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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ 
CAMPUS DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, EDUCAÇÃO E LETRAS – CCHEL 
 
 
 
 
CAMILA CALGAROTTO SOARES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A INFLUÊNCIA DOS CONCEITOS DA CONTRACULTURA NA OBRA 
DISCOGRÁFICA DE RAUL SEIXAS - (1970-1989) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Marechal Cândido Rondon 
2017 
 
 
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ 
CAMPUS DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, EDUCAÇÃO E LETRAS – CCHEL 
 
 
 
CAMILA CALGAROTTO SOARES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A INFLUÊNCIA DOS CONCEITOS DA CONTRACULTURA NA OBRA 
DISCOGRÁFICA DE RAUL SEIXAS - (1970-1989) 
 
 
 
 
Trabalho de conclusão de curso apresentado 
ao curso de História, da Universidade 
Estadual do Oeste do Paraná como requisito 
parcial à obtenção do título de licenciatura em 
História. 
 
Orientador: Prof. Dr. Danilo Ferreira Fonseca 
 
 
 
Marechal Cândido Rondon 
2017 
 
 
RESUMO 
 
 A presente pesquisa visa analisar a obra do compositor e cantor baiano 
Raul Seixas atentando para a influência do movimento contracultural da década 
de 1960 nas suas músicas. Para tanto, será feita uma análise de algumas 
canções dentro do período de 1970 à 1989, levando em consideração o momento 
histórico vivido pelo cantor e também a incorporação e ressignificação da 
contracultura em suas músicas, buscando através desse ideal dar sentido a uma 
nova sociedade, ou seja, uma sociedade alternativa. 
 
Palavras-chaves: Raul Seixas, contracultura, rock, jovens e música. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
 
1. Introdução ...........................................................................................................4 
2. Capitulo I - Raul Seixas e a sua conturbada realidade social ...........................12 
3. Capitulo II - Raul Seixas do Ouro de Tolo ao Cowboy fora da lei......................29 
4. Conclusão .........................................................................................................48 
5. Referências Bibliográficas ................................................................................52 
6. Fontes ...............................................................................................................54 
4 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
 
A presente pesquisa visa analisar o pensamento da contracultura nas 
canções do cantor e compositor Raul Seixas, partindo da década de 1970, 
quando ele começa a aparecer no cenário musical brasileiro, até 1989, ano de 
sua morte. Este é o período auge da carreira de Raul Seixas, e, também é o 
momento no qual o cantor passa a compor e cantar músicas que buscam passar 
uma mensagem da sua visão de sociedade e das coisas, a partir da influência de 
outros artistas engajados no movimento da contracultura. 
 Analisando o cenário musical nacional do momento, vemos que Raul 
Seixas não se enquadra com nenhum dos movimentos musicais do período, 
deste modo, busco compreender a questão da contracultura e como esse 
pensamento foi utilizado pelo cantor em suas canções. Sendo assim, tenho em 
mente que a contracultura foi um movimento que contou com a grande atuação 
dos jovens e que envolveu várias formas de movimentações, entre elas, a mais 
atuante foi a música, principalmente o estilo musical conhecido como rock. 
 O termo contracultura começa a ser divulgado pela mídia norte-americana 
na década de 1960, o qual primeiramente é caracterizado pelas roupas coloridas, 
cabelos compridos, drogas, um tipo de música e assim por diante. Mas, na 
medida em que o movimento começa a ter mais espaço, também começa a ficar 
claro que, essas características seriam superficiais, pois a contracultura 
desenvolveu uma nova ideologia com regras, valores e limites próprios. Deste 
modo, de acordo com Pereira: 
 
Começavam a se delinear, assim, os contornos de um movimento 
social de caráter fortemente libertário, com enorme apelo junto a 
uma juventude de camadas médias urbanas e com a prática de 
um ideário que colocaram em xeque, frontalmente, alguns valores 
centrais da cultura ocidental, especialmente certos aspectos 
essenciais da racionalidade veiculada e privilegiada por esta 
mesma cultura.1 
 
1PEREIRA, Carlos Alberto Messeder. O que é contracultura. 4 ed. São Paulo, Brasiliense, 1986. 
p. 08. 
5 
 
 
 Podemos compreender que, inicialmente, uma pessoa que fosse adepta da 
contracultura era reconhecida, principalmente, pela opção de se vestir e 
comportamento, entretanto aos poucos fica claro que esse movimento significou 
muito mais que isso. Nesta perspectiva, a contracultura conseguiu se afirmar no 
sistema social, cultural e econômico da época, como um movimento catalisador 
de uma grande parte da população que estava excluída do modelo de sociedade 
pré-estabelecido, além de proporcionar a esse grupo um espaço para 
questionamentos tanto na sociedade estadunidense quanto na europeia, 
inicialmente, e para países considerados subdesenvolvidos. Para além disso, 
criou um estilo de vida e uma cultura underground, que foge do modismo, do 
padrão e do normal, os quais eram estipulados para a sociedade da época. 
 Apesar de todo esse alarde sobre o movimento da contracultura que 
ocorreu nos anos de 1960, esse ideário já aparecia nos Estados Unidos desde 
1950. Nesse período, uma das expressões da contracultura ficou conhecida como 
a beat generation, que era formada por poetas norte-americanos, que ficaram 
conhecidos pelo poema Howl de Allen Ginsberg (1956). Em uma tradução livre 
esse poema pode ser chamado de uivo ou berro. 
É nesta época que também surge o rock and roll, que fica conhecido e 
sintetizado na figura de Elvis Presley, o qual era capaz de reunir um grande 
número de jovens em seus shows. Neste momento, passa a ser impossível 
separar esse estilo de música (ou a arte) e o comportamento. Deste modo, surge 
a chamada juventude transviada ou os rebeldes sem causa, os quais apavoravam 
toda uma sociedade. A partir daí a oposição jovem/não-jovem começa a se fazer 
necessária para se compreender determinados movimentos sociais2. 
 Mesmo com a geração dos poetas americanos e com o rock and roll dos 
anos 1950, é em 1960 que o movimento da contracultura ganha força máxima, 
isto é, com o surgimento dos Beatles e de Bob Dylan, que, através das suas 
músicas, reuniam grande número de jovens em seus concertos e festivais de 
rock. 
 
2 Ibid. p. 10. 
6 
 
Dentre esses festivais, talvez um dos mais conhecidos no mundo seja o de 
Woodstock, em 1969. Para além dessa movimentação na música, há também o 
movimento hippie, que tinha suas comunidades e passeatas pela paz. E em 
última instância, e, não menos importante, estão os levantes nos campi 
universitários que terão seu apogeu com o “Maio de 68”, na França. A partir deste 
período, seria difícil ignorar a contracultura como forma de contestação radical. 
 Essa juventude que bebia das idéias da contracultura em 1960, queria por 
meio desse conjunto de ideais e comportamentos sair do modismo da época. 
Para tanto, tentavam criar um mundo alternativo, underground. Deste modo, 
queriam romper com a grande maioria dos hábitos consagrados pelo pensamento 
e comportamento da cultura dominante. 
Podemos pensar que essas manifestações eram feitas por uma camada 
excluída dos privilégios dessa cultura dominante ou até por aqueles que estavam 
inseridos nessa. Mas,na verdade, essa era uma manifestação proposta pelos 
jovens que tinham acesso a essa cultura e a seus privilégios, e os negavam, 
rejeitando os valores estabelecidos e o pensamento que prevalecia nas 
sociedades ocidentais. 
 De modo mais geral, podemos entender por contracultura duas coisas que 
são diferentes, mas ligadas entre si. Primeiramente, podemos usar o termo 
contracultura para definir os movimentos de rebelião da juventude que marcaram 
os anos de 1960, exemplo, o movimento hippie, a música rock, as agitações nas 
universidades e aí por diante. Tudo isso regado por um forte espírito de 
contestação e insatisfação. Sendo assim, podemos entender por contracultura 
todo um conjunto de ideais culturais, sociais e políticos que vão ao sentido oposto 
daquele utilizado e difundido pela parcela dominante da sociedade. Mas, também 
pode ser compreendido como alguma coisa mais geral, mais abstrata, como um 
modo de contestação a uma ordem vigente, tendo um caráter radical e estranho 
às forças mais tradicionais de oposição a esta mesma3. 
Esses ideais acabaram por ser sintetizados na figura do jovem que mesmo 
fazendo parte integrante dessa sociedade pré-estabelecida, lutou contra a mesma 
 
3Ibid. p. 20. 
7 
 
das mais diversas formas, utilizando-se de todos os recursos possíveis para se 
fazer notar diante de uma sociedade modista. 
 Durante a pesquisa para compor esta monografia, tive acesso a um 
trabalho de conclusão de curso realizado pela aluna Simone Tatiana Pedron4, 
intitulado “ Contracultura e religiosidade na obra de Raul Seixas”, na Universidade 
Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), sediada em Marechal Cândido 
Rondon. Neste trabalho, a autora tratou de duas questões que serão de grande 
importância para a minha pesquisa, isto é, ela trabalhou com o cantor e 
compositor Raul Seixas e com o movimento da contracultura. Em seu trabalho, 
contudo, o enfoque foi dado à questão de como Raul Seixas utiliza a ideologia 
religiosa e mística presente no movimento da contracultura em suas músicas, 
sendo assim, ela utiliza a ligação de Raul Seixas ao ocultismo e misticismo para 
analisar como esse lado religioso do cantor é explorado em suas canções, 
sempre buscando enfatizar a ligação desse aspecto com relação à contracultura. 
É neste ponto que nossas propostas de análise divergem. Se no trabalho 
citado acima, o principal objetivo foi compreender o aspecto religioso e místico da 
contracultura presente nas canções de Raul Seixas, na atual pesquisa quero 
analisar como essa ideologia contracultural fez com que esse cantor passasse a 
analisar os problemas sociais. Isto se faz presente tanto no social, cultural e 
político, da época por uma ótica diferente daquela empregada pelos outros 
movimentos musicais do período. Deste modo, quero analisar como um cantor 
que, no início da carreira, fica à margem no cenário musical brasileiro e que, a 
partir da década de 1970, passa a fazer música seguindo os moldes da indústria 
fonográfica e, consequentemente, a ter grande sucesso nacional, cantando 
músicas que passavam a mensagem de uma sociedade alternativa, a qual era um 
dos principais objetivos da contracultura. Para tanto, tenho como norte de análise 
a incorporação do pensamento da contracultura nas canções de Raul Seixas 
durante o período de 1970 a 1989. 
O interesse, em pesquisar tal assunto, surgiu da questão de querer 
trabalhar com algo relacionado à música e também por gostar das canções do 
 
4PEDRON, Simone Tatiana. Contracultura e religiosidade na obra de Raul Seixas. Marechal 
Cândido Rondon, 2002. Trabalho de Conclusão de Curso em História. UNIOESTE. 
 
