pagamentos) decorrentes da contratação de serviços de terceiros, de fornecimento de bens, etc. Os desembolsos correspondem às despesas governamentais. De acordo com MCASP 7ª Edição, o orçamento é o instrumento de planejamento de qualquer entidade, pública ou privada, e representa o fluxo de ingressos e aplicação de recursos em determinado período. Para o setor público, é de vital importância, pois é a lei orçamentária que fixa a despesa pública autorizada para um exercício financeiro. A despesa pública é o conjunto de dispêndios realizados pelos entes públicos para o funcionamento e manutenção dos serviços públicos prestados à sociedade. Os dispêndios, assim como os ingressos, são tipificados em orçamentários e extraorçamentários. Segundo o art. 35 da Lei nº 4.320/1964 - Pertencem ao exercício financeiro: I - as receitas nele arrecadadas; II - as despesas nele legalmente empenhadas. 21 Dessa forma, despesa orçamentária é toda transação que depende de autorização legislativa, na forma de consignação de dotação orçamentária, para ser efetivada. Dispêndio extraorçamentário é aquele que não consta na lei orçamentária anual, compreendendo determinadas saídas de numerários decorrentes de depósitos, pagamentos de restos a pagar, resgate de operações de crédito por antecipação de receita e recursos transitórios. Classificação doutrinária As despesas podem ser classificadas sob vários enfoques, sendo os seguintes os mais consagrados na doutrina (SILVA, 2004; BEZERRA FILHO, 2004; JUND, 2008): a) quanto à natureza: - despesas orçamentárias – são as despesas fixadas e especificadas na lei do orçamento e/ou dos créditos adicionais. As despesas orçamentárias são executadas com autorização legislativa; - despesas extraorçamentárias – são despesas não consignadas na lei do orçamento e/ou dos créditos adicionais. A rigor não se tratam de despesas e sim de restituições de valores que se encontrava com o Estado. Exemplos: restituições de depósitos de terceiros, de consignações. b) quanto à competência político-institucional – refere-se a competência institucional de acordo com o ente político: federal, estadual e municipal. c) quanto à afetação patrimonial - divididas em: - despesas efetivas – são aquelas que alteram o patrimônio líquido do Estado, ou seja, são os fatos modificativos (despesas correntes com exceção de aquisições de material de estoque); - despesas por mutações patrimoniais – são aquelas que não provocam alteração no patrimônio líquido do Estado, visto constituírem em fatos permutativos (investimentos, inversões financeiras, aquisições de bens de consumo). d) quanto à regularidade – divididas em: - despesas ordinárias – são as despesas constantes do Governo (pessoal, serviços de terceiros, encargos, etc.); - despesas extraordinárias – são despesas de caráter esporádico ou excepcional, provocadas por situações especiais (guerra, calamidade pública). e) quanto ao aspecto econômico: - despesas correntes: despesas para manutenção dos serviços criados; - despesas de capital: despesas de investimentos, inversões financeiras e transferências de capital. Pires (2006) aborda dois aspectos da despesa pública: quanto à afetação do patrimônio (despesas efetivas e despesas por mutações patrimoniais) e quanto à afetação do orçamento (despesas orçamentárias e extraorçamentárias). Quanto às despesas orçamentárias o referido autor destaca a classificação institucional, funcional e econômica. Classificação legal A classificação legal (ou orçamentária) da despesa é dada pela Lei nº. 4.320/64 e a Portaria Interministerial nº. 163/STN-SOF, de 04 de maio de 2001. A despesa orçamentária é classificada sob os enfoques institucional, funcional, programáticoe segundo a natureza da despesa em: categoria econômica, grupo de natureza da despesa, modalidade da aplicação e elemento da despesa. A seguir um resumo da classificação legal (utilizada nos orçamentos): Classificação Institucional – órgãos e unidades orçamentárias. Exemplos: Presidência da República, Ministérios, Governadorias de Estado, Tribunais, Assembleias Legislativas, Câmara dos Deputados, Senado Federal, etc. De acordo com o MCASP 7ª Edição, a classificação institucional reflete a estrutura de alocação dos créditos orçamentários e está estruturada em dois níveis hierárquicos: órgão orçamentário e unidade orçamentária. 22 Constitui unidade orçamentária o agrupamento de serviços subordinados ao mesmo órgão ou repartição a que serão consignadas dotações próprias (art. 14 da Lei nº 4.320/1964). Os órgãos orçamentários, por sua vez, correspondem a agrupamentos de unidades orçamentárias. As dotações são consignadas às unidades orçamentárias, responsáveis pela realização das ações. No caso do Governo Federal, o código da classificação institucional compõe-se de cinco dígitos, sendo os dois primeiros reservados à identificação do órgão e os demais à unidade orçamentária. Não há ato que a estabeleça, sendo definida no contexto da elaboração da lei orçamentária anual ou da abertura de crédito especial. XX - Órgão Orçamentário XXX - Unidade Orçamentária Exemplos de Órgão Orçamentário e Unidade Orçamentária do Governo Federal Órgão Unidade Orçamentária 26000 Ministério da Educação 26242 26277 Universidade Federal de Pernambuco Fundação Universidade Federal de Ouro Preto 30000 Ministério da Justiça 30107 30109 30911 Departamento de Polícia Rodoviária Federal Defensoria Pública da União Fundo Nacional de Segurança Pública 39000 Ministério dos Transportes 39250 39252 Agência Nacional de Transportes Terrestres – ANTT Departamento Nacional de Infra- Estrutura de Transportes – DNIT Fonte: Adaptado do MCASP – 7ª Edição (BRASIL, 2016). Cabe ressaltar que uma unidade orçamentária não corresponde