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Estudo dos diagramas de fases Curso: Técnico em Metalurgia Disciplina: Estudo dos diagramas de fases Professor: Cassiano Lino dos Santos Costa Estudo dos diagramas de fases Página 1 1. INTRODUÇÃO Muitas vezes as propriedades físicas e, em particular, o comportamento mecânico de um material, dependem da microestrutura. A microestrutura é submetida a uma observação direta através de um microscópio, com a utilização de aparelhos ópticos ou eletrônicos. Nas ligas metálicas, a microestrutura é caracterizada pelo número de fase presentes, por suas proporções e pela maneira pela qual elas estão distribuídas ou arranjadas. A microestrutura de uma liga depende de variáveis tais como os elementos da liga presentes, suas concentrações e o tratamento térmico da liga (isto é, a temperatura, o tempo de aquecimento à temperatura do tratamento e a taxa de resfriamento até a temperatura ambiente). 2. DESENVOLVIMENTO DA MICROESTRUTURA EM LIGAS ISOMORFAS Nesse ponto, é instrutivo examinar o desenvolvimento da microestrutura que ocorre nas ligas isomorfas durante a solidificação. Em primeiro lugar, vamos tratar da situação em que o resfriamento ocorre muito lentamente, de modo que o equilíbrio entre as fases é mantido continuamente. Vamos considerar o sistema cobre- níquel (Figura 1 do Texto 3 - Tipos de diagramas de fase); especificamente, uma liga com composição de 35%p Ni-65%p Cu, conforme ela é resfriada a partir de 1300°C. A região do diagrama de fases Cu-Ni na vizinhança dessa composição está mostrada Figura 1. O resfriamento de uma liga com essa composição corresponde a um movimento para baixo ao longo da linha vertical tracejada. A 1300°C, no ponto a, a liga é totalmente líquida (com uma composição de 35%p Ni-65%p Cu) e tem a microestrutura representada no detalhe na figura. Figura 1 – Esquema do desenvolvimento da microestrutura no diagrama de fases Cu-Ni Estudo dos diagramas de fases Curso: Técnico em Metalurgia Disciplina: Estudo dos diagramas de fases Professor: Cassiano Lino dos Santos Costa Estudo dos diagramas de fases Página 2 Conforme o resfriamento começa, nenhuma alteração microestrutural ou de composição ocorrerá até que a linha lilquidus (ponto b, ~1260°C) seja alcançada. Nesse ponto, o primeiro sólido α começa a se formar, com a composição especificada pela linha de amarração traçada nessa temperatura [isto é, 46%p Ni-54%p Cu, representada como α(46 Ni)]; a composição do líquido ainda e de aproximadamente 35%p Ni-65%p Cu [L(35 Ni)], que é diferente daquela do sólido α. Com o prosseguimento do resfriamento, tanto as composições quanto as quantidades relativas de cada uma das fases mudarão. As composições das fases líquida e α seguirão as linhas liquidus e solidus, respectivamente. Além disso, a fração da fase α aumentará com o prosseguimento do resfriamento. Observe que a composição global da liga (35%p Ni-65%p Cu) permanece inalterada durante o resfriamento, apesar de haver uma redistribuição do cobre e do níquel entre as fases. A 1250°C, no ponto c da Figura 1, as composições das fases líquida e α são de 32%p Ni-68% p Cu [L(32 Ni)] e 43%p Ni-57%p Cu [α(43 Ni)], respectivamente. O processo de solidificação está virtualmente concluído em aproximadamente 1220°C, ponto d; a composição do sólido α é de aproximadamente 35%p Ni-65%p Cu (a composição global da liga), enquanto a composição da última fração de líquido remanescente é de 24%p Ni-76%p Cu. Ao cruzar a linha solidus, esse resto de líquido remanescente se solidifica; o produto final é, então uma solução sólida policristalina de fase α, com uma composição uniforme de 35%p Ni-65%p Cu (ponto e, Figura 1). O resfriamento subsequente não produzirá nenhuma alteração microestrutural ou de composição. As condições da solidificação em equilíbrio e o desenvolvimento de microestruturas, como foram descritos acima, são conseguidos somente para taxas de resfriamento extremamente lentas. A razão para tal é que, com as mudanças na temperatura, deverá haver reajustes nas composições das fases líquida e sólida de acordo com o diagrama de fases (isto é, com as linhas liquidus e solidus), como foi discutido. Em virtualmente todos os casos práticos de solidificação, as taxas de resfriamento são muito rápidas para permitir que ocorram esses reajustes na composição e para manter o equilíbrio; consequentemente, são desenvolvidas microestruturas distintas daquelas que foram descritas anteriormente. 