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Resumo do livro Dos Delitos e Das Penas

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 
BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. Disponível em: <http://www.institutoelo.org.br/site/files/publications/76f2527a255ae76eaf9212dc7ee04cb5.pdf>. Acesso em: 27 fevereiro 2013.
RESUMO DO LIVRO: DOS DELITOS E DAS PENAS - CESARE BECCARIA
APRESENTAÇÃO
A obra é da metade do século XVIII e nessa época as punições (torturas, pena de morte, prisões desumanas) eram mais terríveis que os delitos cometidos.
INTRODUÇÃO
As vantagens da sociedade deveriam ser repartidas igualmente entre todos os membros, no entanto, existe a tendência de uma minoria reter os privilégios e a maioria ficar na miséria.
ORIGEM DAS PENAS E DIREITO DE PUNIR
De acordo com o autor no coração do homem estão os princípios fundamentais do direito de punir. A moral política só tem vantagem quando é fundada sobre o sentimento do coração do homem. Toda lei que estiver contra este princípio encontrará resistência.
Menciona Beccaria que ninguém sacrifica sua liberdade visando unicamente o bem público, e sim por seus interesses. Os homens selvagens se viram forçados a reunir-se, e as leis foram as condições que os reuniram. Estes homens estavam cansados de viver com medo, com uma liberdade incerta, por isso, sacrificaram uma parte dela para gozar do restante com mais segurança, visando o bem geral. A soma de todas essas porções de liberdades sacrificadas formou a soberania da nação e, por conseguinte, aquele que ficou encarregado de administrar as leis foi proclamado soberano do povo.
No entanto não bastava formar as leis, era preciso protegê-las da tendência do homem ao despotismo, ou seja, o poder nas mãos de uma só pessoa, usurpando a liberdade e os direitos dos demais, visto que as paixões particulares, quase sempre, são opostas ao bem geral. Por este motivo, foi preciso pensar em penas, punições para os infratores das leis.
O fundamento do direito de punir é o conjunto de todas estas porções de liberdades, e o que estiver contra estes princípios, é abuso, não será justo.
 
CONSEQUÊNCIAS DESSES PRINCÍPIOS
A Primeira consequência é de que somente as leis podem fixar as penas de cada delito, além disso, quem tem o poder de fazer as leis penais é apenas o legislador, o qual representa toda a sociedade unida por um contrato social. O Juiz (magistrado) deve seguir o que a lei diz, não podendo aumentar uma pena, mesmo que seja sob o pretexto de um bem público.
A Segunda é de que o soberano só pode fazer leis gerais, nas quais todos devem se submeter. Ele não pode julgar se as pessoas violaram estas leis.
Em relação a um delito, existem três partes: o soberano, que afirma que o contrato social foi violado, o acusado que afirma que não violou e o magistrado irá decidir se houve ou não o delito.
Em terceiro lugar mesmo se os castigos cruéis fossem aprovados pela filosofia, ou não se opusessem diretamente ao bem público, bastará provar que esta crueldade é inútil para considerá-la contra a natureza do contrato social.
DA INTERPRETAÇÃO DAS LEIS
Baccaria afirma que os juízes não podem interpretar as leis, pois não são legisladores. O legítimo interprete das leis é o soberano, o qual é o representante de todos em busca do bem comum, cabe ao juiz apenas verificar se um cidadão praticou ou não um ato contrário às leis. O magistrado deve seguir a lei, não fazendo nenhum raciocínio a mais por conta própria, para que não seja obscuro.
Todos os homens, em diferentes épocas, vêem diversamente os mesmos objetos. Se o juiz interpretasse as leis, o julgamento de um cidadão iria mudar de um tribunal para outro, e a vida deles estaria a mercê de um falso raciocínio. Veríamos juízes interpretando as leis com idéias vagas e confusas, ou até os mesmos delitos sendo punidos de forma diferente pelo mesmo tribunal.
De acordo com o autor, somente quando as leis forem fixas e literais, e os juízes somente examinarem se os atos dos cidadãos estão contra ou a favor da lei, é que esses não mais sofrerão penas cruéis e sim, conforme a lei. Com as leis penais executadas literalmente, os cidadãos podem calcular os inconvenientes de uma ação contrária, o que poderá afastá-lo do crime.
DA OBSCURIDADE DAS LEIS
Enquanto as leis não tiverem uma linguagem popular, onde os cidadãos possam refletir sobre seus atos e as consequências dos mesmos, estes ficarão na dependência de um número de homens depositários e intérpretes das leis.
Se o povo conhecer as leis e tiver consciência das consequências de seus atos, os crimes irão diminuir.
Um governo fixo só irá existir com leis escritas, as quais não podem ser mudadas se não for em prol de todos e não de alguns e a força política deve residir no corpo político e não nos membros desse corpo.
A imprensa tornou os crimes públicos. 
DA PRISÃO
Os magistrados não podem fazer as leis, caso contrário, muitos iriam prender os inimigos e deixar livres os que eles protegiam.
A lei deve estabelecer quando uma pessoa deve ser presa e submetida ao interrogatório.
Quando os executores forem mais piedosos, as penas mais brandas e os presídios não forem desumanos, as leis poderão contar com indícios mais fracos para ordenar a prisão.
O autor faz a pergunta “[...] Porque é tão diferente, em nossos dias, a sorte de um inocente preso?” (BECARIA, p.14)¹. E responde que o sistema da jurisprudência criminal apresenta a ideia da força e do poder no lugar da justiça, além disso, o inocente suspeito é castigado como um criminoso convicto e a prisão é um suplício.
