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COMPLEXO TENÍASE

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COMPLEXO TENÍASE-CISTICERCOSE
INTRODUÇÃO
O complexo teníase-cisticercose engloba, na realidade, duas doenças distintas, com sintomatologia e epidemiologia totalmente diferentes, a teníase, onde o parasita adulto está presente apenas no homem; a cisticercose, onde o estádio larval da Taenia saginata, que acomete bovinos, ou da Taenia solium, que pode acometer suínos e seres humanos. 
Na maioria das vezes, o complexo teníase-cisticercose está relacionado tão somente às precárias condições sanitárias e ao baixo nível socioeconômico, que induzem e permitem o acesso da população ao consumo de carne de má procedência, verdura e águas contaminadas. O complexo teníase-cisticercose é, portanto, uma zoonose importante que precisa de mais atenção dos órgãos públicos de saúde.
É importante ressaltar que além das baixas condições socioeconômicas da população, o saneamento básico deficiente, os hábitos de alimentação e higiene pessoal inapropriados, a criação de animais em condições inadequadas de higiene e
próxima ao homem, assim como o elevado comércio clandestino de carnes, são alguns dos fatores determinantes para a ocorrência do Complexo Teníase-Cisticercose.
Fatores econômicos, culturais e religiosos também tendem a expor certas
classes sociais ou até mesmo determinadas populações a esse contágio. Pessoas que preparam alimentos e provam a carne antes que esteja, realmente, cozida e mesmo
aqueles indivíduos que fazem suas refeições fora de casa estão mais sujeitos a contrair a teníase.
Em termos econômicos, a importância desta doença esta associada aos
prejuízos verificados no abate, quando as carcaças são julgadas, recebem
aproveitamento condicional ou são rejeitadas parcialmente ou totalmente
ETIOLOGIA
O complexo teníase-cisticercose é uma zoonse causada pela Taenia sp. , um helminto pertencente a classe Cestoda e família Taeniidae. Duas espécies são conhecidas mundialmente, Taenia solium e Taenia saginata, que representam os parasitas em sua forma adulta. Para o desenvolvimento completo do ciclo evolutivo, estes parasitas necessitam de dois hospedeiros: o intermediário, suíno ou bovino, respectivamente, e o definitivo, o ser humano.
A Taenia saginata apresenta corpo achatado dorso-ventralmente, em forma de fita, dividido em escólex ou cabeça, colo ou pescoço e estróbilo ou corpo. De cor branca leitosa, apresenta a extremidade anterior bastante afilada e de difícil visualização. O escólex é uma pequena dilatação e situa-se na extremidade anterior, funcionando como órgão de fixação à mucosa do intestino delgado humano. Apresenta quatro ventosas proeminentes formada de tecido muscular. A T. saginata tem o escólex inerme, sem rostelo e acúleos. As proglotes são hermafroditas, podendo ocorrer a fertilização cruzada entre proglotes ou auto-fertilizaçao.
A forma larvária da T. saginata, o Cysticerco bovis, e da T. solium, o Cysticerco cellulosae, é branco acinzentada, totalmente preenchida de liquido, no qual o escólex invaginado geralmente é visto com nitidez.
Os ovos são possuem dois envoltórios , são esféricos , com casca espessa estriada no interior do ovo, onde fica a larva, denominada embrião hexacanto. Os ovos são bastante resistentes, principalmente quando envolvidos em um película de água, com isso, podem permanecer presentes no solo até por um ano. Além disso, são resistentes a fervura acima de 90ºC. 
EPIDEMIOLOGIA
O ciclo evolutivo do complexo teníase-cisticercose é completado quando o homem adquire a teníase, ingerindo carne bovina ou suína, crua ou mal cozida, contendo cisticercos viáveis. O ser humano é o único hospedeiro da forma adulta destes parasitas, sendo portanto o a fonte de infecção responsável pela sua disseminação e pela manutenção do ciclo zoonótico em regiões com ausência de saneamento básico adequado, eliminando proglotes maduras da tênia juntamente com suas fezes.
A cisticercose é caracterizada pela presença dos cisticercos alojados em tecidos corporais do hospedeiro intermediário, que acontece pela ingestão de ovos de Taenia sp. O ser humano é o único hospedeiro definitivo, mas também pode atuar como hospedeiro intermediário quando da ingestão acidental de ovos de T. solium ou T. saginata procedentes da contaminação de alimentos com fezes de humanos portadores (heteroinfecção) ou pela autoinfecção (endógena, através do retroperistaltismo, no qual os ovos maduros vão para o estomago do portador; ou exógena, descuidos com a higiene que levam a auto-infecção com ovos de tênia liberados em suas próprias fezes).
Há fatores que auxiliam a dispersão dos ovos, tais como: a contaminação fecal
do solo, o transporte através do vento, aves, anelídeos e artrópodes - moscas, besouros, traças, formigas, pulgas e ácaros oribatídeos.