3. DESENVOLVIMENTO DA MICROESTRUTURA EM LIGAS EUTÉTICAS Dependendo da composição, são possíveis vários tipos de microestruturas diferentes para o resfriamento lento de ligas que pertencem aos sistemas eutéticos binários. Essas Estudo dos diagramas de fases Curso: Técnico em Metalurgia Disciplina: Estudo dos diagramas de fases Professor: Cassiano Lino dos Santos Costa Estudo dos diagramas de fases Página 3 possibilidades serão consideradas em termos do diagrama de fases chumbo-estanho, Figura 1 do Texto 4 - Fórmulas, cálculos e diagramas eutéticos. O primeiro caso se aplica às composições que variam entre o componente puro e a solubilidade sólida máxima para aquele componente à temperatura ambiente (20°C). Para o sistema chumbo-estanho, isso inclui as ligas ricas em chumbo que contêm entre 0 e aproximadamente 2%p Sn (a solução sólida da fase α) e, também, entre aproximadamente 99%p Sn e o estanho puro (para a fase β). Por exemplo, considere uma liga com composição C1 (Figura 2) conforme ela é resfriada lentamente a partir de uma temperatura na região da fase líquida, digamos, 350°C; isso corresponde a um deslocamento vertical para baixo ao longo da linha tracejada ww’ na figura. Figura 2 – Esquema do desenvolvimento da microestrutura no diagrama de fases Pb-Sn (C1) A liga permanece totalmente líquida e com composição C1 até a linha liquidus ser cruzada a aproximadamente 330°C, quando a fase α sólida começa a se formar. Ao passar por essa estreita região bifásica α + L, a solidificação prossegue da mesma maneira como foi descrito para a liga cobre-níquel na seção anterior; isto é, com prosseguimento do resfriamento, uma quantidade maior da fase α sólida se forma. Além disso, as composições das fases líquidas e sólidas são diferentes, seguindo, respectivamente, ao longo das linhas liquidus e solidus fronteiriças. A solidificação atinge seu término no ponto onde alinha ww’ cruz a linha solidus. A liga resultante é policristalina, com uma composição uniforme C1, e nenhuma mudança subsequente ocorrerá no resfriamento até a temperatura ambiente. Essa microestrutura está representada esquematicamente no detalhe no ponto c na Figura 2. O Segundo caso considerado aplica-se às composições que se encontram na faixa entre o limite de solubilidade à temperatura ambiente e a solubilidade sólida máxima na temperatura do eutético. Para o sistema chumbo-estanho, essas composições se estendem Estudo dos diagramas de fases Curso: Técnico em Metalurgia Disciplina: Estudo dos diagramas de fases Professor: Cassiano Lino dos Santos Costa Estudo dos diagramas de fases Página 4 desde aproximadamente 2%p Sn até 18,3%p Sn (para as ligas ricas em chumbo) e desde 97,8%p Sn até aproximadamente 99%p Sn (para as ligas ricas em estanho). Vamos examinar uma liga com composição C2 à medida em que ela é resfriada ao longo da linha vertical xx’ Figura 3. Até a interseção da linha xx’ com a linha solvus, as mudanças que ocorrem são semelhantes ao caso anterior, conforme passamos pelas regiões de fases correspondentes (como demonstrado pelosdetalhes nos pontos d, e, e f). Imediatamente acima da interseção com a linha solvus, ponto f, a microestrutura consiste de grãos de α com composição C2. Ao cruzar a linha solvus, a solubilidade sólida de α é excedida, o que resulta na formação de pequenas partículas de fase β; essas partículas estão indicadas no detalhe da microestrutura no ponto g. Com o prosseguimento do resfriamento, essas partículas crescerão em tamanho, pois a fração mássica da fase β aumenta ligeiramente com a diminuição da temperatura. Figura 3 - Esquema do desenvolvimento da microestrutura no diagrama de fases Pb-Sn (C2) O terceiro caso envolve a solidificação da composição eutética, 61,9%p Sn (C3 na Figura 4). Vamos considerar uma liga com essa composição que seja resfriada a partir de uma temperatura