As leis sempre estão atrasadas em relação à vida atual.
DOS INDÍCIOS DO DELITO E DA FORMA DOS JULGAMENTOS
Quando a força de várias provas dependerem da verdade de uma só, merecem pouca consideração, pois se a única prova que parece certa for considerada falsa, derrubaria todas as outras. Já quando as provas são independentes, mesmo se uma for falsa, têm-se as outras.
Existem provas perfeitas e imperfeitas. As perfeitas são aquelas que demonstram a impossibilidade da inocência do acuado. Já as imperfeitas não excluem tal hipótese. Uma única prova perfeita é suficiente para uma condenação, mas em relação às imperfeitas é necessário um número muito grande para que a condenação seja efetuada.
Quando as leis são claras e precisas o juiz deve se limitar a constatação de fato.
A lei sábia é a que seus efeitos são sempre felizes e que fala que cada um deve ser julgado por seus iguais. Quando o culpado e o ofendido estão em condições desiguais, os juízes devem ser metade entre os iguais do acusado e metade entre os iguais do ofendido. 
DAS TESTEMUNHAS
De acordo com o autor, todo homem razoável poderá dar testemunho. Além disso, na legislação é importante verificar o grau exato de confiança que se deve dar as testemunhas, ou seja, medir o interesse de dizer ou não a verdade.
O autor faz a crítica de que na época as mulheres (consideradas fracas), os condenados (considerados mortos civilmente) e pessoas com nota de infâmia não podiam dar testemunho. O autor considera um abuso considerar nulo o depoimento de um culpado já condenado, visto que, perante os olhos da justiça da época esta pessoa estava morta civilmente.
Em um julgamento somente uma testemunha não basta, pois se o acusado negar o que a testemunhar falar a justiça terá de respeitar o direito de que o acusado seja inocentado.
Para Beccaria, (Ibid. p.17) “[...] O coração humano é incapaz de um sentimento inútil [...]”, ou seja, ele somente é cruel por interesse, ódio ou temor.
DAS ACUSAÇÕES SECRETAS
Quando as acusações secretas são aceitas, torna-se notória a fragilidade do governo, a fraqueza em sua constituição e a falsidade dos homens. Beccaria questiona “Quem poderá defender-se da calúnia, quando esta se arma com o escudo mais sólido da tirania: o sigilo?” (Ibid. p.17). É complicado o governo em que o soberano suspeita que cada súdito seja um inimigo e, para garantir a tranquilidade pública, acaba perturbando os cidadãos.
Cesare apud Montesquiel
[...] as acusações públicas são conformes ao espíritodo governo republicano, no qual o zelo do bem geral deve ser a primeira paixão dos cidadãos. Nas monarquias, em que o amor da pátria é muito fraco, pela própria natureza do governo, é sábia a instituição de magistrados encarregados de acusar, em nome do público, os infratores das leis. Mas, todo governo, republicano ou monárquico, deve infligir ao caluniador a pena que o acusado sofreu, se ele for culpado (Ibid. p.19).
DOS INTERROGATÓRIOS SUGESTIVOS
Nossas leis proíbem os interrogatórios sugestivos, isto é, os que se fazem sobre o fato mesmo do delito; porque, segundo os nossos jurisconsultos, só se deve interrogar sobre a maneira pela qual o crime foi cometido e sobre as circunstâncias que o acompanham.
Um juiz não pode, contudo, permitir as questões diretas, que sugiram ao acusado uma resposta imediata. O juiz que interroga, dizem os criminalistas, só deve ir ao fato indiretamente, e nunca em linha reta.
Se se estabeleceu esse método para evitar sugerir ao acusado uma resposta que o salve, ou por que foi considerada coisa monstruosa e contra a natureza um homem acusar-se a si mesmo, qualquer que tenha sido o fim visado com a proibição dos interrogatórios sugestivos, fez-se cair as leis numa contradição bem notória, pois que ao mesmo tempo se autorizou a tortura (Ibid. p.19).
Para Beccaria, o homem acusado que não responde ao interrogatório deve sofrer as penas previstas nas leis, pois o silêncio de um criminoso perante o juiz é considerado pela sociedade um escândalo e para a justiça uma ofensa. No entanto, se o crime já foi constatado, o interrogatório é inútil. Inútil também é quando o acusado confessa o crime, quando já está comprovado o fato pelas provas obtidas. A experiência mostra que a maioria do acusados negam os crimes.
DOS JURAMENTOS
De acordo com o autor, é uma contradição pedir que um acusado jure dizer a verdade, quando tem o maior interesse em mentir. Como se o homem fosse jurar para sua própria destruição. Além disso, “[...] as coisas do céu estão submetidas a leis inteiramente diversas da terra [...]” (Ibid. p.20).
Os juramentos são inúteis, pois a experiência mostra raramente o acusado fala a verdade, mesmo jurando.
DA QUESTÃO OU TORTURA
De acordo com Beccaria, é uma crueldade os governos torturarem um acusado, seja qual for o motivo: arrancar dele a confissão de um crime, esclarecer as contradições, descobrir os cúmplices e, até mesmo, tentar descobrir outros crimes que o acusado poderia ter cometido.
Um homem só pode ser considerado culpado depois da sentença de um juiz.
Segundo o autor ou o delito é verdadeiro, ou incerto. Se o delito for verdadeiro, confirmado, só deve ser punido de acordo com a lei, não havendo necessidade de tortura. No entanto, se o crime for incerto, o acusado deve ser considerado inocente, pois nada foi comprovado contra ele. Neste caso, a tortura não seria válida, seria crime hediondo.
