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Princípio da Precaução e Avaliação de Riscos

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O PRINCIPIO DA PRECAUÇÃO E A AVALIAÇÃO DE RISCOS1 
 
Paulo Affonso Leme Machado2 
 
 
1. Conceito do princípio da precaução; 2. Abrangência do princípio da 
precaução; 3. elementos psico-sociais do princípio da precaução: 3.1 A 
incerteza e o princípio da precaução; 3.2 A ignorância e o princípio da 
precaução; 3.3 O medo e o princípio da precaução; 3.4 O tempo, a deliberação 
e o princípio da precaução; 3.5 A coragem, a ousadia e o princípio da 
precaução; 4. Convenções internacionais e o princípio da precaução; 5. A 
jurisprudência e o princípio da precaução: 5.1. O caso relativo ao projeto 
Gabcíkovo-Nagymaros e a decisão da Corte Internacional de Justiça 5.2 
Jurisprudência da Comunidade Européia abrangendo o princípio da precaução 
6. Avaliação de riscos: 6.1 O risco; 6.2 A constatação do risco; 6.3 O ônus da 
prova frente a avaliação de riscos 6.4 Conteúdo da avaliação de riscos; 6.5 A 
ciência e a avaliação de riscos: independência dos especialistas; 6.6 A 
informação e a participação do público; 6.7 A avaliação de riscos e o estudo de 
impacto ambiental 7. A decisão da autoridade pública aplicadora do princípio 
da precaução: 7.1 A temporariedade da decisão e o princípio da precaução; 7.2 
A proporcionalidade e o princípio da precaução; 7.3 A decisão da autoridade 
pública brasileira diante da Constituição Federal e da Lei n. 11.105/2005. 
Conclusão. 
 
 
Sommaire: príncipe de précaution et évaluation des risques 
L´article est composé de sept parties. Le concept du principe de précaution et, ensuite, les 
sujets où s´appliquent le principe sont mentionnés. On a fait la liaison entre la psychosociologie 
et le principe de précaution à travers l´analyse de l´incertitude, l´ignorance, la peur, le temps et 
la délibération, le courage et l´audace. Dans les dernières Conventions Internationales 
Environnementales ont peut verifier l´inclusion continue du principe de précaution. La 
jurisprudence de la Cour Internationale de Justice et de la Cour de la Communauté Européenne 
sur le principe ont été examinées. Dans la partie de l´évaluation des risques on a traité de la 
conception du risque, de sa constatation et de son contenu, du rôle des scientifiques et de son 
independance, de l´information et de la participation du public et du lien de l´ évaluation des 
risques avec l´ étude d´impact environnementale. Comme dernière partie, on a fait l´analyse 
du respect du caractère provisoire des actes administratifs devant le principe de précaution et 
 
1 O tema foi objeto de estudo no programa de pós-graduação da Faculdade de Direito da 
Universidade Metodista de Piracicaba, no ano de 2006, tendo participado dos debates os 
Mestrandos em Direito Ana Lúcia Catto, Annelise Varanda Dante Abdalla, Oriel da Rocha 
Queiroz, Pedro Gómez, Sérgio Pares Vitta e o Mestre em Direito Walmir Oliveira. 
2 Professor na UNIMEP- Universidade Metodista de Piracicaba. Mestre em Direito Ambiental 
pela Universidade Robert Schuman, de Strasbourg, Doutor Honoris Causa pela UNESP e 
Doutor pela PUCSP. Professor Convidado na Universidade do Quebec em Montreal (1994); 
Professor Convidado na Universidade da Córsega (2001); Professor Convidado na Faculdade 
de Direito e Ciências Econômicas da Universidade de Limoges (1986-2003); Professor 
Convidado na Universidade de Lyon III (2003); Professor Convidado na Universidade 
Internacional de Andalucia (2004); Professor na Universidade Estadual Paulista -UNESP – IB, 
Rio Claro (1980– 2004) Professor Convidado na Universidade Milano-Bicocca (2007). Prêmio 
Internacional de Direito Ambiental Elizabeth Haub (1985). Obras: Direito Ambiental Brasileiro 
(14. ed.), Recursos Hídricos: direito brasileiro e internacional; Direito à informação e meio 
ambiente. 
 
 2
du principe de proportionnalité. En conclusion, on affirmé que pour mettre en oeuvre le principe 
de précaution est indispensable l´évaluation des risques. 
 
 
1. CONCEITO DO PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO 
 
 “A invocação do princípio da precaução é uma decisão exercida quando 
a informação científica é insuficiente, não conclusiva ou incerta e haja 
indicações de que os possíveis efeitos sobre o ambiente, a saúde das pessoas 
ou dos animais ou a proteção vegetal possam ser potencialmente perigosos e 
incompatíveis com o nível de proteção escolhido.”3 
 O princípio da precaução aconselha um posicionamento – ação ou 
omissão – quando haja sinais de risco significativo para as pessoas, animais e 
vegetais, mesmo que esses sinais não estejam perfeitamente demonstrados. O 
princípio “significa que medidas podem e, algumas vezes, devem ser tomadas 
equitativamente, se ainda não há prova, mas, mais exatamente, suspeita de 
efeitos riscosos4”. 
 
2. ABRANGÊNCIA DO PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO 
 
 
 Uma atividade pode ter um dado efeito no meio ambiente e o princípio 
da precaução é supostamente indicado como um remédio. As atividades 
podem incluir pesca comercial, queima de óleos fósseis, desenvolvimento 
territorial e liberação de organismos geneticamente modificados5. 
 A abrangência do princípio da precaução não é expressa por uma 
fórmula única. Veja-se que o Comunicado da Comissão da Comunidade 
Européia/2002 aponta como campo de aplicação do princípio, a saúde das 
pessoas e a proteção dos animais e das plantas e a Carta Constitucional 
Ambiental da França, ao conceituar o princípio, diz que o mesmo se aplica ao 
meio ambiente. É verdade que no meio ambiente encontram-se o homem, os 
animais e as plantas. Parece-me prematuro estabelecer rígidos limites para a 
aplicação do princípio, pois a necessidade ética de possibilitar um 
 
3 Comunicado da Comissão relativo ao Princípio da Precaução. Bruxelas, 2.2.2000. COM 
(2000) 1 final. 
4 WINTER, Gerd. Risks, Costs and Alternatives in EC Environmental Legislation : The Case of 
« REACH ». RECIEL 15 (1). 2006. (tradução nossa). 
5 MANSON, Neil A. Formulating the Precautionary Principle. Environmental Ethics. Fall 2002. 
volume 24. number 3. p. 263-274. (tradução nossa). 
 3
desenvolvimento sustentado, que beneficie as gerações presentes sem 
prejudicar as gerações futuras, irá gradativamente indicando o campo 
adequado do princípio da precaução. “Face à incerteza ou à controvérsia 
científica atual, é melhor tomar medidas rigorosas de proteção, a título de 
precaução, do que nada fazer. Dessa forma, implementa-se concretamente o 
direito ao meio ambiente das gerações futuras”6. 
 
3. ELEMENTOS PSICO-SOCIAIS DO PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO 
 
 Não podemos deixar escondidos os alicerces do princípio da precaução. 
Nem sempre ficam bem conhecidos ou discutidos os fundamentos de um 
princípio que vem sendo positivado pelo direto internacional e pelos direitos 
nacionais. 
 