8 
 
cantor Raul Seixas. Porém, este interesse pelo cantor foi uma coisa instigada 
pelas reportagens e matérias televisionadas que contavam a trajetória do mesmo 
como uma pessoa que nasceu na Bahia e com uma atitude agressiva e, digamos, 
até futurista, conquista o cenário musical brasileiro e também o gosto do público. 
Entretanto, o que mais chama a atenção na história de Raul Seixas é que 
ele buscou fazer a sua música, procurando deixar a sua mensagem, a sua visão 
do mundo e das coisas, por meio da canção. Acredito que este seja um dos 
motivos para que mesmo hoje, após anos de sua morte, tanto o cantor como as 
canções sejam lembradas e cantadas pelos mais jovens. 
 A delimitação do período da pesquisa se deu através das leituras 
bibliográficas e historiográficas que já fiz com relação a Raul Seixas, deste modo, 
começarei pelo ano de 1970, pois é a partir deste momento, que o cantor começa 
a se conscientizar sobre fazer uma música dentro dos moldes da indústria 
cultural, sem deixar de passar a sua mensagem, apenas, se alia a ela. E 
analisarei até o ano de 1989, período no qual Raul Seixas produz seu último 
álbum e também é o ano de seu falecimento. 
Deste modo, quero compreender como Raul, no período de maior sucesso 
de sua carreira utiliza elementos do pensamento da contracultura para passar a 
sua mensagem sobre a sociedade e conseguir um grande número de fãs que 
mesmo após vinte e sete anos de sua morte ainda continuam a lembrá-lo. Pois, 
quem nunca escutou um sujeito no bar pedir ao cantor para tocar uma música do 
Raul Seixas. 
A principal fonte a ser trabalhada na pesquisa, serão as canções de Raul 
Seixas. As quais vão ser selecionadas, partindo do ponto de vista da influência do 
pensamento contracultural, presente em tais músicas, tendo como base minha 
principal proposta, que é compreender a produção fonográfica de Raul Seixas a 
partir deste viés. Essa seleção teve como requisito, para a escolha de uma de 
suas músicas, a questão da contracultura, e se, ela se enquadra dentro do 
proposto para a discussão e desenvolvimento da escrita do trabalho. 
9 
 
Deste modo, começarei a análise pela canção Ouro de Tolo5, foi a primeira 
música lançada por Raul Seixas que fez sucesso nacionalmente. Ela é concebida 
em 1973, momento no qual o país passava pelo chamado milagre econômico, o 
qual, dava a sociedade da época uma relativa liberdade de aquisição de bens de 
consumo duráveis como carros e casas de praia, além da possibilidade de 
comprarem produtos de consumo não duráveis como roupas, adereços para 
decoração de ambientes e outros. Essa música vem de encontro a essa 
realidade, com uma forte crítica sobre as questões de consumo excessivo, de 
comodismo e também busca instigar em seus ouvintes uma nova perspectiva de 
visão da própria condição do indivíduo enquanto agente social. 
Na sequência irei trabalhar com a canção Sociedade Alternativa6, a qual é 
lançada em 1974, porém sua composição começa muitos anos antes, quando 
Raul Seixas busca desenvolver os parâmetros da dita sociedade alternativa, que 
pretendia por meio de um preceito básico, colocado pela contracultura, a criação 
de uma sociedade diferente da qual os jovens da época estavam inseridos, desta 
forma, culminando com o lançamento da música, que veio a se tornar um hino 
entre os adeptos dessa sociedade. Nesta canção, vemos exprimida todo o ideário 
de liberdade buscado pelos jovens envolvidos no movimento da contracultura, 
com relação ao Brasil, além de expressar os próprios anseios do cantor quanto a 
criação de uma sociedade a onde fosse tudo da lei. 
A última música com a qual irei trabalhar é a Cowboy fora da lei7, ela foi 
lançada em 1987, ano em que o país estava em grande agitação social, devido ao 
fim do milagre econômico e também as movimentações sociais que começam a 
emergir de forma lenta dentro da sociedade brasileira, digo que foram lentas 
devido ao período da ditadura militar, a qual aindatinha grande poder dentro da 
mesma. Através desta música, Raul Seixas, manda uma mensagem de incentivo 
aos jovens, isto é, ele busca por meio de trocadilhos, passar uma mensagem de 
que ainda é importante lutar, por seus objetivos, mesmo que eles pareçam 
 
5 SEIXAS, Raul. Ouro de Tolo. LP Krig-Há, Bandolo! PHILIPS RECORDS, 1973. 
6 COELHO, Paulo; SEIXAS, Raul. Sociedade Alternativa. LP Gita. PHILIPS/UNIVERSAL MUSIC, 
1974. 
7 ROBERTO, Cláudio; SEIXAS, Raul. Cowboy fora da lei LP Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Beim-Bum! 
COPACABANA, 1987. 
10 
 
distantes ou que esses jovens acabassem sendo engolidos por um sistema 
opressor. 
 O cantor e compositor Raul Seixas é um dos artistas que surgiram entre as 
décadas de 1970 e 1980, o qual ainda tem grande aclamação dentro do cenário 
musical brasileiro, mesmo após a sua morte. Como exemplo, há alguns 
programas voltados para o entretenimento, como o intitulado Por toda minha 
vida8, que buscam contar a trajetória desta figura emblemática da música 
brasileira, fazendo com que este seja lembrado e que suas canções não sejam 
esquecidas. 
Para além desses programas, há também o Raul Rock Club/Raul Seixas 
Oficial Fã-Clube9, o mais antigo fã clube do cantor, que reine um acervo sobre a 
vida e obra do mesmo. E ainda terei como base o trabalho desenvolvido pela 
pesquisadora Juliana Abonízio10, no qual ela analisa a criação do mito em torno 
de Raul Seixas. 
 Além de trabalhar com Juliana Abonízio, uma das principais pesquisadoras 
da obra de Raul Seixas, também quero trabalhar com a questão das 
representações, presentes nas canções de Raul. Para tanto, irei partir da 
concepção de representação do historiador francês Roger Chartier. Deste modo, 
entendo por representação 
 
[...] esquemas intelectuais, que criam as figuras graças às quais o 
presente pode adquirir sentido, o outro tornar-se inteligível e o 
espaço ser decifrado.11 
 
 Partindo desta citação, as músicas de Raul Seixas passam a mensagem 
de um presente vivido e entendido pelo cantor, que, através de suas canções cria 
a representação desse, utilizando-se de suas próprias experiências. Sendo assim, 
quando Chartier fala que o espaço pode ser decifrado, podemos pensar esse ser 
 
8 Programa feito pela Rede Globo de Televisão, o qual tem como objetivo expor a vida e obra de 
grandes nomes da música brasileira. 
9RAUL Rock Club/Raul Seixas Oficial Fã-Clube. Disponível em 
<https://raulsseixas.wordpress.com/>. Acesso em 20 dez. 2016. 
10 ABONIZIO, Juliana. O protesto dos inconscientes: Raul Seixas e a micropolítica. Cuiabá: 
ECCO UFMT, 2008. 
11CHARTIER, Roger. A História Cultural: Entre práticas e representações. Tradução Maria 
Manuela Galhardo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1990. 17. 
11 
 
na obra de Raul Seixas como as novas alternativas que o cantor propõe nas 
letras de suas músicas. Pois, em suas canções, Raul Seixas tenta criar uma 
possível representação de uma sociedade, partindo da sua própria experiência, e 
também de leituras de livros de ficção científica. Relaciona o vivido com a 
fantasia, para então, criar uma representação de uma sociedade alternativa. 
 Tendo como base esses apontamentos, no de correr do trabalho, tentarei 
mostrar como o cantor/compositor Raul Seixas busca se expor para o mundo, não 
como apenas mais um na multidão. Pelo contrário, ele é um sujeito ativo de seu 
próprio processo histórico, sempre usando a música como um meio para um 
objetivo maior, o de libertação de uma geração jovem, que acaba deixando-se 
cegar pelo bombardeio maciço de uma indústria cultural e de consumo que lhes 
usurpava uma das principais características dos jovens dos anos 70/80, que era, 
a contestação incessante de sua conveniente realidade social. Sendo assim, 
utilizarei uma das melhores fontes para se analisar a história musical e de 
vivência de Raul Seixas, ou seja, sua própria música. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
2. CAPÍTULO I - RAUL SEIXAS E A SUA CONTURBADA REALIDADE SOCIAL 
 
