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Teorias Destinatário Final no CDC

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O conceito de destinatário final para fins de aplicação do CDC
O artigo 2º, "caput", do Código de Defesa do Consumidor dispõe que: "consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final". Acerca da expressão "destinatário final" nesse conceito, formaram-se na doutrina duas teorias, quais sejam: a Maximalista e a Finalista.
Pela Teoria Maximalista, destinatário final é todo aquele consumidor que adquire o produto para o seu uso, independente da destinação econômica conferida ao mesmo. Tal teoria confere uma interpretação abrangente ao artigo 2° do CDC, podendo o consumidor ser tanto uma pessoa física que adquire o bem para o seu uso pessoal quanto uma grande indústria, que pretende conferir ao bem adquirido desdobramentos econômicos, ou seja, utilizá-lo nas suas atividades produtivas.
Pela Teoria Finalista (ou subjetivista), destinatário final é todo aquele que utiliza o bem como consumidor final, de fato e econômico. De fato porque o bem será para o seu uso pessoal, consumidor final econômico porque o bem adquirido não será utilizado ou aplicado em qualquer finalidade produtiva, tendo o seu ciclo econômico encerrado na pessoa do adquirente.
Cláudia Lima Marques e Antônio Herman V. Benjamim defendem a teoria finalista, definindo o conceito de "destinatário final" do art. 2º do CDC: "O destinatário final é o consumidor final, o que retira o bem do mercado ao adquirir ou simplesmente utilizá-lo (destinatário final fático), aquele que coloca um fim na cadeia de produção (destinatário final econômico) e não aquele que utiliza o bem para continuar a produzir, pois ele não é consumidor final, ele está transformando o bem, utilizando o bem, incluindo o serviço contratado no seu, para oferecê-lo por sua vez ao seu cliente, seu consumidor, utilizando-o no seu serviço de construção, nos seus cálculos do preço, como insumo da sua produção." (In "Comentários ao Código de Defesa do Consumidor", 2ª Ed.,São Paulo, Editora Revista do Tribunais, 2006, p. 83/84).
Ambas as teorias, contudo, não são indenes de críticas. A teoria maximalista é criticada pela sua excessiva abrangência, uma vez que o CDC se destinaria à defesa dos consumidores hipossuficientes e vulneráveis, e a teoria finalista é atacada por ser muito restritiva, excluindo de sua incidência figuras da relação de consumo que também poderiam ser consideradas hipossuficientes, como a pequena empresa e o profissional liberal. 
Neste aspecto, cumpre esclarecer que se define a vulnerabilidade analisando-se todos os aspectos da relação estabelecida e não somente o aspecto econômico. O adquirente do produto ou serviço pode ser vulnerável em relação ao fornecedor pela dependência do produto; pela natureza adesiva do contrato imposto; pelo monopólio da produção do bem ou sua qualidade insuperável; pela extremada necessidade do bem ou serviço; pelas exigências da modernidade atinentes à atividade, dentre vários outros fatores.
O STJ, em geral, tem manifestado o entendimento pela Teoria Finalista Mitigada, ou seja, considera-se consumidor tanto a pessoa que adquire para o uso pessoal quanto os profissionais liberais e os pequenos empreendimentos que conferem ao bem adquirido a participação no implemento de sua unidade produtiva, desde que, nesse caso, demonstrada a hipossuficiência, sob pena da relação estabelecida passar a ser regida pelo Código Civil.
Logo, importa dizer que uma pessoa jurídica, para postular em juízo na qualidade de consumidora, deverá comprovar o seu estado de hipossuficiência e vulnerabilidade ao adquirir um bem ou serviço e desde que estes não tenham ligação direta com os insumos ou matérias-primas necessárias à efetivação de seus produtos, segundo a teoria finalista mitigada.
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RECISÃO CONTRATUAL E INDENIZAÇÃO PELAS PERDAS E DANOS. COMPRA E VENDA DE COLHEITADEIRA. CDC. DESTINATÁRIO FINAL. LEGITIMIDADE DA REVENDEDORA. PRELIMINARES REJEITADAS. VÍCIO OCULTO. COLHEITA DE LAVOURA. PERDA DE GRÃOS SUPERIOR A 1%. BAIXA PRODUTIVIDADE. LITIGÃNCIA DE MÁ-FÉ. REQUISITOS LEGAIS NÃO PREEENCHIDOS. AÇÃO DE COBRANÇA. CHEQUES. DESCABIMENTO. 
