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1 COLÉGIO PRELÚDIO ENSINO MÉDIO BRUNA SOUZA DE ANDRADE GIULIANA GONÇALVES SARTORELLI LARISSA DIAS SILVA A VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NOS ANOS DE CHUMBO SÃO PAULO – SP 2017 2 BRUNA SOUZA DE ANDRADE GIULIANA GONÇALVES SARTORELLI LARISSA DIAS SILVA A VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NOS ANOS DE CHUMBO Trabalho de conclusão de curso, apresentado ao Colégio Prelúdio, como parte das exigências para a obtenção do título do ensino médio. Orientador: Profº Hugo Rodrigues SÃO PAULO – SP 2017 3 ANDRADE, Bruna; SARTORELLI, Giuliana e SILVA, Larissa A VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NOS ANOS DE CHUMBO. / Bruna Andrade, Giuliana Sartorelli e Larissa Silva. São Paulo: 2017. 34f Trabalho de Conclusão de Curso – Colégio Prelúdio Orientador: Prof º Hugo Rodrigues 4 BRUNA SOUZA DE ANDRADE GIULIANA GONÇALVES SARTORELLI LARISSA DIAS SILVA A VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NOS ANOS DE CHUMBO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado no Colégio Prelúdio como requisito básico para a conclusão do Ensino Médio. Orientador: Hugo Rodrigues Aprovado em: __/__/2017 BANCA EXAMINADORA: Presidente: Profº Hugo Rodrigues – Colégio Prelúdio Membro: Coordenadora Débora Klein – Colégio Prelúdio Membro: Coordenadora Christiane Pinheiro Domingues Lima – Colégio Prelúdio 5 Dedicamos esse trabalho de conclusão de curso aos nossos pais por nos apoiarem e nos incentivarem para que não desistíssemos, e ao nosso orientador pela paciência, competência e disponibilidade. 6 AGRADECIMENTOS Primeiramente, gostaríamos de agradecer à Deus, que nos amparou e nos protegeu, Ele sabe que a jornada até aqui foi árdua. Agradecemos também às nossas famílias, que nos apoiaram nos momentos de dificuldade e incerteza, nos motivando a buscar o melhor; sem vocês não conseguiríamos terminar o presente trabalho. É de grande importância agradecermos ao nosso professor orientador Hugo Rodrigues, que reafirmou o seu amor pela História cativando todos os seus alunos, um profissional incrível que se mostrou presente sempre que necessário. Por fim, agradecemos por essa experiência que nos proporcionará desenvoltura diante de futuras situações. 7 “A educação sobre direitos humanos é a chave para lutar contra as causas profundas de injustiça em todo o mundo. Quanto mais as pessoas sabem sobre seus direitos, e os direitos do outro na sociedade, melhor preparados estão para protegê-los.” Salil Shetty, Secretário-Geral da Anistia Internacional 8 RESUMO Este trabalho tem como objetivo o estudo das violações dos chamados direitos humanos no período da história do Brasil conhecido como anos de chumbo, dentro do contexto da Ditadura Militar. Tendo sido esse um dos momentos em que diversos crimes foram cometidos tanto pelo Estado Nacional como pelas ditas Resistências, cabe ressaltar que houve torturas e assassinatos por todo o país, deixando até os dias atuais um triste legado e uma importante lição a ser aprendida pela sociedade civil brasileira. Para a realização deste trabalho foram analisados os conceitos laureados pela Organização das Nações Unidas no que tange aos Direitos Humanos, bem como relatos de sobreviventes da repressão civil e militar imposta pelas forças ditatoriais dos Anos de Chumbo. Palavras-chave: Direitos Humanos, Ditadura, Repressão, Tortura, Luta Armada. 9 ABSTRACT This undergraduate thesis has as a goal the study of the violation of the violation of the called human rights in the Brazil’s historical period of time known as “years of bullets” as the contexto of Miltary Dictate. Being this one of the moments of the Brazil history that diverse crimes were made by the National Government such as the said Resistances, it’s importante to highlight that there were torture and murders made all over the country, that left a sad legacy for nowadays and an important lesson to be leanerd by the civil Brazilian society. For the realization of this piece of work, laureate concepts were analyzed by the Organização das Nações Unidas about what Human Rights means, such as the statement of the survivals of civilian and military repression imposed by the dictatorial forces in the Years of Bullets. Keywords: Human Rights, Military Impose, Repression, Torture, Armed Fight. 10 SUMÁRIO: 1. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS.……………...................11 2. INTRODUÇÃO............................................................. .............12 3. OS DIREITOS HUMANOS.......................................... ..............13 4. O REGIME MILITAR................................................... ..............16 5. A REPRESSÃO NOS ANOS DE CHUMBO...............................21 5.1 DEPOIMENTOS DE SOBREVIVENTES DA TORTURA.................29 6. A COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE......................................33 7. CONCLUSÃO...................................................................................36 8. REFERÊNCIAS................................................................................37 11 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS: ONU – Organização das Nações Unidas USP – Universidade de São Paulo Anced – Associação Nacional de Centros de Defesa Jango – João Goulart IPMS – Inquéritos Policial Militares AI – Ato Institucional Arena – Aliança Renovadora Nacional MDB – Movimento Democrático Brasileiro Art – Artigo MEC – Ministério da Educação e Cultura Brasileiro Usaid – Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional UNE – União Nacional dos Estudantes CIE – Centro de Informações do Exército VAR-Palmares – Vanguarda Armada Revolucionária Palmares CEV – Comissão Estadual da Verdade DOI-CODI – Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna PCB – Partido Comunista Brasileiro CEMDP – Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos CA – Comissão de Anistia CNV – Comissão Nacional da Verdade ALN – Ação Libertadora Nacional SP – São Paulo DOPS – Departamento de Ordem Política e Social AP – Ação Popular MG – Belo Horizonte PNDH – Plano Nacional de Direitos Humanos GT – Grupo de trabalho 12 INTRODUÇÃO: Durante os mais de 20 anos de ditadura militar foram inúmeros os casos de violações aos direitos humanos cometidos por agentes do Estado contra a população. No Brasil, o regime militar foi instaurado em 1 de abril de 1964, com o golpe militar que derrubou o governo de João Goulart, o então presidente democraticamente eleito, e durou até 15 de março de 1985. O regime adotou uma posição nacionalista, desenvolvimentista e de oposição ao comunismo. A ditadura militar foi instituída pela violação dos direitos políticos de todos os cidadãos brasileiros, pois depôs um governo democraticamenteeleito, e pela supressão de direitos e garantias individuais pelos sucessivos Atos Institucionais (AI) e leis decretados pelos chefes do regime. Entre 1968 e 1978, sob vigência do AI-5 e da Lei de Segurança Nacional de 1969, ocorreram os chamados Anos de Chumbo, caracterizados por um estado de exceção total e permanente, controle sobre a mídia e a educação, e sistemática censura, prisão, tortura, assassinato e desaparecimento forçado de opositores do regime. A prisão arbitrária por tempo indeterminado (suspensão do habeas corpus) e a censura prévia foram especialmente importantes para a prática e acobertamento da tortura. A lei que instituiu a Comissão Nacional da Verdade (CNV), que investigou as violações de direitos humanos ocorridas entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988 no Brasil por agentes do estado, foi sancionada pela presidente Dilma Rousseff em 18 de novembro de 2011 e a comissão foi instalada oficialmente em 16 de maio de 2012. Conforme levantamento da CNV, no primeiro ano do regime militar imposto pelo golpe de 1964, pelo menos 50 mil pessoas foram presas no Brasil e cerca de 30 formas diferentes de tortura foram usadas pelos militares contra civis durante a ditadura. Em 10 de dezembro de 2014 a Comissão Nacional da Verdade entregou seu relatório final a Rousseff. 