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2 Colaboraram nesta edição: Conheça mais sobre o trabalho da Luiza: Estudante de letras pela Universidade de São Paulo (USP) com habilitação em português e mandarim. Possui experiência nas áreas de revisão de português, tradução de textos em inglês e mandarim, assim como ensino de idiomas. Para entrar em contato: telefone (62) 98142-4546, e- mail: luizav.9770@gmail.com Conheça mais sobre o trabalho do Diego: Graduado em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (2017), com Pós-Graduação completa em Gestão Estratégica de Pessoas pela UniAraguaia (2020). Possui experiência na clínica como Analista do Comportamento com foco no público Adulto. Trabalhando com questões de Autoestima, Autoconhecimento e demandas de contextos profissionais. Possui atuação como Consultor e Analista de Gestão de Pessoas desde 2017, com experiência em Recrutamento e Seleção (Headhunter), Treinamento e Desenvolvimento, Diagnóstico de Clima Organizacional, Avaliação de Desempenho, Implantação de Plano de Carreira, Plano de Cargos e Salários, Endomarketing, implantação de processos de RH, desenho de Fluxos de Ação e implantação de Controle de SLA's. Além disso, trabalha como músico e ilustrador desde 2013. Contato: (62) 9 8284-8035. E- mail: diegorobert.psi@gmail.com Revisora de língua portuguesa Luiza Viana de Carvalho Ilustrador Diego Robert de Oliveira Santos mailto:luizav.9770@gmail.com Autoras Amanda Viana dos Santos Psicóloga pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, com Prêmio Mérito Acadêmico Magna cum laude. Atua como psicóloga infantil em Goiânia/GO. Realiza estágio em pesquisa no Laboratório Biocomportamental (LABC)/Universidade de São Paulo (USP). É membro do Laboratório de Análise Experimental do Comportamento (LAEC)/PUC Goiás. Foi bolsista PIBIC durante os anos de iniciação científica, realizando pesquisas experimentais na área do comportamento de escolha, autocontrole e estilos parentais. É pós-graduanda em Terapia Analítico-Comportamental Infantil pelo Instituto Skinner. É criadora do projeto online Guia Prático dos Pequenos, @guiapraticodospequenos, página que auxilia a prática de psicólogos infantis. E-mail: amandapsico8@gmail.com Amanda Taysa de Moura Costa Psicóloga pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Atualmente, é pós-graduanda em Comportamento Alimentar pelo Instituo de pesqueira do Comportamento Alimentar de Curitiba. Possui experiência de pesquisa e atuação na área de de Avaliação Neuropsicológica de crianças e adolescentes e atendimentos clínicos pela Análise do Comportamento. Atualmente atua atendendo jovens e adultos on- line. Contatos: e-mail - amandataysapsi@outlook.com; telefone - (66)996370478; Instagram: @psiamandataysa. Andressa Laryssa Rezende Cardoso Psicóloga graduada pela PUC-GO. CRP 09/012944 . Especialista em Terapia Analítico Comportamental Infantil – Instituto Skinner de Análise do Comportamento. Graduanda em Neuropsicologia pela Incantato. Contato: (62) 9 8124-4794. Instagram psi.andressa.cardoso. Email: psiandressacardoso@gmail.com. Bárbara David Rech Psicóloga pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Atualmente, é mestranda no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Mato Grosso. Possui experiência de pesquisa e atuação nas áreas de Neuropsicologia e Análise do Comportamento. Atua como psicóloga clínica infanto- juvenil em Cuiabá-MT. Contatos: barbararech.psi@gmail.com; (66)996150030; Instagram: @psicologabarbararech. 4 mailto:amandapsico8@gmail.com mailto:amandataysapsi@outlook.com mailto:psiandressacardoso@gmail.com mailto:barbararech.psi@gmail.com Carolina Cristelli Costa Estudante de Psicologia cursando o nono semestre, com ênfase em Análise do Comportamento. Meus principais interesses compreendem o estudo das relações raciais no Brasil, gênero e sexualidade. Contato por meio do email carolllcristelli@gmail.com ou pelo telefone (66)99635-7171. Emanuela Madeira Silva Estudante do oitavo período do curso de Psicologia pela UniRV (Universidade de Rio Verde). É integrante do grupo de pesquisa no Laboratório de Análise Experimental do Comportamento (LAPEX). Participa do programa de iniciação científica no laboratório citado. Gabriela Sebastiano Ciriaco Graduada em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), com prêmio mérito acadêmico Magna cum laude. Desenvolveu trabalhos de iniciação científica através do Núcleo de Pesquisa Aplicada a Intervenção Comunitária e Clínica e Análise comportamental aplicada. Participou de grupos de estudos e coleta de dados desenvolvidos no Laboratório de Análise Experimental do Comportamento (LAEC). Foi representante discente da CPA (Comissão Própria de Avaliação) da PUC -Go. Atuou como monitora das disciplinas Psicologia Geral Experimento II, Estágio Básico Supervisionado II. Psicologia Clínica I e Estágio Básico Supervisionado VII. Foi estagiária do Instituo de Psicologia Engajar. Contato: gabrielaciriaco83@gmail.com Laressa Karoline Teixeira Morais Graduada em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), desenvolveu trabalho como estagiária no programa de extensão da PUC-GO: Projeto Aprender a Pensar. É pós- graduanda em Terapia Analítico-Comportamental pelo Instituto Skinner. Estagiou também na consultoria Clinap Valorizando Pessoas. Psicóloga Social no CRAS - Cachoeira de Goiás. Psicóloga Clínica. Contato +55 (64) 98423-0766; psilaressa@outlook.com Luiza Macedo Ferreira Graduada em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (2019), possui Ontario College Graduate Certificate do curso Autism & Behaviour Science na instituição Mohawk College em Hamilton, Ontário, Canadá (2019-2020). Possui experiência em Análise Experimental do Comportamento e em Análise Aplicada do Comportamento com ênfase em: (1) pesquisa, (2) contextos, (3) comportamento verbal, (4) aprendizagem, (5) remediação de baixo desempenho escolar, (6) desenvolvimento atípico, como a ênfase no Transtorno do Espectro Autista. Atualmente atua na clínica comportamental com o público infantil, adolescente e adulto. Para entrar em contato: telefone (62) 99806-4688, Instagram: luizamacedopsi, e-mail: luizamacedopsicologia@gmail.com. 5 mailto:gabrielaciriaco83@gmail.com mailto:psilaressa@outlook.com mailto:luizamacedopsicologia@gmail.com Millena Schutz Selhorst Psicóloga pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás). Foi auxiliar de pesquisa no Laboratório de Análise Experimental do Comportamento (LAEC), participou do Programa de Voluntariado de Extensão da PUC Goiás, sendo voluntária no Programa de Referência em Inclusão Social - Projeto Alfadown. Foi monitora das disciplinas de Psicologia Evolucionista, Psicologia da Personalidade I e Psicologia Geral e Experimental ll. Tem experiência como Acompanhante Terapêutica e atualmente está fazendo um curso de aprimoramento em ABA para pessoas com desenvolvimento atípico pelo Núcleo de Intervenção Comportamental (NIC). Natália Domingues Pinheiro Psicóloga pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Possui experiência de pesquisa e atuação nas áreas de Neuropsicologia. Atua como psicóloga clínica em Americana-SP. Contato: nataliapinheiro310@gmail.com; (19) 999164870. Thalita Campos Albernaz Graduada em Psicologia pela Universidade Paulista - UNIP, pós-graduanda em Terapia Analítico Comportamental de Crianças e Adolescentes pelo Instituto Skinner. Durante a formação estagiou no Centro de Psicologia Aplicada da UNIP realizando atendimento clínico a crianças, adolescentes e adultos, além de atuar com grupos de saúde mental infantil. Atualmente atua como Psicóloga Clínica realizando atendimento a todas as faixas etárias, fundamentada na Análise do Comportamento. Thaynara Vermam Rodrigues Graduada em psicologia pela Prontificia Universidade Católica de Goiás (PUC Go), com Prêmio Mérito Acadêmico Magna cum laude. Desenvolveu trabalhos de iniciação científica pelo Núcleo de Pesquisa Aplicada a Intervenção Comunitária e Clínica e Núcleo de Pesquisa em Psicopatologia Clínicae Psicologia e Saúde. Participou de coletas de dados desenvolvidos no Laboratório de Análise Experimental do Comportamento (LAEC). É membro do grupo de estudos de Psicosociologia realizado na PUC go. Foi voluntária do Projeto de Referência em Inclusão Social- Projeto Saúde em Políticas Públicas, e do Projeto em Nome da Vida, pela PUC Go. Atuou como monitora da disciplina de História da Psicologia e Técnicas de Avaliação Psicológica III. Contato: thaynaravermam98@gmail.com 6 mailto:nataliapinheiro310@gmail.com https://institutoskinner.com.br/terapia-analitico-comportamental-de-criancas-e-adolescentes-pos-graduacao/ mailto:thaynaravermam98@gmail.com De modo geral, pouco é visto sobre o atendimento infantil nos cursos de graduação de Psicologia, sendo voltado, muitas vezes, mais para o campo teórico que o prático. Essa lacuna pode ter favorecido alguns empecilhos na prática de psicólogos infantis recém formados, resultando em sentimento de insegurança acerca dos direcionamentos para a condução e atuação do processo psicoterapêutico, com a criança e com seus responsáveis. Diante deste cenário, surgiu a necessidade da criação do Grupo de Estudos em Psicoterapia Infantil, promovido pelo projeto on-line, disponível no Instagram, @guiapraticodospequenos, para estudantes de psicologia e psicólogos infantis recém formados. Em última instância, a proposta do Grupo é desenvolver em seus integrantes um maior de sentimento de confiança na condução e atuação de seus atendimentos clínicos. Assim, busca-se criar condições para o estudo contínuo em psicoterapia infantil, a “troca de figurinhas” entre (futuros) profissionais, além de afastar a solidão que muitas vezes a clínica condiciona. O Grupo é estruturado em oito encontros, planejados de modo a atrelar a teoria e a prática. Com o intuito de proporcionar aprendizagem, alguns dos encontros propõem apresentação de trabalhos de criação e/ou construção de recursos lúdicos a partir de filmes ou desenhos e histórias