Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Mostra Científica em Biomedicina, Volume 1, Número 01, Jun. 2016 Rua Juvêncio Alves, 660 – Centro – CEP: 63900-257 – Quixadá/CE – Brasil – Fone: (88) 3412.6700 / Fax: (88) 3412.6743 SALMONELLA TYPHI: UMA ABORDAGEM CLÍNICA E MICROBIOLÓGICA Yasmim Arruda Costa¹; Francisco Sydney Henrique da Silva¹; Maria Thalia Bonifácio de Sousa Cavalcante¹; Lilian Cortez Sombra Vandesmet² 1 Discente do Curso de Biomedicina do Centro Universitário Católica de Quixadá; 2 Docente do curso de Biomedicina do Centro Universitário Católica de Quixadá; E-mail: lilianvandesmet@gmail.com RESUMO Salmonella é um gênero de bactérias pertencente à família Enterobacteriaceae. Seu nome é uma homenagem ao cientista Daniel Elmer Salmon. No século XX foi relatado o primeiro caso de intoxicação por Salmonella typhi em humanos, bactéria esta capaz de causar infecções sistêmicas e febre tifoide. Esta revisão de literatura tem por finalidade atestar sobre os aspectos históricos, epidemiológicos, clínicos e profiláticos da doença, como também a interação patógeno-hospedeiro. O presente trabalho fundamenta-se na pesquisa bibliográfica abrangendo publicações contendo artigos nacionais e internacionais, e livros quanto a Salmonella enterica enterica sorovar typhi. Morfologicamente o gênero Salmonella compreende bacilos Gram-negativos, geralmente móveis com flagelos peritríquios, e anaeróbios facultativos com temperatura ótima em torno de 37 °C. A febre tifóide é um problema global de saúde facilmente confundido com muitas outras infecções febris. A transmissão desta enfermidade se dá pela ingestão de água ou alimentos contaminados com fezes humana contendo a bactéria. A patologia caracteriza-se por febre prolongada, cefaleia, mialgia, artralgia, anorexia, alterações intestinais e hepatoesplenomegalia. Palavras-chave: Salmonella typhi. Enterobacteriaceae. Febre tifoide. Mostra Científica em Biomedicina, Volume 1, Número 01, Jun. 2016 Rua Juvêncio Alves, 660 – Centro – CEP: 63900-257 – Quixadá/CE – Brasil – Fone: (88) 3412.6700 / Fax: (88) 3412.6743 INTRODUÇÃO Salmonella é um gênero de bactérias pertencente à família Enterobacteriaceae. Seu nome é uma homenagem ao cientista Daniel Elmer Salmon, um patologista veterinário americano, que em 1885 descobriu o bacilo causador da cólera em suínos. Esta bactéria, denominada mais tarde Salmonella choleraesuis, é um importante agente causador de gastroenterite, porém não é o agente etiológico da febre suína ou cólera. Este gênero é capaz de colonizar todos os animais, porém o homem é o único reservatório da espécie Salmonella enterica enterica sorovar typhi ou simplesmente conhecida por Salmonella typhi (MARINELI et al., 2013; OLASCOAGA, 2014; ZHANG1; JEZA; PAN, 2008). No século XX foi relatado o primeiro caso de intoxicação por Salmonella Typhi em humanos, bactéria esta capaz de causar infecções sistêmicas e febre tifóide (CARDOSO; TESSARI, 2008). Sua ocorrência está diretamente ligada às precárias condições de saneamento básico e higiene pessoal, tendo sua distribuição como um reflexo das mazelas sociais (QUINTAES et al., 2002). A febre tifoide é uma doença infecciosa que quando não tratada adequadamente pode levar a um quadro grave. Tem como alvo exclusivo o homem, sendo considerada um relevante problema de saúde pública dos países em desenvolvimento (SOUZA et al., 2010). Sua transmissão sucede especialmente pela ingestão de água e/ou