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TECNICAS E PREPOSIÇOES Versão final

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Universidade de Brasília
Instituto de Ciência Política
ANÁLISE POLÍTICA E TÉCNICA DE PROPOSIÇÃO LEGISLATIVA
Lei Maria da Penha e Lei do Feminicídio
Projeto de Lei, Nº 4559 de 2004 e Projeto de Lei do Senado Nº292 de 2013
Professor: Juarez de Souza
Discentes: Catharina Araujo Sá – 13/0023787
Fernando Gonçalves de Abreu – 14/0139192 
Ana Beatriz Queiroz Pacheco – 14/0015680
Sumário
Introdução...................................................................................................................... 3
Fase I............................................................................................................................... 4
	Objeto.................................................................................................................. 4
	Motivos................................................................................................................ 4
	Tramitação.......................................................................................................... 7
	Resumo das Relatorias..................................................................................... 11
	Audiência Pública e Seminários...................................................................... 12
	Posição dos Partidos......................................................................................... 12
	Sanção................................................................................................................ 13
Fase II............................................................................................................................ 14
	Mídia.................................................................................................................. 14
ONG’s................................................................................................................ 16
Movimentos Sociais........................................................................................... 17
	Universidades.................................................................................................... 18
	Artigos................................................................................................................ 19
	Instituições Científicas...................................................................................... 20
	Partidos Políticos............................................................................................... 21
Fase III........................................................................................................................... 21
	Enfoque Teórico do Problema Estudado.........................................................21
Fase IV........................................................................................................................... 22
	Analise e Avaliação Critica.............................................................................. 22
	Dez anos da Lei Maria da Penha..................................................................... 26
	Conclusão........................................................................................................... 27
Introdução
	O presente artigo tem como objetivo fazer uma análise da tramitação do Projeto de Lei da Maria da Penha e do Feminicídio, a fim de compreender o processo que gerou a legislação específica para o combate à violência contra a mulher.
	A Lei 4559/2004, mais conhecida como Lei Maria da Penha, foi de autoria de executivo, uma vez que na época havia uma pressão internacional, principalmente da ONU para que se criasse uma legislação específica para as mulheres, pois no Brasil as taxas de violência doméstica são altas, sendo necessário que o Estado garanta proteção para as mulheres.
	Com isso, o artigo também analisa a repercussão da Lei nas mídias sociais, bem como sua efetividade após a promulgação. Ao estudarmos seus impactos na sociedade, notamos que apesar de haver melhoras no combate aos crimes relacionados ao gênero feminino, não houve uma diminuição das taxas de feminicídios (homicídios motivados pela discriminação de gênero). 
	Assim, houve a necessidade da criação de uma lei específica que pudesse ser efetiva contra os homicídios cometidos contra a mulher. Diante disso, o Senado Federal propôs um novo projeto de lei, o qual propõe que o feminicídio seja incluído como um crime hediondo. 
	Portanto, este texto procura estudar as diversas circunstâncias que permearam a criação das leis, bem como sua efetividade na sociedade para podermos compreender como funcionam os direitos das mulheres e seus reais impactos.
Fase I
Proposição:
Projeto de Lei nº 4559/2004
Objeto:
O objeto do Projeto de Lei em questão é a violência domiciliar contra a mulher. Assim, o presente trabalho visa analisar a tramitação do projeto e a repercussão nas mídias e na sociedade, bem como a efetividade da Lei após ser sancionada.
Autoria:
Executivo
Motivos:
A proposta de lei surgiu de uma denúncia, de um caso específico, que acabou sendo levado à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (OEA), por meio de ONGs, aumentando a visibilidade deste problema que estava arraigado na sociedade brasileira.
Em 1983, Maria da Penha Maia Fernandes, casada com Marco Antônio Herredia Viveros, sofreu sua primeira tentativa de assassinato, por parte do marido, saindo desta paraplégica. Pouco tempo depois, o marido tentou assassiná-la novamente. Maria denunciou, e o caso ainda não havia sido analisado nas devidas instâncias, demorando cerca de 15 anos para chegar a uma solução.
A partir desse fato, em 2002, as ONGs levaram a questão à Organização dos Estados Americanos (OEA), que acabou condenando o Brasil por negligência e omissão em relação à violência doméstica. Como punição, uma das medidas orientavas era que fosse criada uma legislação acerca do tema. A Comissão concluiu que o Estado Brasileiro não cumpriu o previsto no artigo 7º da Convenção de Belém do Pará e nos artigos 1º, 8º e 25 da Convenção Americana de Direitos Humanos. Recomendou o prosseguimento e intensificação do processo de reforma que evite a tolerância estatal e o tratamento discriminatório com respeito à violência doméstica contra a mulher no Brasil e, em especial recomendou “simplificar os procedimentos judiciais penais a fim de que possa ser reduzido o tempo processual, sem afetar os direitos e garantias do devido processo” e “o estabelecimento de formas alternativas às judiciais, rápidas e efetivas de solução de conflitos intrafamiliares, bem como de sensibilização com respeito à sua gravidade e às consequências penais que gera”.
Foi elaborado o Projeto de Lei que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8° do art. 226 da Constituição Federal, organizado pelo Grupo de Trabalho Interministerial criado pelo Decreto n° 5.030, de 31 de março de 2004, integrado pelos seguintes órgãos: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, da Presidência da República, na condição de coordenadora; Casa Civil da Presidência da República; Advocacia-Geral da União; Ministério da Saúde; Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República; Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República; Ministério da Justiça e Secretaria Nacional de Segurança Pública/MJ.