infantis, funcionando como auxílio no trabalho de determinadas demandas. O trabalho consiste em selecionar um filme, desenho infantil ou história infantil da preferência de cada integrante ou duplas. Desses recursos, são escolhidas cenas julgadas como pertinentes e é descrito como poderiam ser manejadas no contexto clínico, como recurso interventivo complementar para trabalhar uma determinada demanda. Além de somar como mais um recurso interventivo para seus atendimentos, essas atividades funcionam também como um treino para ampliação do repertório de variabilidade comportamental das integrantes no contexto do atendimento infantil, sem envolver nenhum custo financeiro para tal. Escrito no segundo semestre de 2020 por psicólogas recém-formadas e estudantes de Psicologia, o e-book Filmes e histórias infantis como recursos na terapia infantil é uma junção dessas atividades realizadas pelas integrantes de diferentes turmas do Grupo de Estudos que se propuseram a escrever os capítulos. O objetivo principal deste material é auxiliar a prática de psicólogos(as) infantis de um modo geral, apresentando recursos lúdicos selecionados para trabalhar determinadas demandas na clínica infantil. Ademais, o livro tem a intenção de valorizar e agradecer o empenho e dedicação de cada integrante do Grupo de Estudos ao realizar essas atividades, além de dar a chance de publicarem e poderem divulgar seus trabalhos e nomes no mercado, incentivando a continuarem contribuindo para a área infantil. Boa leitura a todos! Apresentação 7 1. “Madagascar” e Regras Discrepantes Luiza Macedo Ferreira 2. “Divertida Mente”: aprendendo a nomear as emoções Amanda Taysa de Moura Costa e Natália Domingues Pinheiro 3. “Ursos sem curso” e Habilidades Sociais Bárbara David Rech 4. Empatia e “Os Três Porquinhos” Emanuela Madeira Silva e Millena Schütz Selhorst 5. Alienação parental trabalhada com o livro “Bing e o Pequeno Alienígena Alienado” Laressa Karoline Teixeira Morais e Thalita Campos Albernaz 6. O Luto em “O Rei Leão” Emanuela Madeira Silva e Millena Schütz Selhorst 7. “Smurfs” e a autoconfiança Gabriela Sebastiano Ciriaco 8. “Os Três Porquinhos”: desenvolvendo o repertório de responsabilidade Amanda Taysa de Moura Costa e Natália Domingues Pinheiro Sumário 8 9. Habilidades sociais no livro “A mamãe é minha! Toda minha!” Carolina Cristelli Costa 10. Desenvolvendo repertório de cooperação com o filme “Bee Movie” Laressa Karoline Teixeira Morais e Thalita Campos Albernaz 11. “She-ra e as Princesas do Poder” e o Luto Infantil Thaynara Rodrigues Vermam 12. Treino de Habilidade Social utilizando a série “Os Chocolix” Andressa Larrysa Rezende Cardoso 9 Sumário 10 Para a Análise do Comportamento, regras são estímulos discriminativos verbais que especificam contingências (Skinner, 1969). As autorregras são regras que o próprio sujeito formula a partir de sua experiência, descrevendo as contingências que controlam seu próprio comportamento (Banaco, 1997). Elas passam a ser discrepantes quando as contingências mudam: uma regra não mais descreve as contingências de reforçamento, porém o indivíduo continua a segui-la (da Costa Calheiros, Martins, Ollier, Magon, Garcia & Juliani, 2012). O comportamento de seguir regras tem um valor adaptativo ontogeneticamente e culturalmente significativos, ele é modelado desde a infância e sua continuidade dependerá da história de reforçamento individual (da Silva & de-Farias, 2010). Apesar desse comportamento ser importante no repertório comportamental, um controle excessivo pode levar a criança a alguns prejuízos, como seguir regras irracionais e ficar insensível às contingências naturais e diminuição da variabilidade comportamental (da Silva & de- Farias, 2010). A clínica comportamental infantil faz uso de estratégias lúdicas: jogos, filmes/desenhos animados e brincadeiras com finalidades e objetivos específicos (Monteiro & Amaral, 2019). Isto significa que essas atividades têm uma função clara e definida dentro do contexto clínico, como por exemplo, avaliar e/ou desenvolver o seguimento de regras, cooperação, dentre outros (Benevides & Souza, 2019; Monteiro & Amaral, 2019). Neste capítulo, abordaremos como o filme “Madagascar” (2005) pode ser utilizado para a intervenção de regras/autorregras discrepantes do ambiente. O longa-metragem conta a história de quatro animais, Alex (leão), Marty (zebra), Melman (girafa) e Glória (hipopótamo), que vivem no zoológico de Nova York, sempre viveram em cativeiro e desconhecem a selva. Cansado da vida monótona, Marty decide fugir do zoológico e explorar o mundo. Quando seus amigos notam que ele fugiu, vão atrás dele. Eles se encontram na estação de trem, mas os policiais acabam sedando-os e capturando-os. Os animais são enviados de barco para a África, mas naufragam e chegam à ilha de Madagascar, um lugar selvagem onde eles têm de se adaptar a um novo ambiente. Nas cenas trabalhadas, os animais acabam de descobrir que se encontram na natureza selvagem, lugar onde eles nunca estiveram. Alex, Melman e Glória se assustam muito e saem correndo (43:23 até 44:23). Logo mais na mesma cena, Melman está realizando um enterro vivo de si mesmo (44:50), pois acha que não vai conseguir sobreviver 1. “Madagascar” e Regras Discrepantes Luiza Macedo Ferreira 11 na selva; Marty aparece, e, diferente de seus amigos, está animado e positivo por estar na natureza; Alex está chateado por estar na selva, briga com Marty e faz uma linha no chão e diz que ele não pode passar dessa linha. Ocorre uma competição entre Marty e Alex de quem está se divertindo mais e tem mais habilidades de construção. Marty constrói um abrigo legal e a construção de Alex, Glória e Melman se incendeia (48:58). Após o incêndio, Alex fica triste e sozinho na areia da praia, Glória e Melman vão ficar com Marty (51:17). Marty, por sua vez tentar convencer Alex a ir ficar com eles e a dar uma chance para a ilha, pois ele poderia acabar gostando de lá e se divertindo muito. Após um tempo, Alex decide ir ficar com seusamigos, pede desculpas a Marty e acaba se divertindo, como o amigo tinha sugerido (55:03). A autorregra que Alex emite durante grande parte do filme é “tenho que voltar a Nova York e não gosto da ilha”. Por causa disso, (1) ele briga com Marty, por julgar que a zebra foi a culpada por eles terem saído da cidade; (2) se engaja em construir uma estátua da liberdade de madeira para serem resgatados, ao invés de fazer um abrigo para passar a noite; (3) e também se recusa a entrar em contato com possíveis coisas divertidas da ilha, distanciando-se de Marty e dos outros amigos. As cenas relatadas acima podem ser utilizadas para demonstrar às crianças que ficar sob controle estritamente de regras/autorregras, e não ficar sensível às contingências em vigor, pode ser prejudicial. Outros temas que podem ser abordados são: (a) medo em lugares novos, que, com o tempo e ajuda de outras pessoas, pode ser um processo de aprendizagem e o lugar novo pode se tornar querido; (b) empatia e amizade, pelos quais questões sobre como fazer as pazes com um amigo, ou como se desculpar podem ser abordadas Portanto, o filme “Madagascar” pode ser utilizado como uma estratégia lúdica no contexto terapêutico em intervenções sobre controle discrepante entre regras/autorregras e o ambiente e medo devido à falta de repertório comportamental em um novo ambiente. Temas relacionados a amizades e resolução de conflitos também podem ser trabalhados nessas cenas e em outras cenas ao longo do filme, como nas cenas em que o barco volta, mas eles não vão embora sem o Alex (1:00:00) e na última cena do filme, quando eles discutem sobre amizade. Confira em anexo alguns modelos de atividade a partir deste recurso. Referências Banaco, R. A. (1997). Auto-regras e patologia comportamental. Sobre comportamento e cognição. Santo André: Arbyters. 12 Benevides, R. R., & de Souza, S. R. (2019). Desenvolvimento e avaliação do jogo educativo “Space Ability: fazendo contato com Aliens”: comportamentos sociais acadêmicos. Perspectivas em Análise do Comportamento, 10(2), 203-221. da Costa Calheiros, T., Martins, L. A. L., Ollier, A. P., Magon, P. C., Garcia, M. R., & Juliani, J. (2012). Efeitos da exposição a instruções correspondentes e discrepantes sobre o comportamento de seguir regras em crianças em idade escolar. Perspectivas em análise do comportamento, 3(1), 57-72. da Silva, C. C. & de-Farias, A. K. C. R. (2010) Comportamento governado por regras: um estudo de caso. Em: de-Farias, A. K. C (org.). Análise comportamental clínica: aspectos teóricos e estudos de caso. Artmed Editora. Kiss, A. (sem ano). Imagem Madagascar. Tirado do site: https://www.madduckposters.com/products/madagascar Monteiro, M. F., & Amaral, M. (2019). Terapia Comportamental Infantil: um panorama sobre o uso de estratégias lúdicas. Perspectivas em Análise do Comportamento, 10(2), 243-255. Skinner, B. F. (1969). Contingencies of reinforcement: A theoretical analysis. New York: Appleton- Century-Crofts. Anexos 13 14 15 16 17 Segundo Araujo (2006), a maior parte dos indivíduos que aparece na clínica, não sabe descrever com clareza o que sente ou não compreende muito bem o que está sentindo, principalmente no caso das crianças no atendimento infantil. A dificuldade para identificar, nomear e expressar sensações corporais ou sentimentos pode prejudicar o processo terapêutico, haja vista que o repertório de autoexpressão é considerado um pré- requisito para o andamento da terapia infantil (Moura & Venturelli, 2004). Para Skinner (1991), é possível ensinar facilmente uma criança a nomear algum objeto, pois podemos apontá-lo, mostrá-lo e nomeá-lo. No entanto, encontramos dificuldade em nomear um estado do corpo, ou seja, um sentimento, como a tristeza, pois não conseguimos apontar para alguma parte do corpo e dizer que ali está a tristeza. Dessa forma, a inacessibilidade dos privados é uma grande barreira no ensino da identificação e nomeação de sentimentos. Por exemplo, relacionar a tristeza à vontade de chorar e ao desânimo, a não