3.1 A incerteza e o princípio da precaução 
 
 O incerto não é algo necessariamente inexistente. Ele pode não estar 
bem definido. Ou não ter suas dimensões ou seu peso ainda claramente 
apontados. O incerto pode ser uma hipótese, algo que não foi ainda verificado 
ou não foi constatado. Nem por isso, o incerto deve ser descartado, de 
imediato. O fato de o incerto não ser conhecido ou de não ser entendido 
aconselha que ele seja avaliado ou pesquisado. 
 
 A certeza equivale à ausência de dúvida e de imprecisão7. O estado de 
certeza tem por objetivo nos dar segurança, sendo que a incerteza gera a 
insegurança. A informação incerta é um dos motivos de apelar-se para a 
aplicação do princípio da precaução. 
 
3.2 A ignorância e o princípio da precaução 
 
 A incerteza no conhecimento é uma forma de ignorância. Quem sabe, 
não ignora. A ignorância não pode ser um pretexto para ser imprudente. 
 
6 PRIEUR, Michel. Droit del´Environnement. 5. ed. Paris: Dalloz, p. 154. 2004. (tradução 
nossa). 
7 Nesse sentido, sobre o vocábulo “incerteza”- HOUAISS, Antonio. Dicionário Eletrônico 
Houaiss da Língua Portuguesa. Versão 10.12.2001 (CD-ROM), Objetiva, 2001. 
 4
“Diante das atividades humanas, dois comportamentos são tomados: ou se 
privilegia a prevenção do risco – se eu não sei que coisa sucederá, não devo 
agir; ou se privilegia (de modo francamente excessivo) o risco e a aquisição de 
conhecimento a qualquer preço – se eu não sei o que acontecerá, posso agir e, 
dessa forma, no final, saberei o que fiz”8. O princípio da precaução não quer 
conservar ou perenizar a ignorância, mas, pelo contrário, quer vencê-la, com a 
pesquisa, com o estudo e com a constante avaliação dos fatos e dos métodos. 
 Assinala a Comissão da Comunidade Européia9 que “a invocação do 
princípio da precaução é uma decisão exercida quando a informação científica 
é insuficiente, não conclusiva ou incerta”. 
 Não se trata aqui de uma ignorância justificável pela amplitude dos 
conhecimentos existentes e ou do desconhecimento de coisas banais ou 
desnecessárias. O saber, neste caso, é um elemento imprescindível para 
afastar a ocorrência do risco à saúde dos seres humanos, dos animais e da 
proteção vegetal. 
 “A incerteza de conhecimentos, longe de desculpar, deveria incitar a 
mais prudência. O juiz seria assim levado a mostrar-se mais exigente em 
presença de riscos somente eventuais, impondo aos profissionais diversas 
obrigações antes de iniciar uma atividade ou de colocar um produto no 
mercado”10. 
 
3.3 O medo e o princípio da precaução 
 
 
8 SCOVAZZI, Tullio. “Sul principio prcauzionale nell Diritto Internazionalle dell´Ambiente”. 
Rivista di Diritto Internazionalle. LXXV/p.699-705, Milano: Giuffrè Editore, 1992. (tradução 
nossa). 
9 Comunicado da Comissão relativo ao Princípio da Precaução. Bruxelas, 2.2.2000. COM 
(2000) 1 final. 
10 JOURDAIN, P. Príncipe de précaution et responsabilité civile.LPA, 30 novembre 2000, n. 
239, spé. p. 51 apud VEILLARD, Isabelle. Le traitement juridique et judiciaire de 
l´incertitude.Groupe de travail « Incertitude et causalité ». Cour de Cassation. Paris/ France/ 
2005. http://www.courdecassation.fr/article8077.html (tradução nossa). 
 
 5
 Ter medo11 significa ter receio de alguma coisa ou situação. O medo 
aumenta em nós uma sensação de ansiedade perante algo que ainda não 
aconteceu. “As coisas que tememos são obviamente coisas temíveis, e, 
falando de um modo geral, trata-se de males; por esta razão o medo é definido 
como expectativa do mal”, afirma Aristóteles12. O que já aconteceu não nos 
causa mais medo, pode causar outro sentimento, como alegria, dor ou até 
remorso. O medo é um sentimento que pode ser razoável ou não razoável. 
 O medo pode confundir-se com o escapismo ou com o sentimento de 
fuga da responsabilidade ou com uma atitude de não querer refletir ou 
ponderar. 
 É de se perguntar - é sempre irrazoável ter medo? Há pessoas que têm 
medo do escuro, medo de utilizar elevadores, medo de andares altos, etc. São 
situações que trazem desconforto físico e psíquico para os que receiam. São 
medos que podem ser geralmente ultrapassados com tratamento 
especializado. É o medo chamado imaginário ou fruto da imaginação. 
 Outro lado da questão é o medo que se assemelha à prudência, à 
cautela. Exemplifiquemos com algumas situações que geram o medo: a) nada 
conheço da área em que vou atuar e tenho medo de errar; b) conheço 
imperfeitamente essa área e tenho medo de errar; c) conheço a área em que 
vou atuar e entendo que não a controlo adequadamente ou que a não a posso 
controlar. Trata-se aqui de uma situação legítima de medo, que não é originária 
da covardia ou da fraqueza. “O medo racional-sensato” é o que poderíamos 
denominar “profilático”. É um medo condicionado pela experiência e baseado 
na razão, donde também poder ser chamado de “medo lógico”.13 O fato de se 
ter receio de um projeto em si mesmo não deve causar vergonha, mas é 
preciso buscar-se uma solução para vencer-se o medo, isto é, para não se 
instalar uma cultura do medo ou um governo do medo. O medo adequado e 
 
11 “Sentimento de grande inquietação ante a noção de um perigo real ou imaginário, de uma 
ameaça; susto, pavor, temor, terror”. (Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua 
portuguesa. 3. ed. totalmente revista e ampliada. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. CD-
ROM). « La peur : (Sens fort) Phénomène psychologique à caractère affectif marqué, qui 
accompagne la prise de conscience d'un danger réel ou imaginé, d'une menace ». (Nouveau 
Petit Robert. 2001. Bruxelles: Dictionnaires Robert. CD-ROM). 
12 ARISTÓTELES, Ética a Nicômacos. Tradução de Mário da Gama Kury. 2. ed. Brasília: 
Editora da Universidade de Brasília, p. 60 ( Livro VI, 9) 1992, 238 p. 
13 MIRA Y LÓPEZ, Emílio. Quatro Gigantes da Alma. 15. ed. Rio de Janeiro: José Olympio. P. 
36. 1992, 224 p. 
 6
justo deve conduzir a uma criteriosa avaliação dos projetos pretendidos numa 
determinada sociedade. 
 