 
 Para entendermos a obra do compositor/cantor Raul Seixas, 
primeiramente, temos que entender outros aspectos que foram fundamentais para 
a divulgação do seu trabalho em um nível nacional e temporal, já que seu legado 
é partilhado até hoje pelos seus fãs. Partindo desse ponto, neste primeiro capítulo 
pretendo esboçar sobre o papel da indústria cultural, da contracultura aliada ao 
levante do maio de 1968, quando os jovens se fazem notar dentro da sociedade e 
também do rock brasileiro das décadas de 1970 e 1980, que foram as portas de 
entradas para Raul Seixas expressar suas ideias. 
 Devemos compreender que o termo indústria cultural é deveras complexo, 
pois superficialmente, podemos entender este como uma denominação, para uma 
produção que é feita em larga escala e para uma população também em larga 
escala. Porém, é mais que isso. Para entendermos melhor o termo indústria 
cultural é necessário compreendermos primeiro a relação dessa com os “meios 
de comunicação de massa” e com a “cultura de massa”. 
A primeira vista, podemos subjugar os dois como sinônimos, entretanto isto 
não é assim. Para que a cultura de massa exista, se faz necessária a existência 
dos meios de comunicação de massa, mas a existência desses meios, não faz 
com que necessariamente a cultura de massa exista. Isto porque, inicialmente 
quem tem acesso a esses meios de comunicação móveis são os da elite letrada 
do século XV – quando ocorre a criação dos tipos móveis de imprensa, idealizada 
por Gutemberg12. Nesta perspectiva, a cultura de massa data da criação de 
jornais e principalmente da criação dos folhetins. Os quais eram de amplo acesso 
e também contavam de modo simplificado os dramas da vida da época. 
 Sendo assim, o termo de indústria cultural surge a partir da Revolução 
Industrial do século XVIII, como é colocado pelo autor Teixeira Coelho 
 
Não se poderia, de todo modo, falar em indústria cultural num 
período anterior ao da Revolução Industrial, no século XVIII. Mas 
embora esta Revolução seja uma condição básica para a 
 
12 COELHO, Teixeira. O que é industria cultural? 35 ed. São Paulo, Brasiliense, 1993. p. 05. 
13 
 
existência daquela indústria e daquela cultura, ela não é ainda a 
condição suficiente. É necessário acrescentar a esse quadro a 
existência de uma economia de mercado, isto é, de uma 
economia baseada no consumo de bens; é necessário, enfim, a 
ocorrência de uma sociedade de consumo, só verificada no século 
XIX em sua segunda metade — período em que se registra a 
ocorrência daquele mesmo teatro de revista, da opereta, do 
cartaz.13 
 
 
Quando o autor fala que a Revolução Industrial, pura e simplesmente, não 
é suficiente para se compreender o termo indústria cultural, é porque se faz 
necessário acrescentar a economia de mercado que surgiu através desta, ou 
seja, essa economia gera outra economia, a de consumo de bens. Neste 
momento, começa a surgir uma movimentação no orçamento do trabalhador fabril 
o que faz com que ele invista em bens de consumo não duráveis como roupas, 
calçados e consequentemente em jornais, revistas, folhetins e músicas. Todos 
estes derivados dos meios de comunicação de massa. 
Por este prisma, temos o surgimento de uma sociedade de consumo, 
datada da segunda metade do século XIX. Desta forma, os termos indústria 
cultural, meios de comunicação de massa e cultura de massa surgem como um 
fenômeno da industrialização. 
Partindo deste princípio, estes termos produzem as alterações no modo de 
produção e de trabalhohumano, dessa sociedade, determinando um tipo 
particular de indústria – a cultural – e de cultura – a de massa14. Sendo assim, 
temos a submissão do homem à máquina. Isto é, atualmente temos em nossa 
sociedade um meio de comunicação de massa, que acaba por ultrapassar 
qualquer outro, este seria a TV, uma máquina responsável por orientar a vida de 
milhões de pessoas no mundo, o que consequentemente faz com que as pessoas 
moldem suas vidas partindo dos programas e propagandas feitas e reproduzidas 
por essa máquina, passando a comprar ou a se portar de tal maneira e não de 
outra, pois assimilam de forma simplificada o que é divulgado por esse meio de 
comunicação de massa, gerando assim, uma cultura de massa e 
 
13 Ibid. p. 06. 
14 COELHO, loc. cit. 
 
14 
 
conseguintemente uma indústria de massa, responsável pela reprodução desses 
consumos alcançados pela divulgação massiva de produtos e estilos de vida. 
Contudo, não devemos relativizar, pois nem todas as pessoas que tem 
acesso a esse tipo de meio de comunicação, acabam por incorporar esse 
comportamento. Elas ficam à margem desse sistema. Para entendermos melhor 
isso, devemos analisar a disposição do homem dentro da sociedade capitalista 
liberal, isto é, essa sociedade funciona partindo do princípio da utilização da 
máquina, a submissão do homem ao ritmo dela, ocasionando a exploração desse 
trabalhador e por fim acarretando a divisão do trabalho. 
Desta maneira, causando uma massificação do trabalhador, o qual acaba 
ficando cada vez mais preso à máquina e não se permitindo olhar as outras 
opções que estão ao seu redor. Todo esse jogo de submissão do homem a 
máquina, faz com que ele entre em uma rotina de trabalho, que não o permita 
pensar e agir fora do imposto pelo seu meio de trabalho, pois ele passa a não ter 
vida própria e sim uma vida regrada pela indústria, ou seja, a máquina. 
 Esse homem que vive dentro dessa sociedade capitalista liberal, e que é 
refreado pela máquina, acaba ficando alienado, e, não se identifica mais como um 
sujeito responsável pelo seu próprio tempo ou pelos seus pensamentos e ações. 
Ele se vê sujeitado a essa rotina de trabalho passando a não ter tempo para mais 
nada, e isto acaba por acarretar uma massificação do pensamento e da cultura.15 
Por exemplo, quantas vezes já ouvimos várias pessoas dizerem que trabalham 
agora para garantirem um futuro tranquilo e poderem aproveitar a vida, contudo 
na maioria das ocasiões não é isso que acontece, pelo contrário, quando esta 
pessoa chega à fase de “aproveitar a vida” ela não pode fazer isso devido os 
problemas físicos e psicológicos adquiridos em anos de longas e exaltantes 
jornadas de trabalho. Porém, esse pensamento de “garantir um futuro tranquilo” 
impera em nossa sociedade mesmo depois de vermos tantas pessoas que 
acabam não tendo um futuro tão calmo assim. Isso acontece devido a esse 
pensamento de que temos que trabalhar para garantir um futuro melhor e para 
tanto temos que continuar a alimentar essa indústria que acaba por corroer as 
outras opções que temos. 
 
15 Ibid. p. 07. 
 
15 
 
 Outra questão é com relação à cultura. Na sociedade capitalista liberal, ela 
acaba por virar uma espécie de mercadoria de troca, o homem já não se identifica 
por afinidade ou por razões emocionais a determinado tipo de cultura, mas sim, 
por que essa é a que está “na moda”, e deve ser consumida. Exemplo, a música 
sertaneja ou o funk, são dois estilos musicais que estão em alta no cenário 
musical brasileiro, entretanto muitas das pessoas que escutam esses estilos não 
conhecem sua trajetória ou evolução musical, apenas curtem por estar em alta no 
momento. 
Ainda tem aquelas pessoas que não gostam desses gêneros, mas também 
não conhecem suas histórias, apenas não gostam por acharem vulgar, brega ou 
não se identificam com o estilo. Contudo, esse pensamento, é devido ao 
conhecimento superficial da trajetória percorrida pela música sertaneja e pelo 
funk, para que hoje eles estivessem com esse estilo mais “universitário”, com 
relação ao sertanejo, ou com o estilo mais “provocante”, com relação ao funk. 
A grande maioria das pessoas que dizem gostar dessas músicas, na 
realidade só as escuta porque é o que está na moda. Nesta perspectiva, elas 
acabam não questionando nem a trajetória dessas músicas e muito menos o 
porquê elas estão atualmente com essa composição musical e não outra. 
Partindo desta análise, devemos levar em consideração, a questão de que tanto o 
sertanejo quanto o funk, são expressões musicais que transmitem uma ligação 
com o seu presente, isto é, elas buscam através de suas respectivas realidades 
sociais passarem para os ouvintes seus dilemas sociais. O que devemos levar em 
conta é a questão de apropriação desses estilos pela indústria cultural e a forma 
com que ela se utiliza deles para fins lucrativos e de venda. Neste sentido, 
concordo quando o autor Teixeira Coelho escreve sobre essa cultura imposta pela 
sociedade capitalista liberal por meio da indústria 
 
Nesse quadro, também a cultura — feita em série, 
industrialmente, para o grande número — passa a ser vista não 
como instrumento de livre expressão, crítica e conhecimento, mas 
como produto trocável por dinheiro e que deve ser consumido 
como se consome qualquer outra coisa. E produto feito de acordo 
com as normas gerais em vigor: produto padronizado, como uma 
espécie de kit para montar, um tipo de pré-confecção feito para 
16 
 
atender necessidades e gostos médios de um público que não 
tem tempo de questionar o que consome.16 
 
 Sendo assim, o que podemos perceber é que nesse estilo de sociedade, 
para o homem não é “permitido” o sentimento de questionamento, em qualquer 
área da vida, pois se o mesmo fizesse isto ele se permitiria pensar em outras 
formas de cultura e até quem sabe de sociedade. Dito isto, partilho do conceito de 
circularidade utilizado por Carlo Ginzburg, o qual considera haver uma 
reciprocidade entre a cultura dominante e a subalterna 
 
“[...] termo circularidade: entre a cultura das classes dominantes e 
a das classes subalternas existiu, na Europa pré-industrial, um 
relacionamento circular feito de influências recíprocas, que se 
movia de baixo para cima, bem como de cima para baixo [...]”17 
 