querer guardar os brinquedos e nem fazer a tarefa. Assim, a comunidade verbal precisa buscar dicas de eventos públicos para inferir eventos privados. Por exemplo, conforme descrito por Skinner (2006), quando a criança coloca a mão na barriga, próximo do horário que normalmente almoça, o pai pode vocalizar que ela está sentindo “fome”, indicando a relação entre esses eventos. Guilhardi (2002, p. 95) explica que “quanto mais a comunidade verbal estimular a criança, mais rico será o comportamento verbal dela”. Ademais, Moura e Venturelli (2004) destacam que crianças que não possuem repertório de autoexpressão apresentam mais problemas comportamentais. Além disso, ressaltam que, quando a criança possui habilidades de expressar e identificar sentimentos, ela é capaz de discriminar as implicações encobertas que as contingências exercem nela, além de aprender a responder melhor a essas contingências modificando seus comportamentos. Por exemplo, em vez de dar birras para comunicar algo que não lhe agradou, a criança pode passar a emitir comportamentos mais assertivos. Portanto, quando a criança chega na clínica com dificuldade em nomear e descrever os seus sentimentos, o psicólogo pode ter dificuldade em desenvolver um plano terapêutico que origine mudança de comportamento. Logo, levando em consideração essa discussão, foi utilizado o filme “Divertida Mente” (2015), facilmente encontrado na Plataforma Netflix, como recurso terapêutico na clínica infantil para ajudar o cliente a nomear e a caracterizar suas emoções. 2. “Divertida Mente”: aprendendo a nomear as emoções Amanda Taysa de Moura Costa Natália Domingues Pinheiro 18 O filme “Divertida Mente” conta a história da Riley, uma garota divertida de 11 anos de idade que enfrenta mudanças importantes em sua vida quando seus pais decidem deixar a sua cidade natal para viver em São Francisco. As amizades, as lembranças da infância e da escola de Riley são da cidade de Minnesota, o que a faz enfrentar diversas mudanças em seus sentimentos quando muda de cidade. Na maioria das cenas, o filme demonstra que, dentro de Riley, há a convivência de várias e diferentes emoções, como a Alegria, o Medo, o Raiva, a Nojinho e a Tristeza. A líder deles é Alegria que, além de se esforçar em todos os momentos para fazer com que a felicidade esteja em evidência na vida de Riley, mantém todas as outras emoções organizadas. Entretanto, uma confusão ocorre na sala de controle das emoções de Riley e faz com que Alegria e Tristeza sejam expelidas para fora do local. A partir desse momento, elas precisam percorrer as várias ilhas existentes nos pensamentos e lembranças de Riley para que possam retornar à sala de controle e, enquanto isto não acontece, a vida de Riley muda radicalmente, pois todas as emoções entram em uma desordem total. Um recorte do filme foi escolhido para ser utilizado como recurso terapêutico, no tempo decorrido de 01:09 à 07:26 minutos. A cena mostra a sala de controle, onde estão todos os sentimentos de Riley, e é explicada a relação de cada sentimento com nossas ações, como a tristeza e o choro, a raiva e a birra. Logo após, é mostrado as ilhas que moldam a personalidade da Riley, que ainda possuem ligação com as experiências emocionais: ilha da honestidade, ilha da bobeira, ilha da família e algumas outras. A partir da cena apresentada, quatro aspectos foram desenvolvidos para serem trabalhados com a criança após a apresentação do vídeo, durante o processo terapêutico. O primeiro aspecto a ser trabalhado na psicoterapia é investigar o repertório de identificação e nomeação dos sentimentos: a criança sabe identificar seus sentimentos? Como os nomeiam? O faz apenas com auxílio do terapeuta ou de algum recurso lúdico? Assim, o terapeuta, em conjunto com a criança, pode começar a nomear os sentimentos e a caracterizá-los com as ações da criança, de modo semelhante ao filme. Assim, nesse ponto, o terapeuta pode pedir para a criança caracterizar o seu próprio sentimento com suasações no dia a dia. Por exemplo: “Você viu o que ela faz no filme quando está triste? E você o que faz?”, auxiliando a criança a descrever as contingências que controlam seus comportamentos e os seus efeitos encobertos. 19 O segundo aspecto a ser trabalhado com a criança é identificar o que ela considera ser um sentimento agradável e um sentimento desagradável. Dessa maneira, podem ser investigadas suas reações diante de sentimentos desagradáveis: os expressa vocalmente? Como é essa expressão? Busca resolver o que lhe incomodou ou o que está lhe incomodando? Agride o outro de alguma maneira? Entre outras. Durante esse processo, podem-se apresentar modelos de maneiras mais assertivas para essa auto expressão (buscando equilíbrio em levar em consideração ela mesma e o outro). Por exemplo, se a criança disser que estar com raiva é um sentimento desagradável para ela, e que quando se sente assim não guarda os brinquedos, responde “mal” os responsáveis e joga suas coisas no chão, pode-se apresentar um modelo para a criança de como expressar essa raiva com uma topografia mais assertiva e/ou a instruir a dizer aos responsáveis como se sente e o que deixou ela com raiva. A técnica do Ensaio Comportamental pode favorecer esse treino. O terceiro aspecto seria trabalhar questões relacionadas a mediação social da criança em relação a exposição ou demonstração de sentimento para seus próximos. Por exemplo, nesse contexto social, como a criança lida com seus sentimentos agradáveis e desagradáveis, se ela costuma contar para outras pessoas o que está sentindo e o que a incomoda, o que lhe faz sentir bem e mal e como ela se comporta frente a essas situações, entre outros. Nesse ponto, sugere-se apresentação de modelos comportamentais por parte do terapeuta, através de teatros ou histórias, com a intenção de demonstrar possibilidades de respostas assertivas ao expressar os sentimentos com outras pessoas, em determinadas situações. O quarto aspecto seria pensar, a partir de um paralelo com o filme, no porquê dos sentimentos serem importantes para nossa vida: refletir que são reações naturais do nosso organismo, e, quando sabemos identificá-los, podemos lidar melhor com as mudanças que acontecem durante toda nossa vida, pois sabemos que estarão sempre presentes em nós. Dessa forma, pode-se diminuir a emissão de comportamentos com a função de se livrar de sentimentos desagradáveis. Esta questão pode ser explicada utilizando o seguinte exemplo: quando acontece algo desagradável, como a morte de um animal de estimação querido, é comum que sintamos a tristeza e choremos. Sentiremos saudades da companhia e dos momentos com o animal. 20 Qualquer outra pessoa também poderia sentir esse aperto no peito, é uma reação comum e diversas pessoas sentem. As estratégias descritas são facilitadoras para o processo terapêutico e, com base no que foi descrito e nos referenciais teóricos, conclui-se que os sentimentos estão presentes em qualquer caso de atendimento clínico e saber expressá-los e caracterizá-los é de suma importância. Tratar o sentimento como comportamento é fundamental, principalmente, para a composição de análises funcionais. Além disso, vale ressaltar os benefícios que a nomeação e expressão dos sentimentos acarretam na vida da criança, como descrito por Moura & Venturelli (2004), como a melhora do relacionamento interpessoal (relações íntimas e mais assertivas), resolução de problemas, entre outros. Referências Araujo, L. A. (2006). A importância dos sentimentos no atendimento a crianças. (Trabalho de conclusão de curso). Centro Universitário de Brasília- UniCEUB, Brasília, DF, Brasil Guilhardi, H. J. (2002) Auto-estima, autoconfiança e responsabilidade. In Brandão, M. Z. D. S., Conte, F. C. D. S., & Mezzaroba, S. M. B. Comportamento humano: (tudo) ou quase tudo que você gostaria de saber para viver melhor, (pp. 63-98); São Paulo: ESETEC. Moura, C. B. & Venturelli, M. B. (2004) Direcionamentos para a condução do processo terapêutico comportamental com crianças. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, São Paulo, v. 6, n. 1, p. 17-30. Rivera, J., Lasseter, J., & Stanton, A. (Produtores) & Docter, P. (Diretor). (2015). Divertidamente (filme). Emerivilly: Walt Disney Pictures e Pixar Animation Studios Skinner, B. F. (1991). Questões recentes em Análise Comportamental (A. L. Neri, trad.). Campinas: Papirus. (Obra originalmente publicada em 1989). Skinner, B. F. (2006). Sobre o behaviorismo. (Tradução de M. da P. Villalobos). São Paulo: Cultrix. (Trabalho original publicado em 1974). 21 22 As habilidades sociais podem ser entendidas como classes características de comportamentos que uma pessoa apresenta que lhe possibilita lidar de modo competente com as demandas sociais, o que facilita um bom relacionamento com outras pessoas (Del Prette & Del Prette, 2005). De acordo com Dell Prette & Del Prette (2005), há sete classes de habilidades sociais relevantes na infância, sendo essas: 1) autocontrole e expressividade emocional, 2) civilidade, 3) empatia, 4) assertividade, 5) fazer amizades, 6) solucionar problemas interpessoais e 7) habilidades sociais acadêmicas. O desenvolvimento das habilidades sociais, segundo Del Prette & Del Prette (2005), se inicia a partir do nascimento da criança e vai sendo estruturado conforme seu desenvolvimento. Além disso, as habilidades sociais são consideradas um aspecto favorável ao desenvolvimento social e acadêmico, expressão de sentimentos, manejo de emoções (Del Prette & Del Prette, 2012; Vebber & Jardim, 2011; Maria & Bortolini, 2012; Casali-Robalinho, Del Prette & Del Prette, 2015). Filmes e desenhos animados podem ser utilizados como recurso terapêutico em psicoterapia infantil. Por exemplo, o desenho animado “Urso sem Curso” (2015), em algumas cenas do episódio 4, evidencia situações em que há o envolvimento de habilidades sociais. O desenho conta a história de três irmãos ursos, Panda, Pardo e Polar, que, apesar de suas diferenças, buscam viver a vida em uma sociedade humana. Os ursos vivem em uma caverna, mas exploram a cidade de São Francisco nos episódios. Além dos personagens principais, há a personagem recorrente, Chloe, uma garota com ascendência coreana que já está na faculdade. Nas cenas em questão, Chloe está analisando e anotando o comportamento dos Ursos para um trabalho da faculdade (2:46’’ até 4:04”). Nesse primeiro momento, podemos perceber que os Ursos estão desconfortáveis com a presença e anotações de Chloe. Em determinado momento (3:41”), os Ursos e a Chloe vão até o centro da cidade. Lá, em um restaurante, Pardo tem a iniciativa de oferecer comida à Chloe, que se surpreende, expressa um sorriso e aceita. 