13 3 - OS DIREITOS HUMANOS O ser humano é um animal social e sua evolução está diretamente ligada a cooperação entre os indivíduos, mas com o passar dos anos essa noção pode ter se enfraquecido, o que resultou numa transformação a partir da primazia pelas qualidades e conquistas individuais, levando à competição desleal ou mesmo atraso no desenvolvimento de outros povos ou grupos sociais específicos. Os direitos humanos foram criados pela ONU pós Segunda Guerra Mundial quando os países do globo necessitavam de paz e organização. “ Soviéticos, americanos e britânicos desenharam o mapa político mundial do pós- guerra. A ONU seria a institucionalização desses acordos numa entidade política com poderes mundiais” (COGGIOLA; OSVALDO, USP) Apesar de não ser a primeira organização com este objetivo, foi a que teve maior consolidação. O nome Nações Unidas foi concebido pelo presidente norte- americano Franklin Roosevelt e utilizado pela primeira vez na Declaração das Nações Unidas. A Carta das Nações Unidas foi elaborada pelos representantes de 50 países presentes à Conferência sobre Organização Internacional, afim de estabelecer normas que conferissem liberdade de segurança, expressão e opinião de todos os indivíduos em qualquer jurisdição fazendo valer assim os direitos humanos. A Carta afirmava em seu preâmbulo que “Nós, os povos das Nações Unidas, decididos: a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra que por duas vezes, no espaço de uma vida humana, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade; a reafirmar a nossa fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor da pessoa humana, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, assim como das nações, grandes e pequenas”, tendo como primeiro objetivo “Manter a paz e a segurança internacionais e para esse fim: tomar medidas coletivas eficazes para prevenir e afastar ameaças à paz e reprimir os atos de agressão, ou outra qualquer ruptura da paz e chegar, por meios pacíficos, e em conformidade com os princípios da justiça e do direito internacional, a um ajustamento ou solução das controvérsias ou situações internacionais que possam levar a uma perturbação da paz”. 14 O conceito de Direitos Humanos reconhece que cada ser humano pode desfrutar de seus direitos sem distinção de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outro tipo, origem social ou nacional ou condição de nascimento ou riqueza e são garantidos legalmente pela lei de direitos humanos, protegendo indivíduos e grupos contra ações que interferem nas liberdades fundamentais e na dignidade humana. A legislação de direitos humanos obriga os Estados a agir de uma determinada maneira e proíbe os Estados de se envolverem em atividades específicas. Pode-se perceber a transgressão dos direitos humanos atualmente quando o Estado viola o direito à saúde não oferecendo assistência médica às crianças. Segundo o relatório da Anced, o atendimento médico a crianças indígenas demora de 6 a 8 meses. Essa omissão do poder público tem como consequência a morte por desassistência. No entanto, a legislação não estabelece os direitos humanos. Os direitos humanos são direitos inerentes a cada pessoa simplesmente por ela ser um humano. Tratados e outras modalidades do Direito costumam servir para proteger formalmente os direitos de indivíduos ou grupos contra ações ou abandono dos governos, que interferem no desfrute de seus direitos humanos. Algumas das características mais importantes dos direitos humanos são: o Os direitos humanos são fundados sobre o respeito pela dignidade e o valor de cada pessoa; o Os direitos humanos são universais, o que quer dizer que são aplicados de forma igual e sem discriminação a todas as pessoas; o Os direitos humanos são inalienáveis, e ninguém pode ser privado de seus direitos humanos; eles podem ser limitados em situações específicas. Por exemplo, o direito à liberdade pode ser restringido se uma pessoa é considerada culpada de um crime diante de um tribunal e com o devido processo legal; porém isso não concede ao Estado o direito de ferir direitos e tem a obrigação de salvaguardar a segurança e “bem-estar” de quem foi preso, pois este fica sob responsabilidade de quem lhe está cerceando a liberdade. 15 o Os direitos humanos são indivisíveis, inter-relacionados e interdependentes, já que é insuficiente respeitar alguns direitos humanos e outros não. Na prática, a violação de um direito vai afetar o respeito por muitos outros; o Todos os direitos humanos devem, portanto, ser vistos como de igual importância, sendo igualmente essencial respeitar a dignidade e o valor de cada pessoa. Cidadania é a tomada de consciência de seus direitos, tendo como contrapartida a realização dos deveres. Isso implica no efetivo exercício dos direitos civis, políticos e sócio-econômicos, bem como na participação e a contribuição para o bem-estar da sociedade. A cidadania deve ser entendida como processo contínuo, uma construção coletiva, significando a concretização dos direitos humanos. Os direitos de cidadania asseguram a democracia que significa governo do povo. Assim, quando há isonomia, ou seja, igualdade diante da lei, há democracia. A visão clássica de democracia é assentada nos princípios da participação coletiva e igualdade de todos, frente ao sistema de representação política e de igualdade perante a lei. Os direitos humanos costumam ser feridos a partir de processos antidemocráticos onde cidadãos são privados de exercer sua liberdade pré- estabelecida pelo decreto Nº 19.841, DE 22 DE OUTUBRO DE 1945, que promulga no artigo 1 a carta das Nações Unidas. Como o que ocorreu no período ditatorial no Brasil dos anos 1964 a 1985. 