 Em março do ano de 2004, foi encaminhada pelo Consórcio de Organizações Não-Governamentais Feministas uma proposta de anteprojeto de Lei para subsidiar as discussões do Grupo de Trabalho Interministerial instituído com a finalidade de elaborar proposta de medida legislativa para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. A proposta foi amplamente discutida com representantes da sociedade civil e órgãos diretamente envolvidos na temática, tendo sido objeto de diversas oitivas, debates, seminários e oficinas.
É contra as relações desiguais que se impõem os direitos humanos das mulheres. O respeito à igualdade está a exigir, portanto,uma lei específica que dê proteção e dignidade às mulheres vítimas de violência doméstica. Não haverá democracia efetiva e igualdade real enquanto o problema da violência doméstica não for devidamente considerado. Os direitos à vida, à saúde e à integridade física das mulheres são violados quando um membro da família tirar vantagem de sua força física ou posição de autoridade para infligir maus tratos físicos, sexuais, morais e psicológicos.
A violência doméstica fornece as bases para que se estruturem outras formas de violência, produzindo experiências de brutalidades na infância e na adolescência, geradoras de condutas violentas e desvios psíquicos graves.
  As disposições preliminares da proposta apresentada reproduzem as regras oriundas das convenções internacionais e visa propiciar às mulheres de todas as regiões do país a cientificação categórica e plena de seus direitos fundamentais previstos na Constituição Federal, a fim de dotá-la de maior cidadania e conscientização dos reconhecidos recursos para agir e se posicionar, no âmbito familiar e na sociedade, o que, decerto, irá repercutir, positivamente, no campo social e político, ante ao factível equilíbrio nas relações pai, mãe e filhos.
Somente através da ação integrada do Poder Público, em todas as suas instâncias e esferas, dos meios de comunicação e da sociedade, poderá ter início o tratamento e a prevenção de um problema cuja resolução requer mudança de valores culturais, para que se efetive o direito das mulheres à não violência
O pedido de tramitação especial em regime de urgência, nos termos do § 1° do artigo 64 da Constituição Federal, para o Projeto de Lei apresentado, justifica-se pelo cumprimento das recomendações ao Estado Brasileiro do Comitê para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher – CEDAW, do Plano de Ação da IV Conferência Mundial sobre a Mulher (1995), da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher - Convenção de Belém do Pará (1994), do Protocolo Facultativo à Convenção sobre Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, além de outros instrumentos de Direitos Humanos. E, finalmente, pelo clamor existente na sociedade com o sentido de coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher que hoje alcança índices elevadíssimos e pouca solução no âmbito do Judiciário e outros Poderes estabelecidos (FREIRE, Nilcéia. EM n° 016 - SPM/PR. 2004. (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/projetos/expmotiv/smp/2004/16.htm). 
Tramitação:
Na Câmara dos Deputados
O projeto foi de iniciativa do Executivo e teve sua tramitação iniciada pela Câmara dos Deputados. O Projeto foi apresentado em Plenário, e logo depois, iniciou-se sua tramitação na Câmara. 
O projeto foi apresentado no plenário, no dia 03 de dezembro de 2004. Em seguida, foi para a Mesa Diretoria da Câmara dos Deputados, e foi designado despacho para as comissões de Seguridade Social e Família; Finanças e Tributação e Constituição e Justiça e de Cidadania. 
Na Comissão de Seguridade Social e família, no dia 15/02/2005, foi designada como relatora, a Deputada Jandira Feghali (PCdoB/RJ). A Deputada apresentou um requerimento, no dia 10/03/2005, solicitando uma audiência pública, a fim de debater o PL 4559, de 2004. Seu requerimento foi aprovado no dia 16/03.
No dia 31/03 deste mesmo ano, a mesa apensou ao projeto, o PL nº 4958/2005, de autoria do ex-deputado Calos Nader (PL/RJ), que pretendia criar o Programa de Combate à Violência contra a Mulher e dar outras providências, e em seguida, abriu o prazo para Emendas ao Projeto, no início de abril, porém estas não foram apresentadas.
Em meados de abril, a Deputada Maria do Rosário (PT/RS), apresentou um requerimento, solicitando que o projeto fosse apreciado também na Comissão de Direitos Humanos e Minorias, seu requerimento foi aprovado. Nesta comissão, houve ainda outro projeto de lei apensado, o PL nº 5335/2005, também de autoria do ex-deputado Calos Nader, que cria Programa especial de atendimento, para fins de renda e emprego, às mulheres vítimas de violência conjugal.
Em maio, a Deputada Jandira, relatora do projeto, na Comissão de Seguridade Social e Família, solicitou, com apoio da Comissão dos Direitos Humanos e Minorias, e da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, por meio de um requerimento, que fosse realizado um seminário, para esclarecer o assunto do projeto, que era a violência doméstica. Seu pedido foi aprovado, e ocorreu o seminário. 
O parecer apresentado pela deputada foi pela aprovação do substitutivo do projeto, e rejeição dos apensados. Nesta comissão, o parecer foi aprovado por unanimidade. 
Após sua aprovação na CSSF, o projeto passou para a Comissão de Finanças e Tributação, com os PLs 4958/2005 e 5335/2005, apensados ao projeto inicial. Na comissão, foi designada como relatora a deputada Yeda Crusius (PSDB/RS). Seu parecer foi pela adequação financeira e orçamentária dos PLs nº 4958/2005 e 5335/2005, apensados e do substitutivo da Comissão de Seguridade Social e Família, com emendas. Seu parecer foi aprovado por unanimidade.