na região da fase líquida (por exemplo, 250°C) ao longo da linha vertical yy’ na Figura 4. Figura 4 - Esquema do desenvolvimento da microestrutura no diagrama de fases Pb-Sn (C3) Estudo dos diagramas de fases Curso: Técnico em Metalurgia Disciplina: Estudo dos diagramas de fases Professor: Cassiano Lino dos Santos Costa Estudo dos diagramas de fases Página 5 Conforme a temperatura é reduzida, nenhuma alteração ocorre até alcançar a temperatura do eutético, 183°C. Ao cruzar a isoterma eutética, o líquido se transforma nas duas fases α e β. Essa transformação pode ser representada pela reação 𝐋(𝟔𝟏,𝟗%𝐩 𝐒𝐧) ⇌ 𝛂(𝟏𝟖,𝟑%𝐩 𝐒𝐧) + 𝛃(𝟗𝟕,𝟖%𝐩 𝐒𝐧) Equação 1 em que as composições das fases α e β são ditada pelos pontos nas extremidades da isoterma eutética. Durante esssa transformação, deve haver necessariamente uma redistribuição dos componentes chumbo e estanho, visto que as fases α e β têm composições diferentes e nenhuma dessas composições é igual à do líquido (como indicado na Equação 1). A microestrutura do sólido que resulta dessa transformação consiste em camadas alternadas (algumas vezes chamadas de lamelas) das fases α e β, as quais se formam simultaneamente durante a transformação. Essa microestrutura, representada esquematicamente na Figura 4, ponto i, é chamada estrutura eutética, e é característica dessa reação. Uma fotomicrografia dessa estrutura para o eutético do sistema chumbo-estanho está mostrada na Figura 5. Essa microestrutura consiste em camadas alternadas de uma solução sólida de fase α rica em chumbo (camadas escuras) e de uma solução sólida da fase β rica em estanho (camadas claras). O resfriamento subsequente da liga desde uma posição imediatamente abaixo da temperatura eutética até a temperatura ambiente resultará apenas em alterações microestruturais de menor importância. Figura 5 – Micro-estrutura de uma liga Pb-Sn com a composição eutética O quarto e último caso microestrutural para esse sistema inclui todas as composições, à exceção da eutética, que, quando resfriada, cruzam a isoterma eutética. Considere, por exemplo, a composição C4, Figura 6, a qual se encontra à esquerda do eutético. Conforme a temperatura é reduzida, nos movemos para baixo a partir do ponto j, ao longo da linha zz’. O desenvolvimento da microestrutura entre os pontos j e l é semelhante àquele do segundo caso, tal que imediatamente antes do cruzamento da isoterma eutética (ponto l) as fases α e líquida Estudo dos diagramas de fases Curso: Técnico em Metalurgia Disciplina: Estudo dos diagramas de fases Professor: Cassiano Lino dos Santos Costa Estudo dos diagramas de fases Página 6 estão presentes e apresentam composições de aproximadamente 18,3 e 61,9%p Sn, respectivamente, como determinado a partir da linha de amarração apropriada. Conforme a temperatura é reduzida para imediatamente abaixo daquela do eutético, a fase líquida, que possui a composição eutética, se transformará na estrutura eutética (isto é, lamelas alternadas de α e β); alterações insignificantes ocorrerão com a fase α que se formou, durante o resfriamento pela região α + L. Essa microestrutura está representada esquematicamente no detalhe do ponto m na Figura 6. Dessa forma, a fase α estará presente tanto na estrutura eutética quanto na fase que se formou durante o resfriamento pelo campo das fases α + L. Para distinguir uma fase α da outra, que se encontra na estrutura eutética é denominada α eutética, enquanto a outra, que se formou antes do cruzamento da isoterma eutética, é denominada α primária; ambas identificadas na Figura 6. Figura 6 - Esquema do desenvolvimento da microestrutura no diagrama de fases Pb-Sn (C4) Figura 7 – Microestrutura de uma liga Pb-Sn de composição 50%p Sn-50%p Pb A fotomicrografia na Figura 7 é de uma liga chumbo-estanho em que estão mostradas as estruturas α primária e eutética. Essa microestrutura é composta por uma fase α primária rica em chumbo (grandes regiões escuras) em uma estrutura eutética lamelar que consiste em uma fase β rica em estanho (camadas claras) e uma fase α rica em chumbo (camadas escuras). Ao lidar com microestruturas, algumas vezes é conveniente usar o termo microconstituinte – isto é, um elemento da microestrutura com uma estrutura característica e identificável. Por exemplo, no detalhe no ponto m, Figura 6, existem dois microconstituintes, quais sejam, a fase α primária e a estrutura eutética. Nesse sentido, a estrutura eutética é um Estudo dos diagramas de fases Curso: Técnico em Metalurgia Disciplina: Estudo dos diagramas de fases Professor: Cassiano Lino dos Santos Costa Estudo dos diagramas de fases Página 7 microconstituinte, apensar de ser uma mistura de duas fases, já que tem uma estrutura lamelar distinta com uma ração fixa entre as duas fases. 