16 4- O REGIME MILITAR O Regime militar foi o período da política brasileira em que militares conduziram o país. Essa época ficou marcada na história do Brasil através da prática de vários Atos Institucionais que colocavam em prática a censura, a perseguição política, a supressão de direitos constitucionais, a falta total de democracia e a repressão àqueles que eram contrários ao regime militar. A Ditadura militar no Brasil teve seu início em 31 de março de 1964. O governo de João Goulartantecedeu o regime ditatorial e foi marcado pela polarização social, principalmente por defender medidas que visavam a combater a desigualdade social no país, através de reformas estruturais da sociedade brasileira. O problema é que essas medidas atingiam diretamente os interesses econômicos e políticos das classes dominantes, como os grandes empresários e latifundiários, que se viram ameaçados na manutenção de seu poder. Havia ainda a oposição de vários setores das Forças Armadas, por considerarem as alianças do governo com a esquerda e sua aproximação com os sindicatos um caminho para a implantação do comunismo no Brasil. O espectro do comunismo era o inimigo a ser combatido e a justificação para a instauração de um novo regime ditatorial no país. Após a destituição de João Goulart, o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli, assumiu o cargo de presidente, os políticos que apoiaram a deposição de Jango tentaram assumir o controle do movimento, mas foram surpreendidos: os militares não devolveram o poder aos civis, sinalizaram que tinham chegado para ficar. Imediatamente criaram um Comando Revolucionário formado pelo general Costa e Silva (autonomeado ministro da Guerra), o almirante Rademaker, e o brigadeiro Correia de Melo. No dia 9 de abril de 1964, declarando que “a revolução vitoriosa se investe no exercício do Poder Constituinte” (ATO INSTITUCIONAL Nº 1, DE 9 DE ABRIL DE 1964), esse comando baixou o primeiro Ato Institucional, que convocou o Congresso a eleger um novo presidente com poderes muito ampliados. No mesmo dia, o Congresso, já amputado em 41 mandatos cassados, submeteu-se ao poder das armas, elegendo o general Humberto Castelo Branco à 17 presidência. Entre os deputados federais cassados nessa ocasião, estavam Leonel Brizola, Rubens Paiva, Plínio Arruda Sampaio e Francisco Julião. Entretanto, o primeiro Ato Institucional já configurava o novo regime como uma ditadura. Explicitamente afastava o princípio da soberania popular, ao declarar que “a revolução vitoriosa como Poder Constituinte se legitima por si mesma” (ATO INSTITUCIONAL Nº 1, DE 9 DE ABRIL). Dessa forma, concedeu amplos poderes ao Executivo para decretar Estado de sítio e suspender os direitos políticos dos cidadãos por até dez anos; cassar mandatos políticos sem a necessária apreciação judicial; também suspendeu as garantias constitucionais ou legais de estabilidade no cargo, ficando assim o governo livre para demitir, dispensar, reformar ou transferir servidores públicos. Segundo Boris Fausto no livro História do Brasil (2012, p.467): ”O ato criou também as bases para a instalação dos Inquéritos Policial Militares (IPMS), a que ficaram Sujeitos os responsáveis pela prática contra o Estado ou seu patrimônio e a ordem política e social ou por atos de guerra revolucionária”. Com a pressão que estava ocorrendo nos setores econômicos e políticos, o então presidente Castelo Branco baixou o AI-2 e AI-3. O AI-2 que foi instituído no dia 17 de outubro de 1965 estabelecia que a eleição fosse feita por maioria absoluta do Congresso Nacional, com votação nominal e em sessão pública para votação de presidente e vice-presidente. Segundo Boris Fausto no livro História do Brasil (2012, p.474) “O AI-2 reforçou ainda mais os poderes do presidente da República ao estabelecer que ele poderia baixar atos complementares ao ato, bem como decretos-leis em matéria de segurança nacional. O governo passou a legislar sobre assuntos relevantes através de decretos-leis, ampliando até onde quis o conceito de segurança nacional existentes” O AI-2 teve como medida mais importante a “extinção dos partidos políticos existentes ”. O sistema multipartidário era visto pelos militares como um dos fatores responsáveis pela crise política. Desse modo, partidos que serviam como forma de exprimir diferentes correntes da opinião pública foram extintos e, instauraram-se apenas dois partidos: a Aliança Renovadora Nacional (Arena), que agrupava os partidários do governo, e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que reunia a oposição. 18 Em fevereiro de 1966 era instituído o AI-3 que afirmava que “O Presidente da República, na condição de Chefe do Governo da Revolução e Comandante Supremo das Forças Armadas resolve editar seguinte: Art. 1º - A eleição de Governador e Vice-Governador dos Estados far- se-á pela maioria absoluta dos membros da Assembleia Legislativa, em sessão pública e votação nominal. ” (ATO INSTITUCIONAL Nº 3, DE 5 DE FEVEREIRO DE 1966). Desta forma o AI-3 estabelecia o mesmo princípio de eleição indireta, porém agora para os governantes do Estado. Em outubro de 1966 o congresso fora fechado por um mês e foi convocado o AI-4 que serviu para aprovar uma nova constituição. Esta que em 1967 incorporou a legislação que ampliara os poderes conferidos ao Executivo, especialmente em matéria de segurança nacional, mas não manteve os dispositivos excepcionais que permitiriam novas cassações de mandatos, perda de direitos políticos etc. Para substituir o Marechal Castelo Branco foi indicado o Marechal Costa e Silva, considerado um militar radical. No Congresso Nacional pôs-se em cena novamente um plebiscito que o elegeria indiretamente. Não era da vontade de Castelo Branco tal eleição, porém ele lhe passou o cargo. O governo Arthur da Costa e Silva (Arena), que durou de 1967 a 1969, se caracterizou pelo avanço do processo de institucionalização da ditadura. O que era um regime militar difuso transformou-se numa ditadura que eliminou o que restava das liberdades públicas e democráticas. Costa e Silva assumiu a Presidência da República e imediatamente foi intensificando a repressão policial- militar contra todos os movimentos, grupos e focos de oposição política. Ao longo de seu mandato, o general acenou com a possibilidade de retorno à normalidade institucional, ou seja, da volta da democracia. Mas o presidente justificou a permanência dos militares no poder e a gradual radicalização do regime como uma resposta diante do avanço das oposições. A atuação dos movimentos oposicionistas chegou ao auge no ano de 1968. A Frente Ampla promovia comícios, passeatas e reuniões e havia ampliado suas bases de apoio conseguindo adesão até mesmo de setores das 19 Forças Armadas. Por outro lado, o movimento estudantil começou a se reorganizar. Além da exigência de retorno à democracia, os estudantes passaram a se opor à política educacional do governo, que havia realizado um acordo de cooperação com o governo norte-americano, conhecido como o acordo MEC- Usaid (siglas que representam o Ministério da Educação e Cultura brasileiro em associação com a Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional). Os estudantes promoveram inúmeros atos e protestos públicos contra o que chamavam de interferência dos Estados Unidos no sistema educacional brasileiro. Em 26 de junho, a UNE promove a Passeata dos Cem Mil, no Rio de Janeiro, movimento que representou o auge da atuação do movimento estudantil. O presidente Costa e Silva reagiu a todas as pressões oposicionistas fechando o Congresso Nacional e editando o Ato Institucional nº 5 (AI-5). Com a edição do AI-5, a ditadura militar se institucionalizou. Segundo Boris Fausto no livro História