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105 10 - Ferros Fundidos 10.1 - Introdução Como já foi discutido no capítulo 2, o limite entre aços e ferros fundidos é o teor de 2,07% de C. Portanto, os ferros fundidos são ligas que contém teores de C acima de 2,07%, com ainda presença significativa de Si, Mn, P e S. É claro que existem também as adições de elementos de liga, no entanto isto será abordado em itens subsequentes. No âmbito dos ferros fundidos tem-se a necessidade de se considerar tanto o dia- grama meta-estável como o diagrama está- vel. As variações microestruturais decorren- tes de um ou de outro diagrama possuem suas aplicações práticas específicas em ter- mos de propriedades. Por exemplo, a solidi- ficação metaestável, que resulta em cementi- ta, possui aplicações em componentes que devem resistir a condições abrasivas. Já a solidificação estável, com a formação de grafita lamelar tem suas aplicações em con- dições onde a condutividade térmica é im- portante. Dentro dos ferros fundidos comuns, pode-se observar tanto variações de matriz microestrutural como nos aços, ou seja, pre- sença de ferrita, de perlita, de ambas ou ain- da a presença de microestrutura decorrente de tratamentos térmicos como martensita e bainita, assim como também da morfologia e tipo da grafita, como por exemplo grafita lamelar (cinzentos), vermicular ou grafita esferoidal (nodular). O processo de solidificação dos ferros fundidos pode se processar de três maneiras distintas. A primeira delas é a solidificação se- gundo o diagrama estável. Desta forma ha- verá formação de microestrutura ferrítica ou perlitica dependendo da classe do material e a formação de grafita, que pode ser lamelar, vermicular ou nodular. A Segunda maneira, é aquela em que o ferro fundido solidifica segundo o diagrama metaestável (diagrama em linhas cheias da figura 10.1.1. Neste caso, ocorre a formação de microestrutura ledeburítica e cementita, sem a presença de grafita. A outra ocorrência é a situação em que ocorre uma solidificação mista, onde parte segue o diagrama estável e parte o diagrama metaestável, gerando uma microestrutura chamada mesclada, com presença de ledebu- rita, ferrita e/ou perlita e grafita. A figura abaixo mostra o diagrama Fe- C, delineando o diagrama estável e o meta- estável. Fig. 10.1.1 – Diagrama Fe-C. Linhas tracejadas definem o diagrama estável e as linhas cheias o diagrama metaestável. A figura 10.1.2 mostra esquematica- mente as três rotas de solidificação possí- veis. A solidificação irá seguir o diagrama estável ou o metaestável, dependendo de alguns fatores como: - Taxa de solidificação – Quanto maior a taxa de solidificação, maior a tendência à formação de ledeburita, com a solidifi- cação segundo o diagrama metaestável. - Composição química – Alguns elemen- tos propiciam a formação de ledeburita, ou seja a solidificação segundo o dia- grama metaestável, como por exemplo o Cr, que aproxima as linhas do diagrama estável e do metaestável. Outros elemen- tos, como o Si, afastam estas linhas e 106 propiciando a solidificação segundo o diagrama estável. 10.2 – Classificação dos Ferros Fundidos A classificação dos ferros fundidos pode ser feita, a nível geral, conforme a sua solidificação tenha ocorrido segundo o dia- grama estável ou metaestável. Nesta classi- ficação há três tipos de ferros fundidos, que são: 1) Ferros fundidos brancos – Solidificados segundo o diagrama metaestável e apli- cados em solicitações de resistência ao desgaste; 2) Ferros fundidos grafíticos – Solidifica- dos segundo o diagrama estável e com aplicação dependente da morfologia da grafita. Os de grafita lamelar (cinzentos) são aplicados onde se necessita conduti- vidade térmica e amortecimento de vi- brações e baixos esforços enquanto que os de grafita esferoidal são aplicados em componentes de maior solicitação; 3) Ferros fundidos mesclados – Solidifica- dos parte pelo diagrama estável e parte pelo metaestável. Não possuem aplica- ções comerciais ou industriais. A figura 10.2.1 mostra a microestrutu- ra típica de ferros fundidos brancos (ledebu- rita) e de ferros fundidos grafíticos. (a) (b) Fig. 10.2.1 – Em (a) observa-se uma microestru- tura típica de ferro branco – ledeburita – e em (b) um ferro fundido grafítico – cinzento. Em uma classificação mais específica, os ferro brancos podem ser