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HISTÓRIA DO DIREITO - Aula 3

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História do Direito
Aula 3
PROFESSORA: Ms. Camila Arruda
E´MAIL: profcamilaarruda@gmail.com
Aula 3
Direito Mesopotâmico 
Direito Hebraico
 
A região da Mesopotâmia era localizada numa planície entre os rios Tigre e Eufrates e nesse cenário floresce a cidade-estado da Babilônia que cresceu à beira do rio Eufrates – hoje denominada Al Hillah –, próxima da cidade de Bagdá, no Iraque.
 
Ao longo dos rios Tigre e Eufrates surgiram inúmeras cidades-estado, dentre as quais destacamos:
 Ur, 
Babilônia, 
Susa, 
Borsipa,
 Esnumma, 
Sippar ,
Nínive. 
Ressalte-se, ainda, que as cidades da região da Mesopotâmia tinham línguas, culturas e divindades próprias.
O rei Hamurábi surge, então, no enredo, como o unificador dos povos da Mesopotâmia, utilizando 3 (três) políticas de governo: 
adotou o acádio como língua oficial e fixou como capital do império a cidade da Babilônia; 
com relação à religião, fixou o politeísmo através do panteão de deuses;
determinou que leis esparsas fossem consolidadas num único documento escrito.
A grandiosa invenção foi a utilização de símbolos para expressar as ideias, é o que chamamos de escrita. O tipo de escrita inventada foi a cuneiforme.
Esse conjunto de leis foi então escrito numa rocha por determinação do rei Hamurábi, aproximadamente em 1792 a. C., e ficou conhecido como o Código de Hamurábi.
 
 
 
Foram os arqueólogos franceses que, em 1901, na região correspondente à cidade de Susa – hoje território do Irã – encontraram a pedra de diorito com 2821 artigos, atualmente exposta no Museu do Louvre em Paris.
Voltando à Babilônia do rei Hamurabi e ao seu código, podemos dividir a sociedade babilônica em 3 (três) camadas sociais:
awilum: eram considerados os homens livres com direitos de cidadão, incluindo “ricos e pobres”. Formavam o maior grupo social;
muskêum: representavam a classe intermediária entre os homens livres e os escravos e tinham como função trabalhar no palácio. Tinham, portanto, uma função similar à de funcionários públicos, com direitos e deveres específicos;
escravos: representavam o menor grupo social formado por prisioneiros de guerra. Os escravos eram denominados wardum e as escravas amtum.
 
Como destacamos acima, o Código de Hamurabi é uma compilação de leis e costumes com 282 artigos. 
Adultério
Na Babilônia, admitia-se o concubinato, isto é, o homem casado poderia sair com uma mulher solteira ou uma mulher não prometida em casamento. 
O crime de adultério era cometido somente pela mulher casada e não pelo homem casado. 
Na hipótese de um homem casado sair com uma mulher casada, teríamos as seguintes consequências: a mulher casada seria acusada de adultério e o homem de cúmplice de adultério. 
 
