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Breve história (ou estória) do Direito Processual Civil brasileiro

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177R. do Instituto de Hermenêutica Jur. – RIHJ | Belo Horizonte, ano 12, n. 16, p. 177-204, jul./dez. 2014
Breve história (ou ‘estória’) do Direito 
Processual Civil brasileiro: das 
Ordenações até a derrocada do Código 
de Processo Civil de 1973*
Rodrigo Mazzei
Pós-doutor (UFES), Doutor (FADISP) e Mestre (PUC-SP). Professor (graduação e mestrado) da 
UFES (Universidade Federal do Espírito Santo). Advogado.
Resumo: O presente trabalho é uma análise histórica envolvendo o Direito Processual Civil brasileiro, 
com objetivo de demonstrar que tal aferição é capital para qualquer debate que envolva a reconstrução 
democrática do processo civil brasileiro.
Palavras-chave: Direito Processual Civil brasileiro. Evolução histórica do Direito Processual Civil brasileiro. 
Codificação. Consolidações. Ordenações. Constituição Federal de 1988. Reconstrução democrática do 
processo civil brasileiro.
Sumário: 1 Introdução – 2 As Ordenações Afonsinas, Manuelinas e Filipinas – 3 O Regulamento Comercial 
nº 737/1850 – 4 A consolidação de Ribas – 5 A consolidação de José Higino Duarte Pereira – 6 Os códigos 
estaduais (processo civil) – 7 O Código de Processo Civil de 1939 – 8 O Código de Processo Civil de 1973 
– 9 A Constituição Federal de 1988 e a legislação processual (em especial sua relação com o Código de 
Processo Civil de 1973) – 10 Breve fechamento
1 Introdução
Em tempos de avançado trabalho para um “novo” Código de Processo Civil, com 
a substituição do diploma de 1973 (que, posteriormente, foi alvejado por numerosas 
reformas legislativas em questões pontuais, notadamente após a década de 1990), 
observamos que dados da história do Direito Processual Pátrio ficam cada vez mais 
apagados, não sendo reservado espaço adequado sobre o tema, inclusive em ‘ma-
nuais’ prestigiados. A situação cria ambiente não apenas para o esquecimento da 
marcha histórica, mas também para a inserção de “certas estórias” sobre a trajetória 
da codificação. 
* O presente texto faz parte dos trabalhos apresentados a título de pós-doutoramento efetuado junto à 
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
R. do Instituto de Hermenêutica Jur. – RIHJ | Belo Horizonte, ano 12, n. 16, p. 177-204, jul./dez. 2014178
RODRIGO MAZZEI
O presente texto busca, simplesmente, resgatar alguns dados históricos, a fim 
de que, com o conhecimento sobre o longo percurso até a edição do Código de 
Processo Civil de 1973, alguns fatos relevantes não sejam esquecidos.
2 As Ordenações Afonsinas, Manuelinas e Filipinas
De forma bem resumida, pode-se dizer que as Ordenações são o resultado 
da ideia de agrupamento sistemático das leis (tratado, por alguns, como verdadeiro 
processo de codificação 1 2) iniciado no reinado de Dom João I, cuja concretização de-
morou mais de meio século até a promulgação das Ordenações Afonsinas em 1446 
(a primeira na tríade das Ordenações).
Vale lembrar, para efeito de localização temporal, que as Ordenações Afonsinas 
foram concluídas em 1446 (no mesmo ano em que Dom Afonso assumiu o poder) 
e aplicadas até 1521. As Ordenações Manuelinas tiveram seu período de vigência 
entre 1521 e 1603 e, por derradeiro, sendo seguidas das Ordenações Filipinas, as 
quais tiveram sua vigência bem alongada aqui no Brasil.3
1 No sentido da aproximação das Ordenações aos códigos, confira-se: Milton Duarte Segurado (SEGURADO, 
Milton Duarte. História resumida do direito brasileiro. Rio de Janeiro: Ed. Rio, 1982, p. 28), Silva Pacheco 
(PACHECO, José da Silva. Evolução do Processo Civil Brasileiro. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 1999, p. 43) 
e Arthur Virmond de Lacerda (LACERDA, Arthur Virmond de. História breve das codificações jurídicas. Curitiba: 
Juruá, 1997, p. 47). Com olhos na técnica utilizada para a sua formação, Joaquim Ferreira entende que 
as Ordenações do Reino se afinam mais à compilação do que à codificação propriamente dita (FERREIRA, 
Joaquim. História de Portugal. 2. ed. Porto: Editorial Domingos Barreira, 1951, p. 276), posição que é também 
adotada por Flávia Lages de Castro (CASTRO, Flávia Lages de. História do direito geral e do Brasil. 5. ed. 
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007 p. 273-274). Há, ainda, quem defenda que a consolidação é a figura que 
mais se aproxima das Ordenações, como se nota nos textos de Isidoro Martins Junior (MARTINS JUNIOR, 
Isidoro. História do direito nacional. 3. ed. Brasília: DIN-Unb, 1979, p. 125) e Walter Vieira do Nascimento 
(NASCIMENTO, Walter Vieira do. Lições de história do direito. 15. ed.; Rio de Janeiro: Forense, p. 193).
2 É importante observar que há diferença entre codificar, compilar e consolidar. Entende-se, de um modo geral, 
que a compilação se caracteriza pela reunião dos textos legais já existentes, enquanto a codificação se 
notabiliza pela sistematização (e produção) de direito novo. Há ainda a consolidação, que está além da 
compilação, mas não alcança a codificação. Com efeito, a consolidação não se limita a reunir os textos legais 
existentes, pois sua missão exige mais, já que inclui no labor uma conjunção harmônica e sistemática (que, 
inclusive, permite a eliminação de conflitos entre as normas existentes), porém não busca a formação de direito 
novo, tal como a codificação. Segundo José de Oliveira Ascensão: “A consolidação é alguma coisa menos 
que o código, mas alguma coisa mais que a compilação. Não se limita como esta a juntar e eventualmente 
ordenar leis preexistentes; mas também não representa inovação, ao contrário do código. Por ela, os próprios 
textos existentes são alterados; o que passa para a consolidação não são as fórmulas, são as regras, e 
estas podem receber nova formulação” (ASCENSÃO, José de Oliveira. O direito: introdução e teoria geral, 2. 
ed., Rio de Janeiro: Renovar, 2001, p. 378). Ainda acerca dos conceitos e diferença entre consolidação e 
codificação, confira-se: Maria Helena Diniz (DINIZ, Maria Helena. Código Civil de 1916. In: História do direito 
brasileiro. Eduardo C. B. Bittar (Org.) São Paulo: Atlas, 2003, p. 210), Mario Luiz Delgado (DELGADO, Mario 
Luiz. Codificação, descodificação e recodificação do direito civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 35-56), 
e Luiz Guilherme Marinoni e Daniel Mitidiero (MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. O projeto do CPC. 
São Paulo: Revista dos Tribunais: 2010, p. 50-55). 
3 Algumas regulações das Ordenações Filipinas estiveram presentes – na parte de direito material – até a entrada 
em vigor do Código Civil de 1916, em pleno século XX, pois a Consolidação das Leis Civis orquestrada por 
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BREVE HISTÓRIA (OU ‘ESTÓRIA’) DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL BRASILEIRO: DAS ORDENAÇÕES...
Saliente-se, todavia, que no aspecto formal todas as três Ordenações possuem 
estrutura assemelhada, com divisão em 05 (cinco) livros (Livro I – Direito Administrativo 
e Organização Judiciária; Livro II – Direito dos Eclesiásticos, do Rei, dos Fidalgos e 
dos estrangeiros; Livro III – Processo Civil; Livro IV – Direito Civil e Direito Comercial; 
Livro V – Direito Penal e Processo Penal).
2.1 Ordenações Afonsinas
No intuito de ordenar e organizar o vasto número de leis esparsas existentes 
em Portugal na primeira metade do século XV, Dom João I arquitetou processo de 
organização deste conteúdo legislativo.4
Inicialmente, os trabalhos ficaram a cargo do Corregedor da Corte, João Mendes, 
o qual foi substituído, posteriormente, por Rui Fernandes. A obra foi finalizada durante 
a regência de Dom Pedro, em 1446, ano em que Dom Afonso V assume o trono por-
tuguês.5 E, como bem atesta Walter Vieira do Nascimento, nas Ordenações Afonsinas 
se nota que há prestígio às leis promulgadas desde Afonso II, às resoluções das 
Teixeira de Freitas aproveitou, em parte, esse último diploma. No sentido: CláudioValentim Cristiani (CRISTIANI, 
Cláudio Valentim. O Direito no Brasil Colonial. In: Fundamentos de história do direito. Antonio Carlos Wolkmer 
(Org.) 2. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2002, p. 338) e Alcides de Mendonça Lima (LIMA, Alcides de Mendonça. 
Introdução aos Recursos Cíveis, 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1976, p. 23). No Processo Civil, 
sua aplicação foi também bastante duradoura, eis que, mesmo após a independência política de Portugal, 
continuaram a ser aplicadas por força do Decreto de 20.10.1823, naquilo em que não afetasse a soberania 
nacional. No sentido, Arruda Alvim lembra que: “Em 1871, o governo imperial encarregou o Conselheiro Ribas 
de consolidar as Ordenações e as leis extravagantes, que, posteriormente à Independência, foram sendo 
promulgadas pelo governo imperial, vindo, por uma resolução imperial de 1876 a ser adotada, como lei 
processual, a Consolidação de Ribas. As Ordenações Filipinas, portanto, através da Consolidação de Ribas, 
continuaram a reger nosso processo civil até a proclamação da República” (ALVIM, José Manoel de Arruda. 
Manual de direito processual civil. 14. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 67). As Ordenações 
Filipinas somente se desvincularam do processo civil nacional após a edição do Decreto 763, de 1890, que 
ampliou a aplicação do Regulamento 737/1850 para o âmbito do processo civil, já que seu espectro original 
era apenas o processo comercial (o tema será tratado adiante). Sobre a duração e influência das Ordenações 
no processo civil nacional, resumido (mas com conteúdo), confira-se: Ovídio A. Baptista da Silva (SILVA, Ovídio 
A. Baptista da. Teoria geral do processo civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p. 27-29). 
4 Não resta dúvida que, pelo ineditismo, as Ordenações Afonsinas (em relação às duas que a sucedem) são as 
que possuem maior originalidade, sendo, inclusive, tratadas por autores como a primeira codificação europeia. 