classificados como coquilhados, onde sua obtenção sub- entende uma elevada taxa de resfriamento e os ligados ao cromo e níquel, onde a obten- ção da microestrutura esta vinculada aos elementos de liga. A figura 10.2.2 mostra a microestrutura de um ferro fundido branco alto cromo. A microesturura consiste de agulhões de cementita em uma matriz de martensita com carbonetos secundários pre- cipitados. Fig. 10.2.2 – Microestrutura típica de um ferro fundido branco de alto teor de cromo. No caso dos ferros fundidos grafíticos, a classificação mais específica esta relacio- nada a morfologia da grafita. Neste caso, os ferros fundidos são: Ferros fundidos cinzen- tos (grafita lamelar); ferros fundidos vermi- culares (grafitas em forma de vermes) e fer- ros fundidos nodulares (grafitas esferoidais). A figura 10.2.3 mostra a microestrutu- ra típica de um ferro fundido cinzento e de um nodular. (a) (b) 107 Fig. 10.2.2 – Classificação segundo a morfolo- gia da grafita. Em (a) ferro fundido cinzento (grafita lamelar) e em (b) ferro fundido nodular (grafita esferoidal). A classificação refinada dos ferros fundidos está relacionada a matriz da micro- estrutura, que quanto maior o teor de perlita, maior a resistência a tração alcançada. Assim, os ferros fundidos cinzentos e os nodulares são classificados conforme seu limite de resistência. A tabela 10.2.1 mostra esta classificação dos ferros cinzentos. Tabela 10.2.1 – Classificação dos ferro fundidos cinzentos. A tabela 10.2.2 mostra a classificação dos ferros fundidos nodulares. Tabela 10.2.2 – Classificação dos ferro fundidos nodulares. Observa-se que quanto maior a classe do ferro fundido, maior a quantidade de ma- triz perlítica. Um conceito importante nos ferros fu- didos é o conceito de carbono equivalente, que descreve a influência de elementos co- mo Si e P no ponto eutético do diagrama ferro carbono. A definição de ferros fundi- dos hipo-eutéticos, eutéticos e hiper- eutéticos é baseada não no teor de carbono, mas sim no carbono equivalente que se cal- cula pela formula abaixo. %CE = %C + 1/3(%Si + % P) Quanto menor o carbono equivalente, maior a classe do material e menores são a quantidade e o tamanho das grafitas. 10.3 Ferros Fundidos Brancos. Os ferros fundidos brancos, confor- me já citado, podem ser fabricados de duas formas básicas. A primeira delas é a que consiste em buscar uma elevada taxa de res- friamento forçando a solidificação segundo o diagrama metaestável. Nestes casos é típi- co buscar pequenos ajustes de composição química que venham a favorecer a formação de coquilhamento, como por exemplo baixar os teores de C e Si e se for o caso adicionar baixos teores de elementos coquilhantes. Uma segunda maneira de produzir ferro branco é atuar intensivamente na composi- ção química do material, fabricando os fer- ros fundidos branco de alto cromo. No primeiro caso, os ferros fundidos são chamados de coquilhados. Nestes casos, em peças de grandes espessuras não se ob- tém ferro branco em toda a seção da peça, mas sim na superfície e em locais onde ser queira gerar uma microestrutura resistente ao desgaste. São obstidas camadasendure- cidas através da produção ferro branco na superfície das peças. As propriedades dos ferros fundidos brancos são: elevada dureza e resistência ao desgaste e são de difícil usinagem. Para o controle da velocidade de resfriamento, são empregadas as chamadas 108 coquilhas, que são moldes ou partes do mol- de metálicos, promovendo alta extração de calor e consequentemente propiciando a solidificação metaestável. Devido às taxas de resfriamento ele- vadas e em muitos casos localizadamente, gera-se um elevado nível de tensões residu- ais nas peças. Desta forma, normalmente se realizam tratamentos térmicos de alívio de tensões, uniformizando-se também a estrutu- ra dendrítica típica de peças fundidas. Como citado anteriormente, elemen- tos como Cr, Mo e Ni são empregados para regular a profundidade de coquilhamento. A figura 10.3.1 mostra uma microestrutura típica de ferro branco coquilhado, sem ele- mentos de liga presentes. Fig. 10.3.1 – Microestrutura típica de ferro fun- dido branco coquilhado, sem elementos de liga. Nota-se o pronunciado crescimento dendrítico preferencial que é típico nestes materiais pelo fato de que a solidificação é forçada em uma direção. A microestrutura consiste de agulhões de