do Brasil (2012, p.480) “O AI-5 foi o instrumento de uma revolução dentro da revolução ou, se quiserem, de uma contra-revolução dentro da contra-revolução. Ao contrário dos atos anteriores, não tinha prazo de vigência e não era, pois, uma medida excepcional transitória. Ele durou até o início de 1979.” A partir do AI-5, o núcleomilitar do poder concentrou-se nas figuras que estavam no comando dos órgãos de vigilância e repressão. Abriu-se um novo ciclo de cassação de mandatos e perda de direitos políticos, abrangendo muitos professores universitários. Estabeleceu-se na prática a censura aos meios de comunicação; a tortura passou a fazer parte integrante dos métodos de governo. O AI-5 reforçou a tese dos grupos de luta armada. O regime parecia incapaz de ceder a pressões sociais e de se reformar. Pelo contrário, seguia cada vez mais o curso de uma ditadura brutal. Em agosto de 1969, Costa e Silva foi vítima de um derrame que o deixou paralisado. Os militares, violando a regra constitucional que decretava o vice- presidente Pedro Aleixo como substituto, decidiram assumir o poder 20 temporariamente através de mais um Ato Institucional (AI-12, de 31 de agosto de 1969). A partir disso, a esquerda radical começou a sequestrar membros do corpo diplomático estrangeiro para trocá-los por prisioneiros políticos e, então sofreu da junta militar várias medidas formais de repressão, além da tortura. Através do AI-13, a junta criou a pena de banimento do território nacional, aplicável a todo brasileiro que “se tornar inconveniente, nocivo ou perigoso à segurança”. Os primeiros banidos foram os prisioneiros trocados pelo embaixador americano. Estabeleceu-se também pelo AI-‘4 a pena de morte para os casos de “guerra externa, psicológica adversa, ou revolucionária ou subversiva”. A pena de morte nunca foi aplicada formalmente, preferindo-se a ela as execuções sumárias ou no correr de torturas, apresentadas como resultantes de choques entre subversivos e as forças da ordem ou como desaparecimentos misteriosos. A partir do momento em que o AI-5 foi promulgado, os direitos humanos foram deixados de lado com as torturas, repressões, perseguições e liberdade de expressão expurgada. Após os dois meses do governo temporário da junta militar, esta escolheu o general Emílio Garrastazu Médici como novo presidente. Seu governo levou consigo o milagre econômico, mas ao mesmo tempo ficou conhecido como os anos de chumbo, onde foi empregado um dos aspectos mais desumanos e cruéis da repressão policial militar de todo o regime: a tortura como método para eliminar e neutralizar qualquer forma de oposição ao governo dos generais. 21 5 - A REPRESSÃO NOS ANOS DE CHUMBO A liberdade de expressão, liberdade geral, a dignidade e direitos humanos são aspectos que foram violados durante o Regime Militar. Além dessas, a repressão à base de tortura foi a característica mais marcante de tal regime, superando qualquer limite jurídico ou humanitário, violando os direitos humanos, ferindo inclusive a ética militar, que prega o tratamento digno dos prisioneiros de guerra. Estes, que geralmente eram componentes de grupos da luta armada. O regime não poder ser considerado uma guerra civil, já que esta consideração só pode ser feita a partir de um movimento que contenha grande participação popular e a luta armada presente durante estes anos foi realizada por pequenos grupos, não muito organizados, que não recebiam apoio da população. Porém apesar disso, os militares imaginavam que estava travada uma guerra entre a direita e a esquerda, pela defesa da “sociedade cristã ocidental” ou pela “derrubada do regime e construção do socialismo”, dependendo do ponto de vista. A fim de esconder os atos de tortura, eram utilizados diversos centros clandestinos, para que não fossem ostensivos tais atos considerados ilegais. Um local afamado por abrigar essa prática foi a popularmente conhecida “Casa da morte”. A casa, cedida ao Centro de Informações do Exército (CIE), era bem isolada e praticamente não tinha vizinhos a sua volta, o que facilitava as sessões de tortura. Considerada um dos piores porões de tortura da ditadura civil-militar, conta-se que do local ninguém saía vivo. A exceção é Inês Etienne Romeu, ex-dirigente da VAR-Palmares, que conseguiu sair da casa graças a uma campanha internacional de denúncia de sua prisão clandestina. Paulo Malhães, que integrou o Centro de Inteligência do Exército foi torturador confesso e afirmou ser um dos mentores da Casa da Morte, considerada por ele: “ Um “laboratório” clandestino fora dos espaços militares, que permitia uma atuação mais livre e mais violenta em seu aspecto psicológico.” (CEV-Rio, 2014) Além desses centros clandestinos, o regime contava com um sistema prisional legalizado abrangendo centros de interrogatório e cárcere abrigados em instituições militares ou policiais, nos quais não havia proteção judicial do preso. 22 Os DOI-CODI, sigla de Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna, ali, eles eram submetidos à tortura e ficavam à mercê de seus algozes. É importante ressaltar que a tortura não é mera violência aleatória e momentânea, feita por um agente policial em estado de tensão diante de uma situação de confronto. Trata-se de uma técnica sistemática de uso da violência extrema, atroz e propositalmente pensada para ferir o corpo e a psique do preso. A tortura foi algo tão disseminado pelo sistema que acabou sendo aprendida em cursos para militares e policiais selecionados, com a utilização de presos em aulas práticas. As principais técnicas utilizadas no Brasil foram desenvolvidas pelos nazistas, pelos franceses e pelos norte-americanos. Mas a criatividade nacional também contribuiu para essa história triste, com a criação, por exemplo, do pau- de-arara para imobilizar e espancar os presos. A prática da tortura está baseada na combinação de três elementos principais: humilhação, dor extrema e ruptura da sanidade mental dos presos. Com menor ou maior grau de violência física, era uma decisão dos comandos das equipes de interrogatório. Em muitos casos, a humilhação já abalava a força mental do preso. Vale lembrar que a primeira lição das aulas de tortura era deixar o prisioneiro nu durante as sessões, para melhor humilhá-lo e feri-lo em sua dignidade humana (que por si só já fere os direitos humanos assegurados pela constituição). O objetivo era provocar a chamada Síndrome de Estocolmo, quando o sequestrado cativo fica dependente psicologicamente de seu captor/agressor. Mas a regra geral era provocar humilhação e dor extrema, visando extrair informações o mais rapidamente possível, pois a repressão sabia que em 24 horas todos os pontos de encontro e contatos da organização guerrilheira poderiam ser alterados. As equipes da repressão eram normalmente divididas em três grupos. Um grupo capturava o preso; o segundo grupo o interrogava e o torturava; e o terceiro grupo sistematizava as informações obtidas. Portanto, havia uma certa divisão do trabalho no sistema repressivo. Havia também equipes de apoio. Além dos policiais, outros “profissionais” ajudavam diretamente nas sessões e no 23 cativeiro dos presos: médicos, psicólogos, escrivães