 Ou seja, dentro da nossa sociedade, o que vemos hoje, é uma apropriação 
tanto da classe dominante quanto da classe subalterna de aspectos e costumes 
que antes eram vistos como subordinados ou superiores, mas que agora, são 
apropriados e incorporados pelas duas culturas, sendo assim, são reeditados, 
partindo do ponto de vista de mundo, sociedade e entendimento enquanto 
sujeitos ativos no processo histórico, para desta forma, serem resignificados 
partindo da visão de cada uma dessas culturas dentro da própria realidade social. 
Devemos ter em mente, que, isto não significa há inexistência de pessoas 
que pensem diferente do expressado pela indústria cultural, pelo contrário, 
existem sim, mas elas acabam por serem invisíveis dentro do próprio sistema. 
Partindo desses pontos percebemos que para a indústria cultural se firmar é 
necessária a existência dos meios de comunicação de massa e também de uma 
cultura de massa. 
Este fenômeno passa a ser visível a partir da Revolução Industrial do 
século XVIII, a qual proporciona um aumento no número de trabalhadores 
assalariados ocasionando uma economia de mercado e conduzindo a uma 
economia de consumo e massificação do trabalhador, o qual é induzido a não 
 
16 COELHO, loc. cit. 
17 GINZBURG, Carlo.O queijo e os vermes: o cotidiano e as idéias de um moleiro perseguido 
pela Inquisição. São Paulo: Cia. das Letras, 1987. p. 13. 
17 
 
pensar devido ao sistema de longas e estressantes jornadas de trabalho dentro 
de uma fábrica.18 Esse trabalhador submetido a esse sistema acaba se 
acostumando a não questionar, passando a assimilar tudo o que lhe é proposto 
sem perguntas sobre o porquê disso ou daquilo. Formando dessa maneira, um 
campo relativamente homogêneo para o desenvolvimento desse pensamento 
massificado e simplificado produzido pela indústria cultural. 
Contudo, o mesmo não acontece com relação ao Brasil. Isto é devido, 
principalmente, a questão da divisão de rendas, pois se fizermos uma rápida 
análise dessa distribuição veremos que ela está centrada na região centro-sul do 
país, ou seja, os potenciais consumidores dessa indústria cultural estão nessa 
área, ocasionando um campo heterogêneo para a proliferação da mesma. Isto é, 
essa população que vive na região centro-sul é pequena se comparada com a 
população nacional, sem contar, que, mesmo os habitantes dessa área 
consomem moderadamente dentro de suas próprias limitações econômicas. A 
indústria cultural no Brasil, para conseguir se firmar dentro do país acaba por 
fazer um trabalho todo focado para esses bolsões consumidores.19 
Entretanto, ela se utiliza dos meios de comunicação de massa que estão 
presentes em quase toda a extensão do território brasileiro. Esses meios estão 
dispostos dentro do país da seguinte maneira televisão, rádio, jornais, revistas, 
livros e a internet, mesmo que está ainda esteja mais presente dentro da região 
centro-sul do país. É se utilizando desses meios, que a indústria cultural, 
consegue atingir seu público alvo, e como consequência, se espalha para as 
demais regiões do país. 
Dentre esses meios a televisão é a que detém a maior parcela de 
investimentos em publicidade. Isto se deve, ao fato, dela ser o meio de 
comunicação de massa, mais presente dentro do território brasileiro, e também, é 
o de mais fácil acesso para a população nacional. Exemplo, se antigamente no 
país, a população se reunia em volta do rádio para escutar as notícias do Brasil e 
do mundo e também ouvir as famosas rádio-novelas, hoje as pessoas se reúnem 
 
18 Ibid. p. 08. 
19 Ibid. p. 35. 
18 
 
em volta de um receptor de televisão para assistir as notícias, o futebol e as 
novelas. 
Em um segundo plano temos o rádio, que ainda funciona como um veículo 
propagador da indústria cultural. Contudo, colocar o rádio na frente da internet 
parece um absurdo, mas se pensarmos que a população que vive fora da região 
centro-sul, tem um acesso limitado à internet se comparado aos habitantes desse 
bolsão consumidor. Isto não significa que os habitantes dessas outras regiões não 
tenham oportunidade de adquirir esse meio. Desta maneira, a indústria cultural 
ganha espaço para se desenvolver dentro do Brasil em grande parte devido à 
assimilação feita pela população nacional daquilo que ela produz para a 
população da região centro-sul constituída pela parcela de consumidores 
moderados.20 
Para entendermos melhor essa questão dos meios de comunicação de 
massa, e a relação destes, com a indústria cultural dentro do país, podemos 
analisar da seguinte maneira, atualmente a televisão brasileira tem grande 
influência em todos os aspectos da vida da população nacional, isto porque, esse 
meio de comunicação vende seu produto através das propagandas, programas e 
novelas produzidas pela mesma. 
A exemplo disto temos as telenovelas, as quais são produzidas com o 
intuito de passar questões que são consideradas tabus dentro da sociedade, mas 
o que elas realmente fazem, é mostrar de forma simplificada um lado apenas do 
problema. Elas não dão espaço para questionamentos e outras visões, e acabam 
por impregnar toda uma população com seus esquemas simplificados da 
realidade do problema. 
Para além dessa simplificação da realidade, há também a questão da 
venda maciça de estereótipos culturais, sociais, psicológicos e físicos difundidos 
pelas novelas e programas televisionados. Ou seja, dentro deles há milhares de 
esquemas voltados ao convencimento do telespectador, para que ele compre, 
vista e use determinado tipo de roupa, música, eletro e eletrônico e os mais 
diversos produtos possíveis. Partindo do princípio, de que os meios de 
 
20 Ibid. p. 36. 
 
19 
 
comunicação de massa, sobrevivem no Brasil devido ao auto teor de publicidade 
em suas produções, é pertinente quando o autor Teixeira Coelho fala dos traços 
grotescos que marcam a indústria cultural brasileira: 
 
— a indústria cultural no Brasil apresenta-se marcada pelos traços 
mais evidentes e grotescos do comercialismo em particular e do 
capitalismo em geral. Tudo o que possa prejudicar um 
consumismo acrítico não deve passar por esses veículos. Como 
norma, todas as preocupações culturais se guiam pela 
preocupação maior, que é vender alguma coisa. Para vender é 
necessário criar e manter o hábito de consumir. E para que este 
sobreviva é necessário embotar a capacidade crítica, em todos os 
seus domínios.21 
 
Nesta perspectiva, o que a indústria cultural quer, com relação ao Brasil, é 
vender, porém este produto já deve ter como, via de regra, um teor crítico, pronto 
e acabado impossibilitando a capacidade do próprio consumidor questionar e ser 
crítico diante desses produtos destinados exclusivamente ao consumo, e quanto 
maior melhor. Já que a finalidade é vender acima de tudo. O que se deve levar 
em conta com relação à indústria cultural no Brasil, é que ela necessita 
diretamente dos meios de comunicação de massa para garantir o seu espaço, 
fazendo isso das mais diversas formas. 
Esses meios de comunicação são indispensáveis com relação ao país, 
devido à desigualdade na distribuição da renda nacional, o que faz com que 
existam os chamados bolsões consumidores, mesmo que estes consumam de 
forma modera, eles são os principais alvos dessa indústria, proporcionando com 
isso a existência de grupos de subconsumo, estes assimilam o consumo 
adaptado para esses bolsões. E conseguintemente há aqueles que apenas vivem 
na esperança de um dia consumir as ideologias propagadas pela indústria 
cultural. 
A influência dessa indústria é de longa data, isto porque para fazer-se notar 
dentro no cenário artístico brasileiro, é necessário aliar-se a ela, buscando se 
firmar dentro do panorama artístico. Entretanto, o que podemos verificar com 
relação à obra do cantor/compositor Raul Seixas, é que ele se utilizou da indústria 
 
21COELHO, loc. cit. 
 
20 
 
cultural da época para passar a sua mensagem, sem deixar de fazer uma música 
dentro dos padrões estéticos exigidos para o período, e também, sem deixar de 
passar uma mensagem crítica sobre a sua realidade social e sobre suas 
ideologias de mundo. Para tanto, além de utilizar a indústria cultural como meio 
divulgador de suas músicas, usou do pensamento da contracultura como 
ideologia para criar, cantar e viver suas canções e vida. 
Inicialmente, a contracultura era vista como um movimento juvenil feito por 
jovens e para eles que estavam insatisfeitos com a sociedade como um todo. 
Contudo, quando a editora Vozes, lança em 1972, o livro A Contracultura, de 
Theodore Roszak, o qual trata, principalmente, do universo contracultura dentro 
dos Estados Unidos, mas que serve como base para um estudo desse movimento 
dentro de outros países. E também ajuda a compreender com mais claridade o 
que é, como surge, o que defendee quem está por trás desse movimento 
contracultural 
 
Na verdade, quase não parece exagero chamar de “contracultura” 
aquele fenômeno que estamos vendo surgir entre os jovens. Ou 
seja, uma cultura tão radicalmente dissociada dos pressupostos 
básicos de nossa sociedade que muitas pessoas nem sequer a 
consideram uma cultura, e sim uma invasão bárbara de aspecto 
alarmante.22 
 
Nesta passagem, vemos que o autor, trata o termo contracultura, como 
algo que expressa uma grande ruptura com o que era tido como correto dentro da 
sociedade da época, buscando mostrar que os parâmetros propostos pelo 
movimento, mexem tão fundo dentro do ambiente social que eram vistos como 
uma coisa hostil e até certo ponto considerada uma invasão da ordem social 
vigente. 
O termo contracultura, começa a ser vinculado pela mídia norte-america, 
na década de 1960, caracterizado inicialmente como um movimento de jovens 
 