O rei Hamurabi, entretanto, ressaltou a possibilidade de o marido traído perdoar a esposa adúltera, mas o perdão concedido à esposa, obrigatoriamente, deveria ser estendido ao cúmplice de adultério.
Não havia a previsão legal de o marido perdoar a esposa e matar o cúmplice.
 Vejamos a regra do rei Hamurabi: 
	Art. 129: Se a esposa de um awilum for surpreendida dormindo com um 				outro homem, eles os amarrarão e os lançarão n’água. Se o esposo deixar 				viver sua esposa, também deixará viver seu servo.
Interessante que o rei Hamurabi, ao empregar a palavra “surpreendida”, admite a ocorrência do flagrante no caso de adultério, e a pena para a adúltera e seu cúmplice seria a de asfixia na modalidade afogamento. 
Se o marido deixar viver sua esposa também deixará viver o seu cúmplice e, conforme podemos verificar na parte final do artigo em comento, o cúmplice teria, no perdão, a condição de servo.
No Brasil, o adultério foi crime por mais de 60 anos e tanto o homem quanto a mulher poderiam ser acusados de adultério. Com o advento da Lei no 11.106/05 ocorreu a abolitio criminis, isto é, o crime de adultério foi abolido do Código Penal. 
Hoje, o adultério pode dar causa ao divórcio por quebra do dever de fidelidade no casamento (art. 1.573, I, do Código Civil), além de uma eventual ação de indenização por dano moral.
No Brasil, o adultério foi crime por mais de 60 anos e tanto o homem quanto a mulher poderiam ser acusados de adultério. Com o advento da Lei no 11.106/05 ocorreu a abolitio criminis, isto é, o crime de adultério foi abolido do Código Penal. Hoje, o adultério pode dar causa ao divórcio por quebra do dever de fidelidade no casamento (art. 1.573, I, do Código Civil), além de uma eventual ação de indenização por dano moral.
DIREITO DO CONSUMIDOR
Naquele tempo, aproximadamente em 1792 a. C., na Babilônia, o rei Hamurabi admitia a hipótese de haver um mau prestador de serviço e, por essa razão, caso esse prestasse um mau serviço deveria refazê-lo às suas custas. O artigo 233 do Código de Hamurabi estabelece:
Se um pedreiro construiu uma casa para um awilum e não executou o trabalho adequadamente e o muro ameaça cair, esse pedreiro deverá refazer o muro às suas custas.
Como podemos verificar pela leitura do texto de Hamurabi, naquela época já havia a previsão de reparação do prejuízo causado, determinando-se a obrigação de reexecução do serviço mal prestado.
Interessante notar que se transportarmos para o Brasil a hipótese de serviço inadequadamente prestado, teremos o caso de vício na qualidade do serviço, com previsão expressa no Código de Defesa do Consumidor – CDC – Lei no 8.078/90.
A atual lei consumerista brasileira em seu art.20, I do CDC baseia-se na hipótese formulada por Hamurabi em 1792 aC ao determinar que o mal prestador de serviço deve refazê-lo, sem o custo adicional para o consumidor que contratou o serviço.
 
Estupro
Na Babilônia poderiam ser vítimas de estupro apenas e tão somente as virgens casadas – mulheres que ainda não conheciam um homem, mas eram prometidas em casamento. A regra legal da Babilônia destacava que a mulher deveria ser virgem prometida, devendo habitar, ainda, a casa de seu pai. O artigo 130 do Código de Hamurabi descreve o crime de estupro do seguinte modo, in verbis:
	Se um awilum amarrou a esposa de um (outro) awilum que (ainda) não 			conheceu um homem e mora na casa de seu pai, dormiu em seu seio, e o 			surpreenderam, esse awilum será morto, mas a mulher será libertada.
O verbo amarrar é o que caracteriza o constrangimento da virgem pro- metida – esposa de awilum que ainda não conheceu um homem – ao coito sexual. 
O tipo legal também prevê a hipótese de flagrante ao usar o termo surpreenderam. O sujeito ativo (autor) desse crime na Babilônia era o homem livre (awilum) e o sujeito passivo (vítima) somente a virgem casada. O rei Hamurabi silenciou na proteção da mulher solteira e da mulher casada que não era mais virgem. A pena para o estuprador era a morte.
O crime de estupro no Brasil está tipificado no artigo 213 do Código Penal, redefinido pela Lei no 12.015/09, a saber:
	 Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter	conjunção 	carnal ou praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato 	libidinoso.
 Diferentemente da Babilônia o sujeito passivo desse crime, no Brasil, não é somente a mulher, pois ao prever o termo alguém o Código Penal brasileiro admite que qualquer pessoa – homem ou mulher – possa ser autora do crime de estupro.
No que diz respeito ao autor do crime, a Lei no 12.015/09 ampliou o tipo penal, admitindo a prática de ato libidinoso – por exemplo um beijo lascivo forçado – como fato típico de estupro. Portanto pode-se afirmar que tanto o homem quanto a mulher podem ser sujeitos ativos do delito.
 Interessante notar que na Babilônia para que haja o estupro deve haver o flagrante do homem livre dormindo no seio da virgem prometida. 
No Brasil, o flagrante não é imprescindível para a caracterização do crime, cuja pena pode variar de 6 a 10 anos de prisão.
Pena de Talião
A pena de Talião indica que a punição será na mesma proporção do delito cometido. O Código de Hamurabi de forma simbólica apresenta a pena de talião do seguinte modo no artigo 196: Se um awilumdestruiu o olho de um outro awilum, destruirão o seu olho.
Na Bíblia o talião é representado pela seguinte expressão (Deuteronômio, 19,21):	
		Não tenha piedade: vida por vida, olho por olho, dente por dente, 					mão por mão, pé por pé.
 