3.4 O tempo, a deliberação e o princípio da precaução 
 
 Aristóteles, em seu livro a Ética a Nicômacos14, fala sobre a deliberação 
e afirma que quem delibera “investiga e calcula”. “A deliberação consome muito 
tempo, tanto que se diz que devemos tirar rapidamente as conclusões a partir 
de nossas deliberações, mas devemos deliberar devagar”. O pensamento de 
Aristóteles pode ser sintetizado na seguinte expressão: “É preciso executar 
rapidamente, mas deliberar lentamente”15. 
 O emprego de mais ou menos tempo para a correta deliberação é uma 
matéria a ser discutida. A segunda guerra mundial colocou em prática os 
armamentos nucleares, frutos do desenvolvimento científico e tecnológico. 
Registrou-se a chamada “corrida nuclear”. Países que queriam ser tidos como 
potência engajaram-se nessa corrida. O próprio nome “corrida” já expressa 
velocidade ou pressa. Procura-se limitar a velocidade dos veículos a motor, 
mas os veículos estão produzidos com mais potência do que a velocidade 
permitida, o que conduzirá à desobediência às regras. No jargão empresarial 
passou-se a empregar no planejamento a expressão “quero isto para ontem”, 
mostrando-se a intolerância contra os fatos ou coisas que fizerem demorar a 
marcha de um projeto. 
 É de se fazer a pergunta – o pensamento de Aristóteles, de que a 
deliberação exige tempo, atualmente seria inaplicável? Por deliberação 
entende-se discutir, ouvir a outras pessoas, não agir sozinho. A deliberação 
enseja a participação e é uma forma elementar de democracia. O deliberar não 
é procedimento interminável, nem deve descambar para a preguiça. Importa, 
contudo, dar valor ao tempo da deliberação, para que sejam coletadas 
informações e exponham-se e sedimentem-se as reflexões sobre as 
informações existentes ou que devam existir. Terminada a deliberação, parte-
 
14 ARISTÓTELES, Ética a Nicômacos. Tradução de Mário da Gama Kury. 2. ed. Brasília: 
Editora da Universidade de Brasília, p. 121 ( Livro VI, 9) 1992, 238 p. 
 
15 PERINE, Marcelo. Quatro lições sobre a ética de Aristóteles. São Paulo: Edições Loyola, 
2006. 109 p. 
 7
se para frente, e executa-se o que foi deliberado, isto é, coloca-se em prática o 
que foi projetado ou se faz modificação ou correção do projeto ou o mesmo é 
afastado ou rejeitado. Respondo à pergunta que formulei – o pensamento de 
Aristóteles não é inaplicável, fazendo parte fundamental do princípio da 
precaução. 
 O adequado emprego do tempo para planejar e deliberar, portanto, não 
legitimao aventureirismo, que age sem considerar os prós e os contras, que 
não se importando com os resultados, dá chance para resultados prejudiciais 
para os seres humanos, a fauna e a flora. 
 
3.5 A coragem, a ousadia e o princípio da precaução 
 
 Ousar é querer avançar em terrenos ainda inexplorados. A ousadia 
normalmente não é repetitiva, mas inovadora. Ousar não significa ser 
imprudente, contudo, não se tem os resultados assegurados. È possível 
conciliar a prudência com a ousadia. O ousado prudente não despreza as 
experiências passadas, pois se assim o fizer tem possibilidade de fracassar. A 
ousadia, para trazer desenvolvimento, planeja, levando em conta os perigos 
conhecidos e os riscos desconhecidos e incertos. A ousadia meritória assume 
arriscar, sem prejudicar ou ocasionar a probabilidade de lesar valores 
essenciais para uma comunidade, ou para o meio ambiente, os seres 
humanos, a fauna e a flora. Ainda que a ousadia possa mexer com quadros ou 
situações já assentadas, ela não deve significar um vendaval tudo derrubando 
ou tudo ameaçando, pois aí seria um flagelo e não uma ação benfazeja. 
 A coragem nem sempre visa inovar, mas enfrenta situações que 
normalmente são difíceis de serem ultrapassadas. A coragem muitas vezes fica 
na fronteira com a temeridade, precisando ponderar seriamente as vantagens 
e as desvantagens da ação. A ausência de reflexão não merece ser chamada 
de coragem, como também não o é a ação raivosa que termina em violência. 
 A coragem, de outro lado, faz aflorar a capacidade de o ser humano 
expor-se ao sacrifício para a defesa de valores individuais, sociais e 
ambientais, até com o perigo de sofrimento pessoal. Esse comportamento 
altruísta não se coaduna com a frouxidão e com a covardia. Essa coragem 
salutar encontra lugar no princípio da precaução. 
 8
 
4. CONVENÇÕES INTERNACIONAIS E O PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO 
 
 Registra-se a inserção do princípio da precaução na Declaração da 
Conferência Internacional do Mar do Norte (1987) e, em seguida, o princípio da 
precaução passa a constar da Convenção sobre a interdição de importar 
rejeitos perigosos, na África (Bamako/1991, art. 4, al. 3, f; Tratado de 
Maastricht sobre a União Européia (1992/art. 130 R, al. 2); Convenção sobre o 
Báltico (Helsinki/1992, art. 3º, al. 2); Convenção sobre a proteção e utilização 
dos cursos de água transfronteiriços (Helsinki, 192, art.2º), Convenção-Quadro 
sobre a Mudança Climática (1992, art.3º, al. 3). Essas Convenções são 
anteriores à Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o 
Desenvolvimento do Rio de Janeiro (junho/1992)16, onde ao mesmo tempo se 
assinou a Convenção da Diversidade Biológica (1992, preâmbulo). 
 Em seguida, Convenção sobre o Atlântico Nordeste (1992, art. 2º, al. 2 
a); Convenção sobre o Danúbio (1994, art. 2º, al. 4), Acordo sobre os estoques 
de peixes migratórios na superposição de zonas marítimas (1995, art. 5º, al. C 
e 6); Protocolo de Cartagena sobre a prevenção dos riscos biotecnológicos 
relativo à Convenção sobre a diversidade biológica (2000, art. 10º, 6 e art. 11, 
al. 8 e no preâmbulo, onde se reafirma a “abordagem de precaução); 
Convenção de Estocolmo sobre poluentes orgânicos persistentes (2001, art. 8º, 
al. 7 a); Acordo sobre a conservação dos Albatrozes e dos Petréis (2001); 
Convenção para a cooperação em matéria de proteção e de desenvolvimento 
marinho e costeiro do Pacífico do Nordeste (2002, art. 5º, al. 6 a); Acordo da 
ASEAN sobre poluição transfronteiriça concernente à nebulosidade (2002, art. 
3º, al. 3); Convenção-Quadro para a proteção do meio ambiente do mar Cáspio 
(2003); Convenção-Quadro relativa à proteção e desenvolvimento sustentado 
dos Cárpatos (2003); Convenção Africana sobre recursos naturais, meio 
ambiente e desenvolvimento (2003). 
 