22 ROSZAK, Theodore. A contracultura. São Paulo: Vozes, 1972. p. 54. 
21 
 
que usavam roupas coloridas, cabelos compridos e escutavam um tipo de música 
que era característico desse movimento, isto é, o rock and roll.23 
Porém, a influência desse movimento não ficava restrita apenas à música, 
ele também atingia outras áreas artísticas. Exemplo disso foi com o poeta 
fundador, se é que podemos chamá-lo assim, da contracultura Allen Ginsberg 
(1956), idealizador do poema Howl (em uma tradução livre pode ser chamado de 
uivo), que é considerado como o marco fundador da beat generation,uma das 
primeiras expressões da contracultura.24 
É também nos anos de 1960 que surge a figura de Elvis Presley, o qual 
sintetiza o rock and roll da época. Contando com essa agitação de 1960 é que a 
contracultura começa a ganhar espaço dentro da sociedade estadunidense, 
porém ela ganha força máxima em todo mundo com o surgimento dos Beatles e 
de Bob Dylan, dentre outros, que através da música foram capazes de reunir um 
grande número de pessoas em festivais de rock. 
Toda a movimentação desses artistas para propagarem o ideário 
contracultural foi sintetizada nos dois acontecimentos mais marcantes desse 
movimento, isto é, o festival de Woodstock, que contou principalmente com a 
participação dos hippies, os quais propagavam o amor e não a guerra, fato devido 
principalmente a Guerra do Vietnã, a qual foi responsável pela morte de muitos 
jovens. 
Já a outra movimentação ocorreu nos campi universitários que tiveram 
como apogeu o “Maio de 68”, na França. Deste ponto em diante foi difícil ignorar a 
contracultura como um movimento de contestação radical. É devido a esses 
acontecimentos, que esse movimento ganha destaque entre os jovens brasileiros 
das décadas de 1970 e 1980. 
 Uma explicação plausível para o despertar da juventude brasileira para o 
pensamento do movimento da contracultura é que na década de 1970 o país 
estava vivendo o chamado milagre econômico, isto é, a família desses jovens 
estava gastando com casas de praia ou campo, evocando uma época de 
 
23 PEREIRA, PEREIRA, Carlos Alberto Messeder. O que é contracultura. 4 ed. São Paulo, 
Brasiliense, 1986. p. 13 
24 Ibid. p. 35. 
22 
 
abundância, possibilitando um relaxamento no modo de criação das crianças, que 
estava assentado em um molde mais rígido. Fazendo com que surgisse uma 
rebeldia pura e simples.25 
As crianças e jovens das décadas de 1960 e 1970 passam a ter um maior 
espaço de expressão dentro da sociedade e também do seio familiar, por 
exemplo, é permitido a criança demonstrar seus sentimentos e estimulá-los. Ela 
não é mais refreada pelos pais ou pela sociedade, pelo contrário, os pais acabam 
procurando escolas que tenham em seus currículos idéias progressistas. Neste 
momento, há no país, devido principalmente às leituras estrangeiras vindas dos 
Estados Unidos, uma aceitação e incentivo à criação libertária das crianças, as 
quais se tornariam jovens críticos e com liberdade para sentir e criar, adotando 
assim o lema de que é proibido proibir.26 
 A adoção de uma educação mais liberal somada ao comodismo da classe 
média, que é de onde provinham à maioria dos jovens que aderiram à 
contracultura, o fato desse acomodamento da classe, é devido principalmente ao 
“milagre econômico”, fruto da ditadura militar, que proporcionava a compra de 
eletrodomésticos e o consumo de outros produtos, os quais facilitavam a vida 
dessas pessoas e as deixavam com a falsa ilusão de um conforto e de uma 
melhor condição de vida. 
Para além da questão da educação, o momento no qual o país estava 
inserido era de extrema repressão, isto é, tudo o que não exaltasse o sentimento 
de pátria não era valido. A ditadura militar, engoliu o Brasil em um universo de 
violenta represaria, a qualquer tipo de pensamento, que fosse contrário ao 
imposto pelo governo militar, isso afetou diretamente todas as expressões sociais 
da época, como colocado pela autora Claudia Wasserman 
 
A ditadura, entre 1964 e 1985, deu um golpe certeiro no projeto 
reformista, calou a intelectualidade brasileira, desmoralizou o 
movimento estudantil, ceifou esperanças de uma nova estética 
artística no teatro, cinema e outros âmbitos da cultura nacional, 
destruiu a imprensa engajada e politizada castigou severamente o 
 
25DIAS, Lucy. Anos 70 Enquanto Corria a Barca - Anos de chumbo, piração e amor uma 
reportagem subjetiva. 1 ed. digital. São Paulo, Biblos Editora Digital, 2013. p. 32. 
26 Ibid. p. 33. 
23 
 
projeto de educação e alfabetização chamado "pedagogia do 
oprimido" e feriu de morte os movimentos operário e camponês.27 
 
 Como colocado neste trecho, vemos que a ditadura minou qualquer projeto 
de mudança social, que estivesse em andamento no país, fazendo com isso, que 
esses jovens, provenientes de uma educação totalmente diferente ao momento 
social do Brasil, vissem na contracultura uma maneira de buscar algo novo, fora 
dos padrões aos quais estavam submetidos. 
O movimento da contracultura no Brasil, contou também, com uma parcela 
de adultos que estavam inconformados com o comodismo de sua própria 
geração. Estes adultos acabavam servindo como guias para esses jovens, assim 
como, esses jovens também serviam de gurus para esses adultos. Partindo disto 
concordo quando a autora Lucy Dias coloca o adulto como: 
 
Seja lá o que for que tenha atraído os adultos mais radicais — que 
já tinham bebido na fonte dos beatniks e feito a difícil travessia 
dos 60 — à nova rebeldia, serão eles que darão forma e direção 
ao movimento contracultural gestado no Brasil.28 
 
 Como é colocado por Lucy Dias, esses adultos inconformados e maduros é 
que darão a direção para a onda contracultural vivida no país, principalmente na 
década de 1970, quando através do comportamento, roupas e músicas esse 
movimento ganha espaço e passa a cair no gosto de uma juventude que queria 
apenas curtir a vida sem nenhum padrão social pré-estabelecido. 
Isso faz com que essa juventude seja chamada de “rebeldes sem causa”, 
pois, aparentemente, eles não tinham motivo para fazerem um movimento que ia 
diretamente contra tudo aquilo que eles usufruíram quando eram crianças. Mas, o 
motivo direto para esses jovens aderirem à causa contracultural é o comodismo 
encontrado quando eles chegam à fase adolescente e adulta, fazendo com que 
eles comecem a repudiar tudo aquilo que fazia parte diretamente de suas 
realidades de vida e social. 
 No Brasil os pólos contraculturais dos anos 1970 eram São Paulo e Rio de 
 
27 WASSERMAN, Claudia. O golpe de 1964: tudoo que se perdeu. In: PADRÓS, Enrique Serra 
(Org.) As Ditaduras de Segurança Nacional: Brasil e Cone Sul. Porto Alegre: Corag. 2006. p. 60. 
28 Ibid. p. 38. 
24 
 
Janeiro, essas cidades atraiam jovens de todas as partes do país, os quais 
podiam se portar de acordo com a conduta do movimento.29 Isto é, esses jovens 
se reunião em grupos underground, que eram compostos por pessoas que não se 
conheciam muito bem, mas que saiam juntos e iam para os porões30 da cidade 
para lá criarem e criticarem o sistema social da época, ou seja, a ditadura militar. 
Esses jovens que se reuniam em seus espaços nessas cidades, queriam 
colocar em prática um dos principais objetivos da contracultura, que era a luta 
contra o comodismo social, propagado pela sociedade na qual estavam inseridos. 
Essa sociedade é formada por um sistema de pessoas responsáveis por explicar 
como deve funcionar a vida em todas as esferas que se possa imaginar. 
Para combater este tipo de sociedade, estes jovens acabam formando as 
chamadas cidadelas, grupos constituídos por pessoas que tinham algum tipo de 
afinidade tanto social como político e cultural.31 
Dessas cidadelas surgiram as tribos e comunidades, que se juntavam para 
propagarem e discutirem suas ideias. Um dos exemplos mais marcantes dessas 
cidadelas, aconteceu com um grupo de atores do Rio de Janeiro, que 
promoveram a peça Hoje é dia de rock, de José Vicente, tendo direção final de 
Rubens Correia. Ficou em cartaz no Teatro Ipanema, em 1971, durante o governo 
Médici.32 Essa peça contava uma história sobre a juventude, a família e sua 
desintegração, partindo da utopia de um reino livre, um reino de cada ser 
humano. Como colocado por Lucy Dias essa peça foi um marco para os jovens 
que tinham suas utopias de viverem em uma sociedade sem regras. 
 Essa peça, foi de tal importância, para esses jovens/adultos porque ela 
representava um ideal de sociedade que era o desejado por eles na época, porém 
esse mesmo ideal era visto como uma espécie de loucura ou utopia devido ao 
momento que o país vivia, isto é, a ditadura militar refreava grande parte da 
atuação direta desses jovens, porém eles se utilizavam dos meios de 
comunicação para propagarem suas ideias, coisa que foi feita por Raul Seixas, 
 
29 Ibid. p. 43. 
30Casas ou prédios antigos, que serviam de refúgio, para que esses jovens pudessem se 
expressar de acordo com os preceitos da contracultura. 
31 Ibid. p. 50. 
32 Ibid. p. 56. 
25 
 
que através de suas músicas deu voz a milhares de jovens que compartilhavam o 
mesmo pensamento que ele. 
Por meio dessa peça, o Teatro de Ipanema, ganhou destaque no Rio de 
Janeiro e acabou tornando-se um ponto de referência para a juventude carioca, 
que durante a ditadura frequentava esse espaço de forma a fugir do deserto 
proporcionado pelo regime. Esses jovens que frequentavam os porões de São 
Paulo ou o Teatro de Ipanema no Rio de Janeiro, deixaram se levar pela grande 
onda contracultural que se propagou no país, buscando na igualdade, 
solidariedade, consumo coletivo de drogas, na questão da sexualidade onde 
homem pode experimentar homem e mulher pode sair com mulher, ir fundo nas 
coisas e assim se descobrir enquanto sujeito e ser humano que é passível de 
criticar e de ser criticado e de amar e ser amado sem se prender a moldes pré-
estabelecidos pela sociedade da época. 
Entretanto, para entender o florescimento desse pensamento entre os 
jovens, se faz necessário compreendermos o que foi e o que significou o Maio de 
1968, tanto para a organização desses como grupo, quanto para a propagação do 
movimento da contracultura, por boa parte mundo. Para tanto, podemos começar 
procurando entender em linhas gerais o que buscavam as pessoas envolvidas no 
Maio de 1968. 
 