3. “Ursos sem Curso” e Habilidades Sociais Bárbara David Rech 23 Após essa primeira iniciativa, os Ursos e a Chloe começam a apresentar comportamentos de intimidade e cooperação, como quando brincam em uma loja (3:49”) e os Ursos levantam a Chloe para ela conseguir ver melhor uma apresentação (3:52”), ou quando o Panda oferece segurar a mão de Chloe para ela não se desequilibrar mais no ônibus (4:01”). A iniciativa de Pardo, de primeiramente compartilhar comida, foi o passo inicial para outros comportamentos de cooperação e empatia emitidos por Chloe e seus irmãos. Podemos usar essas cenas referidas para demonstrar para a criança os benefícios que podem ser alcançados com iniciativa, empatia e cooperação. Além do mais, as cenas exemplificam a amizade dos personagens, podendo ser usadas também para introduzir temas referentes ao relacionamento com amigos, fazendo a analogia entre as anotações de Chloe dos comportamentos e as características dos Ursos, e anotações da criança de comportamentos e preferências de quem deseja se tornar próxima. Portanto, as cenas ensinam exposição e iniciativa em algumas situações, além de também demonstrar comportamentos de cooperação e empatia que podem ser direcionados a amigos. Assim, a cena exemplificada de Urso sem Curso pode ser utilizada de modo terapêutico emintervenções relacionadas a cooperação e amizade. Outras cenas que estão no mesmo episódio, e que também poderiam ser empregadas em contextos psicoterapêuticos, são: Chloe invadindo a casa dos ursos, momentos de pedidos de permissão e desculpas por parte dos Ursos e de Chloe, realização de trabalhos da escola e falar em público. Confira em anexo alguns modelos de atividades a partir deste recurso. Referências Casali-Robalinho, I.G, Del Prette, Z. A. P., & Del Prette, A. (2015). Habilidades Sociais como Preditoras de Problemas de Comportamento em Escolares. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 31(3), 321-330. Del Prette, Z., & Del Prette, Almir. (2005). Psicologia das habilidades sociais na infância: teoria e prática. Petrópolis, RJ: Vozes. Del Prette, Z.A.P., & Del Prette, A. (2012). Social skills and behavior analysis: Historical connection and new issues. Perspectivas em análise do comportamento, 1(2), 104- 115. Maia, D.S, & Bortolini, M. (2012) O desenvolvimento da habilidade de assertividade e a convivência na escola: relato de experiência. Psicologia em Revista, 18(3), 373-388. Vebber, F., & Jardim, A. B. (2011). Habilidades sociais na infância: uma experiência nos Anos Iniciais. Cadernos Do Aplicação, 24(1), 253–261. Wilksen, C. (Produtor) & Hernandez, M. (Diretor). (2015). Urso sem Curso (série). Burbank: Cartoon Network Studio. Anexos 24 25 26 27 28 Del Prette & Del Prette (2017a) colocam a empatia como uma classe de habilidade social importante para adaptação social e a caracterizam como uma habilidade que ocorre uma expressão afetiva de compreensão e compartilhamento da experiência positiva ou negativa de outra pessoa. Ainda de acordo com Del Prette & Del Prette (2017a), essa habilidade sustenta a maior satisfação pessoal e manutenção de uma relação de qualidade, compreendendo também a sua conexão com as demais habilidades sociais, como a assertividade. A relação entre pais e filhos pode ser geradora de conflitos familiares e, para Del Prette & Del Prette (2017b), essas situações, muitas vezes, demandam autocontrole de sentimentos. É importante ressaltar que a habilidade dos pais em se comportar adequadamente diante de seus sentimentos de raiva e de desagrado, pode ser um modelo de autocontrole para os filhos. Com o objetivo de evitar que os conflitos se agravem, a expressão de raiva ou desagrado necessita de controle emocional para que sejam demonstrados de maneira adequada. O treino dessas habilidades é tão importante no contexto familiar quanto no contexto escolar e, nesse último, Del Prette & Del Prette (2017b) ressaltam que é necessário valorizar as habilidades assertivas e de enfrentamento. Esse conjunto de habilidades é importante para ser desenvolvido nas escolas, assim como outros relacionados a liderança, convencimento, pedir mudança de comportamento, expressar sentimentos negativos, lidar com críticas, questionar, negociar decisões e resolver problemas. De acordo com os autores, a transmissão competente destas habilidades pode ser importante para a não ocorrência de comportamentos violentos e dar foco para a valorização de comportamentos positivos. Por isso, comportamentos empáticos estão presentes tanto no contexto escolar quanto no contexto familiar. Os dois ambientes podem ser determinantes para aprendizagens efetivas com relação aos temas citados anteriormente. Assim, uma maneira de trabalhar demandas como essas é com a leitura da história “Os Três Porquinhos”*. Esta história é um pouco diferente da história clássica conhecida por todos. Nesta versão, os três porquinhos estão vivendo juntos depois de algum tempo em que o lobo mau fora embora. *Disponível em http://www.escolagames.com.br/livros/osTresPorquinhos/?deviceType=computer 4. Empatia e “Os Três Porquinhos” Emanuela Madeira Silva Millena Schütz Selhorst 29 http://www.escolagames.com.br/livros/osTresPorquinhos/?deviceType=computer Até que um dia, o lobo mau voltou determinado a se vingar dos três porquinhos. Depois de muito tentar invadir a casa, ele caiu desmaiado no chão. Os porquinhos acharam que era um truque do lobo, mas depois de horas caído no chão, resolveram abrir a porta e viram que o lobo estava muito mal e então decidiram levá-lo para dentro de casa e fornecer os cuidados necessários. Quando o lobo estava curado, pediu-lhes desculpas e reconheceu os cuidados que haviam tido com ele e, então, se tornaram ótimos amigos. O foco da história se dá na atitude dos porquinhos em relação ao lobo. Os porquinhos poderiam ter vários motivos para não ajudar o lobo, pois, no passado, ele destruiu as casas dos porquinhos na tentativa de alimentar-se da carne deles, mas tiveram uma atitude empática diante da situação que estava ocorrendo com o lobo. As possibilidades de intervenção com a leitura e reflexão dessa história são várias. A primeira possibilidade seria com algum cliente que esteja passando por alguma dificuldade familiar e precise exercitar comportamentos de empatia. Nesse caso, o terapeuta poderia pedir para a criança identificar quem seriam os três porquinhos e o lobo mau na vida dela. O terapeuta também poderia sugerir que a criança crie uma nova história com outros personagens para trabalhar a empatia apresentada na história anterior. Outra possibilidade, dentro do contexto clínico, seria o terapeuta pedir para a criança imitar os três porquinhos, colocando-se no lugar deles para favorecer o sentimento de empatia. O terapeuta poderia fazer o papel de lobo mau e vice versa, para que o cliente experiencie ambos os lados da história. Pensando também em como seria a reação do cliente ao passar por uma situação em que alguém estivesse passando mal, poderia ser trabalhado quais seriam as possibilidades de cuidado, para quem o cliente poderia ligar ou pedir ajuda. Outro contexto pode ser também em escolas, em turmas/salas em que os colegas estejam emitindo comportamentos violentos, de pouca empatia ou poucos resolutivos de problemas. De uma maneira geral, o enfoque dessas intervenções é o efetivo exercício da empatia na criança, mas poderiam ter outras possibilidades a serem trabalhadas, como solução de problemas interpessoais, assertividade e enfrentamento de problemas. Referências Del Prette, A., & Del Prette, Z. A. (2017a). Psicologia das habilidades sociais na infância: teoria e prática. (6 ed.) Editora Vozes Limitada. Prette, A. D.,& Del Prette Zilda, A. P. (2017b). Psicologia das relações interpessoais: vivências para o trabalho em grupo. (11 ed.) Editora Vozes Limitada. Site Escola Games (2020, 08, 10). Os três porquinhos [Site]. Recuperado de http://www.escolagames.com.br/livros/osTresPorquinhos/?deviceType=computer 30 http://www.escolagames.com.br/livros/osTresPorquinhos/?deviceType=computer 31 Este capítulo poderá auxiliar no trabalho de casos infantis que apresentam indícios de alienação parental. Este ato, caracterizado e descrito em lei, pode, muitas vezes, passar despercebido pelos responsáveis. Assim, a razão para os responsáveis buscarem um acompanhamento psicológico para a criança pode ser outra, ainda que relacionada a esse ato. O ato de Alienação Parental é quando um dos genitores ou outros responsáveis pela criança a treinam para emitir padrões comportamentais de afastamento do outro genitor, de maneira que a imagem deste seja prejudicada ou destruída, fazendo com que as relações entre esses indivíduos sejam danificadas (Lei 12.318, 2010; Souza, 2017). A literatura aponta que separar conjugalidade e parentalidade é uma das grandes dificuldades no divórcio. Muitas vezes movido por repertórios que favoreçam comportamentos de vingança e frustração, o genitor responsável prejudica a relação do ex- companheiro(a) com o filho visando atacar o ex-parceiro, porém, frequentemente, a criança é quem mais sofre (Nuske & Grigoreff, 2005). Visando o detalhamento observado, Silva (2005, citado por Lago & Bandeira, 2009) também afirma que é preciso manter os vínculos bem estabelecidos entre os filhos e ambos os pais. Lago & Bandeira (2009) concordam e ressaltama importância da convivência com ambos os genitores para o desenvolvimento da relação, além da criança e/ou o adolescente formarem por si mesmos uma imagem de cada responsável. Para elucidar essa temática, vamos apresentar um livro utilizado como sugestão de trabalho com as crianças no contexto da clínica ou onde essa demanda seja aparente. O livro é “Bing e o Pequeno Alienígena Alienado”, de 2018, dos autores Ronit Mazer Sauerman & Ruth Berenice Lass. Na história, o pequeno alienígena alienado chega à escola de Bing e descobre que, assim como os seus pais, os de Ali também são separados. A amizade foi instantânea. Porém, havia uma diferença: enquanto Bing viajava livremente entre os planetas para conviver com o seu pai e a sua mãe, Ali não queria ou não podia falar com seu próprio pai (Sauerman & Lass, 2018). Nas páginas 8 e 9 do livro, Ali descreve como vê sua mãe e o seu pai diante da separação: uma mãe boazinha, que foi abandonada por seu pai mau para construir uma nova família. 