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1 HIDRÁULICA GERAL MÓDULO 1 TÓPICO 2 PROFESSORA ESPECIALISTA MARIANNE SILVESTRE TEIXEIRA ALMEIDA 2 INTRODUÇÃO A maioria das aplicações da Hidráulica na Engenharia diz respeito à utilização de tubos. Tubo é um conduto usado para transporte de fluidos, geralmente de seção transversal circular. Quando funcionando com seção cheia (seção plena), em geral está com pressão maior que a atmosférica e, quando não, funciona como canal com superfície livre. Os condutos livres apresentam em qualquer ponto da superfície livre, pressão igual à atmosférica. Nas condições limites, em que um conduto livre funciona totalmente cheio, na linha de corrente junto à geratriz superior do tubo, a pressão deve igualar-se à pressão atmosférica. Funcionam sempre por gravidade. Os condutos livres são executados com declividades pré-estabelecidas, exigindo nivelamento cuidadoso. Os rios e canais constituem o melhor exemplo de condutos livres. Os coletores de esgoto, normalmente funcionam como condutos livres. São, também, exemplos de condutos livres: canaletas, calhas, drenos, galerias de águas pluviais, etc. ESCOAMENTOS EM CONDUTOS FORÇADOS são aqueles que se desenvolvem dentro das canalizações onde a pressão é diferente da atmosférica, ou seja, a pressão efetiva é diferente de zero. Todos os sistemas de tubulações prediais, de abastecimento de água, oleodutos e gasodutos tem este tipo de escoamento. O fator determinante nos escoamentos em condutos forçados é a perda de energia gerada pelos atritos internos do fluido e pelos atritos entre este e a tubulação. Neste caso estes atritos são gerados pelas asperezas das paredes dos condutos ou ainda em função da turbulência (movimento caótico das partículas) gerada em função de variações de direção ou da própria seção do escoamento. No Tópico 2 do Módulo 1 iremos estudar o Teorema de Bernoulli para fluidos perfeito (real) e para fluido ideal. Iremos também estudar a experiência de Reynolds e o comportamento dos líquidos em escoamento. 3 MÓDULO I - CONDUTOS FORÇADOS Tópico 2 – Condutos Forçados: Tipos de Regime de Escoamento Teoremas de Bernoulli para um Fluído Perfeito Na dedução deste teorema, fundamentada na Equação de Euler, foram consideradas as seguintes hipóteses: a) o fluido não tem viscosidade; b) o movimento é permanente; c) o escoamento se dá ao longo de um tubo de fluxo; e d) o fluido é incompressível. A experiência mostra que, em condições reais, o escoamento se afasta do escoamento ideal. A viscosidade dá origem a tensões de cisalhamento e, portanto, interfere no processo de escoamento. Em consequência, o fluxo só se realiza com uma “perda” de energia, que nada mais é que a transformação de energia mecânica em calor e trabalho. A equação de Bernoulli, quando aplicada a seções distintas da canalização, fornece a carga total em cada seção. Se o líquido é ideal, sem viscosidade, a carga ou energia total permanece constante em todas as seções. Porém, se o líquido é real, o seu deslocamento da seção 1 para a seção 2 (Figura 1) ocorrerá mediante uma dissipação de energia, necessária para vencer as resistências ao escoamento entre as seções. Portanto, a carga total em 2 será menor do que em 1 e esta diferença é a energia dissipada sob forma de calor. Como a energia calorífica não tem utilidade no escoamento do líquido, diz -se que esta parcela é a perda de carga ou perda de energia, simbolizada comumente por . É possível observar na Figura 1 que, independente da forma como a tubulação se encontra instalada, sempre haverá dissipação de energia quando o líquido estiver em movimento. 4 Figura 1 - Escoamento de um líquido real em um conduto forçado, mostrando a carga total em duas seções de escoamento: a) tubulação em nível; b) tubulação em aclive; c) tubulação em declive. Analisando as Figura 1, além do plano de referência, é possível identificar três planos: Plano de carga efetivo (PCE): é a linha que demarca a continuidade da altura da carga inicial, através das sucessivas seções de escoamento; Linha piezométrica (LP): é aquela que une as extremidades das colunas piezométricas. Fica acima do conduto de uma distância igual à pressão existente, e é expressa em altura do líquido. É chamada também de gradiente hidráulico; e Linha de energia (LE): é a linha que representa a energia total do fluido. Fica, portanto, acima da linha piezométrica de uma distância correspondente à energia de velocidade e se o conduto tiver seção uniforme, ela é paralela à piezométrica. A linha piezométrica pode subir ou descer, em seções de descontinuidade. A linha de energia somente desce. Na Figura 1: - = ou = + Como , tem-se que: = , que é a equação de Bernoulli aplicada em duas seções quaisquer de um escoamento de fluido real. Onde: Energia de Pressão: ; p = Pressão (Pa) e = Peso específico (N/m³); 5 Energia de Velocidade: ; V = Velocidade (m/s) e g = aceleração da gravidade (m/s²); Energia de posição: Z; Z = altura em relação ao referencial (m). Quando existem peças especiais e trechos com diâmetros diferentes, as linhas de carga e piezométrica vão se alterar ao longo do conduto. Para traçá-las, basta conhecer as cargas de posição, pressão e velocidade nos trechos onde