Em seguida, o projeto com seus apensados, chegou à Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania. Nesta comissão, a relatora designada foi a ex-deputada Ininy Lopes (PT/ES). 
Na CCJC, foi apresentado um requerimento, solicitando urgência na apreciação do PL 4559/2004, apensado ao PL original, e este foi aprovado. O parecer apresentado pela relatora foi pela constitucionalidade, juridicidade, técnica legislativa e, no mérito, pela aprovação deste, do Substitutivo da Comissão de Seguridade Social e Família, das Emendas da Comissão de Finanças e Tributação, do PL 4958/2005 e do PL 5335/2005, apensados, com substitutivo. Foi aprovado por unanimidade o parecer com complementação de voto, apresentou voto em separado o Deputado Antonio Carlos Biscaia.
Em dezembro de 2005, foi o projeto chegou à Coordenação de Comissões Permanentes (CCP), e lá encaminhado à publicação, em avulso, os pareceres das comissões nas quais o projeto foi apreciado.
Em face dos projetos que estavam tramitando na casa, o Projeto de Lei nº 4559/2004 acabou sendo prejudicado, atrasando sua tramitação. Mesmo com as outras demandas da casa, é possível observar, que ao longo do período em que o projeto ficou prejudicado, alguns parlamentares tentaram aprovar requerimentos que possibilitassem a apreciação do projeto em plenário. Foram solicitados requerimentos de inversão de pauta em diversas sessões para que o projeto fosse apreciado.
Por fim, em plenário, o projeto foi apreciado e aprovado na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC). Após encerrar a discussão, a votação foi em turno único, e resultou na aprovação do substitutivo da CCJC, aprovação das Emendas de Plenário, nºs 2 e 3, com parecer favorável; prejudicados o Projeto inicial, e o substitutivo da CSSF, e as emendas propostas na CFT, e ainda, os Projetos de Lei ºs 4958/05 e 5335/05. Os membros da CCJC votaram acerca da redação final, e esta foi aprovada. Assim, a matéria foi remetida ao Senado Federal, em 31/03/2006.
No Senado Federal
No Senado, o projeto foi denominado PLS 292/2013, e primeiramente, o projeto foi despachado para a Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania. Foi designada relatora, a senadora Lucia Vânia (PSDB/GO). Seu parecer foi pela aprovação do projeto, com as alterações necessárias, só então, este foi apreciado na comissão, e teve seu parecer aprovado.
A senadora Serys Slhessarenko (PT/MT) apresentou um requerimento de urgência para a matéria, e sua solicitação foi aprovada.
Após a aprovação na CCJ, o projeto foi para a mesa, e houve um prazo para o encaminhamento de emendas à proposição. Não foram feitas alterações, e assim, o projeto foi apreciado em plenário e aprovado no dia 12/07/2006.
O projeto foi então, para o Executivo, para que fosse sancionado, e assim, entrasse em vigor. O projeto foi publicado em 13/07/2006 e sancionado em 07/08/2006, dando origem à lei nº 11.340, que ficou conhecidacomo Lei Maria da Penha.
Resumo das relatorias:
Na Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF), foi designada a deputada Jandira Feghali (PCdoB/RJ), como relatora. A Deputada em questão se posicionou pela aprovação do PL 4559/2004, com substitutivo, e pela rejeição do PL 4958/2005 e PL 5335/2005, que estavam apensados.
Na Comissão de Finanças e Tributação (CFT), foi designada como relatoria, a deputada Yeda Crusius (PSDB/RS). Seu parecer foi pela aprovação, com adequações financeiras e orçamentárias do Projeto, dos PL’s apensados.
Na Constituição e Justiça e Cidadania (CCJC), a relatoria ficou com a deputada Iriny Lopes (PT/ES), e seu parecer foi pela aprovação, em constitucionalidade e mérito, do PL em si, do seu substitutivo da Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF), e das emendas da Comissão de Finanças e Tributação (CFT).
No Senado, na Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania, foi designada relatora, a senadora Lucia Vânia (PSDB/GO), que apresentou seu parecer pela aprovação do projeto.
Audiência pública e Seminários:
No dia 16 de março de 2005, a senhora Jandira Feghali apresentou requerimento para a realização de audiência pública para debater a matéria, tendo sido este aprovado. No entanto, não há registros do que foi debatido nesta audiência, e também não há registros das pessoas que foram convidadas a participar. Além disso, a deputada esteve em oito estados nos quais realizou audiências públicas junto às Assembleias Legislativas a fim de debater sobre o projeto de lei, averiguar as demandas de cada região e espelhá-las no substitutivo que foi apresentado pela CSSF, para votação. 
Também foi realizado o Seminário proposto pela deputada Jandira, relatora do projeto, na Comissão de Seguridade Social e Família. Realizado em 16/08/2005, foi denominado “Violência contra a Mulher: um Ponto Final”. No primeiro painel foi abordado “Dez anos da Convenção de Belém do Pará e da Lei nº 9.099, de 1995”. E, no segundo painel, denominado Violência contra a Mulher, foi abordada a “Visão do Legislativo, do Executivo, do Judiciário e da Sociedade Civil”.
