Buscar

AUL 02

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 29 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 29 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 29 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

ÉTICA PARA AUDITOR DA CGE/MT 
– TEORIA E EXERCÍCIOS
Aula 02 
Professor: HENRIQUE CAMPOLINA 
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Henrique Campolina 1 
Olá, Futuro Auditor do Estado do Mato Grosso! 
Hoje teremos uma aula teórica, na qual abordaremos: 
 Ética e moral: definições, princípios e valores;
 Ética e democracia: exercício da cidadania e ética e função pública;
 Pluralidade ética;
 Ética e violência;
 Razão, desejo e vontade;
 Liberdade, autonomia do sujeito e a necessidade das normas.
Boa aula para todos nós !!! 
Prof. Henrique Campolina 
Janeiro/2015 
SUMÁRIO 
Ética e moral: definições, princípios e valores ............................................... 2 
Ética e democracia: exercício da cidadania e ética e função pública ............... 14 
Pluralidade ética ..................................................................................... 18 
Ética e violência ...................................................................................... 21 
Razão, desejo e vontade .......................................................................... 22 
Liberdade, autonomia do sujeito e a necessidade das normas ...................... 25 
Bibliografia ............................................................................................ 29 
Aula 02 
ÉTICA PARA AUDITOR DA CGE/MT 
– TEORIA E EXERCÍCIOS
Aula 02 
Professor: HENRIQUE CAMPOLINA 
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Henrique Campolina 2 
ÉTICA E MORAL: DEFINIÇÕES, PRINCÍPIOS E VALORES 
Vamos trazer e/ou relembrar algumas definições de termos usualmente 
encontrados quando se fala em ética. 
Para isto, utilizaremos, em alguns casos, o Dicionário Online Michaelis1. 
Comecemos, é claro, com: 
Ética: 
1. Parte da Filosofia que estuda os valores morais e os princípios
ideais da conduta humana. É ciência normativa que serve de base à 
filosofia prática. 
2. Deontologia.
Mas o que é deontologia, que aparece no verbete de ‘Ética’: 
Deontologia: 
Parte da Filosofia que trata dos princípios, fundamentos e sistemas de 
moral; estudo dos deveres. (“Teoria dos Deveres”) 
Deontologia Jurídica2: 
Ciência que cuida dos deveres e dos direitos dos operadores do 
direito, bem como de seus fundamentos éticos e legais. “Ciência dos 
Deveres”. 
Moral: 
1. Parte da Filosofia que trata dos atos humanos, dos bons costumes
e dos deveres do homem em sociedade e perante os de sua classe. 
2. Relativo à moralidade, aos bons costumes.
Moralidade: Característica do que é moral, o que segue os princípios da 
moral. Reunião de fundamentos morais (a virtude, a moral, os bons 
costumes, a honestidade, etc.). Maneira ou modo de vida que se 
baseia nos fundamentos morais; 
1 Fonte: www.michaelis.uol.com.br 
2 Esta definição, ao contrário das demais, foi retirada do sítio do Wikipédia: pt.wikipedia.org 
ÉTICA PARA AUDITOR DA CGE/MT 
– TEORIA E EXERCÍCIOS
Aula 02 
Professor: HENRIQUE CAMPOLINA 
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Henrique Campolina 3 
Amoralidade: Qualidade do que é amoral. Amoral não é antônimo de 
moral. Amoral significa sem noção de moral ou ausente de moral ou 
foral da moral ou neutro a nível de ética; 
Imoralidade: Agora sim, imoral significa contrário à moral. Quando há 
falta de pudor, quando algo induz à indecência, ao pecado, podemos 
dizer que há imoralidade. 
Moral pública: 
Designativo dos preceitos gerais de moral que devem ser observados 
por todos os membros da sociedade. 
Ética social: 
Parte prática da filosofia social, que indica as normas a que devem 
ajustar-se as relações entre os diversos membros da sociedade. 
Ética no Trabalho: 
Conjunto de princípios morais que se devem observar no exercício de 
uma profissão. 
Podemos concluir, a partir destes conceitos que: 
Ética no Serviço Público: 
É a moral e os princípios ideais da conduta humana aplicados no 
ambiente das repartições públicas. 
Além de alguns conceitos acima, nosso edital também traz, expressamente: 
 Campo ético;
 Problemas morais e
 Problemas éticos.
Vamos à eles: 
Campo ético: 
Quando falamos em campo ético, precisamos delinear “o que” e “quem” 
pertence a esse universo. 
ÉTICA PARA AUDITOR DA CGE/MT 
– TEORIA E EXERCÍCIOS
Aula 02 
Professor: HENRIQUE CAMPOLINA 
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Henrique Campolina 4 
Alguns autores costumam dizer que o os constituintes do campo são o agente 
(ou sujeito) consciente e livre e os valores morais (ou virtudes éticas). 
Outros autores inserem no campo ético os meios utilizados pelos agentes 
para realização de suas finalidades. 
O sujeito deve ser consciente e livre, pois deve conseguir distinguir entre o 
certo e o errado, o legal e o proibido, o bem e o mal, o justo e o injusto. 
Assim, saberá agir e, também, julgar atitudes sob a visão ética. Um agente 
ético deve ser capaz de reconhecer outros sujeitos éticos. 
Ao falarmos que tal agente deve ser livre, nos referimos ao seu poder de 
agir espontaneamente, sendo responsável por seus atos. Tal liberdade está 
intimamente ligada à autonomia de determinar suas próprias regras de 
conduta. 
Quando os meios são incluídos no campo ético, devemos encontrar meios 
éticos que busquem fins éticos (aqui eliminamos e abominamos o dito 
popular: os fins justificam os meios). 
Marilena Chaui, em sua obra Convite à Filosofia, nos ensina sobre os 
Constituintes do Campo Ético (transcreverei essa passagem de sua 
obra pela sua importância e aderência com nosso edital): 
OS CONSTITUINTES DO CAMPO ÉTICO3 
Para que haja conduta ética é preciso que exista o agente 
consciente, isto é, aquele que conhece a diferença entre bem e mal, 
certo e errado, permitido e proibido, virtude e vício. A consciência 
moral não só conhece tais diferenças, mas também reconhece-se 
como capaz de julgar o valor dos atos e das condutas e de agir em 
conformidade com os valores morais, sendo por isso responsável 
por suas ações e seus sentimentos e pelas conseqüências do que 
faz e sente. Consciência e responsabilidade são condições 
indispensáveis da vida ética. 
A consciência moral manifesta-se, antes de tudo, na capacidade 
para deliberar diante de alternativas possíveis, decidindo e 
escolhendo uma delas antes de lançar-se na ação. Tem a 
capacidade para avaliar e pesar as motivações pessoais, as 
exigências feitas pela situação, as conseqüências para si e para os 
outros, a conformidade entre meios e fins (empregar meios imorais 
para alcançar fins morais é impossível), a obrigação de respeitar o 
estabelecido ou de transgredi-lo (se o estabelecido for imoral ou 
injusto). 
3 CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000, páginas 433 a 435.
ÉTICA PARA AUDITOR DA CGE/MT 
– TEORIA E EXERCÍCIOS
Aula 02 
Professor: HENRIQUE CAMPOLINA 
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Henrique Campolina 5 
A vontade é esse poder deliberativo e decisório do agente moral. 
Para que exerça tal poder sobre o sujeito moral, a vontade deve ser 
livre, isto é, não pode estar submetida à vontade de um outro nem 
pode estar submetida aos instintos e às paixões, mas, ao contrário, 
deve ter poder sobre eles e elas. 
O campo ético é, assim, constituído pelos valores e pelas obrigações 
que formam o conteúdo das condutas morais, isto é, as virtudes. 
Estas são realizadas pelo sujeito moral, principal constituinte da 
existência ética. 