Um crime já cometido, para o qual já não há remédio, só pode ser punido pela sociedade política para impedir que os outros homens cometam outros semelhantes pela esperança da impunidade. Se é verdade que a maioria dos homens respeita as leis pelo temor ou pela virtude, se é provável que um cidadão prefira segui-las a violá-las, o juiz que ordena a tortura expõe-se constantemente a atormentar inocentes (Ibid. p. 21).
O autor é contra a tortura, pois um culpado forte poderá escapar de uma pena longa e rigorosa se suportar a tortura por um tempo, assim ele será absolvido. No entanto, se o acusado for um homem fraco, ele acabará confessando o crime para se livrar da dor. Esta ação violenta fará desaparecer as diferenças entre um culpado e um inocente.
Outra consequência é que o inocente torturado se encontra em uma posição pior que o culpado, pois ou será condenado por um crime que não cometeu, ou sofrerá tortura que não merece. Já o culpado só terá vantagens, pois poderá suportar a tortura e ser liberado, absolvido, com uma pena mais leve do que se fosse condenado.
Creio que se pode dar uma origem mais ou menos semelhante ao uso que observam certos tribunais de exigir as confissões do culpado como essenciais para sua condenação. Tal uso parece tirado do misterioso tribunal da penitência, no qual a confissão dos pecados é parte necessária dos sacramentos (Ibid. p.24).
DA DURAÇÃO DO PROCESSO E DA PRESCRIÇÃO
Depois que o crime for constatado, e as provas forem verídicas, é justo conceder ao acusado meios para justificar-se, mas não pode demorar muito tempo, para que a pena não seja tardia. As leis que devem determinar esse prazo para o acusado desenvolver sua defesa. O juiz não pode determinar este prazo, pois não é legislador.
[...] Limito-me a acrescentar que, para um povo que reconhecesse as vantagens das penas moderadas, se as leis abreviassem ou prolongassem a duração dos processos e o tempo da prescrição segundo a gravidade do delito, se a prisão provisória e o exílio voluntário fossem contados como uma parte da pena merecida pelo culpado, chegar-se-ia a estabelecer assim uma justa progressão de castigos suaves para um grande número de delitos (Ibid. p.25 e 26).
A segurança das pessoas é um direito natural, já a segurança dos bens é um direito da sociedade.
Para Beccaria, existem dois tipos de delitos: o primeiro são os crimes cruéis, começando pelo homicídio e toda a progressão dos assassinos mais horríveis. E o segundo os crimes menos aterrorizantes que o homicídio.
Para não dar ao criminoso a esperança de impunidade, é preciso respeitar as duas espécies de delitos, portanto,
[...] Nos grandes crimes, pela razão mesma de que são mais raros, deve diminuir-se a duração da instrução e do processo, porque a inocência do acusado é mais provável do que o crime. Deve-se, porém, prolongar o tempo da prescrição.
Por esse meio, que acelera a sentença definitiva, tira-se aos maus a esperança de uma impunidade tanto mais perigosa quanto maiores são os crimes.
Ao contrário, nos delitos menos consideráveis e mais comuns, é preciso prolongar o tempo dos processos, porque a inocência do acusado é menos provável, e diminuir o tempo fixado para a prescrição, porque a impunidade é menos perigosa (Ibid. p.26).
Na sociedade também existe crimes que são comuns e muito difíceis de constatar, visto que é quase impossível comprovar o crime e, por isso, perante a lei o acusado tem maior possibilidade de ser inocentado. O problema é que a esperança da impunidade faz com que estes crimes aumentem perante a sociedade. Nesse caso, pode-se diminuir o tempo dos processos de da prescrição.
DOS CRIMES COMEÇADOS; DOS CÚMPLICES; DA IMPUNIDADE
Não se pode punir a intenção de um crime, mas se houve um início do crime é viável que o infrator seja punido, com menor rigor do que se tivesse concluído. 
Os cúmplices também devem ser punidos, seguindo a mesa gradação das penas, ou seja, a pena do cúmplice deve ser menor que do executor. No entanto, se o cúmplice pagar uma recompensa ao executor, o cúmplice deve ser punido igualmente.
Alguns tribunais absolvem os cúmplices de grandes crimes que trai seus companheiros, mas isto pode ser perigoso, pois
O tribunal que emprega a impunidade para conhecer um crime mostra que se pode encobrir esse crime, pois que ele não o conhece; e as leis descobrem-lhe a fraqueza, implorando o socorro do próprio celerado que as violou.
Por outro lado, a esperança da impunidade, para o cúmplice que trai, pode prevenir grandes crimes e reanimar o povo, sempre apavorado quando vê crimes cometidos sem conhecer os culpados (Ibid. p.28).
DA MODERAÇÃO DAS PENAS
Os castigos têm por objetivo impedir que o culpado reincida o crime e desmotivar possíveis cidadãos que cometeriam delitos.
Quanto mais cruéis forem os castigos, mais audaciosos ficarão os culpados para evitá-lo. Além disso, de acordo com a história, nas épocas em que os castigos eram mais severos os crimes eram mais horríveis.
Para que o castigo produza o efeito que dele se deve esperar, basta que o mal que causa ultrapasse o bem que o culpado retirou do crime.Devem contar-se ainda como parte do castigo os terrores que precedem a execução e a perda das vantagens que o crime devia produzir. Toda severidade que ultrapasse os limites se torna supérflua e, por conseguinte, tirânica (Ibid. p.30).