cementita e perlita grossa com ferrita. O maior interesse nos ferros fundidos brancos, no entanto, está nos ferros de alta liga ao Cr, Ni e Mo. Estes são chamados de ferros fundidos brancos alta liga. Estes são materiais desenvolvidos para aplicações de elevada solicitação em desgaste abrasivo e por impacto, associados com temperaturas elevadas. A tabela 10.3.1 mostra as composi- ções e as propriedades mecânicas desta clas- se de materiais designados pela norma ASTM A 532. A figura 10.3.2 mostra uma microes- trutura típica de um ferro fundido de alta liga, contendo 2,6% de carbono total, 1,5% de Si, 1.1% de Mn, 14,3% de Cr e 3,0% Mo. Aquecido entre 1040 e 1060o C e resfriados ao ar. A estrutura é composta de carbonetos eutéticos M7C3 em, matriz de martensita com finos carbonetos M3C dispersos. Fig. 10.3.2 – Microestrutura típica de ferro fun- dido de alta liga, contendo Cr e Mo. Nesta classe de materiais estão inclu- ídos os ferros fundidos conhecido como Ni- Hard, que são ligados ao Ni e possuem ele- vada dureza. A microestrutura destes mate- riais consiste em austenita com martensita em uma matriz de carbonetos M3C. A mor- fologia contendo pontilhado em um fundo branco (figura 10.3.3 – a) é tipicamente de ledeburita. (a) 109 (b) Fig. 10.3.3 – Microestrutura típica de ferro fun- dido ligado ao Ni, Ni-Hard. Tabela 10.3.1 – Composição química e propriedades mecânicas dos ferros fundidos de alta liga. Classifi- cação segundo ASTM A 532. Como pode ser observado na tabela acima, de cima para baixo, os teores de ele- mentos de liga vai aumentando. Para a clas- se I, os elementos de liga são Ni e Cr que vão subindo de cima para baixo. Na classe II, o elemento de liga principal é o cromo e o Mo, sendo que o teor de Cr aumenta tam- bém de cima para baixo até chegar na classe III onde se tem 25% de Cr. Em princípio, a aplicação destes materiais está ligada a um compromisso entre elevada resistência ao desgaste com tenacidade e a temperaturas elevadas. Assim, os materiais da classe I, em cima da tabela, possuem melhores tenacida- des que os materiais a baixo na tabela, no entanto, as maiores resistências ao desgaste em maiores temperaturas estão nas classes II e III. 10.4 - Ferros Fundidos Cinzentos Os ferros fundidos cinzentos são ca- racterizados, conforme citado, pela presença de grafita na forma lamelar interligada, que pode estar envolta de uma matriz ferrítica, perlítica ou ferrítico-perlítica. São pouco usuais e não comuns a presença de martensi- ta ou bainita nestes materiais, no entanto para casos específicos, tais matrizes podem estar presentes. A classificação da grafita é feita quan- to a forma, ao tamanho e ao tipo. No caso dos ferros fundidos cinzentos, a forma da grafita é lamelar sendo que o tamanho pode ser classificado conforme padrão mostrado na figura abaixo, onde o tamanho da grafita vai de 1 a 8. Desta forma, compara-se a me- talografia sem ataque em 100x de ampliação com este quadro. O tipo das grafitas também é classifi- cado através de um padrão em 100x de am- pliação onde se classifica de A até E, con- forme descrito abaixo: - Tipo A - Lamelas finas e uniformes distri- buídas ao acaso; - Tipo B - Conhecida como tipo roseta, sen- do o centro do esqueleto formado por grafita fina e as bordas de grafita grosseira; 110 - Tipo C - Conhecida como grafita primária, veios grandes, típica de ferros fundidos hi- pereutéticos; - Tipo D - Grafita fina e interdendrítica com distribuição ao acaso, típica de solidificação com elevado superesfriamento; - Tipo E - Veios finos e interdendríticos com orientação definida, típica de ferros fundidos de baixo carbono equivalente e cuja solidifi- cação ocorreu com elevado superesfriamen- to, ou com a formação de grande quantidade de dendrítas de austenita próeutética. As figuras 10.4.1 caracterizam o ta- manho das grafitas e a 10.4.2 a classificação quanto ao tipo de grafita. Tipo A Tipo B Tipo C Tipo D Tipo E Fig. 10.4.1 – Classificação quanto ao tipo de grafita lamelar, segundo norma ASTM 247 Fig. 10.4.2 - Classificação quanto ao tamanho das lamelas de grafita, segundo norma ASTM A247. O aumento da classe nos ferros fundi- dos cinzentos é alcançado com a obtenção de microestrutura perlítica através da adição de elementos perlitizantes como Cu ou Sn com a busca de tipo de grafita ASTM A e de tamanho pequeno. A produção dos ferros