alimentos contaminados com fezes ou urina dos indivíduos portadores (RAMOS, 2004). Esta revisão de literatura tem por finalidade atestar sobre os aspectos históricos, epidemiológicos, clínicos e profiláticos da doença, como também a interação patógeno- hospedeiro. METODOLOGIA A seleção do material bibliográfico contemplou publicações contendo revistas, artigos nacionais e internacionais, livros voltados para a Salmonella typhi. Os dados utilizados foram: Google Acadêmico, Biblioteca eletrônica Scientific Eletronic Library Online (SciELO), Medical Literature Analysis and Retrieval Sistem on-line (MEDLINE). Considerando os artigos publicados no período de 1997 a 2013, totalizando 19 publicações. Como critério de inclusão, foram utilizados trabalhos que abordassem aspectos gerais e epidemiológicos referentes à Salmonella typhi ou ao gênero bacteriano Salmonella, publicados em português, Mostra Científica em Biomedicina, Volume 1, Número 01, Jun. 2016 Rua Juvêncio Alves, 660 – Centro – CEP: 63900-257 – Quixadá/CE – Brasil – Fone: (88) 3412.6700 / Fax: (88) 3412.6743 espanhol ou inglês. Os trabalhos que não apresentassem resumos na íntegra nas bases de dados pesquisadas não foram contemplados nesta revisão. DISCUSSÃO Morfologicamente o gênero Salmonella compreende bacilos Gram-negativos com diâmetro em torno de 0,7-1,5μm de comprimento por 2,0-2,5μm de espessura, não esporulados. Em geral são móveis com flagelos peritríquios, exceção dos sorovares S. Gallinarum e S. Pulloru. São anaeróbios facultativos com temperatura ótima em torno de 37 °C, e formam colônias com cerca de 2 a 4mm de diâmetro (WINN JR et al., 2008). O genoma da S. typhi possui aproximadamente 5 milhões de pares de bases e codifica cerca de 4000 genes, dos quais mais de 200 são funcionalmente inativos. Além disso, diferentes cepas também são capazes de abrigar DNA na forma de plasmídeos apresentando, normalmente, virulência ou genes de resistência a antibióticos (BAKER; DOUGAN, 2007; YANG et al.; 2005). A sorologia do gênero Salmonella baseia-se na identificação dos antígenos “O” (somáticos), “H” (flagelares) e “Vi” (capsular), no qual Vi é um antígeno de superfície encontrado apenas em três sorovares, dentre eles a S. Typhi. Seu interesse dar-se em virtude de sua utilização na diferenciação sorológica e como mecanismo de defesa durante a infecção (FERREIRA; CAMPOS, 2008). Do ponto de vista histórico a S. typhi está intrinsecamente ligada a uma irlandesa chamada Mary Mallon. O caso de “Maria Tifoide”, como ficou conhecida em jornais, foi o primeiro registro conhecido de portador sã ou inaparente dessa bactéria (LEAVITT, 1997). Em vista disso, sua história demonstrou que o ser humano é caracterizado como vetor de propagação da febre tifoide (WALD, 1997). A febre tifóide é um problema global de saúde, tendo seu impacto difícil de estimar, uma vez que o quadro clínico é confundido com muitas outras infecções febris (WHO, 2003). Como já mencionado, a transmissão desta enfermidade ocorre pela ingestão de água ou alimentos contaminados e, raramente, pelo contato direto com fezes, urina, secreção respiratória, vômito ou pus advindos de indivíduos infectados (BASTOS et al., 2008). Durante uma infecção aguda, a bactéria multiplica-se dentro das células do sistema mononuclear fagocitário (SMF) para então seguir em direção a corrente sanguínea, principalmente por drenagem da linfa a partir dos gânglios mesentéricos, seguindo para os Mostra