5. Alienação parental trabalhada com o livro “Bing e o Pequeno Alienígena Alienado” Laressa Karoline Teixeira Morais Thalita Campos Albernaz 32 Já nessa parte, pode-se observar que a sua fala está carregada de opiniões que foram aprendidas por ele, mas isso fica ainda mais claro quando, na página 12, Ali conhece a família materna de Bing e sente-se constrangido quando o amigo fala sobre o pai na frente da mãe, imaginando que ela poderia se sentir mal por isto. Na página 25, quando Ali chega da visita a casa de seu amigo, para deixar sua mãe feliz, diz para ela que a experiência foi ruim, mesmo que ele e seu novo amigo Bing tenham se divertido. Então, Bing diz para o Ali que o Guru Yudo fez alguma “magia” que permitiu com que os pais dele vivessem em paz, e que talvez essa magia pudesse ajudar os pais do Ali também. Após os pais de Ali conversarem com o Guru Yudo, na página 28, a sua mãe agradece por lhe ter apresentado o Guru e seu amigo Bing fica feliz por Ali estar recebendo amor de sua mãe e de seu pai, sem sentir-se culpado por isto. Como citado nos parágrafos anteriores sobre a história, somente quando os pais de Ali tiveram acesso a um mediador da relação, no caso o Guru, eles conseguiram perceber que aqueles comportamentos estavam prejudicando o bem-estar de seu filho. Na presença dessa demanda, o(a) psicólogo(a) pode apresentar esse livro para a criança como medida de intervenção, para treiná-la a reconhecer que, por seus pais estarem separados e pelo relacionamento deles não ter dado certo, isto não significa que algum dos genitores deixou de amar a criança ou que ela tem responsabilidade nisso. É preciso exemplificar que o problema que os pais estão enfrentando não diminui o amor deles pelo filho. Também é possível utilizar jogos, como o Baralho das Emoções (cartas de crianças se comportando de acordo com o sentimento - que também vem descrito -, exemplo: imagem de criança sorrindo e a palavra “feliz”), para o treino da criança no reconhecimento de seus sentimentos frente esse conflito que os pais enfrentam. Além disso, pode ser realizado um teatro de fantoches, no qual há possibilidade de treinar comportamentos mais assertivos para a comunicação de seus sentimentos, exemplo: quando a criança ganha um presente da mãe e o pai diz que aquele presente é ruim ou a mãe poderia comprar um melhor, ao invés da criança deixar de mostrar os presentes para o pai, ela pode dizer para o ele que ela está feliz pela a mãe ter lembrado dela. O livro apresentado também pode ser usado nos casos de processos de separação mesmo nos que não apresentem a alienação por uma das partes, uma vez que, na história, é possível observar que a criança pode e deve se sentir bem ao conviver de maneira agradável com a família tanto materna, quanto paterna, ainda que seus pais tenham rompido o vínculo afetivo. 33 Referências Lago, V. M., & Bandeira, D. R.(2009). A Psicologia e as demandas atuais do Direito de família. Psicologia: ciência e profissão. 29(2). Brasília. 290-305. Lei n. 12.318, de 26 de agosto de 2010. Dispõe sobre a alienação parental e altera o art. 236 da Lei no 8.069, de julho de 1990. Nuske, J. P. F., & Grigorieff, A. G. (2015). Alienação parental: complexidades despertadas no âmbito familiar. Pensando família. 19(1). Porto Alegre. 77-87. Sauerman, R. M. & Lass, R. B. (2018). Bing e o pequeno alienígena alienado. Rio Grande do Sul: Sinopsys. Souza, G. S. T. (2017). Análise funcional em casos de alienação parental. (monografia) Instituto Brasiliense de Análise do Comportamento - IBAC. Brasília, DF, Brasil. 34 35 Apesar de não ser um analista do comportamento, Worden traz algumas elucidações interessantes e importantes ao tema “luto”. O autor ressalta que o luto é um processo que resulta da perda de um objeto que anteriormente fora alvo de apego, produzindo diversos sentimentos e comportamentos voltados ao reestabelecimento da relação com o objeto perdido (Worden, 2013). Assim, quando a morte acontece, a pessoa que sofreu a perda precisa de um tempo para a assimilação da nova realidade. A duração desse processo é diretamente proporcional à potência da relação. O processo de luto é pessoal e relativo, assim, se usa o termo “adaptação” (Worden, 2013). Para a Análise do Comportamento, o luto é um fenômeno comportamental universal. Como qualquer outro comportamento, ele é influenciado pela história de vida do sujeito, especialmente no que tange às perdas (inevitáveis) de reforçadores positivos (Skinner, 1993). Outros indivíduos podem fazer parte do ambiente de uma pessoa e ter a função de estímulo reforçador, discriminativo e de operação estabelecedora para reforços sociais ou outros (Hoshino, 2006; Torres, 2010, citado por Nascimento, Nasser, Amorim e Porto, 2017). Por isso, quando uma pessoa querida falece, ocorrem mudanças nas contingências, sendo importante o reajuste comportamental no enlutado para que seja favorecida a adaptação nesse novo ambiente modificado (Nascimento et al., 2017). É comum que nos deparemos com o tema “luto” em diversas formas de entretenimento, como filmes, livros e músicas. Especificamente em filmes, é comum que a morte apareça com mais frequência nos gêneros drama e ação, sendo possível também encontrá-la em animações. O clássico que foi exibido nas telas pela primeira vez em 1994, “Rei Leão”, marcou gerações. A trama mostra as aventuras de um leão jovem com o nome Simba, herdeiro de seu pai, Mufasa. O tio malvado de Simba, Scar, planeja roubar o trono de Mufasa, atraindo o pai e o filho para uma emboscada. Simba consegue escapar e somente seu pai morre. Com a ajuda de seus amigos, Timão e Pumba, Simba reaparece, quando adulto, para recuperar sua terra, que foi roubada por seu tio Scar. Na cena da morte, os gnus debandam porque Scar outrora havia pedido que hienas os assustassem. Fazia parte do seu plano, para que assim ele pudesse chamar Mufasa alegando que Simba estava em perigo. Com a chegada de Mufasa, Scar indica onde Simba 6. O Luto em “O Rei Leão” Emanuela Madeira Silva Millena Schütz Selhorst 36 está e seu pai corre para salvá-lo. Em certo momento, ele desliza e fica prestes a cair de um penhasco e pede ajuda ao irmão. Scar, que havia planejado mata-lo desde o começo, nega ajuda e o deixa cair. Assim, Mufasa morre. Quando a manada de gnus passa por completo, Simba encontra seu pai morto. Em um primeiro momento, Simba tenta chamar pelo pai e sacudi-lo para ver se ainda resta vida. Depois de tentativas sem alguma resposta, ele percebe que o pai está morto e se comove, se aninhando ao lado dele. Com as crianças, o processo do luto pode ser mais difícil que com os adultos, uma vez que seu conhecimento sobre morte, muitas vezes, é bem restrito. Assim, no contexto clínico, a cena da morte de Mufasa pode ser usada como um recurso para trabalhar a morte (o que é, com quem acontece, se é ou não reversível etc), além de ser possível discutir como Simba lidou com ela e se há outras possibilidades de reação, realizando um paralelo com a vida da criança. As cenasem que é possível observar sentimentos de tristeza de Simba ao entrar em contato com as lembranças do pai falecido, podem possibilitar trabalhar com a criança as sensações corporais desagradáveis incontroláveis diante de situações das quais não conseguimos fugir. Esse trabalho pode ser complementado realizando com a criança atividades como desenhar os momentos felizes que ela teve com o falecido e escrever e fazer colagens em um livro de memória com a pessoa, ressignificando esse momento de perda e caminhando para a adaptação. Ademais, é importante que o tema de falecimento seja trazido de modo claro para a criança, a fim de evitar ainda mais sofrimento indesejável. Por exemplo: quando dizemos para a criança que o ente querido que faleceu foi viajar, é possível que a criança fique frustrada e tenha pensamentos como “foi viajar e não me avisou” e que aguarde pela volta. É necessário que sejamos honestos e utilizemos linguagem simples ao falar sobre a morte, para que a criança compreenda a mudança ambiental e que o processo de luto seja feito da melhor maneira possível. Referências do Nascimento, D. C., Nasser, G. M., Amorim, C. A. A., & Porto, T. H. (2017). Luto: uma perspectiva da terapia analítico comportamental. Psicologia Argumento, 33(83), 446 – 458. Han, D. (Produtor) & Allers, R. e Minkoff, R. (Diretores). (1995). O Rei Leão (filme). Burbank: Walt Disney Pictures. Skinner, B. F. (1993). Ciência e Comportamento Humano. Sa o Paulo: Martins Fontes. (Originalmente publicado em 1953). Worden, J. W. (2013). Aconselhamento do Luto e Terapia do Luto (4ª ediça o ed.). São Paulo: Roca. 37 38 Os sentimentos podem ser entendidos de diversas maneiras. Sob uma perspectiva comportamental, os sentimentos podem ser compreendidos como uma ação sensorial, uma manifestação do nosso corpo que ocorre na interação do indivíduo com o seu ambiente, portanto, não são manifestações mentais (Baum, 2018). São eventos que recebem um nome arbitrário, que é aprendido por meio da comunidade social e verbal (pais, professores, amigos