Posição dos partidos:
Não há registros quanto ao posicionamento dos partidos, mas há indícios de que o projeto era bem aceito pela maioria na casa, por se tratar de um problema de saúde pública, que despertou nas organizações internacionais, uma preocupação, por ainda estar muito presente na vida dos brasileiros. 
Além desses fatores, a Sessão deliberativa extraordinária na Câmara dos Deputados, em que ocorreu a votação da redação final, no dia 22 de março de 2006, demonstrou que os deputados tinham pressa em apreciar a matéria, visto que foi apresentado um requerimento pelos deputados Líderes para que a matéria fosse invertida de pauta, passando do item 5 a ser apreciado ao item 2. O requerimento foi aprovado e a redação final foi discutida e votada em turno único.
Sanção:
O Projeto de Lei 4559/04 foi sancionado pela Presidência da República com objetivo de prevenir e fornecer proteção às mulheres que sofrem com a violência doméstica. Segundo o governo da época, a aprovação do PL representou uma vitória para as mulheres brasileiras, além de atender a recomendação feita pela ONU para a criação de uma legislação específica sobre a violência contra a mulher. Dessa forma, a Presidência sancionou o Projeto de Lei (afinal é de sua própria autoria), haja vista que também era de interesse, do Poder Executivo, que houvesse um progresso na defesa dos direitos das mulheres.
Recentemente, o Senado Federal criou um projeto de lei que visa prever o feminicídio como um homicídio qualificado, para que as penas contra este tipo de crime sejam mais rigorosas. Após tramitar no Senado e na Câmara, o projeto de lei foi aprovado nas duas casas, seguindo para a sanção ou veto presidencial. A presidente Dilma anunciou a sanção do projeto de lei no dia internacional das mulheres durante seu discurso. Ela frisou que o crime teria penas mais rígidas, fazendo parte da “tolerância zero” à violência contra a mulher. 
	Dessa forma, a sanção dos dois projetos de lei representou um grande passo para criar uma legislação que combatesse à violência contra a mulher. Assim, a lei do feminicídio é uma complementação a Lei Maria da Penha, tendo em vista que mesmo com a aplicação desta lei, ainda houve a necessidade de uma lei especifica sobre o homicídio contra a mulher, uma vez que ainda havia altas taxas de mortalidade feminina. 
Fase II – Sociedade Civil
A rede de enfrentamento contra a violência praticada no âmbito familiar e doméstico é composta, de forma geral, por: a) Agentes governamentais e não-governamentais formuladores, fiscalizadores e executores de políticas públicas para as mulheres, tendo como principal representante a SPM; b) ONGs feministas, movimentos de mulheres, conselhos dos direitos das mulheres; c) Serviços/programas voltados para a responsabilização dos agressores; d) Universidades, órgãos federais, estaduais e municipais responsáveis pela garantia de direitos; e) Serviços especializados e não-especializados de atendimento às mulheres em situação de violência. Assim o grupo resolveu apresentar as principais partes da sociedade civil que tem alguma influência sob o assunto abordado.
Mídia
 No artigo “Lei Maria da Penha na mídia: o debate mediado antes e depois da sanção da lei brasileira de combate à violência doméstica contra a mulher”, de autoria de Rayza Sarmento, há a intenção de analisar como a mídia popular encarou a proposta da aprovação da lei Maria da Penha. Para isso, a autora analisa 44 matérias publicadas nos jornais “Folha de S. Paulo” e “O Globo”, do período de 2001 a 2005. (Sarmento, 2013, pg. 1).
 A autora indica que os itens com maior presença nessas matérias são: os direitos das mulheres, a impunidade e o tratamento dos agressores. O que foi discutido sobre o primeiro item citado foi a necessidade de “assegurar direitos fundamentais às mulheres a partir de uma legislação que as ampare” (Sarmento, 2013, pg. 13). Os jornais “Folha de S. Paulo” e “O Globo” afirmaram a necessidade de serviços de atendimento e programas governamentais para garantir os direitos das mulheres, e também citam as desigualdades entre homens e mulheres como um dos principais geradores de violência contra o sexo feminino. Sendo assim, nessas matérias é exposto a visão da necessidade do entendimento da violência doméstica como sendo um problema público, e que é de suma importância “garantir que as mulheres tenham condições de enfrentá-las”. (Sarmento, 2013, pg. 13- 14).
 Sobre o segundo item, a impunidade, os jornais comentaram sobre a necessidade de punições mais severas aos agressores, por meio de uma nova legislação. E o último item, o tratamento, é aprovado por esses jornais, já que esses expressam a necessidade de tratamento psicológico dos agressores, para assim esses serem reintegrados às suas famílias e à sociedade. (Sarmento, 2013, pg. 13-14).
 Portanto, a autora conclui que no período de 2001-2005 houve um forte incentivo por parte dos jornais “Folha de S. Paulo” e “O Globo” para a aprovação da lei Maria da Penha. É visível pelas matérias analisadas que a expectativa desses jornais é que com a lei Maria da Penha se tenha a ampliação dos direitos das mulheres, e principalmente, punições mais severas e adequadas aos agressores. (Sarmento, 2013, pg. 16).
2) ONGs
 No artigo “ONGs feministas: conquistas e resultados no âmbito da lei Maria da Penha”, de Patrícia Osadón Albarran, há a afirmação da importância da luta das ONGs feministas no combate à violência contra a mulher, até a aprovação da lei Maria da Penha. (Albarrán, 2013, pg. 315).