No sentido, Milton Duarte Segurado, apesar de afirmar que as Ordenações Afonsinas foram o “primeiro código 
europeu”, lembra que a “Suécia já possuía ordenações, publicadas em 1452, seis anos mais novas que 
as Afonsinas, mas nenhuma das duas fora ainda impressa” (História resumida do direito brasileiro. Rio de 
Janeiro: Ed. Rio, 1982, p. 28). Parecendo concordar com a ideia de primeiro código completo, confira-se 
ainda: Silva Pacheco (SILVA, José Pacheco da. Evolução do Processo Civil Brasileiro. 2. ed. Rio de Janeiro: 
Renovar, 1999, p. 43). Contra, entendendo que as Ordenações devem ser vistas como resultado do processo 
de compilação, confira-se: Joaquim Ferreira (FERREIRA, Joaquim. História de Portugal. 2. ed. Porto: Editorial 
Domingos Barreira, 1951, p. 276) e Flávia Lages de Castro (CASTRO, Flávia Lages de. História do direito geral 
e do Brasil. 5. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007 p. 273-274). 
5 Conforme José Rogério Cruz e Tucci e Luiz Carlos de Azevedo (CRUZ, José Rogério; AZEVEDO, Tucci e Luiz Carlos 
de. Lições de História do Processo Civil Lusitano. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p. 33).
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RODRIGO MAZZEI
cortes desde Afonso IV, às concordatas de D. Dinis, D. Pedro e D. João, bem como 
à influência do direito canônico e à Lei de Sete Partidas, dos costumes e usos.6 7 8
Como anunciado anteriormente, a estrutura do texto é apresentada em cinco 
livros; ao Livro III coube tratar do processo civil, mostrando-se este, inclusive, razoa-
velmente extenso no tocante aos recursos.
Para Mario Julio e Almeida Costa, as Ordenações Afonsinas destacam-se na 
evolução do direito português devido ao papel decisivo na consolidação de um sis-
tema jurídico autônomo e nacional.9 Ademais, “representam o suporte da evolução 
subsequente do direito português”, uma vez que as Ordenações que se seguiram, 
embora trouxessem inovações, mantiveram a mesma estruturação lógica, bastando- 
se, em sua maioria, a meramente atualizar a obra. 
2.2 Ordenações Manuelinas
No início do século XVI o regente Dom Manuel tratou de começar uma reforma 
legislativa que afetava as Ordenações Afonsinas.10 11 Um primeiro projeto foi apresen-
tado, em meados de 1514, pelos juristas Rui Boto, Rui da Grã e Cristóvão Esteves, 
texto este que se mostrou apegado em demasia aos ditames Afonsinos, culminando, 
pois, em uma edição definitiva apresentada apenas em 1521.12
6 Lições de história do direito. 15. ed. Rio de Janeiro: Forense, p. 193. No mesmo sentido (entre vários): Humberto 
Dalla Bernardina e Pinho (PINHO, Humberto Dalla Bernardina e. Teoria geral do processo civil contemporâneo. 
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007, p.14) e Rodrigo Klippel (KLIPPEL, Rodrigo. Teoria geral do processo civil. 2. 
ed. Niterói: Impetus, 2009, p. 21).
7 Há boa influência do Direito Canônico da época, pois a palavra “pecado” é encontrada como sinônimo de “crime” 
em alguns momentos, como bem lembra Flávia Lages de Castro (CASTRO, Flávia Lages de. História do direito 
geral e do Brasil. 5. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007 p. 276). 
8 Percebe-se, também, a presença do Direito Romano com bastante influência, consoante anotam José Rogério 
Cruz e Tucci e Luiz Carlos de Azevedo (CRUZ, José Rogério; AZEVEDO, Tucci e Luiz Carlos de. Lições de História 
do Processo Civil Lusitano. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p. 33-34) e Alexandre Augusto de Castro 
Corrêa (CORRÊA, Alexandre Augusto de Castro. História do direito nacional desde a antiguidade até o Código 
Civil de 1916. In: BITTAR, Eduardo C. B. (Org.). História do direito brasileiro. São Paulo: Atlas, 2003, p. 82).
9 História do Direito Português. 3. ed. Coimbra: Almedina, 2002, p. 278.
10 Conforme explica Mario Julio de Almeida Costa, à época da edição das Ordenações Afonsinas ainda não se uti-
lizava a imprensa, o que dificultava a publicidade das leis. Especula-se, portanto, que a introdução da imprensa 
(apenas a partir do final do século XV) tenha motivado o desejo de atualização das Ordenações Afonsinas. Isto 
é, uma vez que começariam a ser publicadas, que fossem desde já atualizadas. Há quem acredite, porém, 
que, em verdade, as novas Ordenações surgiram do interesse de Dom Manuel em ter seu nome vinculado não 
apenas à fase dos descobrimentos além-mar, mas também a uma vultosa reforma legislativa (COSTA, Mario 
Julio de Almeida. História do Direito Português. 3. ed. Coimbra: Almedina, 2002, p. 282).
11 Como bem ressalta Flávia Lages de Castro (CASTRO, Flávia Lages de. História do direito geral e do Brasil. 5. 
ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007 p. 278-279), é importante notar que ao largo das Ordenações Afonsinas 
foram editadas outras leis extravagantes, muitas delas reclamadas pelos avanços e dinamismo exigidos pelo 
panorama advindo das grandes navegações e descobertas, o que justificava novo trabalho de organização 
sistemática das normas. Além disso, houve uma questão de afirmação nacionalista dos portugueses, eis que 
a redação rebuscada das Ordenações Afonsinas se identificava muito do “Castelhano”, o que oportunizou a 
implementação de redação legal mais simples (e ágil) para as relações advindas do novo contexto vivido pela 
nação lusa, aproximando-a do escrito português.
12 Segundo Milton Duarte Segurado: “O primeiro código impresso que teve a humanidade foram as Manuelinas, 
aliás, cópia reformada e melhorada das Afonsinas” (SEGURADO, Milton Duarte. História resumida do direito 
brasileiro. Rio de Janeiro: Ed. Rio, 1982, p. 28).
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BREVE HISTÓRIA (OU ‘ESTÓRIA’) DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL BRASILEIRO: DAS ORDENAÇÕES...
A estrutura trazida pela primeira Ordenação Portuguesa foi mantida,13 embora 
possam se encontrar algumas diferenças de regramentos e até mesmo na formaredacional, pois as Ordenações Manuelinas, segundo historiadores, se valeram do 
estilo “decretório”, para indicar que todas as normas eram novas, embora muitas 
vezes estivessem se valendo de material já vigente.14
Registre-se que, apesar do seu período de vigência estar aproximado às datas 
que marcam a descoberta do Brasil e as primeiras tentativas de ocupação do territó-
rio, certo é que sua aplicação não teve significância na história do Direito brasileiro, 
pois, como bem lembra Ovídio A. Batista da Silva, “nossa organização política era, 
então, praticamente inexistente”.15
2.3 Ordenações Filipinas
Na vigência do período conhecido como União Ibérica, sob o comando de Dom 
Filipe I (II da Espanha), foi determinada uma nova atualização das Ordenações, real-
mente necessária diante da evolução das relações jurídicas. Embora espanhol, Filipe 
I não pretendia entrar em confronto com o povo português, razão pela qual optou 
por juristas locais para dar cabo ao trabalho, conforme os usos e tradições do país. 
Assim, surgiu a última das Ordenações a vigorar no Brasil, que entrou em vigor em 
1603, já no reinado de Filipe II (de Portugal).16 
Dando seguimento ao tradicionalismo das reformas das Ordenações, as nor-
mas de processo civil encontravam-se no Livro III, dos cinco existentes.
Registre-se que os regramentos previstos nas Ordenações Filipinas, mesmo após 
a independência política de Portugal ocorrida em 1822, continuaram a ser aplicados 
13 Conforme Cláudio Valentim Cristiani “As Ordenações Manuelinas, de 1521, foram a obra da reunião das leis 
extravagantes promulgadas até então com as Ordenações Afonsinas, num processo de técnica legislativa, 
visando melhor entendimento das normas vigentes” (CRISTIANI, Cláudio Valentim. O Direito no Brasil Colonial. 
In: Fundamentos de história do direito. Antonio Carlos Wolkmer (Org.) 2. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2002, 
p. 337-338). Semelhante, confira-se: Walter Vieira do Nascimento (NASCIMENTO, Walter Vieira do. Lições 
de história do direito. 15. ed.; Rio de Janeiro: Forense, p. 193), Milton Duarte Segurado (SEGURADO, Milton 
Duarte. História resumida do direito brasileiro. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1982, p. 30).
14 No sentido, Flávia Lages de Castro afirma que: “A Ordenação Manuelina é diferente da Afonsina porque 
foi feita em estilo ‘decretório’, ou seja, a redação é em decretos, como se fossem todas normas novas, 
independentemente de serem, e muitas vezes o eram, novas formas de leis vigentes. Em contrapartida as 
duas ordenações assemelham-se porque partem do pressuposto que quando algo não está previsto deve ser 
consultado o direito romano, ou seja, ambas mantêm o direito romano como subsidiário” (CASTRO, Flávia 
Lages de. História do direito geral e do Brasil. 5. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007 p. 278).
15 SILVA, Ovídio A. Batista da. Teoria geral do processo civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p. 28.
16 Há quem sustente que as Ordenações Filipinas “são mera cópia das Manuelinas”, como é o caso de Milton 
Duarte Segurado (SEGURADO, Milton Duarte. História resumida do direito brasileiro. Rio de Janeiro: Ed. Rio, 
1982, p. 28), eis que a estrutura e pensamento das Ordenações Manuelinas estão presentes na última das 
ordenações. Ovídio A. Baptista da Silva afirma que, de fato, as Ordenações Filipinas herdaram o núcleo das 
antecessoras, mas é possível encontrar algumas diferenças na parte processual (SILVA, Ovídio A. Batista da. 