O sujeito ético ou moral, isto é, a pessoa, só pode existir se 
preencher as seguintes condições: 
 ser consciente de si e dos outros, isto é, ser capaz de reflexão e 
de reconhecer a existência dos outros como sujeitos éticos iguais 
a ele; 
 ser dotado de vontade, isto é, de capacidade para controlar e 
orientar desejos, impulsos, tendências,sentimentos (para que 
estejam em conformidade com a consciência) e de capacidade 
para deliberar e decidir entre várias alternativas possíveis; 
 ser responsável, isto é, reconhecer-se como autor da ação, 
avaliar os efeitos e conseqüências dela sobre si e sobre os outros, 
assumi-la bem como às suas conseqüências, respondendo por 
elas; 
 ser livre, isto é, ser capaz de oferecer-se como causa interna de 
seus sentimentos, atitudes e ações, por não estar submetido a 
poderes externos que o forcem e o constranjam a sentir, a querer 
e a fazer alguma coisa. A liberdade não é tanto o poder para 
escolher entre vários possíveis, mas o poder para 
autodeterminar-se, dando a si mesmo as regras de conduta. 
O campo ético é, portanto, constituído por dois pólos internamente 
relacionados: o agente ou sujeito moral e os valores morais ou 
virtudes éticas. 
Do ponto de vista do agente ou sujeito moral, a ética faz uma 
exigência essencial, qual seja, a diferença entre passividade e 
atividade. Passivo é aquele que se deixa governar e arrastar por 
seus impulsos, inclinações e paixões, pelas circunstâncias, pela boa 
ou má sorte, pela opinião alheia, pelo medo dos outros, pela 
vontade de um outro, não exercendo sua própria consciência, 
vontade, liberdade e responsabilidade. 
Ao contrário, é ativo ou virtuoso aquele que controla interiormente 
seus impulsos, suas inclinações e suas paixões, discute consigo 
mesmo e com os outros o sentido dos valores e dos fins 
estabelecidos, indaga se devem e como devem ser respeitados ou 
transgredidos por outros valores e fins superiores aos existentes, 
avalia sua capacidade para dar a si mesmo as regras de conduta, 
consulta sua razão e sua vontade antes de agir, tem consideração 
ÉTICA PARA AUDITOR DA CGE/MT 
– TEORIA E EXERCÍCIOS
Aula 02 
Professor: HENRIQUE CAMPOLINA 
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Henrique Campolina 6 
pelos outros sem subordinar-se nem submeter-se cegamente a 
eles, responde pelo que faz, julga suas próprias intenções e recusa 
a violência contra si e contra os outros. Numa palavra, é autônomo. 
Do ponto de vista dos valores, a ética exprime a maneira como a 
cultura e a sociedade definem para si mesmas o que julgam ser a 
violência e o crime, o mal e o vício e, como contrapartida, o que 
consideram ser o bem e a virtude. Por realizar-se como relação 
intersubjetiva e social, a ética não é alheia ou indiferente às 
condições históricas e políticas, econômicas e culturais da ação 
moral. 
Conseqüentemente, embora toda ética seja universal do ponto de 
vista da sociedade que a institui (universal porque seus valores são 
obrigatórios para todos os seus membros), está em relação com o 
tempo e a História, transformando-se para responder a exigências 
novas da sociedade e da Cultura, pois somos seres históricos e 
culturais e nossa ação se desenrola no tempo. 
Além do sujeito ou pessoa moral e dos valores ou fins morais, o 
campo ético é ainda constituído por um outro elemento: os meios 
para que o sujeito realize os fins. 
Costuma-se dizer que os fins justificam os meios, de modo que, 
para alcançar um fim legítimo, todos os meios disponíveis são 
válidos. No caso da ética, porém, essa afirmação deixa de ser óbvia. 
Suponhamos uma sociedade que considere um valor e um fim moral 
a lealdade entre seus membros, baseada na confiança recíproca. 
Isso significa que a mentira, a inveja, a adulação, a má-fé, a 
crueldade e o medo deverão estar excluídos da vida moral e ações 
que os empreguem como meios para alcançar o fim serão imorais. 
No entanto, poderia acontecer que para forçar alguém à lealdade 
seria preciso fazê-lo sentir medo da punição pela deslealdade, ou 
seria preciso mentir-lhe para que não perdesse a confiança em 
certas pessoas e continuasse leal a elas. Nesses casos, o fim – a 
lealdade – não justificaria os meios – medo e mentira? A resposta 
ética é: não. Por quê? Porque esses meios desrespeitam a 
consciência e a liberdade da pessoa moral, que agiria por coação 
externa e não por reconhecimento interior e verdadeiro do fim ético. 
No caso da ética, portanto, nem todos os meios são justificáveis, 
mas apenas aqueles que estão de acordo com os fins da própria 
ação. Em outras palavras, fins éticos exigem meios éticos. 
A relação entre meios e fins pressupõe que a pessoa moral não 
existe como um fato dado, mas é instaurada pela vida intersubjetiva 
e social, precisando ser educada para os valores morais e para as 
virtudes. 
ÉTICA PARA AUDITOR DA CGE/MT 
– TEORIA E EXERCÍCIOS
Aula 02 
Professor: HENRIQUE CAMPOLINA 
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Henrique Campolina 7 
Poderíamos indagar se a educação ética não seria uma violência. 
Em primeiro lugar, porque se tal educação visa a transformar-nos 
de passivos em ativos, poderíamos perguntar se nossa natureza não 
seria essencialmente passional e, portanto: forçar-nos à 
racionalidade ativa não seria um ato de violência contra a nossa 
natureza espontânea? Em segundo lugar, porque se a tal educação 
visa a colocar-nos em harmonia e em acordo com os valores de 
nossa sociedade, poderíamos indagar se isso não nos faria 
submetidos a um poder externo à nossa consciência, o poder da 
moral social. Para responder a essas questões precisamos examinar 
o desenvolvimento das idéias éticas na Filosofia.
Problemas morais: 
Problemas morais se apresentam em nossas reais relações humanas, 
quando se julgam certas decisões e ações dos mesmos. 
Normalmente, as soluções desses problemas não se restringem ou se 
relacionam somente às pessoas que os propõem, mas também a 
outra(s) pessoa(s). 
São situações nas quais os sujeitos precisam se comportar em 
consonância com as normas que se julgam mais apropriadas e/ou 
mais dignas de serem observadas e cumpridas. 
Costuma-se dizer que são os problemas práticos, tais como: 
 Devo ou não dizer a verdade?
 Existem situações em que devo mentir?
 Soldados em guerra que cumprir ordens superiores podem ser
moralmente condenados?
 Devo cumprir uma promessa feita no passado, que hoje me
causará prejuízos?
 Um amigo de um informante do inimigo deve se calar (por
amizade) ou denunciá-lo?
Problemas éticos: 
Já os problemas éticos são situações teóricas. Aqui aparece a 
generalidade, pois são reflexões sobre o comportamento prático. 
Os estudiosos nos ensinam que quando o indivíduo toma uma decisão 
pautada na reflexão, ocorre a transposição dos problemas práticos 
para os problemas teóricos. 
ÉTICA PARA AUDITOR DA CGE/MT 
– TEORIA E EXERCÍCIOS
Aula 02 
Professor: HENRIQUE CAMPOLINA 
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Henrique Campolina 8 
No mundo contemporâneo, existem diversas demandas, incorporadas por um 
clamor popular, que exigem posturas morais e éticas de cada cidadão junto à 
sociedade e comunidade de seu convívio. 
Discussões que ocupam salas de aula e de estudos, diretorias de instituições de 
ensino, mesas de bares, reuniões familiares e corporativas, debatem a 
importância de se resgatar sentimentos, posturas, limites e valores éticos e 
morais. 