 A autora afirma que as ONGs feministas começaram a se tornar mais atuantes no Brasil a partir de 1970, época do surgimento de mobilizações de rua que tinham como intuito “discutir” a violência contra a mulher. Outro momento citado como de grande mobilização dessas organizações não governamentaisé o ano de 1998, quando ONGs como a CEPIA, CFEMEA, Tremis, junto com a comissão dos Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, criaram um documento visando o combate da violência contra a o sexo feminino no âmbito doméstico, intitulado de “Propostas para o Estado brasileiro”. Sendo assim, Albarran afirma que o trabalho das ONGs feministas “envolveu desde renúncias sobre o assassinato de mulheres, na década de 1970, aluta, nos anos 1990, pela a abertura de delegacias especializadas de atendimento, e em 1990, pela a criação de casas de abrigo e de uma legislação para o crime de violência contra a mulher, culminado, por fim, na aprovação da lei Maria da Penha” (Albarran, 2013, pg. 321-322).
 Assim sendo, em 2002, as ONGs Adovocacy, CFEMEA, CEPIA, AGENDE, CLADEM e THEMIS se juntaram para a criação de um documento que tinha como por objetivo sugerir medidas de punição, erradicação e prevenção da violência contra a mulher, além de sugerir a criação dos Juizados de violência domésticas e familiar contra o sexo feminino e também, mudanças nos processos processuais e policiais. Esse documento viria a ser a lei Maria da Penha. (Albarrám, 2013, pg. 323).
 Portanto, a autora afirma que o papel das ONGs feministas foi de suma importância para a criação da lei Maria da Penha, já que essas, desde 1970 vem preparando o campo para a implementação desta lei. Além disso, essas ONGs possuíram experiência e conhecimentos necessários para a criação da minuta. Entretanto, o trabalho dessas organizações não governamentaisainda não terminou com a aprovação da lei, dado que até hoje, ONGs como a CFEA lutam para que as ações políticas de combate à violência contra a mulher sejam executadas em todo o território nacional e em todas as esferas governamentais. (Albarrán, 2013, pg. 324-332).
3) Movimentos Sociais
 A iniciativa de políticas públicas por parte do governo brasileiro para a proteção das mulheres vítimas de agressões físicas e psicológicas se manifesta em parceria com a evolução dos movimentos feministas. Débora Alves Maciel, no artigo “Ação coletiva, mobilização do direito e instituições políticas: o caso da campanha da lei Maria da Penha”, indica a importância dos movimentos sociais para a aprovação da lei Maria da Penha, principalmente entre 2003 e 2006, quando eclodiram uma série de manifestações públicas, que tinham como objetivo pressionar o processo decisório. (Maciel, 2011, pg. 103).
 Exemplo de movimento social que apoiou a aprovação da lei Maria da Penha foi a “Articulação de Mulheres Brasileiras”, sendo que essa promoveu vigílias em todo o território nacional pelo o fim da violência contra indivíduos do sexo feminino. (Maciel, 2011, pg. 103).
A própria mulher que deu nome à lei, Maria da Penha, após as tentativas de homicídio que sofreu, começou a atuar em movimentos sociais contra a violência e impunidade e hoje é coordenadora de Estudos, Pesquisas e Publicações da Associação de Parentes e Amigos de Vítimas de Violência (APAVV) no Ceará.
	
4) Universidades
 O ensaio “Desafios políticos em tempos de Lei Maria da Penha”, de Lilia Guimarães Pougy, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), determina que a violência de gênero é um fenômeno social, sendo que essa é uma das formas de expressão das desigualdades sociais entre homens e mulheres, desigualdade essa que foi sendo construída ao longo da história da humanidade. A autora cita a II Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, que se deu em agosto de 2007, em que a violência de gênero é tratada como “qualquer forma de violação dos direitos humanos das mulheres, seja com vinculação afetiva, seja comunitária ou ainda a violência institucional, praticadas por agentes do Estado. ” (Pougy, 2010, pg. 77). 
 Assim sendo, a autora enfatiza a necessidade de uma lei que venha a acabar com esse tipo de violência, já que essa impede a realização da cidadania da mulher. Sendo assim, em 2006 é aprovada a Lei 11.340/06, mais conhecida como Lei Maria da Penha. Essa lei busca a punição dos agressores e o combate à violência de gênero, sendo que o processo dessa lei não se esgota apenas na punição, mas também envolve ações de prevenção, proteção e assistência à mulher agredida. (Pougy, 2010, pg. 78-79).
 Assim sendo, segundo a autora, há o desafio da “consolidação da política de enfrentamento da violência contra a mulher” (Pougy, 2010, pg. 8), estimulando “práticas de atenção que busquem revitalizar a noção de cidadã das mulheres em situação de violação de direitos, independentemente dos lugares em que se manifestam a violência”, para assim, haver a afirmação da cidadania, e o acesso à justiça pela as mulheres. (Pougy, 2010, pg. 80).
5) Artigos
 O artigo “A lei Maria da Penha e as medidas de proteção à mulher”, de Thiara Martini, tem como objetivo analisar a Lei 11.340/06, mais conhecida como lei Maria da Penha. (Martini, 2009, pg. 3).
 A autora começa a afirmar que a violência doméstica contra a mulher ocorre desde a antiguidade, já que pesquisas apontam que a dominação do homem sobre a mulher possui aproximadamente 2500 anos, tendo como base os escritos do filósofo Filón de Alexandre, que propagava a ideia de que a mulher tinha menor capacidade de raciocínio e a alma inferior aos dos indivíduos do sexo masculino. Sendo assim, ao longo dos séculos existiu a ideia de inferioridade da mulher em relação ao homem, e sua consequente subordinação, ideia que é presente até os dias de hoje em determinadas sociedades. (Martini, 2009, pg. 8-9).