Teoria geral do processo civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p. 28-29). Semelhante: Rodrigo Klippel 
(KLIPPEL, Rodrigo. Teoria geral do processo civil. 2. ed. Niterói: Impetus, 2009, p. 22).
R. do Instituto de Hermenêutica Jur. – RIHJ | Belo Horizonte, ano 12, n. 16, p. 177-204, jul./dez. 2014182
RODRIGO MAZZEI
no Brasil, consoante Decreto datado de 20 de outubro de 1823, que previu a conti-
nuidade da aplicação da legislação portuguesa no Brasil naquilo que não infringisse 
a soberania e o regime nacional, ou seja, mesmo após a independência proclamada, 
figuras do direito processual civil seguiam modulação da última das Ordenações do 
Reino.17 E tal postura perdurou por bastante tempo, pois, como se verá adiante, a 
primeira legislação genuinamente nacional – o Regulamento nº 737/1850 – teve 
campo de atuação limitado (ações vinculadas ao direito comercial). 
3 O Regulamento Comercial nº 737/1850 
O Regulamento Comercial nº 737 de 1850 (tratado de um modo geral apenas 
como Regulamento nº 73718) foi editado no mesmo ano do Código Comercial, no intui-
to de dar aplicabilidade à lei material. Nada obstante seu espectro comercial, as nor-
mas procedimentais por ele veiculadas, diante da ausência de um Código Processual 
Civil, acabaram, adiante e por um determinado período, aplicadas às relações cíveis 
gerais, por força do Decreto nº 763 de 1890,19 sendo por tal passo chamado como o 
primeiro corpo de leis completo na parte processual civil.20 21
17 No sentido: J. M. Othon Sidou (SIDOU, J. M. Othon. Recursos processuais na história do direito. 2. ed. Rio de 
Janeiro: Forense, 1978, p. 64-65), Gabriel José de Rodrigues Rezende Filho (REZENDE FILHO, Gabriel José 
de Rodrigues. Curso de direito processual civil. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 1960, p. 109), Humberto Dalla 
Bernardina e Pinho (PINHO, Humberto Dalla Bernardina e. Teoria geral do processo civil contemporâneo. Rio 
de Janeiro: Lumen Juris, 2007, p. 15, v. 3). 
18 O Regulamento 737 era tratado como o Código de Processo Comercial, conforme José Manoel de Arruda Alvim. 
Segundo o jurista: “Havia, então, a jurisdição comercial ao lado da jurisdição civil. As Ordenações Filipinas 
continuaram a reger a matéria de processo civil, enquanto o Regulamento 737 regia a de processo comercial” 
(ALVIM, José Manoel de Arruda. Manual de direito processual civil. 14. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 
2011, p. 67).
19 Art. 1º São applicaveis ao processo, julgamento e execução das causas civeis em geral as disposições do 
regulamento n. 737 de 25 de novembro de 1850, excepto as que se conteem no titulo 1º, no capitulo 1º do 
titulo 2º, nos capitulos 4º e 5º do titulo 4º, nos capitulos 2º, 3º e 4º e secções 1ª e 2ª do capitulo 5º do titulo 
7º, e no titulo 8º da primeira parte. Paragrapho unico. Continuam em vigor as disposições legaes que regulam 
os processos especiaes, não comprehendidos no referido regulamento.
20 J. M. Othon Sidou (SIDOU, J. M. Othon Recursos processuais na história do direito. 2. ed. Rio de Janeiro: 
Forense, 1978, p. 69).
21 Não existe um consenso sobre a qualidade técnica do Regulamento 737, mesmo se utilizados os parâmetros 
da sua época de aparição. No sentido, Cândido Rangel Dinamarco: “O discutido Regulamento 737, que uns 
consideram um monumento legislativo de sua época e outros dizem ser o atestado de ignorância dos juristas 
de então (J. F. MARQUES, Instituições, I, nº 57), era, de qualquer forma, um diploma superado pelas conquistas 
de BÜLOW, WACH, HELLWIG, DEGENKOLB, CHIOVENDA, MENESTRINA, ALFREDO ROCCO, CARNELUTTI, 
LIEBMAN, ALBERTO DOS REIS, COUTURE (Direito processual civil. São Paulo: Bushatsky, 1975, p. 07-08). 
Próximo: E. D. Moniz de Aragão (Embargos infringentes. São Paulo: Saraiva, 1974, p. 38-39). Ainda sobre o 
mesmo diploma, Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco afirmam 
(em nota de texto) que: “O Regulamento 737 dividiu os processualistas. Foi considerado ‘um atestado de 
falta de cultura jurídica, no campo do direito processual, da época em que foi elaborado’; e foi elogiado como 
‘mais alto e mais notável monumento legislativo do Brasil, porventura o mais notável código de processo até 
hoje publicado na América’. Na realidade, examinado serenamente em sua própria perspectiva histórica, o 
Regulamento 737 é notável do ponto de vista da técnica processual, especialmenteno que toca à economia 
e simplicidade” (CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. 
Teoria geral do processo. 18. ed. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 106).
R. do Instituto de Hermenêutica Jur. – RIHJ | Belo Horizonte, ano 12, n. 16, p. 177-204, jul./dez. 2014 183
BREVE HISTÓRIA (OU ‘ESTÓRIA’) DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL BRASILEIRO: DAS ORDENAÇÕES...
4 A consolidação de Ribas
Não obstante a importância do Regulamento nº 737/1850 não possa ser des-
prezada, é capital recordar que sua abrangência, primitivamente projetada, tinha al-
cance limitado às questões de natureza mercantil, de modo que ficaria um vácuo 
para as questões cíveis que, via de talante, abriam espaço para a aplicação das 
Ordenações Filipinas,22 situação nada desejável para um Brasil que se declarava 
independente de Portugal.
Diante da situação, o Governo Imperial, com espeque na Lei nº 2.033, de 20 
de setembro de 1871, escolheu o Conselheiro Antonio Joaquim Ribas para reunir, 
em forma de consolidação, as principais normas processuais (entre as quais as 
Ordenações e as leis extravagantes). 
O labor de Ribas, na realidade, além de consolidar, acabou por “reescrever”, em 
certos pontos, as disposições, de modo que o resultado de seu trabalho passou a ter 
força de lei, por meio da Resolução Imperial de 28 de dezembro de 1876, conhecida 
como a “Consolidação de Ribas”.23 Em suma, apesar do rótulo de consolidação, o 
trabalho de Ribas não se limitou apenas a reunir sistematicamente o material legal 
existente sobre processo civil, pois, na empreitada, temas foram reescritos de acordo 
com o seu entendimento próprio. 
A forma com que o labor de Ribas ocorreu pode explicar o distanciamento da 
sua consolidação com os dispositivos que constavam no Regulamento nº 737/1850 
preteritamente, pois foi apresentada arquitetura bem distinta em alguns pontos.24 
A Consolidação de Ribas, contudo, não teve vida longa, pois, com a instalação 
da República, o Regulamento nº 737/1850 passou a ser aplicado também nas cau-
sas cíveis, consoante Decreto nº 763, de 16 de setembro de 1890.
22 Confira-se: Arruda Alvim (ALVIM, José Manoel de Arruda. Manual de direito processual civil. 14. ed. São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 2011, p. 67) e Antonio Carlos Silva (SILVA, Antonio Carlos. Embargos de declaração no 
processo civil. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000, p. 61).
23 No sentido: Arruda Alvim (ALVIM, José Manoel de Arruda. Manual de direito processual civil. 14. ed. São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 2011, p. 67), Humberto Dalla Bernardina e Pinho (PINHO, Humberto Dalla Bernardina 
e. Teoria geral do processo civil contemporâneo. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007, p. 15), Rodrigo Klippel 
(KLIPPEL, Rodrigo. Teoria geral do processo civil. 2. ed. Niterói: Impetus, 2009, p. 22), E. D. Moniz de Aragão 
(ARAGÃO, E. D. Moniz de. Embargos infringentes. São Paulo: Saraiva, 1974, p. 41) e Ovídio A. Baptista da Silva 
(SILVA, Ovídio A. Baptista da. Teoria geral do processo civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p. 30).
24 Segundo Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco: “O trabalho de 
Ribas, na verdade, não se limitou a compilar as disposições processuais então vigentes. Foi além, reescrevendo-
as muitas vezes tal como interpretava; e, como fonte de várias disposições de sua Consolidação, invocava a 
autoridade não só de textos romanos, como de autores renomeados, em lugar de regras legais constantes das 
Ordenações ou leis extravagantes” (CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, 
Cândido Rangel. Teoria geral do processo. 18. ed. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 106).
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RODRIGO MAZZEI
5 A consolidação de José Higino Duarte Pereira
Com a consolidação da República, por força do Decreto nº 848, de 11 de outu-
bro de 1890, foi criada a Justiça Federal, de modo que o Regulamento nº 737/1850 
passou a ser aplicado também no âmbito das causas federais.25
No entanto, tal situação foi apenas transitória. O Governo Republicano, diante 
da divisão trazida pela Constituição Federal de 1891 do poder de legislar sobre direito 
processual entre Estados e União, encomendou ao jurista José Higino Duarte Pereira 
um trabalho de sistematização de material legal (também perfilado ao estilo de con-
solidação), a fim de que as questões de competência da Justiça Federal possuíssem 
uma regulação processual própria e diversa do Regulamento nº 737/185026 (já com 
os dias contados a partir da concepção constitucional de 1891 de formação das 
codificações processuais por cada Estado Federal).27 
O resultado da empreitada foi aprovado pelo Decreto nº 3.084, de 05 de no-
vembro de 1898.
6 Os códigos estaduais (processo civil)
A Constituição Federal de 1891 (nossa primeira Carta Magna de origem republi-
cana) dispunha no sentido de que os Estados-membros detinham competência para 
legislar sobre o direito processual comum,28 reservando-se à União apenas o espaço 
legislativo sobre o direito processual aplicado à Justiça Federal.29
25 No sentido: Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco (CINTRA, 
Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do processo. 
18. ed. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 107).