há singularidades na canalização. A instalação esquematizada na Figura 2 ilustra esta situação. Figura 2 - Perfil de uma canalização que alimenta o reservatório R2, a partir do reservatório R1, com redução de diâmetro. Do reservatório para existe uma perda de carga total “ht”, igual à diferença de nível entre os mesmos. Esta perda de carga é devida à: - perda localizada de carga na entrada da canalização; - perda contínua de carga no conduto de diâmetro ; - perda localizada de carga na redução do conduto, representada pela descontinuidade da linha de carga; - perda contínua de carga no trecho de diâmetro ; e - perda de carga na entrada do reservatório. Para traçar esta linha de carga é necessário calcular as cargas logo após a entrada da canalização, imediatamente antes e após a redução de diâmetro e na entrada do reservatório. 6 Experiências de Reynolds: Movimento Laminar e Turbulento. Osborne Reynolds (1883) procurou observar o comportamento dos líquidos em escoamento. Introduziu um corante em um tubo, por onde escoaria um líquido. Este escoamento era controlado por uma torneira em um dispositivo semelhante ao esquematizado abaixo: Figura 3 - Resultados obtidos nas experiências de laboratório de Reynolds. Abrindo-se gradualmente a torneira, primeiramente pode-se observar a formação de um filamento colorido retilíneo. Com esse tipo de movimento, as partículas fluidas apresentam trajetórias bem definidas, que não se cruzam. É o regime laminar ou lamelar. Abrindo-se mais o obturador, elevam-se a descarga e a velocidade do líquido. O filamento colorido pode chegar a difundir -se na massa líquida, em consequência do movimento desordenado das partículas. A velocidade apresenta, em qualquer instante, uma componente transversal. Tal regime é denominado turbulento. Revertendo-se o processo, isto é, fechando-se gradualmente o registro, a velocidade vai sendo reduzida gradualmente;existe certo valor de velocidade para o qual o escoamento passa de turbulento para laminar, restabelecendo-se o filete colorido e regular. A velocidade para a qual 7 essa transição ocorre, denomina-se velocidade crítica inferior e é menor que a velocidade na qual o escoamento passa de laminar para turbulento. Reynolds, após suas investigações teóricas e experimentais, trabalhando com diferentes diâmetros e temperaturas, concluiu que o melhor critério para se determinar o tipo de movimento em uma canalização, não se prende exclusivamente ao valor da velocidade, mas no valor de uma expressão sem dimensões, na qual se considera, também, a viscosidade do líquido. Reynolds generalizou os resultados do seu experimento com a introdução do termo adimensional , conforme equação abaixo assim os escoamentos em tubulações são classificados em: Onde, V – Velocidade do fluido (m/s); D – Diâmetro da canalização (m); v – viscosidade cinemática (m²/s). Escoamento Laminar: o fluido escoa em blocos ou lâminas, de forma que o perfil de velocidades é parabólico. Os atritos que ocorrem são de origem viscosa. (Re < 2.000). Figura 4 - Perfil do escoamento laminar. Escoamento Turbulento Liso (crítico): nesta categoria, o efeito da rugosidade ou das asperezas das paredes é encoberto pela existência de um filme viscoso que lubrifica a região de contato. O movimento das partículas é caótico, porém a 8 velocidade média é orientada na direção do eixo do escoamento. Neste regime os atritos são preponderantemente viscosos. (2000 ≤ Re ≤ 4000). Figura 5 - Perfil do escoamento turbulento liso. Escoamento Turbulento: é caracterizado pela ação das asperezas das paredes, que geram vórtices (movimentos rotacionais) que incrementam a perda de energia. Neste regime os atritos são gerados pela rugosidade. (Re > 4.000). Figura 6 - Perfil do escoamento turbulento. Vídeos e Áudios Para ilustrar o Experimento de Reynolds sugiro que assistam ao vídeo a seguir que demonstra um experimento em laboratório para a verificação do regime de escoamento pelo Número de Reynolds. https://www.youtube.com/watch?v=C3bMXsQ70sU&t=22s 9 Exercícios 1. Sabendo que: P1 = 1,5 kgf/cm², V1 = 0,6 m/s, D1 = 250 mm, D2 = 200 mm, Fluído perfeito e diferença de altura entre 1 e 2 é de 10 m. Determine: a. A vazão na tubulação. b. A pressão no ponto 2. P1 = 1,5 kgf/cm² = 147,15 Pa e = 9.810 N/m³ Solução: a. A vazão na tubulação: No escoamento permanente de um fluído perfeito a energia total permanece constante, sendo assim: = = b. A pressão no ponto 2: Para aplicar a equação de Bernoulli é necessário determinar a velocidade no ponto 2 ( ): Aplicando o teorema de Bernoulli, temos: + +0 10 2. No esquema a seguir, a água flui do reservatório para o aspersor. O aspersor funciona com uma pressão de 3 kgf/cm2 e vazão de 5 m3/h. A tubulação tem 25 mm de diâmetro. Determine a perda de energia entre os pontos A e B. Solução: = 3 kgf/cm² = 30 mca Aplicando o teorema de Bernoulli para um fluido real, temos: + 0 + 0 + 50 = 30 + 3. Calcular o número de Reynolds e identificar se o escoamento é laminar ou turbulento sabendo-se que em uma tubulação com diâmetro de 4,00 cm escoa água com uma velocidade de 0,05m/s. Solução: Viscosidade cinética da água: , onde < 2000 => Escoamento Laminar
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