de polícias e guardas de carceragem completavam o sistema. Técnicas de suplício físico: o Choque elétrico: Forma mais comum e frequente de tortura durante as ditaduras militares da América Latina, os choques eram provocados por pequenas máquinas movidas a manivela. Quanto mais rápida a manivela era movimentada, maior era o choque. Eles eram dados no preso encostando-se o fio em lugares sensíveis, como nas gengivas, mamilos, ânus e órgãos genitais femininos e masculinos. Além da dor extrema provocada pelas queimaduras, os choques causavam convulsões, diarreias involuntárias e incontinências urinárias nos presos. Não raro,provocavam a parada cardíaca. Uma vez reanimado, com o auxílio de médicos, o preso poderia voltar a receber choques na mesma sessão de tortura. o Afogamento/sufocamento: Além de mergulhar a cabeça do prisioneiro num tanque de água, era comum inserir mangueiras na boca, com as narinas do preso sendo bloqueadas. Além disso, havia utilizavam substâncias, como o amoníaco, para embeber o capuz do preso e provocar sufocamento. o Espancamento: Entre os tipos de espancamento mais utilizados, estava o “telefone”, quando o preso era golpeado na orelha pelo torturador, com as duas mãos simultaneamente, podendo provocar rompimento dos tímpanos e surdez permanente. Também eram desferidos socos e pontapés em áreas sensíveis, como barriga, seios, costas. Quando não havia preocupação em preservar o rosto do preso, era comum o espancamento visando à desfiguração e à extração do globo ocular. o Empalamento: Há relatos de empalamento de presos, quando objetos cilíndricos ou pontiagudos (metais, madeiras, etc.) são introduzidos pelo ânus. Além de ferimentos, esse tipo de tortura causava hemorragias internas graves, podendo levar à morte. o Simulação de fuzilamento: Tipo de tortura psicológica utilizada em presos que já tinham sido torturados fisicamente ou não. A pessoa presa era 24 vendada e conduzida a um local ermo, onde seus algozes simulavam um pelotão de fuzilamento. o Queimaduras: As queimaduras eram provocadas por pontas de cigarro, encostadas na pele e nas partes mais sensíveis do corpo, e também por ferros ou maçaricos. o Isolamento em locais inóspitos: Além de ser uma técnica de imobilização, as celas minúsculas, chamadas de “geladeiras”, eram utilizadas para causar grande desconforto, pois suas dimensões impediam que o preso ficasse em pé ou com o corpo esticado. A temperatura local era alternada de um frio intenso para um calor insuportável. Sistemas de som acoplados à pequena cela emitiam música ou ruído em alto volume, para causar dor e desconforto ao preso. Há versões de celas com dimensão maior, na qual o preso ficava isolado, em locais com temperatura reduzida, com luzes acesas para não poder dormir, escutando ruídos em alto volume. Essa era uma técnica inglesa, chamada de “tortura sem sangue”, que provocada exaustão, confusão mental e desconforto extremo no preso. Em alguns casos, animais peçonhentos eram colocados dentro de salas escuras com os presos, como relatou a jornalista Míriam Leitão. o Drogadição: O chamado “soro da verdade” era utilizado em presos já espancados ou não, para criar confusão mental e extrair informações. o Estupro coletivo: Muito utilizado na tortura a presas mulheres, conforme vários relatos de prisioneiras. Técnicas de imobilização: o Pau-de-arara: consistia numa barra de ferro que era atravessada entre os punhos amarrados e a dobra do joelho, sendo o conjunto colocado entre duas mesas, ficando o corpo do torturado pendurado a cerca de 20 ou 30 centímetros do solo. Este método quase nunca era utilizado isoladamente, seus complementos normais eram eletrochoques, a palmatória e o afogamento. o Cadeira do dragão: era uma espécie de cadeira elétrica, onde os presos sentavam pelados numa cadeira revestida de zinco ligada a terminais elétricos. Quando o aparelho era ligado na eletricidade, o zinco transmitia choques a todo o corpo. Muitas vezes, os torturadores enfiavam na 25 cabeça da vítima um balde de metal, onde também eram aplicados choques. o Geladeira: os presos ficavam pelados numa cela baixa e pequena, que os impedia de ficar de pé. Depois, os torturadores alternavam um sistema de refrigeração super frio e um sistema de aquecimento que produzia calor insuportável, enquanto alto-falantes emitiam sons irritantes. Os presos ficavam na “geladeira” por vários dias, sem água ou comida. o Palmatoria: a como uma raquete de madeira, bem pesada. Geralmente, este instrumento era utilizado em conjunto com outras formas de tortura, com o objetivo de aumentar o sofrimento do acusado. Com a palmatória, as vítimas eram agredidas em várias partes do corpo, principalmente em seus órgãos genitais. Se o preso sobrevivesse ao martírio dos interrogatórios de natureza policial/militar, era entregue à Justiça para ser processado e julgado. Sendo condenado, cumpria pena em presídios, muitos deles específicos para presos políticos. Na fase “jurídica” da repressão, os interrogatórios, seguiam padrões civilizados conforme regras jurídicas. Já nos presídios, poderiam até ocorrer maus tratos, mas, em geral, depois da condenação, as violências físicas diretas cessavam, e o preso cumpria a pena formalizada pela Justiça. Ademais a centros de interrogatório e carceragem com endereço conhecido e parte das instituições policiais e militares, havia centros de extermínio e desaparecimento forçado. Assim criou-se a figura do “desaparecido político”, produzida pela prática de ocultação de cadáveres dos presos políticos mortos em condições de cativeiro, seja em centros ilegais clandestinos, seja em dependências oficiais das forças de segurança. Essa expressão ficou conhecida quando a esquerda armada ao fazer sequestros de embaixadores tornou tais fatos internacionais conseguindo que a face mais cruel da ditadura viesse à tona. Em resposta a isso, cresceu a opção pelo sequestro, morte e desaparecimento clandestino de presos políticos, evitando que a ditadura tivesse que prestar contas à sociedade, aos familiares e aos organismos internacionais sobre seus presos. Afinal, o “desaparecido” não estava oficialmente preso, nem oficialmente morto. O Estado fingia que o assunto não era com ele, colocando a culpa pelos desaparecimentos nas próprias organizações de esquerda. 