26 Como se percebe, a ideia de formação de microssistemas processuais tem antecedentes no século XIX, em-
bora tenha tomado relevo somente no século XX. Aliás, certo é que a diferenciação de sistemas processuais, 
hoje utilizada em escala, pode servir de ferramenta de manipulação no fortalecimento de alguns microssiste-
mas, como bem alerta Carlos Augusto Silva em relação ao Poder Público em Juízo (SILVA, Carlos Augusto. O 
processo civil como estratégia de poder: reflexo da judicialização da política no brasil. Rio de Janeiro: Renovar, 
2004. p. 38). No sentido mais amplo, confira-se: MAZZEI, Rodrigo. O Código Civil de 2002 e a sua interação 
com os Microssistemas e a Constituição Federal. Revista da Faculdade Autônoma de Direito, v. 1, p. 245-278, 
2011; MAZZEI, Rodrigo. Ação popular e o microssistema da tutela coletiva (republicação). In: DIDIER JR., Fredie; 
MOUTA, José Henrique. (Org.). Tutela Jurisdicional Coletiva. Salvador: Juspodivm, 2009, v. 1, p. 373-395. 
27 Segundo Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco “Elaborou-se, 
portanto, de um lado a legislação federal de processo, cuja consolidação foi preparada por José Higino Duarte 
Pereira (...) e de outro lado, iniciaram-se aos poucos os trabalhos de preparação dos Códigos de Processo 
Civil e dos Códigos de Processo Criminal estaduais, na maioria presos ao figurino federal” (CINTRA, Antônio 
Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do processo. 18. ed. 
São Paulo: Malheiros, 2002, p. 107).
28 Nossa primeira Constituição republicana (1981) é nitidamente inspirada, como bem lembra Arruda Alvim, no 
“padrão da Constituição política dos Estados Unidos da América do Norte (induvidosamente no que respeita 
à competência legislativa adjudicada aos Estados, desde então, definidos como federados)” (ALVIM, José 
Manoel de Arruda. Manual de direito processual civil. 14. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 67). 
Sobre os desdobramentos da desunificação do direito processual, confira-se (bem fundamentado): Alcides de 
Mendonça Lima (LIMA, Alcides de Mendonça. Sistema de normas gerais dos recursos cíveis. Rio de Janeiro: 
Livraria Freitas Bastos, 1963, p. 54-60).
29 No sentido: Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco (CINTRA, 
Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel.Teoria geral do processo. 
18. ed. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 107).
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Ainda que com uma roupagem não uniforme, havia pontos de contato entre alguns 
códigos de processo civil editados pelos Estados federados.30 31 De todo modo, merece 
ser salientado que, com raras exceções, as codificações de processo civil estaduais se 
notabilizaram pela reprodução de regras e princípios já cristalizados no sistema legal 
(com apego excessivo ao direito lusitano),32 sendo parcas as novidades representati-
vas.33 E, com um olhar mais profundo, nota-se desníveis entre as legislações processuais 
produzidas nos Estados, sendo que as de melhor qualidade acabaram superando as de 
nível mais atrasado como fontes para o direito processual novo.34 35
Registre, outrossim, que alguns Estados deixaram de produzir sua codificação 
processual civil própria e permaneceram regidos pelo Regulamento nº 737, até quan-
do sobreveio o Código Processual Civil de 1939. Esse é o caso de Goiás, Alagoas, 
Mato Grosso e Amazonas.36 
30 O primeiro Estado a ter uma legislação processual própria foi o Pará (1905), um estatuto de processo civil, 
sem o perfil de codificação. O aparecimento dos códigos não foi uniforme (houve até Estado que se omitiu 
em editar sua codificação – por exemplo, Goiás), sendo alguns tardios como os de São Paulo, Espírito Santo 
e Paraíba (1930). Como pesquisa sobre os Códigos Estaduais, confira-se: Teresa Arruda Alvim Wambier 
(WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Os agravos no CPC brasileiro. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. 
p. 45-46). 
31 Por exemplo, segundo Antônio Macedo de Campos os “códigos estaduais não divergiram entre si no que 
concerne aos embargos, aceitando, de maneira geral, os declaratórios para a primeira instância e infringentes 
e de nulidade para a segunda instância” (CAMPOS, Antônio Macedo de. Recursos no processo civil. São Paulo: 
Sugestões Literárias, 1980, p. 244).
32 Conforme E. D. Moniz de Aragão (ARAGÃO, E. D. Moniz de. Embargos infringentes. São Paulo: Saraiva, 1974, 
p. 45).
33 No sentido: Ovídio A. Baptista da Silva (SILVA, Ovídio A. Baptista da. Teoria geral do processo civil. São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 1997, p. 30-31) e Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido 
Rangel Dinamarco (CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. 
Teoria geral do processo. 18. ed. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 107). 
34 Conforme J. M. Othon Sidou (SIDOU, J. M. Othon. Recursos processuais na história do direito. 2. ed. Rio de 
Janeiro: Forense, 1978, p. 68).
35 Um dos destaques, sem dúvida, foi a codificação baiana. Confira-se, no sentido, Arruda Alvim (ALVIM, José 
Manoel de Arruda. Manual de direito processual civil. 14. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 
67) Rodrigo Klippel (KLIPPEL, Rodrigo. Teoria geral do processo civil. 2. ed. Niterói: Impetus, 2009, p. 22) e 
Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco (CINTRA, Antônio Carlos 
de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do processo. 18. ed. São 
Paulo: Malheiros, 2002, p. 107). Vale dizer que o condutor do Código de Processo Civil da Bahia, o professor 
Eduardo Espínola, que chegou a Ministro do Supremo Tribunal Federal, é homenageado na “Coleção Temas 
de Processo Civil – Estudos em Homenagem a Eduardo Espínola”, coordenada por Fredie Didier Jr., que 
justifica a honraria feita: “Ainda cabe uma explicação sobre o “homenageado”. O Prof. Eduardo Espínola é, 
certamente, um dos maiores juristas brasileiros do século XX: em minha opinião, o maior civilista brasileiro 
da primeira metade do século passado. (...) Autor de obras fundamentais, é dele o projeto do antigo Código 
de Processo Civil do Estado da Bahia (Lei Estadual nº 1.121 de 21 de agosto de 1915), considerado por 
muitos, se não o melhor (para ARRUDA ALVIM, p. ex.), ao menos um dos mais importantes, influentes e bem-
feitos códigos de processo estaduais vigentes da República Velha até 1934, quando passou a União a ter 
competência exclusiva para legislar sobre processo civil” (DIDIER JR., Fredie (coord.). Relativização da coisa 
julgada: enfoque crítico. Coleção de temas de processo civil. Estudos em homenagem a Eduardo Espínola. v. 
2. Salvador: JusPODIVM, 2004, texto inserto na orelha da obra). 
36 Conforme Silva Pacheco (PACHECO, José da Silva. Evolução do Processo Civil Brasileiro. 2. ed. Rio de Janeiro: 
Renovar, 1999, p. 145).
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RODRIGO MAZZEI
7 O Código de Processo Civil de 1939
Como é notório, após a promulgação da Constituição de 1934 (artigo 5º, XIX37), 
reservou-se apenas ao legislador federal a competência para legislar sobre direito pro-
cessual, postura esta que foi ratificada, mais tarde, pela Constituição de 1937.38 Tal 
situação esvaziou as codificações estaduais e, por meio do Decreto-lei nº 1.608/39, 
foi instituído o primeiro Código de Processo Civil no Brasil, com franco objetivo fede-
rativo de uniformizar a legislação processual.39
É de se observar, contudo, que, entre as Constituições Federais de 1934 e 
1937, ocorreram fatos que mudaram os rumos nos trabalhos para a nossa primeira 
codificação processual civil. 
Com efeito, para a satisfação do disposto no seu artigo 5º, XIX, na Carta de 
1934 constava o artigo 11 das Disposições Transitórias, segundo o qual o governo, 
tão logo promulgada a Constituição, deveria formar uma comissão de juristas para 
edificar a codificação de processo civil e comercial.40 Seguindo a determinação cons-
titucional, foram nomeados, para a Comissão acerca da codificação processual civil e 
comercial, os Ministros Arthur Ribeiro, Carvalho Mourão e o advogado Levy Carneiro, 
ficando cada um dos juristas responsável por uma parte do texto. O trabalho foi 
entregue em 1935 ao então Ministro de Justiça (Vicente Ráo), sendo, em seguida 
(1936), publicado e encaminhado ao Congresso Nacional, através de mensagem do 
Presidente da República.41 Ocorre que, com o Golpe de 10 de novembro de 1937, 
houve a dissolução do Congresso e a revogação da Carta Constitucional de 1934.42
37 Confira-se: Art. 5º. Compete privativamente à União: (...) XIX – legislar sobre: a) direito penal, comercial, civil, 
aéreo e processual; registros públicos e juntas comerciais.
38 Arruda Alvim anota que a Constituição Federal de 1937, embora ratificasse a ideia de construir o código pro-
cessual já anunciado no diploma de 1934, teve uma inovação importante para os rumos do Judiciário nacional: 
a extinção da Justiça Federal (ALVIM, José Manoel de Arruda. Manual de direito processual civil. 14. ed. São 
Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 68).
39 Situação mantida nas Constituições subsequentes. Há, atualmente, pequena abertura na Carta Magna de 1988, 
através do artigo 24, incisos X e XI, já que há previsão de competência concorrente dos Estados para legislar 
sobre a criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas causas e sobre procedimentos em matéria 
processual. Confira-se, no sentido: Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel 
Dinamarco (CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria 
geral do processo. 18. ed. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 107). Sobre a unificação do direito processual e 
seus desdobramentos, confira-se (bem fundamentado): Alcides de Mendonça Lima (LIMA, Alcides de Mendonça. 
Sistema de normas gerais dos recursos cíveis. Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1963, p. 60-68).
40 Art 11.O Governo, uma vez promulgada esta Constituição, nomeará uma comissão de três juristas, sendo dois 
ministros da Corte Suprema e um advogado, para, ouvidas as Congregações das Faculdades de Direito, as 
Cortes de Apelações dos Estados e os Institutos de Advogados, organizar dentro em três meses um projeto de 
Código de Processo Civil e Comercial; e outra para elaborar um projeto de Código de Processo Penal.