etc.) que o indivíduo está inserido (Guilhardi, 2002a). Os sentimentos não causam as ações das pessoas, há eventos ambientais antecedentes que geram as ações e os sentimentos ao mesmo tempo. Sendo assim, para entender os sentimentos, precisa-se compreender toda a interação, isto é, os eventos antecedentes, os comportamentos operantes (ações) e os respondentes (manifestações corporais – sentimentos), logo, os sentimentos se desenvolvem a partir de contingências de reforçamento, alguns de ordem social, outros de ordem não social, como é o caso, da autoconfiança (Skinner, 1995; Guilhardi, 2002a e; Guilhardi 2002b). Para o desenvolvimento dos sentimentos de autoconfiança, é importante que os pais criem condições ambientais adequadas para que seus filhos emitam comportamentos passíveis de reforço, além de permitirem e incentivarem as crianças a explorarem seu ambiente (ordem social). Entretanto, são as consequências naturais do comportamento emitido pela criança (ordem não social) que serão fundamentais para desenvolver os sentimentos de autoconfiança. São sentimentos que surgem das contingências de reforçamento positivo ou negativo e podem estar associados tanto ao bem estar e satisfação, quanto a ansiedade, medo, alívio (Guilhardi, 2002b). A criança que entrou em contato com as consequências reforçadoras produzidos por seus comportamentos tende a tomar mais iniciativas, a resolver mais problemas, a buscar o sucesso, a enfrentar as dificuldades cotidianas, a ser independente dos outros e desenvolver outros sentimentos positivos. Por outro lado, a criança que não raramente entra em contato com reforçadores positivos e mais com estimulações aversivas, geralmente, apresentam comportamentos opostos aos socialmente esperado, como não tomar iniciativa, ter dificuldades em resolver problemas, ter pouca tolerância aos fracassos e frustrações, ser dependente dos outros, sentir medo, ansiedade, insegurança (Guilhardi, 2002a) e falar frases como “eu não consigo”, “sou um fracassado”, “sou um perdedor”. 7. “Smurfs” e a autoconfiança Gabriela Sebastiano Ciriaco 39 Estas falas são autorregras, isto é, regras formuladas pelo próprio individuo, a partir de sua exposição as contingências de reforçamento. Deve-se considerar que as regras são estímulos discriminativos verbais e sociais, que descrevem/especificam contingências e indicam uma relação de reforçamento, ou seja, uma relação entre a atividade e a consequência. Ambas poderão exercer controle no próprio comportamento (dos Reis, da Rocha Teixeira & Paracampo, 2005; Skinner, 1969). As regras e autorregras tem valores adaptativos. Entretanto, se o indivíduo passa a ficar muito sob controle delas, pode ficar insensível às contingências, diminuindo sua variabilidade comportamental ou ainda, fazer descrições que não correspondem às condições reais, podendo gerar sofrimento para a pessoa que emite ou para as pessoas próximas (Albuquerque e Paracampo, 2010; Banaco, 1997; da Silva & de-Farias, 2010). Considerando as implicações do desenvolvimento da autoconfiança e das autorregras na vida de um indivíduo, especialmente na vida de uma criança, e os recursos lúdicos, como filmes e desenhos, sendo ferramentas para os psicólogos clínicos infantis (Batista, 2016), este capítulo busca fazer uma relação entre o que foi exposto com um episódio do desenho “Smurf” (2018), disponível no Youtube, denominado “Um Pouquinho De Confiança Smurf”, proporcionando uma maneira de intervenção clínica. Na cena inicial, os Smurfs estão em uma construção onde cada um leva um pouco de madeira. Porém, Fraco (um Smurf) está cabisbaixo, se sente fraco demais e incapaz. Enquanto está na fila para pegar madeira, ele emite autorregras como: “eu não consigo”, “eu sou muito fraco”, “não vai dar”. Quando chega sua vez, ele consegue pegar apenas um toco de madeira (01:13 – 01:36). Enquanto seus amigos trabalham alegremente, Fraco segue descrente e emitindo suas autorregras e, de repente, cai em um riacho. Seus amigos tentam ajudá-lo, porém, ele diz repetidamente: “eu não consigo, não dá...” e mesmo após ser salvo ele diz: “um perdedor, é isso que eu sou, um fraco, inútil sem força...” e se compara com outras pessoas (01:40 – 03:00). Preocupados, os amigos de Fraco criam um plano para ajudá-lo, porém, não dá certo e eles vão pedir ajuda para o Papai Smurf. Papai Smurf prepara um “creme faz tudo”, que promove uma força mágica para fazer tudo o que quiser, só precisa colocar na ponta do nariz. 40 Desde então, Fraco se sente feliz, corajoso, forte, confiante e consegue ajudar seus amigos em todas as atividades. Sua autoregra agora é: “nós podemos”. Os Smurfs comemoram os novos comportamentos de Fraco, oferencendo reforço social a ele (06:00 – 08:40). Uma tempestade se inicia e começa afetar a construção da ponte. Fraco enfrenta todos os perigos, consegue nadar e salvar seus amigos e ganha um medalha de heroísmo. Ele acredita que tudo só possível graças ao “creme mágico”, até perceber que seu creme foi retirado na chuva e que na verdade era geleia de amora, não havia nenhuma mágica, apenas confiança. Fraco fica muito feliz ao perceber que ele conseguiu fazer tudo sozinho. E agora, sem nenhuma magia, ele saltita feliz dizendo: “eu posso, eu posso, eu posso, posso muito, posso mesmo” e ajuda seus amigos com confiança e feliz da vida (10:04 – até o fim). Ao longo do desenho, é possível identificar quais antecedentes geram as ações e os sentimentos, assim como o desenvolvimento da autoconfiança do Fraco. Por exemplo, os amigos incentivam Fraco a enfrentar suas dificuldades, emitiam regras como “claro que consegue”, “não seja duro consigo mesmo” e até tentaram criar uma situação para que Fraco se comportasse de forma a ser bem sucedido, porém, as condições ambientais não foram adequadas. Em contrapartida, o rearranjo ambiental criado pelo pai Smurf gerou condições mais favoráveis. Essa animação pode ser trabalhada com os pais, considerando que o ambiente familiar é um dos maisimportantes para que a criança aprenda comportamentos adequados ou inadequados. Entretanto, essas condições ambientais podem ser inadequadas ou muito exigentes e, ao invés de alcançar uma consequência positiva, são alcançadas consequências prejudiciais. Além disso, os incentivos mais arbitrários por si só, muitas vezes, não são suficientes para estabelecer sentimento de autoconfiança, visto que esse sentimento depende principalmente de reforçamento natural, o que aconteceu na condição estabelecida pelo papai Smurf. Nota-se também que, antes de Fraco desenvolver sentimentos de autoconfiança, ele também não conseguia tomar inciativas, apresentava dificuldades em resolver problemas, pouca tolerância aos fracassos e frustrações, dependência dos outros, sentimentos de medo, ansiedade e insegurança. Assim, é possível observar que não só o sentimento de autoconfiança, mas também as autorregras são sensíveis e produtos da contingência de reforçamento. 41 As cenas ainda podem ser usadas para realizar um diálogo socrático (Miyazaki, 2004) com a criança ao mesmo tempo que se faz levantamento de estratégias. Por exemplo, selecionar uma cena e perguntar: “o que o Fraco fez?”, “o que aconteceu depois que ele fez isso”?, “o que ele poderia ter feito de diferente?”, “você já passou por algo parecido?”, “o que você fez?”, “o que poderia ter feito como alternativa?”. Portanto, sob a ótica comportamental, o capítulo buscou relacionar os conceitos apresentados, especialmente a autoconfiança, com o episódio “Um Pouquinho De Confiança Smurf”, como uma estratégia lúdica no contexto terapêutico. Deve-se salientar que os exemplos e sugestões descritos aqui não pretendem esgotar as maneiras de abordar o episódio na clínica. Referências Albuquerque, L. C. de, & Paracampo, C. C. P. (2010). Análise do controle por regras. Psicologia USP, 21(2), 253-273. Banaco, R. A. (1997). Auto-regras e patologia comportamental. Sobre comportamento e cognição. Santo André: Arbyters. Baum, W. M. (2018). Compreender o Behaviorismo: Comportamento, Cultura e Evolução. (3a ed.). São Paulo: Artmed Editora. Batista, E. P. (2016). Uma Análise do Comportamento Governado por Regras em Filmes Infantis: possíveis propostas de intervenção na Terapia Analítico-comportamental infantil. (Monografia de Especialização). Instituto Brasiliense de Análise do Comportamento- IBAC, Brasília, DF, Brasil. dos Reis, A. A., da Rocha Teixeira, E., & Paracampo, C. C. P. (2005). Auto-regras como variáveis facilitadoras na emissão de comportamentos autocontrolados: o exemplo do comportamento alimentar. Interação em Psicologia, 9(1). Guilhardi, H. J. (2002a) Auto-estima, autoconfiança e responsabilidade. In Brandão, M. Z. D. S., Conte, F. C. D. S., & Mezzaroba, S. M. B. Comportamento humano: (tudo) ou quase tudo que você gostaria de saber para viver melhor, (pp. 63-98); São Paulo: ESETEC. Guilhardi, H.J. (2002b). Análise comportamental do sentimento de culpa. In A. M.S. Teixeira, M.R.B. Assunção, R.R. Starling & S. dos S. Castanheira (Eds.), Ciência do Comportamento: conhecer e avançar Vol. 1 (pp. 173-200). Santo André: ESETec Miyazaki, M. C. O. S. (2004). Diálogo socrático. In: C. N. Abreu & H. J. Guilhardi (Orgs.), Terapia Comportamental e Cognitivo-comportamental - Práticas clínicas (pp. 311-319). São Paulo: Roca. 42 Skinner, B. F. (1995). O lugar do sentimento na análise do comportamento. AL Néri (Trad.), Questões recentes na análise do comportamento, 13-24. São Paulo: Papirus Skinner, B. F. (1969). Contingências de reforço (R. Moreno, trad.). São Paulo: Abril Cultural. 