A crueldade produz dois resultados contrários ao seu objetivo de se prevenir um crime:
Em primeiro lugar, é muito difícil estabelecer uma justa proporção entre os delitos e as penas; porque, embora uma crueldade industriosa tenha. multiplicado as espécies de tormentos, nenhum suplício pode ultrapassar o último grau da força humana, limitada pela sensibilidade e a organização do corpo do homem. Além desses limites, se surgirem crimes mais hediondos, onde se encontrarão penas bastante cruéis?
Em segundo lugar, os suplícios mais horríveis podem acarretar às vezes a impunidade. A energia da natureza humana é circunscrita no mal como no bem. Espetáculos demasiado bárbaros só podem ser o resultado dos furores passageiros de um tirano, e não ser sustentados por um sistema constante de legislação. Se as leis são cruéis, ou logo serão modificadas, ou não mais poderão vigorar e deixarão o crime impune (Ibid. p.30).
DA PENA DE MORTE
A soberania e as leis são a soma das pequenas porções de liberdade de cada cidadão.
Beccaria afirma que ou o homem tem direito de se matar, ou não pode ceder este direito a outro ou até mesmo à sociedade. Com isso, a pena de morte não está interligada a nenhum direito.
Segundo o autor,
A morte de um cidadão só pode ser encarada como necessária por dois motivos: nos momentos de confusão em que uma nação fica na alternativa de recuperar ou de perder sua liberdade, nas épocas de confusão, em que as leis são substituídas pela desordem, e quando um cidadão, embora privado de sua liberdade, pode ainda, por suas relações e seu crédito, atentar contra a segurança pública, podendo sua existência produzir uma revolução perigosa no governo estabelecido (Ibid. p.31).
Em um reino tranquilo “[...] não pode haver nenhuma necessidade de tirar a vida a um cidadão, a menos que a morte seja o único freio capaz de impedir novos crimes” (Ibid. p.31) e também a história mostra que a pena de morte nunca deteve os malfeitores de cometer um crime, mostrando que o rigor do castigo tem menos efeito que a duração da pena.
Para a maioria dos que assistem à execução de um criminoso, o suplício deste é apenas um espetáculo; para a minoria, é um objeto de piedade mesclado de indignação. Esses dois sentimentos ocupam a alma do espectador, bem mais do que o terror salutar que é o fim da pena de morte. Mas, as penas moderadas e contínuas só produzem nos espectadores o sentimento do medo (Ibid. p.32).
Para que uma pena seja justa ela deve ter o grau de rigor para afastar os demais homens do crime. Por isso, segundo Beccaria a escravidão perpétua pode substituir a pena de morte, pois tem o rigor necessário para afastar as pessoas do crime.
DO BANIMENTO E DAS CONFISCAÇÕES
Beccaria afirma que quem perturba a tranquilidade pública, e não obedecem às leis, deve ser banido da sociedade. No entanto, o cidadão que foi banido tem que ter o direito de provar sua inocência e assim, recuperar seus direitos.
De acordo com Beccaria a perda dos bens é maior do que uma expulsão. Dependendo do crime e da pena, haverá casos em que todos os bens do culpado serão confiscados, outros que apenas parte de sua fortuna, já alguns não terão nenhum bem retirado.
[...] O culpado poderá perder todos os seus bens, se a lei que pronuncia o banimento declara rompidos todos os laços que o ligavam à sociedade; porque desde então o cidadão está morto, resta somente o homem; e, perante a sociedade, a morte política de um cidadão deve ter as mesmas conseqüências que a morte natural (Ibid. p.35).
Nos casos de pena máxima, em que todos os bens forem confiscados, é justo que os bens do culpado fiquem com os herdeiros e não com o príncipe.
O uso de confiscações pode condenar um homem de bem e torná-lo um criminoso, visto que estará reduzido a indigência e ao desespero. Pior ainda é o fato de a família ficar coberta pela infâmia, ou seja, desonra.
DA INFÂMIA
A infâmia (desonra) priva o culpado da confiança que a sociedade tinha nele.
Como os efeitos da infâmia não dependem absolutamente das leis, é mister que a vergonha que a lei inflige se baseie na moral, ou na opinião pública. Se se tentasse manchar de infâmia uma ação que a opinião não julga infame, ou a lei deixaria de ser respeitada, ou as idéias aceitas de probidade e de morai desapareceriam, mau grado todas as declamações dos moralistas, sempre impotentes contra a força do exemplo (Ibid. p.36).
DA PUBLICIDADE E DA PRESTEZA DAS PENAS
Quando as penas dos delitos já estão definidas, elas são mais justas, pois evitam que o acusado fique atormentado, pensando como será sua pena.
Se a prisão é um meio de deter o cidadão até que ele seja julgado, é preciso diminuir o rigor e o tempo. Além disso, os casos mais antigos devem ser julgados primeiro.
Os efeitos do castigo que se segue ao crime devem ser em geral impressionantes e sensíveis para os que o testemunharam; haverá, porém, necessidade de que esse castigo seja tão cruel para quem o sofre? Quando os homens se reuniram em sociedade, foi para só se sujeitarem aos mínimos males possíveis; e não há país que possa negar esse princípio incontestável.
Eu disse que a presteza da pena é útil; e é certo que, quanto menos tempo decorrer entre o delito e a pena, tanto mais os espíritos ficarão compenetrados da idéia de que não há crimes sem castigo; [...] (Ibid. p.37).