41 Arruda Alvim chega a comentar trechos do trabalho de Levy Carneiro, publicado na Imprensa Nacional em 
1936, como projeto de codificação. Confira-se: ALVIM, José Manoel de Arruda. Direito Processual Civil. v. 1. 
São Paulo: Revista dos Tribunais, 1972, p. 231-232.
42 Confira-se: Moacyr Lobo da Costa (COSTA, Moacyr Lobo da. Breve notícia histórica do direito processual civil 
brasileiro e de sua literatura. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1970, p. 99).
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BREVE HISTÓRIA (OU ‘ESTÓRIA’) DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL BRASILEIRO: DAS ORDENAÇÕES...
Assim, embora a Carta de 1937 (em seu artigo 16, n. XVI43) previsse a unifica-
ção do direito processual, mediante competência privativa para a União Federal, os 
atores foram trocados para a edificação do diploma processual civil. Inicialmente o 
novo Ministro da Justiça (Francisco Campos) nomeou para a Comissão os seguintes 
juristas: Álvaro Berford, Edgard Costa e Goulart de Oliveira (Desembargadores da 
Corte de Apelação do Distrito Federal) e Álvaro Mendes Pimentel, Múcio Continetino 
e Pedro Batista Martins (Advogados). Todavia, ocorreram divergências internas na 
referida Comissão e, de forma singular, Pedro Batista Martins apresentou trabalho 
solo ao Ministro da Justiça, que o mandou publicar para receber sugestões. 
Interessante notar que, à margem da Comissão indicada, foram produzidos 
alguns textos (com autorias e teor diferentes44) com o intuito de se tornarem a co-
dificação processual determinada pela Carta Magna. Todavia, o texto final escolhido 
foi aquele mesmo produzido, isoladamente, por Pedro Batista Martins. Este trabalho 
teve o mérito de, além de agradar o Ministério da Justiça, ser entregue em tempo 
curto, tendo recebido a revisão pelo jurista e magistrado Guilherme Estelita, com o 
auxílio de Abgard Renault e do próprio Francisco Campos, o Ministro da Justiça.45
O Código de Processo de 1939 recebeu influência dos ordenamentos da 
Alemanha e da Áustria, assim como dos trabalhos que se efetuavam na Itália e 
em Portugal para a estruturação dos diplomas processuais,46 tendo Pedro Batista 
Martins se valido do então direito nacional, inclusive dos códigos de São Paulo, Minas 
Gerais, Bahia, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Distrito Federal como fontes de 
contribuição.47
43 Art. 16 - Compete privativamente à União o poder de legislar sobre as seguintes matérias: (...) XVI - o direito 
civil, o direito comercial, o direito aéreo, o direito operário, o direito penal e o direito processual;
44 Na nossa pesquisa encontramos o texto de lavra de Cícero Augusto Vieira, que contém 1.269 artigos, diferente, 
pois, até no quantitativo do texto escolhido (Projeto do código de processo civil e comercial. São Paulo: Editora 
Jurídica Brasileira, 1939). 
45 Confira-se: Moacyr Lobo da Costa (COSTA, Moacyr Lobo da. Breve notícia histórica do direito processual civil 
brasileiro e de sua literatura. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1970, p. 99).
46 De toda sorte, com o avançar do tempo, a codificação foi taxada de atrasada, pois distanciada das novas 
ideias europeias, sobretudo na Itália e Alemanha. No sentido, Cândido Rangel Dinamarco afirmou que: 
“Quando foi elaborado o código de 1939, vínhamos de uma legislação ainda extremamente ligada à tradição 
lusitana das Ordenações, em que não se faziam sentir os ecos da profunda reforma científica operada, 
através de obras alemãs e italianas, sobretudo, no direito processual civil” (DINAMARCO, Cândido Rangel. 
Direito processual civil. São Paulo: Bushatsky, 1975, p. 07). De forma diversa, Ovídio A. Baptista da Silva 
entendia que “o Estatuto Processual de 1939 apresentava-se como diploma moderno, inspirado nas doutrinas 
europeias contemporâneas, particularmente a italiana, embora ainda fiel à tradição luso-brasileira em muitos 
pontos” (SILVA, Ovídio A. Baptista da. Teoria geral do processo civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, 
p. 31). Parecendo concordar com a segunda posição, confira-se: Humberto Dalla Bernardina e Pinho (PINHO, 
Humberto Dalla Bernardina e. Teoria geral do processo civil contemporâneo. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 
2007, p. 16).
47 Em sentido amplo: Moacyr Lobo da Costa (COSTA, Moacyr Lobo da. Breve notícia histórica do direito processual 
civil brasileiro e de sua literatura. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1970, p. 100-1101). Confira-se ainda; 
Pedro Martins Baptista (BAPTISTA, Pedro Martins. Em defesa do Anteprojeto de Código de Processo Civil. In: 
Código de Processo Civil. MARTINS, Pedro Baptista; LEAL, Victor Nunes. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio 
Editora, 1939, p. XXXIV).
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Ocorreram críticas desde a sua apresentação no cenário jurídico48 49 e, mais 
tarde, já quando em vigor, que se formassem reclames bradando pelas necessidades 
de reforma ou, até mesmo, sua substituição, críticas estas que se tornaram mais 
representativas antes mesmo de a codificação de 1939 completar duas décadas de 
vigência.50
Há, contudo, um mérito que não se pode negar à nossa codificação de 1939: 
as Ordenações Filipinas – que há muito não eram mais aplicadas em Portugal51 – 
deixaram de ser fonte legal do nosso direito processual, ocorrendo, finalmente, a 
tardia libertação.52 De toda sorte, a desvinculação não foi absoluta, pois, na parte 
dos recursos, o diploma processual civil de 1939 se valeu de institutos previstos 
48 O anteprojeto foi publicado no Diário Oficial de 04 de fevereiro de 1939 para o fim de receber sugestões e, 
antes da entrada em vigor do texto final, foram feitos alguns encontros para debate do trabalho apresentado 
por Pedro Baptista Martins. Percebe-se, pelo teor da Conferência pronunciada pelo condutor da codificação 
processual civil na Faculdade de Direito de São Paulo (sob os “auspícios do Instituto dos Advogados”), no 
dia 17 de maio de 1939, que havia restrições ao trabalho que foi entregue por Pedro Baptista Martins, que, 
no início de sua fala, fez questão de registrar: “Das agressões pessoais, editadas e reeditadas, como das 
críticas amargas, provocadas pela revolta dos interesses criados, dou-me por plenamente compensado com 
a homenagem que me presta o mais notável centro de trabalho e cultura do país, com a solidariedade de seu 
laborioso e infatigável Governo, aqui expressivamente representado pelo eminente Secretário de Justiça” (Em 
defesa do Anteprojeto de Código de Processo Civil. In: Código de Processo Civil. MARTINS, Pedro Baptista; 
LEAL, Victor Nunes. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1939, p. XXVII). Com análise panorâmica 
do texto final, confira-se: Ataliba Vianna (Inovações e obscuridades do código de processo civil e comercial 
brasileiro. São Paulo: Livraria Martine Editora, 1940).
49 A observação de Rodrigo Klippel sobre a codificação de 1939 é oportuna: “Suas qualidades e defeitos são 
bastante conhecidos: preconizou o princípio da oralidade, que garante a concentração dos atos processuais, 
o contato imediato do juiz com as partes e provas, etc. Entretanto, elaborou um número excessivo de procedi-
mentos especiais, um sistema recursal complexo e confuso, em que a escolha do meio recursal hábil poderia 
depender do tipo de conteúdo do ato recorrido, tornando essencial o emprego da chamada ‘fungibilidadere-
cursal’, ou seja, a desconsideração do erro na interposição do vetor recursal devido à dificuldade do sistema” 
(KLIPPEL, Rodrigo. Teoria geral do processo civil. 2. ed. Niterói: Impetus, 2009, p. 23).
50 Afirma-se na boa doutrina que o primeiro reclame representativo quanto à necessidade de “aposentadoria” do 
CPC/1939 foi efetuado pelo professor Alfredo Buzaid, em conferência apresentada na Faculdade de Pelotas, 
no dia 10.06.1955. No sentido: Alcides de Mendonça Lima (LIMA, Alcides de Mendonça. Introdução aos 
Recursos Cíveis. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1976, p. 69) e E. D. Moniz de Aragão (ARAGÃO, E. 
D. Moniz de. Embargos infringentes. São Paulo: Saraiva, 1974, p. 52). Todavia, já se instalava bem antes 
movimento reformista, reclamando mudanças internas (em forma de revisão) no Código de Processo Civil de 
1939. No sentido, confira-se conferência feita – ainda na década de 40 – por Luiz Machado Guimarães no 
Clube dos Advogados do Rio de Janeiro, publicada mais tarde quase na íntegra (GUIMARÃES, Luiz Machado. A 
revisão do código de processo civil. In: Estudos de direito processual civil. Rio de Janeiro: Jurídica Universitária, 
1969, p. 141-158). 
51 Coincidentemente, em 1939, por meio do Decreto-lei nº 29.637, de 28 de maio de 1939, foi editada nova 
legislação codificada em Portugal, que demonstrava a diferenciação quanto aos recursos, já que a mesma 
previa “a apelação, a revista, o agravo, a queixa e o recurso para o tribunal pleno, como os recursos de 
caráter ordinário; a oposição de terceiro e a revisão eram os remédios classificados como extraordinários”, 
consoante anota J. M. Othon Sidou (SIDOU, J. M. Othon. Recursos processuais na história do direito. 2. ed. Rio 
de Janeiro: Forense, 1978, p. 74). Há figura próxima aos embargos de declaração na codificação processual 
lusa de 1939, consoante pode se notar dos artigos 666º a 670º, sendo tratado no Livro III, Título II, Capítulo 
V (Da sentença), que fica antes do capítulo VI (Dos recursos). Adiante faremos comparativo com a legislação 
portuguesa, mais especificamente sobre a codificação de 1939, vale conferir: José Alberto dos Reis (REIS, 
José Alberto dos. Código de processo civil anotado. 2. ed. Coimbra: Coimbra Editora, 1940, p. 454-457).