Eu, particularmente, vejo nossa sociedade nacional contaminada por 2 práticas 
corriqueiras, que gosto de chamar de “chagas sociais brasileiras”: 
 “Jeitinho Brasileiro”: diversas condutas equivocadas, distorcidas e
desviadas são, cotidianamente, justificadas, com certo ar de
superioridade, ao famoso jeitinho brasileiro. Que nada mais é do que uma
prática de se evitar a conduta normal e esperada pelo homem médio4,
para, através de um “atalho”, nem sempre ético, conseguir alguma
vantagem a mais. Tais vantagens vão desde a redução de um tempo de
espera em determinado local (uma fila, por exemplo) até rendimentos
pecuniários ($$).
 “Lei de Gerson”: outra práticaabominável. Aqui, novamente se sentindo o
“espertalhão”, a pessoa adota uma conduta desapropriada ou, até
mesmo, ilegal, visando atingir seu objetivo, sob o lema de “levar
vantagem em tudo, a qualquer preço”.
Peço licença a todos que não comungam com minha opinião para dizer que, 
enquanto estas “consagradas” práticas sociais se perdurarem em nossa 
sociedade, não conseguiremos romper a enorme barreira existente entre os 
intitulados 1º e 3º Mundos. 
4 Homem médio: termo jurídico utilizado para referir-se a uma pessoal com padrões normais 
ÉTICA PARA AUDITOR DA CGE/MT 
– TEORIA E EXERCÍCIOS
Aula 02 
Professor: HENRIQUE CAMPOLINA 
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Henrique Campolina 9 
Voltemos à ética: 
ÉTICA 
Parte da Filosofia que estuda os valores morais e os 
princípios ideais da conduta humana. 
Ciência normativa que serve de base à filosofia 
prática. 
E, como não poderia deixar de ser, clamores sociais miram os serviços públicos, 
que, até mesmo em virtude de sua natureza, têm obrigação de estarem 
embasados e fundamentados em princípios éticos, morais, transparentes, 
honestos, justos, convenientes, oportunos e eficazes. 
Podemos dizer que, etimologicamente, servidor vem de “servir”, “servidão”. Tal 
conclusão é perfeitamente identificada na regra deontológica contida no inciso V 
do Código de Ética que acabamos de estudar. 
Vejam como esta servidão visa o bem comum, atingindo a todos os cidadãos 
presentes no respectivo ciclo social destinatários daqueles serviços públicos. 
V - O trabalho desenvolvido pelo servidor público perante a 
comunidade deve ser entendido como acréscimo ao seu 
próprio bem-estar, já que, como cidadão, integrante da 
sociedade, o êxito desse trabalho pode ser considerado como 
seu maior patrimônio. 
As normas éticas, conforme percebemos perfeitamente no Código de Ética do 
Servidor Público Civil Federal, contido no Decreto nº 1.171/1994, visam ditar e 
orientar as pessoas na direção da melhor forma de se postarem perante si 
próprias e a sociedade na qual elas estão inseridas. 
Já trouxemos os conceitos de ética e moral, que são temas de difundido gosto 
entre os estudiosos, sendo alvo de debates, teses e doutorados. 
Para finalizar a eterna discussão sobre ética e moral e seguirmos em frente, vou 
transcrever um trecho do livro de Zajdsznajder5. 
5 ZAJDSZNAJDER, Luciano. Ser ético. Rio de Janeiro: Gryphus, 1994. 
ÉTICA PARA AUDITOR DA CGE/MT 
– TEORIA E EXERCÍCIOS
Aula 02 
Professor: HENRIQUE CAMPOLINA 
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Henrique Campolina 10 
O interessante do pensamento desse autor é a forma de considerar ética e 
moral dentro do mesmo contexto (para vocês perceberem como esse assunto 
pode ser tratado de maneira diferente pela literatura): 
“As discussões sobre ética costuma começar com uma distinção 
entre ética e moral. A primeira é entendida como algo ideal e 
filosófico. A segunda, como a prática real de um grupo, de uma 
sociedade. Consideramos que, em geral, essa discussão traz muito 
pouca luz. Não distinguimos a moral da ética. A palavra, ética, vem 
do grego ethos, que quer dizer caráter ou hábito, e também 
morada. Quando os romanos a traduziram, fizeram uso do termo 
mores, que significa costumes. As duas expressões buscam captar 
algo que é complexo e multifacetado: um todo que contém pelo 
menos as seguintes partes: 
1. Um conjunto de normas codificadas ou não sobre como devem
se conduzir as pessoas e as instituições nas diversas situações
que se apresentam na vida, servindo para distinguir o que é um
bom ou um mau comportamento e estabelecendo de algum
modo o que seria um comportamento correto ou ideal;
2. Um conjunto de ideias acerca de como deve ser conduzida a
vida humana para que seja considerada boa ou feliz;
3. A maneira como as pessoas e instituições comportam-se
realmente na prática;
4. A reflexão e o raciocínio que ocorrem quando se tomam
decisões ou se resolve agir, segundo o que é correto ou
incorreto, no sentido de bom ou mau;
5. Os sentimentos das pessoas diante de seus próprios
comportamentos ou de outros, como vergonha, remorso,
piedade, orgulho;
6. As reflexões sobre a origem das normas, o seu fundamento, a
sua justificativa.”
ÉTICA PARA AUDITOR DA CGE/MT 
– TEORIA E EXERCÍCIOS
Aula 02 
Professor: HENRIQUE CAMPOLINA 
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Henrique Campolina 11 
Quero, aqui e agora, falar sobre outros dois importantes pontos éticos: os 
Princípios e os Valores: 
Princípios: normas ou norteadores (conjunto de regras) que orientam as 
pessoas em diversas situações particulares ou funcionais. 
Cada sociedade forma, ao longo de sua existência, seus princípios. 
E não é por serem diferentes entre si, que podemos falar que um 
está correto e o seu antagônico errado. 
É preciso analisar o contexto onde estão inseridos, para perceber 
que para cada realidade determinou a concepção de seus próprios 
princípios. 
Valores: também são fundamentais para a harmonia de uma sociedade, assim 
como ocorre na formação dos princípios, os valores vão surgindo, 
crescendo, modificando ou ratificando, fortalecendo no decorrer do 
tempo, sendo transportados de geração em geração. 
Quanto mais aderente aos anseios das pessoas que compõe a 
sociedade, maior será o “valor social” de determinada situação. 
Podemos, desta forma, dizer que os valores ponderam as condutas e 
os caráteres de seus autores, seja o indivíduo, seja um grupo de 
pessoas. 
Diante dessas características, podemos concluir que princípios e 
valores éticos surgem à medida que novas demandas e situações são 
criadas, colocadas, presenciadas e vividas pela sociedade. 
ÉTICA PARA AUDITOR DA CGE/MT 
– TEORIA E EXERCÍCIOS
Aula 02 
Professor: HENRIQUE CAMPOLINA 
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Henrique Campolina 12 
Vamos, então, trazer alguns princípios éticos gerais e funcionais6, para ilustrar 
este Ponto de nossos estudos, já os aplicando às condutas dos agentes 
públicos: 
Princípios Éticos Gerais 
Probidade: baseia-se na conduta honesta e justa, onde o agente deve agir 
com integridade de caráter, retidão e honradez, procurando 
satisfazer o interesse geral e comum e descartando toda vantagem 
pessoal, quer para si, quer para terceiros; 
Prudência: baseia-se na atuação com capacidade sobre os assuntos tratados. 
O agente, no exercício de suas atribuições, deve inspirar confiança 
em seus superiores hierárquicos e na sociedade. Evitando atitudes 
que comprometam a finalidade de suas ações e atribuições. 
Virtude que nos faz prever e evitar as faltas e os perigos e que nos 
leva a conhecer e praticar o que nos convém. Cautela, precaução. 