É muito importante que a punição venha logo após do delito, para que a sedução das vantagens criminosas seja inibida pelo castigo inevitável. Quanto mais a pena demorar, menor será ligação que as pessoas farão entre o crime e o castigo. Para estreitar a ligação entre o crime e o castigo, a pena deveria ser em conformidade com a natureza do delito. Assim, as pessoas ficariam com receio de um castigo especial e se afastariam do crime.
QUE O CASTIGO DEVE SER INEVITÁVEL. - DAS GRAÇAS
Segundo Beccaria, “[...] A perspectiva de um castigo moderado, mas inevitável causará sempre uma forte impressão mais forte do que o vago temor de um suplício terrível, em relação ao qual se apresenta alguma esperança de impunidade” (Ibid. p.38).
Às vezes, quando o delito é pequeno o ofendido perdoa, mas isso não deve ser motivo para não aplicar o castigo, o qual servirá de exemplo para os outros cidadãos.
Quem tem o direito de punir não são os cidadãos em particular e sim as leis, que são a vontade de todos. Se as leis forem menos cruéis o perdão será menos necessário.
Se o juiz não seguir as leis, deixar os crimes serem perdoados e os castigos nem sempre forem a consequência de atos contra as leis, os magistrados estarão contribuindo com a esperança de impunidade. E a partir do momento em que o soberano concede a absolvição a um criminoso, ele estará sacrificando a segurança pública.
DOS ASILOS
De acordo com o autor, as leis devem estar e prevalecer em toda a extensão do Estado político. 
A melhor maneira de se impedir um crime é a idéia de um castigo certo e inevitável.
Beccaria afirma que existe pouca diferença entre os asilos e a impunidade, uma vez que os asilos estão contra a ação das leis e acabam gerando mais crimes do que as penas evitam. Por isso, “Multiplicar os asilos é formar pequenas soberanias, pois, quando as leis não têm poder, novas potências se formam de ordem comum [...]” (Ibid. p.40). De acordo com história os asilos foram a fonte de grandes revoluções.
Todo crime deve ser punido no país em que foi cometido. Por isso,
Um celerado, cujos crimes precedentes não puderam violar as leis de uma sociedade da qual não era membro, pode bem ser temido e expulso dessa sociedade; mas, as leis não podem infligir-lhe outra pena, pois são feitas somente para punir o mal que lhe é feito, e não o crime que não as ofende (Ibid. p.40).
DO USO DE PÔR A CABEÇA A PRÊMIO
O autor menciona que o termo pôr a cabeça a prêmio contrariaaos princípios de moral e virtude do ser humano e das leis, pois de um lado elas punem a traição e por outro autorizam.
QUE AS PENAS DEVEM SER PROPORCIONADAS AOS DELITOS
As penas devem ser proporcionais aos delitos, ou seja, quanto maior o delito, maior deverá ser a pena. Já para os delitos menos contrários ao bem público a pena poderá ser mais amena. Pois, 
se dois crimes que atingem desigualmente a sociedade recebem o mesmo castigo, o homem inclinado ao crime, não tendo que temer uma pena maior para o crime mais monstruoso, decidir-se-á mais facilmente pelo delito que lhe seja mais vantajosos [...] (Ibid. p.42).
Segundo Beccaria, se a pena para quem mata um animal for a mesma para quem mata um homem, em breve não haverá diferença entre os dois delitos.
Existe uma progressão dos crimes, os maiores são aqueles cometidos contra toda a sociedade e os menores são cometidos contra particulares, cabe ao legislador estabelecer a divisão proporcional entre as penas e os delitos.
DA MEDIDA DOS DELITOS
A medida dos delitos são os danos causados à sociedade.
Na época dos povos primitivos, os déspotas e os tiranos governavam violentamente, através de nações simples e ideias naturais. “[...] hoje, enfim, as luzes do nosso século dissipam os tenebrosos projetos do despotismo, reconduzindo-nos aos princípios da filosofia e mostrando-no-los com mais certeza” (Ibid. p.43).
De acordo com o autor, a grandeza de um crime não depende da intenção de quem comete.
Se se punisse a intenção, seria preciso ter não só um Código particular para cada cidadão, mas uma nova lei penal para cada crime.
Muitas vezes, com a melhor das intenções, um cidadão faz à sociedade os maiores males, ao passo que um outro lhe presta grandes serviços com a vontade de prejudicar.
Outros jurisconsultos medem a gravidade do crime pela dignidade da pessoa ofendida, de preferência ao mal que possa causar à sociedade. Se esse método fosse aceito, uma pequena irreverência para com o
Ser supremo mereceria uma pena bem mais severa do que o assassínio de um monarca, pois a superioridade da natureza divina compensaria infinitamente a diferença da ofensa.
Outros, finalmente, julgaram o delito tanto mais grave quanto maior a ofensa, à Divindade. Sentir-se-á facilmente quanto essa opinião é falsa, se se examinarem com sangue-frio as verdadeiras relações que unem os homens entre si e as que existem entre o homem e Deus (Ibid. p.43).
DIVISÃO DOS DELITOS
Existem três tipos de crimes aspiram à destruição da sociedade, atingem particulares e outros que estão contra as leis, ou seja, o bem público. Todo ato que não se enquadra nesta classificação não pode ser considerado como crime, nem punido.
Todo cidadão pode fazer tudo o que não for contrário às leis, sem temer penalidades.
[...] Esse dogma político deveria ser gravado no espírito dos povos, proclamado pelos magistrados supremos e protegido pelas leis. Sem esse dogma sagrado, toda sociedade legítima não pode subsistir por muito tempo, porque ele é a justa recompensa do sacrifício que os homens fizeram de sua independência e de sua liberdade (Ibid. p.44).