Os ovos são resistentes ao tratamento convencional de esgotos, porém o
tratamento convencional da água, através da floculação, sedimentação e filtração, é
suficiente para eliminá-los.
A neurocisticercose humana é reconhecida como uma importante causa de epilepsia, porém negligenciada nos países em desenvolvimento. Atualmente é uma das mais frequentes zoonoses que afetam o SNC de seres humanos. Alguns autores sustentam que a cisticercose humana causada pelo Cysticercus bovis é extremamente rara ou
não ocorre, mas não há comprovação científica desse fato. Outros estudiosos, contudo, admitem a possibilidade da cisticercose humana ser causada por ambas as espécies de tênia
As cisticercoses suína e bovina são cosmopolitas e vem se difundindo em grande parte do mundo. São endêmicas em países em desenvolvimento, onde as precárias condições higiênico-sanitárias e baixo nível educacional da população contribuem para manutenção do ciclo zoonótico. A cisticercose pode ser adquirida quando os suínos, que apresentam hábitos de coprofagia, possuem acesso às fezes humanas contaminadas com ovos de T. solium. Os bovinos normalmente evitam se alimentar ao redor de fezes, mas podem, sob condições adversas, por falta de alimentos, ingerir fezes.
T. saginata, também cosmopolita, apresenta alta endemicidade em regiões da América Latina, África, Oriente Médio e Ásia Central. Um dos fatores que favorecem essa situação é a criação de bovinos em regime extensivo, quando há contaminação dos animais pela ingestão de ovos de T. saginata junto às pastagens ou à água.
O bovino atua como hospedeiro intermediário ao ingerir, direta ou indiretamente, fezes humanas que contém ovos de T. saginata. Nos países desenvolvidos,surtos esporádicos, podem ocorrer e costumam associar-se ao uso de matéria orgânica humana em pastos, como fertilizantes. Outras vezes, podem estar associados à infecção de trabalhadores, isoladamente ou como consequência do emprego de mão-de-obra oriunda de países com alta prevalência de cisticercose
A cisticercose bovina é uma das principais causas de condenação de bovinos abatidos e sujeitos a Inspeção Federal.
PATOGENIA
O homem é o único hospedeiro definitivo e infecta-se através da ingestão de carne bovina ou suína crua ou insuficientemente cozida, que contenham cisticercos viáveis.
O cisticerco, quando ingerido pelo hospedeiro definitivo, fixa à mucosa pelo escólex invaginado e passa a se desenvolver até que chegue a fase adulta, durante cerca de 3 meses. O verme adulto aloja-se no intestino delgado do homem, formando uma cadeia de proglotes, atingindo, dessa forma, o fim do desenvolvimento. Essas se desprendem do estróbilo por ruptura e são eliminadas ativamente à sua robusta musculatura, ou através das fezes. Em geral, as proglotes se rompem no meio externo, por efeito da contração muscular ou da decomposição de suas estruturas, liberando assim ovos no solo. As formas adultas de T. saginata e T. solium podem viver até cerca de 30 anos.
O bovino/suíno atuam como hospedeiro intermediário, infectando-se ao ingerir, direta ou indiretamente, fezes humanas com ovos de T. saginata/T. solium. Quando o ovo é ingerido pelo hospedeiro intermediário, ao atingir o estomago e intestino, ação combinada do suco gástrico e da pepsina inicia um processode digestão do embrióforo. Nessa fase, ocorre a ativação do embrião hexacanto pela ação conjunta da bile e tripsina. Uma vez liberado, o embrião insinua-se pelas estruturas anatômicas da mucosa intestinal, ganha a circulação sanguínea, sendo então transportado passivamente até a sua localização definitiva, onde evolui até a formação do cisticerco.
CLINICA
Os sintomas da cisticercose em seus hospedeiros, de uma forma geral, é silencioso, surgindo apenas quando a infestação é muito intensa. 
Nos suínos e bovinos, durante a invasão dos embriões, pode ocorrer uma enterite na mucosa intestinal, seguidas de cólicas e tensão da parede abdominal, podendo levar a dores na palpação. Quando começa a sua disseminação pelos tecidos, as manifestações podem incluir dificuldade na apreensão dos alimentos, acarretando uma má nutrição e até mesmo problemas neurológicos, entretanto, geralmente os animais são abatidos antes de apresentarem sinais clínicos. Outros sinais podem ocorrer, como paralisia da língua, sensibilidade do focinho, emagrecimento e conclusões.
Já na espécie humana, a cisticercose possui manifestação clinica variável. Geralmente apresentam fraqueza muscular, febre, diarreia, cólica, náuseas, perda de peso e constipação. Sintomas mais graves dependem do número de larvas e do local acometido. No caso de cistos no globo ocular, pode levar a cegueira do individuo. A neurocisticercose apresenta maior gravidade, pois sua localização cerebral leva a episódios convulsivos, confusão mental, aumento da pressão intracraniana, quadros de encefalite e óbito.