43 44 Segundo Guilhardi (2002), existe uma diferença entre a criança ser responsável e sentir-se responsável. O sentimento de responsabilidade é um comportamento, dessa forma, não nascemos sabendo nos comportar de forma responsável. Ainda em concordância com Guilhardi (2002), esse sentimento nasce a partir das contingências coercitivas, sendo elas todas contingências que operam em alguma forma de evento aversivo. Então, quando dizemos que uma pessoa é irresponsável, presumimos que, em sua história de vida, as contingências aversivas foram pouco usadas. Segundo Salvador & Weber (2005), as práticas educacionais parentais podem ser divididas em duas partes. A primeira, em práticas parentais não coercitivas, também chamadas de práticas positivas e, a segunda, em práticas parentais coercitivas, também chamadas de práticas negativas. As primeiras utilizam, essencialmente, reforçadores positivos e regras, e as últimas, estímulos aversivos (Bortolini & Andretta, 2017). Ainda que foquemos em contingências mais positivas, as contingências coercitivas estão presentes em nossa vida, mesmo que de maneira natural. Por exemplo, ficar exposto muito tempo no sol e ter queimaduras; colocar o dedo na corrente elétrica e levar choque; entre outros. Sendo assim, é importante que as consequências positivas sejam priorizadas, a fim de que seja sentido prazer ao invés de uma vida difícil, por ser cheia de controles aversivos. Entretanto, incentivar comportamentos responsáveis na vida de uma criança é um desafio para muitos cuidadores. Em sua maioria, as crianças agem de forma responsável apenas na presença de alguma punição para aquele comportamento, por exemplo, se a criança não guardar o brinquedo ela apanha. Isso pode colaborar para que ela não se sinta responsável e não entenda a verdadeira necessidade da responsabilidade, que é desenvolver comportamentos que irão acompanhá-la para o resto da vida e possuem importância e benefícios a longo prazo por produzirem amplos e variados reforçadores positivos. Sendo assim, essa classe de comportamentos que caracteriza a responsabilidade, como arrumar a cama, fazer o dever, guardar os brinquedos, não se mantém nem se expande para outras áreas da vida se não há punição. Esse aspecto torna-se, na maioria das vezes, um problema que é levado como queixa pelos pais para a psicoterapia. 8. “Os Três Porquinhos”: desenvolvendo o repertório de responsabilidade Amanda Taysa de Moura Costa Natália Domingues Pinheiro 45 Dessa forma, foi utilizada a história infantil “Os Três Porquinhos” (em anexo) como recurso terapêutico para queixas relacionadas à falta de responsabilidade infantil. A ideia é que a criança aprenda a importância de desenvolver comportamentos responsáveis e possa sentir-se responsável através dos comportamentos que os porquinhos apresentam. Confira em anexo a história. Com isso, destaca-se alguns pontos relevantes a serem trabalhados com a criança na terapia. Inicialmente, sugere-se que a história seja lida em conjunto com a criança e, quando possível e pertinente ao momento do enredo, pausando a leitura e perguntando o que achou a respeito dos comportamentos dos porquinhos, se foram adequados ou não e se ela faria igual ou de outra maneira para experienciar outras consequências a curto ou a longo prazo. O objetivo, então, é investigar as possibilidades de como o indivíduo se comporta diante de suas obrigações. Em seguida, o terapeuta pode trabalhar com a criança questões relacionadas a responsabilidade, utilizando do desenho como meio para realizar a análise funcional dos comportamentos que caracterizam a responsabilidade. Por exemplo, escolher um comportamento de algum porquinho para desenhar, enfatizando as consequências de tal comportamento, além de desenhar outras possibilidades dos porquinhos se comportarem, para entrarem em contato com outras consequências mais benéficas. Caso o comportamento escolhido seja considerado inadequado, o terapeuta pode sugerir, dar modelos ou dar dicas para que a criança desenhe um porquinho se comportando mais adequadamente para aquela situação, e ainda trabalhar o sentimento de responsabilidade. Também pode-se utilizar o comportamento inadequado do porquinho de construir a casa rápido com materiais menos resistentes com o objetivo de poder brincar logo, investigando com a criança se ela já fez isso em algum momento de sua vida. Por exemplo, fazer algo que ela considera chato (estudar) de qualquer jeitoe rápido só para obter o reforço (brincar), mas depois ter que retornar e fazer de novo, pois ficou mal feito, além de ficar triste, pois todos os coleguinhas acertaram a tarefa e ela não (consequências). Em seguida, apresentar o modelo de um comportamento mais adequado para a situação, como realizar a atividade com empenho levando o tempo necessário para então poder brincar e assim, na 46 hora da correção, ela vai sentir-se orgulhosa, pois fez de forma correta, os responsáveis vão elogiar ao invés de ficar brigando para realizar a atividade, ela não vai ter que refazer toda a tarefa, entre outras coisas. A própria estrutura do tempo da sessão pode funcionar como a intervenção: realizar atividades primeiro que não são as mais desejáveis do momento (mas que são necessárias e importantes de serem feitas) para, ao final da sessão, poder escolher brincar do que quiser. É importante buscar destacar os sentimentos positivos dos comportamentos adequados que forem usados como modelo na sessão, com o intuito de que a criança aprenda a ser responsável não pelo medo das consequências, mas pelos reforços positivos que naturalmente aquele comportamento produz. Questões a respeito da independência da criança também podem ser trabalhadas. Ao fazer alusão à autonomia dos porquinhos, pode-se investigar o que a criança já consegue fazer sozinha, sem o auxílio dos cuidadores. Por exemplo, escovar os dentes, organizar os brinquedos e fazer suas tarefas da escola. Por fim, é importante ressaltar que para desenvolver o repertório comportamental de responsabilidade, precisa-se também trabalhar isso com os pais ou com os cuidadores da criança. Esse trabalho tem como objetivo que eles reforcem os comportamentos adequados da criança ao invés de apenas punir os comportamentos inadequados de forma intensa. Dessa forma, podemos garantir melhores resultados no processo de mudança comportamental durante o processo terapêutico. Ressalta-se também que, ao longo da vida, inevitavelmente, alguns comportamentos serão punidos de forma natural, e não há nenhum problema nisso Guilhardi (2000). Quando a punição é inevitável, existem formas mais brandas de realizar isso. O que se destaca nesta intervenção são algumas condutas mais eficazes para desenvolver comportamentos responsáveis na infância, que não seja apenas através da punição. A finalidade é que a criança não só desenvolva a responsabilidade, mas que também sinta prazer em ser responsável e valorize isso. Com isso, facilmente o comportamento vai se expandir para as mais diversas áreas da vida dela. Referências Blog Historinhas pra dormir (2020, fevereiro 16). Os três porquinhos [Blog]. Recuperado de https://historinhaspradormir.com.br/os-tres-porquinhos/. Bortolini, M., & Andretta, I. (2017). Práticas parentais coercitivas e as repercussões nos problemas de comportamento dos filhos. Psicologia Argumento, 31(73). Guilhardi, H. J. (2000). Punição não é castigo. Terapia por Contingência de Reforçamento. São Paulo 47 https://historinhaspradormir.com.br/os-tres-porquinhos/ Guilhardi, H. J. (2002) Auto-estima, autoconfiança e responsabilidade. In Brandão, M. Z. D. S., Conte, F. C. D. S., & Mezzaroba, S. M. B. Comportamento humano: (tudo) ou quase tudo que você gostaria de saber para viver melhor, (pp. 63- 98); São Paulo: ESETEC. Salvador, A. P. V., & Weber, L. N. D. (2005). Práticas educativas parentais: um estudo comparativo da interação familiar de dois adolescentes distintos. Interação em Psicologia, 9(2), 341-353. Anexo “Era uma vez, uma feliz família de porquinhos que tinha três filhos. Os porquinhos foram crescendo e os pais notavam que estavam muito dependentes. Não ajudavam no trabalho de casa e nem se esforçavam em nada. Então um dia, eles se reuniram e decidiram que os porquinhos, que já estavam bem crescidos, fossem morar sozinhos. Os pais deram um pouco de dinheiro a cada um e alguns bons conselhos. Os três porquinhos partiram para o bosque em busca de um bom lugar para construir, cada um, a sua casa. O primeiro porquinho, que era o mais preguiçoso de todos, foi logo optando por construir uma casa rápida e que não necessitasse muito esforço. E construiu uma casa de palha, embora os seus irmãos lhe tenham dito que não era segura. O segundo porquinho, que era menos preguiçoso que o primeiro, mas que tampouco gostava de trabalhar, construiu uma casa de madeira, porque pensava que era mais prática e resistente. O terceiro porquinho, o mais sensato de todos e mais trabalhador, preferiu construir uma casa de tijolos. Demorou mais para construí-la, mas depois de três dias de intenso trabalho, a casa estava prontinha. Os três porquinhos ouviram falar que um perigoso lobo rondava pelo bosque. E não demorou muito para que aparecesse pelas suas casas, em busca de uma boa carne de porco para comer. O lobo então foi bater na porta da casa do primeiro porquinho. O porquinho, tentando intimidá-lo disse: – Vá embora seu lobo. Aqui você não vai entrar. O lobo insistiu e disse: – Abra logo esta porta ou soprarei e soprarei e a sua casa destruirei. 48 Vendo que o porquinho não abria a porta da casa, o lobo começou a soprar e soprar tão forte que a casa de palha voou pelos ares. O porquinho, desesperado, acabou correndo em direção à casa de madeira do seu irmão. O lobo correu atrás dele, mas não conseguiu alcançá-lo. O lobo então foi bater na porta da casa do segundo porquinho. O porquinho, tentando intimidá-lo disse: – Vá embora seu lobo. Na minha casa de madeira você não vai conseguir entrar. O lobo insistiu e disse: – Abram logo esta porta ou soprarei e soprarei e esta casa destruirei. Vendo que os porquinhos não abriam a porta da casa, o lobo começou a soprar e soprar tão forte que a casa de madeira caiu e ficou em pedaços. Os porquinhos, desesperados, acabaram correndo em direção à casa de tijolo e cimento do outro irmão. O lobo correu atrás deles, mas não conseguiu alcançá-los. O lobo então foi bater na porta da casa do terceiro porquinho. Os porquinhos tentando intimidá-lo cantaram: Quem tem medo do lobo mau Lobo mau, lobo mau?! Quem tem medo do lobo mau?! Ele é um cara legal! O lobo ficava cada vez mais furioso e gritou: – Abram a porta, já!!! E os porquinhos responderam: – Vá embora seu lobo. Você não conseguirá derrubar esta casa porque está feita com tijolo e cimento. O lobo insistiu e disse: – Abram logo esta porta ou soprarei e soprarei e esta casa destruirei. Vendo que os porquinhos não abriam a porta da casa, o lobo começou a soprar, soprar, soprar, e a casa continuava inteira no seu lugar. O lobo ficou tão cansado que acabou sentando-se ao pé da porta para descansar. Enquanto isso, pensou e pensou em como entrar na casa e teve uma ideia. 