Científica em Biomedicina, Volume 1, Número 01, Jun. 2016 Rua Juvêncio Alves, 660 – Centro – CEP: 63900-257 – Quixadá/CE – Brasil – Fone: (88) 3412.6700 / Fax: (88) 3412.6743 ductos torácicos e circulação em geral, resultando na invasão dos órgãos do sistema reticuloendotelial dentro de 24 horas (WHO, 2003). O período de incubação varia de acordo com a dose infectante, no qual o paciente passa a apresentar febre alta acompanhada ou não de cefaleia, mal-estar, inapetência, roséola tífica, hepatoesplenomegalia, constipação intestinal ou diarreia, e tosse. Sua complicação pode levar a hemorragia intestinal, pneumonia, colecistite, perfuração intestinalcom peritonite, septicemia e óbito (ARRUDA; ARAÚJO, 1997; CHANH et al., 2004). No Brasil, nos anos de 2001 a 2006 registraram-se 3.749 casos de febre tifoide com 30 óbitos, tendo como maiores incidências as regiões Norte e Nordeste (SOUZA et al, 2010; QUINTAES et al, 2002). Já no período de 2007 a 2010 foram confirmados 1.213 casos, no qual o estado do Pará registrou 237 casos representando 19,5% do total (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011). Desta forma, fazem-se necessárias medidas preventivas de saneamento básico, fornecimento de água potável, além de campanhas educativas destacando a importância da higiene pessoal e ambiental (BASTOS et al, 2008; KANUNGO et al., 2008). O diagnóstico laboratorial fundamenta-se no isolamento e identificação da S. Typhi através da hemocultura, coprocultura e urocultura. A hemocultura é realizada nas primeiras duas semanas após o início dos sintomas; a coprocultura, após a segunda semana, e a urocultura no período de transição. A reação de Widal é outro método utilizado, consistindo na identificação de antígenos da S. typhi através de antissoros específicos. Quanto ao tratamento, o cloranfenicol é utilizado como primeira indicação, assim como ampicilina e sulfametoxazol trimetoprim por até 14 dias, no mínimo (ARRUDA; ARAÚJO, 1997). CONCLUSÃO A febre tifoide é uma doença infecciosa com grande importância para a saúde pública, no qual acomete um grande número de indivíduos por ano. Devido sua taxa de propagação, particularmente em países emergentes e frente aos diversos fatores que atualmente lhes conferem resistência, é indispensável por parte dos profissionais da saúde medidas estratégicas para seu diagnóstico, tratamento e controle. Além disso, a rigorosidade terapêutica acaba por contribuir na desistência do tratamento e, consequentemente, na difusão das cepas da doença. Mostra Científica em Biomedicina, Volume 1, Número 01, Jun. 2016 Rua Juvêncio Alves, 660 – Centro – CEP: 63900-257 – Quixadá/CE – Brasil – Fone: (88) 3412.6700 / Fax: (88) 3412.6743 REFERÊNCIAS ARRUDA, A. H. S.; ARAÚJO, T. M.Epidemia de febre tifóide em Laranja da Terra/Espírito Santo: relato preliminar. Informe Epidemiológico do SUS, v. 6, n. 2, p. 21-31, 1997. BAKER, S.; D. Gordon. The genome of Salmonella enterica serovar Typhi. Clinical Infectious Diseases, v. 45, n. 1, p. S29-S33, 2007. BASTOS, F. C.; LIMA, K. V. B.; DE SÁ, L. L. C.; SOUZA, C. O.; LOPES, M. L.; RAMOS, F. L.P. Variabilidade genética de amostras de Salmonella Typhi isoladas de surto e de casos esporádicos ocorridos em Belém, Brasil. J Bras Patol Med Lab, v. 44, n. 4, p. 271- 276, 2008. CARDOSO, A. L. S. P.; TESSARI, E. N. C. Salmonela na segurança dos alimentos. Biológico, v. 70, p. 11-13, 