O termo talião indica a ideia de equivalência pelo que pudemos verificar nos exemplos citados e, por conseguinte, a pessoa que foi vítima de um crime poderia revidar na mesma proporção do ataque.
O rei Hamurabi estabelecia, ainda, a pena de Talião em outros artigos do código, como na hipótese do construtor que edificasse uma casa que desabando matasse o dono da própria casa. Como equivalência, nesse caso, o construtor deveria ser morto, conforme previsão do artigo 229.
O talião, além da equivalência, também pressupõe a ideia de fazer justiça com as próprias mãos. No Brasil haveria essa possibilidade
Como regra geral não. É crime fazer justiça com as próprias mãos e, no Brasil, o crime é chamado de exercício arbitrário das próprias razões, tipificado no Código Penal no artigo 345, com pena de detenção de 15 dias a 1 (um) mês ou multa. Há algumas exceções como nos casos de autotutela na legítima defesa e no emprego da violência para evitar a invasão (esbulho) de uma propriedade, por exemplo
CÓDIGO DE MANU
Adotado na Índia, o Código de Manu tem um contexto mais religioso do que jurídico.
 O nome Manu não se refere a uma pessoa, mas sim a uma denominação que se refere à casta dos brâmanes – religiosos da casta superior. Era dividido em 12 livros com 2.685 artigos escritos em sânscrito e na forma de versos. Estabeleceu, também, o sistema de castas da sociedade hindu, aproximadamente no ano 1000 antes de Cristo.
A sociedade da Índia, segundo o hinduísmo, é dividida em 4 (quatro) castas, sendo elas:
brâmanes: constituíam a casta superior que saiu da boca do deus Brahma quando da criação do mundo, representando a sabedoria. Exemplo: os sacerdotes;
ksatryas (xátrias): representavam a casta dos militares-guerreiros e, segundo a lei, surgiram do braço de Brahma, simbolizando a força. Exemplo: os rajás (reis);
varsyas (vaixás): formavam a casta dos comerciantes que saíram da perna de Brahma, representando o trabalho. Exemplo: os profissionais liberais;
sudras: representavam a camada inferior, a última casta e o maior grupo social (considerada uma praga). Foram criados a partir do pé de Brahma. Exemplo: os trabalhadores braçais.
Defloração
O crime de defloração, na Índia, ocorria sem a conjunção carnal, vale dizer, sem o uso do órgão sexual masculino. A lei de Manu punia a hipótese de o homem usar o dedo para macular a pureza da mulher virgem e, como punição, teria uma pena corporal cumulada com multa. A previsão legal está estipulada no artigo 364 do Código de Manu, vejamos:
O homem que, por orgulho, macula violentamente uma rapariga pelo contato de seu dedo terá dois dedos cortados imediatamente, e merece, além disso, uma multa de seiscentas panas.
O tipo legal de Manu destaca que a vítima deveria ser obrigatoriamente rapariga que, no texto, significa donzela (mulher virgem) e o homem, com emprego de violência, devia usar a mão como instrumento da prática criminosa.
É de se destacar que, na Índia, para uma única conduta havia duas punições: a primeira, de caráter corporal, estabelecia o corte dos dedos da mão do homem pelo mal que causou à mulher virgem e a outra, de valor social, impunha uma pena de multa para o homem que, após ter maculado a pureza da mulher, faria com que ela perdesse seu valor social, levando-se em conta ser a virgindade um valor juridicamente relevante na época das leis de Manu.
No Brasil a virgindade também teve proteção legal tanto na esfera civil quanto na penal. No Código Civil brasileiro de 1916, o casamento poderia ser anulado se o homem descobrisse que a mulher com quem casou havia sido deflorada (art. 219, IV), in verbis: Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge o defloramento da mulher, ignorado pelo marido.
Já no direito penal, havia o crime de sedução que tipificava a seguinte conduta com pena de prisão de 2 a 4 anos: seduzir mulher virgem, menor do que 18 anos e maior de 14, e ter com ela conjunção carnal aproveitando-se de sua inexperiência ou justificável confiança. Esse crime refletia a sociedade brasileira da década de 1940.
Com a Lei no 11.106/05 a sedução deixou de ser crime no Brasil. Observamos que, se o fato narrado pelo artigo 364 do Código de Manu ocorresse no Brasil, deveria ser tipificado como estupro na modalidade de ato libidinoso com pena de 6 a 10 anos de reclusão, segundo o artigo 213 do Código Penal. Portanto verificamos que o fato é ainda considerado bastante grave e a pena consideravelmente alta.
									DIVÓRCIO
Apenas o marido decidia pelo fim do casamento na sociedade hindu. O homem era o único titular do direito ao repúdio, e o divórcio ocorreria caso a deficiência fosse somente da esposa. 
O Código de Manu, no Capítulo IX, enumera as causas do divórcio, apresentando um rol taxativo (numerus clausus): 
desobediência ao marido, 
dar à luz somente a filhas, 
embriaguez, 
 
