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CASO 5 TÍCIO ALEGAÇÕES FINAIS SOB A FORMA DE MEMORIAIS

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DO JÚRI DA COMARCA DE XXXXXXXX
TÍCIO, já qualificado nos autos, vem, por seu advogado, com fundamento no artigo 403, § 3º, do Código de Processo Penal, pelas razões a seguir expostas, oferecer: 
ALEGAÇÕES FINAIS SOB A FORMA DE MEMORIAIS
I. DOS FATOS
	
	O réu foi denunciado com base no art. 125 do Código Penal, pois, segundo a denúncia, teria provocado aborto sem o consentimento da gestante, por meio de um acidente automobilístico.
	A vítima e o réu trabalham juntos na mesma empresa, e após ambos saírem do trabalho, o réu ofereceu carona a mesma. No entanto, o réu perdeu o controle do veículo automotor que posteriormente capotou.
Em audiência o réu disse que não provocou o aborto, e ainda, ficou constatado pelo Hospital que prestou atendimento à vítima que a mesma não sofreu nenhuma lesão.
II. DO MÉRITO
DA ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA
	
	Conforme descrito nos fatos o denunciado não tinha a intenção de provocar o crime em questão, do mesmo modo que não tinha a intenção de perder o controle do veículo e causar qualquer lesão a vítima.
	Deste modo, a conduta mencionada não é suficiente para caracterizar o dolo eventual, conceituado pelo “não se importar” com o resultado lesivo; ou, em outras palavras, não autoriza a conclusão de que o réu tenha assumido o risco de produzir um resultado que é absolutamente contrário aos seus interesses, da vítima e da sociedade.
	Com efeito, não há nos autos qualquer indício de que o réu fosse capaz de aceitar a possibilidade de causar a morte de um feto. Em verdade, só o que se vê no caso em tela é um agir negligente e, até mesmo, imperito do acusado, que poderiam caracterizar um “aborto culposo”; porém, dolo, seja em que modalidade for, evidentemente não há.
	Embora o réu tenha colocado em movimento uma condição para o resultado o mesmo não pode responder pelo crime no qual foi denunciado pois inexiste a conduta culposa do crime de aborto provocado por terceiro. Ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente, art. 18, II e parágrafo único, do Código Penal, in verbis: 
	Art. 18 - Diz-se o crime:
	II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia.
Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente.
	No caso em tela, o fato é atípico, por inexistir a modalidade culposa da conduta, situação esta que enseja a absolvição sumária, elencada no art. 415, III do Código de Processo Penal, in verbis:
	Art. 415. O juiz, fundamentadamente, absolverá desde logo o acusado, quando:
	III – o fato não constituir infração penal;
DA DESCLASSIFICAÇÃO DA CONDUTA
	Caso não seja a absolvição sumária o entendimento de V.Exa. que seja acolhida a tese de culpa consciente, e por seguinte a sua impronúncia, remetendo os autos ao juízo singular.
	Como se sabe, a pronúncia é a decisão que leva o acusado a julgamento perante o Júri, tendo o juiz se convencido da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, previsto no art. 413 do Código de Processo Penal. E para que o fato seja julgado pelo Tribunal do Júri é necessário que o crime seja doloso contra a vida, conforme art. 5º, inc. XXXVIII, da Constituição Federal de 1988.
	No caso em apreço, a defesa alega que o fato não foi cometido dolosamente, mas mediante culpa. A questão não é de simples conclusão, principalmente quando se trata de prova, pois não há como provar qual o verdadeiro estado anímico do condutor.
	Por esta razão, ainda que o parquet tenha que imputar o dolo eventual, o posicionamento do STJ é no sentido de que a valoração ampla das provas há de ser feita pelo Júri.
	Dessa forma, se não há como vislumbrar qualquer indício de dolo eventual, será o caso de se retirar a competência do Tribunal do Júri, desde logo.
III. DOS PEDIDOS
	a) A ABSOLVIÇÃO do denunciado, nos termos do artigo 415, inciso III, Código de Processo Penal, haja vista que não constituir o fato infração penal para sustentar uma condenação, prevalecendo o princípio do in dúbio pro réu.
	b) Ainda que V. Exa. entenda pela procedência da acusação, que seja acolhida a DESCLASSIFICAÇÃO do crime doloso, art. 18, I para crime culposo, art. 18, II e parágrafo único, retirando a competência do Tribunal do Júri, por existirem elementos suficientes para a afirmação.
	c) Por necessário, caso Vossa Excelência entenda prosseguimento da condenação, requer que a pena seja fixada no mínimo legal e que o denunciado possa apelar em liberdade nos termos do art. 283 do CPP, por preencher os requisitos objetivos para tal benefício.
Termos em que,
Pede e espera deferimento.
Local e 14 de fevereiro de 2017
Advogado
OAB

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