5. A JURISPRUDÊNCIA E O PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO 
 
 
 
16 KISS, Alexandre-Charles et BEURIER, Jean-Pierre. Droit International de L´Environnement. 
3. ed. Paris: Editions A. Pedone. p. 136. 2004. (tradução nossa). 
 9
5.1. O caso relativo ao projeto Gabcíkovo-Nagymaros e a decisão da Corte 
Internacional de Justiça 
 
 O presente caso encontra sua origem no tratado celebrado, em 
16/9/1977, entre a Hungria e a então Tchekoslováquia visando a construção de 
um sistema de eclusas de Gabcíkovo-Nagyamaros (denominação dada pelo 
tratado), sendo que o sistema de barragem “tem por fim valorizar, de modo 
geral, os recursos naturais da seção Bratislava-Budapeste do rio Danúbio, com 
o fim do desenvolvimento dos setores de recursos hidráulicos, de energia, dos 
transportes e da agricultura”17. O projeto implicaria um investimento conjunto 
objetivando a produção de hidro-eletricidade, a melhoria da navegação do 
trecho referido do rio Danúbio e a proteção das regiões ribeirinhas contra as 
inundações. 
 O rio Danúbio, com os seus 2.850 quilômetros, é o segundo rio da 
Europa. O setor referente ao caso deste julgamento abrange aproximadamente 
200 quilômetros entre Bratislava, na Eslováquia, e Budapeste, na Hungria. 
Abaixo ou a jusante de Bratislava, a declividade do rio diminui sensivelmente 
criando uma planície aluvial de cascalho e sedimentos arenosos. A fronteira 
entre os dois Estados é constituída, na maior parte dessa região, pelo canal 
principal do rio. Entre as obras a serem construídas constavam duas centrais 
hidrelétricas – uma em Gabcíkovo (Eslováquia), com 720 MW e outra em 
Nagymaros (Hungria) com 158 MW. 
 A Corte Internacional de Justiça – CIJ reconhece que as Partes 
concordam sobre a necessidade de se preocuparem, com seriedade, a respeito 
do meio ambiente e de que medidas de precaução se impõem, mas as Partes 
estão fundamentalmente em desacordo sobre as conseqüências que daí 
decorrem para o projeto conjunto. No parágrafo 53 da decisão, a Corte 
reconhece que não há nenhuma dificuldade em aceitar as preocupações da 
Hungria sobre o meio ambiente natural como um “interesse essencial”, no 
sentido em que esta expressão é prevista no art. 33 do projeto da Comissão de 
Direito Internacional. A Corte relembra que já teve ocasião de enfatizar a 
 
17 http://www. icj-cij.org/cijwww/cdocket/chs/chsjudgment/chs_cjudgment_970925_frame.htm 
(tradução nossa). 
 
 
 10
importância que o meio ambiente apresenta não somente para os Estados 
como para o conjunto do gênero humano.18 
 O parágrafo 54 da decisão da CIJ constitui o núcleo de sua concepção 
sobre “perigo”19 e estado de necessidade. Essa questão foi abordada, pois a 
Hungria baseou-se no estado de necessidade para interromper, em 1989, os 
trabalhos que deveria efetuar em razão do tratado celebrado em 1977. “A 
palavra perigo evoca certamente a idéia de “risco”, é precisamente nisso que o 
“perigo” distingue-se do dano materializado. Mas não haveria estado de 
necessidade sem um “perigo” devidamente dado como certo no momento 
pertinente, pois somente o temor de um “perigo” possível não seria suficiente. 
Poderia ser entendido diferentemente que o “perigo” constitutivo do estado de 
necessidade deva ser ao mesmo tempo “grave” e “iminente”. A “iminência” é 
sinônimo de “imediatidade” ou de “proximidade” e ultrapassa, de longe, o 
conceito de “eventualidade”. Isto não exclui, conforme o entender da Corte, que 
um “perigo”, que se insira no longo prazo, possa ser tido como “iminente”, 
desde que seja estabelecido, no momento considerado, que a ocorrência 
desse perigo, por longínqua que seja, não seja menos certa e inevitável”20. 
 Jochen Sohnle afirma que “é preciso lamentar que a Corte esteja muito 
atrasada em relação à evolução recentedo direito internacional do meio 
ambiente, quanto ao princípio da precaução. Esta solução explica-se pela 
atitude da Corte face à noção de risco. Efetivamente a razão de ser desse 
princípio repousa sobre a existência de um risco que, em última instância, não 
pode ser provado cientificamente de uma maneira certa”21. Alexandre Charles 
Kiss (internacionalista contratado pela Hungria) e Jean-Pierre Beurier afirmam 
que a Corte “não entendeu que a Hungria tenha trazido a prova de que as 
 
18 “O meio ambiente não é uma abstração, mas o espaço onde vivem os seres humanos e do 
qual dependem a qualidade de sua vida e de sua saúde, abrangendo também as gerações 
futuras. A obrigação geral que têm os Estados de fiscalizar que as atividades exercidas nos 
limites de sua jurisdição ou sob o seu controle respeitem o meio ambiente de outros Estados 
ou nas zonas que não dependam de nenhuma jurisdiçãonacional fazem atualmente parte do 
corpo de regras do direito internacional do meio ambiente.” Liceité de la menace ou de l´emploi 
d´armes nucléaires. Avis Consultatif. CIJ Recueil 1996, p. 241-241, par. 29. (tradução nossa). 
19 Na versão francesa da decisão o termo empregado é “peril”. 
20 http://www. icj-cij.org/cijwww/cdocket/chs/chsjudgment/chs_cjudgment_970925_frame.htm 
(tradução nossa). 
 
21 SOHNLE, Jochen. Irruption du Droit de l´Environnnement dans la jursprudence de la C.I.J : 
l´affaire Gabcíkovo-Nagymaros. Revue Générale du Droit Internacional Public. Paris, v. 1. p. 
85-121. 1998. (tradução nossa). 
 11
águas subterrâneas seriam definitivamente poluídas após alguns decênios. 
Dessa forma, essa alta jurisdição entendeu não aplicar o princípio da 
precaução”22. Philippe Kourilsky et Geneviève Viney entendem que “a Corte 
Internacional de Justiça, de novo, evitou pronunciar-se diretamente sobre a 
aplicação do princípio da precaução, que foi invocado de forma não explícita 
pela Hungria”23. 
 Há de ser levado em conta que a decisão da Corte foi exarada somente 
cinco anos após a Declaração Rio de Janeiro/1992, onde o princípio da 
precaução foi expresso, de forma pública e universal, alcançando a declaração 
uma votação unânime. O tempo está consolidando o princípio, diante de sua 
contínua inclusão nas novas convenções internacionais. 
 