 
enfermidade incurável, 
esterilidade, 
mau caráter, 
prodigalidade 
tagarelice. 
Vejamos o artigo 497 do Código de Manu que faz referência a algumas das causas do divórcio acima elencadas: Uma mulher dada aos licores inebriantes, tendo maus costumes, sempre em contradição com seu marido, atacada de uma moléstia incurável, como a lepra, ou de um gênio mau e dissipa seu bem, deve ser substituída por outra mulher.
Como podemos verificar pela leitura do texto de Manu em comento, as causas do divórcio beneficiavam somente o marido. 
O divórcio é a dissolução do casamento válido que habilita as pessoas a contraírem novas núpcias.
O casamento no Brasil era indissolúvel. A Emenda Constitucional no 9/77, retirou o prefixo in e o casamento passou a ser dissolvido, tornando possível o divórcio, requerido tanto pelo homem quanto pela mulher. Na sequência, no Congresso Nacional, foi promulgada a Lei no 6.515/77 – conhecida como Lei do Divórcio.
 
O Código de Manu, como vimos, traz um rol taxativo das causas do divórcio. No Brasil, de forma diversa, há um rol exemplificativo (numerus apertus) das causas de rompimento de sociedade conjugal, enumeradas pelo Código Civil no artigo 1.573, podendo o juiz considerar, ainda, outros fatos que tornem evidente a impossibilidade da vida em comum. 
A Emenda Constitucional no 66/10 alterou a matéria do divórcio no Brasil, retirando do texto constitucional qualquer requisito para que o divórcio pudesse ser requerido.
 
