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CAPITULO I - EVOLUCAO DO CONSTITUCIONALISMO

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CAPÍTULO I
EVOLUÇÃO DO CONSTITUCIONALISMO
Noção Geral
Constitucionalismo é o movimento político e jurídico que busca estabelecer em toda parte regimes constitucionais, quer dizer, governos moderados, limitados em seus poderes e submetidos a Constituições escritas. Confunde-se, no plano político, com o liberalismo e, com este, sua marcha no século passado e nos três primeiros anos deste século foi triunfal. Ou pela derrubada dos tronos, ou pela “outorga” dos monarcas, um a um, todos os Estados europeus, salvo a Rússia, adotaram Constituição. (1)
Pode-se identificar pelo menos dois sentidos para o constitucionalismo. Numa primeira acepção, emprega-se a referência ao movimento político-social com origens históricas bastante remotas que pretende, em especial, limitar o poder arbitrário. Numa segunda acepção, é identificado com a imposição de que haja certas cartas constitucionais escritas. (3)
A história do constitucionalismo não é senão a busca pelo homem político das limitações do poder absoluto exercido pelos detentores do poder, assim como o esforço de estabelecer uma justificação espiritual, moral ou ética da autoridade, em lugar da submissão cega à facilidade da autoridade existente. Em sentido ontológico, dever-se-á considerar como finalidade de toda Constituição a criação de instituições para limitar e controlar o poder político. (3)
Constitucionalismo na Antigüidade
As Constituições do mundo antigo não eram codificadas, formando um documento único para reger a vida da comunidade, abrangendo um conjunto de costumes, usos, tradições e estatutos sobre a organização política da comunidade. (2)
Constitucionalismo na Idade Média
Durante vários séculos na Idade Média os homens viveram sob a tutela de regimes absolutistas, no seio dos quais ficava vedada qualquer forma participativa, e nenhum limite poderia ser imposto aos governantes. Estes eram compreendidos como verdadeiras reencarnações do soberano ou entidades divinas, enviados de Deus para cumprir uma função de comandar o povo e, portanto, todo o aparelho estatal, o que poderiam fazer de acordo com sua vontade, livres de quaisquer limitações. Suas decisões eram consideradas acima das leis, ou seja, seus atos não se submetiam ao controle jurídico. (3)
Na Idade Média, floresceu a idéia de que a autoridade dos governantes se fundava num contrato com os súditos: o contrato social. Por este pacto, o povo se sujeitava a obedecer ao príncipe enquanto este se comprometia a governar com justiça, ficando Deus como árbitro e fiel do cumprimento do contrato. Assim, violando o príncipe a obrigação de justiça, exoneravam-se os súditos da obediência devida, pela intervenção do Papa, representante da divindade sobre a Terra. As obras que disciplinaram o contrato social foram: Leviatã (Hobbes), Tratado do Governo Civil (Locke) e, principalmente, Contrato Social (Russeau). (1)
Foi na Inglaterra que se elaborou com mais nitidez o início do regime constitucional. Muito embora ela não tenha corporificado o seu regime em um documento único, já no séc. XIII, em 1215, foi elaborada a Magna Carta, assinalando a vitória expressiva dos barões ingleses contra o poder absoluto da monarquia. A Constituição inglesa elabora um primeiro ciclo na evolução do mundo constitucional, estabelecendo as bases da Monarquia parlamentarista e das garantias aos direitos do homem. (2)
Constata-se que a Inglaterra, apesar dos rompantes revolucionários, desenvolve um longo, lento e progressivo processo de construção das instituições constitucionais, formando, por fim, uma Monarquia Constitucional, em contraposição à Monarquia Absolutista anteriormente vigente. Tal mudança pode ser tomada como o renascimento do constitucionalismo, trazendo consigo a alteração da fonte do poder estatal, que passa das mãos do monarca (que possuía um poder fundado em sua própria imagem, compreendido como ilimitado) para o texto constitucional. (3)
É possível afirmar que a Inglaterra, a despeito de ter sido inovadora no acabamento de um texto constitucional, nunca criou uma Constituição escrita no modelo difundido a partir dos Estados Unidos, sendo certo que seus institutos de natureza constitucional permanecem assentados em tradições e costumes do povo. (3)
Constitucionalismo Moderno
A origem formal do constitucionalismo está ligada às Constituições escritas e rígidas dos Estados Unidos da América, de 1787, após a independência das 13 Colônias, e da França, em 1791, a partir da Revolução Francesa, apresentado dois traços marcantes: organização do Estado e limitação do poder estatal, por meio de previsão de direitos e garantias fundamentais. (4)
Tem-se que a consagração da primeira Constituição escrita não coincidiu, cronologicamente, com o surgimento do constitucionalismo, que lhe é, pois, bastante anterior. A valorização do documento constitucional escrito toma substância nesta nova fase, denominada constitucionalismo moderno, que tem seu desencadeamento determinado pela criação das constituições dos Estados Unidos, pela Constituição de 1787, e pela Revolução Francesa, em 1789. (3)