 Em 68, o próprio movimento de jovens operários e 
estudantes praticou a espontaneidade consciente e criadora. Não 
se considerou o sistema de partidos ou grupos de pressão a 
qualquer nível; não se participou nem do sistema nem de seus 
métodos. Desde o início o movimento não tem direita; ele contesta 
os profissionais da contestação, viola as regras do jogo que as 
oposições dominam. O movimento de 68 põe por terra o 
bolchevismo imaginário do Palácio de Inverno: esse não foi uma 
luta pelo poder ou contra ele; afirmaram-se, ao contrário, os 
direitos da subjetividade e da espontaneidade consciente. Como a 
crítica ao mundo burocratizado e desencantado, colocou como 
lema a verdade triunfante do desejo.33 
 
 
33 MATOS, Olgaria C. F. Paris 1968: as barricadas do desejo. 3 ed. São Paulo, Brasiliense, 
1989. p. 13. 
 
26 
 
 Com esse trecho do livro Paris 1968: as barricadas do desejo, podemos 
compreender que o movimento do Maio de 1968 não queria apenas uma 
mudança política, social ou cultural, ele queria mais, essas pessoas buscavam 
uma transformação substancial em todos os aspectos da vida humana em sua 
sociedade. 
Para tanto, elas acabaram por não usarem nenhuma das formas de 
organização tradicionais para uma revolução, isto é, não buscaram organizarem-
se em hierarquias de poder dentro de grupos pequenos ou grandes. Pelo 
contrário, esses estudantes e operários, buscaram por meio de uma 
espontaneidade consciente formas para que suas reclamações e objetivos 
fossem ouvidos e vistos pela sociedade capitalista da época. 
É nesse momento que temos o surgimento de uma nova forma de se fazer 
ouvir um movimento totalmente contrário ao tradicionalismo das revoluções, isto 
porque os estudantes e operários que participavam do Maio de 68 delinearam 
uma cultura da irreprodutibilidade, ou seja, eles se utilizaram de assembleias, as 
quais incorporavam grupos que acabaram excluídos pelos moldes da indústria 
cultural. Deste modo, para saber a quantas andava o movimento se fazia 
necessária a presença dos adeptos e simpatizantes nas reuniões.34 
Outro ponto de ação desses manifestantes eram as invasões das fábricas 
e tomada das ruas, porém eles faziam isso não como uma forma de padronizar o 
movimento. Pelo contrário, eles ocupavam esses lugares buscando mostrar o 
diferente saindo do tradicionalismo. 
Com isso, eles, buscavam uma interação entre as pessoas presentes no 
movimento, tornando cada manifestação única, já que à atmosfera desenvolvida 
nas manifestações nunca era a mesma. Eles queriam por meio de sua cultura da 
irreprodutibilidade chamar as pessoas para prestar atenção ao novo, ao diferente 
e, acima de tudo, mostrar que os indivíduos, têm direito de escolher o modo como 
querem viver seu próprio futuro sem nenhuma manipulação da chamada indústria 
cultural. 
 
34 Ibid. p. 14. 
27 
 
 Tendo como base essas formas de reprodução contrárias às propagadas 
pela indústria cultural, o movimento de Maio de 68 cria seu próprio slogan o "pour 
une planète plus bleue"35, em uma tradução livre para o português isso significa 
"para um planeta azul". Com ele os participantes, queriam mostrar para a 
sociedade que eles buscavam uma nova forma de organização social, onde todos 
tivessem os mesmos acessos a coisas básicas para se tornar um cidadão crítico, 
e, acima de tudo que pudesse escolher seu próprio futuro sem as pré-imposições 
da estrutura social a qual estavam submetidos, isto é, eles queriam o direito de 
escolher uma nova forma de governo, de economia e até mesmo de cultura que 
fosse totalmente diferente dos padrões atuais. 
Partindo disso, buscaram através da propagação da educação, do amor, 
da bondade e da solidariedade difundir seus ideais para todos os interessados, 
em participarem do movimento semdistinção de raça, credo, orientação sexual, 
cultura e posição econômica. Dessa forma, todos tinham acesso aos anseios do 
grupo sem distinção hierárquica ou de qualquer outro tipo de divisão que pudesse 
tirar o foco do movimento, que era a rejeição total do modo atual da sociedade, 
como um todo, desde sua divisão econômica, social e cultural. 
 Podemos perceber que os estudantes e operários envolvidos no 
movimento, tinham muito claras suas intenções, porém o questionamento que 
devemos fazer é de como eles alcançariam de fato esses desejos? Devemos 
partir do pressuposto de que eles eram contar qualquer forma de organização de 
poder dentro do movimento, sendo assim, como seria possível se chegar a uma 
vitória realmente. Outro ponto importante é a questão de o quanto a própria 
organização social existente estava em declínio e se realmente eram necessárias 
as mudanças propostas. Isto é: 
 
 Aqueles que em Maio de 1968 se sublevaram estavam 
recusando muito mais uma certa forma de existência social do que 
a impossibilidade material de subsistir nessa sociedade: 
"contrariamente a todas as revoluções passadas, diz Jacques 
Baynac, Maio de 1968 não foi provocada pela penúria, mas pela 
abundância".36 
 
35 Ibid. p. 16. 
36 Ibid. p. 21. 
28 
 
 
 Nesta passagem podemos ter uma noção de como a revolução de Maio de 
1968, foi forjada mais pela necessidade de uma nova existência social, do que de 
fato por algum declínio da atual estrutura social, os jovens estavam buscando 
maneiras de contrariar e questionar o seu meio, contudo não tinham de fato 
argumentos mais encorajadores, para fazer com que a sociedade em geral 
apoiasse seus ideais. Entretanto não devemos pensar que os jovens que 
participaram do Maio de 1968 fossem apenas baderneiros sem propósitos. Pelo 
contrário, essa juventude buscou mostrar que queria deixar sua marca na história, 
mesmo que isso não significasse de fato vencer. 
 A revolução de Maio de 1968, nos deixa como ensinamento a questão de 
que suas propostas eram plausíveis, mesmo dentro de uma sociedade que não 
estava em declínio, mas acima de tudo nos mostra que é possível se organizar 
um movimento que ultrapasse as fronteiras do país e gere os mesmos 
questionamentos e críticas em outros jovens de outras regiões com realidade 
totalmente diferentes daquelas a que os estudantes e operários franceses 
estavam inseridos. Além disso, devemos ter em mente que eles não se utilizaram 
da indústria cultural para difundir seus pontos de vista, isto torna a levante de 
Maio de 1968 ainda mais interessante. 
 Partindo desses breves apontamentos feitos anteriormente, a partir de 
agora buscarei contextualizar esses movimentos dentro das canções de Raul 
Seixas, as quais foram capazes de mobilizar toda uma juventude e fazê-la refletir 
sobre o seu papel como sujeito ativo dentro do processo histórico. 
 
 
 
 
 
 
 
29 
 
3. CAPÍTULO II - RAUL SEIXAS - DO OURO DE TOLO AO COWBOY FORA DA 
LEI 
 
 
 Primeiramente, antes de começarmos a análise das músicas de Raul 
Seixas temos que conhecer o cantor por trás das canções, sendo assim, no início 
destacaremos alguns aspectos da vida desse cantor/compositor, que com sua 
música, foi capaz de mexer com as mentes de vários jovens que estavam 
buscando um novo sentido de lutar, pelos seus desejos em uma sociedade que 
estava vivendo um dos seus piores momentos, isto é ditadura militar. 
Com este momento histórico como pano de fundo, Raul Seixas, foi hábil 
em se incorporar à indústria cultual, e a passar sua mensagem por meio de 
canções que tinham uma profunda mensagem de mudança social que vinha 
incorporada com as noções propostas pela contracultura e que, de certo modo, 
influenciam seus fãs até os nossos dias atuais. 
 Raul Seixas nasceu no estado da Bahia, cidade de Salvador no dia 28 de 
junho de 1945. Ainda na infância tinha como principal brincadeira ficar lendo os 
livros que compunham a biblioteca que seu pai tinha em casa e, com isso passou 
a criar histórias e personagens que eram retratados por meio de gibis. Seu 
primeiro contato com a música, mais propriamente o rock and roll foi quando a 
família se mudou para uma casa perto do consulado americano e ele faz amizade 
com os meninos de lá os quais lhe emprestam os discos de Elvis Presley, Chuck 
Berry entre outros.37 Esses garotos foram responsáveis por apresentar o universo 
do rock para Raul, como ele próprio diz abaixo 
 
 "Eu ouvia os discos de Elvis Presley até estragar os sulcos. 
O rock era como uma chave que abriria minhas portas que viviam 
fechadas. Usava camisa vermelha, gola virada para cima. As 
mães não deixavam as filhinhas chegarem perto de mim porque 
eu era torto como o James Dean. Olhava de lado, com jeito de 
durão. Cada vez que eu cumprimentava uma pessoa dava três 
giros em torno do próprio corpo. Eu era o próprio rock. Eu era 
 