Idoneidade: conjunto de qualidades que distinguem o indivíduo, pela boa 
prática dos deveres e costumes, dignificando-o no conceito 
público. 
Temperança: baseia-se no desempenho de suas atribuições com moderação e 
sobriedade. O agente deve utilizar das prerrogativas inerentes 
de seu cargo/função e os meios de que dispõe visando 
unicamente a correta e eficaz execução de suas atribuições e 
cumprimento de seus deveres e metas. 
Respeito: o agente não deve discriminar ou permitir a discriminação de 
qualquer natureza. Também não deve destratar, ameaçar, oprimir, 
constranger, caluniar ou desqualificar quem quer que seja. Ou seja, 
deve, sempre, tratar as pessoas com respeito. 
Responsabilidade: é imprescindível que o agente cumpra suas atribuições e 
deveres com responsabilidade. 
Ou seja, ele deve responder pelos próprios atos. 
6 Em virtude do forte caráter didático do Código de Conduta do Banestes S.A., o utilizaremos para 
embasar as sintéticas explicações dos princípios éticos trazidas neste Capítulo de nossa aula. Tambémbuscaremos verbetes no dicionário online Michaelis. 
ÉTICA PARA AUDITOR DA CGE/MT 
– TEORIA E EXERCÍCIOS
Aula 02 
Professor: HENRIQUE CAMPOLINA 
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Henrique Campolina 13 
Princípios Éticos Funcionais 
Lealdade: o agente público deve lealdade ao órgão ou entidade na qual esteja 
lotado. 
Capacitação: o agente deve se capacitar para desempenhar suas atribuições 
(responsabilidade compartilhada pelo próprio órgão/entidade), 
mantendo-se atualizado, conforme estudamos no Código de 
Ética. 
Discrição / Sigilo: baseia-se na guarda de informações e fatos que o agente 
teve conhecimento no exercício de suas atribuições e/ou 
em consequências delas. 
Hierarquia: o agente deve respeitar a hierarquia da estrutura pública à qual 
esteja subordinado, cumprindo as ordem recebidas de seus 
superiores, desde que devidamente legais e a favor do interesse 
público (também estudamos isto no Código de Ética). 
Cooperação: o agente, visando minimizar, neutralizar ou superar dificuldades 
encontradas no dia-a-dia, deve auxiliar seus colegas de trabalho. 
Cooperar é colaborar, visando uma prestação de serviços 
públicos ágil e eficaz: é um auxílio para um fim comum – 
solidariedade. 
Tolerância: em virtude dos diversos e diferentes tipos de pessoas que 
necessitam dos serviços públicos, o agente deve ser paciente e 
tentar compreender cada demanda e cada cidadão que se 
apresente a ele. 
ÉTICA PARA AUDITOR DA CGE/MT 
– TEORIA E EXERCÍCIOS
Aula 02 
Professor: HENRIQUE CAMPOLINA 
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Henrique Campolina 14 
ÉTICA E DEMOCRACIA: EXERCÍCIO DA CIDADANIA e ÉTICA E 
FUNÇÃO PÚBLICA 
Ética e democracia: exercício da cidadania 
Vamos, primeiramente, entender o que é cidadania, já que a maioria dos 
dicionários a definem como “qualidade de cidadão” ou “estado de cidadão”. 
Então o que significa cidadão? 
R: Indivíduo no gozo de direitos e submetido a deveres, no âmbito civil e 
político, de um Estado. 
Luis Carlos Ludovikus, professor da Escola do Legislativo da Assembleia 
Legislativa do Estado de Minas Gerais, em seu estudo “Ética e Cidadania”7, 
define: 
“Da Cidadania 
Ninguém nasce cidadão, mas torna-se cidadão pela educação. 
Porque a educação atualiza a inclinação potencial e natural dos 
homens à vida comunitária ou social. 
Cidadania é, nesse sentido, um processo. Processo que começou 
nos primórdios da humanidade e que se efetiva através do 
conhecimento e conquista dos direitos humanos, não como algo 
pronto, acabado; mas, como aquilo que se constrói. 
Assim como a ética a cidadania é hoje questão fundamental, quer 
na educação, quer na família e entidades, para o aperfeiçoamento 
de um modo de vida. 
Não basta o desenvolvimento tecnológico, científico para que a vida 
fique melhor. É preciso uma boa e razoável convivência na 
comunidade política, para que os gestos e ações de cidadania possa 
estabelecer um viver harmônico, mais justo e menos sofredor.” 
E conclui seu estudo dizendo: 
“De forma que, uma comunidade política sem ética e cidadania está 
fadada não só ao autoritarismo, mas também, à prática da 
corrupção e artimanhas de favoritismo de toda espécie. 
Por isto, tanto o apelo pela ética pensada na emergência do sujeito 
ético, e não simplesmente em códigos de ética; quanto, a 
7 CARVALHO, Luis Carlos Ludovikus Moreira de. Ética e Cidadania. Assembleia Legislativa do Estado de 
Minas Gerais. Belo Horizonte. 2003 
ÉTICA PARA AUDITOR DA CGE/MT 
– TEORIA E EXERCÍCIOS
Aula 02 
Professor: HENRIQUE CAMPOLINA 
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Henrique Campolina 15 
necessidade de ações de cidadania, que busquem concretizar 
direitos são os modos mais eficazes e eficientes, nos dias de hoje, 
para que a comunidade política possa ser o lugar privilegiado da 
autonomia e auto realização dos indivíduos e da própria 
comunidade. 
Depreende-se, então que se faz necessário ter uma consciência 
individual para que se possa ser responsável socialmente. Em 
outras palavras, a responsabilidade individual é que vai garantir 
uma ética, fundada em princípios e valores que norteiem o viver em 
comunidade. 
Entretanto, não podemos pensar que é o sujeito moral imiscuído na 
sua individualidade, que irá fundar uma ética. Pois, neste caso, o 
que pode ser moral para um, pode não ser imoral para outro. 
Faz-se necessário um salto do individual para o coletivo, do privado 
para o público, do particular para o universal. Mas, isto não quer 
dizer que se exija que sejamos Sócrates, Cristo, Ghandi, Buda; ou 
Tiradentes, Antônio Conselheiro, Zumbi. Podemos, simplesmente 
fazer como alguns negros fizeram nos Estados Unidos. A lei os 
proibia de entrar em bares, eles entravam assim mesmo. Até que 
um dia aquela lei virou lixo. 
Então, é preciso fundar a responsabilidade individual numa ética 
construída e instituída tendo em mira o bem comum, ou seja, 
visando a formação do sujeito ético, porque aí é possível a síntese 
entre ética e cidadania, no qual possa prevalecer muito mais uma 
ética de princípios, do que uma ética do dever. Ou seja, a 
responsabilidade individual deverá ser portadora de princípios e não 
de interesses particulares. 
Somente assim, o sujeito ético norteará um novo modo de viver e 
um novo sentido ético, para que os humanos alcancem a felicidade 
terrena.” 
Assim, dizemos que a ética e a moral têm grande influência na cidadania de um 
Estado, por estarem ligadas à conduta de seus cidadãos. 
E podemos concluir que um país com fortes bases éticas e morais apresenta, 
por consequência lógica e imediata, uma forte cidadania difundida e incorporada 
por seus cidadãos. 
ÉTICA PARA AUDITOR DA CGE/MT 
– TEORIA E EXERCÍCIOS
Aula 02 
Professor: HENRIQUE CAMPOLINA 
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Henrique Campolina 16 
Ética e função pública 
A ética na gestão pública pode ser entendida como o somatória das regras de 
conduta estabelecidas para a atuação da Administração Pública. 
Desta forma, a ética apresenta, no âmbito da gestão pública, a interligação 
entre o Estado e a sociedade, inclusive, quanto ao exercício da cidadania. 