De acordo com o autor, as diferentes concepções históricas na visão filosófica entre o homem mau e bom, os nomes de vício e virtude mudam de valor dependendo da época e da circunstância, em decorrência de erros e interesses de diferentes legisladores.
Foi do enfraquecimento das paixões fortes que nasceram entre os homens as noções obscuras de honra e virtude; e essa obscuridade subsistirá sempre, porque as idéias mudam com o tempo, que deixa sobreviver os nomes às coisas, que variam segundo os lugares e os climas; é que a moral esta submetida, como os impérios, a limites geográficos (Ibid. p.45).
DOS CRIMES DE LESA-MAJESTADE
Os crimes de lesa-majestade foram considerados grandes crimes, por serem malditos à sociedade. 
Mas, a tirania e a ignorância, que confundem as palavras e as idéias mais claras, deram esse nome a uma multidão de delitos de natureza inteiramente diversa. Aplicaram-se as penas mais graves a faltas leves; e, nessa ocasião como em mil outras, o homem é muitas vezes vítima de uma palavra.
Toda espécie de delito é nociva à sociedade; mas, nem todos os delitos tendem imediatamente a destruir. É preciso julgar as ações morais por seus efeitos positivos e ter em conta o tempo e o lugar (Ibid. p.45).
DOS ATENTADOS CONTRA A SEGURANÇA DOS PARTICULARES E PRINCIPALMENTE DAS VIOLÊNCIAS
Os atentados contra a segurança dos particulares se iniciam quando os crimes atingem a sociedade ou ao soberano. Esses podem ser ou contra a vida, a honra ou os bens. Esses atentados contra a vida e a liberdade dos cidadãos são considerados grandes crimes, os quais não são apenas cometidos por homens comuns (assassinatos, assaltos), mas também pelos magistrados, pois seus excessos destroem o espírito de justiça e de dever dos cidadãos.
Para Beccaria, a riqueza é o alimento da tirania e das injustiças, pois os ricos podem comprar sua liberdade, ou seja, ser absolvido de um crime. As penas para os nobres devem ser as mesmas dos cidadãos. Até porque, a igualdade nas leis não impede que os príncipes tirem vantagens sobre a nobreza, apenas tira a esperança de impunidade.
De acordo com o autor, algumas pessoas acreditam que quando o mesmo castigo é aplicado em um nobre e um plebeu, o nobre sofre mais, devido sua educação e à desonra que atingirá toda sua família. No entanto, o castigo deve ser medido de acordo com o dano contra a sociedade e não contra a sensibilidade do culpado.
DAS INJÚRIAS
As ofensas pessoais contra a honra devem ser punidas pela infâmia.
As primeiras leis e os primeiros magistrados surgiram da necessidade de impedir os abusos da condição natural do ser humano em querer ser melhor e ter mais bens que os outros.
Essa honra, que muita gente prefere à própria existência, só foi conhecida depois que os homens se reuniram em sociedade; não pode ser posta no depósito comum. O sentimento que nos liga à honra não é outra coisa senão uma volta momentânea ao estado de natureza, um movimento que nos subtrai por um instante a leis cuja proteção é insuficiente em certas ocasiões (Ibid. p.48).
DOS DUELOS
A busca pela honra deu origem aos combates singulares, os quais surgiram devido às más leis.
Não adiantou a proibição dos duelos com pena de morte, pois o cidadão que se recusava, acabava perdendo sua honra. Segundo Beccaria, o melhor método de se impedir o duelo é punindo o agressor.
DO ROUBO
Beccaria afirma que o roubo cometido sem violência deveria ser punido com uma pena pecuniária, ou seja, o culpado deveria pagar um valor. No entanto, quem rouba é porque não tem dinheiro, está na miséria, por isso, este tipo de pena não seria viável, visto que aumentaria o número de indigentes e quem sofreria era a família inocente, enquanto o dinheiro iria para um rico, talvez criminoso.
As penas devem ser diferentes para quem rouba de forma simples, de astúcia, e para quem rouba de forma violenta. A pena mais justa para que rouba é a escravidão temporária, ou seja, o culpado deverá prestar serviço para a comunidade. No entanto, se o roubo for com violência é justo que a pena, além da servidão tenham penas corporais. 
DO CONTRABANDO
O contrabando é um crime contra o soberano e a nação, mas não deve ser punido de forma ofensiva, pois não causa efeito na opinião pública. O cidadão só se preocupa com aquilo que o prejudica.
Beccaria afirma que “O contrabando é um delito gerado pelas próprias leis, porque, quanto mais se aumentam os direitos, tanto maior é a vantagem do contrabando [...]” (Ibid. p.50).
O confisco das mercadorias de contrabando é uma pena justa. Os contrabandistas não podem ficar impunes. A prisão e a servidão são penas que podem ser empregadas de acordo com o delito. No entanto, a prisão de um contrabandista não deve ser a mesma de um assassino ou do ladrão.
DAS FALÊNCIAS
Para Beccaria, o legislador que deseja proteger a segurança do comércio quando abre falência, deve ter cuidado para nãoconfundir o falido fraudulento com o de boa fé. O primeiro, de acordo com o autor, deveria ser punido. Já o que pode provar a infidelidade de outros, deve ser tratado com menos rigor. Pois, não seria justo prendê-lo, tirar-lhe a liberdade por ter sido honesto, comparando-o com um criminoso. 
É justo que o falido de boa fé pague suas dívidas, mesmo que forçado, através de seu trabalho e talento e não na prisão.