52 No sentido: J. M. Othon Sidou (SIDOU, J. M. Othon. Recursos processuais na história do direito. 2. ed. Rio de 
Janeiro: Forense, 1978, p. 71).
R. do Instituto de Hermenêutica Jur. – RIHJ | Belo Horizonte, ano 12, n. 16, p. 177-204, jul./dez. 2014 189
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nas Ordenações, com influência do Regulamento nº 73753 e, ainda, de alguns dos 
Códigos Estaduais.
Somente a grande reforma de 1973, trazendo codificação mais atual e contem-
porânea aos ordenamentos estrangeiros assemelhados, eliminou alguns institutos 
considerados como recursos no diploma de 1939 (agravo de petição, agravo no auto 
do processo, embargos de nulidade e infringentes nos tribunais,54 revista e os embar-
gos de divergência de jurisprudência no Supremo).
8 O Código de Processo Civil de 1973
É instintiva a lembrança do Código de Processo Civil (Lei nº 5.869 de 11 de ja-
neiro de 1973) atual com as suas possíveis raízes do Regime Militar, tendo em vista 
o marco que o acompanha (1973), ou seja, entrou em vigor no período de regência 
decorrente do Golpe de 1964. 
Com efeito, durante a primeira metade do Regime Militar foi promulgado um 
novo Código de Processo Civil (o de 1973), substituindo, em quase tudo, a codifica-
ção de 1939.55 Todavia, a ideia de um novo código para o processo civil não resulta 
de componente do Regime Militar, pois, anteriormente, logo no início da década de 
sessenta, o governo Jânio Quadros/João Goulart convidou Alfredo Buzaid56 para con-
feccionar o anteprojeto de um Código de Processo Civil (CPC), no intuito de ocupar o 
lugar que, então, era preenchido pela codificação de 1939. 
O trabalho confiado a Buzaid foi entregue em 1964, já no contexto do Regime 
Militar,57 e foi apresentado, pelo próprio, ao Congresso Nacional em agosto de 1972, 
53 Aqui vale registro que o legislador de 1939 não adotou a exata fórmula do Regulamento nº 737. Com posições 
antagônicas, Alcides de Mendonça Lima afirmou que, no Regulamento nº 737, os declaratórios eram vistos 
como ‘incidente da apelação’ (LIMA, Alcides de Mendonça. Introdução aos Recursos Cíveis, 2. ed. São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 1976, p. 209). Contra, em termos, por afirmar que os declaratórios estavam regulados 
“no Título ‘Dos recursos’, em seus artigos 639, 641, 642 e 643”, confira-se: Vicente Miranda (Embargos 
de declaração do processo civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 1990, p. 20). Certo é que no diploma de 
1939 ocorreu prestígio as fórmulas dos Códigos Estaduais, criando-se procedimentalização dos embargos 
declaratórios afim aos recursos. 
54 A manutenção de grande número de embargos era, para J. M. Othon Sidou, “tortura mental para os princi-
piantes do estudo processual e matéria para desgastar penas e consumir papel em puro gáudio de devaneios 
filosóficos” (SIDOU, J. M. Othon. Recursos processuais na história do direito. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 
1978, p. 72).
55 Conforme os artigos 1217 e 1218 das disposições finais e transitórias do CPC de 1973, foram mantidos os 
recursos e os procedimentos dos processos regulados em leis especiais, até ulterior lei que os adaptasse ao 
CPC de 1973, e alguns procedimentos especiais previstos no CPC de 1939. 
56 Confira-se Cândido Rangel Dinamarco (DINAMARCO, Cândido Rangel. Direito processual civil. São Paulo: 
Bushatsky, 1975, p. 01-02).
57 Vale destacar, como bem fez Arruda Alvim (ALVIM, José Manoel de Arruda. Manual de direito processual civil. 
14. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 68), que o texto de Buzaid, embora tenha passado pelo 
exame de outros juristas (como foi o caso de Luiz Antônio de Andrade e Luiz Machado Guimarães – substituído 
por José Frederico Marques após a sua morte), foi mantido em sua essência, sendo rejeitadas poucas suges-
tões dos revisores. Com resenha sobre a atuação de juristas na revisão do Código de Processo Civil, confira- 
se: Cândido Rangel Dinamarco (DINAMARCO, Cândido Rangel. Direito processual civil. São Paulo: Bushatsky, 
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RODRIGO MAZZEI
consoante se verifica do texto legal e da Exposição de Motivos do Código de Processo 
Civil, subscrita pelo próprio Alfredo Buzaid (não como autor do texto que se projetava 
para a codificação, mas como Ministro da Justiça da época – 1972).58
Como é de trivial sabença, Alfredo Buzaid foi Ministro da Justiça, ocupando 
o posto de outubro de 1969 até março de 1974,59 ou seja, em exercício durante o 
governo do general Garrastazu Médici (provavelmente o período de maiores restrições 
políticas e autoritarismo na história do país).60 61 No entanto, é possível afirmar que 
1975, p. 03-04) e E. D. Moniz de Aragão (ARAGÃO, E. D. Moniz de. Embargos infringentes. São Paulo: Saraiva, 
1974, p. 52-55). 
58 No dia 02 de agosto de 1972, o Presidente (General) Emílio Garrastazu Médici submeteu o texto que veio 
a se tornar o atual Código de Processo Civil. Confira-se: “Excelentíssimos Senhores Membros do Congresso 
Nacional. Nos termos do art. 56 da Constituição, tenho a honra de submeter à elevada deliberação de Vossas 
Excelências, acompanhada da exposição de Motivos do Senhor Ministro de Estado da Justiça, o anexo projeto 
de lei de ‘Código de Processo Civil’. Brasília, 2 de agosto de 1972. Emílio G. Médici”. Sobre a tramitação 
legislativa, confira-se: Cândido Rangel Dinamarco (DINAMARCO, Cândido Rangel. Direito processual civil. São 
Paulo: Bushatsky, 1975, p. 04-06).
59 Há um incidente que envolve o nome de AlfredoBuzaid durante o período em que estava no cargo de Ministro 
da Justiça. Com efeito, Buzaid “teve um filho suspeito de estar envolvido em um crime de grande repercussão 
ocorrido em Brasília. Trata-se do chamado Caso Ana Lídia em que uma menina de apenas 7 anos foi seques-
trada, torturada e estuprada, sendo assassinada em 11 de setembro de 1973. Na ocasião Ana Lídia tinha sido 
levada a um sítio situado em Sobradinho, o qual era propriedade de Eurico Resende, então Vice-Líder da Arena 
no Senado Federal. Apesar da participação de Eduardo Ribeiro Rezende (filho do senador) no episódio, a maior 
suspeita é a de que o crime hediondo tenha sido cometido por Alfredo Buzaid Júnior, filho do Ministro, razão 
pela qual o caso se tornou mais um exemplo de impunidade em Brasília” (Disponível em: <http://pt.wikipedia.
org/wiki/Alfredo_Buzaid>. Acesso em 07 out. 2014).
60 Uma verdadeira “linha dura”, conforme relata Nadine Habert (HABERT, Nadine. A década de 70: apogeu e crise 
da ditadura militar brasileira. São Paulo: Ática, 2003, p. 10).
61 Com tal dado histórico, é de se observar que, no hiato em que Alfredo Buzaid foi Ministro da Justiça, foi trazido 
à baila o Decreto-Lei nº 1.077 de 1970 (que instaurou a censura prévia). Assim determinava o Decreto-Lei: 
“O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando da atribuição que lhe confere o artigo 55, inciso I da Constituição 
e CONSIDERANDO que a Constituição da República, no artigo 153, §8º, dispõe que não serão toleradas as 
publicações e exteriorizações contrárias à moral e aos costumes; CONSIDERANDO que essa norma visa a 
proteger a instituição da família, preserva-lhe os valôres éticos e assegurar a formação sadia e digna da 
mocidade; CONSIDERANDO, todavia, que algumas revistas fazem publicações obscenas e canais de televisão 
executam programas contrários à moral e aos bons costumes; CONSIDERANDO que se tem generalizado 
a divulgação de livros que ofendem frontalmente à moral comum; CONSIDERANDO que tais publicações e 
exteriorizações estimulam a licença, insinuam o amor livre e ameaçam destruir os valores morais da sociedade 
Brasileira; CONSIDERANDO que o emprêgo dêsses meios de comunicação obedece a um plano subversivo, 
que põe em risco a segurança nacional. DECRETA: Art. 1º Não serão toleradas as publicações e exteriorizações 
contrárias à moral e aos bons costumes quaisquer que sejam os meios de comunicação. Art. 2º Caberá ao 
Ministério da Justiça, através do Departamento de Polícia Federal verificar, quando julgar necessário, antes da 
divulgação de livros e periódicos, a existência de matéria infringente da proibição enunciada no artigo anterior. 
Parágrafo único. O Ministro da Justiça fixará, por meio de portaria, o modo e a forma da verificação prevista 
neste artigo. Art. 3º Verificada a existência de matéria ofensiva à moral e aos bons costumes, o Ministro da 
Justiça proibirá a divulgação da publicação e determinará a busca e a apreensão de todos os seus exemplares. 
Art. 4º As publicações vindas do estrangeiro e destinadas à distribuição ou venda no Brasil também ficarão 
sujeitas, quando de sua entrada no país, à verificação estabelecida na forma do artigo 2º dêste Decreto-lei. 
Art. 5º A distribuição, venda ou exposição de livros e periódicos que não hajam sido liberados ou que tenham 
sido proibidos, após a verificação prevista neste Decreto-lei, sujeita os infratores, independentemente da 
responsabilidade criminal: I - A multa no valor igual ao do preço de venda da publicação com o mínimo de NCr$ 
10,00 (dez cruzeiros novos); II - À perda de todos os exemplares da publicação, que serão incinerados a sua 
custa. Art. 6º O disposto neste Decreto-Lei não exclui a competência dos Juízes de Direito, para adoção das 
medidas previstas nos artigos 61 e 62 da Lei número 5.250, de 9 de fevereiro de 1967. Art. 7º A proibição 
contida no artigo 1º dêste Decreto-Lei aplica-se às diversões e espetáculos públicos, bem como à programação 
das emissoras de rádio e televisão. Parágrafo único. O Conselho Superior de Censura, o Departamento de 
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BREVE HISTÓRIA (OU ‘ESTÓRIA’) DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL BRASILEIRO: DAS ORDENAÇÕES...
a saída de Alfredo Buzaid do Ministério da Justiça, em março de 1974, não encerrou 
sua vinculação ao Regime Militar. Tanto assim que, em data posterior ao fim do 
governo Médici, no governo do General João Batista Figueiredo, em 1982, Buzaid foi 
nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). 