O Estado, sendo um ser ético-político, não pode restringir a atuação de seus 
agentes públicos ao princípio da legalidade, sendo obrigatória a inclusão do 
elemento ético no desempenho das funções públicas. 
Como veremos no próximo item, nossa Lei Maior consagra, expressamente, os 
princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência 
como norteadores da conduta administrativa. 
Portanto, para total atendimento da das premissas do princípio da moralidade, é 
preciso trazer como norteador da conduta dos agentes públicos a observância 
da moral pública, dos bons costumes e do senso comum. 
Se buscarmos um trecho dos Parâmetros Curriculares Nacionais, podemos 
relacioná-lo tanto à ética, tanto no exercício da cidadania, quanto no exercício 
da função pública por seus agentes. Confiram comigo: 
“Os Parâmetros Curriculares Nacionais, ao propor uma educação 
comprometida com a cidadania, elegeram, baseados no texto 
constitucional, princípios segundo os quais orientar a educação 
escolar: 
Dignidade da pessoa humana: 
Implica respeito aos direitos humanos, repúdio à discriminação de 
qualquer tipo, acesso a condições de vida digna, respeito mútuo nas 
relações interpessoais, públicas e privadas. 
Igualdade de direitos: 
Refere-se à necessidade de garantir a todos a mesma dignidade e 
possibilidade de exercício de cidadania. Para tanto há que se 
considerar o princípio da eqüidade, isto é, que existem diferenças 
(étnicas, culturais, regionais, de gênero, etárias, religiosas, etc.) e 
desigualdades (socioeconômicas) que necessitam ser levadasem 
conta para que a igualdade seja efetivamente alcançada. 
ÉTICA PARA AUDITOR DA CGE/MT 
– TEORIA E EXERCÍCIOS
Aula 02 
Professor: HENRIQUE CAMPOLINA 
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Henrique Campolina 17 
Participação: 
Como princípio democrático, traz a noção de cidadania ativa, isto é, 
da complementaridade entre a representação política tradicional e a 
participação popular no espaço público, compreendendo que não se 
trata de uma sociedade homogênea e sim marcada por diferenças 
de classe, étnicas, religiosas, etc. 
Co-responsabilidade pela vida social: 
Implica partilhar com os poderes públicos e diferentes grupos 
sociais, organizados ou não, a responsabilidade pelos destinos da 
vida coletiva. É, nesse sentido, responsabilidade de todos a 
construção e a ampliação da democracia no Brasil. 
Para finalizar mais este tópico, quero trazer a definição de accountability, que é 
muito utilizada para caracterizar a conduta dos agentes públicos, sob a luz da 
moral e da ética: 
Accountability não possui uma tradução literal para o português, sendo utilizada 
para se referir à obrigação dos agentes públicos em prestar contas a instâncias 
controladoras ou a seus representados. 
Não se trata apenas de prestar contas em termos financeiros e quantitativos, 
mas de auto-avaliar a gestão pública, propiciando transparência aos 
administrados. 
Percebam a importância desta obrigação de prestar contas para quem exerce 
função pública e, assim, tem seus salários e subsídios, conforme o caso, 
arcados pelo dinheiro dos contribuintes. 
Accountability é um conceito da esfera ética com significados variados: 
responsabilidade civil, imputabilidade, obrigações e prestação de contas. 
Costuma-se falar em 2 tipos de accountability : 
 Vertical (conceito original e clássico): controle, por parte a população, dos
atos de seus governantes e agentes públicos;
 Horizontal: controle interno, dentro do aparelho estatal, composto por
uma rede de agências interligadas que se comuniquem com regularidade
para permitir o controle permanente da administração pública e da gestão
dos recursos públicos.
ÉTICA PARA AUDITOR DA CGE/MT 
– TEORIA E EXERCÍCIOS
Aula 02 
Professor: HENRIQUE CAMPOLINA 
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Henrique Campolina 18 
PLURALIDADE ÉTICA 
O tema Pluralidade Ética não é recente. No ano de 2000, o CESPE, na prova 
para Auditor Fiscal do INSS, já trazia um texto relacionado a essa questão. 
Confiram: 
Pluralidade ética, convenhamos, é antes de tudo uma condição de 
possibilidade da faculdade humano-natural de desejar. Faculdade 
por lei da qual podemos viver para sentidos ou finalidades 
imaginárias (éticas), que parecem a priori como um Bem para nós, 
e, portanto, como condição de uma Vida Boa. 
Assim, é porque podemos aspirar a uma Vida Boa - e não apenas à 
vida em si mesma -, exatamente por isso é que podemos postular a 
imanência da possibilidade da pluralidade no mundo moderno. 
Pluralidade ética, deduz-se então, é essa possibilidade intrínseca de 
viver para finalidades (valores, desejos) múltiplas, e portanto, para 
vários sentidos de Vida Boa. Em outros termos, pluralidade é 
também a possibilidade da diferença entre as ordens de valores, 
entre as motivações subjetivo-imaginárias para a vida. 
Pressente-se, desde logo, que a prática pluralista é também a mais 
adequada a um amplo exercício da liberdade. Se o ser livre se põe 
pela criação de valores, e se essa capacidade de criação é 
intrinsecamente múltipla - uma fonte ilimitada de diferenças - , 
então assumir o pluralismo como norma prática é o modo mais 
adequado de fundação de um agir humano sempre aberto à 
criatividade, à diferença, à transcendência, à história e, em suma, à 
liberdade. 
N. Levy. “Uma reinvenção da ética socialista”. in: Ética. 
Companhia das letras, 1992, p. 167 (com adaptações) 
Na pluralidade ética são admitidas diferentes valores morais, que podem variar 
em função de diversos componentes, características e evoluções de cada 
sociedade. 
Aspectos religiosos, culturais, raciais, sexuais, educacionais e regionais, dentre 
outros, influenciam, diretamente, na construção e consolidação dos valores 
morais e éticos de cada comunidade de convívio humano. 
Precisamos compreender a importância e o sentido da pluralidade ética no 
mundo contemporâneo, relacionando-a com o respeito às diversas identidades 
sociais e culturais. 
ÉTICA PARA AUDITOR DA CGE/MT 
– TEORIA E EXERCÍCIOS
Aula 02 
Professor: HENRIQUE CAMPOLINA 
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Henrique Campolina 19 
O professor de Bioética e Ética Médica da Faculdade de Medicina do 
Porto/Portugal, Daniel Serrão cita a pluralidade ética para analisar previamente 
determinadas questões biomédicas no plano internacional e no âmbito da 
normatividade interna. 
Tal citação nos ajuda a compreender a extensão da interferência dessa 
pluralidade nas diversas esferas e campos de atuação das sociedades humanas. 
Confiram comigo os ensinamentos de Serrão: 
Nas sociedades com organização democrática e nos organismos de 
coordenação internacional com preocupações éticas, como a 
UNESCO ou o Conselho da Europa, vigora um conceito de 
pluralidade ética que pressupõe que não há valores nem juízos 
morais que sejam universalmente aceitos por todos os cidadãos de 
um país ou por todos os Estados da Organização das Nações 
Unidas. Os valores essenciais para a garantia da coesão social de 
um Estado democrático passam a ser normas jurídicas segundo a 
regra da maioria - seu cumprimento é obrigatório e seu 
descumprimento, sancionado. Todos os valores e juízos morais não 
contemplados no ordenamento jurídico de um Estado de Direito 
Democrático estão abertos à opção livre dos cidadãos, no quadro do 
que se chama relativismo cultural. Como não há critérios objetivos 
para se poder afirmar que uma cultura é “melhor” que outra, o 
fundamentalismo cultural é inaceitável no plano ético. 