necessariamente a uma estrutura administrativa, como ocorre, por exemplo, com alguns fundos especiais e com as unidades orçamentárias “Transferências a Estados, Distrito Federal e Municípios”, “Encargos Financeiros da União”, “Operações Oficiais de Crédito”, “Refinanciamento da Dívida Pública Mobiliária Federal” e “Reserva de Contingência”. Classificação Funcional – rol de funções e subfunções pré-fixadas (Portaria MPOG nº. 42/99). Exemplos: Legislativa, Agricultura, Transporte, etc. De acordo com o MCASP 7ª Edição, a classificação funcional é representada por cinco dígitos. Os dois primeiros referem-se à função, enquanto que os três últimos dígitos representam a subfunção, que podem ser traduzidos como agregadores das diversas áreas de atuação do setor público, nas esferas legislativa, executiva e judiciária. Classificação por Estrutura Programática – composta por programas que articulam ações identificadas em projetos, atividades ou operações especiais. Exemplo: Implantação e Ampliação de Unidade de Saúde do SUS. De acordo com o MCASP 7ª Edição, toda ação do Governo está estruturada em programas orientados para a realização dos objetivos estratégicos definidos no Plano Plurianual (PPA) para o período de quatro anos. Conforme estabelecido no art. 3º da Portaria MOG nº 42/1999, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios estabelecerão, em atos próprios, suas estruturas de programas, códigos e identificação, respeitados os conceitos e determinações nela contidos. Ou seja, todos os entes devem ter seus trabalhos organizados por programas e ações, mas cada um estabelecerá seus próprios programas e ações de acordo com a referida Portaria. Programa é o instrumento de organização da atuação governamental que articula um conjunto de ações que concorrem para a concretização de um objetivo comum preestabelecido, visando à solução de um problema ou ao atendimento de determinada necessidade ou demanda da sociedade. 23 As ações são operações das quais resultam produtos (bens ou serviços), que contribuem para atender ao objetivo de um programa. Incluem-se também no conceito de ação as transferências obrigatórias ou voluntárias a outros entes da Federação e a pessoas físicas e jurídicas, na forma de subsídios, subvenções, auxílios, contribuições e financiamentos, dentre outros. As ações, conforme suas características podem ser classificadas como atividades, projetos ou operações especiais Atividade - É um instrumento de programação utilizado para alcançar o objetivo de um programa, envolvendo um conjunto de operações que se realizam de modo contínuo e permanente, das quais resulta um produto ou serviço necessário à manutenção da ação de Governo. Exemplo: “Fiscalização e Monitoramento das Operadoras de Planos e Seguros Privados de Assistência à Saúde”. Projeto - É um instrumento de programação utilizado para alcançar o objetivo de um programa, envolvendo um conjunto de operações, limitadas no tempo, das quais resulta um produto que concorre para a expansão ou o aperfeiçoamento da ação de Governo. Exemplo: “Implantação da rede nacional de bancos de leite humano”. Operação Especial - Despesas que não contribuem para a manutenção, expansão ou aperfeiçoamento das ações de governo, das quais não resulta um produto, e não gera contraprestação direta sob a forma de bens ou serviços. Classificação da Despesa por Natureza: De acordo com o MCASP 7ª Edição, a classificação da despesa orçamentária, segundo a sua natureza, compõe-se de: a. Categoria Econômica b. Grupo de Natureza da Despesa c. Elemento de Despesa A natureza da despesa será complementada pela informação gerencial denominada “Modalidade de Aplicação”, a qual tem por finalidade indicar se os recursos são aplicados diretamente por órgãos ou entidades no âmbito da mesma esfera de Governo ou por outro ente da Federação e suas respectivas entidades, e objetiva, precipuamente, possibilitar a eliminação da dupla contagem dos recursos transferidos ou descentralizados. - Categoria econômica - analisam o impacto das ações governamentais em toda a economia. São divididas em: a) despesas correntes – despesas de custeio da administração pública: pessoal e encargos, juros e encargos da dívida, material de consumo, etc. b) despesas de capital – despesas de investimentos, inversões financeiras, amortização de dívida. - Grupo de natureza da despesa – agregação de elementos de despesa que apresentam as mesmas características quanto ao objeto de gasto. São os seguintes os grupos: (1) pessoal e encargos sociais; (2) juros e encargos da dívida interna e externa; (3) outras despesas correntes; (4) investimentos; (5) inversões financeiras; (6) amortização da dívida interna e (7) amortização da dívida externa. - Modalidade de aplicação – indica por meio de quem se realiza o gasto, se foram aplicados diretamente ou transferidos. Exemplos: (20) transferências à União; (30) transferências a Estados e ao Distrito Federal; (40) transferência a municípios; (50) transferências a instituições privadas sem fins lucrativos; (90) aplicações diretas (aquisições e prestações de serviços dos fornecedores); (91) aplicação direta decorrente de operação entre Órgãos, Fundos e Entidades Integrantes dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social, etc. - Elemento da despesa – discrimina os grupos de despesas em níveis mais detalhados de agregação, tais como: aposentadorias e reformas (01); pensões (03); contratação por tempo determinado (04): diárias – pessoal civil (14); material de consumo (30); outros serviços de terceiros – pessoa física (36); obras e instalações (51); equipamentos e material permanente (52), despesas de exercícios
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