2008. CHANH, N. Q.; EVEREST, P.; KHOA, T. T.; HOUSE, D.; MURCH, S.; PARRY, C.; CONNERTON, F.; BAY, P. V.; DIEP, T. S.; MASTROENI, P.; WHITE, N. J.; HIEN, T. T.; HO, V. V.; DOUGAN, G.; FARRAR, J. J.; WAIN, J. A Clinical, microbiological, and pathological study of intestinal perforation associated with typhoid fever. Clinical Infectious Diseases, v. 39, p. 61-67, 2004. FERREIRA, E.O.; CAMPOS, L.C. Salmonella. In: Microbiologia. TRABULSI, L.R..; ALTERTHUM, F. São Paulo, Atheneu, p.329-338, 2008 KANUNGO, S.; DUTTA, S.; SUR, D. Epidemiology of typhoid and paratyphoid fever in India. The Journal of Infection in Developing Countries, v. 2, n. 06, p. 454-460, 2008. LEAVITT, J. W. Typhoid Mary: captive to the public's health. Beacon Press, v. 14, n. 4, p. 878-885, 1997. MARINELI, F; TSOUCALAS, G.; KARAMANOU, M.; ANDROUTSOS, G. Mary Mallon (1869-1938) and the history of typhoid fever. Annals of gastroenterology: quarterly publication of the Hellenic Society of Gastroenterology, v. 26, n. 2, p. 132-134, 2013. MINISTÉRIO DA SAÚDE, Sistema nacional de vigilância em saúde: relatório de situação. 5ª Ed. Brasília, 2011. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/> Acesso em: 5 maio de 2016. OLASCOAGA, R. C. Salmon, Daniel Elmer (1850-1914) :Cronología de su vida profesional y científica y su vínculo con Uruguay. Disponível em: <http://www.smvu.com.uy/moduloHerenciaVeterinaria/4_d2cd5268/archivosAdjuntos/daniel -e-salmon.pdf> Acesso em: 5 de maio de 2016. QUINTAES, B. R.; NILMA, C. L. Conventional and molecular typing of Salmonella Typhi strains from Brazil. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, v. 44, n. 6, p. 315-319, 2002. RAMOS, F. L. P. Complicações na febre tifóide: relato de um caso atípico e considerações Mostra Científica em Biomedicina, Volume 1, Número 01, Jun. 2016 Rua Juvêncio Alves, 660 – Centro – CEP: 63900-257 – Quixadá/CE – Brasil – Fone: (88) 3412.6700 / Fax: (88) 3412.6743 sobre suas implicações no diagnóstico e no controle. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 37, n. 2, p. 90-92, 2004. SOUZA, C. O.; RAMOS, F. L. P.; MOTA, C. M.; SANTOS, L. V. S. LOPES, M. L. Resistencia antimicrobiana de Salmonella Typhi identificadas en el Estado de Pará, Brasil. Revista Pan-Amazônica de Saúde, v. 1, n. 2, p. 61-65. 2010. WALD, P. Cultures and Carriers: Typhoid Mary" and the Science of Social Control. Social Text, n. 52/53, p. 181-214, 1997. Disponível em: <http://www.jstor.org/stable/> Acesso em: 27 de abril de 2016. WINN Jr, W. C., ALLEN, S., JANDA, W., KONEMAN, E., PROCOP, G., SCHRECKENBERGER, P., WOODS, G. Koneman. Diagnóstico microbiológico: texto e atlas colorido. 6ª Ed. Guanabara-Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p. 1565, 2008. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Background document: the diagnosis, treatment and prevention of typhoid fever, 2013. Disponível em: <http://apps.who.int/iris/> Acesso em: 6 de maio de 2016. YANG, F.; YANG, J.; ZHANG, X.; CHEN, L.; JIANG, Y.; YAN, Y.;TANG, X.; WANG, J.; XIONG, Z.; DONG, J.; XUE, Y.; ZHU, Y.; XU, X.; SUN, L.; CHEN, S.; NIE, H.; PENG, J.; XU, J.; WANG, Y.; YUAN, Z.; WEN, Y.; YAO, Z.; SHEN, Y.; QIANG, B.; HOU, Y.; YU, J.; JIN, Q. Genome dynamics and diversity of Shigella species, the etiologic agents of bacillary dysentery. Nucleic Acids Research, v. 33, n. 19 6445-6458, 2005. ZHANG, X. L.; JEZA, V. T.; PAN, Q. Salmonella typhi: from a human pathogen to a vaccine vector. Cellular Molecular Immunology, v. 5, n. 2, p. 91-97, 2008.
Compartilhar