Se for muito difícil de provar que houve fraude na falência, é melhor considerar o falido como inocente.
Mas, a distinção entre faltas graves e leves deve ser obra da lei, que é a única imparcial; seria perigoso abandoná-la à prudência arbitrária de um juiz. E tão necessário fixar limites na política quanto nas ciências matemáticas, porque o bem público se mede como os espaços e a extensão (Ibid. p.52).
DOS DELITOS QUE PERTURBAM A TRANQUILIDADE PÚBLICA
Iluminar as cidades à noite, colocar guardas nas ruas, preservar o silêncio nos templos, etc. são medidas para prevenir a fermentação das paixões particulares. O magistrado de polícia deve estar atento a esse caso.
Se o magistrado não segue as leis que deveriam e sim as que consideram necessárias, estará abrindo as portas à tirania.
Um governo que tem necessidade de censores, ou de qualquer outra espécie de magistrados arbitrários, prova que é mal organizado e que sua constituição não tem força. Num país em que o destino dos cidadãos está entregue à incerteza, a tirania oculta imola mais vítimas do que o tirano mais cruel que age abertamente. Este ultimo revolta, mas não avilta (Ibid. p.53).
DA OCIOSIDADE
De acordo com o autor os governos sábios não sofrem com a ociosidade de pessoas no âmbito do trabalho e das indústrias, pessoas estas que só acumulam sem jamais perder, enquanto a sociedade fica sem trabalho e sem riqueza. 
Cabe exclusivamente às leis definirem a espécie de ociosidade punível.
DO SUICÍDIO
O suicídio é um delito, mas que não pode ser submetido a uma pena, pois não se pode condenar o morto e nem sua família.
A pessoa que se mata não tem nada a temer, pois a morte elimina toda a sensibilidade.
O suicida faz menos mal para a sociedade do que aquele que renuncia sua pátria, pois o primeiro deixa tudo em seu país e o segundo se retira levando parte de seus bens. Beccaria afirma, “[...] Como a força de uma nação consiste no número dos cidadãos, aquele que abandona o seu país para entregar-se a outro causa à sociedade o dobro do prejuízo que lhe pode causar o suicida” (Ibid. p.54).
Toda a lei que não é forte e que pode ser impedida em certas circunstâncias, não deveria ser promulgada.
Não adianta fazer uma lei que não deixa os cidadãos abandonarem seu país, pois não teria como guardar todos os pontos de circunferência do Estado. Além disso, a proibição de abandono do país fará com que o desejo de abandoná-lo seja maior. Quando a pessoa consegue deixar seu país, seu delito não poderá ser punido.
Segundo Beccaria, “A maneira mais certa de fixar os homens em sua pátria é aumentar o bem-estar respectivo de cada cidadão [...]” (Ibid. p.55).
Está, pois, demonstrado que a lei que prende os cidadãos ao seu país é inútil e injusta; e o mesmo juízo deve ser feito sobre a que pune o suicídio.
Trata-se de um crime que Deus pune após a morte do culpado, e somente Deus pode punir depois da morte.
Não é, porém, um crime perante os homens, porque o castigo recai sobre a família inocente e não sobre o culpado (Ibid. p.55).
DE CERTOS DELITOS DIFÍCEIS DE CONSTATAR
Existe na sociedade delitos frequentes que são difíceis de provar: o adultério, a pederastia e o infanticídio.
O crime do adultério é frequente, pois as leis não são fixas e devido à atração natural de um sexo pelo outro.
Se eu falasse a povos ainda privados das luzes da religião, diria que há uma grande diferença entre esse delito e todos os outros. O adultério é produzido pelo abuso de uma necessidade constante, comum a todos os mortais, anterior à sociedade; ao passo que os outros delitos, que tendem mais ou menos à destruição do pacto social, são antes o efeito das paixões do momento do que das necessidades da natureza (Ibid. p.56).
A fidelidade conjugal é mais segura á medida em que aumenta o número de casamentos e mais livres.
O adultério é um delito de um instante; envolve-se de mistério; cobre-se de um véu que as próprias leis se empenham em conservar, véu necessário, mas de tal modo transparente que só faz aumentar os encantos do objeto que oculta. As ocasiões são tão fáceis, as conseqüências tão duvidosas, que é bem mais fácil ao legislador preveni-lo quando não foi cometido do que reprimi-lo quando já se estabeleceu (Ibid. p.56).
A pederastia, ou seja, o relacionamento erótico entre um homem e um menino, é punido com muita severidade, de acordo com beccaria, “[...] é menos o efeito das necessidades do homem isolado e livre do que o desvio das paixões do homem escravo que vive em sociedade” (Ibid. p.57).
O infanticídio, ou seja, matar uma criança, especialmente um recém-nascido, “[...] é ainda o resultado quase inevitável da cruel alternativa em que se acha uma infeliz, que só cedeu por fraqueza, ou que sucumbiu sob os esforços da violência [...]” (Ibid. p.57).
DE UMA ESPÉCIE PARTICULAR DE DELITO
O autor não fala em sua obra sobre o delito em que a punição inundou de sangue humano a Europa. Esta punição é quando a pessoa é queimada viva e seus gemidos de dor e sofrimento são assistidos como se fosse um espetáculo.
De acordo com Beccaria, se ele fosse tratar desse assunto levaria muito tempo e desviaria do foco. Neste livro o autor fala dos crimes do homem natural que violam o contrato social, por isso ele não comenta sobre os atos infratores, cuja punição não está nas regras da filosofia.