fundidos cin- zentos pode ser feita em fornos do tipo cubi- lô com aquecimento através de coque, for- nos a óleo ou fornos a indução. A carga do forno é composta de ferro gusa, sucata de aço e retorno, que são os canais e massalotes de ferro fundido cinzento além dos ferros ligas necessários. No caso da produção de ferros fundi- dos de maior classe, se faz a adição de Cu ou Sn na panela de vazamento, ou no pró- prio forno, sendo que praticamente não exis- tem perdas por queima. A obtenção grafita refinada está asso- ciada à etapa de inoculação, que é realizada momentos antes do vazamento no molde. A inoculação consiste na adição de um granu- lado de ferro-silício 75% no jato do metal que enche a panela. Este granulado propicia, entre outras coisas, a nucleação heterogênea, promovendo uma fina dispersão no seio do líquido, refinando as células eutéticas e as grafitas. Os inoculantes comerciais possuem ainda a adição de teores de Ca e Al que pro- duzem óxidos estáveis e finos e propiciam uma elevada taxa de nucleação. Um aspecto importante nos ferros fundidos cinzentos é a chamada altura de coquilhamento, que é medida através do 111 vazamento de uma cunha com o metal que se irá vazar os moldes. Com a solidificação metaestável esta relacionada a taxa de soli- dificação, em espessuras finas espera-se que ocorra a formação de ferro branco. Através do teste da cunha, determina-se de forma fácil e rápida a espessura limite para a for- mação de ferro fundido cinzento sem coqui- lhamento. Na seção transversal da cunha, obser- va-se a formação de três regiões distintas que correspondem aos três tipos de materiais obtidos, ou seja: Ferro branco – coquilhado- , ferro mesclado - branco com cinzento – e ferro cinzento. A espessura de coquilhamen- to é determinada medindo-se a cunha con- forme mostrado na figura 10.4.3.Fig. 10.4.3 – Esquema da seção transversal do teste da cunha. A espessura de coquilhamento é me- dida ao final da altura onde se observa ferro branco. Esta espessura é o limite de espessura que o fundido pode ter para que este tenha uma microestrutura de ferro cinzento. Logicamente, esta altura pode ser mi- nimizada através de algumas ações. A inoculação diminui esta altura de coquilhamento. O controle da temperatura também age sobre a altura de coquilhamento. Temperaturas de vazamento muito baixas aumentam a altura de coquilhamento. Elementos como Cr, V e Mo aumentam a altura de coquilhamento enquanto o Si, C e P diminuem. A figura abaixo mostra a influência de diversos elementos na altura de coquilha- mento. No eixo das abscissas lê-se a o teor do elemente de liga em questão e nas orde- nadas a profundidade de coquilhamento Fig. 10.3.4 – Influência dos elementos de liga na altura de coquilhamento de ferros fundidos cin- zentos Na busca de classes superiores com a adição de Cu ou Sn para perlitização, deve- se considerar que no caso de peças finas, preferencialmente usa-se Cu, pois o estanho é um elemento coquilhante na solidificação. No caso de peças espessas, a taxa de solidi- ficação não é crítica e pode-se optar pela adição de estanho. No caso das aplicações, os ferros da classe FC10 e FC15 apresentam excelentes fusibilidade e usinabilidade, e são indicados para aplicação em bases de máquinas, carca- ças metálicas etc. Já os da classe FC 20 e 25 são aplica- dos em componentes estruturais de máqui- nas operatrizes, tais como barramentos ca- beçotes mesas e outros. As classes FC 30 e FC 35, pela sua maior resistência, são empregadas e, engre- nagens, vira-brequins, bases pesadas e colu- nas de máquinas, buchas grandes e blocos de motor. A classe FC 40, possui liga com ele- mentos como cromo, níquel e molibdênio, e como possuem forte tendência ao coquilha- mento, são empregados em peças de espes- sura média a grande. Ferro Branco Coquilhado Ferro Mesclado Branco e cinzento Ferro Cinzento 112 10.5 – Ferros Fundidos Nodulares A obtenção de ferro fundido com gra- fita esferoidal segue em princípio os mes- mos caminhos da produção de ferros fundi- dos cinzentos, foram alguns detalhes. Para se chegar a morfologia esférica ou quase esférica dos nodulares, antes da etapa de inoculação com ligas de Fe-Si75, realiza-se um tratamento intermediário com uma liga de Fe-Si-Mg, contendo teores de Mg que podem variar de 4 a 8% nominal- mente. O elemento responsável pela mudan- ça da