A Constituição escrita apresenta como novidade fundamental a crença na possibilidade de, pondo-se de parte a organização costumeira do Estado, dar-se ao mesmo uma estrutura racional inspirada num sistema preconcebido. Ora, essa crença, se pode ter apontado cá ou lá anteriormente, só se difundiu e ganhou público na segunda metade do século XVIII, triunfando com a Revolução de 1789. (1)
Uma segunda etapa no desenvolvimento das constituições procede aos ideais políticos norte-americanos. Ao fim do séc. XVIII, as colônias inglesas na América da Norte se rebelaram e formaram uma confederação, cujos delegados se reuniram na chamada Convenção da Filadélfia, surgindo a primeira Constituição escrita do mundo, a Constituição norte-americana, de 17.09.1787. Esta é também a Constituição escrita mais antiga do mundo, que estabeleceu o regime federativo, a democracia republicana, um governo de legalidade e as garantias dos direitos tradicionais do homem. (2)
Nas Américas, o rompimento das sujeições coloniais impôs a adoção de Constituições escritas, em que, abandonando a organização histórica, a vontade dos libertadores pudesse fixar as regras básicas da existência independente. Sem dúvida, o constitucionalismo na América procede da mesma orientação que o europeu. Aqui, porém, a Constituição escrita era exigência da própria independência, pois esta implicava o rompimento dos costumes e a destruição das instituições políticas tradicionais. (1)
Uma terceira etapa da evolução constitucional é firmada na França. A sua Revolução de 1789 assinalou um passo à frente na libertação humana. Muitas foram as Constituições da França desde a época de sua Revolução, a começar de 1789. A França se orientou pelos princípios da liberdade, fraternidade e igualdade, como uma famosa trilogia constitucional, e o seu regime político consolidou as bases de uma República parlamentarista. (2)
É a partir deste momento que ganha força o constitucionalismo moderno, espalhando sua doutrina por toda a Europa a partir dos fins do séc. XVIII. Foi na França que houve o estopim europeu para a “corrida constitucionalista”, inaugurando-se uma nova etapa na ordem social do velho mundo. A Revolução Francesa derruba a monarquia e a nobreza, castas dominantes até então, para impor uma Constituição escrita, com a preocupação de assegurar amplamente seus ideais de liberdade, fraternidade e igualdade. (3)
Em 1789 é editada a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão e em 1791 edita-se a primeira Constituição escrita européia, a francesa, que teve referida Declaração como preâmbulo. A partir dela, começaram a surgir Constituições por toda a Europa e, daí, para os outros continentes. (3)
Constitucionalismo Contemporâneo
É também interessante destacar uma quarta etapa no desenvolvimento das constituições, com a Alemanha. Embora a Alemanha já tenha tido a sua Constituição no séc. XIX, sua Lei Magna é a Constituição deWeimar de 11.08.1919. Essa assinalou as bases de uma democracia social, divergente da simples democracia política até então dominante, abrindo mesmo um pouco o caminho para uma relativa socialização. Posteriormente, a velha Alemanha foi dividida, surgindo uma nova Constituição para a Alemanha Ocidental, com a chamada Lei Fundamental da República Federal da Alemanha, de 22.05.1949. Esta Constituição é chamada de Constituição de Bonn e é uma retomada de contato com a de Weimar. Mais tarde verificou-se a reunificação de toda a Alemanha, regida pela Constituição Federal de Bonn. (2)
A derradeira etapa no desenvolvimento político foi a do socialismo. A Revolução Socialista explodiu na Rússia tzarista de 1917. A extinta União Soviética teve a Constituição de 1923, de 1936 e de 1977. Estabeleceu-se o regime socialista com a abolição das formas tradicionais de propriedade, e se inaugurou uma ditadura do proletariado. Tal sistema inspirou a marcha do mundo para o socialismo e o advento de Constituições socialistas na Europa central e oriental e na China, instalando-se também uma república socialista na América Latina, em Cuba. (2)
Constitucionalismo Globalizado
As Constituições do mundo atual têm um conteúdo social mais amplo, procurando corrigir as injustiças tradicionais causadas pela exploração do homem. Procuram, assim, complementar as liberdades políticas pelas liberdades econômicas, embora nem sempre a prática das Constituições realize a pureza dos princípios nelas estabelecidos e consignados. (2)
Importa salientar, aqui, o constitucionalismo de verdade. Nesta referência, existem duas categorias de normas a serem analisadas. Uma parcela, que é constituída de normas que jamais passam de programáticas e são praticamente inalcançáveis pela maioria dos Estados; e uma outra sorte de normas que não são implementadas por simples falta de motivação política dos administradores e governantes responsáveis. (3)
	REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
	Manoel Gonçalves Ferreira Filho
Pinto Ferreira
André Ramos Tavares
Alexandre de Morais

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