Observe-se que o texto final se difere do que foi inicialmente apresentado em 
1964 pelo (Professor) Alfredo Buzaid, inclusive na Exposição de Motivos. Com efeito, 
o Anteprojeto de 1964 – segundo publicação de Imprensa Nacional – na forma pri-
mitiva continha 913 artigos, não trazendo alusão aos Livros IV (Dos Procedimentos 
Especiais) e V (Disposições Finais e Transitórias).62
Afora a questão formal entre o texto embrionário assinado pelo Professor e o 
posterior subscrito pelo Ministro, em alguns pontos pouco se percebe diferença na 
colocação e na redação de alguns dispositivos, mas em outros as alterações de texto 
são evidentes. Apenas para demonstrar uma mudança de rumo, no texto enviado em 
1964 não consta a remessa necessária (tratada no CPC de 1939 como recurso ex 
offício), sendo tal figura repudiada taxativamente na Exposição de Motivos primitiva 
(1964) pelo (Professor) Buzaid.63 64
Polícia Federal e os juizados de Menores, no âmbito de suas respectivas competências, assegurarão o respeito 
ao disposto neste artigo. Art. 8º Êste Decreto-Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as 
disposições em contrário. Brasília, 26 de janeiro de 1970; 149º da Independência e 82º da República. EMÍLIO 
G. MÉDICI. Alfredo Buzaid”.
62 Na Exposição de Motivos do Anteprojeto apresentado em 1964, o professor Buzaid justificou a falta dos demais 
livros: “O Anteprojeto compõem-se de cinco livros. Três deles figuram no presente fascículo, designados de 
parte geral. Faltam, como se vê, o quarto livro, dedicado aos procedimentos especiais, e o quinto, que reúne 
disposições de excepcional importância, sobretudo pelo reflexo que vão produzir na organização judiciária. 
Vacilamos a princípio se deveríamos incluí-los desde logo no Anteprojeto. Mas uma demorada reflexão 
nos convenceu de que não seria lógico, ou pelo menos plausível, tratar dos procedimentos especiais, sem 
conhecer, primeiro, os trabalhos dos eminentes mestres, incumbidos de redigir os Códigos das Obrigações, de 
Sociedades de Títulos de Crédito e de Navegação (BUZAID, Alfredo. Anteprojeto de Código de Processo Civil. 
Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional, 1964, p. 11).
63 “O Anteprojeto suprimiu o recurso ex offício, admitido pelo Código de Processo Civil (art. 822) e por algumas 
leis especiais (Decreto-Lei nº 960, arts. 53, 54 e 74, parágrafo único, Decreto-Lei, nº 3.365, art. 28, §1º e 
Lei 1.533, art. 12, parágrafo único), reincorporadas ao sistema do Código. Acerca do recurso ex offício as 
opiniões divergem. Alguns eminentes autores não lhe regateiam louvores. <<É ele>> escreve José Frederico 
Marques ‘instrumento eficaz para evitar conluios pouco decentes entre juízes fracos e indignos desse nome 
e funcionários relapsos da administração pública. É ainda modo para suprimir a ação, nem sempre eficaz 
e enérgica do Ministério Público em processo em que esta afeta a tutela ativa e militante de interesses 
indisponíveis. Salvo os casos de sentença que decreta a nulidade do casamento e da que homologa desquite 
amigável (Código de Processo Civil, art. 822), todos os demais se referem a pleitos de que é parte a União, 
O Estado ou Município. Ora, os argumentos utilizados pelos defensores do recurso ex offício não justificam a 
necessidade, nem sequer a utilidade prática como meio de impugnação de sentenças; procuramexplicar a sua 
manutenção pelo receio de conluio entre pessoas que figuram na relação processual ou por deficiente tutela 
dos interesses públicos. Ora, o argumento de que os representantes do poder público podem agir com incúria 
não releva um defeito da função, mas do órgão, cujo inexação no cumprimento do dever merece ser punida 
pelos meios regulares do direito e não por transferência ao Judiciário do controle de seu comportamento 
irregular. A missão do Judiciário é declarar relações jurídicas e não suprir as deficiências dos representantes 
da Fazenda ou do Ministério Público. Por outro lado, pra obstar à formação de conluio entre as partes, no 
processo, confere o Código meios eficazes” (destaque nosso). A dicção de Alfredo Buzaid transcrita consta na 
Exposição de Motivos do Anteprojeto apresentado em 1964, no Capítulo III, da Parte III, da referida exposição 
(Anteprojeto de Código de Processo Civil. Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional, 1964, p. 36).
64 O exemplo pontual da remessa necessária projeta o leitor mais crítico a uma análise mais detida na comparação 
das Exposições de Motivos do texto de 1964 e com o apresentado ao Congresso Nacional (1972), que 
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Como é curial, com pequenas alterações65 e retificando a denominação do ins-
tituto (pois não se valeu mais da antiga denominação de apelação necessária), a 
codificação de 1973 incorporou em seu ventre (art. 475 do CPC66) a figura antes 
rejeitada pelo Professor Buzaid.
O Anteprojeto do Código de Processo Civil passou, como se vê, por uma situa-
ção de adequação em que aquele que forjou suas bases, mais tarde, como Ministro 
da Justiça, teve a oportunidade de conduzir para a sua aprovação.
A observação é relevante na medida em que é possível fazer uma breve compara-
ção com o Código Civil, pois aquele diploma em época contemporânea também estava 
sendo alvo de mudanças para apresentação de nova codificação. Em 1963, antes, 
portanto, de deflagrado o Golpe Militar, o Professor Orlando Gomes67 foi convidado 
para orquestrar68 anteprojeto com o propósito de substituir o Código Civil de 1916.69
O trabalho apresentado em 1965 (ou seja, também depois do Golpe Militar) foi 
descartado, sem uma justificativa muito clara. Cogita-se que o motivo para o desprezo 
foi conteúdo muito avançado para o padrão social que se pretendia ditar na época, 
resultou no Código de Processo Civil de 1973. No trabalho original (Parte II, Capítulo II) há uma preocupação 
acerca da “Orientação Política” que norteava o Anteprojeto, em que deveria haver “perfeito equilíbrio” entre o 
“processo civil e a organização judiciária”, em que se reforçaria o Poder Judiciário dos Estados, indicando-se, 
inclusive, a necessidade de “criação de uma verba no orçamento da União, destinada a subvencionar o Poder 
Judiciário dos Estados”. Mais ainda, o texto original preconizava a ideia de unidade do Poder Judiciário, tanto 
assim que o Professor Buzaid cravou que embora “a Constituição vigente consagre um Poder Judiciário federal 
distinto do Poder Judiciário estadual, a verdade é que o Poder Judiciário é uno”, com a criação de mecanismos 
para que não continuasse “subordinado ao Poder Executivo”, diante da dependência orçamentária.
65 Houve o deslocamento para a Seção referente à coisa julgada, não mais constando na parte dedicada aos 
recursos em espécie. Tal fato não impede, contudo, que vários procedimentos referentes à apelação sejam 
adotados no julgamento da remessa, em especial os constantes do capítulo que trata da ordem dos processos 
no Tribunal (arts. 547-565 do CPC).
66 Embora no parágrafo único do art. 475 do CPC houvesse referência à apelação voluntária, esta expressão, 
contudo, foi retirada após as alterações sofridas no dispositivo por força da Lei nº 10.352/2001. Confira a 
redação original antes da reforma implementada pela Lei nº 10.352/2001: Art. 475 - Está sujeita ao duplo 
grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal, a sentença: I - que anular 
o casamento; II - proferida contra a União, o Estado e o Município; III - que julgar improcedente a execução 
de dívida ativa da Fazenda Pública (art. 585, Vl). Parágrafo único - Nos casos previstos neste artigo, o juiz 
ordenará a remessa dos autos ao tribunal, haja ou não apelação voluntária da parte vencida; não o fazendo, 
poderá o presidente do tribunal avocá-los. 
67 Em 1961 Orlando Gomes era contra a confecção de um novo Código Civil, defendendo a manutenção do 
diploma de 1916, mas, posteriormente, em 1963, ao ser escolhido para a missão, sustentou a necessidade de 
reforma. A contradição do ilustre professor é, de fato, configurada, bastando leitura da fala de defesa (O Código 
Civil e sua reforma, in Direito privado: novos aspectos, Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1961, p. 115-127) e as 
razões constantes da apresentação do Anteprojeto de Código Civil, coordenado pelo ilustre doutrinador (Código 
Civil – Projeto Orlando Gomes. Rio de Janeiro: Forense, 1985, p. 4-17). A dubiedade também foi notada por 
Geraldo de Oliveira Santos Neves (Código Civil brasileiro de 2002: principais alterações, Curitiba: Juruá, 2003, 
p. 52-53.)
68 Na verdade, Orlando Gomes seria o relator, mas haveria a participação também de Orozimbo Nonato e Caio 
Mário da Silva Pereira, com a ideia inicial de se fazer um Código de Obrigações em separado. No Código de 
Obrigações, a Parte Geral e os Contratos seriam de responsabilidade de Caio Mário da Silva Pereira. O trabalho 
deveria ser complementado com Sociedades e Exercício da Atividade Mercantil (Sylvio Marcondes) e Títulos de 
Crédito (Theophilo de Azeredo Santos).
69 Sobre a caminhada entre o Código Civil de 1916 e o Código Civil de 2002, confira-se: MAZZEI, Rodrigo [Notas 
iniciais à leitura do novo Código Civil. In: ALVIM, Arruda; ALVIM, Thereza (Coords.). Comentários ao Código Civil 
brasileiro: parte geral (arts. 1º a 103). Rio de Janeiro: Forense, 2005. v. 1].