									FALSO TESTEMUNHO
Na antiguidade, a produção de provas materiais era de difícil constatação o que gerava a predominância, nos processos, de provas testemunhais. 
Os homens, naquela época, se fiavam na palavra e deveriam honrá-la e testemunhá-la.
 Foi assim que a palavra foi alçada ao topo da pirâmide na escala das provas processuais.
O Código de Manu regulamentou o falso testemunho. O silêncio de uma testemunha, porém, era equivalente a uma mentira. O artigo 13 do Código de Manu prevê:
É preciso ou não vir ao Tribunal ou falar segundo a verdade: o homem que nada diz, ou profere uma mentira, é igualmente culpado.
Inicialmente, cabe ressaltar que, ao utilizar o termo Tribunal, o legislador hindu faz alusão que só há crime de falso testemunho perante a autoridade judiciária no processo e diante de uma corte judicial. Segundo as leis de Manu, portanto, não há crime de falso testemunho perante uma autoridade administrativa como, por exemplo, no inquérito policial.
No Brasil, o crime de falso testemunho pode ocorrer perante o juiz no processo judicial (penal ou cível, contencioso ou voluntário); no processo administrativo perante a autoridade administrativa como, por exemplo, no inquérito civil público presidido pelo Ministério Público; no inquérito policial perante o delegado de polícia e, também, em juízo arbitral, conforme previsão legal do artigo 342 do Código Penal.
Voltando à Índia, há a opção,na lei de Manu, de a testemunha não comparecer ao tribunal e escapar da punição; mas, caso compareça, só há uma possibilidade: falar a verdade.
A pena para o crime de falso testemunho, na Índia, é cruel e simbólica, vejamos o texto legal do artigo 79 do Código de Manu: Com a cabeça para baixo será precipitado nos abismos mais tenebrosos do inferno, o celerado que, interrogado em um inquérito judicial, der um depoimento falso.
Por que a testemunha que comete o crime de falso testemunha deve ser precipitada no abismo?
 
Para mostrar para toda a sociedade hindu que quem vai ao tribunal que tem que falar a verdade e não pode ficar em silêncio, caso contrário, seu crânio será transformado em pedaços justamente por não ter usado a cabeça como deveria, isto é, por ter mentido ou ficado silente.
No Brasil, a punição para o crime de falso testemunho é a de prisão de 2 a 4 anos mais multa conforme determinação da Lei no 12.850/13 que deu nova redação ao artigo 342 do Código Penal.
Em que pese a Constituição da República da Índia – em 1950 – ter abolido o sistema de castas, nas regiões onde o hinduísmo permanece, a estrutura está inalterada até os dias atuais. O sistema de castas, segundo a religião hindu, não admite mudanças porque foi feito pelo deus Brahma quando da criação do mundo. Nesse sentido, a mistura de castas, em vida, é considerada a pior das desgraças, pois desrespeita a lei de Brahma.
Os hindus acreditam na vida após a morte – reencarnação – e caso a pessoa cumprisse os preceitos das leis de Manu na próxima vida poderia ascender de casta ou reencarnar como um “bicho escroto”, na hipótese de descumprimento.
 
 
No Brasil, qual será o tratamento dado ao silêncio? 
Quem cala consente?
 
Na verdade quem cala nada diz. O silêncio faz parte da autodefesa e não pode prejudicar o acusado. 
É princípio constitucional, garantido no artigo 5o, inciso LXIII,10 da Constituição Federal de 1988, pois ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo ou na expressão do brocardo jurídico nemo tenetur se detegere.
 
JUROS
Segundo o Código de Manu, uma pessoa física pode emprestar dinheiro a juros para outra pessoa física. 
Esse empréstimo, porém, deve seguir a ordem direta das castas da seguinte forma: a casta mais poderosa – minoria da população – paga menos juros e a casta inferior – maioria da população – paga mais juros. O artigo 140 do Código de Manu prevê o empréstimo de dinheiro a juros. Vejamos:
Que ele receba dois por cento de juro por mês (porém nunca mais) de um brâmane, três de um ksatriya, quatro de um vaisya e cinco de um sudra, segundo a ordem direta das classes.
 
Esse artigo demostra uma lógica que favorece o poder econômico, vale dizer, quem ganha mais e é mais poderoso na sociedade hindu paga menos juros ao mês do que, por exemplo, um sudra – considerado praga – a minoria da população, trabalhador braçal e que necessitaria de mais recursos econômicos para sobreviver.
A lógica do artigo 140 do Código de Manu está em consonância com a divisão social hindu que, como vimos, não permite a ascensão social em vida por ter sido criada por vontade do deus Brahma.
No Brasil, uma pessoa física não pode emprestar dinheiro a juros para outra pessoa física, com percentuais superiores à taxa permitida por lei. É crime de usura também conhecido como “agiotagem”, tipificado no artigo 4o, “a”, da Lei no 1.521/51 – Lei dos crimes contra a economia popular. A pena para tal crime é de detenção de 6 meses a 2 anos mais multa.
 