 
5.2 Jurisprudência da Comunidade Européia abrangendo o princípio da 
precaução 
 
 O Tratado de Maastricht de 1993 introduziu disposição pela qual a 
política comunitária ambiental deve basear-se no princípio da precaução. O 
Tratado não limitou a aplicação do princípio a danos importantes e 
irreversíveis24. 
 No caso da doença da “vaca louca” – encefalopatia espongiforme bovina 
– a Comunidade Européia tomou medidas legais contra a exportação de carne 
britânica para outros Estados membros. A Corte Européia de Justiça – CEJ, 
com sede em Luxemburgo, foi questionada pela Inglaterra para saber se a 
política agrícola havia sido devidamente aplicada. Assinala Gerd Winter25 que, 
referindo-se ao princípio da política ambiental e ao princípio da integração 
deste princípio com outras políticas, o Tribunal pronunciou-se precisamente 
acerca da concepção legal de “ação sob incerteza”: “Quando houver incerteza 
 
22 KISS, Alexandre-Charles et BEURIER, Jean-Pierre. Droit International de L´Environnement. 
3. ed. Paris: Editions A. Pedone. p. 137. 2004. (tradução nossa). 
23 KOURILSKY, Philippe et VINEY, Geneviève. Le Principe de Précaution. Rapport au Premier 
Ministre. 1999. http://lesrapports.ladocumentationfrancaise.fr/BRP/004000402/0000.pdf Acesso 
em 9.9.2006. (tradução nossa). 
24 KRÄMER, Ludwig. Manuale di Diritto Comunitario per l´Ambiente. Milano: Giuffè Editore. p. 
83. 2002. (tradução nossa). 
25 WINTER, Gerd. A natureza jurídica dos princípios ambientais em Direito Internacional, Direito 
da Comunidade Européia e Direito Nacional. Desafios do Direito Ambiental no século XXI – 
estudos em homenagem a Paulo Affonso Leme Machado. São Paulo: Malheiros Editores. p. 
120-150. 2005. 
 12
da existência de riscos ou da extensão da gravidade a que os riscos à saúde 
pública possam ter chegado, as instituições podem adotar medidas preventivas 
sem ter que esperar até que a realidade e seriedade de tais riscos tornem-se 
completamente aparentes”26. 
 No leading case Pfizer,27, metodologicamente, o princípio da precaução 
indica a avaliação de risco. Estrategicamente, fornece exigências no caso de a 
decisão dirigir-se para medidas de intervenção. Na avaliação de risco, 
incerteza científica não é justificativa para esclarecer totalmente a questão, 
devendo ser investigado o fato de haver pelo menos indicadores de risco, 
possibilidades de interpelação fornecidas por fatos conhecidos28. 
 O caso Pfizer tem origem na proibição pela Dinamarca, em 13/01/1998, 
da utilização da virginiamicina como aditivo na alimentação de porcos e de 
frangos, diante do risco de uma transferência da resistência antimicrobiana dos 
animais para o homem, e, por conseguinte, uma redução da eficácia de certos 
medicamentos em medicina humana. (item 138 da decisão). Em 17/12/1998, o 
Conselho da Comunidade Européia adotou regulamento modificando a Diretiva 
70/524/CEE proibindo o uso do referido antibiótico como fator de crescimento 
de crescimento de animais. Em razão disso, a Pfizer entrou com processo 
contra o Conselho, tendo-lhe sido desfavorável a decisão judicial. Encerro o 
comentário sobre o caso Pfizer vs. Conselho da Comunidade Européia 
inserindo o tópico 170 da decisão: “Observe-se que o princípio da precaução 
permite às instituições comunitárias adotar, no interesse da saúde humana, 
mas com base num conhecimento científico ainda lacunar, medidas de 
proteção suscetíveis de afetar, mesmo de forma profunda, posições jurídicas 
protegidas e dá, a este respeito, uma margem de apreciação importante às 
instituições”29. 
 
6. AVALIAÇÃO DE RISCOS 
 
 
26 ECJ C-180/96 United Kingdom vs. Commission [1998] E.C.R. 12265 (n.99): a sentença foi 
novamente invocada no caso “Artegodam vs. Commission”, Tribunal de primeira instância, 
casos coletivos T-74/00, T-76/00, E.C.R. 2000II-327, n. 184. 
27 ‘Pfizer vs. Commission” Tribunal de primeira instância – T -13/99, julgamento em 11.09.2002. 
28 WINTER, Gerd. A natureza jurídica dos princípios ambientais em Direito Internacional, 
Direito da Comunidade Européia e Direito Nacional.Ob. cit. p.143. 
29 Juízes : J. Azizi (presidente), K. Lenaerts e M. Jaeger. 
 13
 O princípio da precaução não se aplica sem um procedimento prévio de 
identificação e avaliação dos riscos. Empregar somente a expressão “princípio 
da precaução”, sem embutir em seu conteúdo o risco e seu dimensionamento, 
através da avaliação de riscos, soa vazio e sem real significado. 
 Essa etapa é “essencial para a racionalização dos riscos, devendo 
conduzir a separar o risco potencial do fantasma e da simples apreensão. Ela 
impõe que não haja satisfação com pressuposições vagas, com as quais se 
acomoda geralmente a atitude de abstenção. Requer a realização de perícias 
(expertises) freqüentemente longas e custosas”30. 
 A Carta Constitucional Ambiental da França – a primeira a inserir 
expressamente o princípio da precaução – não deixou de apontar os elementos 
constitutivos do princípio31. 
 A avaliação de riscos, como salientou o Tribunal de Primeira Instância 
das Comunidades Européias32, tem por objeto a avaliação do grau de 
probabilidade dos efeitos adversos de um certo produto ou método para a 
saúde humana e da gravidade desses efeitos potenciais. Acrescente-se que 
além da saúde humana, a avaliação de riscos, conforme o caso,abrangerá o 
meio ambiente. A avaliação científica dos riscos é habitualmente definida, tanto 
a nível internacional como comunitário, como um processo científico que 
consiste em identificar e caracterizar um perigo, em avaliar e em caracterizar o 
risco33. 
 
 
30 KOURILSKY, Philippe et VINEY, Geneviève. Le Principe de Précaution. Rapport au Premier 
Ministre. 1999. http://lesrapports.ladocumentationfrancaise.fr/BRP/004000402/0000.pdf Acesso 
em 9.9.2006. (tradução nossa). 
 
31 “Lorsque la réalisation d´un dommage, bien qu´incertaine en l´état des connaissances 
scientifiques, pourrait affecter de manière grave et irréversible l´environnement, les autorités 
publiques veillent, par aplication du principe de précaution et dans leurs domaines d´atributions, 
à la mise en oeuvre de procédures d´évalution des risques et à l´adoption de mesures 
provisoires et proportionnées afin de parer à la réalisation du dommage » (art. 5º). Em 
português: Quando a ocorrência de um dano, ainda que incerto diante do estado dos 
conhecimentos científicos, possa afetar de modo grave e irreversível o meio ambiente, as 
autoridades públicas providenciarão, através da aplicação do princípio da precaução e nas 
áreas de suas atribuições, a implementação de procedimentos de avaliação de riscos e a 
adoção de medidas provisórias e proporcionais com a finalidade de evitar a realização do dano. 
(tradução nossa). MACHADO, Paulo. Direito Ambiental Brasileiro. 14. ed. São Paulo: Malheiros 
Editores, p. 71. 2006. 
32 Processo T – 13/99 – Pfizer Health S/A contra Conselho da União Européia (Acórdão de 
11/09/2002 – parágrafo n. 148). 
33 Processo T – 13/99 – Pfizer Health S/A contra Conselho da União Européia (Acórdão de 
11/09/2002 – parágrafo n. 156). 
 14
6.1 O risco 
 
 O risco tem sido entendido como eventualidade de sofrer um dano, de 
forma mais incerta do que aquela contida no perigo34. Alguns dicionários, 
entretanto, conceituam risco como perigo35. “O risco é comumente definido 
como a probabilidade de um certo efeito adverso, levando-se em conta o nível 
de certeza”36. 
 “Os riscos, que estão atualmente no centro das preocupações, são mais 
freqüentemente riscos que não são visíveis, nem tangíveis, para as pessoas 
que a eles são expostos, riscos que, algumas vezes, não têm efeito sobre as 
pessoas interessadas, mas sobre seus descendentes”37. 
 