26 Em uma entrevista para o jornal 'Folha de São Paulo' o fotógrafo Silvaldo Leung Vieira, autor da famosa foto do “suicídio” do jornalista Vladimir Herzog nas dependências do DOI-Codi, em outubro de 1975, confessou que a foto foi mais uma das farsas da cruel ditadura militar que vitimou o Brasil de 1964 a 1985. Vladimir Herzog, o Vlado, foi jornalista, professor e cineasta brasileiro. Nasceu em 27 de junho de 1937 na cidade de Osijsk, na Croácia (na época, parte da Iugoslávia), morou na Itália e emigrou para o Brasil com os pais em 1942. Foi criado em São Paulo e naturalizou-se brasileiro. Estudou Filosofia na Universidade de São Paulo (USP) e iniciou a carreira de jornalista em 1959, no jornal O Estado de S. Paulo. Em 1975, Vladimir Herzog foi escolhido pelo secretário de Cultura de São Paulo, José Mindlin, para dirigir o jornalismo da TV Cultura. Em 24 de outubro do mesmo ano, foi chamado para prestar esclarecimentos na sede do DOI-Codi sobre suas ligações com o Partido Comunista Brasileiro (PCB). Sofreu torturas e, no dia seguinte, foi morto. A versão oficial da época, apresentada pelos militares, foi a de que Vladimir Herzog teria se enforcado com um cinto, e divulgaram a foto do suposto enforcamento. Quando Silvaldo então foi fotografar a cena, a mesma já se encontrara montada. Numa cela, o corpo pendia de uma tira de pano atada a uma grade da janela. As pernas estavam arqueadas e os pés, no chão. Completavam o cenário papel picado, uma espécie de depoimento que Vlado fora forçado a assinar, e uma carteira escolar. “Eu estava muito nervoso, toda a situação foi tensa. Antes de chegar na sala onde estava o corpo, passei por vários corredores” “Havia uma vibração muito forte, nunca senti nada igual. Mas não me deixaram circular livremente pela sala, como todo fotógrafo faz quando vai documentar uma morte. Não tive liberdade. Fiz aquela foto praticamente daporta. Não fiquei com nada, câmera, negativo ou qualquer registro. Só dias depois fui entender o que tinha acontecido. ” “Tudo foi manipulado, e infelizmente eu acabei fazendo parte dessa manipulação”, lamenta-se. “Depois me dei conta que havia me metido em uma roubada. Isso aconteceu, acho, porque eles precisavam simular transparência. ” 27 Manoel Fiel Filho era um operário metalúrgico. Vivia na capital paulista desde os anos 1950. Tinha trabalhado como padeiro e cobrador de ônibus, antes de se exercer a função de metalúrgico, quando passou a exercer a função de prensista na Metal Arte, no bairro da Mooca, aos 19 anos. Em janeiro de 1976 foi preso por dois agentes do DOI-Codi, na fábrica, sob a acusação de pertencer ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). No dia seguinte à sua prisão, os órgãos de segurança emitiram nota oficial afirmando que Manuel havia se enforcado em sua cela com as próprias meias. Porém, de acordo com colegas, quando preso, usava chinelos sem meias. Quando os parentes conseguiram a liberação do corpo para ser enterrado, verificou-se que apresentava sinais evidentes de torturas, principalmente na região da testa, nos pulsos e no pescoço. No entanto, o exame necroscópico, solicitado pelo delegado de polícia Orlando D. Jerônimo e assinado pelos legistas José Antônio de Mello e José Henrique da Fonseca, simplesmente confirmava a versão oficial do suicídio. As circunstâncias de sua morte são muito semelhantes às de Vladimir Herzog. As evidentes torturas provocaram o afastamento do general Ednardo d’Ávila Melo, ocorrido três dias após a divulgação de sua morte. A estabilidade política alcançada no governo Médici gerada pelo milagre econômico determinou, em grande medida, que o próprio presidente tivesse condições para indicar seu sucessor. Médici escolheu para sucedê-lo na presidência da República, o general Ernesto Geisel (Arena), que governou de 1974 a 1979. Geisel em seu governo, decidiu controlar de maneira mais direta os “porões da repressão”, dentro da estratégia de preparar o regime para uma futura transição para um governo civil. Mas, durante esse período chamado de “abertura”, registrou-se uma atividade terrorista de direita. Uma sequência de atentados à bomba contra pessoas, órgãos da imprensa, livrarias, universidades e instituições identificadas com a oposição, marcaram a escalada de violência de direita. Em 1978, Geisel acaba com o AI-5, restaura o habeas-corpus e abre caminho para a volta da democracia no Brasil. O governo Figueiredo – que sucedeu o presidente Geisel - tinha como objetivo maior dar continuidade ao processo de abertura política que daria fim ao regime militar. Em seu primeiro ano de mandato criou um projeto de lei que 28 previa anistia parcial a todos os envolvidos com os crimes e a perseguição política do período. No mês de junho de 1979, uma lei aprovada dava total anistia aos militares acusados de tortura e os que foram perseguidos pelo governo militar. A aprovação desta lei sinalizava o processo de abertura política e, naquele mesmo ano, deu margem para a manifestação de setores descontentes com a situação nacional. Em agosto de 1979, Figueiredo tirou uma das principais bandeiras da oposição: a luta pela anistia. Entretanto, esta lei que fora aprovada pelo congresso continha restrições e fazia concessão à linha dura. A lei fazia anistia a crimes de qualquer natureza relacionados a política, desse modo, abrangia também os responsáveis pela prática da tortura. De qualquer maneira, essa lei possibilitou a volta dos exilados políticos, sendo um passo importante para a ampliação das liberdades públicas. Em 1995, o Estado brasileiro criou a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos (CEMDP), para trabalhar na busca, investigação, localização e identificação dos mortos e desaparecidos da ditadura, e a Comissão de Anistia (CA), em 2002, para analisar pedidos de anistia e reparar moral e economicamente as vítimas de atos de exceção, arbítrio e violações aos direitos humanos cometidos entre 1946 e 1988. Mas a maior parte dos desaparecidos ainda não teve seus corpos localizados. Os acusados de tortura nunca foram intimados pela justiça criminal para depor. Os juízes tendem a considerar a Lei de Anistia como válida para a extinção dos crimes de tortura. Em 2011, mais de vinte e cinco anos após o fim do regime militar, o Estado brasileiro assumiu o compromisso de instituir uma comissão a fim de investigar os crimes da ditadura, apesar da resistência de vários setores, principalmente das Forças Armadas. Apesar dessa e de outras manifestações da justiça, as Forças Armadas nunca admitiram a existência de um sistema de tortura e desaparecimento utilizado contra as oposições de esquerda durante o regime militar. Na versão oficial, se houve violência, ela foi um ato isolado do interrogador num momento de tensão, nunca referendado pelo comando. Foi promulgada a Lei 12528/2011 de criação da CNV em 18 de novembro de 2011. Em 16 de maio de 2012, a Comissão foi instalada com o objetivo de investigar e esclarecer as violações de Direitos Humanos ocorridas entre 1946 e 1988. 