 ROUBO E FURTO
Código de Manu explica a diferença entre os crimes de roubo e furto. Interessante notar que, mesmo com pouca influência de culturas externas, os conceitos dos delitos de roubo e furto que foram feitos pelos hindus, no ano 1000 antes de Cristo, são semelhantes aos do Brasil de hoje.
O artigo 329 do Código de Manu tipifica os crimes de roubo e furto do seguinte modo:
A ação de tirar uma coisa com violência, à vista do proprietário, é um roubo; em sua ausência é furto [...].
A diferença entre os crimes está justamente no emprego da violência na subtração de coisa alheia. 
Havia três punições para o furtador no Código de Manu que podiam ser: a detenção, os ferros e penas corporais. 
Já o roubador teria uma pena mais drástica conforme a vontade e o critério do Rajá (rei).
o Brasil, o crime de roubo está tipificado no artigo 157 do Código Penal e seu conceito é igual ao da Índia, vale dizer, roubo é a subtração de coisa alheia com emprego de violência ou grave ameaça. A punição para esse delito é de reclusão de 4 a 10 anos mais multa.
Por outro lado, o furto está previsto no artigo 155 do Código Penal, sendo seu conceito mais amplo que o do Código de Manu. Nesse só havia furto na ausência do proprietário, no Brasil o furto é a subtração de coisa alheia móvel que pode ocorrer na presença ou não do proprietário.
 Citamos como exemplo de um furto na presença do proprietário o caso do “batedor de carteira”, também conhecido como punguista. A pena para o furto no Brasil é de reclusão de 1 a 4 anos mais multa.
DIREITO HEBRAICO
O direito hebraico é antes de tudo um direito religioso. Tem como base a Torá conhecida também como Pentateuco ou Lei mosaica. 
A principal fonte do direito hebraico é a Torá, mais especificamente, o Antigo Testamento.
De acordo com a Bíblia, no ano 1250 aC, Moisés liderou a fuga dos hebreus do Egito para a Palestina pelo deserto e esse percurso teria durado 40 anos. 
Em sua passagem pelo Monte Sinai, Moisés subiu ao topo da montanha e lá́ recebeu de Deus o Decálogo – os Dez Mandamentos – que é a base moral da Torá.
O Torá ou o Pentateuco é formado pelos 5 primeiros livros da Bíblia, sendo eles:
Gênesis- narra a criação do mundo e trata do primeiro homicídio da história (fratricídio) onde Caim matou Abel por ciúmes;
Êxodo – fala da fuga dos Hebreus no Egito;
Levítico: livro teocrático – e porque não dizer legislativo – que narra os rituais dos sacrifícios e determina as normas puras e impuras.
Números: possui 36 capítulos nos quais há o relato de diversos censos populacionais da época.
 Deuteronômio: é o último livro da Torá que, na verdade, quer dizer Segunda Lei, isto é, uma espécie de resumo dos quatro primeiros livros da Bíblia que foram repetidos para as novas gerações.
O texto da lei mosaica expressa um contexto mais religioso do que jurídico e, no âmbito jurídico, estabelece mandamentos, penas, ordens, proibições e princípios. Abordaremos dois de seus elementos, a fim de ilustrar algumas particularidades do direito hebraico.
PENA DE LAPIDAÇÃO
A pena de lapidação era o modo mais comum para determinar a morte de uma pessoa segundo a Torá. A lapidação não é outra coisa senão a morte por apedrejamento.
 Na maioria das vezes lenta, dolorosa e cruel. Após o apedrejamento, segundo a Torá, o cadáver deveria ser pendurado em uma árvore ou queimado.
 A Lei de Moisés prevê o apedrejamento até a morte em diversas situações. Destacamos, dentre outras:
Blasfêmia: proferir palavras ofensivas a Deus – como no caso dos hereges – que deveriam ser apedrejados por toda a comunidade.
 