 Em decorrência disso, houve um longo processo de reivindicações, vindo principalmente das feministas, que buscaram reafirmar os direitos e a dignidade das mulheres. Um dos resultados dessa série de reivindicações foi a lei Maria da Penha, aprovada em 2006. (Martini, 2009, pg. 9).
 A autora afirma que a lei Maria da Penha “vem calcada principalmente no princípio da dignidade da pessoa humana, previsto no artigo 1°, Inciso III da Constituição Federativa do Brasil de 1988” (Martini, 2009, pg. 14). Ou seja, essa lei veio a reafirmar a dignidade das mulheres, e a reconhecer todos os direitos que lhe são inerentes. (Martini, 2009, pg. 14-15).
 A lei Maria da Penha vem a reconhecer a igualdade dos direitos da mulher em relação ao homem, sendo que esse é expresso nos artigos 2° e 3° dessa lei. A lei 11.340/06 também vem a “buscar equilíbrio nas relações sociais entre os gêneros, garantindo em favor das cidadãs do sexo feminino, direitos inerentes a pessoa humana” (Martini, 2009, pg. 17), e esse princípio pode ser visto no artigo 6° desse código, que afirma que a violência familiar e doméstica contra a mulher é uma das formas de violação dos direitos humanos. (Martini, 2009, pg. 17).
 Portanto, segundo a autora, a lei Maria da Penha foi um progresso na questão de se assegurar os direitos fundamentais das mulheres, além de tornar possível a realização desses direitos (Martni, 2009, pg. 17).
6) Instituições Científicas
 Em relação à lei do feminicídio, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), afirma que o óbito é a máxima expressão da violência contra a mulher, e assim, afirma a necessidade da aprovação da lei do feminicídio, que serviria como um complemento à lei Maria da Penha. A necessidade da lei do feminicídio é decorrente das altas taxas de assassinatos de mulheres no país, sendo que pesquisas do IPEA apontam que no período de 2009 a 2011 houve 13.071 feminicídios em todo o Brasil, sendo que isso corresponde a 4,48 óbitos por 100.000 mulheres. Assim sendo, para o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada há a extrema necessidade da aprovação da lei do feminicídio, já que o Brasil ainda possui taxas alarmantes de homicídio de indivíduos do sexo feminino (Garcia, 2013, pg. 1-5).
7) Partidos Políticos
	As democracias têm como principal meio derepresentação, os partidos políticos os quais suscitaram o debate ideológico, congregam sob seus programas políticos interesses distintos das classes e grupos sociais sendo as organizações de disputa política nos pleitos eleitorais (SILVA, 2009). Como pode ser observado na tramitação do PL 4559/2004, os partidos envolvidos estavam representando um interesse, uma demanda da sociedade brasileira. 
	O Professor Luis Felipe Miguel, em seu texto Democracia e Representação – Territórios em Disputa, procura demostrar como tem ocorrido uma burocratização dos partidos políticos, no sentido em que a diferença ideológica entre os partidos políticos está diminuindo. Isso se deve a necessidade de obtenção de votos, os partidos precisam sobreviver, alcançar um grande número de eleitores e nesse sentido são feitas propostas mais gerais, de acordo com Miguel. 
	Apesar de a distância ideológica entre os partidos ter diminuído nos últimos anos, temas como o abordado no presente trabalho são de interesse da sociedade como um todo, que sejam aprovados, dessa forma, para representar a sociedade os partidos trabalharam juntos para aprovar o PL 4559/2004.
Fase III – Enfoque Teórico do Problema Estudado
	O presente trabalho foi voltado para o lado social da questão, o estudo da sociedade e seus problemas no âmbito da violência contra a mulher. O grande marco teórico que começou a tratar o problema e a chamar a atenção da sociedade como um todo, foi o surgimento do Movimento Feminista.
	No Brasil, o surgimento do Movimento Feminista se deu num contexto Pós Primeira Guerra Mundial, onde o panorama econômico e cultural do Brasil mudou profundamente. A industrialização e urbanização alteraram a vida da sociedade e principalmente a das mulheres. Além disso aumentou o índice de alfabetização das mulheres, a substituição dos bens produzidos em casa para os produzidos comercialmente, todos esses fatores trouxeram o contato com o comportamento e valores de outros países, contribuindo enormemente para o surgimento do Movimento Feminista no Brasil. Desde então as manifestações aumentaram, as mulheres passaram a exigir direitos iguais ao homem (BLAY, 2003)
	Mesmo que o Movimento Feminista tenha tido muita força ao longo dos anos, ainda ocorrem casos de violência contra a mulher, como foi mostrado no presente trabalho e uma das soluções seria o aumento ou aperfeiçoamento de políticas públicas que abordem o problema. Não há uma única ou melhor definição do que seja uma política pública. Mead (1995) a define como um campo dentro do estudo da política que analisa o governo à luz de grandes questões públicas (SOUZA, 2006). O que pode ser observado na Lei Maria da Penha, onde foi formulada uma política pública que pretendia resolver uma questão pública. 