29 5.1 - DEPOIMENTOS DE SOBREVIVENTES DA TORTURA o MARIA LUIZA FLORES DA CUNHA BIERRENBACH advogada de presos políticos, presa em 8 de novembro de 1971, em São Paulo (SP). Hoje, vive na mesma cidade, onde é procuradora do Estado aposentada. Ele me disse: ‘Se você sair viva daqui, o que não vai acontecer, você pode me procurar no futuro. Eu sou o chefe, sou o Jesus Cristo (codinome do delegado de polícia Dirceu Gravina.) Ele falava isso e virava a manivela para me dar choque. Ele também dizia: “Que militante de direitos humanos coisa nenhuma, nada disso, vocês estão envolvidos”. E virava a manivela. Havia umas ameaças assim: “Vamos prender todos os advogados de direitos humanos, colocá-los num avião e soltar na Amazônia”. Nos outros interrogatórios, eles perguntavam qual era a minha opção política, o que eu pensava, quem pagava os meus honorários, quais eram os meus contatos no exterior, o que eu pensava do comunismo. Para mim, ficou muito claro que eles queriam atemorizar advogado de preso político. Havia uma mudança no tom das equipes. Eram três, e ia piorando. Durante o interrogatório da segunda equipe, eu levei uma bofetada de um e o outro me segurou: “Está bravinha porque levou uma bofetada? “ E os homens da terceira equipe diziam: ‘Saia disso, onde já se viu defender esses caras, gente perigosíssima, não se meta nisso! ” Eu estava formada havia menos de um ano, e trabalhava desde o segundo ano no escritório do advogado José Carlos Dias, defendendo presos políticos. Essa era a forma que eu tinha de resistir à ditadura militar, foi minha opção de participação na resistência. Eu fui presa sem nenhuma acusação, fiquei três dias lá sem saber porque estava presa. No terceiro ou quarto dia, eu descobri o motivo: teriam achado num “aparelho” um manuscrito do Carlos Eduardo Pires Fleury, que tinha sido banido do país e que foi meu colega e cliente no escritório. Eu não fui das mais torturadas. Levei choque uma manhã inteira, acho que para saber se eu tinha algum envolvimento com alguma organização clandestina e para que os advogados soubessem que não era fácil para quem militava. o ROSE NOGUEIRA, ex-militante da Ação Libertadora Nacional (ALN), era jornalista quando foi presa em 4 de novembro de 1969, em São Paulo (SP). Hoje, vive na mesma cidade, onde é jornalista e defensora dos direitos humanos. 30 “Sobe depressa, Miss Brasil”, dizia o torturador enquanto me empurrava e beliscava minhas nádegas escada acima no Dops. Eu sangravae não tinha absorvente. Eram os “40 dias” do parto. Na sala do delegado Fleury, num papelão, uma caveira desenhada e, embaixo, as letras EM, de Esquadrão da Morte. Todos deram risada quando entrei. “Olha aí a Miss Brasil. Pariu noutro dia e já está magra, mas tem um quadril de vaca”, disse ele. Um outro: “Só pode ser uma vaca terrorista”. Mostrou uma página de jornal com a matéria sobre o prêmio da vaca leiteira Miss Brasil numa exposição de gado. Riram mais ainda quando ele veio para cima de mim e abriu meu vestido. Picou a página do jornal e atirou em mim. Segurei os seios, o leite escorreu. Ele ficou olhando um momento e fechou o vestido. Me virou de costas, me pegando pela cintura e começaram os beliscões nas nádegas, nas costas, com o vestido levantado. Um outro segurava meus braços, minha cabeça, me dobrando sobre a mesa. Eu chorava, gritava, e eles riam muito, gritavam palavrões. Só pararam quando viram o sangue escorrer nas minhas pernas. Aí me deram muitas palmadas e um empurrão. Passaram-se alguns dias e “subi” de novo. Lá estava ele, esfregando as mãos como se me esperasse. Tirou meu vestido e novamente escondi os seios. Eu sabia que estava com um cheiro de suor, de sangue, de leite azedo. Ele ria, zombava do cheiro horrível e mexia em seu sexo por cima da calça com um olhar de louco. No meio desse terror, levaram-me para a carceragem, onde um enfermeiro preparava uma injeção. Lutei como podia, joguei a latinha da seringa no chão, mas um outro segurou-me e o enfermeiro aplicou a injeção na minha coxa. O torturador zombava: “Esse leitinho o nenê não vai ter mais” “E se não melhorar, vai para o barranco, porque aqui ninguém fica doente. ” Esse foi o começo da pior parte. Passaram a ameaçar buscar meu filho. “Vamos quebrar a perna”, dizia um. “Queimar com cigarro”, dizia outro. o GILSE COSENZA, ex-militante da Ação Popular (AP), era recém-formada em Serviço Social quando foi presa em 17 de junho de 1969, em Belo Horizonte (MG). Hoje, vive na mesma cidade, onde é assistente social aposentada. Fomos colocadas na solitária, onde ficamos por três meses, sendo tiradas apenas para sermos interrogadas sob tortura. Era choque elétrico, 31 pau de arara, espancamento, tortura sexual. Eles usavam e abusavam. Só nos interrogavam totalmente nuas, juntando a dor da tortura física à humilhação da tortura sexual. Eles aproveitavam para manusear o corpo da gente, apagar ponta de cigarro nos seios. No meu caso, quando perceberam que nem a tortura física nem a tortura sexual me faziam falar, me entregaram para uns policiais que me levaram, à noite, de olhos vendados, para um posto policial afastado, no meio de uma estrada. Lá, eu fui torturada das sete da noite até o amanhecer, sem parar. Pau de arara até não conseguir respirar, choque elétrico, espancamento, manuseio sexual. Eles tinham um cassetete cheio de pontinhos que usavam para espancar os pés e as nádegas enquanto a gente estava naquela posição, de cabeça para baixo. Quando eu já estava muito arrebentada, um torturador me tirou do pau de arara. Eu não me aguentava em pé e caí no chão. Nesse momento, nessa situação, eu fui estuprada. Eu estava um trapo. Não parava em pé, e fui estuprada assim pelo sargento Leo, da Polícia Militar. De madrugada, eu percebi que o sol estava nascendo e pensei: se eu aguentar até o sol nascer, vão começar a passar carros e vai ser a minha salvação. E realmente aconteceu isso. Voltei para a solitária muito machucada. A carcereira viu que eu estava muito mal e chamou a médica da penitenciária. Eu nunca mais vou esquecer que, na hora que a médica me viu jogada lá, ela disse: “Poxa, menina, não podia ter inventado isso outro dia, não? Hoje é domingo e eu estava de saída com meus filhos para o sítio”. Depois disso, eles passavam noites inteiras me descrevendo o que iam fazer com a minha menina de quatro meses. “Você é muito marruda, mas vamos ver se vai continuar assim quando ela chegar estamos cansados de trabalhar com adulto, já estudamos todas as reações, mas nunca trabalhamos com uma criança de quatro meses. Vamos colocá-la numa banheirinha de gelo e você vai ficar algemada marcando num relógio quanto tempo ela leva para virar um picolé. Mas não pense que vamos matá-la assim fácil, não. Vocês vão contribuir para o progresso da ciência: vamos estudar as reações, ver qual vai ser a reação dela no pau de arara, com quatro meses. E quanto ao choque elétrico, vamos experimentar colocando os eletrodos no ouvido: será que os miolos dela vão derreter ou vão torrar? Não vamos matá-la, vamos quebrar todos os 32 ossinhos, acabar com o cérebro dela, transformá-la num monstrinho. Não vamos matar você também não. Vamos entregar o monstrinho para você para saber que foi você a culpada por ela ter se transformado nisso”. Depois disso, me jogavam na solitária. Eu quase enlouqueci. Um dia, eles me levaram para uma sala, me algemaram numa cadeira e, na mesa que estava na minha frente, tinha uma banheirinha de plástico de dar banho em criança, cheia de pedras de gelo. Havia o cavalete de pau de arara, a máquina do choque, e tinha uma mamadeira com leite em cima da mesa e um relógio na frente. Eles disseram: “Pegamos sua menina, ela já vai chegar e vamos ver se você é comunista marruda mesmo”. Me deixaram lá, olhando para os instrumentos de tortura, e, de vez em quando, passava um torturador falando: “Ela já está chegando”. E repetia algumas das coisas que iam fazer com ela. O tempo foi passando e eles repetindo que a menina estava chegando. Isso durou horas e horas. Depois de um tempo, eu percebi que tinham passado muitas horas e que era blefe. 