Contudo, como recentemente salientava Sören Holm, o relativismo 
cultural não nos deve fazer aceitar culturas nas quais a intolerância 
é um valor socialmente estimado ou culturas que, por princípio, não 
aceitam os Direitos do Homem como valores universais.8 
Percebam, a partir desses ensinamentos do mestre lusitano, que mesmo a 
pluralidade ética não é absoluta e permite que tracemos limites, objetivando 
evitar a completa e total inversão dos valores morais e éticos universalmente 
aceitos pela população mundial. 
Ou seja, a pluralidade ética não pode admitir, por exemplo, que sacrifícios 
humanos sem justificativas plausíveis e coerentes sejam realizados e 
considerados morais e éticos, somente pelo fato desses rituais estarem 
embasados em tradições regionais e culturais. 
8 SERRÃO, Daniel. O Estatuto do Embrião. Revista Bioética. V. 11, n.2, 2003. Página 111. (Disponível em: 
http://revistabioetica.cfm.org.br/index.php/revista_bioetica/article/view/183/187, acesso em jan/2015) 
ÉTICA PARA AUDITOR DA CGE/MT 
– TEORIA E EXERCÍCIOS
Aula 02 
Professor: HENRIQUE CAMPOLINA 
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Henrique Campolina 20 
A pluralidade ética impõe a compreensão privada de vida boa9, pelo respeito e 
reconhecimento recíprocos de iguais liberdades com diferentes pontos de vista 
e modos de vida, como nos ensina Chamon Júnior: 
“reconhecimento recíproco e igual de direitos e espaços privados de 
construção, e público de manisfestação, de questões valorativas, de 
questões de vida boa”10 
A modernidade agrega a esse processo de compreensão e aceitação da 
pluralidade ética um importante aspecto à medida que elege como fundamento 
de sua legitimidade a observância de iguais liberdades fundamentais. 
Assim, é preciso possibilitar e aceitar manifestaçõese reconhecimentos de 
formas particulares e diferentes de vida boa. 
Chamon Júnior lembra que não podemos definir uma hierarquização entre 
valores no contexto da pluralidade: 
“a abertura ao reconhecimento legítimo da pluralidade, seja na 
esfera pública, seja na esfera privada, pressupõe a não assunção de 
uma hierarquização de valores que se lança como pretendente de 
todos; afinal – e isto é que podemos reconstruir a partir de um pano 
de fundo moderno, no resgate da racionalidade perdida em nossa 
práxis e que, pois, há que ser retomada insistentemente e 
continuamente se ansiamos por uma construção legítima, válida em 
termos fortes, do Direito -, para reconhecermos iguais liberdades 
não podemos estabelecer como limites destes mesmos direitos a 
nossa compreensão daquilo que é bom. Do contrário, não 
estaríamos reconhecendo todos como capazes de iguais direitos: 
afinal teríamos um privilégio, qual seja, o de determinar, da nossa 
perspectiva parcial porque valorativa, aquilo que seria ‘bom’ ou o 
‘bem’ aos outros, vedando a estes esse exato direito de decidirem 
acerca daquilo que eles entendem como mais valioso, como sua 
‘melhor compreensão de vida boa’”.11 
Mas, mesmo no pensamento acima, é preciso, como dissemos acima, existir 
limites e valores mínimos a serem respeitados em toda pluralidade ética. 
9 Vida boa: concepções morais de um indivíduo acerca do que é justo ou correto. 
10 CHAMON JÚNIOR, Lúcio Antônio. Teoria da argumentação jurídica: constitucionalismo e democracia em 
uma reconstrução das fontes do Direito Moderno. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008, página 102 
11 CHAMON JÚNIOR, Lúcio Antônio. O direito de morrer pressupõe a garantia de compreensões privadas 
acerca de ‘morte boa’ e de ‘vida boa’, vez que codependentes.(In: FREIRE DE SÁ. Maria de Fátima. Direito 
de morrer: eutanásia, suicídio assistido. 2 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2005) 
ÉTICA PARA AUDITOR DA CGE/MT 
– TEORIA E EXERCÍCIOS
Aula 02 
Professor: HENRIQUE CAMPOLINA 
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Henrique Campolina 21 
ÉTICA E VIOLÊNCIA 
Em virtude da perfeita sintonia de nosso edital com a obra de Chaui, já citada 
na presente aula, vou transcrever a parte que a autora fala, exatamente, sobre 
Ética e Violência: 
ÉTICA E VIOLÊNCIA12 
Quando acompanhamos a história das idéias éticas, desde a 
Antiguidade clássica (greco-romana) até nossos dias, podemos 
perceber que, em seu centro, encontra-se o problema da violência e 
dos meios para evitá-la, diminuí-la, controlá-la. Diferentes 
formações sociais e culturais instituíram conjuntos de valores éticos 
como padrões de conduta, de relações intersubjetivas e 
interpessoais, de comportamentos sociais que pudessem garantir a 
integridade física e psíquica de seus membros e a conservação do 
grupo social. 
Evidentemente, as várias culturas e sociedades não definiram e 
nem definem a violência da mesma maneira, mas, ao contrário, 
dão-lhe conteúdos diferentes, segundo os tempos e os lugares. No 
entanto, malgrado as diferenças, certos aspectos da violência são 
percebidos da mesma maneira, nas várias culturas e sociedades, 
formando o fundo comum contra o qual os valores éticos são 
erguidos. Fundamentalmente, a violência é percebida como 
exercício da força física e da coação psíquica para obrigar alguém a 
fazer alguma coisa contrária a si, contrária aos seus interesses e 
desejos, contrária ao seu corpo e à sua consciência, causando-lhe 
danos profundos e irreparáveis, como a morte, a loucura, a auto-
agressão ou a agressão aos outros. 
Quando uma cultura e uma sociedade definem o que entendem por 
mal, crime e vício, circunscrevem aquilo que julgam violência contra 
um indivíduo ou contra o grupo. Simultaneamente, erguem os 
valores positivos – o bem e a virtude – como barreiras éticas contra 
a violência. 
Em nossa cultura, a violência é entendida como o uso da força física 
e do constrangimento psíquico para obrigar alguém a agir de modo 
contrário à sua natureza e ao seu ser. A violência é a violação da 
integridade física e psíquica, da dignidade humana de alguém. Eis 
por que o assassinato, a tortura, a injustiça, a mentira, o estupro, a 
calúnia, a má-fé, o roubo são considerados violência, imoralidade e 
crime. 
12 CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000, páginas 432 e 433.
ÉTICA PARA AUDITOR DA CGE/MT 
– TEORIA E EXERCÍCIOS
Aula 02 
Professor: HENRIQUE CAMPOLINA 
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Henrique Campolina 22 
Considerando que a humanidade dos humanos reside no fato de 
serem racionais, dotados de vontade livre, de capacidade para a 
comunicação e para a vida em sociedade, de capacidade para 
interagir com a Natureza e com o tempo, nossa cultura e sociedade 
nos definem como sujeitos do conhecimento e da ação, localizando 
a violência em tudo aquilo que reduz um sujeito à condição de 
objeto. Do ponto de vista ético, somos pessoas e não podemos ser 
tratados como coisas. Os valores éticos se oferecem, portanto, 
como expressão e garantia de nossa condição de sujeitos, proibindo 
moralmente o que nos transforme em coisa usada e manipulada por 
outros. 
A ética é normativa exatamente por isso, suas normas visando 
impor limites e controles ao risco permanente da violência. 
RAZÃO, DESEJO E VONTADE 
Precisamos, sempre, buscar fontes de estudos que possam ser cobradas na 
prova. 
Vejam, novamente, um capítulo da obra de Chaui com o mesmo título de um 
tópico presente no conteúdo programático de nossa matéria no edital: 
RAZÃO, DESEJO E VONTADE13 
A tradição filosófica que examinamos [...] constitui o racionalismo 
ético, pois atribui à razão humana o lugar central na vida ética. 