morfologia da grafita é o Mg, que atua na energia livre de crescimento dos cristais de grafita, alterando o plano preferencial de crescimento. Várias teorias discutem o me- canismo fenomenológico para a mudança no crescimento da grafita, no entanto não cabe aquí entrar nestes detalhes. Em termos de processo, o tratamento de nodularização é realizado em uma panela intermediária entre o forno e a panela de vazamento. A figura 10.5.1 mostra esquema- ticamente a panela de tratamento de nodula- rização. Fig. 10.5.1 – Esquema de uma panela de nodula- rização do tipo tampa intermediária. No desenho acima se observa alguns detalhes importantes para o bom rendimento do processo de nodularização. O primeiro está relacionado com a e- xistência da tampa. O processo denominado simples transferência, não possui a tampa com a bacia e o canal de descida acima. Consequentemente, o rendimento de Mg é inferior, queimando muito durante o trata- mento. Com a tampa, o rendimento de Mg sobe para valores da ordem de 70 a 80%, gerando economia de processo. A forma da tampa premia uma bacia para vazamento do metal do forno e o canal de descida, que deve estar do lado oposto a câmara onde é colocada a liga nodularizante. A câmara para a liga nodularizante, oposta ao canal de descida, acomoda a liga momentos antes do vazamento. Com a posi- ção oposta ao canal de descida e com uma cobertura de chapas finas de aço ou limalha de ferro fundido colocada sobre a liga nodu- larizante, busca-se retardar o início da rea- ção de nodularização, formando uma coluna de metal líquido no interior da panela, o que melhora o rendimento de Mg. No caso dos ferros fundidos cinzentos, a grafita é interconectada, o que promove uma solidificação celular concorrente e si- multânea. No caso dos nodulares, os nódu- los de grafita são independentes e formam isoladamente uma célula eutética. Desta forma os problemas de microsegregações intercelulares são mais críticos nos nodula- res que nos cinzentos, fazendo com que a etapa de inoculação após o tratamento de nodularização seja mais importante do que nos cinzentos. Um exemplo disso são os teores de inoculantes utilizados em ambos os casos. Para a produção de Ferros fundi- dos cinzentos, adiciona-se de 0,3 a 0,4% de inoculante enquanto que para os nodulares estes teores são de 0,6%. Assim como os cinzentsos, os nodula- res são caracterizados pelo tamanho e forma dos nódulos de grafita. Os parâmetros de qualidade definem três exigências em ter- mos de nódulos que são: - Número de nódulos por unidade de área: Este número está ligado ao número de células eutéticas geradas na solidifica- ção. Os fatores de processo que afetam a quantidade de nódulos são a temperatura de vazamento, taxa de solidificação (es- pessura do fundido) e inoculação. Ele- vadas temperaturas de vazamento dimi- nuem o número de nódulos enquanto que maiores taxas de solidificação e efi- 113 cientes inoculações tendem a aumentar este número; - Grau de nodularidade: Representa o quanto os nódulos estão esféricos. Os critérios de qualidade determinam que este valor deve ser o maior possível, sendo aceitável até valores de 85% de nodularidade. No entanto, o valor limite em muitos casos é definido pelos usuá- rios segundo as exigências de projeto e solicitações. A taxa de solidificação (es- pessura do fundido) e o teor de Mg atu- am neste parâmetro. Solidificações mais lentas tendem a prejudicar a forma do nódulo, assim como teores abaixo de 0,30% de Mg e teores acima de 0,6% de Mg; - Tamanho de nódulos: O tamanho de nódulos está ligado ao número de nódu- los. Um elevado número de nódulos normalmente leva a tamanhos menores, apesar de não ser uma regra geral. Taxa de solidificação (espessura do fundido), inoculação e composição química atuam no tamanho dos nódulos. Elevados teo- res de C e Si tendem a formar nódulos maiores, assim como taxas de solidifica- ção mais lentas (peças grossas). Inocula- ções eficientes geram menores nódulos. A figura 10.5.2 mostra esquematica- mente a morfologia da grafita, representan- do o grau de nodularidade, abaixo mostran- do a tabela com a definição das morfologias e a correlação com as normas ASTM e ISO que definem o tiopo de grafita. 