6.2 A constatação do risco 
 
 A situação de risco pode não estar plenamente delineada, mas sua 
percepção, ainda que imprecisa, deve ser mostrada com razoabilidade, 
evitando-se caminhar no terreno do imponderável. Deve-se evitar a 
arbitrariedade nas decisões que ordenam o princípio da precaução38. O 
princípio é aplicável nos casos de risco, o qual não tenha sido ainda 
completamente demonstrado, desde que não esteja fundado em simples 
hipóteses cientificamente não verificadas, mas as medidas preventivas podem 
ser tomadas, ainda que subsistam incertezas científicas 39. 
 
34 Dizionario della língua italiana di Giacomo Devoto e Gian Carlo Oli. Firenze: Felice Le 
Monnier. Tredicesima ristampa. 1994. The American Heritage Dictionary of the English 
Language. William Morris, Editor. Fourth Printing. Boston: American Heritage Publishing Co. 
1970: “Risk: 2. A factor, element, or course involving uncertain danger; hazard.” 
35 Diccionário da Língua Portugueza, por Antônio de Moraes Silva. 7. ed. tomo II. Lisboa: 
Typografia de Joaquim Germano de Sousa Neves Editor, 1878; Novo Aurélio Século XXI: o 
dicionário da língua portuguesa. 3. ed. totalmente revista e ampliada. Rio de Janeiro: Nova 
Fronteira, 1999. CD-ROM. Petit Larousse Illustré. Paris : Librairie Larousse. 1978. 
36 BANSE, G. Herkunft und Anspruch der Risikoforschung, in G. Banse, Risikoforschung 
zwischen Disziplinarität und Interdisziplinarität (Edition Sigma, 1996) at. 8 apud WINTER, Gerd. 
Risks, Costs and Alternatives in EC Environmental Legislation : The Case of « REACH ». 
RECIEL 15 (1). 2006. (tradução nossa). 
37 BECK, Ulrich. La société du risque – sur la voie d´une autre modernité. Paris : Aubier. p. 
49.2001. (tradução nossa). 
38 O documento mencionado da Comissão da Comunidade Européia afirma que “o princípio da 
precaução não pode, em caso algum, legitimar uma tomada de decisão de natureza arbitrária” 
(5.1.) 
39 Conforme resulta da análise dos parágrafos 139, 143 e 146 do Processo T – 13/99 – Pfizer 
Health S/A contra Conselho da União Européia (Acórdão de 11/09/2002). 
 15
 “Constatar a existência dos riscos é realizar uma simbiose ainda 
desconhecida, não explorada atualmente, entre as ciências naturais e as 
ciências humanas, entre a racionalidade da vida cotidiana e racionalidade dos 
peritos, entre o interesse e a realidade”40. Salienta o autor que a racionalidade 
social e a racionalidade científica aparentemente parecem divergir, mas elas 
estão imbricadas, pois os cientistas dependem das expectativas e dos 
horizontes de valores da sociedade e inversamente a reação social e a 
percepção dos riscos dependem dos argumentos científicos41. 
 
6.3 O ônus da prova frente a avaliação de riscos 
 
 A Comunicação da Comissão das Comunidades Européias sobre o 
Princípio da Precaução/2000, no item 6.4 tratou especificamente do ônus da 
prova. Diz que “as normas vigentes na legislação comunitária, bem como em 
numerosos países terceiros aplicam o princípio da autorização prévia antes da 
colocação no mercado de determinados tipos de produtos tais como 
medicamentos, pesticidas ou aditivos alimentares. Trata-se já de uma forma de 
aplicar o princípio da precaução deslocando a responsabilidade da produção 
das provas científicas. Enquanto o nível de risco para a saúde ou para o 
ambiente não possa ser avaliado com suficiente certeza, o legislador não tem 
fundamento jurídico para autorizar a utilização da substância, a não ser em 
condições excepcionais para a realização de ensaios”. 
 Segundo o Comunicado referido, a existência de um sistema de 
autorizações já significa a inversão do ônus da prova. Daí que o próprio 
Comunicado afirma que inexistindo essa intervenção prévia da administração 
pública, “pode competir ao utilizador, indivíduo, associação de consumidores 
ou de cidadãos, ou ao poder público, a demonstração da natureza de um 
perigo e o nível de risco de um produto ou de um processo”. 
 Normal e lógico que, nos casos de potencial periculosidade ou de 
manifesta periculosidade, o Poder Público preveja a autorização, como meio de 
 
40 BECK, Ulrich. La société du risque – sur la voie d´une autre modernité. Paris : Aubier. p. 
52.2001. (tradução nossa). 
41 Ob. Cit. p. 54-55. 
 16
controle administrativo, pois o bem a ser salvaguardado é um “bem de uso 
comum do povo”, consoante a noção de “res communes omnium”. 
 Entre uma posição “mais radical” (que preconiza a completa inversão da 
prova, de exclusiva responsabilidade de quem decide a questão) e uma 
posição “minimalista” (que entende que o princípio da precaução não inverte a 
carga da prova), apresentam uma posição intermediária que subordina a 
implementação do princípio da precaução ao enunciado de uma hipótese de 
risco cientificamente crível, que seja admitida como plausível por uma parte 
significativa da comunidade científica no momento da tomada de decisão. Essa 
posição intermediária deixa ao juiz a possibilidade de repartir o ônus da prova 
em função da verossimilhança e dos meios de que cada uma das partes 
disponha para trazer essa prova42. 
 
6.4 Conteúdo da avaliação de riscos 
 
 Como princípios gerais da avaliação de riscos, merecem ser destacados: 
“3. A avaliação de riscodeverá realizar-se de maneira transparente e 
cientificamente sólida e poderá levar em conta o assessoramento especializado 
de organizações internacionais relevantes e diretrizes por elas elaboradas; 4. A 
falta de conhecimentos científicos ou de consenso científico não será 
necessariamente interpretada como indicativo de um nível determinado de 
risco, uma ausência de risco ou de um risco aceitável”43. 
 Na avaliação de riscos, são analisados os riscos e os danos certos e 
incertos, previstos e não previstos no projeto. Essas análises hão de levar em 
conta os valores constitucionais de cada país, onde, na maioria das vezes, já 
está inserido o direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado e um 
direito ao meio ambiente sadio, daí decorrendo a aceitação ou não aceitação 
dos riscos e dos danos. 
 