Duas correntes principais formam a tradição racionalista: aquela 
que identifica razão com inteligência, ou intelecto – corrente 
intelectualista – e aquela que considera que, na moral, a razão 
identifica-se com a vontade – corrente voluntarista. 
Para a concepção intelectualista, a vida ética ou vida virtuosa 
depende do conhecimento, pois é somente por ignorância que 
fazemos o mal e nos deixamos arrastar por impulsos e paixões 
contrários à virtude e ao bem. O ser humano, sendo essencialmente 
racional, deve fazer com que sua razão ou inteligência (o intelecto) 
conheça os fins morais, os meios morais e a diferença entre bem e 
mal, de modo a conduzir a vontade no momento da deliberação e 
da decisão. A vida ética depende do desenvolvimento da inteligência 
ou razão, sem a qual a vontade não poderá atuar. 
13 CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000, páginas 450 e 453.
ÉTICA PARA AUDITOR DA CGE/MT 
– TEORIA E EXERCÍCIOS
Aula 02 
Professor: HENRIQUE CAMPOLINA 
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Henrique Campolina 23 
Para a concepção voluntarista, a vida ética ou moral depende 
essencialmente da nossa vontade, porque dela depende nosso agir 
e porque ela pode querer ou não querer o que a inteligência lhe 
ordena. Se a vontade for boa, seremos virtuosos, se for má, 
seremos viciosos. A vontade boa orienta nossa inteligência no 
momento da escolha de uma ação, enquanto a vontade má desvia 
nossa razão da boa escolha, no momento de deliberar e de agir. A 
vida ética depende da qualidade de nossa vontade e da disciplina 
para forçá-la rumo ao bem. O dever educa a vontade para que se 
torne reta e boa. 
Nas duas correntes, porém, há concordância quanto à idéia de que, 
por natureza, somos seres passionais, cheios de apetites, impulsos 
e desejos cegos, desenfreados e desmedidos, cabendo à razão (seja 
como inteligência, no intelectualismo, seja como vontade, no 
voluntarismo) estabelecer limites e controles para paixões e 
desejos. 
Egoísmo, agressividade, avareza, busca ilimitada de prazeres 
corporais, sexualidade sem freios, mentira,hipocrisia, má-fé, desejo 
de posse (tanto de coisas como de pessoas), ambição desmedida, 
crueldade, medo, covardia, preguiça, ódio, impulsos assassinos, 
desprezo pela vida e pelos sentimentos alheios são algumas das 
muitas paixões que nos tornam imorais e incapazes de relações 
decentes e dignas com os outros e conosco mesmos. Quando 
cedemos a elas, somos viciosos e culpados. A ética apresenta-se, 
assim, como trabalho da inteligência e/ou da vontade para dominar 
e controlar essas paixões. 
Uma paixão – amor, ódio, inveja, ambição, orgulho, medo – coloca-
nos à mercê de coisas e pessoas que desejamos possuir ou destruir. 
O racionalismo ético define a tarefa da educação moral e da conduta 
ética como poderio da razão para impedir-nos de perder a liberdade 
sob os efeitos de paixões desmedidas e incontroláveis. Para tanto, a 
ética racionalista distingue necessidade, desejo e vontade. 
A necessidade diz respeito a tudo quanto necessitamos para 
conservar nossa existência: alimentação, bebida, habitação, 
agasalho no frio, proteção contra as intempéries, relações sexuais 
para a procriação, descanso para desfazer o cansaço, etc. 
Para os seres humanos, satisfazer às necessidades é fonte de 
satisfação. O desejo parte da satisfação de necessidades, mas 
acrescenta a elas o sentimento do prazer, dando às coisas, às 
pessoas e às situações novas qualidades e sentidos. No desejo, 
nossa imaginação busca o prazer e foge da dor pelo significado 
atribuído ao que é desejado ou indesejado. 
A maneira como imaginamos a satisfação, o prazer, o 
contentamento que alguma coisa ou alguém nos dão transforma 
ÉTICA PARA AUDITOR DA CGE/MT 
– TEORIA E EXERCÍCIOS
Aula 02 
Professor: HENRIQUE CAMPOLINA 
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Henrique Campolina 24 
esta coisa ou este alguém em objeto de desejo e o procuramos 
sempre, mesmo quando não conseguimos possuí-lo ou alcançá-lo. O 
desejo é, pois, a busca da fruição daquilo que é desejado, porque o 
objeto do desejo dá sentido à nossa vida, determina nossos 
sentimentos e nossas ações. Se, como os animais, temos 
necessidades, somente como humanos temos desejos. Por isso, 
muitos filósofos afirmam que a essência dos seres humanos é 
desejar e que somos seres desejantes: não apenas desejamos, mas 
sobretudo desejamos ser desejados por outros. 
A vontade difere do desejo por possuir três características que este 
não possui: 
1. o ato voluntário implica um esforço para vencer obstáculos. Estes 
podem ser materiais (uma montanha surge no meio do caminho), 
físicos (fadiga, dor) ou psíquicos (desgosto, fracasso, frustração). 
A tenacidade e a perseverança, a resistência e a continuação do 
esforço são marcas da vontade e por isso falamos em força de 
vontade; 
2. o ato voluntário exige discernimento e reflexão antes de agir, isto 
é, exige deliberação, avaliação e tomada de decisão. A vontade 
pesa, compara, avalia, discute, julga antes da ação; 
3. a vontade refere-se ao possível, isto é, ao que pode ser ou deixar
de ser e que se torna real ou acontece graças ao ato voluntário,
que atua em vista de fins e da previsão das conseqüências. Por
isso, a vontade é inseparável da responsabilidade.
O desejo é paixão. A vontade, decisão. O desejo nasce da 
imaginação. A vontade se articula à reflexão. O desejo não suporta 
o tempo, ou seja, desejar é querer a satisfação imediata e o prazer
imediato. A vontade, ao contrário, realiza-se no tempo; o esforço e 
a ponderação trabalham com a relação entre meios e fins e aceitam 
a demora da satisfação. Mas é o desejo que oferece à vontade 
os motivos interiores e os fins exteriores da ação. À vontade 
cabe a educação moral do desejo. Na concepção intelectualista, a 
inteligência orienta a vontade para que esta eduque o desejo. Na 
concepção voluntarista, a vontade boa tem o poder de educar o 
desejo, enquanto a vontade má submete-se a ele e pode, em 
muitos casos, pervertê-lo. 
Consciência, desejo e vontade formam o campo da vida ética: 
consciência e desejo referem-se às nossas intenções e 
motivações; a vontade, às nossas ações e finalidades. As 
primeiras dizem respeito à qualidade da atitude interior ou dos 
sentimentos internos ao sujeito moral; as últimas, à qualidade da 
atitude externa, das condutas e dos comportamentos do sujeito 
moral. 
Para a concepção racionalista, a filosofia moral é o conhecimento 
das motivações e intenções (que movem interiormente o sujeito 
moral) e dos meios e fins da ação moral capazes de concretizar 
ÉTICA PARA AUDITOR DA CGE/MT 
– TEORIA E EXERCÍCIOS
Aula 02 
Professor: HENRIQUE CAMPOLINA 
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Henrique Campolina 25 
aquelas motivações e intenções. Convém observar que a posição de 
Kant, embora racionalista, difere das demais porque considera 
irrelevantes as motivações e intenções do sujeito, uma vez que a 
ética diz respeito à forma universal do ato moral, como ato livre de 
uma vontade racional boa, que age por dever segundo as leis 
universais que deu a si mesma. O imperativo categórico exclui 
motivos e intenções (que são sempre particulares) porque estes o 
transformariam em algo condicionado por eles e, portanto, o 
tornariam um imperativo hipotético, destruindo-o como fundamento 
universal da ação ética por dever. 