Crimes sexuais: 
no caso de defloração anterior ao casamento, isto é, caso o marido descobrisse que a mulher não era virgem, a jovem deveria ser levada até a porta da casa de seu pai e os homens da cidade deveriam apedrejá-la até a morte. 
Em caso de adultério, se houvesse uma jovem prometida a um homem em casamento e se outro homem tivesse relações com ela na cidade, os dois (mulher e seu cúmplice) deveriam ser apedrejados até que morressem na porta da cidade.
Idolatria: os idólatras (homem ou mulher), entendidos como aqueles que violam a aliança com Deus para servir a outros deuses e adorá-los – como o sol, a lua ou todo o exército do céu, deveriam ser levados para a porta da cidade e apedrejados até a morte, primeiro pelas testemunhas (pelo menos duas) e depois por todo o povo.
Filhos rebeldes: a rebeldia dos filhos contra os pais era passível da pena de lapidação. Caso o filhofosse incorrigível e não obedecesse o pai e mãe, caso fosse devasso ou beberrão, todos os homens da cidade deveriam apedrejá-lo até a morte.
No Brasil não há a pena de lapidação. A Constituição Federal de 1988 veda a possibilidade de haver uma pena cruel como é o caso do apedrejamento até a morte (art. 5º, XLVII, “e”), contudo, permite, de forma excepcional, a pena de morte (art. 5o, XLVII, “a”).
 A pena de morte no Brasil só é admissível em caso de guerra declarada e somente nos crimes militares em tempo de guerra, notadamente aqueles que favoreçam ao inimigo, como, por exemplo, o crime de traição (art. 355 do Código Penal Militar).
Segundo o Decreto-lei no 1.001/69 que instituiu o Código Penal Militar – CPM – a pena de morte no Brasil será executada por fuzilamento (art. 56 do CPM).
Princípio da individualidade da pena
Na Torá, mais especificamente no livro do Deuteronômio, foi previsto, de forma inovadora, o princípio da responsabilidade pessoal pelo próprio crime.
 Com essa previsão da individualidade das penas, a pena de taleão – que algumas vezes desrespeitava a individualização – ficou afastada no direito hebraico. Esse princípio teria sido escrito por Moisés, nas planícies de Moabe – hoje território da Jordânia –, juntamente com os 34 capítulos que compõem o último livro da Lei Mosaica
O princípio que individualiza a pena é assim descrito no Deuteronômio:
Os pais não serão mortos pela culpa dos filhos, nem os filhos pela culpa dos pais. Cada um será executado por causa de seu próprio crime.
Podemos concluir, portanto, que a partir desse preceito cada pessoa seria responsável pelos seus próprios crimes não mais podendo transmitir a culpa e consequentemente a pena para outra pessoa senão para o próprio autor do crime, nada mais lógico e justo em nossa visão atual.
 No Brasil, a regra prevista na Torá pode ser encontrada na Constituição Federal de 1988, no artigo 5º, que estabelece os princípios da intranscendência da pena (inciso XLV) e da individualização da pena (inciso XLVI).
Vejamos a redação do artigo 5º, XLV, da CF/88:Nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido.
Observe-se que a obrigação de reparar o dano é́ transmitida aos herdeiros, mas somente até a força da herança transmitida. 
Quanto ao segundo princípio, conforme previsto pelo inciso XLVI do artigo 5º da CF/88, caberá a lei regular a individualização da pena, adotando, dentre outras, a pena privativa de liberdade, perda de bens e multa.
Conforme destaca André Estefan, o princípio da individualidade cuida-se de importante conquista obtida pelo Direito Penal, em sua fase humanitária, lembrando o autor que no tempo das Ordenações do Reino, que vigoraram no Brasil desde o descobrimento até 1830 no campo penal, eram impostas penas cujos efeitos eram transmitidos às futuras gerações dos condenados.

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