49 Foi buscar uma escada para subir ao telhado da casa e entrar na casa pela chaminé. Os porquinhos, vendo o que tramava o lobo, reagiram logo. Puseram a ferver um balde enorme de água, e o colocou no final da chaminé e esperaram. Quando o lobo entrou na chaminé, caiu bem dentro do balde cheio de água fervendo. – Ui, ui, Uiii!! Gritou o lobo, saindo correndo ao lago para aliviar as suas queimaduras e assustado, nunca mais voltou a molestar os porquinhos. E quanto aos porquinhos, aprenderam a lição de que tudo o que é feito com esforço tem melhor resultado. Os três porquinhos decidiram morar juntos e todos viveram felizes e harmonia. Fim!” 50 51 O termo “habilidades sociais” refere-se a diferentes comportamentos sociais que contribuem para a qualidade das relações com outras pessoas, sendo necessário que o indivíduo se articule em função das demandas interpessoais, do contexto e da cultura, o que culmina em consequências positivas para si e sua relação com os demais. A partir da análise dos principais desafios interpessoais encontrados na infância, foi proposto um sistema composto por sete habilidades sociais importantes para crianças, são elas: a) autocontrole e expressividade emocional; b) civilidade; c) empatia; d) assertividade; e) fazer amizades; f) solução de problemas e g)habilidades sociais acadêmicas (Del Prette & Del Prette, 2005). Habilidades que facilitam e propiciam comunicação interpessoal e vivência comunitária são importantes fatores no curso do desenvolvimento humano. Um repertório de comportamentos habilidosos socialmente é relevante para que a criança lide com os desafios e demandas do processo de desenvolvimento, contribuindo para a construção de relações agradáveis com adultos e com outras crianças. Avaliar o repertório de habilidades sociais de crianças pode oferecer indícios sobre o ambiente em que ela se desenvolve e também contribuir com o direcionamento da atuação do profissional (Del Prette & Del Prette, 2005; Valle & Garnica, 2009). Comportamentos como tolerar frustração, seguir regras, aguardar a vez de falar, expressar sentimentos, fazer pedidos, são importantes de serem ensinados às crianças. Nesse sentido, recursos lúdicos são ferramentas úteis para trabalhar demandas de habilidades sociais na clínica infantil, considerando o caráter facilitador da imaginação, da criatividade e do relacionamento interpessoal (Lima & Bernardi, s.d.; Gadelha & Menezes, 2004; Del Prette & Del Prette, 2005), como é o caso da história “A mamãe é minha! Toda minha!”. No livro “A mamãe é minha! Toda minha!”, Elisa Burin Cestari Diniz Cabral (2013) conta a história de Mariana, uma criança que demanda atenção constante da mãe, se irrita quando a mãe dá atenção a outras pessoas e, por isso, interrompe suas interações com outros. Diante desse comportamento, a mãe decide atender aos pedidos de Mariana e se dedicar integralmente a brincar com a menina. Desta forma, a mãe não tinha mais tempo para executar as tarefas de casa, como ir ao mercado e cozinhar. Além disso, a mãe também começou a se comportar da mesma forma que Mariana havia se comportado, pedindo atenção constante, servindo de obstáculo para que a menina assistisse televisão e brincasse com sua amiguinha. Assim, Mariana sugere que sua mãe convide sua avó para lhe fazer companhia de modo que ambas pudessem ter um tempo para fazer outras coisas com outras pessoas também. 9. Habilidades Sociais no livro “A mamãe é minha! Toda minha!” Carolina Cristelli Costa 52 O livro nos permite trabalhar com a criança cada parte da história, pausando a leitura para discutir, por exemplo, sobre o que ela acha do comportamento de Mariana, como ela age em situações semelhantes no seu dia a dia e como agiria se fosse a criança, em quais momentos do dia seus cuidadores não podem lhe dar atenção e quais podem, como ela se sente quando não recebe atenção e como pode lidar com esse sentimento, o que seus pais costumam fazer quando ela solicita atenção em um momento inadequado, entre outros. Dessa maneira, com este material, é possível explorarmos com a criança a relação dela com seus pais no que tange ao tempo de qualidade entre eles (por exemplo, se em algum momento do dia fazem atividades juntos e se em algum momento é dada atenção exclusiva à criança). Em complemento, é possível trabalhar junto com a criança em possibilidades de autoexpressão de forma mais assertiva acerca de seu desejo de brincar ou passar mais tempo com os seus pais. Além disso, é interessante conversar com a criança como a mãe de Mariana não a amava menos porque não podia brincar com a filha o tempo todo ou tinha que dar atenção a outras pessoas. Assim, é possível trabalhar o estabelecimento de limites, levar em consideração o outro e mostrar que negociações podem ser feitas para que ninguém fique chateado. Junto a isso, há oportunidade para o treino de autoexpressão, autoexposição e autonomia em brincar sozinha ou com outros coleguinhas da escola ou do bairro. Portanto, a história de Mariana pode funcionar como um recurso terapêutico interessante para trabalhar algumas habilidades sociais importantes na infância, especialmente no que tange ao autocontrole, à expressividade emocional, à empatia, à assertividade e à solução de problemas. Referências Cabral, E. B. C. D. (2013). A mamãe é minha! Toda minha!. Recuperado de: https://www.goodreads.com/book/show/19324788-a-mam-e-minha-toda-minha Del Prette, Z. A. P., & Del Prette, A. (2005). Psicologia das habilidades sociais na infância: teoria e prática. (6 ed.) Petrópolis: Vozes. Gadelha, Y. A., & Menezes, I. N. (2004). Estratégias lúdicas na relação terapêutica com crianças na terapia comportamental. Universitas: Ciências da Saúde, 2 (1), 57 – 68. Valle, T. G. M., & Garnica, K. R. H. (2009). Avaliação e treinamento de habilidades sociais de crianças em idade pré-escolar. (Dissertação de Mestrado). In T.G.M. Valle (Org.), Aprendizagem e desenvolvimento humano: avaliações e intervenções (Cap. 3, pp. 50 - 75). São Paulo: Cultura Acadêmica. Lima, J. H. C. A. & Bernardi, A. B. (2015). O brincar como um recurso terapêutico para crianças em saúde mental (Especialização). Universidade para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí (UNIDAVI), Rio do Sul, Santa Catarina, Brasil. 53 https://www.goodreads.com/book/show/19324788-a-mam-e-minha-toda-minha 54 No presente capítulo, vamos abordar estratégias para trabalhar comportamentos de competição entre crianças, bem como dificuldade de trabalhar em equipe. Para isto é necessário o desenvolvimento de comportamentos de cooperação, chamados pró-sociais. Esses comportamentos são elementares para um bom desempenho social, acadêmico e profissional, visto que nós, humanos, estamos em constante convivência coletiva. A cooperação é estudada pela perspectiva do desenvolvimento humano pelos autores Tomasello, Melis, Tennie, Wyman e Herrman (2012, apud Suarez; Nascimento; Benvenuti, 2018), que criaram uma hipótese sobre a ontogênese da cooperação, que engloba o desenvolvimento de comportamentos de caráter humano com aspectos evolutivos relacionados a comportamentos de cooperação ou pró-sociais. Essa hipótese sugere que a evolução do homem favoreceu a cooperação de modo que ações coletivas passaram a ser mais vantajosas do que as ações individuais para sobrevivência da espécie. Comportamentos pró-sociais são aqueles que apresentam ações socialmente consideradas positivas e que corroboram o bem-estar de outras pessoas, enquanto comportamentos antissociais são aqueles voltados para ações consideradas negativas, como, por exemplo, o egoísmo e a competição (Palmieri; Branco, 2004). Contudo, segundo Matsumoto & Campos (2008), a relação entre membros de uma mesma comunidade verbal permite a troca de informações, apoio e recursos, além de possibilitar um incentivo para que o indivíduo aja em busca de resultados para além de suas habilidades, inclusive podendo ampliar seu repertório comportamental. Para trabalhar a demanda de competitividade na clínica, é possível utilizarmos o filme “Bee Movie – A História de uma Abelha”, de 2007. Como um todo, o convívio das abelhas na colmeia é útil para ilustrar a importância do trabalho em equipe e cooperação entre os membros. Dessa forma, há uma pequena cena que podemos usar durante o atendimento para ilustrar à criança o tamanho valor desse comportamento. O filme conta a história de Barry B. Benson, uma abelha que acaba de se formar na faculdade e se sente decepcionado com a perspectiva de ter apenas uma escolha de carreira: fabricar mel. Um dia, Barry sai da colmeia onde vivia, mas um humano tenta matá-lo e sua vida é salva por uma florista muito gentil, Vanessa, e se tornam amigos. 10. Desenvolvendo repertório de cooperação com o filme “Bee Movie” Laressa Karoline Teixeira Morais Thalita Campos Albernaz 55 Barry passa a observar o mundo dos humanos e descobre que as pessoas consomem o mel que as abelhas batalham para fabricar. Diante disso, decide processar a humanidade e aqueles que exploram abelhas em fazendas, e, então, Barry se dá conta de sua verdadeira vocação, a advocacia. As abelhas vencem o julgamento e param de produzir mel, já que agora todo o mel do mundo pertence a elas por direito. Ao pararem de trabalhar, as abelhas deixam também de efetuar um dos mais vitais processos da natureza: a polinização das plantas,
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