		 
Fase IV – Analise e Avaliação Critica
	Foi percebido que houve um esforço no Congresso Nacional no sentido de criar uma legislação que fosse o suficiente para lidar com a violência contra a mulher. Apesar dos esforços do Congresso Nacional e da aprovação da Lei ter se dado sem grandes controvérsias, por se tratar de um assunto que diz respeito a uma preocupação da sociedade como um todo, a batalha para que a violência contra a mulher termine ainda tem um longo caminho pela frente. 
	Nos anos de 2009 a 2011, foram registrados, no SIM, 13.071 feminicídios, equivalente a uma taxa bruta de mortalidade de 4,48 óbitos por 100.000 mulheres. Após a correção, estima-se que ocorreram 16.993 mortes, resultando em uma taxa corrigida de mortalidade anual de 5,82 óbitos por 100.000 mulheres (GARCIA, Leila). Esses dados referem-se apenas a óbitos, ainda há a agressão verbal, violência física ou abuso sexual. Esses números mostram que o problema ainda não foi resolvido. 
	Assim, nota-se que é necessário um reforço as ações previstas na Lei Maria da Penha, assim como a adoção de novas medidas voltadas ao combate a violência contra a mulher e a redução das desigualdades de gênero que ainda se fazem muito presentes no Brasil. 
Segundo a pesquisa da Leila Posenato Garcia, não houve uma diminuição do número de mortes ligadas ao gênero após a sanção da Lei Maria da Penha. Este estudo, mostra que nos dois primeiros anos após a aprovação da lei, houve uma pequena redução nas taxas de mortes. Porém, nos últimos anos a taxa voltou a subir, podendo significar que a lei não foi muito eficaz para evitar que houvesse mortes de mulheres devido a agressões de homens. Dessa forma, segue abaixo alguns gráficos para entendermos melhor o número de casos de agressões e mortes no Brasil. Retirados do artigo “Avaliação do impacto da Lei Maria da Penha sobre a mortalidade de mulheres por agressões no Brasil, 2001-2011” de Leila Posenato Garcia e colaboradores.
Número de óbitos de mulheres por agressões:
Número de óbitos de mulheres conforme o dia da semana.
Diante desses gráficos, é possível perceber que logo após a promulgação da Lei Maria da Penha houve uma pequena diminuição do número de mortes em 2007. Porém, ao longo do tempo essa taxa voltou a aumentar e ficar no patamar similar ao que era antes da Lei. 
Além disso, ao observarmos o gráfico que mostra o número de óbitos conforme o dia da semana notou-se que a porcentagem de mortes no final de semana e, principalmente no domingo é mais alto que nos outros dias. Uma das causas de isso acontecer pode estar ligada com o maior tempo que os homens passam dentro de casa em relação aos outros dias. Com isso, as mulheres estariam mais sujeitas a agressões dentro de casa, o que torna a violência doméstica um fator muito presente na sociedade brasileira, principalmente por ainda ter fortes influências do patriarcalismo na esfera privada, atribuindo um status de inferioridade a mulher. 
É importante destacar que isso não significa que a lei seja ineficaz, uma vez que a morte não é o único crime previsto na Lei Maria da Penha. Há diversos outros tipos de violência, como a doméstica, psicológica e sexual, as quais também devem ser tratadas com muita seriedade, pois ainda são comuns na realidade brasileira. 
	Diante desse cenário, com a não diminuição das taxas de mortalidade, a demanda por uma legislação mais específica sobre os homicídios se tornou crescente. Com isso, o Senado Federal criou um projeto de lei que prevê o feminicídio como um crime hediondo. O PLS 8305/2014 (projeto de lei do Senado) foi aprovado nas duas casas legislativas e sancionado pela Presidência da República, a fim de incluir o feminicídio como um crime mais grave.
	Como a sanção do PLS 8305/2014 ainda é muito recente, não há estudos ou dados empíricos sobre o impacto desta lei no número de feminicídio. Espera-se que a lei consiga suprir as lacunas que a Lei Maria da Penha deixou sobre o número de homicídios, afinal é preciso combater a violência de gênero, para que as mulheres consigam uma maior autonomia e direitos na sociedade.
Dez Anos da Lei Maria da Penha
	A Lei Maria da Penha completou 10 (dez) anos de aplicação em agosto do último ano, 2016. E, apesar dos grandes avanços proporcionados por tal, ainda se tem um longo caminho para acabar com a violência de gênero e ela enfrenta, contudo, dificuldades de implementação. Para tanto, a lei está em processo de modificação, a qual já passou pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) que aprovou o projeto de lei da Câmara (PLC 7/2016) que altera a Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006) para permitir ao delegado de polícia conceder medidas protetivas de urgência a mulheres vítimas de violência doméstica e a seus dependentes. O parecer favorável a essa e outras mudanças foi apresentado pelo relator, sem	ador Aloysio Nunes (PSDB-SP). A proposta segue, agora, para votação no Plenário do Senado, estando ainda em tramitação – no momento com a matéria está com a relatoria-. 
Essa atuação do delegado só será admitida, segundo o projeto, como citado no site do Senado Federal, em caso de risco real ou iminente à vida ou à integridade física e psicológica da mulher e de seus dependentes. Nesta hipótese, a autoridadepolicial poderá aplicar essas medidas protetivas, mas assumindo a responsabilidade de comunicar a decisão ao juiz em até 24 horas, para que ele possa manter ou rever essa intervenção. O Ministério Público também deverá ser consultado sobre a questão no mesmo prazo. Providências complementares para proteção da vítima - chegando até mesmo à prisão do suposto agressor – também poderiam ser pedidas pelo delegado ao juiz.