1. Aplicabilidade do CDC. Consumidor. Destinatário final. O Egrégio STJ mitiga a teoria finalista quando comprovada a hipossuficiência técnica, jurídica ou econômica da pessoa jurídica ou física, quando submetida à situação de vulnerabilidade ou prática abusiva, estendendo, portanto, o conceito de destinatário final para aqueles que se enquadrem nessas hipóteses, ainda que desenvolvam atividade lucrativa (teoria maximalista). No caso, a colheitadeira marca Massey Ferguson MF34 Standart fora adquirida no mês de dezembro de 2004, e locada a terceiro no Estado do Mato Grosso, sendo verificados problemas na máquina a partir de então. Inegável a hipossuficiência/vulnerabilidade tanto econômica quanto técnica dos adquirentes, os quais pretendiam ampliar a sua capacidade na prestação dos serviços de colheita, ainda que desenvolvida a atividade produtiva, e vieram a Juízo buscar o direito pleiteado em razão do alegado baixo rendimento da máquina na lavoura em decorrência de defeito de fabricação.
2. A legitimidade passiva de PIPPI MÁQUINAS AGRÍCOLAS LTDA. (revendedora) decorre do fato de integrar a cadeia de fornecedores preconizada pelo CDC, ainda que identificável a fabricante do produto. 
3. Ação de rescisão contratual e indenização pelas perdas e danos. Diante do exame das provas pericial e testemunhal coligidas nos autos cabível a resolução do contrato de compra e venda veiculada na exordial, pois que a colheitadeira adquirida apresentara defeitos que a tornaram imprópria para o uso a que se destinava, frustrando-lhes a expectativa, pois que os adquirentes haviam comprado uma máquina nova, a qual, após o início de sua utilização, começara a apresentar problemas, ocasionando a perda de grãos em patamar superior a 1% (um por cento), e, assim, causando-lhes prejuízos. 
4. O fato da utilização da máquina ter-se iniciado antes da data referida na prestação de contas (09.02.2005), e ainda ter atendido a mais de uma fazenda naquela região, não possui o condão de alterar a realidade dos fatos, qual seja, a colheitadeira não obteve o rendimento propalado por ocasião de sua aquisição, como bem demonstrado pela prova pericial. 
5. Conforme se verifica das ordens de serviços emitidas no período de janeiro até abril de 2005, os problemas não restaram regularizados pelos fornecedores no prazo de trinta dias, ainda que os fechamentos das ordens tenham se dado no mesmo dia das respectivas aberturas, pois que não se limitaram às simples regulações e manutenções de rotina. Inclusive foram substituídas peças e realizadas adaptações visando à melhor produtividade da colheitadeira.
Presente, pois, a responsabilidade da revendedora e da fabricante, nos termos do art. 18, do CDC, a ensejar a indenização pelas perdas e danos, considerada como parâmetro a produção média padrão de 2.304 sacas de soja/dia.
6. Do exame das manifestações dos adquirentes do bem no feito, não se verifica o preenchimento de quaisquer das hipóteses legais a ensejar a aplicação das sanções atinentes à litigância de má-fé, pois que deduzidas em Juízo as pretensões correspondentes aos danos decorrentes dos problemas e da baixa produtividade apresentada pela colheitadeira. 
7. Da ação de cobrança. Não prospera a pretensão da revendedora Pippi Máquinas Agrícolas Ltda. em relação ao pagamento da importância de R$ 38.750,00 (trinta e oito mil e setecentos e cinquenta reais) referente à entrada do preço do bem representada pelos cheques nº 850849 e 850830, sacados contra o Banco do Brasil S/A, nos valores de R$ 3.750,00 (três mil e setecentos e cinquenta reais) e R$ 35.000,00 (trinta e cinco mil reais), diante da decisão proferida no julgamento da Apelação Cível nº 70065940348, no sentido da rescisão do contrato de compra e venda da colheitadeira. 
PRELIMINARES REJEITADAS. APELAÇÕES DESPROVIDAS. (Apelação Cível/TJRS Nº 70065940298; 16 Câmara Cível; PUBLICADO EM 01/08/2017).

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