LIBERDADE, AUTONOMIA DO SUJEITO E A NECESSIDADE DAS 
NORMAS 
Primeiramente, trarei um conceito de liberdade em sentido ético, retirado do 
Dicionário Básico de Filosofia, de JAPIASSÚ e MARCONDES: 
LIBERDADE (lat. libertas) 14 
Condição daquele que é livre. Capacidade de agir por si mesmo. 
Autodeterminação. Independência. Autonomia. 
[...] 
2. Em um sentido ético, trata-se do direito de escolha pelo indivíduo
de seu modo de agir, independentemente de qualquer determinação 
externa. 
"A liberdade consiste unicamente em que, ao afirmar ou 
negar, realizar ou enviar o que o entendimento nos 
prescreve, agimos de modo a sentir que. em nenhum 
momento, qualquer força exterior nos constrange" 
(Descartes). 
É discutível, do ponto de vista filosófico, se o homem teria 
realmente a liberdade em um sentido absoluto, dados os 
condicionamentos biológicos, psicológicos e sociais que o limitam. 
Kant considera que a liberdade é a ação em conformidade com a lei 
moral que nos outorgamos a nós mesmos. A liberdade implica 
assim a responsabilidade do indivíduo por seus próprios atos. 
Sartre, em sua perspectiva existencialista, crê que o homem é livre: 
"porque somos aquilo que fazemos do que fazem de 
nós". 
Haveria sempre a possibilidade de escolha a partir da condição em 
que nos encontramos, porque o homem nunca é um ser acabado, 
predeterminado. Ainda segundo Sartre: 
"não há diferença entre o ser do homem e seu ser livre". 
14 In JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 3ª ed. Rio de Janeiro: Jorge 
Zahar Editor, 2001, pag. 119 
ÉTICA PARA AUDITOR DA CGE/MT 
– TEORIA E EXERCÍCIOS
Aula 02 
Professor: HENRIQUE CAMPOLINA 
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Henrique Campolina 26 
Como Autonomia, que também aparece no título desse capítulo de nossa aula, 
surgiu na definição acima transcrita, vamos buscar15 algumas notas presentes 
em seus verbetes. 
Autonomia: 
 Liberdade moral;
 Liberdade intelectual;
 Qualidade ou estado de autônomo.
E ao pesquisarmos autônomo, na mesma fonte, obtemos: 
 Que não está sujeito a potência estranha, que se governa por leis próprias;
 Independente;
 Livre;
 Que professa as próprias opiniões.
Para Kant, o sujeito é capaz de agir movido por um único condicionamento, 
qual seja, a razão: 
Autonomia – lei ou norma do mesmo – consiste, então, em 
determinar suas próprias leis, não como um sujeito empírico, 
condicionado pelo ambiente ou por suas paixões, mas como umsujeito transcendental, condicionado apenas pela razão, que é 
universal e necessária.16 
Contrapondo ao conceito do sujeito autônomo, temos o heterônomo: 
 Sujeito à vontade de outrem;
 Subordinado ou sujeito a uma lei exterior.
Então, chegamos ao ponto de interseção questionado pelo item de nosso edital: 
Liberdade (autonomia do sujeito) X Necessidade das Normas 
Por mais que sejamos adeptos e propensos a buscar uma sociedade com total 
liberdade de ação de seus indivíduos, é necessário o estabelecimento, nem que 
seja mínimo, de limites às liberdades individuais. Podemos dizer que se trata de 
um preço a ser pago para viabilizar a convivência humana. 
15 Fonte: Dicionário Online Michaelis.Uol (disponível em http://michaelis.uol.com.br) 
16 In JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 3ª ed. Rio de Janeiro: Jorge 
Zahar Editor, 2001 
ÉTICA PARA AUDITOR DA CGE/MT 
– TEORIA E EXERCÍCIOS
Aula 02 
Professor: HENRIQUE CAMPOLINA 
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Henrique Campolina 27 
Nossa condição natural e cultural, objetivando a não implantação da lei do mais 
forte (muito observada no mundo animal irracional), determina que 
estabeleçamos códigos de conduta, normas e valores que devem ser 
respeitados por todos. 
Não há sociedade humana nem convivência harmônica, ordenada e pacífica sem 
esses códigos de direitos e deveres, coerentes e compatíveis com cada 
convivência humana, sendo suportada pelos valores morais legitimamente 
aceitos por seus indivíduos. 
Buscando a estudada pluralidade ética, chegamos à conclusão imediata e lógica 
que existem diversos e característicos códigos, aderentes a sua respectiva 
sociedade humana. 
Na visão ética, os juízos de valor também normativos. Eles ditam normas que 
determinam o “dever-ser” de nossas condutas, atos, comportamentos e, até 
mesmo, de nossos sentimentos. 
As normas decorrentes dos juízos de valores éticos buscam critérios sob a ótica 
do bem e do mal, do certo e do errado, do justo e do injusto, dentre outros. 
É interessante percebermos que a autonomia do sujeito pode, inclusive, alterar 
ou provocar a mudança das normas existentes, à medida que essas não mais 
traduzem os valores de sua sociedade. 
Assim, a autonomia do sujeito buscará garantir a liberdade de expressão, o 
reconhecimento e a legitimação de novas identidades sociais e políticas surgidas 
em seu convívio. 
Depois de passarmos pelos tópicos de nosso edital, já podemos nos aventurar 
no simulado final, que comporá nossa Aula 3 e nos ajudará a irmos nos 
familiarizando com a forma de cobrança da matéria aqui estudada. 
ÉTICA PARA AUDITOR DA CGE/MT 
– TEORIA E EXERCÍCIOS
Aula 02 
Professor: HENRIQUE CAMPOLINA 
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Henrique Campolina 28 
Antes, porém, duas interessantes charges sobre Ética (de autoria de Ivan 
Cabral17), para que reflitamos um pouco sobre os rumos que nosso país sinaliza 
no campo da ética e da moral: 
Temos o dever de mudar tal cenário! 
17 Fonte: http://www.ivancabral.com 
ÉTICA PARA AUDITOR DA CGE/MT 
– TEORIA E EXERCÍCIOS
Aula 02 
Professor: HENRIQUE CAMPOLINA 
www.pontodosconcursos.com.br | Prof. Henrique Campolina 29 
BIBLIOGRAFIA 
ROCHA, Cármen Lúcia Antunes. O Princípio Constitucional da Igualdade. Belo 
Horizonte: Lê, 1991. 
Dicionário Online Michaelis (www.michaelis.uol.com.br) 
Código de Conduta do Banestes S.A. (www.banestes.com.br) 
ZAJDSZNAJDER, Luciano. Ser ético. Rio de Janeiro: Gryphus, 1994. 
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000. 
SERRÃO, Daniel. O Estatuto do Embrião. Revista Bioética. V. 11, n.2, 2003. 
Disponível em: http://revistabioetica.cfm.org.br/index.php/revista_bioetica/article/view/183/187, 
acesso em janeiro/2015 
CHAMON JÚNIOR, Lúcio Antônio. Teoria da argumentação jurídica: 
constitucionalismo e democracia em uma reconstrução das fontes do Direito 
Moderno. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. 
CHAMON JÚNIOR, Lúcio Antônio. O direito de morrer pressupõe a garantia de 
compreensões privadas acerca de ‘morte boa’ e de ‘vida boa’, vez que 
codependentes. In: FREIRE DE SÁ. Maria de Fátima. Direito de morrer: 
eutanásia, suicídio assistido. 2 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2005. 
CARVALHO, Luis Carlos Ludovikus Moreira de. Ética e Cidadania. Assembleia 
Legislativa de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2003 (www.almg.gov.br). 
JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 3ª ed. 
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.

Continue navegando