37 PASSOS, Sylvio. O Moleque Maravilhoso. RAUL ROCK CLUB/RAUL SEIXAS OFICIAL FÃ-
CLUBE, São Paulo - Brasil. Disponível em <https://raulsseixas.wordpress.com/biografia-raul-
seixas/>. Acessado em 10 dez. 2016. 
30 
 
Elvis quando andava e penteava o topete. Eu era alvo de risos, 
gracinhas, claro. Eu tinha assumido uma maneira de vestir, falar e 
agir que ninguém conhecia. Claro que eu não tinha consciência da 
mudança social que o rock implicava. Eu achava que os jovens 
iam dominar o mundo."38 
 
 Com essa citação do próprio cantor, vemos que ele se incorpora 
rapidamente ao estilo descolado de Elvis e outros cantores, passando a agir e 
pensar tendo as músicas deles como base para todo os seus pensamentos e 
modos de agir. 
Nesta passagem, observamos que Raul considerava a música como um 
elemento capaz de mudar as pessoas, prova disso era ele mesmo. Com toda 
essa entrega para com o rock, em pouco tempo Raul forma sua primeira banda, 
composta por seus irmãos Délcio e Thildo Gama e chamada de Os Relâm-pagos 
do Rock, eles chegaram a se apresentar na TV, porém não emplacaram. 
Entretanto no ano de 1964, o grupo passa por uma revisão trocando de nome e 
de pessoas, passando a se chamar The Panthers, eles chegaram a gravar duas 
músicas as quais acabaram não sendo lançadas, apenas em 1992 a música 
intitulada "Nany" é lançada no álbum O Baú do Raul junto com outras canções 
inéditas.39 Com mais essa tentativa frustrada Raul altera mais uma vez o nome do 
grupo passando a ser conhecido como Raulzito e Os Panteras os quais no ano de 
1968 vão ao Rio de Janeiro para gravarem o primeiro LP, que tinha o mesmo 
nome da banda como título, contudo mais uma vez o grupo não emplacou e o LP 
permaneceu na estante das lojas de discos. Como o próprio Raul define o disco 
 
"Chegamos em fim de safra. Não entendíamos o que estava 
acontecendo. Agnaldo Timóteo de um lado, Gil e Os Mutantes de 
outro, Tocávamos coisas complicadas, minhas letras falavam de 
agnosticismos, essas coisas, e complicamos demais. Não 
tínhamos idéia do que era comercial em matéria de música em 
português."40 
 
 
 
38 Ibidem. 
39 Ibidem. 
40 Ibidem. 
 
31 
 
 Como colocado por Raul, suas músicas não foram bem vistas pelo público, 
que, em um primeiro momento não entendeu o significado delas, levando em 
consideração que o estilo musical rock concorria de frente com a bossa nova e 
dividia opiniões dos jovens. Devemos ter em mente que é nesse momento que ele 
passa a compreender sobre o que é comercial e não comercial dentro do universo 
musical brasileiro. 
 Com a desilusão do disco a banda se desfaz, porém Raul não deixa de 
todo o universomusical e em 1970 vira produtor musical da CBS, hoje conhecida 
como Sony Music. Neste momento, ele passa a produzir os discos de cantores 
como Jerry Adriani e Trio Ternura, com a sua ida para o outro lado da indústria 
musical ele começa a entender o que é comercial no cenário musical brasileiro 
tanto que em 1971 ele lança o LP Sociedade da Grã-Ordem Kavernista - 
apresenta - Sessão das 10, o disco contou com a participação de outros cantores, 
porém como seu lançamento não tinha sido aprovado, isto leva à saída de Raul 
da CBS e ao sumiço do LP das bancas.41 Mesmo com esse imprevisto ele estava 
muito orgulhoso de sua primeira obra comerciável 
 
"Foi também a primeira vez que eu fiz algo para ser consumido e 
do qual me senti paranoicamente orgulhoso e feliz. Como os 
Beatles, que aprenderam no estúdio, eu aprendi tudo na CBS,os 
macetes todos. Aprendi a fazer música fácil, comercial, intuitiva e 
bonitinha,que leva direitinho o que a gente quer dizer."42 
 
 Nesta passagem, vemos que Raul diz que aprendeu a fazer música 
seguindo os padrões comerciais dentro da gravadora e com isso passou a 
trabalhar em seu próprio retorno ao palcos. Coisa que aconteceu em setembro de 
1972 quando ele se inscreveu no VII Festival Internacional da Canção e 
apresentou ao público sua performance da música"Let me Sing, Let me Sing" a 
qual mistura o rock com baião, mesmo assim, ele acaba sendo desclassificado, 
mas antes disso ele chama a atenção do público e da imprensa com seu jeito rock 
star do sertão o que lhe proporciona um contrato com a gravadora Philips.43 
 
41 Ibidem. 
42 Ibidem. 
43 Ibidem. 
 
32 
 
O grande momento de sua carreia chegou com a explosão da música 
"Ouro de tolo", a qual faz uma crítica à sociedade da época que vivia o Milagre 
Brasileiro, que lhes possibilitava comprar coisas supérfluas apenas para o 
consumo rápido. Porém, o sucesso chega a seu ápice com o lançamento do 
primeiro disco solo o intitulado 'Krig-ha, Bandolo!' Esse título refere-se ao grito de 
guerra de Tarzan 'cuidado, ai vem o inimigo' ele foi lançado em 1973, sendo visto 
como um dos seus melhores trabalhos.44 
 É nesse momento que Raul Seixas conhece Paulo Coelho, e os dois criam 
a chamada Sociedade Alternativa, que além de ser nome de um de seus 
principais sucessos, é também um modelo de conduta que é rapidamente 
adotado por eles. Isto é, a Sociedade Alternativa vira uma comunidade com sede 
e relatórios mensais sobre sua evolução. 
Foi neste período que os dois caíram no radar do DOPS, departamento 
criado na ditadura para reprimir avanços de ideias que poderiam prejudicar o 
sistema vigente. Desta forma, Raul acabou sendo preso e torturado, pois seus 
valores difundidos dentro dessa sociedade iam totalmente contra aos impostos 
pelos militares, na época o principal slogan, dessa comunidade criada por eles 
era "Fazes o que tu queres, há de ser tudo da lei", como esses ideais iam 
totalmente contra a ordem vigente, tanto Raul como Paulo Coelho foram expulsos 
do país partindo rumo aos Estados Unidos.45 
Foi no ano de 1974, que Raul, iria colocar em prática todo o seu projeto da 
Sociedade Alternativa, porém como ele mesmo conta foi tudo barrado pela 
repressão militar 
 
 Então foi tudo desativado porque eu fui expulso para 
Nova York. Fiquei um ano exilado do Brasil, sem poder voltar. 
Eu fui pego na pista do Aterro [do Flamengo, no Rio] quando 
eu voltava de um show. Um carro do Dops barrou o meu táxi e 
eu fiquei nu com uma carapuça preta na cabeça. Fui para um 
lugar, se não me engano, Realengo. Eu sinto que foi por ali, 
 
44 Ibidem. 
45 Ibidem. 
33 
 
Realengo. Um lugar subterrâneo, que tinha limo. Eu tateava as 
paredes e tinha limo.46 
 
 Como relatado pelo cantor, ele foi brutalmente arrastado para o exílio e 
obrigado, além da tortura física, a deixar o país devido as suas ideias que neste 
momento, já contavam com grande apoio social, devido ao seu sucesso nacional. 
E por isso, essa busca da Sociedade Alternativa, acaba indo de encontro com 
tudo que era tido como subversivo ao governo militar. 
 Raul Seixas fica no exílio por quase um ano e é chamado a retornar ao 
país em dezembro de 1974 pelo consulado brasileiro 
 
 Então, eu estava lá nos Estados Unidos. Já tinha 
encontrado com John Lennon, já tinha corrido o país, era 
casado com uma americana na época. E tinha cantado com 
Jerry Lee Lewis em Memphis, Tenesee. Ele me acompanhou 
de piano. Tinha transado [feito muitas coisas] um bocado nos 
EUA quando veio o Consulado Brasileiro no meu apartamento. 
Era quase em dezembro de 1974. Bateu na porta do meu 
apartamento dizendo que eu já podia voltar. Que o Brasil já me 
chamava, que eu era patrimônio nacional e que tava vendendo 
disco. Cinicamente, o cara falou assim.47 
 
Fica evidente que Raul só retorna ao país devido à grande repercussão do 
álbum "Gita", o qual teve várias faixas de sucesso como a auto intitulada Gita e 
Sociedade Alternativa, a qual acaba se tornando um mantra para os adeptos 
deste realidade social pregada pela canção. É neste momento, que, Raul Seixas 
ganha seu primeiro disco de ouro com mais de 600 mil cópias vendidas. Depois 
de todo esse evento, Raul lança seu próximo trabalho, o "Novo Aeon", em 1975, 
mas ele não chegou nem perto do ápice de seu disco lançado anteriormente.48 
No ano seguinte ele lança o disco "Há mil anos Atrás", o qual o ajudou a 
voltar para o cenário musical. Já em 1977, lança o álbum "O Dia em que a Terra 
Parou", porém esse novo trabalho acaba não agradando a crítica, mesmo 
contendo uma de suas músicas mais aclamadas, a "Maluco Beleza”. Na nova 
 