A teníase na espécie humana geralmente é assintomática, mas pode provocar alguns sintomas como dores abdominais, náuseas, debilidade, perda de peso, flatulência, diarreia ou constipação.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico da teníase pode ser realizado através das proglotes nas fezes, por meio de tamisação, pesquisa de ovos nas fezes ou pesquisa de ovos com a técnica de fita gomada na região perianal. Os ovos de T. solium e T. saginata não podem ser diferenciados.
O diagnóstico da cisticercose humana é realizado com recursos de definição por imagem e ressonância magnética com confirmação histopatológica dos tecidos afetados.
O método diagnóstico da cisticercose suína e bovina utilizado rotineiramente nos estabelecimentos matadouros-frigoríficos é a inspeção anátomo-patológica através do exame ante-mortem, pela visualização dos cisticercos na língua do suíno, e post-mortem pela identificação dos cisticercos em diferentes músculos. Nos animais, os cisticercos tende a se localizar em músculos com rico suprimento em mioglobina, onde ocorre maior oxigenação dos tecidos. Portanto, coração e músculos mastigatórios, diafragma e língua de bovinos são examinados durante a inspeção sanitária oficial. Porém, este método não permite detectar todos os cisticercos presentes na carne em função de sua baixa sensibilidade e devido a necessidade de preservação da natureza estética e comercial da carne. Por esta razão, a inspeção visual pode contribuir para um elevado número de falso-negativos, principalmente quando se há uma baixa infestação na carcaça.
O estabelecimento confiável de métodos de imunodiagnóstico para o diagnóstico da cisticercose é importante para o controle e prevenção da enfermidade tanto em humanos quanto animais, visto que sua identificação possibilita o tratamento, e no caso de animais, permite identificar aqueles infectados e que passaram despercebidos pela inspeção visual, garantindo assim o fornecimento de alimento seguro a população e, por outro lado, também evita perdas produtivas e econômicas pela não condenação quando os animais são tratados previamente.
Testes de imunodiagnóstico tem sido desenvolvidos e utilizados tanto para a detecção de anticorpos quanto antígenos para diferentes tipos de amostras, como ELISA e Immunoblot.
CONTROLE
Os métodos de prevenção e controle do Complexo Teníase-Cisticercose abrangem medidas aplicáveis às populações humana, bovina e ao meio ambiente. As medidas aplicáveis à população humana consistem no diagnóstico e o tratamento dos casos positivos e educação sanitária, direcionada ao saneamento do meio ambiente, visando principalmente o destino e tratamento das fezes humanas evitando a dispersão de ovos. 
Deve-se orientar a população quanto ao destino adequado das fezes, evitando a contaminação de águas, solos e alimentos, através do uso de fossas, banheiros químicos instalados próximos a plantações e também evitar o uso de efluentes de esgoto para irrigação de pastagens, afim da fertilização do solo. Também é importante a população ter consciência de se consumir carne inspecionada.
As medidas de controle da cisticercose estão relacionadas ao diagnóstico post-mortem, realizado em estabelecimentos de abate, e à destinação adequada das carcaças e órgãos afetados. O matadouro atua como fonte de dados estatísticos e nosogeográfico, função essa primordial para a vigilância sanitária. O diagnóstico associado à informação de origem do animal possibilita definir áreas de ocorrência e a quantificação da doença. 
Segundo o Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária dos Produtos de Origem Animal - RIISPOA (1997), o diagnóstico da cisticercose consiste no exame anatomopatológico dos músculos da carcaça em localizações específicas, representadas pelos seguintes sítios de predileção: músculos masseter externo e interno, língua, coração e diafragma. Infestações em fígado, pulmões e cérebro já foram citadas na literatura. 
Quando são encontrados cistos vivos apenas nas vísceras, as carcaças são destinadas ao tratamento pelo frio (15 dias em câmara de congela mento a -18°C), sendo necessários pelo menos 2 dias para o congelamento total. Quando os cistos são encontrados na carcaça, ela é destinada à conserva (imprópria para o consumo humano in natura).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar da importância da cisticercose para a saúde pública e animal, não se conhece a realidade epidemiológica da frequência dessa zoonose no país. Esse fato ocorre devido à falta de obrigatoriedade de notificação da doença em humanos e à baixa taxa de implantação dos serviços de inspeção sanitária
Os dados sobre a prevalência da cisticercose bovina são coletados e analisados pelos serviços de inspeção em matadouros, a partir do exame anatomopatológico realizado nas carcaças. Entretanto, a referida técnica apresenta certas limitações, pois não leva em consideração o grande número de animais destinados a abates clandestinos e a estabelecimentos que não dispõem do recurso da inspeção (Federal, Estadual ou Municipal).
Esse fato reforça a necessidade de uma implementação de métodos diagnósticos mais precisos para a detecção dos animais infectados, independentemente da localização do cisto no organismo do animal, visando ao aumento da eficiência do diagnóstico de cisticercose

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