Outra inovação do PLC 7/2016 é incluir o direito a atendimento policial especializado e ininterrupto, realizado preferencialmente por profissionais do sexo feminino. O texto também reforça a necessidade de que os estados e o Distrito Federal priorizem, no âmbito de suas políticas públicas, a criação de delegacias especializadas no atendimento à mulher e de núcleos de investigação voltados ao crime de feminicídio.
Na opinião do relator, essas são medidas necessárias para superar obstáculos que, em dez anos de vigência da Lei Maria da Penha, ainda persistem e desestimulam as vítimas a buscar amparo do Estado. Mais um mérito do projeto assinalado por Aloysio é o fato de se impedir que a vítima seja submetida a reinquirições sucessivas e a questionamentos inadequados sobre sua vida privada.
 	Conclusão 
 A lei 11.340/06, mais conhecida como a lei Maria da Penha, foi aprovada em 2006, e foi um resultado das constantes lutas e reivindicações de ONGs e Movimentos Sociais feministas, para se obter o reconhecimento e a maior proteção das mulheres que sofrem da violência doméstica, sendo ela verbal ou física. Essa lei, antes de sua aprovação, obteve enorme apoio das principais mídias jornalísticas do país, que a consideravam como o meio eficaz de ampliação/proteção dos direitos femininos, e também, de punição mais eficaz aos agressores.
Como apontado ao longo deste artigo, a Lei Maria da Penha foi um grande passo para a proteção das mulheres, principalmente na esfera privada, onde a violência se torna mais explícita. Com isso, as mulheres ganharam proteção do Estado contra diversos tipos de violência, seja verbal, física ou psicológica. Assim, as mulheres têm o direito de prestar queixas em delegacias contra qualquer homem que esteja fazendo algum tipo de agressão. Além disso, foram criadas delegacias das mulheres, que são voltadas para atender denúncias de mulheres que estejam sofrendo algum tipo de violência.
Apesar da Lei Maria da Penha ter tido impactos importantes para o combate da violência doméstica e para os direitos femininos, não houve uma diminuição das taxas de mortalidades contra a mulher. Como visto anteriormente, as taxas apenas abaixaram logo após a promulgação da lei, voltando a aumentar ao longo dos anos. Com isso, a Lei Maria da Penha não se mostrou muito eficaz quando se trata de homicídios ligados ao gênero feminino, mostrando a necessidade de uma legislação mais específica que consiga tratar e combater este tipo de crime. 
Diante disso, o Senado Federal apresentou em 2013 o projeto de lei que previa o feminicídio como um homicídio qualificado, a fim de tornar a lei e, consequentemente, as penas mais rígidas. Com isso, a lei pretende ser um complemento à lei Maria da Penha, e que tem como objetivo classificar como crime hediondo o assassinato de mulheres, decorrente da discriminação de gênero ou violência doméstica.
Assim, recentemente a lei foi aprovada nas duas casas legislativas e sancionada pela presidência. Como sanção do Projeto de Lei do Feminicídio foi realizada em 2015, ainda não há pesquisas sobre a eficácia da lei na sociedade brasileira. Espera-se que as taxas de feminicídios diminuam com a promulgação da lei e que possam atribuir penas mais duras contra aqueles que cometem este tipo de crime. 
Ainda com as possíveis e polêmicas mudanças da Lei Maria da Penha, em andamento desde 2016, é discutido as vantagens ou desvantagens e até que ponto se pode alcançar um maior número de denúncias e diminuir, assim, a violência contra as mulheres com intermédio do PL 7/2016.
Entretanto, há ainda um longo caminho a ser percorrido para a extinção da violência doméstica e do feminicídio. Mesmo que haja uma diminuição das taxas de feminicídio devido a implementação da nova lei, no Brasil ainda há um alto número de violência doméstica, sendo necessário criar outras formas de combater este tipo de crime. Além disso, é necessário criar maneiras de combater a ideia que as mulheres são inferiores aos homens e que devem fazer trabalhos domésticos, pois este tipo de pensamento alimenta a violência contra a mulher.
GARCIA, Leila Posenato. “Violência contra a mulher: feminicídio no Brasil”. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/130925_sum_estudo_feminicidio_leilagarcia.pdf>
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MARTINI, Thiara. “A lei Maria da Penha e as medidas de proteção à mulher”. 2009. Disponível em: http://siaibib01.univali.br/pdf/thiara%20martini.pdf. 
MIGUEL, Luis Felipe. “Democracia e Representação – Territórios em Disputa”. Editora Unesp
OLIVEIRA, Andréa Karla Cavalcanti da Mota Cabral. Histórico, Produção e Aplicabilidade da Lei Maria da Penha - Lei N 11.340/2006.Biblioteca digital da Câmara dos Deputados. 2011. file:///C:/Users/anabi/Downloads/historico_producao_oliveira%20(1).pdf . 
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REAL, Gustavo. Todos Juntos no Combate à Violencia Contra a Mulher. OAB. http://www.oabsp.org.br/subs/santoanastacio/institucional/artigos-publicados-no-jornal-noticias-paulistas/todos-juntos-no-combate-a-violencia-contra-a. 
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Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/soc/n16/a03n16 
BLAY, Eva Alterman. “Violência contra a mulher e políticas públicas”. Estud. av. vol.17 no.49 São Paulo Sept./Dec. 2003
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142003000300006

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