DE ALGUMAS FONTES GERAIS DE ERROS E DE INJUSTIÇAS NA LEGISLAÇÃO - E, EM PRIMEIRO LUGAR, DAS FALSAS IDÉIAS DE UTILIDADE
Segundo Beccaria, “As falsas ideias que os legisladores fizeram da utilidade são uma das fontes mais fecundas de erros e injustiças” (Ibid. p.58). Pois se ocupam mais com os inconvenientes particulares do que os gerais.
Um exemplo de lei contrária ao fim de utilidade são as leis que proíbem o porte de armas, pois só desarma o cidadão pacífico, enquanto as pessoas que já são acostumadas a infringir as leis continuam armadas. Isso acaba aumentando os assassinatos, uma vez que entregam o cidadão sem defesa nas mãos de um malfeitor.
É por uma falsa idéia de utilidade que se procura submeter uma multidão de seres sensíveis à regularidade simétrica que pode receber uma matéria bruta e inanimada; que se negligenciam os motivos presentes, únicos capazes de impressionar o espírito humano de maneira forte e durável, para empregar motivos remotos, cuja impressão é fraca e passageira, a menos que uma grande força de imaginação, que só se se encontra num pequeno número de homens, supra o afastamento do objeto, mantendo-o sob relações que o aumentam e o aproximam (Ibid. p.59).
Podem ser consideradas falsas também as idéias de utilidade que separam o bem geral dos interesses particulares. Uma questão entre o estado de sociedade e o estado de natureza é que o homem selvagem só faz mal a outro quando descobre alguma vantagem para si, enquanto o homem social muitas vezes prejudica outros sem proveito.
DO ESPÍRITO DE FAMÍLIA
Para Beccaria o espírito de família é outra fonte de injustiças na legislação.
Se a associação é feita por família os únicos que são contados como cidadãos são os chefes da casa e o restante da família seria considerado escravos. No entanto, se a associação é feita por indivíduos, todos seriam considerados cidadãos livres.
Como por exemplo:
Suponha-se uma nação composta de cem mil homens, distribuídos em vinte mil famílias de cinco pessoas cada uma, inclusive o chefe que a representa; se a associação é feita por famílias, haveria vinte mil cidadãos e oitenta mil escravos; se é feita por indivíduos, haveria cem mil cidadãos livres (Ibid. p.60).
Na associação for feita por famílias todas as leis e oscostumes serão obras do chefe da família, ou seja, tudo estará ligado a interesse particular e os sentimentos naturais de liberdade e da igualdade não existirá mais. Já na associação por indivíduo, as leis e os costumes serão resultado dos sentimentos de todos os membros da sociedade, ou seja, os princípios gerais, trazendo consequências úteis ao bem da maioria.
Segundo Beccaria, nas sociedades compostas de famílias, “[...] as crianças ficam sob a autoridade do chefe e são obrigadas a esperar que a morte lhes dê uma existência que só depende das leis” (Ibid. p.60). Já nas repúblicas, “[...] em que todo homem é cidadão, a subordinação nas famílias não é efeito da força, mas de um contrato” (Ibid. p.60). Nestas sociedades, quando o filho não depende naturalmente mais dos pais ele passa a ser membro livre da sociedade.
Nas repúblicas compostas de famílias, os jovens, isto é, a parte mais considerável e mais útil da nação, ficam à discrição dos pais. Nas repúblicas de homens livres, os únicos laços que submetem os filhos ao pai são os sentimentos sagrados e invioláveis da natureza [...] (Ibid. p.60).
A moral particular, através do medo e da submissão, faz com que os membros da família fiquem submetidos a uma pessoa, cujo bem que considera fundamental para todos, muitas vezes não é o bem real de nenhum dos que a compõem. Já a moral pública, em que predomina o espírito de coragem e liberdade, ensina a procurar o bem sem ir contra as leis.
DO ESPÍRITO DO FISCO
Segundo Beccaria, antigamente as pena eram pecuniária, ou seja, envolviam dinheiro. Nos julgamentos os culpados tinham que pagar o preço do crime, e o juiz, ao invés de ser o protetor e ministro das leis, era apenas o cobrador de impostos do príncipe.
Neste sentido, quem se declarava culpado, assumia ser devedor do fisco e os juízes faziam com que essa confissão fosse mais favorável aos interesses da nobreza.
Para Beccaria, esse mesmo fim fiscal aparece em toda a jurisprudência criminal de hoje, pois o acusado que não confessa o crime, mesmo com as provas afirmando o ato criminal, sofrerá uma pena mais leve o que o que confessou o crime.
De acordo com o autor, o juiz, quando está exercendo suas funções, é inimigo do culpado, pois pode determinar que o acusado culpado antes que seja provada sua inocência.
DOS MEIOS DE PREVENIR CRIMES
Segundo o autor, é melhor prevenir os crimes do que ter que puni-los. Por isso, cabe ao bom legislador produzir leis que proporcionam o maior bem estar para os homens e preservá-los dos sofrimentos. No entanto, é muito difícil fazer com que todos os cidadãos sigam as leis. Beccaria usa como exemplo as leis da natureza, que são simples e constantes, mas mesmo assim, não impede que os planetas desviem dos movimentos habituais. Pior ainda é controlar as paixões e sentimentos dos homens.
De acordo com Beccaria, para se prevenir um crime é necessário produzir leis simples e fazer com que todos as amem e estejam dispostos a lutar em favor delas Além disso, as leis não se podem favorecer a uma classe e sim, proteger a todos igualmente.
CONCLUSÃO
A pena, para não ser um ato de violência contra o cidadão, deve ser pública.

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