33 6 - A COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE Em 1996, o Brasil formulou o PNDH I (Plano nacional de direitos humanos), com ênfase nos direitos políticos e civis dos cidadãos. O PNDH-2, por sua vez, ampliou o alcance do Plano anterior, incluindo os direitos econômicos, sociais e culturais como dimensão fundamental dos direitos humanos. Somente com o PNDH-3, lançado em dezembro de 2009, é que foram definidas metas, metodologias e formas de acompanhamento para a implementação dos direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais, sexuais, reprodutivos e ambientais. Além disso, a construção e a efetivação dos direitos humanos foi pensada com ampla participação de gestores públicos, de movimentos sociais e de outros setores da sociedade civil. Este Plano também colocou em questão a capacidade de universalização dos direitos humanos no contexto de profunda desigualdade econômica e social vigente no país. Segundo Átila Roque (2013, ao OGLOBO) A sociedade e o Estado têm demonstrado um grau vergonhoso de tolerância com o martírio de pessoas que estão sob guarda do Estado. Esse instrumento de tortura sempre foi seletivo. A tortura é uma chaga, uma nódoa que envenena a qualidade da democracia no país. Existe um déficit de Justiça no país. Após várias deliberações, o Governo Federal – junto com o presidente Luís Inácio Lula da Silva – elaborou um projeto de lei dando origem a Comissão Nacional da Verdade. É válido ressaltar que era competência da Comissão investigar, mas não para julgar e punir os responsáveis. Para tanto, ela teve o poder de convocar vítimas, familiares, possíveis responsáveis e acusados de práticas repressivas e criminosas, para dar seus testemunhos, depor ou prestar esclarecimentos sobre fatos e casos ocorridos no período. Conforme Átila Roque (2013, ao OGLOBO) “Um passo importantíssimo no sentido de tirar a tampa da história de terror do Estado durantea ditadura”. Formada por mais de uma centena de pessoas representando várias áreas de conhecimento, e desempenhado distintas funções, a equipe da CNV foi organizada em três subcomissões e treze grupos de trabalho (GTs). As subcomissões foram: o Subcomissão de pesquisa, geração e sistematização de informações. 34 o Subcomissão de relações com a sociedade civil e instituições. o Subcomissão de comunicação externa. Os 13 GTs se dividiam nos seguintes temas: o Ditadura e gênero. o Araguaia o Contextualização, fundamentos e razões do golpe civil-militar de 1964. o Ditadura e sistema de Justiça. o Ditadura e repressão aos trabalhadores e ao movimento sindical. o Estrutura de repressão. o Mortos e desaparecidos políticos. o Graves violações de direitos humanos no campo ou contra indígenas. o Operação Condor. o Papel das igrejas durante a ditadura. o Perseguições a militares. o Violações de direitos humanos de brasileiros no exterior e de estrangeiros no Brasil. O Estado ditatorial-militar. A CNV colheu 1.121 depoimentos, realizados em audiências públicas ou privadas. Além disso, investigou locais, instituições e circunstâncias relacionadas às violações de direitos humanos, como detenções ilegais, tortura, desaparecimentos e assassinatos. Também examinou documentos, arquivos e outras fontes de informações sobre o período. No entanto, é importante ressaltar que os trabalhos da CNV – iniciados após quase cinco décadas do golpe militar – seguiram com limitações: muitas informações são impossíveis de se recuperar, há suposição de que documentos importantes já haviam sido queimados pelas Forças Armadas para proteger integrantes de futuras acusações e se mantém a crítica de que as Forças Armadas não revelaram todos os documentos que possuem, mesmo para a Comissão Nacional da Verdade. Após dois anos e meio de trabalho, no dia 10 de dezembro de 2014, a CNV entregou um relatório em três volumes e mais de 3000 mil páginas. Com este relatório, finalmente o Estado reconhece oficialmente a responsabilidade por crimes ocorridos em nossa história. Especificamente, a 35 CNV nomeou 377 pessoas como responsáveis direta, ou indiretamente, por crimes praticados, como tortura e assassinato. A Comissão ainda elaborou um conjunto de 29 recomendações, cujo cumprimento pode efetivar a Justiça de Transição em nosso país e garantir a existência de instituições democráticas. . 36 CONCLUSÃO: Conclui-se que o Regime Ditatorial no Brasil foi um período um tanto quanto obscuro na história do nosso país. Correram-se riscos em relação à vida e à dignidade de todos. A repressão se instalou imediatamente após o golpe de Estado antes do começo da luta armada. Muitas instituições foram reprimidas e fechadas, seus dirigentes presos e enquadrados, suas famílias vigiadas. Muitos cidadãos que se manifestaram contrários ao regime foram indiciados em Inquéritos Policiais Militares (IPM). Aqueles cujo inquérito concluísse culpados, eram presos. Políticos de oposição tiveram seus mandatos cassados, suas famílias postas sob vigilância. Muitos foram processados e expulsos do Brasil e tiveram seus bens indisponíveis. Famílias inteiras eram torturadas e até crianças, filhas de militantes comunistas eram sequestradas. Nas prisões do Exército, os detentos eram torturados: choques elétricos, afogamentos, "suicídios" e agressões de toda ordem se constituíam em práticas rotineiras. 37 REFERÊNCIAS: http://www.onu.org.br/ (acessado 18 de agosto, às 15:22) https://www.colegioweb.com.br/segunda-guerra-mundial/a- criacao-da-onu.html (acessado 18 de agosto, às 15:40) https://www.infoescola.com/historia/governo-de-castelo- branco/ (acessado 13 de setembro às 13:50) http://alunosonline.uol.com.br/historia-do-brasil/governo-joao- goulart-golpe-militar.html (acessado 13 de setembro às 14:13) http://memoriasdaditadura.org.br/periodos-da- ditadura/index.html (acessado 13 de setembro às 15:33) https://vivelatinoamerica.files.wordpress.com/2015/11/fausto- boris-historia-do-brasil.pdf (acessado 31 de outubro às 14:22) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ait/ait-01-64.htm (acessado 31 de outubro às 14:30) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ait/ait-02-65.htm acessado 31 de outubro às 14:34) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/AIT/ait-03-66.htm (acessado 31 de outubro às 14:38) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ait/ait-04-66.htm (acessado 31 de outubro às 14:43) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ait/ait-05-68.htm (acessado 31 de outubro às 14:50) https://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia-brasil/governo- medici-1969-1974-milagre-economico-e-a-tortura-oficial.htm (acessado 31 de outubro às 15:11) http://www.cartografiasdaditadura.org.br/files/2014/06/CASA- DA-MORTE_%C3%BAltimo_final.pdf (acessado 07 de novembro às 14:52) 38 http://memoriasdaditadura.org.br (acessado 07 de novembro às 16:00) https://jornalggn.com.br/blog/iv-avatar/o-testemunho-de- mulheres-que-foram-vitimas-da-ditadura-militar-0 (acessado 07 de novembro às 16:30) http://www.sdh.gov.br/sobre/participacao-social/cemdp (acessado 07 de novembro às 17:23) https://oglobo.globo.com/brasil/relatorio-da-anistia- internacional-cobra-do-brasil-combate-tortura-8470315 (acessado 08 de novembro às 18:00)
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