4. DESENVOLVIMENTO DA MICROESTRUTURA EM LIGAS FERRO-CARBONO Muitas das várias microestruturas que podem ser produzidas em aços, assim como suas relações com o diagrama de fases ferro-carbeto de ferro, serão agora superficialmente discutidas, e mostraremos que a microestrutura que se desenvolve depende tanto do teor de carbono quanto do tratamento térmico. Essa discussão ficará restrita ao resfriamento muito lento dos aços, quando o equilíbrio é mantido continuamente. Uma exploração mais detalhada da influência do tratamento térmico sobre a microestrutura e, por fim, sobre as propriedades mecânicas dos aços, está incluída em nas disciplinas futuras. As mudanças de fases que ocorrem ao se passar da região γ para o campo das fases α + Fe3C (Figura 3 – Texto 4) são relativamente complexas e semelhantes àquelas descritas para os sistemas eutéticos. Considere, por exemplo, uma liga com a composição eutetóide (0,76%p C) na medida em que ela é resfriada desde uma temperatura na região de fase γ, digamos, 800°C – ou seja, começando no ponto a na Figura 8 e se movendo para baixo ao longo da linha vertical xx’. Inicialmente, a liga é composta inteiramente pela fase austenita, com uma composição de 0,76%p C e a microestrutura correspondente, também indicada na figura. Figura 8 – Esquema das microestruturas para uma liga ferro-carbono (0,76%p C) Com o resfriamento da liga, não haverá mudanças até a temperatura eutetoide (727°C) ser atingida. Ao cruzar essa temperatura e até o ponto b, a austenita se transforma de acordo com a equação abaixo. 𝛄(𝟎,𝟕𝟔%𝐩 𝐂) ⇌ 𝛂(𝟎,𝟎𝟐𝟐%𝐩 𝐂) + 𝐅𝐞𝟑𝐂(𝟔,𝟕%𝐩 𝐂) Equação 2 Estudo dos diagramas de fases Curso: Técnico em Metalurgia Disciplina: Estudo dos diagramas de fases Professor: Cassiano Lino dos Santos Costa Estudo dos diagramas de fases Página 8Note que a característica que distingue um “eutetoide” de um “eutético” é o fato de uma fase sólida, ao invés de um líquido, se transformar em duas outras fases sólidas em uma única temperatura. A microestrutura para esse aço eutetoide que é lentamente resfriado por meio da temperatura eutetoide consiste em camadas alternadas ou lamelas das duas fases (α e Fe3C), que se formam simultaneamente durante a transformação. Essa microestrutura, representada esquematicamente na Figura 8, ponto b, é chamada perlita, devido à sua aparência de madrepérola quando vista sob um microscópio em baixas ampliações. A Figura 9 é uma fotomicrografia de um aço eutetoide, exibindo a perlinta. A perlita existe como grãos, denominados frequentemente colônias; dentro de cada colônia as camadas estão orientadas essencialmente na mesma direção, a qual varia de uma colônia para outra. As camadas claras, mais grossas, são a fase ferrita, enquanto a fase cementita aparece como lamelas finas, a maioria das quais apresenta coloração escura. Figura 9 – Fotomicrografia de um aço eutetoide mostrando a microestrutura da perlita Muitas camadas de cementita são tão finas que as fronteiras entre as fases adjacentes estão tão próximas que não podem ser distinguidas sob essa ampliação e, portanto, aparecem escuras. Mecanicamente, a perlita apresenta propriedades intermediárias entre a ferrita macia e dúctil e a cementita, dura e frágil. As camadas alternadas de α e Fe3C na perlita se formam como tal pela mesma razão que a estrutura eutética se forma – porque a composição da fase que lhe deu origem é diferente de ambas as fases geradas como produto, e porque a transformação de fases requer que haja uma redistribuição do carbono.
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