114 Fig. 10.5.2 – Classificação do tipo de grafita quanto a sua morfologia. A matéria prima para a produção de nodular é diferente em sua composição quí- mica daquela para cinzentos. Normalmente, os teores de S e P são inferiores. O enxôfre tem forte afinidade pelo Mg para formar sulfeto de magnésio (MgS), consumindo o Mg necessário para a nodularização. Em função disso, procura-se manter o teor de S baixo na matéria prima. O P atua como fra- gilizante das ligas de nodular, prejudicando a tenacidade do material, e também procura- se mantê-lo em teores baixos. Quanto a microestrutura da matriz, as classes mostradas na tabela 10.2.2, os nodulares de classe mais baixa, ou seja de menor limite de resistência e maior ductili- dade, possuem matriz ferrítica. A medida que a classe aumenta, oteor de perlita vai aumentando, passando para matriz ferrítico perlítica, depois para perlítico-ferritica e chegando em matriz perlítica nas classe su- periores. 115 Fig. 10.5.3 – Diferentes graus de nodularidade. A figura 10.5.3 exemplifica diferen- tes graus de nodularidade. Conforme descrito acima, a matriz varia de acordo com a classe do nodular. Com o aumento da classe, o teor de perlita também aumenta. A perlita começa a surgir nas regiões intercelulares devido ao fato de que nestas regiões ocorrem segregações de elementos perlitizantes, como o Mn por e- xemplo e também devido a distância destas regiões do nódulo, desfavorecendo a difusão do carbono para o mesmo. A medida que o teor de perlita aumenta, em classes de maior resistência, surge a típica estrutura denomi- nada de “olho de boi”, caracterizada como uma matriz predominantemente perlítica e um anel ferrítico em torno do nódulo. A figura 10.5.4 mostra uma destas microestru- turas. Fig. 10.5.4 – Microestrutura “olho de boi”, típi- ca de ferros fundidos de maior resistência. Com o desenvolvimento tecnológico destes materiais, e a grande versatilidade na obtenção de diferentes microestruturas via tratamentos térmicos, foram desenvolvidas uma classe especial deste material, com mi- croestrutura de bainita, chamados os nocula- res ADI – Austempered Ductile Iron. Estes ferros fundidos possuem com- posições químicas específicas, contendo elementos como Mo, Cu, Ni ou outros ele- mentos, que balanceados, propiciam a for- mação de bainita no tratamento de austêm- pera. São materiais de elevada resistência aliada a excelente ductilidade. A figura 10.5.5 mostra uma microestrutura típica destes materiais. Fig. 10.5.5 – Microestrutura típica de ferros fundidos austêmperados. (ADI). Bainita, auste- nira retida e grafita. Outro material decorrente dos desen- volvimentos dos ferros fundidos são os fer- ros fundidos de grafita compacta ou vermi- culares. Como já citado os cinzentos possuem a grafita na forma lamelar e totalmente in- terconectada. A forma lamelar, formando acuidades nas pontas das grafitas interco- nectadas, faz com que este material possua (c) 50% (b) 80% (a) 99% 116 baixa resistência, pois as grafitas atuam co- mo trincas no material. Em função disso os cinzentos não são utilizados em solicitações em que resistência, ductilidade e tenacidade são exigidas. No entanto, como a grafita possui alta condutividade térmica e amorte- cimento de vibrações, e ainda, está interco- nectata, estes materiais são empregados em blocos de motores de bases de máquinas por exemplo. Já os nodulares, a grafita é esferoi- dal, eliminando os problemas decorrentes das “trincas” do ferro cinzento, dando aos noculares, elevada resistência, ductilidade e tenacidade, podendo estes ser empregados em componentes de responsabiliade como gira-brequins, ganchos e outros componen- tes. No entanto, este material possui baixa condutividade térmica e baixo amortecimen- to de vibrações. Na busca de um material que apre- sentasse propriedades intermediárias entre os cinzentos e os nodulares, aliando as van- tagens dos dois, desenvolveu-se os ferros de grafitas compacta, onde as grafitas não pos- suem as acuidades dos cinzentos, logo re- presentando “trincas arredondadas”, porém ainda interconectadas, dando condutividade e amortecimento de vibrações. A figura 10.5.6, mostra uma micro- grafia de um ferro fundido vermicular, mos- trando a morfologia da grafita. Quanto as matrizes possíveis, seguem os mesmos crité- rios dos nodulares ou cinzentos. Fig. 10.5.6 – Caracterização da morfologia da grafita nos ferros fundidos de grafita compacta (vermicular). Matriz de ferrita.
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