 
6.5 A ciência e a avaliação de riscos: independência dos especialistas 
 
42 KOURILSKY, P. e VINEY, G., Ob. cit. p. 63. (tradução nossa). 
43 BRASIL, Decreto n. 5.705 de 16/02/2006. Anexo III do Protocolo de Cartagena sobre 
Biossegurança da Convenção sobre Diversidade Biológica. Ver Comissão das Comunidades 
Européias, Comunicação da Comissão relativa ao princípio da precaução. Bruxelas, 
02.02.2000. COM (2000) 1 final. 
 17
 
 
 “A ciência não é responsável pelos armamentos atômicos, pelo buraco 
de ozônio, pelo derretimento da calota polar e assim por diante: a ciência talvez 
seja ainda a única coisa capaz de alertar-nos dos riscos que corremos quando, 
ao usar o que acreditamos ser seus princípios, confiamos em tecnologias 
irresponsáveis”44. 
 Para cumprirem as suas funções, os pareceres científicos devem 
basear-se nos princípios da excelência, da independência e da transparência45. 
 “A independência da perícia é inevitavelmente contestada, quando ela 
não é garantida. De modo sistemático, cada expert deveria declarar 
anualmente seus interesses pessoais; suas afiliações, inclusive, acadêmicas e 
suas específicas competências. Essas informações poderiam figurar em 
registros consultáveis, sob determinadas condições. A declaração de interesse 
pelos experts é uma regra de ouro da transparência. Mas isso não é suficiente. 
A expertise deveria ser sistematicamente feita por contrato, explicitando-se os 
direitos, deveres e responsabilidades do experto. Nada há em contrário que ela 
seja convenientemente remunerada”46. 
 No mesmo sentido, o “Rapport de la Commission Coppens” insiste que 
“a expertise e os trabalhos de pesquisa devem depender de processos 
transparentes, pluralistas e que possam ser contestados. Os interesses dos 
experts cientistas que participem na decisão sejam conhecidos de modo 
transparente, especialmente suas ligações com os empreendedores da 
tecnologia avaliada”47. 
 
6.6 A informação e a participação do público 
 
 
44 ECO, Umberto. Ciência alerta para riscos da tecnologia irresponsável. O Estado de São 
Paulo, domingo,12 de setembro de 2004. A 22. 
45 Processo T – 13/99 – Pfizer Health S/A contra Conselho da União Européia (Acórdão de 
11/09/2002 – parágrafo n. 159). http://curia.europa.eu/fr/content/juris/t2.htm Acesso em 
10.09.2006. 
 
 
46 KOURILSKY, Philippe et VINEY, Geneviève. Le Principe de Précaution. Rapport au Premier 
Ministre. 1999. http://lesrapports.ladocumentationfrancaise.fr/BRP/004000402/0000.pdf Acesso 
em 10.9.2006. (tradução nossa). 
47 Rapport de la Commission Coppens de preparation de la Charte de L´Environnement. Paris: 
Ministère de l´Écologie et du Devéloppement Durable. 2005. 54 p. 
http://lesrapports.ladocumentationfrancaise.fr Acesso em 11/09/2006. (tradução nossa). 
 18
 “O princípio da precaução não degenerará em fator de paralisia e em 
catalisador de medos não razoáveis, sob condição de que se desenvolva uma 
cultura do risco assumida, com clareza e debate democrático”48. 
 A avaliação de riscos deve voltar para “uma maior abertura ao mundo”49, 
para poder pretender uma maior aceitabilidade. Isso supõe a introdução de 
melhores garantias de objetividade e de elementos de democratização na 
etapa de avaliação dos riscos (confiabilidade, disponibilização e utilidade dos 
dados científicos). Em segundo lugar, essa convergência pode passar pela 
integração “de outros fatores legítimos”, extra-científicos, que supõe o 
reconhecimento de particularidades culturais e sociais. 
 Sem dúvida, será sábio que, na era da precaução, as comunidades 
científicas cheguem a estruturar ou a reforçar instâncias coletivas de expertise, 
situadas a uma distância suficiente, tanto das administrações públicas como 
dos meios industriais e financeiros ou de organizações militantes. Ao mesmo 
tempo, certos papéis, como aqueles que tocam à definição dos problemas e 
das soluções aceitáveis, abrem-se, principalmente, ao cidadão através do 
debate público. É da interação entre o especialista e o cidadão, que se poderá 
esperar a formulação mais razoável das normas de comportamento face aos 
riscos, aos quais se pretende aplicar o princípio da precaução50. 
 
6.7 A avaliação de riscos e o estudo de impacto ambiental 
 
 A avaliação de riscos pode ter um espectro menor que o estudo de 
impacto ambiental. Ambos os procedimentos visam agir com antecipação, 
atuando preventivamente, ainda que com fundamentos que podem ser 
diversos. 
 O estudo de impacto ambiental registra uma inserção ampla nas 
legislações nacionais e já consta de convenção internacional, como a 
Convenção de Espoo. A avaliação de riscos está caminhando também para um 
 
48 CANIVET, Guy. Vers une dynamique interpretative. La Charte Constitutionnelle em vigueur. 
Revue Juridique de l´Environnement. numero spécial. p. 13. décembre/2005. (tradução nossa). 
49 DOUSSAN, Isabelle. Notes bibliographiques : Gaëlle BOSSIS – La sécurité alimentaire des 
aliments en droit international et communautaire. Rapports croisés et perspectives 
d´harmonisation . Revue Juridique de l´Environnement. v. 1, p. 111-113. mars 2006. (tradução 
nossa). 
50 GODARD, Olivier. De l´usage du principe de précaution en univers controversé. Futuribles – 
analyse et prospective. n. 239-240 – p. 37-60. février-mars 1999. (tradução nossa). 
 19
reconhecimento a nível internacional, principalmente após o Protocolo de 
Cartagena sobre a Convenção de Biossegurança. 
 Estudo de impacto ambiental e avaliação de riscos têm em comum o 
regime de publicidade e a atuação através de experts independentes e 
competentes. Os procedimentos não se excluem e nem se antagonizam, 
merecendo ser integrados, onde isto for possível. 
 
 
7. A DECISÃO DA AUTORIDADE PÚBLICA APLICADORA DO PRINCÍPIO 
DA PRECAUÇÃO 
 
 O princípio da precaução tende a determinar “que a decisão seja tomada 
numa condição de incerteza e, de outro lado, vai expressar o critério 
fundamental para a decisão, através de uma decidida orientação a favor da 
salvaguarda do equilíbrio ecológico: diante de juízos científicos contrastantes e 
igualmente atendíveis, a escolha sobre o comportamento a adotar deve ser 
inspirada na prudência e deve alinhar-se junto às opiniões científicas mais 
cautelosas, privilegiando a segurança diante do risco”51. 
 No que concerne ao meio ambiente, já proclamou a Declaração Rio de 
Janeiro/1992 que “para chegar-se ao desenvolvimento sustentado, a proteção 
do meio ambiente deve fazer parte integrante do processo de desenvolvimento 
e não pode ser considerado isoladamente” (princípio 4º). Como instrumento 
dessa metodologia de integração dos vários setores de decisão pública, “a 
comparação dos custos-benefícios deve permitir o julgamento da eficácia da 
política em questãoe a melhor análise dos impactos sociais, especialmente os 
efeitos de redistribuição das políticas e das decisões públicas. A avaliação 
econômica, ferramenta útil na tomada de decisão, deve, entretanto, deixar ao 
poder público a responsabilidade de decidir, em última instância, o nível de 
qualidade ambiental julgado aceitável pela sociedade”52. 
 
7.1 A temporariedade da decisão e o princípio da precaução 
 
51 CECCHETTI, Marcelo. Principi costituzionali per la tutela dell´ambiente. Milano: Giuffrè 
Editore. p. 177. 2000. (tradução nossa). 
52 Rapport de la Commission Coppens de preparation de la Charte de L´Environnement. Paris: 
Ministère de l´Écologie et du Devéloppement Durable. 2005. 54 p. 
http://lesrapports.ladocumentationfrancaise.fr Acesso em 11/09/2006. (tradução nossa). 
 