46 MATSUKI, Edgard. Em áudio de 1988, Raul Seixas relata tortura sofrida durante a 
ditadura militar. Disponível em <http://www.ebc.com.br/cidadania/2014/08/em-audio-de-
1998-raul-seixas-relata-tortura-sofrida-durante-a-ditadura-militar>. Acessado em 10 fev. 
2017. 
47 Ibidem. 
48 PASSOS, loc. cit. 
34 
 
gravadora WEA ele lança no ano de 1978, o LP "Mata Virgem" e os críticos 
também não aprovaram seu novo trabalho, e no ano seguinte lança o "Por Quem 
os Sinos Dobram", Esse álbum foi pelo mesmo caminho que os outros.49 
Em 1980 ele volta para a gravadora CBS e faz o disco "Abre-te, Sésamo" e 
com este LP ele volta a cena musical, porém com menos força. No estúdio 
Eldorado em 1983, Raul lança o álbum "Raul Seixas" o qual faz sucesso e ele 
volta a fazer shows pelo país.50 
Em 1984, depois de uma viagem aos Estados Unidos, para saber o que 
havia de novo no cenário musical de lá, ele volta ao Brasil e assina contrato com 
a gravadora Som Livre e lança o disco "Metrô linha - 743". Após o lançamento 
deste álbum, Raul Seixas passa por sérios problemas para achar uma nova 
gravadora, até que com a ajuda de amigos ele assina com a Copacabana e lança 
em 1987, o aclamado "Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bom!", o disco toca em todo o 
país e Raul volta à cena musical do Brasil. Neste álbum, é lançada a música 
"Cawboy Fora-da-Lei" que fez tanto sucesso que teve direito a clipe e trilha 
sonora de novela, mas é nessa época, que os problemas de saúde devido o 
abuso de álcool atrapalham sua volta a TV e aos palcos.51 
No ano seguinte ele lança o LP "A Pedra do Gênesis", no qual se dedica a 
falar sobre a Sociedade Alternativa. E no ano de 1989, Raul Seixas lança seu 
último disco, o "Panela do Diabo", o qual foi lançado dois dias antes de seu 
falecimento. No dia 21 de agosto de 1989, Raulzito veio a óbito devido a uma 
parada cardíaca resultado da pancreatite que o acompanhava por mais de dez 
anos. 
 Desta forma, chegouao fim a carreira musical de Raul Seixas, porém seu 
legado é preservado até hoje, por meio de fã clubes e fãs isolados que passam 
seus ensinamentos de geração a geração, permitindo que seu legado seja 
repassado para os jovens de hoje. Dentro de todo esse vasto repertorio de Raul 
Seixas, para fazer a análise que pretendo, tive que escolher algumas músicas 
para analisarmos como ele se utiliza das canções para passar uma mensagem de 
 
49 Ibidem. 
50 Ibidem. 
51 Ibidem. 
 
35 
 
ruptura a sociedade imposta e a busca por algo novo fora dos padrões 
tradicionalistas. 
 A primeira música que irei analisar foi lançada no álbum Krig-ha Bandolo! 
no ano de 1973. Essa canção lançou Raul Seixas, no cenário musical brasileiro, 
em um ambiente totalmente desfavorável para o rock ou para qualquer outro 
estilo musical que fosse contra o regime militar. É neste mesmo ano que se passa 
o chamado milagre econômico no Brasil, onde vemos o surgimento de uma nova 
classe média, que com a abertura do país para os produtos estrangeiros e, 
também, com o aumento de renda, estas famílias passam a ter mais dinheiro para 
comprarem produtos fruto da indústria cultural, isto é, coisas de consumo não 
duráveis, mas que faziam a cabeça dessa classe em ascensão.52 Foi essa 
mesma indústria que Raul Seixas aprendeu a utilizar durante seu trabalho na 
gravadora CBS. Sendo assim, em maio de 1973 é lançada a música Ouro de Tolo 
 
Ouro de Tolo 
Eu devia estar contente 
Porque eu tenho um emprego 
Sou um dito cidadão respeitável 
E ganho quatro mil cruzeiros 
Por mês... 
 
Eu devia agradecer ao Senhor 
Por ter tido sucesso 
Na vida como artista 
Eu devia estar feliz 
Porque consegui comprar 
Um Corcel 73... 
 
 
52 GIAMBIAGI, Fabio; VELOSO, Fernando A.; VILLELA, André. Determinantes do "milagre" 
econômico brasileiro (1968-1973): uma análise empírica. Rev. Bras. Econ. vol.62 no.2 Rio de 
Janeiro Apr./June 2008.Disponível em < 
http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rbe/article/view/1053>. Acessado em 15 jan. 2017. 
 
36 
 
Eu devia estar alegre 
E satisfeito 
Por morar em Ipanema 
Depois de ter passado 
Fome por dois anos 
Aqui na Cidade Maravilhosa... 
 
Ah! 
Eu devia estar sorrindo 
E orgulhoso 
Por ter finalmente vencido na vida 
Mas eu acho isso uma grande piada 
E um tanto quanto perigosa... 
 
Eu devia estar contente 
Por ter conseguido 
Tudo o que eu quis 
Mas confesso abestalhado 
Que eu estou decepcionado... 
 
Porque foi tão fácil conseguir 
E agora eu me pergunto "e daí?" 
Eu tenho uma porção 
De coisas grandes prá conquistar 
E eu não posso ficar aí parado... 
 
Eu devia estar feliz pelo Senhor 
Ter me concedido o domingo 
Prá ir com a família 
No Jardim Zoológico 
Dar pipoca aos macacos... 
 
Ah! 
37 
 
Mas que sujeito chato sou eu 
Que não acha nada engraçado 
Macaco, praia, carro 
Jornal, tobogã 
Eu acho tudo isso um saco... 
 
É você olhar no espelho 
Se sentir 
Um grandessíssimo idiota 
Saber que é humano 
Ridículo, limitado 
Que só usa dez por cento 
De sua cabeça animal... 
 
E você ainda acredita 
Que é um doutor 
Padre ou policial 
Que está contribuindo 
Com sua parte 
Para o nosso belo 
Quadro social... 
 
Eu que não me sento 
No trono de um apartamento 
Com a boca escancarada 
Cheia de dentes 
Esperando a morte chegar... 
 
Porque longe das cercas 
Embandeiradas 
Que separam quintais 
No cume calmo 
Do meu olho que vê 
38 
 
Assenta a sombra sonora 
De um disco voador... 
 
Ah! 
Eu que não me sento 
No trono de um apartamento 
Com a boca escancarada 
Cheia de dentes 
Esperando a morte chegar... 
 
Porque longe das cercas 
Embandeiradas 
Que separam quintais 
No cume calmo 
Do meu olho que vê 
Assenta a sombra sonora 
De um disco voador...53 
 
 Nesta música vemos que Raul Seixas, faz uma crítica a tudo que é 
colocado como um objetivo de vida, para se alcançar um final feliz dentro dos 
moldes sociais impostos, ou seja, como já foi mencionado antes, o Brasil vivia 
neste momento o milagre econômico, o qual permitia que as famílias buscassem 
cada vez mais a felicidade em coisas que estavam atreladas a divulgação maciça 
promovida pelos meios de comunicação como carros, passeios e produtos não 
duráveis. 
Por isso, entendo que há uma representação do cotidiano vivido pelo 
cantor, o qual através de suas próprias experiências analisa o meio social que 
está inserido. Sendo assim, concordo quando o autor francês Roger Chartier54 
fala de representação como uma experiência vivida pelo seu interlocutor, o qual 
busca por meio de sua vivência traduzir seu cotidiano de modo a proporcionar ao 
 
53SEIXAS, Raul. Ouro de Tolo. LP Kri-Há, Bandolo! PHILIPS RECORDS, 1973. 
54CHARTIER, loc. cit. 
 
39 
 
expectador uma parte de seu próprio modo de pensar social, desta maneira 
proporcionando a ele uma experiência diferente de uma mesma sociedade. 
 Para além, desta questão da representação, temos também a utilização de 
elementos particulares da contracultura, isto se faz presente na música, no 
sentido de que Raul Seixas propõe que as pessoas deveriam estar felizes por 
suas conquistas, porém, ao mesmo tempo, ele provoca uma inquietação, já que 
convida as pessoas a pensarem com mais que apenas dez por cento do cérebro, 
e também as convida para sair de seus apartamentos e a olharem para além do 
que lhes é apresentado pelo sistema, principalmente se levarmos em conta o 
momento histórico do país. 
Nesta perspectiva, entendo que a música Ouro de Tolo carrega vários 
signos em sua letra, entretanto eles terão um sentido diferente para cada grupo 
social que a escuta. Ou seja, se pensarmos no período em que a canção foi 
lançada, era um cenário a onde tínhamos uma crescente difusão de ideais que 
iam contra o sistema e em contrapartida tínhamos um sistema que ia totalmente 
contra os sentidos provocados pelas estrofes da música. 
Mas a pergunta que fica é como em plena ditadura militar, Raul Seixas, 
passa pelas regras de bloqueio cultural impostas pelas restrições do sistema, e 
lança uma música que faz com que as pessoas revejam seu modo de vida. A 
resposta é um tanto quando simples, pois ele aprendeu a trabalhar nas 
entrelinhas, e a escrever de forma que levasse o público, a ter que pensar em 
suas próprias experiências como sujeitos, para que daí a canção fizesse 
realmente sentido, e com isso ele começa a ter cada vez mais fãs pelo país, isto 
porque, ele propunha uma atitude totalmente nova aos jovens que escutavam 
suas canções, e elas não se limitavam apenas as roupas ou cabelos, pelo 
contrário elas iam mais longe mostrando aos jovens que eles tinham o poder para 
mudar o futuro. 
 Com essa canção, que teve o nome baseado em livros sobre alquimia que 
Raul Seixas lia com frequência55, ele busca trazer à tona sua própria frustração, 
diante de uma sociedade que almejava cada vez mais o que lhes era mostrado 
pela mídia, considerando isso como um presente chique mais que não tinha um 
 
55 PASSOS, loc. cit. 
40 
 
real propósito de mudança social, ou seja, ouro de tolo, e com isto buscava refletir 
sobre o sentido de se ter tudo e ao mesmo tempo não ter nada. Pois quando o 
"embrulho é bonito", mas o conteúdo não corresponde, de nada adianta ter 
acesso a este

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