Buscar

A DIALÉTICA MARXISTA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Continue navegando


Prévia do material em texto

A DIALÉTICA MARXISTA: UMA LEITURA EPISTEMOLÓGICA
A DIALÉTICA MARXISTA: UMA LEITURA EPISTEMOLÓGICA
DENNIS DE OLIVEIRA SANTOS
Pode-se pensar em traçar uma epistemologia do amplo e completo método que é o materialismo histórico desenvolvido por Karl Marx? Existem algumas pistas que podem ser de extrema utilidade para a compreensão epistemológica do método dialético ou método de exposição de Marx, encontradas na obra O Capital. O universo da pesquisa é o capitalismo inglês do século passado. O ponto de partida da investigação teórica é a Mercadoria
O método tem analogias com o método de proceder do biologista, do anatomista, do físico, onde a sociedade se assemelha a um organismo e a mercadoria equivale a uma célula. O físico observa os processos da Natureza quando se manifestam na forma mais característica e estão mais livres de influência perturbadoras
Porém, é evidente que Marx não identificou os seus procedimentos teóricos semelhantes as do físico ou biólogo. O que faz é possuir uma perspectiva totalizadora em que a sociedade burguesa é compreendida como um sistema social sujeito a transformações, sujeito a ser superado.
Temos de considerar a sociedade como uma totalidade tal como a totalidade orgânica, dotada de leis estruturais, especificidade e solidariedade funcional. A sociedade é pensada como totalidade dotada de história, nasce e caduca como os seres vivos, não é imutável, sofre transformações.
Pela segunda analogia temos a razão pela qual o capitalismo da Inglaterra foi tomado como universo de pesquisa. Comparada com a inglesa, é precária a estatística social da Alemanha e dos demais países da Europa Ocidental.
É evidente que Marx, como Durkheim, não identificou os seus procedimentos com os do físico e do biologista. Embora o capitalismo inglês seja considerado um caso exemplar do regime de produção capitalista, o objetivo da obra transcende os limites do próprio universo de pesquisa. Trata-se de compreender teoricamente o que é o capital e não o capitalismo inglês.
Neste contexto de constante pesquisa sobre o momento histórico inglês, surge o seu método de investigação de ordem empírica, instante que se valoriza a coleta de dados, a classificação destas e seus conjuntos de técnicas e procedimentos vistos de um ponto de verificação analítica.
O método de pesquisa precede o método de exposição. Método este que consiste em efetuar a construção racional e teórica da realidade pesquisada, que só é efetivada após a pesquisa empírica.
Marx escolheu a Inglaterra porque nela o levantamento estatístico a respeito da situação dos trabalhadores nas fábricas era menos precário que na Alemanha e demais países da Europa Ocidental. O método de exposição é a reconstrução racional e teórica da realidade pesquisada. Por resultante, o pensador alemão concebe três definições de mercadoria.
A primeira vista, a mercadoria nos aparece como "um objeto externo que, por suas propriedades, satisfaz necessidades humanas". Ou seja, a mercadoria é por nós representada como um objeto útil. Em termos teóricos ela é definida como um valor-de-uso. Enquanto valor-de-uso ela é reconhecida, de modo imediato, pelos nossos sentidos, pelas suas propriedades materiais específicas e particulares. Na sociedade burguesa capitalista, os valores-de-uso são bens que compramos ou vendemos, ou seja, são valores de troca.
Na segunda definição o autor nega a verdade da primeira definição, ela é correta de um ponto de vista pragmático, mas não reflita a essência da mercadoria. Esta definição não seria possível sem o processo da abstração: "valor" é uma propriedade concreta, mas impalpável aos sentidos, de toda e qualquer mercadoria. O valor-de-uso, ao contrário, é constituído por múltiplas propriedades materiais, concretas e empíricas. Isso quer dizer que a segunda definição revela a essência contraditória do ser da mercadoria.
A terceira definição "O fetichismo da mercadoria: o seu segredo", causa complexidade: Marx discorre sobre a mercadoria de maneira antropomórfica, como se ela tivesse pés, mãos, cabeça, idéias, iniciativa. Em outra palavras, como objeto misterioso e fantasmagórico. Esta definição completa um círculo dialético que tomou a mercadoria como ponto de partida e ponto chegada
Não é, pois, a mercadoria que está a serviço de nossas necessidades e sim, as nossas necessidades é que estão submetidas, controladas e manipuladas pela vontade e inteligência do universo das mercadorias. A trivialidade da mercadoria é uma falsa trivialidade que esconde o seu caráter misterioso, a utilidade da mercadoria é uma falsa utilidade na medida em que as nossas necessidades é que são por ela utilizadas.
O método de exposição não reproduziu racionalmente a realidade concreta na sua positividade imediata. O concreto-pensado pelo método da exposição é exatamente o contrário do concreto tal como é vivido e representado por nós.
Não há equivalência entre o ponto de partida e o ponto de chegada, mesmo que o objeto seja único, a mercadoria. Os dados empíricos, por mais rigorosamente que sejam coletados, permanecem presos às ilusões e inversões ideológicas das representações imediatas dos objetos sociais. O objetivo da obra "O Capital" é saber o que é o capital em geral, o capital é definido como valor em progressão ou valor que gera mais valor.