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BREVE HISTÓRIA (OU ‘ESTÓRIA’) DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL BRASILEIRO: DAS ORDENAÇÕES...
já que o texto sobre a batuta de Orlando Gomes tratava de questões como concubi-
nato e filiação adulterina. Esta versão parece ter sentido quando se lê fala do então 
Desembargador do Tribunal de Justiça Alceu Cordeiro Fernandes que, em conferência 
data de 20 de junho de 1966 na sede da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição 
da Família e Propriedade, enaltece o Golpe Militar e faz severas críticas ao trabalho 
de Orlando Gomes (que estaria esputando, na sua visão, contra os valores morais, 
sociais e religiosos).70
Note-se que tal discurso foi feito um dia antes do anúncio oficial da mensagem 
governamental, datado de 21 de junho de 2010, que ceifou o trabalho conduzido por 
Orlando Gomes.71 O jurista baiano não detinha grande prestígio entre os militares, o 
que facilitou o corte de seu labor.
70 Confiram-se alguns trechos da fala do Desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo que mais tarde foi 
editada em formato de livro (Reforma do Código Civil: estudos e sugestões. São Paulo: Revista dos Tribunais, 
1966): “O movimento de março de 1964 surgiu, precisamente, na oportunidade em que o País dava a 
impressão de caminhar em sentido literalmente diverso daquele que as suas raízes cristãs, democráticas 
e livres aconselhavam. Todavia, apesar do reajustamento de sua caudal histórica ao seu verdadeiro nível, 
restaram, ainda, resquícios do passado recente, dominado pela técnica da propaganda materialista. Por isso 
mesmo, não é possível aceitar, desde logo, aquelas tendências legislativas que vieram dominadas por essa 
propaganda ideológica” (p. 07). “(...) Pululam leisque são letra morta, sem a menor ressonância na estrutura e 
vigência do povo brasileiro. Um exemplo dessa legiferação abstrata é o intitulado ‘Estatuto da mulher casada’, 
que na verdade, não tem tido reflexos de maior colorido na vida real das famílias bem constituídas. Há, por 
assim dizer, uma verdadeira separação entre o mundo legal, criando pelos legisladores, que pretendem impor 
um modelo, muitas vezes inspirado por situações particulares ou experiências exóticas, e o mundo autêntico 
que não pode ser confundido com suas distorções, contrárias à ética religiosa e social...” (p. 54-55). “(...) Assim, 
o Decreto nº 51.005, deveria ser compreendido como um imperativo de atualização e não de substituição, por 
outro tipo de Código, como ocorreu, principalmente no direito de família, onde todas as nossas tradições foram 
completamente subvertidas, sob a invocação de figurinos mais avançados... Resta, porém, a grande esperança 
no alto critério do Congresso Nacional, do Governo da República, cuja ideologia, sem dúvida, não se afina com 
o Projeto de Código Civil, e nas forças irremovíveis da história, que, nos momentos mais decisivos de seu 
desenrolar, têm salvo a nossa Pátria das mais terríveis tormentas...” (p. 55-56).
71 Alceu Cordeiro Fernandes parece se vangloriar do seu feito, pois consigna ao final da publicação na derradeira 
nota de rodapé (nº 28): “Esta Conferência foi realizada no dia 20 de junho de 1966, em São Paulo, na 
Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade. E no dia 21 de julho era anunciada 
oficialmente a mensagem governamental retirando o Projeto” (Reforma do Código Civil: estudos e sugestões. 
São Paulo: Revista dos Tribunais, 1966, p. 56). Apesar do discurso, já reproduzido, ter recebido o caráter 
pessoal, na verdade Alceu Cordeiro Fernandes representava aquilo que o Tribunal de Justiça de São Paulo (ao 
menos na sua maioria) pensava. Tanto assim que na obra em que a conferência foi publicada há um anexo 
de uma Comissão de Desembargadores do Tribunal (Desembargador Joaquim de Sylos Cintra – Presidente, 
Alceu Cordeiro Fernandes – relator, Hildebrando Dantas de Freitas e José Geraldo Rodrigues Alckimin – 
membros), em que se ratificam pontos importantes da conferência de Alceu Cordeiro Fernandes (ob. cit. 
p. 57-62). Mais ainda, na abertura da obra (p. 03), há uma nota da editora que demonstra claramente a 
posição que fora adotada e a comemoração pela censura ao trabalho de Orlando Gomes, confira-se: “NOTA 
DA EDITORA: Reúnem-se, nesta obra, alguns estudos do Desembargador Alceu Cordeiro Fernandes sobre a 
projetada reforma do Código Civil Brasileiro, que chegou a ter sua discussão iniciada no Congresso Nacional, 
sustando-se com a retirada do Projeto de Lei, a pedido do Governo, para novo exame de pontos que vinham 
provocando acerba discussão nos circuitos jurídicos nacionais. O último dos trabalhos apresentados consiste 
nas Observações e Conclusões da análise do Projeto, feita por uma Comissão de Desembargadores do E. 
Tribunal de Justiça de São Paulo, da qual foi relator o mesmo ilustre autor dos demais trabalhos. Reúne o 
volume, pois, a preciosa contribuição do E. Tribunal de Justiça de S. Paulo, que esta Editora tem a satisfação 
de apresentar, para o reexame da matéria e sua formulação adequada no futuro Projeto de Código Civil”.
R. do Instituto de Hermenêutica Jur. – RIHJ | Belo Horizonte, ano 12, n. 16, p. 177-204, jul./dez. 2014194
RODRIGO MAZZEI
Diferentemente de Orlando Gomes, Alfredo Buzaid se notabilizou pela sua apro-
ximação com o movimento integralista72 e por possuir grande penetração política com 
atores do Regime, chegando a ocupar cargos de extrema importância (entre os quais 
Ministro da Justiça, como já assinalado).73 
Dessa forma, é possível verificar que, além dos predicados intelectuais,74 a den-
sidade política de Alfredo Buzaid foi importante para o êxito do Código de Processo 
Civil de 1973. 
Para Carlos Augusto Silva, “o Código Buzaid absorveu as conquistas do de-
senvolvimento da ciência processual, mostrando-se de grande valor técnico-teórico. 
Contudo não incorporou as novas tendências do processo civil”.75 De fato, o Código 
de Processo Civil de 1973 – notadamente na sua redação original – está arraigado 
dos princípios do liberalismo, preso a uma concepção pouco social. Observe-se, por 
exemplo, que o Código de 1973 não mostra preocupação de calibre com o acesso 
72 Movimento que continha em sua fileira vários juristas de renome, como é o caso de Miguel Reale (Ação Integralis-
ta Brasileira. In: ENCICLOPÉDIA Wikipédia. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/A%C3%A7%C3%A3o_
Integralista_Brasileira>. Acesso em: 10. nov. 2014). Ao longo das suas vidas, a relação de Buzaid e Reale se 
afina em linhas uniformes, não só pelo integralismo, mas também pela condução de codificações nacionais 
e, posteriormente, no ambiente da Academia Paulista de Letras (Buzaid, já empossado, fez o discurso de 
recepção de Miguel Real na posse da cadeira nº 02, em outubro de 1977).
73 Após o descarte de Orlando Gomes, Alfredo Buzaid foi peça-chave para a escolha de Miguel Real e para a 
coordenação dos trabalhos no novo Código Civil. Buzaid, mesmo antes de assumir o cargo de Ministro da 
Justiça, já gozava de grande prestígio no Poder Executivo, sendo, inclusive, peça na engrenagem para a 
escolha de Miguel Real e (também um notório integralista) para a condução do anteprojeto do Código Civil 
que viria a substituir o diploma de 1916, segundo relatos da época. No sentido, é interessante conferir a 
visão de Caio Mário da Silva Pereira quanto aos fatos que antecederam à escolha de Miguel Real e para a 
função de coordenador do Projeto: “Em maio de 1967, o então Ministro da Justiça, Professor Gama e Silva, 
estando em Portugal para as cerimônias comemorativas do centenário de vigência do Código Civil português, 
transmitiu-me convite para integrar a comitiva. Num dado momento, Alfredo Buzaid, pessoa da sua mais íntima 
confiança, consultou-me se eu aceitaria o encargo de redigir um Projeto de Código Civil. Respondi-lhe que, se 
convidado, anuiria, desde que me fosse dado comunicá-lo a Orozimbo Nonato e Orlando Gomes, e uma vez 
fosse respeitada minha posição doutrinária de unificação do Direito Obrigacional. No mês de novembro do 
mesmo ano, em minha casa, e na presença do Prefeito Luiz de Souza Lima e do Procurador do Estado Joaquim 
Ferreira Gonçalves, o Ministro confirmou o convite, acrescentando ao Diretor da Faculdade de Direito Lourival 
Villela Viana, providenciasse ele quem me substituísse no próximo ano letivo. Para grande surpresa minha, 
no ano seguinte li nos jornais que para esse mister fora convidado o grande jurisconsulto Francisco Campos. 
A estranheza foi tanto maior que tinha eu conhecimento de que Francisco Campos era contrário a qualquer 
reforma, porque (disse-me pessoalmente) o País passava por uma revolução jurídico-social, e ‘não se codifica 
uma revolução’. Vim depois a saber que o nome de Campos fora lançado apenas como ‘cortina de fumaça’, 
pois o convite verdadeiramente fora dirigido a Miguel Real, não propriamente para redigir o Projeto, pois nunca 
fora civilista. Seria apenas coordenador de uma Comissão” (Direito civil: alguns aspectos de sua evolução, Rio 
de Janeiro: Forense, 2001, p. 101-102).
74 Autor de diversas obras jurídicas, discípulo de Enrico Tullio Liebman, integrante da Escola Paulista de Direito 
Processual e fundador do Instituto Brasileiro de Direito Processual (em 1958, em conjunto com Luís Eulálio de 
Bueno Vidigal, José Frederico Marques e Galeno Lacerda). Mesmo fora do campo jurídico, há farta produção 
de Alfredo Buzaid (empossado no dia 06 de junho de 1973 na cadeira nº 31 da Acadêmia Paulista de Letras), 
podendo se citar (entre vários textos): Marxismo e Cristianismo. Brasília: Ministério da Justiça, 1970. José 
Bonifácio: a visão do estadista. São Paulo:

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