 20
 
 Como as decisões das autoridades competentes são tomadas em razão 
de riscos, cuja certeza não é total, essas decisões passam a ser provisórias, na 
medida temporal em que se espera o surgimento da certeza. Sob o ângulo da 
busca da segurança jurídica, há de ser ponderado que essas decisões não 
sejam definitivas, pois buscam sanar problemas advindos da incompletude de 
dados científicos. Quando esses dados forem adequadamente conhecidos, as 
medidas advindas da aplicação do princípio da precaução serão adaptadas às 
novas informações, isto é, poderão ser mantidas ou modificadas. 
 Se as decisões originárias do princípio da precaução fossem definitivas, 
elas estariam vedando ou desestimulando as pesquisas cientificas e 
tecnológicas destinadas a eliminar ou a diminuir a incerteza. 
 
 
7.2 A proporcionalidade e o princípio da precaução 
 
 A proporcionalidade diz respeito “a ato estatal, destinado a promover a 
realização de um direito fundamental ou de um interesse coletivo, implicando a 
restrição de outro ou outros direitos fundamentais. O objetivo da aplicação da 
regra da proporcionalidade, como o próprio nome indica, é fazer com que 
nenhuma restrição a direitos fundamentais tome dimensões 
desproporcionais”53. 
 A proporcionalidade foi utilizada expressamente como requisito do ato 
administrativo que aplicar o princípio da precaução, na mencionada Carta 
Constitucional da França. Muitas vezes o direito ao meio ambiente 
ecologicamente equilibrado estará em colisão com o direito de propriedade, 
com o direito da liberdade de ir e vir e com o direito da liberdade de pesquisar 
e/ou de empreender, entre outros. Mesmo que a relação causal do risco de 
dano ambiental não se estabeleça, na devida proporção, algum sacrifício 
poderá ser exigido de outros direitos. “Na dúvida, o direito fundamental ao 
meio ambiente equilibrado deve receber primazia. Necessário, para tanto, 
apagar os derradeiros vestígios de regalismo e cuidar dos interesses 
existenciais legítimos das atuais e futuras gerações, numa performance que 
 
53 SILVA, Luís V.A. da. O proporcional e o razoável. Revista dos Tribunais/Fasc.Civ. Ano 91. v. 
798, abr. 2002 p. 23-50. 
 21
honre a rede constitucional dos poderes-deveres, assimilados sem as 
conhecidas reticências”54. 
 
7.3 A decisão da autoridade pública brasileira diante da Constituição Federal e 
da Lei n. 11.105/2005. 
 
 A Constituição Federal, no art. 225, § 1º, é explícita ao atribuir ao Poder 
Público a incumbência de “fiscalizar as entidades destinadas à pesquisa e à 
manipulação de material genético” (inciso II), de “controlar a produção, a 
comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que 
comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente” (inciso V), 
de “exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente 
causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de 
impacto ambiental, a que se dará publicidade” (inciso IV) e de “proteger a fauna 
e a flora, vedadas na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua 
função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais 
à crueldade” (inciso VII). 
 Temos, pois, que o Poder Público não pode omitir-se na fiscalização da 
manipulação genética, devendo controlar as atividades que comportem risco 
para o meio ambiente e que coloquem em risco a função ecológica da fauna ou 
da flora. Mais ainda, a Constituição Federal estabeleceu uma metodologia 
específica para avaliar a existência da probabilidade ou potencialidade de que 
uma atividade cause degradação ao meio ambiente – é o estudo prévio de 
impacto ambiental, inteiramente público. 
 A lei ordinária n. 11.105, de 24 de março de 2005, que entre outras 
finalidades, estabelece mecanismos de fiscalização sobre os organismos 
geneticamente modificados – OGM, tem como uma de suas diretrizes a 
“observância do princípio da precaução para a proteção do meio ambiente” (art. 
1º). 
 A Lei 11.105/2005 instituiu a Comissão Técnica Nacional de 
Biossegurança – CTNBio que tem entre suas finalidades, a de estabelecer 
normas técnicas de segurança e emitir pareceres técnicos referentes à 
 
54 FREITAS, Juarez. Princípio da precaução: vedação de excesso e de inoperância. Interesse 
Público. Porto Alegre: Notadez, ano 7, n. 35, janeiro/fevereiro de 2006. p. 33-48. 
 22
autorização para atividades que envolvam pesquisa e o uso comercial de OGM 
(art.10, “caput”). Entre as suas competências, a CTNBio deve “proceder à 
análise de risco, caso a caso, relativamente a atividades e projetos que 
envolvam OGM e seus derivados” (art. 14, IV) e “deliberar que o OGM é 
potencialmente causador de significativa degradação do meio ambiente” (art. 
16, § 2º). 
 O princípio da precaução foi inserido na Lei 11.105/205 para proteger o 
meio ambiente. Por tudo quando foi exposto neste artigo, constatou-se que o 
princípio da precaução age através da análise de riscos e do estudo prévio de 
impacto ambiental. A CTNBio é obrigada a proceder a avaliação de riscos, 
caso a caso, como consta expressamente da Lei 11.105, não tendo essa 
Comissão o poder de dispensar essa análise. Se a avaliação de riscos não for 
feita não se estará observando o princípio da precaução. 
 Não é possível tratar da proteção jurídica do meio ambiente sem a 
inserção de novos mecanismos preventivos e de precaução. Um exemplo típico 
é o estudo prévio de impacto ambiental, que é um novo mecanismo do Direito 
Ambiental, em que é possível medir antecipadamente o risco ambiental55. 
 No caso brasileiro, contudo, exige-se mais do que a avaliação de riscos. 
Exige-se o estudo prévio de impacto ambiental, onde houver potencialidade de 
degradação do meio ambiente. Não se aplica o princípio da precaução sem 
que haja risco na atividade examinada, sendo que nas atividades de 
engenharia genética o risco é afirmado ao ser indicada a necessidade da 
observância do princípio da precaução. A CTNBio – Comissão Técnica 
Nacional de Biossegurança só pode afastar a existência de possibilidade ou 
potencialidade de degradação ao meio se, evidentemente, avaliar publica e 
transparente a existência desse risco de degradação. Caso contrário, a CTNBio 
estaria agindo arbitrariamente, isto é, contra a Lei 11.105/2005 e contra a 
Constituição Federal. 
 
CONCLUSÃO: 
 
 O princípio da precaução é um dos princípios fundamentais na 
construção de um direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e à 
 
55 LEITE, José R. M. e AYALA, Patrick A. Direito Ambiental na Sociedade de Risco. 2ª. Ed. Rio 
de Janeiro: Forense Universitária. p. 63. 2004. 
 23
sadia qualidade de vida. O princípio da precaução contém essencialmente aavaliação de riscos, pública e transparente, de preferência inserida no 
procedimento do estudo de impacto ambiental. 
 
 =/= 
 
 
Revista dos Tribunais. São Paulo : RT, ano 96. v. 856. fev./2007, p. 
35-50.

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